PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 06 dezembro de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 06 dezembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: PAULO HYPPOLITO DE OLIVEIRA
O Lar dos Velhinhos de
Piracicaba, a Primeira Cidade Geriátrica do Brasil abriga pessoas que têm uma
sabedoria imensa, adquirida através de experiências vividas ao correr dos anos.
Muitos irradiam felicidade, espantam os fantasmas da depressão com a simples
alegria de viver. Casado em segundas núpcias com a dentista Dra. Maria Laura
Costa Aggio, Paulo Hyppolito de Oliveira nasceu a 6 de dezembro de 1927 na
Fazenda Capoava, em Porto Feliz. Seu avô paterno veio como imigrante alemão aos
oito anos de idade, tendo seu nome aportuguesado. Paulo é filho de Antonio
Kerches de Oliveira e Maria Antonia de Oliveira que tiveram os filhos: João,
Benedito, José (Zéca), Paulo, Maria José, Olga, Lourdes, Maria Iraides. Seu pai era proprietário de uma fazenda onde
era cultivado principalmente café. Com a "quebra" da Bolsa de Valores
americana em 1929, o Brasil teve a primeira grande crise de superprodução do café, seu pai
vendeu a fazenda e aplicou os valores apurados em imóveis na cidade de Porto
Feliz.
Em Porto Feliz a família passou a morar em que local?
Entre as propriedades adquiridas, uma delas foi uma chacara dentro da
cidade. Mesmo tendo seu sustento e da familia assegurados, meu pai continuava a
trabalhar na roça, ele gostava de trabalhar.
Em PortoFeliz o senhor concluiu o curso primário?
No quarto ano primário sofri um acidente grave. Por um verdadeiro milagre
não tive que amputar a perna direita. Ainda menino, fui nadar em um tanque
vizinho a nossa chacara, em uma briga de criança, um dos meninos atirou uma
colher de pedreiro que estava abandonada no local. A ponta da colher cravou no
meu joelho provocando uma profunda lesão. Nessa época eu tinha sete anos. Os
recursos médicos eram precários. Dr. Sacramento, primo da minha mãe, foi quem
cuidou de mim.
Quanto tempo demorou para curar?
Foi um longo tempo, cerca de um ano, fomos á Pirapora, tinhamos feito essa
promessa. Mesmo acidentado conclui o quarto ano primário, a professora era Dona
Filomena. Nossa família era muito bem conceituda na cidade, lembro-me que eu
era reconhecido como “filho do Hyppolito”. Quando eu tinha dez anos meu pai
faleceu. Minha mãe tinha um irmão, Alberto Paes de Arruda, que morava em São
Paulo, era gerente da fábrica de fechaduras La Fonte, por sinal ele foi o
responsável pelas fechaduras terem esse nome “La Fonte”. Ele era o mestre da
fábrica. (Atualmente a La Fonte Participações S. A. é uma holding brasileira que controla empresas como a Iguatemi Empresa
de Shopping Centers S.A., o Grande Moinho Cearense e é grande
acionista de empresas de telecomunicações. Seu controlador é Carlos Francisco Ribeiro Jereissati).
O senhor lembra-se quem era o
proprietário da empresa na época?
Não me lembro, sei apenas que eram
muito ligados ao Governador Adhemar de Barros.
Em que bairro de São Paulo
localizava-se a La Fonte?
A principio era na Vila Mariana,
depois mudou-se para o bairro de Santana, quem seguia para o final da Rua
Voluntários da Pátria, á direita era a fábrica. No início fui sozinho morar com
a família do meu tio. Fiz o curso de ajustador na La Fonte. Tinha uns doze anos
na época. Minha irmã Maria mudou-se para São Paulo, Eu trabalhava na La Fonte,
tinha uns quatorze anos, foi quando Adhemar de Barros (nascido em Piracicaba a 22 de abril de 1901) pediu
que ajudasse em sua campanha política. O comitê político de Adhemar Pereira de Barros
era no centro de São Paulo. Cheguei a ir muitas vezes ao Palácio dos Campos
Elísios (antigo
"Palacete Elias Chaves"), situado na Avenida Rio Branco. Ajudei
em duas de suas candidaturas. Nessa época que conheci sua esposa, a Dona Leonor
Mendes de Barros, através de sua ajuda é que fiz a preparação para ingressar no
curso ginasial na famosa escola Caetano de Campos, na Praça da Republica. Mais tarde conheci
Paulo Maluf.
Mas o Dr. Adhemar de Barros e Paulo
Maluf tinham bom relacionamento?
De nenhuma forma!
Quando o senhor trabalhou para o
Adhemar de Barros ele já era proprietário da Chocolates Lacta?
Já era dono da Lacta.
Foi no período em que ele construiu
o Hospital das Clínicas de São Paulo?
Também! Adhemar de Barros construiu
muita coisa em São Paulo. Da mesma forma que Paulo Maluf também construiu. Assisti
a muitos comícios de Adhemar de Barros.
Após a La Fonte onde o senhor foi
trabalhar?
Fui trabalhar na fábrica de fogões a
gás Dex. Acabei me especializando em fogão elétrico, com termostato, da mesma
marca. Trabalhei desde fogão a querosene até fogão elétrico. Eu dava manutenção
a todo tipo de fogão, viajava muito, lembro-me que fui até Araras no convento
das freiras, arrumar o fogão para elas. Fogão indústrial. Eu tinha facilidade
para descobrir a origem dos defeitos. Quando o fogão a gás começou a ser
utilizado era o desejo de todas as famílias possuir um. A Dex fazia fogões
também para gás encanado(gás de rua). Eu instalava esses fogões de gás de
rua. A presssão do gás é completamente
diferente.
O senhor dava manutenção à hoteis,
restaurantes?
Lembro-me de uma passagem, fui dar
manutenção em um fogão no Restaurante Fasano, um templo da gastronomia até hoje,
naquela época ele situava-se na Avenida Paulista. Eu cheguei quase na hora do
almoço, Era um fogão enorme. Com a experiência e prática que eu tinha consertei
rapidamente, mas tirei uma lição que nunca mais esqueci, presenciei uma cena
onde vi que nenhum cozinheiro gosta de ser criticado pelo prato que preparou
para o cliente. Nos bastidores eles ficam muito irritados se o pedido não saiu
de acordo com o que o cliente pediu. Ao meu ver parece ser uma regra em todos
os locais que servem refeições. Meu conselho é se o prato que você pediu não
saiu a seu gosto, deixe-o de lado ou se estiver com muita fome coma assim
mesmo.
Em primeiras nupcias o senhor
casou-se em São Paulo?
Não, casei-me com Wanda Ribeiro de
Oliveira, minha primeira esposa, em Capivari, o meu sogro trabalhava na Casa da
Lavoura em Capivari. Tivemos quatro filhos: Paulo, Elzio, Ana Maria e Ana
Paula. Fiz concurso para ser Despachante Policial, passei, e prestei serviços a
muitas pessoas, inclusive para políticos como Paulo Maluf, Orestes Quercia.a
atleta Hortência. Por muitas vezes vi Jânio Quadros. Em minha atividade como
despachante fazia de tudo, vistos de viagem, passaportes, naturalização,
permanência em país estrangeiro. Cheguei a ter vários escritórios funcionando
simultâneamente, era conhecido como Hyppolito Despachante, comecei a trabalhar
dentro de uma concessionária de veículos na Avenida Lins de Vasconcelos, depois
passei a ter uma equipe de funcionários, inclusive um deles hoje é funcionário
na Rede Globo. Fiz a naturalização de muitos alemães que vinham de Santa
Catarina até São Paulo para se naturalizarem. Naturalização é um processo muito
trabalhoso.
Para quais localidades eram emitidos
o maior número de vistos em passaportes?
Para os Estados Unidos e para a
Itália.
O senhor chegou a conhecer algum
membro da família Matarazzo?
Trabalhei para eles. Cheguei a ver o
Conde Francisco Matarazzo. Eu tratava diretamente com um senhor conhecido como
Casagrande, que cuidava dessa parte de documentação da família, conheci a mansão
da família Matarazzo na Avenida Paulista. Tive muitos amigos que era do circulo
de amizade de Getulio Vargas.
Com toda a vivência que o senhor
têm, qual é a visão do senhor sobre a justiça social no Brasil?
Sempre achei que a justiça social
deixa muito a desejar em nosso país.
No período da Revolução de 1964 o
senhor por dever de ofício tinha que frequentar repartições públicas, com isso
conheceu de vista figuras de destaque?
Conheci pessoas que estavam na mídia
da época, embora o contato direto não fosse com eles e sim com funcionários
burocraticos. Eram pessoas temidas, como Ségio Paranhos Fleury. Conheci Romeu
Tuma, o qual sempre me passou uma boa impressão. Luiz Inácio Lula da Silva
conheci fazendo discurso em palanque. Eu não me envolvia em política.
Limitava-me ao meu serviço de despachante. Era bem quisto por todos os
setores. Tinha que ter uma conduta
irrepreensível para ser respeitado.
O senhor atuou como ator em uma peça
de sucesso?
Em São Paulo eu morava ao lado de um
local onde havia um centro religioso. A peça era “Auto da Compadecida” de
Ariano Suassuna. Interpretei o bispo, a peça todas as vezes em que foi
apresentada foi interrompida pelos aplausos do público. Foi um sucessso! É
um drama nordestino apresentado em três atos. Contém elementos da literatura de
cordel e está inserido no gênero da comédia, se aproximando do barroco católico
brasileiro. Ensaiamos bastante e apresentamos no Teatro Arthur Vila Nova.
Qual é a importância para uma
pessoa participar da encenação de uma peça?
Considero muito importante.
Desenvolve maior compreensão dos momentos que se passa na vida. Desinibe o
ator, a pessoa aprende a ficar mais desenvolvida. Desde que seja um bom texto
eu recomendo que se pratique o teatro, em qualquer idade.
O senhor viveu um período nos
Estados Unidos?
Residi na Flórida, por
aproximadamente dez anos. Minha filha Ana Paula casou-se, tem um filho e mora
naquele país.
Nesse período o senhor dirigia
veículos de passeio da família?
Dirigia, o trânsito lá é
maravilhoso! Dirigi até no centro de Nova Iorque. Qualquer garoto consegue
dirigir em um transito daqueles.
E a alimentação nos Estados
Unidos, o que o senhor achou?
Eu gostava, fazia minha própria
comida!
O senhor é bom cozinheiro?
Dentro do limite do que sei fazer
me considero um bom cozinheiro.
Qual é o prato que o quando o
senhor faz ninguém quer deixar de comer?
A lasanha! Em uma ocasião adquiri para uma das minhas
filhas um local no ponto de alimentação do Shopping Tatuapé, chamava-se
“Coxinha e Cia.”. Eu fazia a lasanha, vinham pessoas da Lapa, um bairro
relativamente distante, para adquirir a lasanha. O meu neto nos Estados Unidos
foi comigo em um local famoso pela lasanha, ele começou a comer, quando disse-me:
“ Vô, porque não é igual a sua lasanha?”. Acabou deixando-a no prato.
O americano alimenta-se mal?
Muito mal!
O senhor fala inglês?
Na Flórida, pela influência de um
grande número de imigrantes latinos, o idioma muito utilizado é o espanhol. Era
nesse idioma que eu me comunicava quando ia fazer compras no mercado. Em 2001
foi a primeira vez que fui para os Estados Unidos. Eu estava lá quando ocorreu
a queda das Torres Gêmeas. Foi indescritível o comportamento da população,
mesmo estando na Flórida.
O senhor tem um tipo físico
característico, a primeira vista imaginavam que sua origem era de qual país?
Por diversas vezes fui tratado
como sendo originário da Itália.
Tendo a oportunidade de observar
o comportamento do americano e conhecendo a nossa realidade, o senhor vê alguma
possibilidade de haver uma aproximação maior entre os dois países?
São formas distintas de
comportamento. Tanto o Brasil como os Estados Unidos tem visões muito
diferentes de aspectos básicos.
O seu otimismo, seu bom humor,
influencia na sua qualidade de vida?
Sem dúvida!
O senhor gosta de escrever?
Gosto, meu assunto preferido é
sobre política, mas tratando-a de uma forma irreverente. Sou membro do Clube
dos Escritores de Piracicaba.
A crítica política feita de forma
cômica é a que produz resultados?
Funciona, sem dúvida.
Há um célebre e conhecido ditado
que diz que: “Colhe-se o que se planta”. Em seu ponto de vista isso acontece de
fato?
Acredito, sem duvida!
O senhor gosta de ler?
Gosto muito! O meu tema preferido
é filosofia. Gosto de ler Paraíso
Perdido de John Milton. (Paraíso Perdido (em inglês: Paradise Lost)
é uma obra poética do século
XVII, escrita por John
Milton, originalmente publicada em 1667 em dez
cantos. Uma segunda edição foi publicada em 1674 em doze
cantos, em memória à Eneida de Virgílio com
revisões menores ao longo do texto e notas sobre os versos.) Pronto! Está aqui o livro traduzido em
português. É um livro formidável. Essa frase é profunda: “Ninguém, exceto Deus,
ao justo pode calcular o valor do bem que encara”.
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