segunda-feira, maio 04, 2020

JOÃO CARMELO ALONSO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de abril de 2020.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: JOÃO CARMELO ALONSO









João Carmelo Alonso, nasceu em Araras a 1 de junho de 1970, filho de Luiz Jannuário Alonso Garcia e Dirce Coser Alonso Garcia, os quais tiveram os filhos João, Pedro e Sueli. Seu avô paterno imigrou da Espanha, região de Almeria, foi para Conchal, a cerca de 40 quilômetros de Araras. Sua avó paterna tem ascendência italiana. O seu pai conservou o idioma espanhol, muitas vezes falava com ele e, com seus irmãos, em espanhol. Joao Carmelo Alonso recebeu o título de Cidadão Piracicabano.
O senhor nasceu e morou em Araras por muitos tempo?
Nasci em Araras, onde estudei, passei em um concurso na UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba, vim para Piracicaba em 2000.
Qual era a atividade do seu pai?
Meu pai tinha duas atividades: músico, tocava violão e tinha excelente voz. Ele tinha uma dupla sertaneja, gravou CDs, LPs, gravou comerciais de televisão, meu pai tinha uma dupla sertaneja, “Os Folgazões” era o nome da dupla, o nome artístico dele era “Jeca”. (João Carmelo apanha em um móvel farto material que ele conserva, LPs, CDs, fitas gravadas”. Em pesquisa na internet, vemos muitas referências elogiando-o como um grande artista, além de gravações que podem serem vistas e ouvidas. Segundo os comentários dos fãs e conhecedores, um talentoso artista). Meu filho herdou do avô a veia musical, hoje ele toca violão.
Nessa época a música trazia retorno financeiro expressivo?
Meu fazia a música por lazer. Ele foi proprietário de um açougue, evoluiu para um minimercado.
Era muito natural os descendentes de espanhóis terem um açougue.
Era muito comum, a família toda era votada para essa área. Inclusive meu avô materno. Isso tudo em Araras. Depois tiveram frigorífico, chamava-se “Irmãos Coser”
Em Araras o senhor estudou em qual escola?
Estudei na Escola Estadual Senador César Lacerda de Vergueiro, de Araras e depois dei continuidade em outra escola, a Escola Estadual Dr. Cesário Coimbra uma vez a Escola Dr. Vergueiro não tinha todo o ciclo de ensino. Nesta escola, meu tio, José Luiz Coser, irmão da minha mãe foi Diretor da Escola.
Qual era o sentimento como sobrinho do Diretor da Escola?
Na época ele era rígido. Ele está aposentado, mas na época era muito bom. Tinha uma excelente formação pedagógica, o nível de ensino na Escola Pública era muito diferente. Primava pela qualidade, em geral mais exigente do que as escolas particulares.
A seu ver, os alunos, desde o curso primário deveriam ter uma noção básica da Constituição Federal?
Essa matéria deveria estar no currículo escolar. Lembro-me de que nos colégios que estudei, tínhamos que regularmente cantar o Hino Naciona, Hino á Bandeira. Havia a matéria Estudos Sociais, eram abordagens sobre a nossa naciolidade: Direitos, Deveres, Obrigações.
A pessoa que conhece a Constituição Federal, têm em mãos um manual de cidadania, essencial ao seu comportamento social. Isso é desestimulado por determinadas classes que querem ter o pleno domínio da população, por isso há uma pressão para não colocar no plano de ensino?
Já mudou muito, a nossa cultura está mudando! Tivemos uma situação de um país extremamente rigoroso, com determinadas questões políticas, institucionais, passamos para um lado democrático, dentro dessa democracia, criou-se um liberalismo, abriu-se demais, o que foi bom até certo ponto. Até um determinado segmento. Agora estamos tentando recuperar um princípio básico em um país, ´R dessa forma que eu vejo, estabelecer um equilíbrio. Temos nossos princípios familiares, se perdemos esses princípios, dentro das nossas casas, perde-se totalmente o controle. O conceito de família deixa de existir. A modernização é inevitável, mas assusta!
Nós éramos senão em grande parte, mas em um grau bem elevado, conduzidos, induzidos, até mesmo de forma subliminar pelos veículos de comunicação, a tecnologia trouxe a velocidade o fácil aceso às informações. Isso a seu ver nos torna melhor informados?
No tocante a Internet, a Rede Mundial de Computadores poderá ser utilizada tanto para o lado bom como para o lado ruim. Hoje tenho dois filhos, João Vitor e Maria Luiza, como falar que eles não usam internet? Estabeleço limites de uso. É da natureza humana querer conhecer o desconhecido. E esse desconhecido pode trazer consigo problemas. Da mesma forma que dizer para uma criança: “Você vai passar uma hora estudando”. Ou dizer: “ Você irá passar uma hora brincando”.
Com educador, o senhor recomenda o uso do bom senso para com os filhos? Alguns pais transformaram os jogos eletrônicos, celulares em “babás eletrônicas”?
Isso ocorre muito em viagens, restaurantes, A tecnologia é inevitável, mas temos que ter um cuidado constante para o uso dela pelas crianças e adolescentes.
Retornando ao período em que o senhor estudou, havia a opção de fazer o Curso Colegial ou o Curso Científico, qual foi a sua opção?               
Fiz o Curso Colegial.
Quais eram os meios de diversão para um jovem naquela época?
Jogar bola, basquete. Meu irmão, Pedro Alonso, foi jogador profissional de futebol. A minha esposa, Lucilei Medeiros Alonso, jogou muito basquete e joga até hoje. Ela jogou no time do BCN aqui em Piracicaba. Na minha infância e adolescência, andava de bicicleta, não tinha perigo, soltava pipa, pião, bolinha de gude. Eram brincadeiras inocentes. Atualmente temos uma realidade diferente, onde tomamos cuidados redobrados. Perdemos a confiança em questões do cotidiano. O tempo mudou, a cidade cresceu.
O senhor acredita que isso irá retroceder?
Não acredito.
Nós temos diferenças sociais e econômicas muito expressivas, alguns afirmam que essas diferenças promovem a violência. Outros afirmam que é inerente ao indivíduo, em decorrência de diversos fatores.
                                                                                  
Diferenças sociais sempre existiram, desde a época de Jesus Cristo ! Isso sempre existiu. O nosso país apresenta dentro do contexto internacional uma desigualdade muito acentuada. O Brasil é extenso demais! Cabe a Europa dentro do nosso território! Isso torna a situação de solução muito difícil. Estive conversando com o vice-presidente da Segunda Região do TRT – Tribunal Reginal do Trabalho de São Paulo, o desembargador Carlos Husek, justamente no período em que surgiu a Reforma Trabalhista. Como será aplicada a Reforma Trabalhista para alguns estados extremamente carentes? É impossível!
Na Copa Mundial de 1970 o hino oficial exaltava os 80 milhões de habitante, Em 2020 temos cerca de 210 milhões de habitantes. Ou seja, em 50 anos a população não teve um crescimento e sim uma explosão populacional?
O país explodiu, sem a devida infraestrutura. Veja quanto nós crescemos por década! O Brasil não acompanhou esse crescimento! Crescemos em população! Nós inchamos! Não crescemos na mesma proporção em estruturas, na área social. Com isso nossa qualidade de vida piorou. Não temos estrutura para tudo isso!
Em seu ponto de vista qual é a saída?
O princípio básico é a educação! A educação é um ponto em que é necessário trabalhar, melhorar, gradativamente. Essa mudança não será brusca.
Em sua análise, os nossos detentores dos poderes políticos, estão preocupados ou envolvidos nesse projeto de educação para a população?
 Não vejo a preocupação ou empenho necessário. Estamos preocupados mais com questões politicas. Fazer um pré-julgamento de determinadas instituições não é bom, Hoje vejo nossas instituições jurídicas não mais preocupadas com o bem estar do povo. Temos que prestar muita atenção com relação a isso. È necessário haver uma mudança. O que nós faremos com mais de 13 milhões de desempregados? Será que os nossos governantes têm de fato ciência da quantidade de pessoas que estão desempregadas?
O que se comenta é que muitos sobrevivem trabalhando na informalidade.
Se todos trabalharem na informalidade como ficam algumas regras? O nosso maior problema de uns tempos para cá é a corrupção! Isso é fato!
O fator tributário, extremamente elevado, determina a corrupção?
Considero que a corrupção é inerente ao ser humano. Ela existe no mundo inteiro. Só que no Brasil ela é bem mais acentuada, isso para sermos benevolentes. É por isso que chamo a atenção de que as instituições precisam olhar para esse tipo de fenômeno: Corrupção e Poder. Existem várias obras escritas sobre isso, não sou que falo, os livros estão aí! Temos aquele ditado: “Para conhecer a pessoa, dê-lhe o poder ou dinheiro! ”. Não tenho como afirmar exatamente quando tudo desandou, mas infelizmente, hoje todos querem levarem vantagens! Isso impregnou no ser humano! Na sociedade! Não tem como ter controle do comportamento humano, a não ser aquele dado pelo princípio familiar, que é o básico de tudo! Se você ensinar errado para o seu filho ele vai caminhar errado até o final. Irá aprender errado, será um adolescente errado, será um jovem fazendo algo errado. Os frutos disso voltarão aos pais. Confesso que fui um privilegiado em minha vida. Meu pai viveu até os 84 anos. Posso dizer abertamente à todos, quando ele disse-nos: “ Nós não temos dinheiro, mas eu tenho uma situação que eu posso lhes dar, educação e estudo”.
O fator financeiro ao seu ver muda o caráter do indivíduo?
A riqueza, o fato de você ter ou não uma situação financeira diferenciada do seu amigo, do seu colega, não muda o caráter do ser humano. Caráter é o principal ponto. Nome. Sãos os valores que de fato pesam na existência do indivíduo.  Seu caráter. O que o seu nome representa. Graças a Deus tenho esses valores.
O senhor é religioso?
Bastante. So católico, devoto de Santa Rita de Cássia, tenho as minhas particularidades espirituais, respeito qualquer outra crença religiosa, Há até uma citação que mostra como muitos agem negando a própria fé, dizem: “Sou ateu. Graças a Deus! ” Isss nada mais é do que um descompasso entre seu íntimo e suas palavras. Sou muito católico, vou a igreja sempre que posso, aos domingos faço questão de ir com a minha família. Faço as minhas orações, procuro passar isso para os meus filhos.
O senhor faz parte de alguma entidade?
Não pertenço a nenhuma entidade. Procuro auxiliar as pessoas de forma anônima. Já pertenci a algumas entidades, fui presidente do Rotary Club Piracicaba Povoador                              , no período 2010-2011. Tive convites para também pertencer a outras entidades. Para ser integrante de qualquer entidade há a necessidade de dedicação, tempo disponível. O meu tempo é dedicado à minha família, ao meu trabalho e a minha vida acadêmica. Gosto de escrever, de publicar artigos.
Quantos livros o senhor já tem escritos?
Já participei de cinco obras, tenho um livro recém-lançado, na USP- Universidade de São Paulo, da qual faço parte, participo de grupo de estudos.
Voltando um pouco no tempo, quando o senhor concluiu o colegial, qual foi o passo seguinte?
Logo após concluir o Curso Colegial, sofri um acidente de motocicleta, fraturando tíbia e perônio. Na época eu tinha uma motocicleta Honda CB 400, fiquei praticamente seis meses com restrições de mobilidade. Sempre trabalhei, desde criança. Em araras tinha o Clube dos Engraxates, dos 12 aos 14 anos, colocava a minha caixinha verde nas costas, ia para a praça, engraxar sapatos. Eu mesmo engraxo até hoje os meus sapatos.
O senhor dava aquela batidinha na caixa quando o cliente tinha que trocar o pé, para engraxar o outro sapato?
Sim! Era de praxe!  (Risos). Usava graxa Nugget ou ODD, preta e marrom. Papai tinha um açougue, trabalhamos com ele por muito tempo.
O cinema era uma das atrações?
Eu ia ao cinema! Assistia muito os filmes dos “Trapalhões”, que na época estavam no auge. Na época havia dois cinemas em Araras. Meu pai permitia que eu saísse desde que as 10 horas da noite estivesse em casa!
Araras é uma cidade com boa qualidade de vida?
Muito boa. Hoje ela deve estar com 150.000 habitantes. É uma cidade bem organizada.
Com um pai rígido como ele permitiu que o senhor adquirisse uma motocicleta potente?
Na realidade meu irmão também tinha uma semelhante!
Vocês eram os “donos” da cidade! Motocicleta nessa época era para poucos!
Meu pai sempre teve um ditado: “Quem tem comércio nunca vai faltar dinheiro no bolso! ” Trabalhávamos em família, eu levantava as 4 horas da manhã para trabalhar. Eu saía para comprar boi as 4 horas da manhã! Ia de Kombi. Não ia dirigindo porque não tinha a carta de habilitação. Com 18 anos, quando tirei minha carteira de habilitação, ia dirigindo. Iam negociava no frigorífico, carregava, descarregava, a vida era sempre agitada. O conceito de açougue, atualmente mudou muito. Hoje açougue é uma boutique onde são vendidos inúmeros produtos. O mercado nessa época, não vendia pão, não vendia leite, não vendia carne, não vendia remédios, não vendia sapatos. Poso afirmar que na minha infância nunca faltou nada. Meu pai sempre teve uma vida simples, em uma situação confortável. Nunca foi de esbanjar. O que o meu gostava de fazer era música, viola!
Na casa dos seus pais eram feitas “migas”, prato típico espanhol?
Minha mãe sempre junto com o meu pai fazia “miga”. Era um alimento muito consistente, poderia passar o resto do dia sem comer nada. Além de ser um prato muito saboroso. Minha mãe sempre foi aquela mãezona, colocava todos os filhos embaixo das suas asas. Ela e meu pai eram muito religiosos. Por muito tempo tivemos fogão a lenha, depois adquirimos o fogão a gás, mas mantendo o fogão a lenha por um bom tempo. Minha mãe fazia linguiça, colocava para defumar. Erra uma vida muito boa. Tanto que o primeiro LP que o meu pai gravou tinha como título: “Vida Boa”. Uma das frases da música “Vida Boa”: “A vida é boa é preciso ter coragem”.
O Curso de Graduação em Direito o senhor fez onde?
Eu morava e trabalhava em Araras e a noite fazia o curso na Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP, isso foi em 1992, o curso ainda era de 4 anos, me formei em 1996. Vinha e voltava para Araras todos os dias, de ônibus, era um percurso em torno de 1:40 horas. Saíamos as 18:00 horas, quando era 19:15 estávamos chegando aqui. Todos cansados, dentro do ônibus o silencio era absoluto. Às sextas-feiras é que relaxávamos um pouco, mesmo assim no sábado eu tinha que trabalhar com papai no mercado. Uma regra que sempre papai dizia: “Primeiro a obrigação, depois a diversão”. Eu adorava, adoro até hoje carnaval.
O senhor saiu fantasiado alguma vez?
 Sai nos clubes em Araras! Éramos um grupo de jovens! Os famosos blocos! Em período de carnaval só voltávamos quando o baile acabava, 4 ou 5 horas da manhã. Chegava em casa, tomava um banho e ia trabalhar no mercado, onde trabalhava até as oito da noite. Descansava. No início chamava-se Casa de Carnes Bom Jesus, depois passou a se chamar Mercado Bom Jesus.
Qual foi a reação do seu pai, quando o senhor decidiu estudar Direito?
Ele apoiou! Todos os filhos concluíram curso superior. Formado em Direito só eu. Em 1997 e 1998 fiz um curso de especialização na Universidade, Comecei outro  curso na Universidade, quando em 2000 abriu um concurso. Fiz o concurso, fui aprovado como docente, nesse meio tempo saiu da Especialização e entrei no mestrado, em 2002 defendi o meu mestrado e já estava praticamente dentro da Universidade até hoje.
A sua opção pela área Trabalhista tem um fator de motivação?
Tem ! Essa opção pela área trabalhista foi quando eu comeceia estagiar no escritório doo Dr. Luiz Cressoni Della Coletta, em Araras, isso na época em que o estágio não era remunerado. Fiz o estágio após ter me formado, no inicio de 1997 até 2001 fiz estagio com ele.  Quando eu já estava na Universidade, como docente, o Dr. Coletta disse-me: “Alonsinho! O espaço nosso aqui é pequeno para nós dois! Você tem muito! Pode crescer  demais! Eu vou te dar a sala ao lado, você vai me pagar daqui a seis meses. O número da OAB dele era 14.000 ! Ele era fantástico, Eu estava na minha fase de juventude, tinha 28 anos, o escritório  dele ficava no centro, aos sábados , eu voltando dos restaurantes, bares, as quatro horas da manhã, a luz estava acesa, o Dr, Coletta estava trabalhando!
Os cálculos trabalhistas ele mesmo fazia?
Muita coisa ele pedia para que eu fuzesse, outras ele mesmo fazia, e também mandava para o contador  calcular.  Ele fazia os cálculos a mão. Sem auxilio de máquina calculadora. O que  eu admirava nele é a capacidade intelectual daquele homem. Ele tinha uma biblioteca de cerca de 5.000 livros! Você olhava os livros, com aqueles papeizinhos, todos marcados. Ele dizia-me: “Alonsinho! Pega tal caixa no arquivo, quero tal pasta, tal nome.” Eu pegava a escada puxava a pasta, olhava, batia a data, o nome, batia tudo! Eu pensava comigo mesmo: Esse homem está de brincadeira comigo!”. Ele tinha uma secretária, a Andréia, trabalhou 20 anos com ele.  Hoje Dra. Andréia, formou-se também. Eu criei esse habito de fazer biblioteca com ele. Ele dizia: “Pega tal Lex, veja na página tal vê se esta falando tal coisa. Entrava na biblioteca, entrava no meio do  arquivo, tinha um papel. Eu imaginava: “Não é possível que esse homem vai acertar de novo!”. Isso me chamou muito a atenção! Fui criando esse habito. Ele só fazia trabalhista. Era raro ele fazer divórcio, separação, despejo. Ele dava muita assessoria para empresas, companhias  agrícolas, fazendas, em Araras tinha muitas fazendas, praticamente ele me ensinou tudo. Tenho um ditado que levo comigo, até hoje falo dentro do meu escritório, para todos da minha equipe: “ Se você quer ser igual, está cheio. Se quiser ser diferente, são poucos”. Escutei isso depois de muitos anos, do meu professor na USP, Prof. Dr. Nelson Mannrich 
O caminho para ser igual é o mais usual. Para ser diferente, existe  alguma “receita”?
Eu procuro fazer tudo o que realmente gosto! Primeiro você precisa se identificar com aquilo que você gosta. A Humildade e o Caráter são os primeiros passos. Todas as profissões tem os seus problemas. Todas as pessoas podem falar bem ou mal. Mas, somente você e Deus sabem o que realmente faz. Se voce esta com a consciência tranquila, tudo irá dar certo.
O Direito Trabalhista é visto como uma área muito sensível a mudanças?
O Direito Trabalhista tem dois lados: o lado do empregado e o lado da empresa, do empregador. Sem nenhum demérito, o lado do empregado a Justiça do Trabalho faz o processo para ele. Nesse caso, a peça mais importante no processo  é a petição inicial. Se ele não fizer uma boa petição inicial, ele irá perder o processo. Nós temos em Piracicaba, muito bons advogados que só fazem as iniciais, e lutam pelo trabalhador. Como eu vim de um escritório que sempre trabalhou com empresa, posso afirmar que o lado da empresa é um pouco mais complicado. Se você fizer algo de errado, o passivo que você pode dar para a empresa é grande.
As mudanças ocorridas na legislação trabalhista trouxeram muitos impactos?
Acho que ainda está muito cedo, mesmo com dois anos de mudanças trabalhistas da nova CLT, vamos ter muitas mudanças, inclusive agora foi nomeada a primeira mulher do Superior Tribunal do Trabalho, atual Presidente do Tribunal Superior do Trabalho é a Ministra Maria Cristina Peduzzi, ela disse que vai ocorrer novas reformas. Acho que o TST precisa se posicionar em determinados assuntos. É o que venho falando em sala de aula, tem assuntos que o TST não pode fugir mais. Precisa  enfrentar. Os advogados, tanto do lado do empregado como do  lado do empregador, estão sem saber como é que fazem. Colocam as opiniões, você pode interpretar de  um jeito eu interpreto de outro. O direito não é matemática, não é uma ciência exata. O seu direito termina quando? Quando começa o meu!
Grandes reformas trabalhistas foram realizadas no período do Governo Getúlio Vargas, e muitas até hoje não mudaram, O senhor considera essas reformas positivas?
Para a época foram!
O senhor lançou em São Paulo, na Faculdade de Direito da USP o livro “Reforma Trabalhista: Reflexões e Criticas” sob a coordenação de Nelson Mannrich, editado pela LTr. (Nesse momento, relumbrando a trajetória de superação e vitória a emoção domina).
O senhor tem uma relação muito próxima com a USP-Sãp Paulo?
A Universidade de São Paulo em suas áreas de atuação é uma grande referência.
Há uma grande expectativa quanto a referencia trabalhador-empresa, o senhor acredita que deve haver mudanças?
Vai modificar! Acredito que o trabalhador terá que fazer uma requalificação.

FORMAÇÃO ACADÊMICA

     Mestre em Direito – UNIMEP/SP – 2002 a 2005 - Área de Direito das Relações Sociais: Direito do Trabalho - orientação da Prof.ª Dr.ª Dorothee Suzanne Rudiguer - título da dissertação: Competência Material da Justiça do Trabalho nos litígios de dano moral em decorrência do acidente de trabalho. Ø Especialização em Direito Processual Civil e Direito Civil – UNIMEP/SP – 1999 a 2001 – titulo do trabalho: Contratos na Área do Direito Comercial Ø Graduação – Universidade Metodista de Piracicaba – 1992/1996. Advogado com inscrição na OAB/SP sob n. 169.361. Coordenador da Escola Superior de Advocacia (ESA – Subseção Piracicaba/SP) – 2013/2014; Diretor Jurídico Esporte Clube XV de Novembro (Piracicaba): de 2008 a 2012; Coordenador do Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho - UNIMEP; Advogado – Procuradoria do Município de Piracicaba – área de concentração:Direito do Trabalho: De 2006 a 2008; Membro Participativo na Fundação da AATRAL (Associação dos Advogados Trabalhistas e Araras, Leme e Região) – Ano 2001/2003; Comissão do Jovem Advogado – OAB/SP – Subseção Araras – 2001 a 2002 Membro de Grupo de Estudo em Direito do Trabalho – GETRAB/USP; Membro do IPOJUR – Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas em Ciências Politicas e Jurídicas.
      Professor da UNVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA/SP – UNIMEP
Tempo Integral – desde Agosto de 2000. Coordenador do Curso de Pós Graduação em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho – UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA/SP – UNIMEP – Desde 2006. Professor Orientador de Estágio – Atividade Extrajudicial – JUIZADO ESPECIAL CÍVEL – ANEXO – UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA/SP – Desde 2002 . Professor – “Damásio Cursos Jurídicos” – Unidade Piracicaba – Curso Preparatório para Exame da OAB/SP – De 2009 a 2010 - Direito do Trabalho, Direito Processual do Trabalho. Professor: MBA em Gestão estratégicas de Pessoas. 2009. (Curso de curta duração ministrado/Especialização) – UNIMEP/SP – Disciplina: Direito do Trabalho;  Comissão do Jovem Advogado – OAB/SP – Subseção Araras – 2001 a 2002  Membro de Grupo de Estudo em Direito do Trabalho – GETRAB/USP; ØØ Membro do IPOJUR – Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas em Ciências Politicas e Jurídicas.

TRABALHOS PUBLICADOS:

As Inovações Tecnológicas no ambiente do Trabalho: Melhoria ou Perigo? Jornal de Piracicaba, Cidade de Piracicaba/SP. 2014.  As atuais mudanças no aviso prévio imposto pela Lei 12.506/2011. Jornal de Piracicaba, Cidade de Piracicaba/SP. 2013. A crise econômica e o Direito do Trabalho. Revista Nacional de Direito do Trabalho, v. 01, p. 01-04, 2010. A ampliação da Nova Lei de Licença Maternidade. Revista Nacional de Direito do Trabalho, v. 01, p. 01-04, 2009. A Ampliação da Competência da Justiça do Trabalho e seus Efeitos com a Promulgação da Emenda Constitucional nº. 45/2004. Revista Nacional de Direito do Trabalho, v. 123, p. 11-16, 2008. O Direito do Trabalho sob a Ótica do Novo Código Civil. Cadernos de Direito (UNIMEP)), v. 1, p. 203-208, 2004. Contratação de funcionários: direito ou violação?. Jornal de Piracicaba, Cidade de Piracicaba/SP, p. A3 - A3, 22 jul. 2012.  Regulamentação do Ponto Eletrônico. Jornal do Terras, Piracicaba/SP, 02 abr. 2012.   As inovações tecnológicas no ambiente de trabalho: melhoria ou perigo?. Jornal de Piracicaba, Piracicaba, p. 01 - 01, 30 abr. 2011. Ø Juizado Especial Cível e sua função social. Tribuna do Povo, Araras/SP, p. 2 - 2, 03 out. 2002.
         CAPITULOS DE LIVROS PUBLICADOS : O Contrato de Estágio no Direito do 
                           Trabalho: Relação de Aprendizagem ou Relação de Emprego?. In: João           Miguel da Luz Rivero; Luiz Antonio Rolim. (Org.). Faculdade de Direito: direito e história 1970 - 2005. 01ed.Piracicaba: Printfit Soluções, 2005, v. , p. 167-174.

PARTICIPAÇÃO EM PALESTRAS – PALESTRANTE LOCAL: TEATRO UNIMEP/SP

A importância do Jovem advogado frente a advocacia. (Palestra – OAB/SP – Piracicaba  2015). A Profissão do Futuro para os Jovens no Ensino Médio (E.E.Cesário Coimbra/Araras/SP – 2015).Assédio Moral. 2010. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou palestra). Colisão de Direitos Fundamentais no Direito Constitucional Brasileiro. 2005. (Apresentação de Trabalho/Simpósio).  Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho. 2002. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou palestra). O          Advogado       e          o          Mercado de Trabalho.      2000.        (Apresentação            de Trabalho/Conferência ou palestra). Palestra na abertura da Semana Jurídica da OAB/SP – Piracicaba – 2016; Palestra Na Câmera Municipal de Piracicaba/SP – A Reforma Trabalhista – 2017; Palestra na Câmera Municipal de Rio das Pedras/SP – A Reforma Trabalhista e a Lei de Terceirização – 2017.ATIVIDADES COMPLEMENTARES:  Jornada de Coordenadores e Docentes do Curso de Direito. 2011. (Outra). Lei nº. 11.419/06 - Processo Eletrônico. 2007. (Outra).  44º Congresso Brasileiro de Direito do Trabalho. 44º Congresso Brasileiro de Direito do Trabalho. 2004. (Congresso). III Encontro Nacional de Estágios. 2004. (Seminário). V Congresso Nacional de Direito do Trabalho e Processual do Trabalho do TRT da 15ª Região. 2003. (Congresso).Terceiro Congresso Brasileira de Segurança e Saúdo no Trabalho - Ambientes e Condições de Trabalho. Terceiro Congresso Brasileira de Segurança e Saúdo no Trabalho - Ambientes e Condições de Trabalho. 2002. (Congresso). Globalização e Direito do Trabalho.VIII Workshop. 2002. (Oficina). Segundo Congresso Brasileiro de Segurança e Saúde no Trabalho - Condições e Ambiente de Trabalho. Segundo Congresso Brasileiro de Segurança e Saúde no Trabalho - Condições e Ambiente de Trabalho. 2001. (Congresso).Ensino Jurídico - "Refletindo as práticas pedagógicas "Ensino Jurídico - "Refletindo as práticas pedagógicas". 2001. (Seminário). Programa de Integração Docente. Programa de Integração Docente. 2001. Seminário de Estudos do Direito. Seminário de Estudos do Direito. 2000. (Seminário). Assistência Judiciária Gratuita - Lei 1.060/50.Assistência Judiciária Gratuita. 2000. (Seminário). OAB e Ampliação do Mercado de Trabalho e Dano Moral no Direito do Trabalho.Palestras Jurídicas. 2000. (Encontro). 26ª Semana de Estudos Jurídicos. O Direito e as consequencias da Modernidade. 1995. (Encontro). 24ª Semana de Estudos Jurídicos. Direito do Trabalho. 1993. (Encontro). IDIOMAS : Espanhol e Italiano






quarta-feira, novembro 06, 2019

ELAINE REGINA CURIACOS MEYER


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de setembro de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADA: ELAINE REGINA CURIACOS MEYER

Elaine Regina Curiacos Meyer nasceu a 15 de fevereiro de 1963, em Piracicaba. Filha do Dr. Luiz Curiacos, advogado, corretor do ramo imobiliário, e Santina Pimpinatto Curiacos que tiveram dois filhos: Elaine e Luiz Eduardo. Elaine casou-se na Igreja dos Frades no dia 13 de julho de 1990, com Alfredo Carlos Meyer Júnior, economista.
Seus primeiros estudos foram feitos em qual escola?
Fiz em diversas escolas, na época mudamos diversas vezes de residência. Iniciei na Escola Nossa Senhora da Assunção, minha primeira professora foi Da. Marli, já falecida, onde permaneci por dois anos, depois fui para o Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes, lá estudei por um ano, a seguir fui estudar no Colégio Dr. Jorge Coury, onde terminei o ginásio. A seguir fiz o curso colegial no Colégio Piracicabano. Fiz curso de datilografia no CESAC- Centro Social Assistência Cultura Paróquia São José, eu datilografava profissionalmente, fazia meus “bicos”, sempre tinha alguma atividade que gerava algum dinheiro para minhas despesas pessoais. Acho que devido a minha ascendência árabe. No Colégio Piracicabano concluí o Curso Técnico de Patologia Clínica. Na época eu queria muito estudar no Colégio Piracicabano, ter uma profissão, eu sempre quis trabalhar, me sentir produtiva, sou assim até hoje. Na época eu não escolhi muito bem o curso. Sempre tive a vocação para trabalhar com a saúde. Na época os cursos existentes lá eram eletrônica, computação ou patologia clínica. Nunca trabalhei nessa área. Acabei tendo dificuldades no vestibular, o curso técnico deixa muito a desejar em determinadas matérias. Fiz o cursinho preparatório junto com o curso técnico. Prestei vestibular e fui aprovada para cursar Fisioterapia na Unesp em São Carlos e na Unimep em Piracicaba.  Há 30 anos, era uma matéria nova, pouco conhecida. Eu tinha 17 anos. Na época em que eu estava fazendo o cursinho a minha avó materna, Virginia, ficou doente, eu ficava com ela no hospital. Lá vinha uma fisioterapeuta realizar seu trabalho com a minha avó. Eu ficava encantada com o que ela fazia. Achava lindo o seu trabalho. Meu pai tinha muita dificuldade em deixar os filhos voarem! Com isso acabei ficando na Unimep. Hoje a minha filha mora em São Paulo e faço questão que ela voe, acredito que cresce muito quando mora sozinho.
Quantos filhos vocês têm?
 Temos uma filha só, a Maria Carolina, está com 20 anos. Eu acabei ficando na Unimep, que tem um curso excelente, depois fui descobrir que em nível de estágio é o melhor que existe. Você já sai trabalhando. Me formei em 1984. Na época o curso era integral de três anos. De manhã, a tarde e à noite ficávamos estudando no laboratório. Já no primeiro ano em que entrei fui estagiar no que era o maior centro de fisioterapia na época, existe até hoje. A proprietária, disse-me, que estágio era só a partir do segundo ano. Minha resposta foi: “Eu aprendo! Eu faço!”. Fui várias vezes até lá, até que ela me aceitou. A princípio tinha duas macas, o coordenador disse: “Vou trabalhar com este paciente e você vai vendo para ir aprendendo!”. Me ensinou a trabalhar com os aparelhos. Eu sempre acreditei muito no poder das mãos. Existia um protocolo de atendimento que eu fugia dele. Colocava o pessoal no box e começava a trabalhar com massagem. Era um procedimento mais intuitivo, eu não tinha tido essa disciplina ainda. Só que resolvia! As pessoas melhoravam bastante. Porém demorava muito o procedimento. Fui entendendo qual era o meu caminho, eu tinha resultados naquela massagem. Tinha muita vontade de que o paciente ficasse bem. Estudava bastante, sempre fui uma pessoa que estudei. Eu não estava alienada, estava fazendo a coisa certa mas sem capacidade técnica total. Todos os anos de faculdade eu fiquei lá fazendo estágio, quando terminou o meu curso, a proprietária me deu férias, em seguida me chamou, e em janeiro me disse que eu iria trabalhar como contratada. Agradeci muito, mas não aceitei. Eu não queria continuar fazendo a fisioterapia clássica. Queria outro caminho para mim. Sempre fui muito assim: tenho um propósito, eu acredito, eu vou, minhas intuições costumam funcionar. Não faço nada que a minha intuição indica para não fazer.
Você é religiosa?
Sou católica, sou espiritualista. Durante 10 anos conheci todas as religiões e seitas que você possa imaginar. Acabei voltando para a católica porque descobri que pessoas são pessoas. Em todos os lugares tem briga pelo poder, a força do ego está presente em todos os lugares. Voltei para a religião em que fui formada. Acredito em um Deus único.
A seu ver o ser humano é formado por energia?
Tudo é energia! Esse momento em que estamos aqui, agora, é energia! É o encontro de almas. Não estamos aqui ao acaso. Você tem a sua missão, eu tenho a minha. Dentro da missão de cada um, houve uma conexão. Acredito muito nisso. Tudo tem um porque, para que. Trabalho com pessoas de todas as religiões há mais de 30 anos, aprendo muito. Aprendi na minha vida a não ter intermediário: conecto-me com Deus, Ele fala comigo, falo com Ele. Frequento a igreja católica. Por muitos e muitos anos fui uma filha rebelde com Deus: eu posso, eu consigo, eu vou sozinha! Até que chega momentos da vida em Ele vê a sua situação de cem por cento impotente! Tempestades que chegam em nossa vida com a intensidade necessária à cada um para descobrir que sem a fé em Deus é impossível prosseguir. Acreditar em Deus é sentir a sua presença, e não um Deus distante. Desenvolver a espiritualidade. Há a presença de Deus que depende só de mim; a que depende do outro e a que depende de Deus e das circunstâncias, que nada posso fazer. Isso significa que somos impotentes em dois terços da vida. Percebi isso quando descobri que o um terço que era a minha parte eu não estava fazendo!
Há pessoas egocêntricas, julgam-se o centro do mundo e há pessoas que vivem para todos menos para si mesmo, qual é a sua opinião?
Dizemos que existem três tipos de pessoas: 1-) Aquela só ligada no EU; 2-) A pessoa altruísta que é o OUTRO; 3-) E o terceiro que é o Helicóptero! Só flutua por cima, mas não está presente. Há situações em que o profissional não pode demonstrar seus sentimentos imediatos. Ele não pode se envolver emocionalmente. Há também pessoas que não se envolvem com nada. Há casos em que a pessoa chega a extremos, ela quer a sua segurança e conforto pessoal, as vezes nem mesmo os filhos importam. São extremos. A meu ver o que precisamos é passear pelos três tipos de vez em quando. As vezes temos tendências a sermos um único tipo.
O egocentrismo é uma doença?
Necessariamente não é preciso ser considerada uma doença. Há sim falta de equilíbrio! Há pessoas que buscam o equilíbrio e ficam bem, outras são patológicas. Existem pessoas que tem uma patologia e outras que necessitam de orientação. O mais comum é acharem que não precisam de nada disso. Simplesmente não admitem, não aceitam.
Você saiu do local onde trabalhava como estagiária, já formada foi trabalhar aonde?
Sempre gostei de desafios. Surgiu uma oportunidade de trabalhar com uma amiga e precisava que eu trabalhasse meio período, era um trabalho em uma academia. Descobri um curso em São Paulo, pegava o último ônibus para Piracicaba, as 11:00 da noite. Eram aulas com o Professor Sardá, um argentino, na área de estética para mulheres, há 30 anos não havia as clínicas estéticas que existem hoje. Logo montei a minha primeira clínica junto com essa minha amiga. Foi a primeira clínica de estética da cidade a Pesos e Medidas. Essa clínica existe até hoje com a minha amiga. Funcionava em uma casa na Rua Ipiranga entre a Rua Governador Pedro de Toledo e a Rua Benjamin Constant. Com o tempo percebi que aquilo não me realizava, e eu não gosto de fazer só pelo dinheiro, tenho que me sentir bem. Fiz algumas “loucuras” em deixar lugares onde estava com um ótimo retorno financeiro. E não me arrependo. Sempre precisei do dinheiro, mas nunca o coloquei acima da minha realização. A clínica pelo fato de ser a primeira da cidade, ia muito bem, com atendimento individualizado, voltada às mulheres com bom padrão aquisitivo. Na época eu já fazia medicina chinesa, cursos, sempre dava um toque diferenciado no trabalho. Após dois anos, a minha supervisora da área de postura na Unimep, conversou comigo, estava deixando a cidade, e como eu tinha sido uma das suas melhores alunas, ela disse-me “Você montou a área de gestante, acho que você deve ficar com a área”. Para mim foi uma surpresa, eu nunca havia planejado isso. Ela deu-me sete livros para estudar, eu tinha uma semana para fazer isso. Foi uma semana em que saia do quarto só para tomar banho e me alimentar. Estudei. O tema que eu tinha estudado foi escolhido, fui muito bem. Tinha um concorrente que apareceu de outra universidade, com mais bagagem acadêmica, teoricamente eu teria perdido a vaga, mas fui assim mesmo para a entrevista, quando anunciaram a desistência do concorrente e a minha efetivação. Fiquei na Unimep por 10 anos como supervisora de estágios. Corresponde a professor só que supervisionando os estágios dos alunos do último ano. Eu também era professora. Entrei pela primeira vez como professora em uma sala de aula com 22 anos em uma sala com 87 alunos! Foi a minha primeira experiência em liderança! No início acharam que era trote, eu era alguma aluna! Tive que conquistar o respeito deles. Isso me deu segurança para poder avançar. O Reitor era Almir Maia. Eu tenho uma inquietação, quando cai na zona de conforto perde a graça. Depois de sete anos estava caindo na mesmice, nesse período fiz muitos cursos, uma média de um curso por mês. Passei a ter um bom padrão financeiro, casei. Eu sempre gostei muito de estudar. Pagava os meus cursos. Ia à São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba. Naquela época não tinha mestrado em fisioterapia, comecei a fazer em fisiologia na Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Unicamp. Passei a ser chefe dos meus antigos professores e colegas. Foi a minha segunda liderança desafiadora. Para eles eu era uma menina, eles tinham 40, 50 anos. Fiquei nesse cargo por dois anos. Eu ganhava muito bem. Mas não estava satisfeita. Pedi para sair.
E o que você decidiu fazer?
Montei meu consultório de fisioterapia de coluna. Aluguei uma casa na Rua Alferes José Caetano entre a Rua Ipiranga e Rua Riachuelo. Contratei uma secretária. Comecei a lotar a agenda desde o começo. Este mês me aposentei. Venho fazendo coaching (uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e profissional) já há três anos.
Como começou a sua paixão pelo coaching?
Na verdade, há uns 15 anos eu tive um paciente que estava com muita dor no ombro, era diretor de uma grande empresa, ele veio ao meu consultório por indicação. Em uma sessão ele saiu 80% melhor, na segunda sessão já sumiu a dor. Ele ficou encantado, já por dois anos tinha feito diversos tratamentos. Conversávamos bastante, ele viu que eu tinha um conhecimento que era extra terapia, disse que queria que eu fosse dar umas palestras para os seus funcionários. Ele tinha 98 funcionários, hoje tem mais de 1.000. Na empresa dele comecei a ver outras necessidades, oportunidades. Fiz uma especialização e virei consultora em ergonomia. Aumenta muito a produtividade. Comecei também a trabalhar o emocional das pessoas. Como ele é um empresário influente acabou me indicando para seus amigos. De repente montei uma empresa de ergonomia, fisioterapia preventiva. Fiz esse trabalho por 10 anos nas empresas como consultora, em paralelo com o consultório. Tive nove funcionários que trabalhavam para mim, nas empresas. Tive uma grande funcionária que teve uma doença grave e faleceu. Decidi continuar apenas com o consultório e dando palestras nas empresas. 
Atualmente sua atividade é dar palestras e coaching?
Na realidade são ferramentas para potencializar o que o outro tem de melhor, divide-se em três fases: a primeira é o autoconhecimento; reconhecimento e mudança de crenças; missão, visão, valores e metas. Pode ser feito individualmente ou coletivo. Hoje a maioria das empresas tem líderes que não estão preparados para serem líderes. Líder tem que ser educador, servidor. É aquele que ajuda o outro. Trabalho com o líder o seu desenvolvimento pessoal para ele exercer sobre os liderados. As vezes trabalho até com os liderados também. Já dei palestras até para 1.500 pessoas. Vou até a empresa, faço o levantamento das necessidades da empresa e a partir disso crio um projeto.
Você vai moldar um projeto para cada necessidade?
Exato. Até porque para trabalhar com pessoas não existe um padrão. É conhecer a individualidade de cada um.
Quanto tempo dura uma palestra sua?
Em média duas horas. Quando eu trabalhava com a coluna, percebi que somos emoções, aprendi a lidar com isso. Fui buscar psicologia, fiz cursos, para ajudar a pessoa de forma mais integral. As vezes vou trabalhar em uma empresa, percebo que além do meu trabalho a empresa precisa desenvolver processos, ou a área de vendas. Hoje tenho dois parceiros que trabalham comigo. O ser humano é o maior tesouro da empresa, se ele não for cuidado a empresa não evolui. A maioria dos responsáveis pela empresa não tem essa consciência. As vezes dentro da empresa há muito conflito, muita intriga, muito ego. Problemas de relacionamento. Isso é do ser humano em geral. Quando entro na empresa vou ajudando com a inteligência emocional, técnicas de neurolinguísticas. Trabalho em empresas fora de Piracicaba: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Ribeirão Preto. Já trabalhei para o Grupo Siemens, Gatti, entre outras empresas de grande porte. Hoje estou focada em empresas, e não tanto em palestras abertas ao público. Também tenho a minha cota de contribuição social, com palestras à instituições filantrópicas. Em empresas faço o perfil comportamental dos líderes. Avaliar o perfil da pessoa.
O investimento que a empresa faz é alto?
Pelo retorno que ela tem não é.
Uma das suas qualidades é seguir o seu desejo de realização pessoal em tempos em que as pessoas se escravizam pelo dinheiro.
O interessante é que sempre precisei de dinheiro, não tive herança, nem vida tranquila sem ter que prover o lar. Mas sempre acreditei muito no meu propósito de vida. Temos que trabalhar com um propósito. Tudo tem um significado. Se eu trabalhar só para pagar as minhas contas no final do mês vai ser muito chato! Vou entrar em uma zona de conforto e vou ser infeliz. Passar de criatura para criador é entender que você é protagonista da sua história. Se não está bom, faça alguma coisa para mudar.

quinta-feira, março 07, 2019

AMÉRICO SIDNEI RISSATO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 09 de março de 2019
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 


ENTREVISTADO: AMÉRICO SIDNEI RISSATO

Dr. Américo Sidnei Rissato é o Delegado Seccional de Polícia de Piracicaba De uma simplicidade admirável apesar do cargo importante que ocupa. Os comentários de moradores de cidades onde anteriormente foi delegado de polícia, o elogiam pela sua competência, têm admiração pelo seu profissionalismo e quase todos os que postam mensagens pedem a Deus que o abençoe. Sua porta permanece sempre aberta para àqueles que necessitam falar com ele, sem que isso deteriore a ordem e paz do ambiente.
O senhor é natural de Piracicaba?
Nasci em Mogi Mirim a 17 de abril de 1958. (Quem nasce na cidade de Moji Mirim é chamado de Mogi-Miriano). Sou filho de João Rissato e Carmem Roman Rissato, minha mãe nasceu na Espanha, tenho parentes em Málaga. O meu pai serviu o Exército no tempo em que havia a Cavalaria Montada, em Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, seguiu[U1]  carreira no Exército. Deixou o Exército e entrou para a Força Pública, hoje denominada Polícia Militar. Depois trabalhou na segurança privada, terminou a carreira dele na Alpargatas de Mogi Mirim, onde foi chefe de segurança. Eles tiveram seis filhos: Sonia, Américo, João Luiz, Sandra, Rosangela, João Henrique. Todos com formação superior em diversas áreas. Meu pai está com 87 anos e minha mãe com 82 anos.
Seus estudos iniciaram em Mogi Mirim?

Estudei o curso primário no Grupo Escolar “Coronel Venâncio” o segundo grau estudei na Escola Estadual "Monsenhor Nora". Mogi Mirim é reduto de grandes juristas. Tive a honra de ter estudado com muitos juristas importantes. Depois passei a trabalhar durante o dia na Champion Papel Celulose e estudei em Espirito Santo do Pinhal. Foi com muita dificuldade. Entrava na Champion às sete e meia da manhã, tinha que pegar o ônibus às seis horas da manhã, saía do trabalho às seis horas da tarde, ia para casa em Mogi Mirim, chegava as sete horas da noite, pegava outro ônibus as sete e dez, sete e quinze. Se tomasse banho não jantava, se jantasse não dava tempo de tomar banho. Ia para a faculdade, voltava da faculdade a uma hora da manhã. No dia seguinte era o mesmo procedimento. Saí da faculdade com 23 anos. Foi uma época muito difícil, não tinha dinheiro para ir para a cantina comer alguma coisa.

E livros, como o senhor fazia?
Emprestava na biblioteca, dos amigos.
Naquela época não existia internet!
Fato pelo qual não me tornou uma vítima, graças a isso hoje dou mais valor a certas coisas. A dificuldade para conseguir só serviu para valorizar cada conquista. Tinha que trabalhar para pagar os estudos.
Após formar-se em Direito, qual foi o próximo passo?

Em 1983 comecei a fazer o estágio da OAB Ordem dos Advogados do Brasil Tinha que fazer dois anos de estágio, no meu caso era não remunerado. Em 1984 fiz o exame da OAB. Isso significava que aos finais de semana tinha que ir à faculdade ou à uma faculdade que a OAB tinha um convênio, lá tinha que fazer as provas, as peças, também tinha dias alternados que tinha que ir ao fórum. Acompanhar audiências. Ir até a Delegacia de Polícia, plantões. Flagrantes. Existia uma carteirinha azul, onde assinavam, o juiz, o promotor, o delegado, eles assinavam atestando o comparecimento, carimbavam, aquilo valia ponto para a OAB. Feito isso, quando saía da faculdade, prestava um exame da Ordem e já saía ou não, com a sua carteira definitiva, aquela vermelhinha. Em 1984 saí da faculdade. Fui advogar por quase dois anos. Atuei nas áreas criminal e cível. O meu sonho era ser Delegado de Polícia.

O que levou o senhor a ter esse sonho?

Acho que tive influência do meu pai. Ele gostava muito dessa área. Da maneira austera, da forma de ele ser. Eu admirava muito a profissão de Delegado de Polícia. Também admirava muito alguns delegados de polícia que passaram por Mogi Mirim: Nestor Sampaio, foi um nome que marcou muito. Dr. Cyro Vidal Soares da Silva. Alcides Carmona. Dr. Miranda. Muitos nem sabem que eu me espelhei neles. Eu achava que o Delegado de Polícia tinha um papel muito importante na sociedade, um poder de decisão rápido. Era uma autoridade que estava a todo momento, a todo instante a disposição da população atendia o povo e decidia de imediato. E suas decisões eram eficazes. Decisões que se materializavam imediatamente. 
O senhor decidiu fazer o concurso?
Passei no concurso para Delegado de Polícia. Estudei muito para passar nesse concurso, tal era a minha vontade, me inscrevi em 1985 passei no concurso em 1986. Fui para a Academia de Polícia `Dr. Coriolano Nogueira Cobra´ Polícia Civil do Estado de São Paulo, na Cidade Universitária onde fiquei por seis meses, morando na Academia, muitos colegas tinham condições de pagar para ficar em algum lugar, eu fiquei no dormitório da Academia, no porão da mesma. Quando eu estava fazendo a faculdade comprei um Chevette bege, ano 1975, tive que vender o Chevette para poder me manter durante o curso. Comia ali no restaurante da USP. Muitos finais de semana nem retornava para casa para não ter despesas. O aprendizado foi muito importante, os colegas e professores permanecem em nossa memória. O homem muitas vezes ainda não tem consciência de que ele está de passagem nessa vida, onde ele passa deixa o seu rastro, bom ou ruim. Deixa seu histórico de vida, seu histórico profissional. Muita gente não pensa nisso, vai tocando, da maneira que vier, vai.
O senhor é religioso?
Sou! Procuro estar sempre junto a verdade, participei de grupos de orações, da renovação carismática, estou sempre procurando a verdade onde ela existir. Eu acho que cada ser tem um mundo dentro de si. Cada ser é especial, tem o mundo dele, a visão dele.
O senhor ocupa um cargo extremamente importante em Piracicaba, que é uma cidade bem cotada no País.
Muito bem cotada! É uma cidade grande não só no tamanho, mas grande em tudo. Nas obras, nos homens, que labutam, trabalham, admiro muito a administração desta cidade, não estou me referindo à política, estou me referindo a administração como um todo. A união perfeita do Prefeito, Ministério Público, com as outras instituições da segurança pública como a Guarda Municipal, Polícia Militar, organização que tem na Associação Comercial, onde estive por várias vezes, convidado para debater diversos assuntos. A organização que tem a Câmara Municipal, o trabalho constante de vereadores.
O senhor assumiu a Delegacia Seccional quando?
Faz pouco tempo que estou aqui, cheguei dia 12 de julho de 2018. Aos sessenta anos de idade, já dá para saber de onde vem a verdade e onde há um engodo. Os vereadores falam o que o coração sente, dá para perceber. Falam com muito orgulho desta cidade.
Até chegar a posição que o senhor ocupa, há uma sequência natural na carreira. A primeira cidade em que o senhor exerceu a profissão como delegado foi onde?
Comecei como plantonista no Primeiro Distrito de Campinas. Naquela época não existia a DDM - Delegacia de Defesa da Mulher, comecei no Setor de Atendimento da Mulher, isso em 1987, depois fui chamado para trabalhar como Delegado Titular da Primeira Delegacia de Polícia de Euclides da Cunha Paulista, na divisa de Mato Grosso do Sul e Paraná. Região de Presidente Prudente, respondia para a Seccional de Presidente Wenceslau. Onde teve a invasão de terras, onde estava o Bosanela, o Rainha, era uma época violenta, lá era distrito, o município era Teodoro Sampaio, que tinha também o distrito de Rosana, onde ficava o Porto Primavera. Eu ia para Rosana, um colega que entrou na polícia na mesma época, João Batista Reinaldo, natural de Dois Córregos, ele pediu para trocar comigo, ele queria ir para Rosana, onde tinha mais conhecimento da área, ali ele pode ficar em uma cidade que existia para os funcionários da Usina Hidrelétrica de Rosana. Eu fiquei em Euclides da Cunha Paulista, ali não se conhecia asfalto e nem casa de alvenaria. Na época era uma cidade do risca-faca! Era violento, com invasão de terras, na época eu era ainda solteiro. Fiquei, passei dois natais e passagens de ano sozinho. Ficava a 840 quilômetros de Mogi Mirim, era muito longe. Quando vinha, vinha de carro. Muitas vezes vinha de ônibus, ficava mais barato, vinha pela Viação Andorinha! Ia até Presidente Prudente, depois ia pegando vários ônibus em cada trecho. Levava muito tempo para chegar. Naquele lugar não havia telefone automático, você discava e pedia para a telefonista completar a ligação.
E quando precisava de alguma informação?
Havia o aparelho de telex que ficava em Teodoro Sampaio, distante 60 quilômetros! Nem a delegacia tinha! Cheguei lá com a missão de montar a delegacia. Montei a Delegacia de Polícia em um imóvel alugado pela prefeitura de Teodoro Sampaio, a cadeia era de madeira! No mesmo prédio trabalhava a Polícia Militar. Trabalhávamos juntos.
Tinha crimes violentos ou eram mais desentendimentos?

Os crimes mais violentos eram homicídios. Ocorriam muitos homicídios. Qualquer coisa já era motivo para dar desentendimentos, briga de jogo de palitinho, o sujeito ia até a delegacia para dizer que iria matar fulano. Ou diziam: “Ele colocou um apelido em mim”, ou “Tá mexendo com a minha companheira. “-Vou matar esse cara!”. No início eu não acreditava, depois vi que matavam mesmo! Não adiantava interferir, fazer inquérito sobre ameaça, não adiantava nada, eles estavam decididos a matar e matavam. Não tinha jeito. Diziam: “Onde mandarem esse caboclo, onde tiver terra vai virar lama, onde tiver lama, vai virar terra. Mas que eu vou meter a peixeira nele, eu vou!”. Decidiam tudo na faca. Era difícil atender uma ocorrência dessas, todos estavam bem esquartejados. A identificação era relativamente fácil, ou vinham de Terra Rica, que era divisa ali, ou de Angélica, Mato Grosso do Sul. Isso no tempo do radialista e apresentador na televisão de Curitiba, de um programa que abordava temas polêmicos, notícias policiais, Luiz Carlos Alborghetti, era muito famoso na época, estava sempre com uma toalha no pescoço, o Ratinho era repórter de campo. O Alborghetti era escandaloso ao extremo. Ali as estações de rádio e televisão eram sintonizadas pelo sinal do Paraná. Para atravessar para o Estado do Paraná tinha o Rio Paranapanema, atravessava de balsa. A mesma coisa para atravessar para o Estado do Mato Grosso do Sul.

Os crimes tinham mais algum motivo para serem cometidos?
As invasões de terra, os “campeiros” como eram chamados aqueles que protegiam as fazendas, e os invasores de terra. Os campeiros seguravam aquilo na peixeira, andavam a cavalo, alguns de jipe, caminhonete, as coisas eram resolvidas na bala ou na peixeira. Tinha também a área do baixo meretrício, que por incrível que pareça era a área mais respeitada!
E coronéis ainda tinha?
Tinha! Nossa! Eles costumavam oferecer para a polícia auxiliares, só que já sabíamos que esses auxiliares eram para legitimar algum ato deles. Permaneci lá por volta de dois anos, e sem falsa modéstia fiz um bom trabalho. Na época foi reconhecido pelo Delegado Geral de Polícia. Ele me promoveu e ofereceu o Primeiro Distrito de Mogi Mirim. Cidade dos meus pais. Só que na realidade eu não tinha como dizer para ele que eu não queria trabalhar na cidade onde nasci e fui criado. Como não tinha como dizer não para ele, fui para lá e por lá fiquei por nove meses. Ai vagou a Delegacia de Polícia de Artur Nogueira, eu já conhecia de passagem, inclusive quando era mais jovem, pensava: “Quando for delegado de polícia, vou ser delegado aqui!”. Após nove meses, o Delegado Seccional me chamou, estava havendo problemas em Artur Nogueira, que deveriam ser sanados. Em cidades menores é muito comum autoridades constituídas não obedecerem uma área de atuação bem delimitada pela própria Constituição Federal. O Seccional perguntou se eu aceitava, disse que sim, fui ser o Delegado Titular de Artur Nogueira. Lá eu conheci a minha esposa, lá me casei com Simone Sia. Nasceu o meu primeiro filho, Lucas Sia Rissato, que é o segundo vereador mais bem votado de Artur Nogueira. Ele elegeu-se com 25 anos. Ele só veio me comunicar que tinha sido eleito. Sempre fui muito democrático, embora delegado de polícia, e alguns acham que delegado de polícia é truculento, a maioria dos delegados que conheço são bem democráticos. Procuram garantir os direitos das pessoas, e isso começa em casa!
Quanto tempo o senhor permaneceu em Artur Nogueira?

Fiquei ali por cerca de 10 anos, fui trabalhar em Americana como assistente do Delegado de Polícia Dr. Paulo Roberto Rodrigues Jodas. Trabalhei com ele, foi um dos melhores Delegados de Polícia que conheci também. Um homem muito sério, muito competente. Dali fui ser Delegado Titular de Cosmópolis, após algum tempo fui ser titular em Sumaré. Fiquei um ano em Sumaré, aí fui fazer o Curso Superior de Polícia Integrado. Fiquei um ano, foi em 2013. Logo em seguida fui indicado para a Classe Especial, Delegados Classe Especial são poucos. O curso CSP indica que você está preparado para ser um delegado da Classe Especial, mas não significa que deverá ser. Tem que haver indicação de dentro da Instituição, alguém que reconheça o seu trabalho. O Conselho se reúne, vota. Acabei sendo promovido à Classe Especial, que é a última classe. Poucos chegam a Classe Especial, deve ter 160 delegados que pertencem a Classe Especial em um universo de 4.000 delegados.

Após terminar o curso o senhor assumiu qual delegacia?
Voltei para Sumaré onde fiquei um mês e novamente fui chamado para ser assistente da Delegacia de Americana. Eu queria dar um pouco mais de mim para a minha instituição, queria assumir uma seccional. Mudar a maneira de administrar, tentar montar uma nova dinâmica de administração em uma seccional. Depois em um departamento, como diretor, tentar mudar alguma coisa, meu sonho sempre foi esse. Eu tenho a certeza de que estou fazendo o melhor de mim aqui em Piracicaba, minha porta sempre aberta, um atendimento aos colegas muito cordial, tenho que atender os colegas muitíssimo bem. Qualquer instituição em que não exista respeito entre seus membros, ela é fadada ao insucesso. Temos que sermos unidos. Se não temos tantas condições de trabalho isso não depende de nós, a nossa união depende de nós. Esse processo por ser inovador, nem sempre é entendido por todos de plano. É característico de cada ser humano. Uns absorvem rapidamente, conhecem imediatamente o grau de autonomia e o limite. As lamentações intermináveis acaba criando um ambiente altamente contagiante e negativo. Você tem que fazer alguma coisa para melhorar o ambiente em que você está, com aquilo que dispõe no momento. Lamentações só destroem qualquer iniciativa que existe e pode melhorar o ambiente, obter resultados positivos.
Qual foi o seu próximo passo na carreira profissional?
Fui para São Paulo. Sempre gostei muito da parte de inteligência. Me chamaram em São Paulo, comecei a trabalhar com aplicativos de inteligência de computador, celular, isso chamou a atenção, de que eu entendia a respeito. Não era uma parte que eu estava procurando, na verdade eu queria ser seccional mesmo! Fui chamado como Divisionário
da Assistência Policial do Dipol - Departamento de Inteligência da Polícia Civil de São Paulo. Um cargo importantíssimo. Permaneci lá de 11 de janeiro de 2014 até setembro de 2015. Meu pai não estava bem, pedi para retornar para o interior. Fui trabalhar de novo como assistente da Delegacia Seccional de Americana. Já tinha desistido do meu sonho de assumir uma seccional no interior, aposentar-me como seccional e fazer alguma coisa que eu achava que podia fazer melhor. Pedi as minhas licenças que deixei para tirar em outro momento oportuno, para aposentar-me. Em junho de 2018 estive com o Dr. Paulo Bicudo, que era Diretor aqui, tive uma conversa com ele, disse da minha intenção de aposentar-me, como delegado da região, gostaria de encerrar a minha carreira aqui, mostrar que eu consigo administrar uma seccional. Ele disse-me: “Você chegou a ser Divisionário de um Departamento como o Dipol Departamento de Inteligência, departamento tão importante!”. Disse-lhe que eu gostaria de fazer alguma coisa pela minha região, se não fosse bem na minha região que fosse no interior do Estado. Sou do interior e tenho muito orgulho de ser do interior. Sou caipira do interior, gosto do interior, quero fazer algo pelo meu interior. Entrei com o meu pedido de aposentadoria, fui para casa tirar as minhas licenças. Nesse interim Dr. Paulo Bicudo foi chamado para ser Delegado Geral. Ele levou o Delegado Seccional junto, para trabalhar com ele, Dr. Glauco Roberto Rufino. Um belo dia DrPaulo Afonso Bicudo me chamou. Disse-me: “Retire seu pedido de aposentadoria e assuma a Seccional de Piracicaba! Você vai me ajudar muito, eu gosto muito de Piracicaba”. E aqui estou eu! No começo do ano chegou o DrKleber Antonio Torquato Altale.
Dr. Américo, há uma corrente de pensamento que afirma que o problema criminal é decorrência do problema social. Qual deles temos que resolver primeiro?
O ser humano é um ser eminentemente social. Ele não consegue viver fora do meio em que ele nasce, vive, é criado. Não consegue viver fora da disputa, da contenda. Onde está o ser humano, está o problema. As instituições funcionam muito bem se não tiver a interferência do ser humano, de forma negativa. Todas instituições são perfeitas, embora criadas por seres humanos são perfeitas.
O que podemos melhorar no Brasil?
A meu ver o que falta no Brasil é o amor à Pátria, amor ao Brasil. Se todo aquele que assumisse um cargo público, seja ele eletivo ou através de concurso, que ele assumisse e fizesse aquilo como se fosse uma empresa dele. Como aquilo fosse dele. Tratasse do público dele como ele gostaria de ser tratado. A política da enganação não teria mais espaço. A política do “esperto” não teria mais espaço!” O povo por mais inculto que ele seja, o povo não é bobo! Embora nossa democracia seja um pouco nova, o povo está percebendo a enganação! É incrível como eles tem o poder de se reinventar, esses políticos se reinventam, conseguem aperfeiçoar as práticas de enganar o povo. Quando o povo começa a perceber eles mudam a prática! Se aperfeiçoam! Tenho notado que o povo está muito “vacinado”! Mas ainda caem em muitas armadilhas! O brasileiro criou a cultura da Lei de Gerson: Levar vantagem em tudo! A qualquer custo, de qualquer maneira. O que está faltando ao nosso país é mais amor. Amor ao próximo. Amor à Pátria. Amor à bandeira. Amor ao que é seu! Está faltando mais amor! Infelizmente o brasileiro vai atrás da vantagem pela vantagem! Isso vemos até nas conversas mais corriqueiras, como em futebol por exemplo. O torcedor de um time afirma que o time do outro ganhou porque o árbitro favoreceu o time vencedor, o gol foi marcado com a bola batendo na mão do jogador. O torcedor do time vencedor alega que o jogador é “experto”! O gol foi com a mão, mas valeu! O juiz não viu, é nosso o gol! Falta ética como um todo. Alguns tem plano de saúde, não importa como ele quer usar! Por sua vez, alguns exames caros e desnecessários são cobertos por esse plano, que no final tem o custo diluído entre os associados encarecendo-os. É incrível, o usuário por ter um plano de saúde acha que deve usufruir ao máximo, mesmo que seja algo sem relevância médica. Os que faltam ao trabalho e “cavam” um atestado médico. O brasileiro está tentando levar vantagem em tudo e todo mundo tentando levar vantagem em tudo alguém fica na desvantagem! Com isso, o que está acontecendo é que todos estão em desvantagem! O camarada tem um discurso mas as atitudes dele é contra seu próprio discurso!
O senhor vê alguma perspectiva positiva pela frente?
Acho que nós temos que nos reinventarmos, não só na política, mas como Nação! Alguém tem que ter mais amor pela pátria. É muito cedo ainda para dizer alguma coisa, espero que até julho o país entre nos trilhos. Tem que haver mudança de hábitos.
O delegado tem aposentadoria compulsória?
Tem, aos 75 anos. O que eu acho um erro! Você não dá chance para quem está chegando! Simplesmente você abarrota a instituição. Não existe aquela oxigenação natural que deve existir em toda instituição. Se você chegar a qualquer empresa, onde a maioria da diretoria é composta por pessoas acima de 65 a 70 anos e os jovens vão chegar lá com que idade? Não estou afirmando que a velhice seja retrógrada, mas ela tem um limite. Tudo tem o seu tempo. Por mais que eu queira fazer hoje com 60 anos de idade não sou o mesmo que era com 25 anos. Como Delegado de Polícia aos 25 anos de idade eu tinha pouca experiência mas tinha um “gás” tremendo! Dormia muito pouco, trabalhava com muita intensidade. Hoje sou mais cauteloso. Não posso errar. Até mesmo quando dirijo percebo que sou mais lento. Por que sou mais lento? Porque estou mais velho e a velhice deixa mais lento? Não! Sou mais lento porque sou mais cauteloso, antigamente eu dirigindo, saía para ultrapassar olhava só uma vez no retrovisor. Hoje olho uma vez, olho duas vezes para ultrapassar!  Com isso perco alguns segundos, mas faço uma manobra com absoluta certeza. Essa experiência é uma vantagem. Sou da opinião que deveria existir uma espécie de Conselho da Polícia Civil, com conselheiros aposentados, para ajudar, transmitir as experiências, formatar novas diretrizes. Por muitos caminhos que os jovens estão passando hoje, nós já passamos.
A Delegacia Seccional de Piracicaba abrange quantas cidades?
Abrange 11 cidades: Piracicaba; São Pedro; Águas de São Pedro; Charqueada; Santa Maria da Serra; Capivari; Elias Fausto; Mombuca; Rafard; Rio das Pedras e Saltinho.
Diminuiu a criminalidade na nossa região?
Diminuiu! E tem diminuído! Procuramos identificar qual tipo de crime ou delito que ocorre em cada região. Hoje eles fazem clínica geral. Antigamente era mais setorizado, onde havia mais receptadores, locais onde havia mais ladrões. Antigamente Piracicaba era comparada a Sumaré. Era uma região onde havia muita receptação. Piracicaba teve uma fase muito feia em termos de criminalidade. Piracicaba melhorou muito, muito mesmo.






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