domingo, agosto 02, 2020

Manuela Cibim Kallajian

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de dezembro de 2019.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADA: Manuela Cibim Kallajian

 





Manuela Cibim Kallajian é Doutora em Direito Civil Comparado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mestre em Direito Civil Comparado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Graduada em Direito pela Universidade São Francisco. Atualmente é Coordenadora do Programa de Mestrado em Direito da UNIMEP. Coordenadora do Curso de Pós-Graduação Lato sensu em Direito Civil e Direito Processual Civil da UNIMEP. Docente no Curso de Graduação em Direito da UNIMEP. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Civil e Direito Constitucional.

Manuela Cibim Kallajian, nasceu em Piracicaba a 6 de fevereiro de 1078 é filha de Lourdes Magali Cibim Kallajian e do advogado Manuel Kallajian, descendente de armênios. Manuela tem um filho, Matheus.

Os seus primeiros estudos foram feitos aonde?

O primário, fundamental e médio fiz na Escola Estadual Professor Manoel da Costa Neves "Macone" na cidade de Rio das Pedras, onde morei até os 17 anos. Minha mãe inclusive foi diretora dessa escola.

Nesse período em que a sua mão foi diretora da escola, você era aluna, como é ser filha da diretora?

Foi uma época em que o fato de ser filha da diretora significava que eu tinha que ter mais responsabilidade, convivia com os demais alunos sem qualquer diferenciação. A única coisa é que eu podia frequentar a escola fora dos períodos de aula, enquanto esperava a minha mãe que estava em alguma reunião na escola, eu brincava na quadra de esportes. Isso me dava bastante alegria porque eu sempre gostei de ficar dentro da escola.

O seu pai formou-se em qual cidade?

Quando meu pai se formou, era gerente de banco, ele trabalhou no Banco Real, Banco Francês e Brasileiro Meu pai era natural de Piracicaba, minha mãe natural de Rio das Pedras, eles se conheceram, namoraram por muitos anos, nesse período minha mãe estudou, meu pai também, formaram-se, casaram, tiveram três filhos: Gustavo, Rodrigo e eu. Meus pais moraram em São Paulo, onde o meu pai formou-se em Direito pela PUC - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ele foi transferido pelo banco para Piracicaba. Logo depois ele saiu do banco e passou a advogar a princípio em Piracicaba, em seguida estabeleceu escritório em Rio das Pedras à Rua Prudente de Moraes e depois na Ladeira José Leite de Negreiros, no prédio onde hoje funciona a Prefeitura Municipal de Rio das Pedras. Esse prédio na época, era em parte ocupado pela tradicional Padaria Cristal. Quando se instalou a Vara Distrital de Rio das Pedras, o meu pai ofereceu uma das salas dele para que fosse gabinete da juíza, eles tinham alugado salas, mas não havia espaço para todos, assim meu pai cedeu uma das suas salas para o gabinete do juiz ou juíza, não me recordo no momento. Por um bom tempo a Vara Distrital funcionou naquele prédio. Meu pai também permaneceu naquele prédio por um bom tempo. Ele decidiu mudar para um escritório na Rua Prudente de Moraes, sendo que logo após aposentou-se.

Você considera que o seu pai teve influência na sua opção profissional?

Embora nunca tivemos processos em comum, ou trabalhássemos em parceria, acredito que sim, mesmo porque quando ele afastou-se por razões de saúde, eu assumi alguns dos seus processos para dar continuidade. Lembro-me de que quando era criança, sentava em seu colo e ele, como é comum os pais perguntarem, ele dizia: “-O que a minha menina vai querer ser quando crescer? ”. Eu respondia: “- Quero ser juíza! ”, outros dias dizia que queria ser promotora pública. Outros dias dizia que queria ser delegada de polícia! Sempre na área jurídica! Trabalhei com meu pai quando eu era adolescente. Quando a secretária dele tirava férias eu ia até o escritório, ajudava, atendia aos telefonemas. Fazia os meus afazeres da escola dentro do escritório dele. Presenciava o entra e sai de clientes. Quando eu tinha 16 anos, lembro-me de que se instalou o fórum em frente ao escritório, lembro-me de que ele ficava bastante tempo na Vara Distrital de Rio das Pedras, Nesse período em que eu estava no escritório, gostava muito de observar a entrada e saída de juízes, promotores, advogados, as partes. Esse meio influenciou-me bastante!

O seu pai, como advogado, tinha uma área específica de atuação?

Antigamente o advogado atuava nas mais diversas áreas, meu pai sempre gostou muito da parte empresarial, ele advogou para a Painco, Caninha da Roça, Ele dava assessoria na área empresarial. Acabava fazendo muito Direito Empresarial, Direito Civil, Tributário,

Seu na área se deu como?

Com 17 anos fui estudar fora, fui morar em Bragança Paulista, onde fiz a minha faculdade na Universidade São Francisco, inicialmente fui morar em um pensionato, era administrado por pessoas religiosas, já não eram as freiras que administravam. O espaço tinha transformando-se em um pensionato de meninas. Morei ali durante um ano. Depois disso fui morar com uma colega em um flat mais próximo da Universidade.

Você ia de Rio das Pedras até Bragança Paulista de ônibus?

Até o quarto ano ia de ônibus, tinha que parar em Campinas, para depois pegar outro ônibus para Bragança Paulista. Era uma viagem e tanto! O que de carro demorava uma hora e meia, levava em torno de três horas, isso quando o ônibus não tinha saído há uns cinco minutos. Nesse caso tinha que esperar uma hora para pegar outro ônibus! A empresa que fazia a linha Piracicaba a Campinas era a AVA – Auto Viação Americana. A vida não foi fácil!

Bragança Paulista é uma cidade gostosa, tranquila, para o jovem não havia mutas opções de lazer?

Era uma cidade em que se vivia muito a universidade! Tínhamos muitos amigos que moravam lá e tinham vindo de outras cidades, lá existe a Faculdade de Medicina, de Odontologia, pessoas do Brasil todo vinham para estudar ali. Vivíamos muito a vida universitária.

Você estudou em uma época interessante, de mudanças.

Entrei na faculdade em 1996, me formei no final do ano 2000. Estudei pelo Código Civil de 1916! Em 2002 tivemos alteração da Lei. Saí da faculdade defasada, o que aconteceu com muitos dos nossos alunos com o Código de Processo Civil agora em 2015. E deve acontecer com o Código Penal!

Quando você entrou na Faculdade qual foi a sua primeira sensação?

Lembro-me de que a primeira aula que tive na Faculdade foi de Sociologia Jurídica, a professora chamava-se Iara, e tinha uma janelinha na porta. Eu entrei, aquele silêncio, primeiro semestre do primeiro ano, tinha vários alunos na sala. Entrei, sentei-me. A professora falava grego!  Sociologia Jurídica para uma menina de 17 nos era grego! Praticamente eu não estava entendo nada do que ela dizia! Tive a sensação de que estava no lugar certo e de que deveria dedicar-me muito! Naquele momento eu tive a sensação de que não era um curso fácil! Lembro-me muito bem dessa cena, isso porque os meus pais foram me levar, era o primeiro dia de aula. Eles pegaram o carro em Rio das Pedras e me levaram para Bragança. O meu, pai que também não se esquece disso, com a carinha no vidro da porta da sala de aula! Me olhando ali dentro, talvez com uma sensação de orgulho, satisfação em ver a sua caçula seguindo os passos dele. Eu dei muito trabalho no primeiro semestre. Eu chorava, não queria ficar lá! As vezes a minha mãe me deixava lá na segunda=feira pela manhã, eu chorava, para ela vir me buscar. Minha mãe sempre foi uma fortaleza, dizia: “Isso é comum, você vai ficar, é isso que você quer! Vai ser difícil no primeiro momento, faça amizades, converse com as meninas do pensionato, estude, vai passar! ”. Eu dizia: “ Quero ir embora! Não quero ficar aqui, estou sozinha! ”. Eu tinha aula até o meio-dia do sábado. Se quisesse vinha para casa, chegava praticamente as quatro horas da tarde do sábado. Para ir embora, pedia: Por favor, me levem na hora da aula porque eu quero ficar mais um pouquinho e casa.

Quanto tempo demorou para ocorrer a sua adaptação?

Isso foi no primeiro semestre, depois fiz amizades, me enturmei, senti que realmente era o que eu queria, então a coisa foi se acalmando no meu coração.

Na época a proporção entre alunos do sexo feminino e masculino era equivalente?

Naquela época, se não era igual, existiam mais mulheres!

Você foi se desenvolvendo e criando amor pela profissão?

Fiz estagio em escritório de advocacia lá, desde o segundo ano já comecei a fazer o estágio. Aprendi muita coisa de advocacia fazendo estágios. Todo aluno deve fazer estágio. O que se ensina na sala de aula tem que se encontrar com a prática, é necessário. Visualizar o que foi ensinado em um caso concreto. Faz toda a diferença! Aconselho que desde o início que se faça.

A seu ver qual é a importância da atuação do advogado na vida comunitária?

É de extrema importância! A advocacia faz parte de toda a estrutura do Estado, eu entendo assim. Não há meios de você chegar a efetividade se imaginar que nós temos a efetividade da justiça aplicada através do poder judiciário. Exceto algumas situações em que a própria parte pode ir até o Poder Judiciário sem a assistência do advogado, e são raras essas situações, não tem outra forma de você ter a prestação desse serviço do Estado se não for através do advogado, só ele é que pode fazer o seu peticionamento, ele que poderá levar o seu problema para solução junto ao Judiciário. Ele é de extrema importância, não só nisso, a aplicação da norma vai muito além daquela que recebemos do Judiciário. É importante que o advogado faça a sua parte como consultoria para tirar essa carga da lide do processo e até mesmo orientar as pessoas. Costumo a falar muito em sala de aula, os alunos quando chegam para a Universidade em nosso país, são todos privilegiados. É importante que se devolva isso à sociedade de alguma forma.

Há uma certa imagem de que em nosso país há muitos advogados. Sabemos que muitos não atuam na área. A seu ver temos a necessidade dessa quantidade de advogados ou é um curso que a pessoa faz pelos mais diversos motivos?

Acho que os Cursos de Direito todos deveriam fazer! É ali que você se instrui, conhece realmente seus Direitos e Obrigações, como essa máquina funciona.

Você é a favor de ensinar a Constituição Federal do Brasil já no curso primário?

Com certeza! Noções Básicas de Direito! Nós tínhamos antigamente uma disciplina que foi instituída na grade escolar em 1962 e suprimida em 1993, se chamava OSPB – Organização Social e Política do Brasil, trata da organização do Estado, como uma sociedade se desenvolve, os limites que existem, como se costuma dizer “O meu direito vai até onde começa o seu” isso é muito importante que se incute na cabeça das crianças, dos jovens e que eles tenham essa noção. Isso é extremamente importante.

Não interessa muito á determinadas áreas que o povo seja bem informado?

Sim, com certeza! Quanto menos informações é mais fácil manipular !

Voltando ao período em que você realizava o seu curso.

Nesse interim em que eu concluía o meu bacharelado os meus pais mudaram-se de Rio das Pedras. Foram morar em Uberlândia. Eu tinha um irmão que estudava lá, onde formou-se. Meu outro irmão tinha empresa na área de informática, montou uma filial lá, minha mãe estava aposentada, meu pai também já estava estabilizado, eles mudaram-se para Uberlândia. Quando concluí o meu curso no ano 2000, os meus pais já moravam em Uberlândia, Fui para lá. Onde permaneci por um ano e meio, além de trabalhar na administração da escola, no jurídico da escola, eu lecionava s disciplinas de legislação e direito dos cursos técnicos. Foi ai que me apaixonei pela docência. Dei inicio no curso Lato Sensu, especialização. Na Universidade Federal de Uberlândia. Era um curso com duração de um ano, Processo Civil. Fiz por seis meses e vim prestar o curso de seleção na PUC em São Paulo, Passei. Vim para São Paulo fazer o curso de mestrado na PUC.

Em São Paulo em qual local você se hospedou?

Fiquei a uma quadra e meia da PUC, em um pensionato de Irmãs, o tradicional Pensionato Santa Marcelina. O curso tinha a duração de dois anos, após seis meses de curso eu consegui uma bolsa do CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (até 1974 Conselho Nacional de Pesquisas, cuja sigla, CNPq, se manteve). Consequi prorrogar pr mais seis meses a minha defesa da minha dissertação em virtude da bolsa. Então conclui o mestrado em dois anos e meio. Nesse período eu me casei, Não podia trabalhar porque era bolsista do CNPq. Terminei o meu curso, voltei a morar em Rio das Pedras, com meu marido, tive meu filho Matheus, nascido em Piracicaba, quando o Matheus tinha 1 ano e 4 neses comecei a lecionar na UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba, na época eu tinha 27 anos.

Em qual área você ingressou na UNIMEP?

Como professora do estágio, no Juizado Especial Cívil. Foi onde fiquei até o final de 2018. Em 2018 eu era professora de Direito, mas a minha carga horária maior era no estágio. Trabalhava 25 horas semanais dando orientação de estágio no Juizado Especial Cívil, que é um convênio da UNIMEP com o Tribunal de Justiça, atendendo a população. Fiquei lá desde 2006 quando ingressei na UNIMEP até o final de 2018

Ministrava Direito Civil nas aulas teóricas e dava orientação no Juizado Especial Cívil. Também coordenava o curso de especialização da UNIMEP, de Direito Civil, Direito Processual Civil e Especialização. Por dez anos coordenei e ainda coordeno esse curso.

 O doutorado em que ano você ingressou?

Em 1916 ingressei no Curso de Doutorado. Fiz o exame de seleção e fui aprovada na PUC de São Paulo. Praticamente após 10 anos que acabei o meu mestrado fui fazer o doutorado. No final de 2018 prestei um concurso interno, na Universidade, para ser professora do mestrado. Sai da Graduação e passei a ser titular do Curso de Mestrado em Direito. Em abril de 2019 mediante portaria da Reitoria. Fui nomeada coordenadora do Curso de Mestrado. Desde abril sou professora do Curso de Mestrado, ministro aulas na graduação, sou professora do Curso de Mestrado em Direito e Coordenadora do Curso de Mestrado em Direito.”

Quantos livros você já publicou?

Na época do doutorado, junto com uma aluna, publiquei o livro: “A (IM) PENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA DO FIADOR LOCATÍCIO”. E também quatro capítulos, com um aluno do Curso de Especialização da época.

Manuela Cibim Kallajian, você está lançando um livro denominado “PRIVACIDADE, INFORMAÇÃO E LIBERDADE DE EXPRESSÃO”. O comentário especializado analisa-o da seguinte forma:

“A obra foi cuidadosamente construída ante a relevante e atual discussão acerca do conflito entre o direito à privacidade e os direitos à informação e à liberdade de expressão. O choque entre direitos da personalidade, que também são direitos funda­mentais, ganha relevância no momento da aplicação prática, já que a solução foge à simples subsunção. Neste contexto, a autora situa, inicialmente, o conflito de normas através da hermenêutica jurídica, analisando o problema das antinomias. Em seguida, examina os direitos da personalidade e estes como direitos funda­mentais. Especificamente aos direitos à privacidade, informação e à liberdade de expressão, a obra traz um estudo aprofundado sobre definição e tratamento legal, no âmbito nacional e es­trangeiro. Hipóteses comuns de conflito entre tais normas são le­vantadas através de ampla pesquisa jurisprudencial e doutrinária, objetivando verificar a maneira pela qual o conflito é solucionado atualmente. Após identificar o tipo de antinomia que atinge as normas em questão, a autora passa a solucioná-la através da her­menêutica, indicando o caminho a ser percorrido pelo intérprete para a solução do conflito entre o direito à privacidade e os direi­tos à informação e à liberdade de expressão no direito brasileiro, com vistas ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Como surgiu esse livro?

  É fruto da minha tese de doutoramento. Conclui o doutorado, minha defesa foi em março de 2018. Quando você termina uma tese de doutorado, não há condições físicas   e nem psicológicas de olhar para o trabalho, tão grande é a exaustão. No início deste ano decidi publicar. Quando se escreve uma tese, a complexidade é tão grande, que dá pena deixar isso em uma gaveta. Mesmo porque temos que publicar os frutos das nossas pesquisas. Em que pese, para fazer o Curso de Doutoramento não tive qualquer tipo de auxílio governamental.

Quem escreve o prefácio do seu livro é considerada uma das maiores autoridades em Direito, não só no Brasil como em outros países: Maria Helena Diniz.

A Professora Maria Helena Diniz, foi minha orientadora tanto na dissertação do mestrado quanto na tese de doutorado. Fui  aluna dela em ambos os cursos.

Como é trabalhar comUm patrimônio vivo do Direito”?

A Professora Maria Helena Diniz é de uma humildade ímpar, imensurável. A simplicidade dela é tão grande, que as vezes achamos que ela não imagina quem ela é, qual o seu grau de importância para o Direito. Tamanha é a simplicidade e a forma generosa como ela trata todos os seus alunos.  Quando fiz a opção de escrever sobre esse tena “Conflito de Normas” o título do trabalho sugere, a privacidade a informação, a liberdade de expressão, traz muito de hermenêutica (se ocupa da interpretação das normas) a professora Maria Helena é um ícone do Direito Civil. Tem obras lindas, incríveis sobre hermenêutica jurídica. Quando eu levantei a questão do conflito das normas, fui na minha condição de doutoranda, fui construindo a minha tese, e cheguei a uma conclusão sobre o tipo de conflito que se dava entre sses direitos e a forma de solução deles. Quando dei por mim, descobri que a minha forma de solução de conflito era totalmente contraria a posição da minha professora e orientadora, Maria Helena Diniz. Você pode imaginar um doutorando contrariando o seu orientador! Ela nunca me disse isso. Ela foi me dando orientações de material, para que eu chegasse a essa conclusão, de que o posicionamento meu era contrário ao dela. Mas jamais ela disse-me: “Você está me contrariando! Passei uma semana angustiada, preocupada, para não dizer, desesperada, sem dormir, comecei a me colocar em uma posição: “Quem sou eu? Alguma coisa está errada no meu pensamento! ” Como posso contrariar essa pessoa? Marquei uma orientação com ela, fui até São Paulo, eu estava só na fase de escrita. Ela parou tudo que estava fazendo e foi conversar comigo. Disse-lhe: “ Professora! O que que eu faço? Estou contrariando a senhora! ” Embora eu disse com palavras doces, que eu não achava que estivesse errada. Ela pegou na minha mão, olhou no fundo dos meus olhos e disse-me: “ Manuela, o trabalho é seu! [E a sua tese, é o seu pensamento. A única coisa que vou observar é se você está fundamentando o seu pensamento. A tse é da Manuela não é da Maria Helena! Você escreva o que você quiser, da forma que você quiser. Vou obviamente observar se você está fundamentando o seu pensamento. Desde que você tenha condições de enfrentar uma banca de defesa de tese você é livre para escrever o que você quiser”. E ainda aceitou fazer o prefácio da obra. Uma obra que traz o meu pensamento, contrário ao dela! Isso para mim é um exemplo de profissional, de pesquisador, de professor e muito mais do que isso, é um exemplo de ser humano!


segunda-feira, maio 04, 2020

JOÃO CARMELO ALONSO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de abril de 2020.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: JOÃO CARMELO ALONSO









João Carmelo Alonso, nasceu em Araras a 1 de junho de 1970, filho de Luiz Jannuário Alonso Garcia e Dirce Coser Alonso Garcia, os quais tiveram os filhos João, Pedro e Sueli. Seu avô paterno imigrou da Espanha, região de Almeria, foi para Conchal, a cerca de 40 quilômetros de Araras. Sua avó paterna tem ascendência italiana. O seu pai conservou o idioma espanhol, muitas vezes falava com ele e, com seus irmãos, em espanhol. Joao Carmelo Alonso recebeu o título de Cidadão Piracicabano.
O senhor nasceu e morou em Araras por muitos tempo?
Nasci em Araras, onde estudei, passei em um concurso na UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba, vim para Piracicaba em 2000.
Qual era a atividade do seu pai?
Meu pai tinha duas atividades: músico, tocava violão e tinha excelente voz. Ele tinha uma dupla sertaneja, gravou CDs, LPs, gravou comerciais de televisão, meu pai tinha uma dupla sertaneja, “Os Folgazões” era o nome da dupla, o nome artístico dele era “Jeca”. (João Carmelo apanha em um móvel farto material que ele conserva, LPs, CDs, fitas gravadas”. Em pesquisa na internet, vemos muitas referências elogiando-o como um grande artista, além de gravações que podem serem vistas e ouvidas. Segundo os comentários dos fãs e conhecedores, um talentoso artista). Meu filho herdou do avô a veia musical, hoje ele toca violão.
Nessa época a música trazia retorno financeiro expressivo?
Meu fazia a música por lazer. Ele foi proprietário de um açougue, evoluiu para um minimercado.
Era muito natural os descendentes de espanhóis terem um açougue.
Era muito comum, a família toda era votada para essa área. Inclusive meu avô materno. Isso tudo em Araras. Depois tiveram frigorífico, chamava-se “Irmãos Coser”
Em Araras o senhor estudou em qual escola?
Estudei na Escola Estadual Senador César Lacerda de Vergueiro, de Araras e depois dei continuidade em outra escola, a Escola Estadual Dr. Cesário Coimbra uma vez a Escola Dr. Vergueiro não tinha todo o ciclo de ensino. Nesta escola, meu tio, José Luiz Coser, irmão da minha mãe foi Diretor da Escola.
Qual era o sentimento como sobrinho do Diretor da Escola?
Na época ele era rígido. Ele está aposentado, mas na época era muito bom. Tinha uma excelente formação pedagógica, o nível de ensino na Escola Pública era muito diferente. Primava pela qualidade, em geral mais exigente do que as escolas particulares.
A seu ver, os alunos, desde o curso primário deveriam ter uma noção básica da Constituição Federal?
Essa matéria deveria estar no currículo escolar. Lembro-me de que nos colégios que estudei, tínhamos que regularmente cantar o Hino Naciona, Hino á Bandeira. Havia a matéria Estudos Sociais, eram abordagens sobre a nossa naciolidade: Direitos, Deveres, Obrigações.
A pessoa que conhece a Constituição Federal, têm em mãos um manual de cidadania, essencial ao seu comportamento social. Isso é desestimulado por determinadas classes que querem ter o pleno domínio da população, por isso há uma pressão para não colocar no plano de ensino?
Já mudou muito, a nossa cultura está mudando! Tivemos uma situação de um país extremamente rigoroso, com determinadas questões políticas, institucionais, passamos para um lado democrático, dentro dessa democracia, criou-se um liberalismo, abriu-se demais, o que foi bom até certo ponto. Até um determinado segmento. Agora estamos tentando recuperar um princípio básico em um país, ´R dessa forma que eu vejo, estabelecer um equilíbrio. Temos nossos princípios familiares, se perdemos esses princípios, dentro das nossas casas, perde-se totalmente o controle. O conceito de família deixa de existir. A modernização é inevitável, mas assusta!
Nós éramos senão em grande parte, mas em um grau bem elevado, conduzidos, induzidos, até mesmo de forma subliminar pelos veículos de comunicação, a tecnologia trouxe a velocidade o fácil aceso às informações. Isso a seu ver nos torna melhor informados?
No tocante a Internet, a Rede Mundial de Computadores poderá ser utilizada tanto para o lado bom como para o lado ruim. Hoje tenho dois filhos, João Vitor e Maria Luiza, como falar que eles não usam internet? Estabeleço limites de uso. É da natureza humana querer conhecer o desconhecido. E esse desconhecido pode trazer consigo problemas. Da mesma forma que dizer para uma criança: “Você vai passar uma hora estudando”. Ou dizer: “ Você irá passar uma hora brincando”.
Com educador, o senhor recomenda o uso do bom senso para com os filhos? Alguns pais transformaram os jogos eletrônicos, celulares em “babás eletrônicas”?
Isso ocorre muito em viagens, restaurantes, A tecnologia é inevitável, mas temos que ter um cuidado constante para o uso dela pelas crianças e adolescentes.
Retornando ao período em que o senhor estudou, havia a opção de fazer o Curso Colegial ou o Curso Científico, qual foi a sua opção?               
Fiz o Curso Colegial.
Quais eram os meios de diversão para um jovem naquela época?
Jogar bola, basquete. Meu irmão, Pedro Alonso, foi jogador profissional de futebol. A minha esposa, Lucilei Medeiros Alonso, jogou muito basquete e joga até hoje. Ela jogou no time do BCN aqui em Piracicaba. Na minha infância e adolescência, andava de bicicleta, não tinha perigo, soltava pipa, pião, bolinha de gude. Eram brincadeiras inocentes. Atualmente temos uma realidade diferente, onde tomamos cuidados redobrados. Perdemos a confiança em questões do cotidiano. O tempo mudou, a cidade cresceu.
O senhor acredita que isso irá retroceder?
Não acredito.
Nós temos diferenças sociais e econômicas muito expressivas, alguns afirmam que essas diferenças promovem a violência. Outros afirmam que é inerente ao indivíduo, em decorrência de diversos fatores.
                                                                                  
Diferenças sociais sempre existiram, desde a época de Jesus Cristo ! Isso sempre existiu. O nosso país apresenta dentro do contexto internacional uma desigualdade muito acentuada. O Brasil é extenso demais! Cabe a Europa dentro do nosso território! Isso torna a situação de solução muito difícil. Estive conversando com o vice-presidente da Segunda Região do TRT – Tribunal Reginal do Trabalho de São Paulo, o desembargador Carlos Husek, justamente no período em que surgiu a Reforma Trabalhista. Como será aplicada a Reforma Trabalhista para alguns estados extremamente carentes? É impossível!
Na Copa Mundial de 1970 o hino oficial exaltava os 80 milhões de habitante, Em 2020 temos cerca de 210 milhões de habitantes. Ou seja, em 50 anos a população não teve um crescimento e sim uma explosão populacional?
O país explodiu, sem a devida infraestrutura. Veja quanto nós crescemos por década! O Brasil não acompanhou esse crescimento! Crescemos em população! Nós inchamos! Não crescemos na mesma proporção em estruturas, na área social. Com isso nossa qualidade de vida piorou. Não temos estrutura para tudo isso!
Em seu ponto de vista qual é a saída?
O princípio básico é a educação! A educação é um ponto em que é necessário trabalhar, melhorar, gradativamente. Essa mudança não será brusca.
Em sua análise, os nossos detentores dos poderes políticos, estão preocupados ou envolvidos nesse projeto de educação para a população?
 Não vejo a preocupação ou empenho necessário. Estamos preocupados mais com questões politicas. Fazer um pré-julgamento de determinadas instituições não é bom, Hoje vejo nossas instituições jurídicas não mais preocupadas com o bem estar do povo. Temos que prestar muita atenção com relação a isso. È necessário haver uma mudança. O que nós faremos com mais de 13 milhões de desempregados? Será que os nossos governantes têm de fato ciência da quantidade de pessoas que estão desempregadas?
O que se comenta é que muitos sobrevivem trabalhando na informalidade.
Se todos trabalharem na informalidade como ficam algumas regras? O nosso maior problema de uns tempos para cá é a corrupção! Isso é fato!
O fator tributário, extremamente elevado, determina a corrupção?
Considero que a corrupção é inerente ao ser humano. Ela existe no mundo inteiro. Só que no Brasil ela é bem mais acentuada, isso para sermos benevolentes. É por isso que chamo a atenção de que as instituições precisam olhar para esse tipo de fenômeno: Corrupção e Poder. Existem várias obras escritas sobre isso, não sou que falo, os livros estão aí! Temos aquele ditado: “Para conhecer a pessoa, dê-lhe o poder ou dinheiro! ”. Não tenho como afirmar exatamente quando tudo desandou, mas infelizmente, hoje todos querem levarem vantagens! Isso impregnou no ser humano! Na sociedade! Não tem como ter controle do comportamento humano, a não ser aquele dado pelo princípio familiar, que é o básico de tudo! Se você ensinar errado para o seu filho ele vai caminhar errado até o final. Irá aprender errado, será um adolescente errado, será um jovem fazendo algo errado. Os frutos disso voltarão aos pais. Confesso que fui um privilegiado em minha vida. Meu pai viveu até os 84 anos. Posso dizer abertamente à todos, quando ele disse-nos: “ Nós não temos dinheiro, mas eu tenho uma situação que eu posso lhes dar, educação e estudo”.
O fator financeiro ao seu ver muda o caráter do indivíduo?
A riqueza, o fato de você ter ou não uma situação financeira diferenciada do seu amigo, do seu colega, não muda o caráter do ser humano. Caráter é o principal ponto. Nome. Sãos os valores que de fato pesam na existência do indivíduo.  Seu caráter. O que o seu nome representa. Graças a Deus tenho esses valores.
O senhor é religioso?
Bastante. So católico, devoto de Santa Rita de Cássia, tenho as minhas particularidades espirituais, respeito qualquer outra crença religiosa, Há até uma citação que mostra como muitos agem negando a própria fé, dizem: “Sou ateu. Graças a Deus! ” Isss nada mais é do que um descompasso entre seu íntimo e suas palavras. Sou muito católico, vou a igreja sempre que posso, aos domingos faço questão de ir com a minha família. Faço as minhas orações, procuro passar isso para os meus filhos.
O senhor faz parte de alguma entidade?
Não pertenço a nenhuma entidade. Procuro auxiliar as pessoas de forma anônima. Já pertenci a algumas entidades, fui presidente do Rotary Club Piracicaba Povoador                              , no período 2010-2011. Tive convites para também pertencer a outras entidades. Para ser integrante de qualquer entidade há a necessidade de dedicação, tempo disponível. O meu tempo é dedicado à minha família, ao meu trabalho e a minha vida acadêmica. Gosto de escrever, de publicar artigos.
Quantos livros o senhor já tem escritos?
Já participei de cinco obras, tenho um livro recém-lançado, na USP- Universidade de São Paulo, da qual faço parte, participo de grupo de estudos.
Voltando um pouco no tempo, quando o senhor concluiu o colegial, qual foi o passo seguinte?
Logo após concluir o Curso Colegial, sofri um acidente de motocicleta, fraturando tíbia e perônio. Na época eu tinha uma motocicleta Honda CB 400, fiquei praticamente seis meses com restrições de mobilidade. Sempre trabalhei, desde criança. Em araras tinha o Clube dos Engraxates, dos 12 aos 14 anos, colocava a minha caixinha verde nas costas, ia para a praça, engraxar sapatos. Eu mesmo engraxo até hoje os meus sapatos.
O senhor dava aquela batidinha na caixa quando o cliente tinha que trocar o pé, para engraxar o outro sapato?
Sim! Era de praxe!  (Risos). Usava graxa Nugget ou ODD, preta e marrom. Papai tinha um açougue, trabalhamos com ele por muito tempo.
O cinema era uma das atrações?
Eu ia ao cinema! Assistia muito os filmes dos “Trapalhões”, que na época estavam no auge. Na época havia dois cinemas em Araras. Meu pai permitia que eu saísse desde que as 10 horas da noite estivesse em casa!
Araras é uma cidade com boa qualidade de vida?
Muito boa. Hoje ela deve estar com 150.000 habitantes. É uma cidade bem organizada.
Com um pai rígido como ele permitiu que o senhor adquirisse uma motocicleta potente?
Na realidade meu irmão também tinha uma semelhante!
Vocês eram os “donos” da cidade! Motocicleta nessa época era para poucos!
Meu pai sempre teve um ditado: “Quem tem comércio nunca vai faltar dinheiro no bolso! ” Trabalhávamos em família, eu levantava as 4 horas da manhã para trabalhar. Eu saía para comprar boi as 4 horas da manhã! Ia de Kombi. Não ia dirigindo porque não tinha a carta de habilitação. Com 18 anos, quando tirei minha carteira de habilitação, ia dirigindo. Iam negociava no frigorífico, carregava, descarregava, a vida era sempre agitada. O conceito de açougue, atualmente mudou muito. Hoje açougue é uma boutique onde são vendidos inúmeros produtos. O mercado nessa época, não vendia pão, não vendia leite, não vendia carne, não vendia remédios, não vendia sapatos. Poso afirmar que na minha infância nunca faltou nada. Meu pai sempre teve uma vida simples, em uma situação confortável. Nunca foi de esbanjar. O que o meu gostava de fazer era música, viola!
Na casa dos seus pais eram feitas “migas”, prato típico espanhol?
Minha mãe sempre junto com o meu pai fazia “miga”. Era um alimento muito consistente, poderia passar o resto do dia sem comer nada. Além de ser um prato muito saboroso. Minha mãe sempre foi aquela mãezona, colocava todos os filhos embaixo das suas asas. Ela e meu pai eram muito religiosos. Por muito tempo tivemos fogão a lenha, depois adquirimos o fogão a gás, mas mantendo o fogão a lenha por um bom tempo. Minha mãe fazia linguiça, colocava para defumar. Erra uma vida muito boa. Tanto que o primeiro LP que o meu pai gravou tinha como título: “Vida Boa”. Uma das frases da música “Vida Boa”: “A vida é boa é preciso ter coragem”.
O Curso de Graduação em Direito o senhor fez onde?
Eu morava e trabalhava em Araras e a noite fazia o curso na Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP, isso foi em 1992, o curso ainda era de 4 anos, me formei em 1996. Vinha e voltava para Araras todos os dias, de ônibus, era um percurso em torno de 1:40 horas. Saíamos as 18:00 horas, quando era 19:15 estávamos chegando aqui. Todos cansados, dentro do ônibus o silencio era absoluto. Às sextas-feiras é que relaxávamos um pouco, mesmo assim no sábado eu tinha que trabalhar com papai no mercado. Uma regra que sempre papai dizia: “Primeiro a obrigação, depois a diversão”. Eu adorava, adoro até hoje carnaval.
O senhor saiu fantasiado alguma vez?
 Sai nos clubes em Araras! Éramos um grupo de jovens! Os famosos blocos! Em período de carnaval só voltávamos quando o baile acabava, 4 ou 5 horas da manhã. Chegava em casa, tomava um banho e ia trabalhar no mercado, onde trabalhava até as oito da noite. Descansava. No início chamava-se Casa de Carnes Bom Jesus, depois passou a se chamar Mercado Bom Jesus.
Qual foi a reação do seu pai, quando o senhor decidiu estudar Direito?
Ele apoiou! Todos os filhos concluíram curso superior. Formado em Direito só eu. Em 1997 e 1998 fiz um curso de especialização na Universidade, Comecei outro  curso na Universidade, quando em 2000 abriu um concurso. Fiz o concurso, fui aprovado como docente, nesse meio tempo saiu da Especialização e entrei no mestrado, em 2002 defendi o meu mestrado e já estava praticamente dentro da Universidade até hoje.
A sua opção pela área Trabalhista tem um fator de motivação?
Tem ! Essa opção pela área trabalhista foi quando eu comeceia estagiar no escritório doo Dr. Luiz Cressoni Della Coletta, em Araras, isso na época em que o estágio não era remunerado. Fiz o estágio após ter me formado, no inicio de 1997 até 2001 fiz estagio com ele.  Quando eu já estava na Universidade, como docente, o Dr. Coletta disse-me: “Alonsinho! O espaço nosso aqui é pequeno para nós dois! Você tem muito! Pode crescer  demais! Eu vou te dar a sala ao lado, você vai me pagar daqui a seis meses. O número da OAB dele era 14.000 ! Ele era fantástico, Eu estava na minha fase de juventude, tinha 28 anos, o escritório  dele ficava no centro, aos sábados , eu voltando dos restaurantes, bares, as quatro horas da manhã, a luz estava acesa, o Dr, Coletta estava trabalhando!
Os cálculos trabalhistas ele mesmo fazia?
Muita coisa ele pedia para que eu fuzesse, outras ele mesmo fazia, e também mandava para o contador  calcular.  Ele fazia os cálculos a mão. Sem auxilio de máquina calculadora. O que  eu admirava nele é a capacidade intelectual daquele homem. Ele tinha uma biblioteca de cerca de 5.000 livros! Você olhava os livros, com aqueles papeizinhos, todos marcados. Ele dizia-me: “Alonsinho! Pega tal caixa no arquivo, quero tal pasta, tal nome.” Eu pegava a escada puxava a pasta, olhava, batia a data, o nome, batia tudo! Eu pensava comigo mesmo: Esse homem está de brincadeira comigo!”. Ele tinha uma secretária, a Andréia, trabalhou 20 anos com ele.  Hoje Dra. Andréia, formou-se também. Eu criei esse habito de fazer biblioteca com ele. Ele dizia: “Pega tal Lex, veja na página tal vê se esta falando tal coisa. Entrava na biblioteca, entrava no meio do  arquivo, tinha um papel. Eu imaginava: “Não é possível que esse homem vai acertar de novo!”. Isso me chamou muito a atenção! Fui criando esse habito. Ele só fazia trabalhista. Era raro ele fazer divórcio, separação, despejo. Ele dava muita assessoria para empresas, companhias  agrícolas, fazendas, em Araras tinha muitas fazendas, praticamente ele me ensinou tudo. Tenho um ditado que levo comigo, até hoje falo dentro do meu escritório, para todos da minha equipe: “ Se você quer ser igual, está cheio. Se quiser ser diferente, são poucos”. Escutei isso depois de muitos anos, do meu professor na USP, Prof. Dr. Nelson Mannrich 
O caminho para ser igual é o mais usual. Para ser diferente, existe  alguma “receita”?
Eu procuro fazer tudo o que realmente gosto! Primeiro você precisa se identificar com aquilo que você gosta. A Humildade e o Caráter são os primeiros passos. Todas as profissões tem os seus problemas. Todas as pessoas podem falar bem ou mal. Mas, somente você e Deus sabem o que realmente faz. Se voce esta com a consciência tranquila, tudo irá dar certo.
O Direito Trabalhista é visto como uma área muito sensível a mudanças?
O Direito Trabalhista tem dois lados: o lado do empregado e o lado da empresa, do empregador. Sem nenhum demérito, o lado do empregado a Justiça do Trabalho faz o processo para ele. Nesse caso, a peça mais importante no processo  é a petição inicial. Se ele não fizer uma boa petição inicial, ele irá perder o processo. Nós temos em Piracicaba, muito bons advogados que só fazem as iniciais, e lutam pelo trabalhador. Como eu vim de um escritório que sempre trabalhou com empresa, posso afirmar que o lado da empresa é um pouco mais complicado. Se você fizer algo de errado, o passivo que você pode dar para a empresa é grande.
As mudanças ocorridas na legislação trabalhista trouxeram muitos impactos?
Acho que ainda está muito cedo, mesmo com dois anos de mudanças trabalhistas da nova CLT, vamos ter muitas mudanças, inclusive agora foi nomeada a primeira mulher do Superior Tribunal do Trabalho, atual Presidente do Tribunal Superior do Trabalho é a Ministra Maria Cristina Peduzzi, ela disse que vai ocorrer novas reformas. Acho que o TST precisa se posicionar em determinados assuntos. É o que venho falando em sala de aula, tem assuntos que o TST não pode fugir mais. Precisa  enfrentar. Os advogados, tanto do lado do empregado como do  lado do empregador, estão sem saber como é que fazem. Colocam as opiniões, você pode interpretar de  um jeito eu interpreto de outro. O direito não é matemática, não é uma ciência exata. O seu direito termina quando? Quando começa o meu!
Grandes reformas trabalhistas foram realizadas no período do Governo Getúlio Vargas, e muitas até hoje não mudaram, O senhor considera essas reformas positivas?
Para a época foram!
O senhor lançou em São Paulo, na Faculdade de Direito da USP o livro “Reforma Trabalhista: Reflexões e Criticas” sob a coordenação de Nelson Mannrich, editado pela LTr. (Nesse momento, relumbrando a trajetória de superação e vitória a emoção domina).
O senhor tem uma relação muito próxima com a USP-Sãp Paulo?
A Universidade de São Paulo em suas áreas de atuação é uma grande referência.
Há uma grande expectativa quanto a referencia trabalhador-empresa, o senhor acredita que deve haver mudanças?
Vai modificar! Acredito que o trabalhador terá que fazer uma requalificação.

FORMAÇÃO ACADÊMICA

     Mestre em Direito – UNIMEP/SP – 2002 a 2005 - Área de Direito das Relações Sociais: Direito do Trabalho - orientação da Prof.ª Dr.ª Dorothee Suzanne Rudiguer - título da dissertação: Competência Material da Justiça do Trabalho nos litígios de dano moral em decorrência do acidente de trabalho. Ø Especialização em Direito Processual Civil e Direito Civil – UNIMEP/SP – 1999 a 2001 – titulo do trabalho: Contratos na Área do Direito Comercial Ø Graduação – Universidade Metodista de Piracicaba – 1992/1996. Advogado com inscrição na OAB/SP sob n. 169.361. Coordenador da Escola Superior de Advocacia (ESA – Subseção Piracicaba/SP) – 2013/2014; Diretor Jurídico Esporte Clube XV de Novembro (Piracicaba): de 2008 a 2012; Coordenador do Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho - UNIMEP; Advogado – Procuradoria do Município de Piracicaba – área de concentração:Direito do Trabalho: De 2006 a 2008; Membro Participativo na Fundação da AATRAL (Associação dos Advogados Trabalhistas e Araras, Leme e Região) – Ano 2001/2003; Comissão do Jovem Advogado – OAB/SP – Subseção Araras – 2001 a 2002 Membro de Grupo de Estudo em Direito do Trabalho – GETRAB/USP; Membro do IPOJUR – Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas em Ciências Politicas e Jurídicas.
      Professor da UNVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA/SP – UNIMEP
Tempo Integral – desde Agosto de 2000. Coordenador do Curso de Pós Graduação em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho – UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA/SP – UNIMEP – Desde 2006. Professor Orientador de Estágio – Atividade Extrajudicial – JUIZADO ESPECIAL CÍVEL – ANEXO – UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA/SP – Desde 2002 . Professor – “Damásio Cursos Jurídicos” – Unidade Piracicaba – Curso Preparatório para Exame da OAB/SP – De 2009 a 2010 - Direito do Trabalho, Direito Processual do Trabalho. Professor: MBA em Gestão estratégicas de Pessoas. 2009. (Curso de curta duração ministrado/Especialização) – UNIMEP/SP – Disciplina: Direito do Trabalho;  Comissão do Jovem Advogado – OAB/SP – Subseção Araras – 2001 a 2002  Membro de Grupo de Estudo em Direito do Trabalho – GETRAB/USP; ØØ Membro do IPOJUR – Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas em Ciências Politicas e Jurídicas.

TRABALHOS PUBLICADOS:

As Inovações Tecnológicas no ambiente do Trabalho: Melhoria ou Perigo? Jornal de Piracicaba, Cidade de Piracicaba/SP. 2014.  As atuais mudanças no aviso prévio imposto pela Lei 12.506/2011. Jornal de Piracicaba, Cidade de Piracicaba/SP. 2013. A crise econômica e o Direito do Trabalho. Revista Nacional de Direito do Trabalho, v. 01, p. 01-04, 2010. A ampliação da Nova Lei de Licença Maternidade. Revista Nacional de Direito do Trabalho, v. 01, p. 01-04, 2009. A Ampliação da Competência da Justiça do Trabalho e seus Efeitos com a Promulgação da Emenda Constitucional nº. 45/2004. Revista Nacional de Direito do Trabalho, v. 123, p. 11-16, 2008. O Direito do Trabalho sob a Ótica do Novo Código Civil. Cadernos de Direito (UNIMEP)), v. 1, p. 203-208, 2004. Contratação de funcionários: direito ou violação?. Jornal de Piracicaba, Cidade de Piracicaba/SP, p. A3 - A3, 22 jul. 2012.  Regulamentação do Ponto Eletrônico. Jornal do Terras, Piracicaba/SP, 02 abr. 2012.   As inovações tecnológicas no ambiente de trabalho: melhoria ou perigo?. Jornal de Piracicaba, Piracicaba, p. 01 - 01, 30 abr. 2011. Ø Juizado Especial Cível e sua função social. Tribuna do Povo, Araras/SP, p. 2 - 2, 03 out. 2002.
         CAPITULOS DE LIVROS PUBLICADOS : O Contrato de Estágio no Direito do 
                           Trabalho: Relação de Aprendizagem ou Relação de Emprego?. In: João           Miguel da Luz Rivero; Luiz Antonio Rolim. (Org.). Faculdade de Direito: direito e história 1970 - 2005. 01ed.Piracicaba: Printfit Soluções, 2005, v. , p. 167-174.

PARTICIPAÇÃO EM PALESTRAS – PALESTRANTE LOCAL: TEATRO UNIMEP/SP

A importância do Jovem advogado frente a advocacia. (Palestra – OAB/SP – Piracicaba  2015). A Profissão do Futuro para os Jovens no Ensino Médio (E.E.Cesário Coimbra/Araras/SP – 2015).Assédio Moral. 2010. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou palestra). Colisão de Direitos Fundamentais no Direito Constitucional Brasileiro. 2005. (Apresentação de Trabalho/Simpósio).  Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho. 2002. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou palestra). O          Advogado       e          o          Mercado de Trabalho.      2000.        (Apresentação            de Trabalho/Conferência ou palestra). Palestra na abertura da Semana Jurídica da OAB/SP – Piracicaba – 2016; Palestra Na Câmera Municipal de Piracicaba/SP – A Reforma Trabalhista – 2017; Palestra na Câmera Municipal de Rio das Pedras/SP – A Reforma Trabalhista e a Lei de Terceirização – 2017.ATIVIDADES COMPLEMENTARES:  Jornada de Coordenadores e Docentes do Curso de Direito. 2011. (Outra). Lei nº. 11.419/06 - Processo Eletrônico. 2007. (Outra).  44º Congresso Brasileiro de Direito do Trabalho. 44º Congresso Brasileiro de Direito do Trabalho. 2004. (Congresso). III Encontro Nacional de Estágios. 2004. (Seminário). V Congresso Nacional de Direito do Trabalho e Processual do Trabalho do TRT da 15ª Região. 2003. (Congresso).Terceiro Congresso Brasileira de Segurança e Saúdo no Trabalho - Ambientes e Condições de Trabalho. Terceiro Congresso Brasileira de Segurança e Saúdo no Trabalho - Ambientes e Condições de Trabalho. 2002. (Congresso). Globalização e Direito do Trabalho.VIII Workshop. 2002. (Oficina). Segundo Congresso Brasileiro de Segurança e Saúde no Trabalho - Condições e Ambiente de Trabalho. Segundo Congresso Brasileiro de Segurança e Saúde no Trabalho - Condições e Ambiente de Trabalho. 2001. (Congresso).Ensino Jurídico - "Refletindo as práticas pedagógicas "Ensino Jurídico - "Refletindo as práticas pedagógicas". 2001. (Seminário). Programa de Integração Docente. Programa de Integração Docente. 2001. Seminário de Estudos do Direito. Seminário de Estudos do Direito. 2000. (Seminário). Assistência Judiciária Gratuita - Lei 1.060/50.Assistência Judiciária Gratuita. 2000. (Seminário). OAB e Ampliação do Mercado de Trabalho e Dano Moral no Direito do Trabalho.Palestras Jurídicas. 2000. (Encontro). 26ª Semana de Estudos Jurídicos. O Direito e as consequencias da Modernidade. 1995. (Encontro). 24ª Semana de Estudos Jurídicos. Direito do Trabalho. 1993. (Encontro). IDIOMAS : Espanhol e Italiano






quarta-feira, novembro 06, 2019

ELAINE REGINA CURIACOS MEYER


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de setembro de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADA: ELAINE REGINA CURIACOS MEYER

Elaine Regina Curiacos Meyer nasceu a 15 de fevereiro de 1963, em Piracicaba. Filha do Dr. Luiz Curiacos, advogado, corretor do ramo imobiliário, e Santina Pimpinatto Curiacos que tiveram dois filhos: Elaine e Luiz Eduardo. Elaine casou-se na Igreja dos Frades no dia 13 de julho de 1990, com Alfredo Carlos Meyer Júnior, economista.
Seus primeiros estudos foram feitos em qual escola?
Fiz em diversas escolas, na época mudamos diversas vezes de residência. Iniciei na Escola Nossa Senhora da Assunção, minha primeira professora foi Da. Marli, já falecida, onde permaneci por dois anos, depois fui para o Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes, lá estudei por um ano, a seguir fui estudar no Colégio Dr. Jorge Coury, onde terminei o ginásio. A seguir fiz o curso colegial no Colégio Piracicabano. Fiz curso de datilografia no CESAC- Centro Social Assistência Cultura Paróquia São José, eu datilografava profissionalmente, fazia meus “bicos”, sempre tinha alguma atividade que gerava algum dinheiro para minhas despesas pessoais. Acho que devido a minha ascendência árabe. No Colégio Piracicabano concluí o Curso Técnico de Patologia Clínica. Na época eu queria muito estudar no Colégio Piracicabano, ter uma profissão, eu sempre quis trabalhar, me sentir produtiva, sou assim até hoje. Na época eu não escolhi muito bem o curso. Sempre tive a vocação para trabalhar com a saúde. Na época os cursos existentes lá eram eletrônica, computação ou patologia clínica. Nunca trabalhei nessa área. Acabei tendo dificuldades no vestibular, o curso técnico deixa muito a desejar em determinadas matérias. Fiz o cursinho preparatório junto com o curso técnico. Prestei vestibular e fui aprovada para cursar Fisioterapia na Unesp em São Carlos e na Unimep em Piracicaba.  Há 30 anos, era uma matéria nova, pouco conhecida. Eu tinha 17 anos. Na época em que eu estava fazendo o cursinho a minha avó materna, Virginia, ficou doente, eu ficava com ela no hospital. Lá vinha uma fisioterapeuta realizar seu trabalho com a minha avó. Eu ficava encantada com o que ela fazia. Achava lindo o seu trabalho. Meu pai tinha muita dificuldade em deixar os filhos voarem! Com isso acabei ficando na Unimep. Hoje a minha filha mora em São Paulo e faço questão que ela voe, acredito que cresce muito quando mora sozinho.
Quantos filhos vocês têm?
 Temos uma filha só, a Maria Carolina, está com 20 anos. Eu acabei ficando na Unimep, que tem um curso excelente, depois fui descobrir que em nível de estágio é o melhor que existe. Você já sai trabalhando. Me formei em 1984. Na época o curso era integral de três anos. De manhã, a tarde e à noite ficávamos estudando no laboratório. Já no primeiro ano em que entrei fui estagiar no que era o maior centro de fisioterapia na época, existe até hoje. A proprietária, disse-me, que estágio era só a partir do segundo ano. Minha resposta foi: “Eu aprendo! Eu faço!”. Fui várias vezes até lá, até que ela me aceitou. A princípio tinha duas macas, o coordenador disse: “Vou trabalhar com este paciente e você vai vendo para ir aprendendo!”. Me ensinou a trabalhar com os aparelhos. Eu sempre acreditei muito no poder das mãos. Existia um protocolo de atendimento que eu fugia dele. Colocava o pessoal no box e começava a trabalhar com massagem. Era um procedimento mais intuitivo, eu não tinha tido essa disciplina ainda. Só que resolvia! As pessoas melhoravam bastante. Porém demorava muito o procedimento. Fui entendendo qual era o meu caminho, eu tinha resultados naquela massagem. Tinha muita vontade de que o paciente ficasse bem. Estudava bastante, sempre fui uma pessoa que estudei. Eu não estava alienada, estava fazendo a coisa certa mas sem capacidade técnica total. Todos os anos de faculdade eu fiquei lá fazendo estágio, quando terminou o meu curso, a proprietária me deu férias, em seguida me chamou, e em janeiro me disse que eu iria trabalhar como contratada. Agradeci muito, mas não aceitei. Eu não queria continuar fazendo a fisioterapia clássica. Queria outro caminho para mim. Sempre fui muito assim: tenho um propósito, eu acredito, eu vou, minhas intuições costumam funcionar. Não faço nada que a minha intuição indica para não fazer.
Você é religiosa?
Sou católica, sou espiritualista. Durante 10 anos conheci todas as religiões e seitas que você possa imaginar. Acabei voltando para a católica porque descobri que pessoas são pessoas. Em todos os lugares tem briga pelo poder, a força do ego está presente em todos os lugares. Voltei para a religião em que fui formada. Acredito em um Deus único.
A seu ver o ser humano é formado por energia?
Tudo é energia! Esse momento em que estamos aqui, agora, é energia! É o encontro de almas. Não estamos aqui ao acaso. Você tem a sua missão, eu tenho a minha. Dentro da missão de cada um, houve uma conexão. Acredito muito nisso. Tudo tem um porque, para que. Trabalho com pessoas de todas as religiões há mais de 30 anos, aprendo muito. Aprendi na minha vida a não ter intermediário: conecto-me com Deus, Ele fala comigo, falo com Ele. Frequento a igreja católica. Por muitos e muitos anos fui uma filha rebelde com Deus: eu posso, eu consigo, eu vou sozinha! Até que chega momentos da vida em Ele vê a sua situação de cem por cento impotente! Tempestades que chegam em nossa vida com a intensidade necessária à cada um para descobrir que sem a fé em Deus é impossível prosseguir. Acreditar em Deus é sentir a sua presença, e não um Deus distante. Desenvolver a espiritualidade. Há a presença de Deus que depende só de mim; a que depende do outro e a que depende de Deus e das circunstâncias, que nada posso fazer. Isso significa que somos impotentes em dois terços da vida. Percebi isso quando descobri que o um terço que era a minha parte eu não estava fazendo!
Há pessoas egocêntricas, julgam-se o centro do mundo e há pessoas que vivem para todos menos para si mesmo, qual é a sua opinião?
Dizemos que existem três tipos de pessoas: 1-) Aquela só ligada no EU; 2-) A pessoa altruísta que é o OUTRO; 3-) E o terceiro que é o Helicóptero! Só flutua por cima, mas não está presente. Há situações em que o profissional não pode demonstrar seus sentimentos imediatos. Ele não pode se envolver emocionalmente. Há também pessoas que não se envolvem com nada. Há casos em que a pessoa chega a extremos, ela quer a sua segurança e conforto pessoal, as vezes nem mesmo os filhos importam. São extremos. A meu ver o que precisamos é passear pelos três tipos de vez em quando. As vezes temos tendências a sermos um único tipo.
O egocentrismo é uma doença?
Necessariamente não é preciso ser considerada uma doença. Há sim falta de equilíbrio! Há pessoas que buscam o equilíbrio e ficam bem, outras são patológicas. Existem pessoas que tem uma patologia e outras que necessitam de orientação. O mais comum é acharem que não precisam de nada disso. Simplesmente não admitem, não aceitam.
Você saiu do local onde trabalhava como estagiária, já formada foi trabalhar aonde?
Sempre gostei de desafios. Surgiu uma oportunidade de trabalhar com uma amiga e precisava que eu trabalhasse meio período, era um trabalho em uma academia. Descobri um curso em São Paulo, pegava o último ônibus para Piracicaba, as 11:00 da noite. Eram aulas com o Professor Sardá, um argentino, na área de estética para mulheres, há 30 anos não havia as clínicas estéticas que existem hoje. Logo montei a minha primeira clínica junto com essa minha amiga. Foi a primeira clínica de estética da cidade a Pesos e Medidas. Essa clínica existe até hoje com a minha amiga. Funcionava em uma casa na Rua Ipiranga entre a Rua Governador Pedro de Toledo e a Rua Benjamin Constant. Com o tempo percebi que aquilo não me realizava, e eu não gosto de fazer só pelo dinheiro, tenho que me sentir bem. Fiz algumas “loucuras” em deixar lugares onde estava com um ótimo retorno financeiro. E não me arrependo. Sempre precisei do dinheiro, mas nunca o coloquei acima da minha realização. A clínica pelo fato de ser a primeira da cidade, ia muito bem, com atendimento individualizado, voltada às mulheres com bom padrão aquisitivo. Na época eu já fazia medicina chinesa, cursos, sempre dava um toque diferenciado no trabalho. Após dois anos, a minha supervisora da área de postura na Unimep, conversou comigo, estava deixando a cidade, e como eu tinha sido uma das suas melhores alunas, ela disse-me “Você montou a área de gestante, acho que você deve ficar com a área”. Para mim foi uma surpresa, eu nunca havia planejado isso. Ela deu-me sete livros para estudar, eu tinha uma semana para fazer isso. Foi uma semana em que saia do quarto só para tomar banho e me alimentar. Estudei. O tema que eu tinha estudado foi escolhido, fui muito bem. Tinha um concorrente que apareceu de outra universidade, com mais bagagem acadêmica, teoricamente eu teria perdido a vaga, mas fui assim mesmo para a entrevista, quando anunciaram a desistência do concorrente e a minha efetivação. Fiquei na Unimep por 10 anos como supervisora de estágios. Corresponde a professor só que supervisionando os estágios dos alunos do último ano. Eu também era professora. Entrei pela primeira vez como professora em uma sala de aula com 22 anos em uma sala com 87 alunos! Foi a minha primeira experiência em liderança! No início acharam que era trote, eu era alguma aluna! Tive que conquistar o respeito deles. Isso me deu segurança para poder avançar. O Reitor era Almir Maia. Eu tenho uma inquietação, quando cai na zona de conforto perde a graça. Depois de sete anos estava caindo na mesmice, nesse período fiz muitos cursos, uma média de um curso por mês. Passei a ter um bom padrão financeiro, casei. Eu sempre gostei muito de estudar. Pagava os meus cursos. Ia à São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba. Naquela época não tinha mestrado em fisioterapia, comecei a fazer em fisiologia na Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Unicamp. Passei a ser chefe dos meus antigos professores e colegas. Foi a minha segunda liderança desafiadora. Para eles eu era uma menina, eles tinham 40, 50 anos. Fiquei nesse cargo por dois anos. Eu ganhava muito bem. Mas não estava satisfeita. Pedi para sair.
E o que você decidiu fazer?
Montei meu consultório de fisioterapia de coluna. Aluguei uma casa na Rua Alferes José Caetano entre a Rua Ipiranga e Rua Riachuelo. Contratei uma secretária. Comecei a lotar a agenda desde o começo. Este mês me aposentei. Venho fazendo coaching (uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e profissional) já há três anos.
Como começou a sua paixão pelo coaching?
Na verdade, há uns 15 anos eu tive um paciente que estava com muita dor no ombro, era diretor de uma grande empresa, ele veio ao meu consultório por indicação. Em uma sessão ele saiu 80% melhor, na segunda sessão já sumiu a dor. Ele ficou encantado, já por dois anos tinha feito diversos tratamentos. Conversávamos bastante, ele viu que eu tinha um conhecimento que era extra terapia, disse que queria que eu fosse dar umas palestras para os seus funcionários. Ele tinha 98 funcionários, hoje tem mais de 1.000. Na empresa dele comecei a ver outras necessidades, oportunidades. Fiz uma especialização e virei consultora em ergonomia. Aumenta muito a produtividade. Comecei também a trabalhar o emocional das pessoas. Como ele é um empresário influente acabou me indicando para seus amigos. De repente montei uma empresa de ergonomia, fisioterapia preventiva. Fiz esse trabalho por 10 anos nas empresas como consultora, em paralelo com o consultório. Tive nove funcionários que trabalhavam para mim, nas empresas. Tive uma grande funcionária que teve uma doença grave e faleceu. Decidi continuar apenas com o consultório e dando palestras nas empresas. 
Atualmente sua atividade é dar palestras e coaching?
Na realidade são ferramentas para potencializar o que o outro tem de melhor, divide-se em três fases: a primeira é o autoconhecimento; reconhecimento e mudança de crenças; missão, visão, valores e metas. Pode ser feito individualmente ou coletivo. Hoje a maioria das empresas tem líderes que não estão preparados para serem líderes. Líder tem que ser educador, servidor. É aquele que ajuda o outro. Trabalho com o líder o seu desenvolvimento pessoal para ele exercer sobre os liderados. As vezes trabalho até com os liderados também. Já dei palestras até para 1.500 pessoas. Vou até a empresa, faço o levantamento das necessidades da empresa e a partir disso crio um projeto.
Você vai moldar um projeto para cada necessidade?
Exato. Até porque para trabalhar com pessoas não existe um padrão. É conhecer a individualidade de cada um.
Quanto tempo dura uma palestra sua?
Em média duas horas. Quando eu trabalhava com a coluna, percebi que somos emoções, aprendi a lidar com isso. Fui buscar psicologia, fiz cursos, para ajudar a pessoa de forma mais integral. As vezes vou trabalhar em uma empresa, percebo que além do meu trabalho a empresa precisa desenvolver processos, ou a área de vendas. Hoje tenho dois parceiros que trabalham comigo. O ser humano é o maior tesouro da empresa, se ele não for cuidado a empresa não evolui. A maioria dos responsáveis pela empresa não tem essa consciência. As vezes dentro da empresa há muito conflito, muita intriga, muito ego. Problemas de relacionamento. Isso é do ser humano em geral. Quando entro na empresa vou ajudando com a inteligência emocional, técnicas de neurolinguísticas. Trabalho em empresas fora de Piracicaba: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Ribeirão Preto. Já trabalhei para o Grupo Siemens, Gatti, entre outras empresas de grande porte. Hoje estou focada em empresas, e não tanto em palestras abertas ao público. Também tenho a minha cota de contribuição social, com palestras à instituições filantrópicas. Em empresas faço o perfil comportamental dos líderes. Avaliar o perfil da pessoa.
O investimento que a empresa faz é alto?
Pelo retorno que ela tem não é.
Uma das suas qualidades é seguir o seu desejo de realização pessoal em tempos em que as pessoas se escravizam pelo dinheiro.
O interessante é que sempre precisei de dinheiro, não tive herança, nem vida tranquila sem ter que prover o lar. Mas sempre acreditei muito no meu propósito de vida. Temos que trabalhar com um propósito. Tudo tem um significado. Se eu trabalhar só para pagar as minhas contas no final do mês vai ser muito chato! Vou entrar em uma zona de conforto e vou ser infeliz. Passar de criatura para criador é entender que você é protagonista da sua história. Se não está bom, faça alguma coisa para mudar.

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