PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de junho de 2016.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de junho de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: VALDIZA MARIA CAPRANICO
ENTREVISTADA: VALDIZA MARIA CAPRANICO
Valdiza Maria Capranico nasceu em
Piracicaba a 29 de julho é filha de Dante Luiz Capranico e Ermida Françoso
Capranico que foram os pais de quatro filhas: Maria Wally, Walda Aparecida,
Valdiza e Waldizete Maria. Ainda residente no Bairro Alto estudou o primário no
Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. O ginásio e o colegial estudou no Instituto
de Educação Sud Mennucci. Iniciou a Faculdade de Ciências Biológicas em São
Paulo concluindo o curso em Santos. Na
cidade de Machado, em Minas Gerais fez o curso de complementação em biologia na
Faculdade Sul Mineira de Educação.
Você trabalhou na área de educação?
Por 26 anos trabalhei com
Educação, na área de Biologia. Quando me formei a denominação do curso era
Ciências Biológicas. Em Santos, fiz o magistério no Instituto de Educação Canadá.
O que a levou a estudar em Santos?
Tive parentes que moravam lá,
eram meus padrinhos. Era o irmão do meu pai e sua esposa. Eu fazia a faculdade
a noite e o magistério a tarde. Na época Santos era uma cidade muito tranqüila,
muito sossegada, essa calmaria era quebrada aos finais de semana e nas férias
escolares. Período em que a cidade era freqüentada por muitos turistas.
Depois de formada você retornou a Piracicaba?
Trabalhei como professora de
ciências e biologia durante dez anos na cidade vizinha de Santa
Bárbara d'Oeste, no Instituto Emílio Romi e no Ginásio Ulisses Valente.
Viajava todos os dias de Piracicaba até Santa Bárbara
d'Oeste. Após dez anos sem ter havido concurso na rede
estadual de ensino, surgiu um concurso, prestei, fui aprovada e fui lecionar em
Leme. Trabalhei no Instituto de Educação Newton Prado no período de oito anos.
Voltei à Piracicaba e lecionei na Escola Técnica
Estadual Cel. Fernando Febeliano da Costa.onde permaneci
por cerca de cinco anos e aposentei-me, como professora de biologia.
Como
surgiu a sua relação com o meio ambiente em Piracicaba?
Depois
de aposentar-me fui convidada para trabalhar na área de meio ambiente na
Prefeitura Municipal de Piracicaba, na Secretaria do Meio Ambiente. Na época o
prefeito era José Machado. Trabalhei por quatro anos como assessora do
secretário Izio Barbosa de Oliveira. Depois disso
nunca mais parei de trabalhar na área de Educação Ambiental.
O seu trabalho na Secretaria Ambiental era
mais burocrático ou prático?
Era trabalho de campo. Fui
trabalhar na área de arborização urbana.
Como funcionava a arborização urbana?
Inicialmente coletávamos sementes
de árvores de Piracicaba e região para o viveiro municipal
Essas sementes eram coletadas em que local?
Até dentro da própria cidade!
Tinha uma equipe que sabia a época certa da coleta, coletávamos de espécies das
beiras dos rios, da mata nativa, tive muito apoio do pessoal do Departamento de
Ciências Florestais da ESALQ.
Essa coleta é feita de que forma?
Através de um equipamento muito
simples, dão uma chacoalhada nos galhos da árvore, as sementes caem. Eles
recolhem, levam para o viveiro, lá tinha uma engenheira agrônoma que orientava.
Cada semente para ela germinar ela tem uma situação diferente: uma tem que ser
colocada em água fervendo, outra tem que lixar, outra tem que ser deixada para
secar ao sol, o viverista recebia orientação da agrônoma, e depois trocava com
outros viveiros da região.
Para centros urbanos existem árvores
apropriadas?
Isso é uma grande tristeza que eu
ainda sinto! Existe árvore para todo tipo de calçada, de espaço urbano. Por
exemplo, se você mora em uma rua e em frente a sua casa corre a fiação elétrica
há uma dezena ou mais de espécies de árvores que nunca irão atingir a rede
elétrica pelo seu crescimento. Caso você more em uma calçada no lado oposto a
rede elétrica, você pode plantar outras espécies que também vão crescer, mas
não irão invadir sua calçada e nem as raízes irão entrar ou afetar sua casa
através do solo. Sempre há uma espécie própria.
Muitos proprietários evitam plantar uma
árvore por causa das folhas que caem ou para evitar que as raízes levantem a
calçada?
Se você plantar a espécie correta
em uma cova com tamanho apropriado, jamais terá problema. Quanto a cair folhas,
basta ver que nós também perdemos cabelos, pele. Varrer uma calçada não é um
esforço descomunal. Geralmente as folhas caem no outono, para trocar a
folhagem, não é uma coisa horrorosa. Eu vivi uma experiência muito bonita
quando na prefeitura trouxemos Roberto Burle Marx artista plástico brasileiro, renomado
internacionalmente ao exercer a profissão de arquiteto-paisagista. Nós o
levamos para andar pela cidade, passando pela Estação da Paulista, existiam lá
muitas espécies de jacarandá-mimoso, as flores estavam caindo, o chão estava
azul. Havia também restos de enxofre, derramado no transporte ferroviário, que
estavam espalhados pelo chão. Ele parou e disse: “Isto é uma tapeçaria divina
para pisarmos!”. Em outra ocasião eu estava em uma rua do bairro Nova
Piracicaba, era inteirinha arborizada por ipê-rosa, era um túnel cor de rosa, o
chão forrado de flores. Fui chamada, os
moradores queriam retirar aquelas arvores porque faziam “sujeira” ! Fiquei chocada,
arrasada, não autorizei alguns anos depois passei por lá e vi que não havia
mais nenhuma árvore. “Sujeira” de folhas ou flores na calçada é uma questão
cultural. Acho falta desse verde em nossa cidade, acho muita falta.
Com relação a outras cidades, Piracicaba é arborizada?
Há
muitos plantios na cidade. A área central é carente, principalmente porque as
árvores antigas caem e as pessoas não gostam de repor, tem medo de plantar por
ter plantado anteriormente uma espécie que não era apropriada para o local. Se
plantassem mais árvores melhoraria até a temperatura da cidade. Isso fica muito
claro quando você anda em uma área arborizada e depois vai ao centro da cidade
a diferença de temperatura é gritante.
Após
permanecer quatro anos na Secretaria
Ambiental o que você foi fazer?
Fui para
Leme novamente, chamada pelo prefeito. Lá eu criei uma Universidade Livre de
Meio Ambiente. Era a única no Estado de São Paulo. Infelizmente a ultima
administração encerrou as atividades dessa universidade. Tive a honra de ser
convidada pelo presidente da Argentina para montar uma universidade igualzinha
entre Ushuaia e Rio Grande, bem no sul da Argentina.
Como
descobriram você no Brasil?
A
Universidade de Leme era muito famosa! Tínhamos uma parceria com a Universidade
Livre do Meio Ambiente de Curitiba, que era a primeira do Brasil. Quando o
presidente da República da Argentina quis montar igual, o pessoal de Curitiba
nos indicou. Essa universidade existe até hoje na Argentina.
Essa
preocupação com o meio ambiente é relativamente nova?
É relativamente
recente, envolve fatores culturais, econômicos.
O
indígena respeita muito o meio ambiente, isso significa que estamos
retrocedendo?
Estamos
retrocedendo. Recentemente mandei um artigo para a imprensa dizendo que existe
uma febre para fazer condomínios afastados do centro urbano. Eles vão para
determinadas áreas, e depois dizem “Com o projeto paisagístico completo!” que
não existe! Ninguém replanta nem em outro lugar o que eles tiram. A cidade vai
crescendo na expansão geográfica, mas ambientalmente ela vai ficando cada vez
mais pobre. O que é ruim não só para o homem, mas para a fauna também, Você vê
noticias de que em determinada cidadezinha apareceu onça no quintal, em outra
entrou cobra, jacaré. Isso sem falar das aves.
Estamos
em uma região de monocultura típica canavieira, há o lado positivo
economicamente, e em termos de meio ambiente?
Infelizmente
é um problema! Está dizimando a fauna, a flora. Isso nos deixa muito triste.
Frustra.
Ultimamente
tem ocorrido noticias de muitas quedas de árvores em área pública.
Temos a considerar que os últimos
temporais têm sido muito violentos. Há também aquela parcela do ressecamento do
solo. Não mais umidade, espaço para água.
O calçamento do leito carroçável
com paralelepípedo permite a penetração da água. Com a camada de asfalto sobre
o paralelepípedo causou impermeabilização do solo?
Exatamente! O exemplo típico é a
cidade de São Paulo. Qualquer chuva causa transtornos, a água não tem como
escoar. Têm-se de um lado o progresso e o conforto, de outro lado temos essa
destruição que o homem não está sentindo ainda.
Você teve uma participação no
Museu da Água?
Trabalhei quatro anos, em minha
segunda volta a Prefeitura Municipal, foi no período de 2001 a 20004 quando fui
novamente convidada pelo presidente do SEMAE, José Augusto Seydell, para criar
um projeto educativo no Museu da Água. Foi um projeto tão maravilhoso que
chamou a atenção de uns professores da Itália, da Universidade de Genova,
vieram para Piracicaba, para conhecer o trabalho de Educação Ambiental em
Defesa da Água. Esses professores vieram e convidaram-me para apresentar esse
trabalho, fui para Genova em novembro de 2004 apresentar o projeto educativo em
função da água, que fazíamos aqui. Tinha dois projetos brasileiros em uma
apresentação envolvendo muitos países.
Quem era o prefeito?
Novamente o José Machado.
Você dava consciência de consumo de água.
Com dispositivos muito simples e
práticos, próprios para economizar, que educavam a criança em particular. Eu
tinha uma equipe de estagiários que eram estudantes do curso de Engenharia
Ambiental da FUMEP- Fundação Municipal de Ensino. Nós os preparávamos com
palestras, mini cursos, e eles passavam depois para as escolas, para os
visitantes, era uma loucura o número de visitas, havia mês em que passavam por
lá mais de 80.000 pessoas. Recebemos também a visita de um professor da UNESCO
que morava em Paris, veio para conhecer o trabalho, ver o material,
orientou-nos em algumas coisas, que infelizmente se acabaram no museu.
Após quatro anos o que você passou a
fazer?
Eu me desliguei de atividade publica,
comecei a escrever.
Quantos livros você lançou?
Na verdade eu consegui lançar só um. É
um livro infantil, chama-se “Conto Para Pequeninos”. Junto com a Professora Marly
Therezinha Germano Perecin escrevemos uma coleção de dez volumes, também
voltados para crianças, adolescentes, que se chama: “Piracicaba Conhece e
Preserva”. Tenho alguns outros, na mesma linha de conservação ambiental a
procura de patrocínio a algum tempo. É a minha área de paixão.
Você é associada do IHGP – Instituto
Histórico e Geográfico de Piracicaba, onde já ocupou o cargo de Primeira Secretária,
ai você passou a ser Presidente.
Escolheram-me!
Como está o Instituto Histórico e Geográfico
de Piracicaba hoje?
Fiquei temerosa em assumir a
direção isso porque o presidente anterior Vitor Vencovsky ficou aqui
por duas gestões, muito dinâmico e ativo, fez muitas aberturas para o
Instituto, a minha maior preocupação é não deixar “a peteca cair”.
Hoje existem quantos associados?
Efetivos, nós somos em 50. Efetivo é
aquele mais próximo, que paga anuidade, associados eméritos acredito que temos
aproximadamente uns 100. Os eméritos participam mandando trabalhos, vindo a
reuniões festivas, lançamentos.
O IHGP tem uma representação bastante
expressiva dentro e fora dos limites de Piracicaba?
Tem não só na cidade, como o presidente
da gestão anterior conseguiu se relacionar com os demais Institutos Históricos
do país. São poucos, aproximadamente uns 50. Em sua maioria em capitais. Com
isso trocamos material, programação anual. Isso é muito interessante.
Como o piracicabano
vê o Instituto Histórico?
Muitos ainda não
conhecem o nosso trabalho, por isso divulgamos em eventos, estamos abertos a
qualquer pessoa que queira conhecer o trabalho. Temos entre nossos associados
médicos, advogados, pessoas autônomas, mais simples, é só ter amor a cidade.
Quem pode ser
associado ao IHGP?
Vem muitas pessoas
nos procurar para se associarem. Na realidade é o Instituto que o convida. rincipio
para que seja feito esse convite é para pessoas que tenham feito algum trabalho
na cidade, pode ser benemérito, educativo, cultural, qualquer coisa que ela
faça em benefício da cidade. O Instituto é muito atento a um tipo de associado
que quer apenas constar essa condição em seu currículo. Não importa se a pessoa
não tem diploma algum, mas está fazendo a história do bairro dele. Pessoas que
gostam de escrever sobre a família, história., sobre a igreja, sociedade que
ele participa, quem tem amor a história, que é a finalidade do
Instituto.Proteger e preservar a história da cidade. Qualquer pessoa que tenha
um trabalho nessa linha é muito bem vinda.
O acervo do IHGP é relevante?
Fico até orgulhosa em
dizer isso, mas o nosso acervo jornalístico, principalmente, é muito
requisitado. Tivemos professores de universidades, até de outros estados, que
passaram por aqui, quase um ano inteiro, pesquisando em nosso acervo. São
professores da PUC de Campinas, da Fundação Getulio Vargas, de Londrina, da
Unesp. A partir deste ano conseguimos um diretor de acervo que fica aqui um dia
por semana a disposição desse pessoal. A pessoa vem o diretor agenda com ela.
Todos aqui são voluntários e as pessoas têm os seus afazeres. Ninguém aqui tem
salário. O nosso salário é o reconhecimento do público.
Como é feito o
manuseio desse material?
É muito especial, o
diretor de acervo vem, acompanha, a pessoa tem que usar luvas e máscara. Tivemos
problemas sérios até não ter um diretor de acervo. Abríamos para pesquisa feita
por pessoas que julgávamos ser de confiança, simplesmente ela cortava aquele
pedaço de jornal do seu interesse e levava.
O IHGP está mudando
de local?
Estamos realizando a
mudança, indo para o bairro Jaraguá. Talvez dificulte o acesso principalmente
para pessoas de fora de Piracicaba. O local que recebemos para irmos é um local
bom. Nossa grande dificuldade é levar esse acervo. Não pode ser levado sem
planejamento. É um material muito pesado, delicado.
O acesso físico ao
prédio do IHGP em sua nova sede será mais fácil?
No prédio que
ocupamos atualmente há uma enorme escadaria, isso dificulta o acesso de alguns
associados. Essa preocupação existe desde outras diretorias. O espaço que
recebemos é praticamente para comportar o acervo quer é muito grande.
Qual é a programação
para os 50 anos de existência do IHGP?
Essa é uma das
maiores preocupações da diretoria, já estamos nos programando para celebrar
essa data. Esse é o nosso foco, o que cada membro da diretoria está pensando e
começando a agir para o ano que vem, quando Piracicaba fará 250 anos e nós 50
anos. A fundação do Instituto ocorreu no mês de agosto no ano em que Piracicaba
completou 200 anos. O objetivo já era de preservar a nossa história. Foi
fundado por um grupo de pessoas preocupadas e interessadas nesse aspecto. Para
esse ano já estamos recebendo material para a revista anual, temos três livros
que estão em processo de lançamento, outros dois em que os autores estão
escrevendo para lançar no próximo ano.
A verba é fornecida
por quem?
A verba é fornecida
através de um convenio com a Secretaria de Ação Cultural. No ano passado
tivemos também um convenio com a Secretaria do Meio Ambiente para fazer a
digitalização dos 15 livros do Cemitério da Saudade. Estão todos digitalizados,
disponível na administração do cemitério. Foi uma prestação de serviço
realizada pelo IHGP. Hoje se alguém quiser saber algo sobre um parente
sepultado no Cemitério da Saudade, por exemplo, em 1948, localizam-se
rapidamente todos os dados do falecido. através do computador antes havia
dificuldades, os livros estavam completamente deteriorados.
Qual é o nível do
pesquisador que freqüenta o IHGP?
O maior número de
pesquisadores é composto por universitários, doutorandos e professores
universitários. É um acervo muito específico.
O que significa
História para você?
É a base do que se
faz hoje e será deixado para as futuras gerações. Uma forma de evitar cometer
erros, dando melhores condições para as novas gerações.
A população, em
particular esportistas e admiradores, sabem na ponta da língua a escalação de
um time de futebol que jogou em data distante. Porque isso não ocorre com a
História?
Acredito que isso
deveria acontecer. Mesmo aqui na América do Sul, há países que tem esse cuidado
em manter viva a História, esse respeito pelos antepassados, pelo passado, pela
História do País. Essa lacuna pode até ser em função da enorme miscigenação de
povos e raças com que formamos o país. È toda uma formação cultural que vem
decorrendo há séculos.
Qual é a importância
da Medalha Prudente de Moraes?
É uma comenda
reconhecida pelos poderes públicos, inclusive estadual, pouquíssimas pessoas a
tem, e é uma forma de homenagear pessoas que vem se destacando elevando o nome
de Piracicaba.
Como você sente-se
sendo a segunda mulher a ocupar o cargo de Presidente do Instituto Histórico e
Geográfico de Piracicaba?
Considero-me muito
honrada, é um cargo de muita responsabilidade, vou fazer o possível para elevar
o nome do IHGP a um nível cada vez mais alto. Todos os membros da diretoria têm
uma bagagem maravilhosa, acho que nesse ponto o IHGP tem tudo para crescer, é
muito bem visto pelo poder publico e pela mídia. Só tenho que agradecer.
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