sexta-feira, agosto 07, 2020

NELSON SIDNEI MASSOLA JUNIOR

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de maio de 2020..

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: NELSON SIDNEI MASSOLA JUNIOR

 

Nelson Sidnei Massola Junior nasceu a 21 de junho de 1968, em Piracicaba, filho de Nelson Sidnei Massola natural de Piracicaba e Maria Vilma Consorte Massola natural de Laranjal Paulista, sempre foi cabelereira. Tiveram os filhos Nelson e Claudia. Seu pai, atualmente aposentado, trabalhava no DER – Departamento de Estradas de Rodagem, onde ingressou em Piracicaba aos 18 anos. Transferido para Tietê, onde casou-se e residiu até aposentar-se. Nelson Sidnei Massola Junior é casado com Fernanda Roncato Massola, eles tem dois filhos: Gabriela e Gustavo.

Nelson fez todos os seus estudos na Escola Estadual Plínio Rodrigues de Moraes, desde o pré-escola até o terceiro ano colegial. Foi em uma época em que a escola pública era considerada de excelente qualidade.

Após concluir seus estudos básicos a sua opção foi por qual setor universitário?

Decidi fazer Engenharia Agronômica, Fiz um ano de cursinho preparatório no Cursinho Pré Vestibular Anglo, era o início desse cursinho em Piracicaba. Os diretores eram: Eduardo Gerolamo João (Turcão) e Dorival Sudario Bistaco. Com orçamento familiar adequado, porém não suficiente para cobrir todas as despesas de escola e moradia, vim para Piracicaba, onde morava minha tia, na Rua Monsenhor Rosa, no centro. Expus minhas condições ao Turcão, comprometendo-me a ingressar na USP desde que o cursinho oferecesse um desconto. Foi dado o desconto de 50%.

Dali você ia até o cursinho utilizando qual forma de transporte?

Ia de ônibus, usava a então linha denominada Panorâmica. Pegava as 6:30, era sempre o mesmo motorista. Lembro-me até hoje da sua fisionomia, expressão de estar sempre bravo. Eu descia ali em frente a Santa Casa. O curso Anglo permanece no mesmo local. As aulas iam até por volta das 13h00. As aulas eram dadas em um anfiteatro enorme, com 180 alunos. Ali tive bons professores: Dorival, Turcão, o professor de química era o Angelo, hoje é professor da minha filha no curso Poliedro. O Ângelo ganhou o apelido de Corneto, graças a sua semelhança com o ator que fazia propaganda desse sorvete na televisão. O Turcão lecionava matemática. Física era o Batalha. Era muito comum ter sempre dois professores de cada matéria, eles se revezavam. Naquela época havia uma disputa grande entre os Cursinhos CLQ e Anglo. O professor de biologia era o Gentil. Outro professor de biologia era “esalqueano”, ou seja foi aluno da ESALQ, depois ele estudou biologia na Unimep. É interessante observar que em Piracicaba os cursinhos preparatórios para vestibular iniciaram-se com os “esalqueanos” lecionando.

Muitos professores de cursinho pré-vestibular marcaram a educação de gerações em Piracicaba.

Alunos que se formaram pela ESALQ lecionaram para inúmeros vestibulandos, eram excelentes professores. Foi uma época boa. Os anos 80 foram fantásticos! O país passava por uma mudança política muito grande,

Você prestou o vestibular e passou?

Não prestei nada além de FUVEST com o objetivo de entrar na ESALQ. Passei nos exames em 1987 iniciei o primeiro ano na Escola de Agronomia Luiz de Queiroz – USP. Passei pelo trote que é dado nos calouros, na época era um trote “pesado”. Só que o orgulho de usar o famoso “A” encarnado era e é até hoje, muito grande!

A ESALQ é uma instituição de projeção internacional, sendo considerada uma entre as melhores escolas do gênero no mundo. O seu corpo docente é formado por pesquisadores e cientistas, você teve aulas com titulares das cadeiras?

Tive aulas com professores célebres. Zilmar Ziller Marcos foi meu professor, deu aula de solos, fui aluno de Caetano Ripoli, Nilson Augusto Villa Nova. Para integrar o corpo docente da ESALQ as exigências de conhecimento científico são bem elevadas.

Qual foi o tempo de estudo para que você se formasse?

Na minha época já era de 5 anos. Log no segundo ano comecei a fazer estágio, eu  gostava muito da parte de microbiologia, tive aulas dessa matéria com Eric P. S. Baumer. Hasime Tokeshi, Armando Bergamin Filho que está lá até hoje, não aposentou-se, é colega de trabalho. Hiroshi Kimati foi um dos grandes professores que eu tive, faleceu, juntamente com sua esposa , em acidente de trânsito. Esses são os professores veteranos da ESALQ. Outro professor Clelio Lima Salgado também realiza um trabalho importante.

Você chegou a participar do prestigiado Coral da Esalq?

Não participei! Aliás isso é uma particularidade que eu tenho, tude que se refere a arte é muito verde em mim, não consigo me despontar. Instrumento musical, canto, desenho, atuação, não são áreas com as quais tenho desenvoltura.

O seu campo é “in vitro”, processos biológicos que têm lugar no ambiente controlado?

Exato, dentro do laboratório!

Quando estudante qual era o horário de aula?

Na ESALQ as aulas são em período integral. As aulas começavam as 8:00 horas até 12:00 horas. Na parte da tarde das 14:00horas até as 18:00 horas. A alimentação era feita no bandejão: café da manhã, almoço e jantar, na minha época tinha s três refeições no badejão. A linha de bonde já estava desativada, existia e permanece até hoje, um bonde em exposição. Após o almoço era comum irmos até lá, sentarmos nos bancos do bonde e ficávamos conversando.

Qual foi a sua sensação no primeiro dia, ao entrar e provavelmente pensar: “Estou como aluno na ESALQ”?

É difícil descrever! É a realização de um sonho, entrar na USP, em um curso de agronomia. Eu não conhecia nada dentro da escola, e nem conhecia as pessoas que estavam entrando, sempre entram 200 alunos. No primeiro dia fiquei meio perdido, não sabia onde estava, qual aula iria ter, nos primeiros dias existiam muitas aulas dadas como trote, na realidade o “professor” era um veterano! O início foi um misto de encantamento com surpresa.

Quantos alunos frequentam cada classe?

Entram 200 alunos por ano. Alguma disciplina tem classes bem numerosas. Dividem, 100 alunos em uma classe e outros 100 em outra classe. Além disso tem 40 alunos da Engenharia Florestal, que nos primeiros anos assistem aulas juntos com os alunos da Agronomia. No total são 240 alunos que nos primeiros anos tem aulas juntos, subdividindo em turmas de 140 a 150 alunos. Obviamente tem disciplinas que dividem um pouco mais, e principalmente as aulas práticas dividem mais ainda. Algumas turmas com 25 alunos. As aulas práticas eram em laboratórios, no campo, nas dependências da ESALQ. Todo Departamento tem um terreno que é para aula prática. Eventualmente algumas aulas práticas eram fora da ESALQ,  nessas ocasiões íamos utilizando aqueles famosos e tradicionais ônibus da ESALQ, que embora antigos estão em bom estado de conservação. (Os famosos ônibus monoblocos). Íamos para canaviais, barrancos com cortes, onde poderíamos analisar os tipos de dolo. Isso nos primeiros anos. Há um nivelamento no ensino até o terceiro ano, no quarto e quinto anos o aluno escolhe uma área e se aprofunda nela.

Esse nivelamento inicial incluía aulas de cálculo diferencial e integral I e II?

As aulas de cálculo eram as que deixavam os alunos mais apreensivos.

Cada professor tinha sua personalidade, e as aulas seguiam o ritmo deca um deles. Um dos mais consultados pela mídia nacional, tinha uma personalidade despojada, a ponto de em um dia muito quente ir dar aula de bermuda. Isso não tirava sua credibilidade e respeito. Um contraste, com o passado quando os alunos assistiam as aulas de terno e gravata!

O aluno formado pela ESALQ é comum sair com vários convites de empresas para trabalhar, foi o seu caso?

Tudo depende do foco do profissional. No meu caso em particular eu estava me dedicando bastante no estágio e visualizava seguir a carreira acadêmica, queria fazer mestrado e doutorado, não procurei emprego, surgiram algumas oportunidades, mas nem me inscrevi, eu estava focado em acabar a graduação e ir para o mestrado. A seguir fiz o doutorado. Um fato que me incentivou a seguir essa carreira também. Durante a minha graduação eu estudava durante o dia na ESALQ, morando em Piracicaba eu tinha que manter, meu pai funcionário público, minha mãe cabeleireira, ambos em Tietê. Comecei a procurar maneiras de obter recursos para minha manutenção. Naquela época, saia no Jornal de Piracicaba, geralmente no final de fevereiro, início de março, atribuições de aulas em escolas públicas. Começa o ano letivo e sempre havia falta de professor, a Delegacia de Ensino publicava uma coluna no Jornal de Piracicaba: Atribuições de Aulas. Eu queria lecionar Biologia, estava no meu sangue. Não conseguia aula de biologia, conseguia aula química, peguei muitas aulas de química, isso foi em 1989, eu estav entre o segundo a terceiro ano da Agronomia, eu er um menino, tinha entre 19 e 20 anos. Consegui aula de química na Escola Estadual Professor Elias de Mello Ayres, a diretora era Sueli Di Lellis, me entrevistou, eram aulas todos os dias a noite, para o Curso Colegial. Passei a dar aulas todos os dias a noite, era uma pilha enorme de cadernetas de classe! Eu nunca tinha dado aula na minha vida, fui com a cara e com a coragem. No começo foi muito difícil, mas eu fui pegando o traquejo. Peguei o jeito para dar aula. Com isso cheguei a conclusão de que gostava de ensinar, fazer pesquisa. Conclui que o meu futuro era trabalhar na academia. E dali para frente, mestrado, doutorado. Antes de terminar o doutorado, apareceu um concurso, para professor temporário na Universidade Estadual de Londrina em junho de 1998. Fiz o concurso, passei, não tinha acabado o doutorado. Só fui acabar em outubro de 1988, Fui contratado mesmo sem o doutorado.

Que matéria você lecionava?

Comecei a dar aulas de Fitopatologia na Universidade Estadual de Londrina para o curso de Agronomia. E comecei a dar aulas na pós-graduação, a minha área de pesquisa bem focada mesmo é meu trabalho com fungos que causam doenças em plantas. Como era temporário, eles renovavam até dois anos no máximo, abriu o concurso, prestei e entrei como Professor Efetivo na UEL, eu já tinha concluído ocurso e o doutorado aqui. Entrei lá como Professor Doutor, fiquei apenas um ano. Apareceu o concurso na ESALQ. Fiz, passei, pedi a exoneração lá.

Na ESALQ qual é a sua titulação atual?

Sou Professor Associado. Não sou Titular ainda. Ma ESALQ temos três categorias: Doutor, Associado e Titular. Para ,ir de Doutor para Associado é mérito do docente. Para Titular é necessário vir a vaga através do governo. Tem que esperar ter a vaga, os que estão aptos a concorrer se inscrevem.

A sua especialidade são fungos fitopatogênicos, como podemos definir de outra forma essa especialidade?

Em uma analogia bem tupiniquim, o ser humano tem alguns tipos de micoses, na pele, na unha, são doenças causadas por fungos no ser humano. A planta também tem doenças causadas por fungos. Existe fungos que atacam plantas. São muitos. Provocam um tipo de doença e reduzem a produção da planta. Por exemplo uma plantação de milho atacada por fungo fitopatogênico produz menos milho. Nós estudamos essas doenças, estudamos o agente causal e desenvolvemos estratégias para combater esse fungo, controlar a doença. É basicamente isso o que eu faço, porque trabalho com fungos. Não são só fungos que causam doenças em plantas, tem doenças em plantas causadas por bactérias, por vírus, por nematoide no solo. Enfim, essa matéria é denominada fitopatologia. Dentro dessa matéria me especializei em doenças causadas por fungos.

As plantas transgênicas são isentas de doenças?

Cada planta transgênica é resistente a alguma coisa. Normalmente tem pouquíssimas plantas transgênicas resistentes a doença. Mas tem muitas plantas transgênicas resistentes a pragas. Tem que ser feita uma separação. Doença é causada por micro-organismo: vírus, bactérias, fungos. Pragas, geralmente são os insetos. Que infestam a planta e comem ou sugam a planta. Para os insetos já existem muitas plantas modificadas geneticamente, portanto plantas transgênicas, que são resistentes a pragas. A doenças, são pouquíssimos casos por enquanto, estão tentando com a ferrugem da soja, que é um problema sério, não tem sucesso ainda. São plantas resistentes normalmente a pragas.

Pelas informações mais recentes, há uma grande procura da mídia pela sua opinião em determinados temas, qual é a razão desse interesse enorme pelas suas pesquisas?

Eu estou como Diretor Presidente da FEALQ – Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz. Ela faz um elo com a iniciativa privada, para desenvolvimento de pesquisas. Ela trabalha com ensino, pesquisas e extensão. A FEALQ gerencia cursos voltados ao agronegócio. Inclusive EAD, ensino a distância. Ela capta recursos na iniciativa privada, coisa que a ESALQ não pode fazer. Por exemplo, um grande grupo ligado a cana-de-açúcar, tem um problema de praga que está atacando a cana-de-açúcar, que não tem solução, Eles pedem ajuda para a ESALQ, identificamos internamente quem poderá resolver esse problema, a FEALQ faz um contrato com a empresa interessada, que por sua vez irá propiciar recursos financeiros para a pesquisa e solução desse problema. A ESALQ não pode receber esses recursos. A FEALQ sim, ela cobra uma taxa, em torno de 10% para manutenção da própria estrutura da FEALQ, e gerencia esses recursos voltados à própria pesquisa. Trabalhamos com projetos de pequeno porte até projetos de grande porte. Fazemos toda parte burocrática, legal, damos amparo jurídico, para que esses contratos comecem, se desenvolvam e terminem a contento. A FEALQ é uma instituição pública de direito privado. Ela não pode ocupar um prédio dentro de uma instituição pública. Portanto, ocupa área própria, fora das dependências da ESALQ. A sede dela fica na Avenida Centenário, ao lado da ESALQ.

O motivo da intensa movimentação midiática gira em torno da FEALQ?

Na FEALQ estamos na campanha de credenciamento de laboratórios para ajudar o agronegócio nessa crise do COVID-19. Já credenciamos um laboratório em Pirassununga, na realidade a ideia foi do grupo de Pirassununga, eles trabalham na Faculdade de Medicina, com amostras de animais, eles adaptaram o laboratório para fazer testes da COVID-19 no ser humano. E pediram ajuda para a FEALQ gerenciar os recursos e dar amparo jurídico. Aproveitamos essa ideia e estamos fazendo esse mesmo procedimento no CENA – Centro de Energia Nuclear na Agricultura.

Qual é a relação entre a FEALQ e a COVID-19?

A FEALQ dá amparo para o ensino e pesquisas no agronegócio. Nesse momento de isolamento vários serviços pararam. Um serviço que não pode parar de forma alguma é abastecimento de alimentos. Estamos preocupados com esse contingente de trabalhadores que estão produzindo e distribuindo alimentos. Se parte dessas pessoas se infectam e nada é feito, elas continuam trabalhando, elas vão infectando mais pessoas, entra no colapso. Podemos fechar frigoríficos, como aconteceu nos Estados Unidos, vários frigoríficos fechando porque os trabalhadores se contaminaram com o Coronavírus, nada era feito, eles não eram afastados. Não eram nem detectados. Chega uma hora que não tem mais ninguém para trabalhar. A planta daquele frigorífico é fechada. É isso que não podemos deixar acontecer aqui! O nosso foco é testar essas pessoas que estão trabalhando na produção e distribuição de alimentos. Estamos tentando captar recursos da iniciativa privada para a adaptação desses laboratórios e para fazer os testes. A FEALQ funciona como uma antena parabólica para captar isso, para proporcionar esse credenciamento e esses testes.

Está havendo uma colaboração estreita entre a atividade agronômica e a medicina?

Nós não temos médicos aqui. Esses testes são compostos por técnicas moleculares onde detectamos o material genético do vírus. Isso não é novidade, não é complicado, temos laboratórios aqui que tem todo equipamento e pessoas treinadas para fazer isso. Não fazem na área médica, mas fazem na área animal. O que estava faltando é adaptarmos para trabalharmos com amostras de ser humano. Para isso é necessário credenciamento junto ao Ministério da Saúde, nesse momento de pandemia o Ministério da Saúde deu uma flexibilidade ´para que outros laboratórios, que não são da área médica, ajudem nesse momento. Desde que tenham expertise. É isso que nós estamos fazendo. O laboratório que não trabalha e não vai mais trabalhar na área médica, conseguimos adaptar, para atender nesse momento delicado. É um laboratório que não queremos concorrer com a área de saúde. Só estamos emprestando a força que nós já temos para ajudar nesse momento. Para fazer isso tem que passar por todo credenciamento necessário: Vigilância Sanitária, Ministério da Saúde e Instituto Adolfo Lutz. Se todos eles, após as inspeções, nos derem esse alvará, começaremos a trabalhar sem nenhum problema.

Em relação a CONAVID-19, é difícil afirmar taxativamente quais direções seguir?

A cada hora recebemos uma informação, e ficamos sem saber aonde se agarrar. Procuro seguir o que é mais científico, mais técnico. Temos a opinião de Epidemiologistas famosos dizendo que nesse momento é importante o afastamento. Mas ao mesmo tempo temos que manter a economia funcionando! É um paradoxo! Para algumas profissões, como a minha, não tem problema nenhum, já faz 60 dias que estou dando aulas a partir de casa, fazendo reuniões diárias com as pessoas que me envolvo, a partir de casa, não parei, pelo contrário, até estou trabalhando mais. Mas sabemos que existem setores que não podem fazer isso.

A seu ver é um divisor de águas esse período pelo qual estamos passando?

Não tenho dúvida de que é! Principalmente na questão de ensino a distância. Fomos pegos de calça curta! Tivemos que agirmos rapidamente para não deixar as coisas caírem. Tenho a certeza de que quando voltarmos ao convívio presencial irmos encontrar algumas dificuldades em cumprimentar dando-nos as mãos, abraçarmos, participamos de aglomerações, isso será um efeito psicológico que vamos sofrer logo no início do convívio presencial. Não tenho dúvidas de que nesse momento de crise foram desenvolvidas mitas tecnologias para amparar a situação. Um exemplo, antes da pandemia, esta entrevista seria presencial, hoje não é mais necessário, saíram tantas plataformas virtuais onde conseguimos conversar e termos a imagem do interlocutor. Muitas das minhas aulas eu não preciso ir até a ESALQ. Dou aulas da minha casa! Acordo, de pijama, coloco uma camisa, tomo meu café e passo a dar aulas de casa mesmo. Não preciso gastar combustível para ir até o trabalho, não correr risco no trânsito. Daqui para frente essa questão de videoconferências, reuniões virtuais, trabalho remoto, talvez volte um pouco, mas não vai voltar ao ponto que era antes.

 A qualidade do ensino presencial e o ensino virtual, é a mesma?

Perde qualidade. Ainda quando se trata de um grupo pequeno, ocorre a interação. Quando tratar-se de um grupo grande, o olho no olho é insubstituível. Dar aula olhando para uma tela de computador não ~e fácil! Você não vê a reação das pessoas. A parte prática é muito prejudicada. Estamos aguardando a volta presencial para ministrar as aulas práticas.

A enorme procura da mídia pela FEALQ e seus parceiros no tocante a CONAVID-19 como o senhor vê?

´´E natural. Trata-se do assunto do momento. Sou muito mais de ficar dentro de laboratório, analisar dados. Tenho acumulado outras atividades, estou Chefe do Departamento de Fitopatologia e Nematologia.

Você tem obras publicadas?

Tenho capítulos escritos nos dois manuais de fitopatologia. Na minha área de pesquisa a informação mais rápida não é vi livro, é via trabalhos publicados em periódicos internacionais científicos, tudo em inglês, nessa área de ciências, a linguagem universal é o inglês.

Qual é sua visão sobre a posição global do Brasil após a pandemia?

O Brasil terá a seu favor sem dúvida alguma o agronegócio! Nossa missão é ser abastecedor de alimentos, essa é a vocação do nosso país. Somos privilegiados, temos a melhor escola de agronomia abaixo da Linha do Equador.  A ESALQ é a quinta escola de agronomia do mundo. Nossa vocação é produzir alimento para o mundo. O nosso território que dava par ocupar com agronomia já está ocupado, não podemos mexer em mata. O que pode ser feito é melhorar a produção dentro da mesma área. A ESALQ, a EMBRAPA, estamos fazendo isso.

Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (1991), mestrado em Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (1994), doutorado em Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (1998) e Pós-Doutorado em Fitopatologia pela Technische Universität München, Alemanha (2010). Foi professor de Fitopatologia na Universidade Estadual de Londrina entre 1998 e 2002. Desde 2002 é professor na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo nas áreas de fitopatologia (graduação) e fungos fitopatogênicos (pós-graduação). É assessor de instituições de fomento (CNPq, FAPESP, FAPDF) e assessor ad hoc em diversos periódicos científicos nacionais e internacionais. Desenvolve projetos na área de detecção, caracterização, identificação, variabilidade e ultraestrutura de fungos fitopatogênicos, especialmente do gênero Colletotrichum. Tem experiência nas Microscopias Eletrônicas de Transmissão e Varredura aplicadas ao estudo de fungos. Coordena o grupo "Biologia e patogenicidade de Colletotrichum"

 

IRINEU EVERSON MUNHOZ

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de julho de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

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ENTREVISTADO: IRINEU EVERSON MUNHOZ


Piracicaba é uma cidade que surpreende pela qualidade e quantidade de grandes profissionais, nem sempre muito conhecidos na própria cidade, mas de renome nacional e internacional. O fotografo profissional Irineu Everson Munhoz é um desses casos. Por muitos anos realizou fotografias para a chamada grande mídia, conviveu com pessoas de renome internacional, sem deixar se levar pelo glamour natural nesses ambientes. Com 32 anos de profissão, morou por 16 anos em São Paulo, até hoje é procurado por grandes empresas paulistanas. Quando voltou para Piracicaba, fez alguns trabalhos para “A Tribuna Piracicabana”, na época a diretora responsável por esse setor era a jornalista Astir Valim Vicente.

Você é natural de Piracicaba?

Nasci aqui em Piracicaba, no dia 26 de julho de 1966. Sou filho de Irineu Munhoz Perez e Helena Luzia Berno Munhoz Perez, que tiveram mais dois filhos: Adriana e Marcelo. Meu pai exerceu diversas atividades, foi carpinteiro, trabalhou na Cooperativa da Mausa S/A Equipamentos Industriais e atualmente faz manutenção em máquinas de lavar roupas.

Ele continua trabalhando?

Com 78 anos continua trabalhando!

Você fez seus estudos em qual escola?

Inicialmente na Escola Estadual Professor Augusto Saes depois fui para a Escola Estadual Sud Mennucci de Piracicaba, onde conclui o curso colegial. A seguir, em 1983, fui para São Paulo. Eu queria ser fotógrafo. Meu objetivo era o de fazer o curso de Publicidade e Propaganda. Fiz o Cursinho Objetivo, no prédio da Gazeta, na Avenida Paulista. Fiz o vestibular, entrei na ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing. Tida como uma das melhores no segmento, o seu custo sempre foi proporcional. Eu tive que fazer a opção: ou estudava ou me alimentava. Havia a possibilidade de assistir as aulas sem pagar, porém, isso não dava o direito a fazer as provas e obter o diploma. É o chamado “aluno assistente”.

Você trabalhava?

Comecei a trabalhar aos 14 de idade no Banco do Brasil de Piracicaba, era “menor-aprendiz”. Do Banco do Brasil fui trabalhar no Banco Nacional, lá eu pedi transferência para São Paulo, fui trabalhar em uma agência na Vila Mariana. Trabalhei em banco muitos anos até arrumar um emprego na Paranapanema Mineradora. Eu queria mudar de área, além do salário ser melhor. Tanto o Banco Nacional como a Mineradora Paranapanema ficavam na Avenida Paulista, próximo ao Trianon. Sai da Paranapanema e fui trabalhar em um laboratório fotográfico de propriedade de Edu Oliveira. Trabalhei um ano de graça no estúdio, vendia Natura, uma série de produtos para as modelos que estavam no estúdio para poder pagar minhas despesas e poder aprender. Comecei a revelar, trabalhar no laboratório, trabalhava durante o dia no estúdio para revelar a noite no laboratório.

Você pegou a época em que se usava filme nas máquinas fotográficas, diferente das atuais digitais.

Como eu não ganhava salário, as vezes sobrava um filme eu ganhava, para ir treinando. Muitas vezes sobrava um filme de algum trabalho ele me dava, Eu emprestava o equipamento dele, Eu chegava no estúdio umas seis horas da manhã, montava, fazia umas fotos, as nove horas da manhã eu fazia as coisas dele.

Vocês atuavam em diversas áreas, inclusive de modelos?

Ah! Sim! Fazíamos todo tipo de foto que exigisse qualidade. Fizemos a capa do disco do Paulo Ricardo, fotografamos Luciana Vendramini, Adriana Galisteu.

Faziam fotos de nus artísticos?

Essas fotos eram para propaganda de lingerie. Mais tarde fui trabalhar na Playboy, lá eu ajudava, não trabalhei com o famoso Duran, mas o conheci. Para a Playboy fiz umas fotos de publicidade, e antigamente tinha a “coelhinha” eram uma ou duas fotos de meninas que queriam ficar famosas.

Essas fotos eram com roupa ou sem roupa?

Das duas formas.

Para a modelo, ficar sem roupa não deve ser agradável, como o fotógrafo trabalha com isso?

No estúdio está o fotógrafo, o assistente, o maquiador, a produtora, fica muita gente, cada um em uma função, na realidade a modelo é encarada como um produto, todo mundo tem que fazer o seu trabalho. A fotografia publicada na revista passa por uma edição, ou seja, a modelo não é exatamente o que a fotografia mostra. Há casos célebres de “beldades” que passaram por primorosas edições de computador. Muitas horas foram gastas para editar, corrigir imperfeições de toda ordem. É o tratamento dado a um produto!  Com relação a modelo, procura-se passar um clima de muito profissionalismo e tranquilidade. Ela tem que saber que é um trabalho onde todos se respeitam.

Você tem alguma fotografia que o deixou marcado junto ao público?

Fiz várias fotografias marcantes, trabalhei muito com estilo, com publicidade, Fiz muita coisa. Teve fotos que eu mais gostei. Por exemplo, fiz um trabalho com a XUXA (Maria da Graça Xuxa Meneghel) era um trabalho para o Hospital do Câncer, ela valorizou o meu trabalho.

O que você achou da Xuxa como pessoa?

Bem tranquila. Como pessoa ela parece uma menina assustada! Ela é retraída, recatada. Não é uma pessoa expansiva.

Convivendo nesse nível, você teve rendimentos financeiro consideráveis?

Tive um bom padrão de vida, mas nada de luxuoso. Em uma oportunidade, fiz catálogos da AVON, eles remuneram com base no valor do dólar, eu trabalhei tanto que fiquei até doente. Eu nem dormia. O dinheiro que ganhei gastei me tratando!  Fazia o catalogo da AVON, daqui e da Bahia. Uma vez uma revista do Canadá a Toronto Magazine me ligou, era para fazer fotografias da Suíte Presidencial do Copacabana Palace, fizemos as fotos, inclusive a noite, sei que no fim eu acabei dormindo na suíte presidencial! Quem me viu saindo da suíte presidencial deve ter imaginado que eu era muito importante!

A fotografia proporcionou-lhe uma vida muito interessante?

Foi interessante! Com seus altos e baixos! Em São Paulo morei em vários bairros: Zona Norte, Bixiga, Liberdade.

Quando você morava em São Paulo era solteiro?

Era solteiro. Comecei a perceber que passava em torno de seis horas por dia, dentro de um carro, em função do trânsito. Pensei que não queria aquilo para mim e se um dia fosse casar ia querer que meus filhos subissem em árvore.  Na época namora uma moça de Piracicaba, que veio a ser minha esposa. Ela era química e depois decidiu pela Terapia Corporal. Ela atua na área.

Sou casado com Miriam Volpato, temos três filhos: Yacco, Mindy e Megara.

Mesmo em Piracicaba, você manteve seus contatos de trabalho em São Paulo?

Continuei trabalhando em São Paulo. Ia para lá e voltava à Piracicaba. A Editora Planeta por exemplo, eu fazia muitas fotos dos colecionáveis deles. Quando não achava um estúdio, alugava um quarto em um hotel e trabalhava no quarto do hotel. Trabalhava a noite, às vezes, em função dos flashes vinha algum funcionário do hotel perguntar se estava tudo bem. Imaginavam que estava dando curto-circuito no meu quarto.

Em termos de remuneração, Piracicaba não tinha como competir com São Paulo?

No interior a remuneração é menor. E o que eu fazia em São Paulo, aqui tinha muito pouco. Eram poucas agências de publicidade eu não conseguia me adaptar com o valor foi quando descobri que em Piracicaba havia muita gente que fazia eventos. Passei a fazer eventos. Comecei a ter muito trabalho aqui, montei um estúdio em Piracicaba. Hoje em decorrência da pandemia estou trabalhando no sistema Home Office. Tinha meu estúdio na Avenida Itália, o pessoal que estava comigo saiu, eu não ia ficar sozinho.

Você fez muitas fotos para grades companhias?

Entre ela fiz para a Nestlé (Yopa). Cristais Baccarat. Fiz para a H.Stern um catalogo de um relógio de safira, tinha o formato oitavado, Levei uns 20 dias para fazer uma foto. Quase fiquei doido. Na época não tinha os recursos de informática. Fui fazer umas fotos do Cristal Baccarat fiquei deslumbrado com a beleza de tudo. Na época cobrei um valor compatível com o requinte do produto. Nessa época eu estava namorando, íamos casar, embora encantado com as belezas das peças, não imaginava que se tratava de produto para alguns afortunados, peguei umas taças, um jogo de pratos, um jogo de cristal para espumante. Eram coisas bonitas que peguei na promoção. Apesar de ter cobrado um bom valor pelo meu trabalho, quando fui acertar as contas, descobri que a minha pequena fortuna não dava para pagar o que eu tinha comprado! No final acertamos tudo, recebi um desconto e vim para casa, com o Cristal Baccarat e sem dinheiro pelo trabalho realizado!

Para efeitos fotográfico, o cristal dá muitos reflexos?

Tem muitos reflexos, transparência tem que fotografar com fundo de contraste e só com luvas.

Todo fotografo tem uma marca de equipamento preferida. Você pode dizer a sua?

Hoje eu uso tudo Nikon. Câmera, lentes, flash. Existe máquinas que tornarem-se ícones. Uma delas, cuja fábrica foi fundada em 1913, é a Leica (Pronuncia-se “Laika”) é produzida por uma empresa alemã, fabricante de produtos óticos e equipamentos para vídeo e fotografia. Destaca-se pelas câmeras e lentes de alto padrão, que muitas vezes são confeccionadas manualmente. Ganhou visibilidade mundialmente nos anos 50, nas mãos de Henry Cartier-Bresson, um dos ícones mais conhecidos da história da fotografia que utilizou somente uma câmera Leica “Rangefonder” e uma lente 50 milímetros durante praticamente toda sua vida como fotografo. Sebastião Salgado também usa algumas lentes Leica. Eu imagino que possa ter existido pessoas que achavam que se utilizassem equipamentos de fotógrafos famosos também iriam ficar famosos. Como certa vez um professor citou: “Alguns pesquisadores afirmaram que no cachimbo que Shakespeare usava tinha sinais de  cannabis. Logo, se para ser genial como foi Shakespeare é só usar cannabis, a sua chance de transformar-se em um viciado é milhares de vezes maior do que tornar-se um gênio”.

As pessoas questionam muito a respeito de qualidade de máquina fotográfica?

Perguntam se a minha máquina é profissional. Respondo: “Minha máquina é boa! Profissional é quem estuda, minha máquina não estuda! Quem estuda é o profissional, ele fica atrás da máquina, a máquina nunca irá ser boa profissional, ela tem sim seus recursos, inclusive ela não raciocina, se você disser a ela o que ela tem que fazer, ela não faz! “ Não existe máquina profissional, existe o profissional que fica atrás da máquina! ”

Atualmente você trabalha com qual modelo?

Com uma D-750.

Essas máquinas vêm só com o “corpo”. Depois existe um tipo de lente para cada objetivo que a pessoa pretende. Para quem está começando, qual modelo de que você recomenda?

Essa é uma questão que depende do que a pessoa deseja fazer. Uma boa lente, com qualidade e preço baixo é uma lente de 35 milímetros.

Sabemos que além dos apaixonados por fotografias, existem escolas de publicidade onde o aluno tem que praticar. A opinião de um profissional do seu nível é muito valiosa, mesmo porque você não comercializa equipamentos!

O iniciante pode ter um equipamento de qualidade, e a medida em que aprimorar seus estudos, tendo recursos, pode ir adquirindo equipamentos que irão aperfeiçoar sua técnica.

 

A seu ver, para o iniciante, qual é o melhor programa de computador para tratar imagens fotográficas?

Tanto para o iniciante como quem já tem experiência, considero dois programas: Lightroom e Photoshop, os dois são da Adobe.

Tem muita gente que tem o Photoshop instalado, mas não tem nem o conhecimento básico. Você acredita que pode proporcionar um curso a respeito?

Posso.

Há cursos, porém com o objetivo de vender um equipamento ou acessório de maior valor. O objetivo é vender.

Assim como existem cursos que se prolongam sem sentido, tirando o foco do aluno.

O piracicabano gosta de registrar em fotografias pessoas, famílias, passeios, lugares, eventos. As fotos amadoras com celulares é uma prova disso.

Você faz fotos de casamentos?

Faço! Bastante ainda!

É muito rentável?

Já foi. Com a pandemia quantos casamentos serão realizados? Hoje há muitos fotógrafos que se dedicam a fotografar casamentos. Dos mais antigos ficaram os teimosos, inclusive eu. Na realidade, temos que estar sempre reciclando, com equipamentos mais avançados, ou perde-se o espaço,

Você conheceu Sebastião Salgado?

Conheci em Curitiba, em uma bienal de fotografia.

O que você acha da opção dele em fazer fotos em preto e branco?

Ele gosta muito. Na verdade, ele até brinca dizendo que as cores o confundem. Quando você faz foto em preto e branco, acaba vendo só a luz. Com isso você consegue um controle melhor de luminosidade. Alguns eventos que vou fotografar, fotografia em preto e branco, passam a ter cor quando passo para o computador.

Quando você fotografa casamento tem que levar mais alguém junto?

Hoje sim! Criou-se um protocolo muito grande em casamentos, que hoje você precisa de uma equipe boa. Tem que haver uma sintonia muito boa, sempre vai ter alguém que estará fotografando onde você não pode estar. Antigamente não tinha isso, mas hoje se faz as fotos do noivo se arrumando e da noiva se arrumando. Como não dá para fotografar os dois ao mesmo tempo, você coloca um profissional para ajudá-lo. Digo que é a síndrome do Batman e Robin! O casamento foi agregando protocolos, coisas que foram sendo criadas, para ficar uma cerimônia mais bonita, é a economia de consumo. Temos muito mais passos, mais coisas do que era antigamente. Da mesma forma as pessoas pedem muito mais do que antigamente. Antigamente o casal ia até o estúdio, fazia uma fotografia vestidos a caráter, e pronto, ia para o porta-retratos. Depois vieram as fotografias de casamento, o álbum de casamento, até chegar os dias de hoje, onde temos um álbum com fotos que parecem um livro impresso, escrevem no livro com letras impressas. Começamos com uma foto em estúdio, passou para uma dúzia de fotos, quando estava com filme chegava a fazer 400 fotos de um casamento. Hoje em um casamento você faz mais de 6.000 fotos! Tem alguns profissionais que chegam a fazer 10.000, 20.000 fotos de um casamento!

A noiva vai escolher quantas, em média?

Quando você faz muitas fotos, muitas coisas ficam quase que repetidas, é feita uma pré-seleção, e você só manda as melhores para a noiva escolher, geralmente são mandadas umas 1.000 fotos, ela escolhe umas 100 fotos.

Quando termina o casamento, geralmente o fotógrafo está muito cansado?

Diversos fatores contribuem para isso, entre eles o fato de estar trabalhando de oito a dez horas, em pé. O nível de atenção é muito grande. Imagine se você perder a entrada da noiva na igreja? Você é um fotógrafo morto! Ela irá ficar decepcionadíssima! Imagine se na hora da troca de alianças você não tem fotos?

Você já publicou algum livro?

Não, mas tenho pensado em fazer um sobre histórias de casamento. Vivenciei muitas histórias inusitadas.

Existe alguma foto que você fez e tem predileção?

Senti muito a importância da fotografia quando fiz um projeto da Fundação Ilumina, algumas mulheres em tratamento, portadoras de câncer, era um book, fiz uma sessão de fotos para deixá-las bonitas, felizes. Muitas delas até hoje são minhas amigas. Para elas foi um momento maravilhoso. Algumas disseram que foi um incentivo para lutar pela vida.

 

 

 

 

domingo, agosto 02, 2020

FRANCISCO MENEGATTI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com 

Sábado 18 de Julho de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/ 

O entrevistado de hoje pelo jornalista João Umberto Nassif é Francisco Menegatti. Um dos donos do posto de combustíveis que foi um dos ícones em Piracicaba, o “Postão” ou Posto Menegatti.


ENTREVISTADO: FRANCISCO MENEGATTI

Piracicaba cresceu muito nas últimas décadas. Novas indústrias de porte propiciaram desenvolvimento em todas as áreas. Até algumas décadas quando alguém precisava saber um endereço, era muito fácil, bastava ter um ponto de referência. Os edifícios eram conhecidos pelos seus nomes Moro no “Edifício Rio Negro”, ou moro no “Edifício Romano”. No meado da década de 70 tínhamos em torno de 10 edifícios na cidade. Nem se sonhava com GPS. Tínhamos sim, pontos de referências: Catedral, Campo do XV, Escola Agrícola, Lar dos Velhinhos, Mirante. Antes de entrar na Rodovia Cornélio Pires, que passa por Tietê, bem próximo a pista tem o Posto Menegatti, hoje com outra razão social. Por ser o maior posto de combustível da cidade era mais conhecido como “Postão”. Era um ponto de referência de Piracicaba. Aqui cabe um complemento. Um conhecido empresário da cidade, teve um grande sucesso em um loteamento de alto padrão, feito na cidade. A seguir ele adquiriu uma área de terras próxima ao Postão. Construiu casas populares e colocou a venda, houve uma migração forçada das prostitutas, do Bairro Alto (Cano Frio).  Sem ter para onde ir elas alugaram ou compraram essas casas formando um reduto. Esse empresário disputava um cargo político com um membro de uma tradicional família de Piracicaba. Seu adversário não perdeu a oportunidade e denominou o bairro onde moravam as moças alegres, com o sobrenome do adversário. Assim a zona de meretrício passou a ser nominada com um derivativo do sobrenome do construtor da mesma. Por muito tempo os interessados nos serviços profissionais dessas senhoras recebiam a indicação: “Vai até o Postão, vira e segue em frente” Os hábitos e costumes foram mudando, até que um prefeito da época decidiu pôr fim naquilo, publicou no Jornal de Piracicaba quem esteve divertindo-se naquele local no dia anterior, publicou por dois dias o nome dos frequentadores. Extinguiu a freguesia. O “ Postão” continuou como referência geográfica até os dias atuais.

Francisco Menegatti nasceu a 23 de maio de 1937, no Bairro Campestre, em Piracicaba, filho de Fioravante Menegatti e Adelaide Zatarin. Francisco Menegatti casou-se com Maria De Liz Giuliani, tiveram quatro filhas: Rosangela, Sandra, Claudia e Eliane.

Quando o senhor nasceu os seus pais trabalhavam na agricultura?

Meu pai comprou o sítio em que moramos em 1935, em frente passava a estrada que ia para Laranjal Paulista. Para ir para Tietê tinha que ir até Laranjal Paulista, não havia a Estrada Cornélio Pires. Eu me lembro quando foi aberta essa estrada. Era tudo sítio: a fazenda da família Furlan, da família Montebelo, Rasgaram a estrada no meio das fazendas. Onde é o Postão era de propriedade da família Pupim. O Estado desapropriava, pagava e fazia a estrada. Antes de criarem a Estrada Cornélio Pires, quem ia para Tietê tinha que passar por Laranjal Paulista.

O senhor viu abrir a Estrada Cornélio Pires?

Vi! Naquele tempo abriram tudo com carrocinha e burro. Ali na baixada onde existe a empresa Tolotto os burros descarregavam as carrocinhas cheias de terra, estavam tirando de algum morro, assim era feita a terraplanagem: com carrocinhas. Era uma fila de carrocinhas que descia e subia. Carregavam as carrocinhas com a força do braço. Não havia máquinas. Tudo feito com picareta e pá! Os dois irmãos Tolotto que trabalhavam no DER Departamento de Estradas de Rodagem, como trabalhavam aqueles homens! Conheci o Brioschi, ele montou uma olaria de tijolo comum, depois passou a fazer o tijolo baiano. Agora mudou para a fabricação do bloco.

Que tipo de lavoura era cultivada na região do Campestre e arredores?

Era de café e eucalipto! O forte mesmo era lavoura de café. O Valentin, o Palmiro Bortoletto, o Luiz “Gigio” Bortoletto, a família Augustti, nós, todos tínhamos lavouras de café, era tudo cuidado pelos próprios donos, o Valentin Furlam tinha meeiro. O Palmiro Bortoletto também tinha meeiros. O Luiz Bortoletto também tinha meeiro. No nosso caso era apenas a nossa família que cuidava. Naquele tempo os homens trabalhavam muito.

Atualmente uma boa parte da mocidade está viciada em drogas, bebidas, e os que não tem vícios não tem disposição para trabalhar! Por isso nosso país está desse jeito, tem muita coisa errada. Uma parte dos empregados não têm interesse que a empresa em que trabalham se desenvolva. O empregado esquece que quem afunda primeiro é ele mesmo!

Com que idade o senhor começou a trabalhar?

Com seis anos comecei a ir para a roça. Usava Alpargatas Roda, a famosa “enxuga-pocinha” só fui usar sapatos na minha vida quando era já adulto.

O que o senhor fazia na roça, quando era ainda criança?

Eu comecei cedo na roça, colocava a semente de arroz, feijão, de milho que plantava nos riscos, naquele tempo cobria com terra empurrando com o pé. Carpia, coroava café, apanhava café. O que tinha que fazer, fazia! Naquele tempo era obrigado a fazer, os pais, queriam que os filhos ajudassem. Tinha que ajudar o pai, não tinha outro jeito.

O que é coroar o pé de café?

É tirar parte da terra embaixo do pé de café e embaixo fazer um “cordão” de terra. Depois apanhar e varre, para o café não esparramar.

O senhor frequentava a escola?

Fui para a escola com sete anos e meio. O quarto ano estudei no Bairro Chicó, mas propriamente não participei da aula, Só participei ativamente da aula durante a primeira semana. O diretor era Antônio do Amaral Mello, uma pessoa maravilhosa. Ele perguntou para a professora qual era o melhor aluno, ela disse: “-O Francisco! ”. Seu Antônio  disse: “Então, a partir de segunda feira ele vai comigo na horta!”. Eu já fazia horta em casa, entendia de tudo! Fiquei o ano inteiro na horta! Não ia para a aula.

A horta era para os alunos?

Era para os alunos da escola. Plantava de tudo: alface, almeirão, chicória, rabanete, beterraba, cenoura, agrião.

Os alunos tinham lanche?

Naquele tempo não. Quem levava lanche de casa tinha lanche, quem não levava não tinha.  Os professores almoçavam lá.

Qual era a distância da sua casa até a escola?

Aproximadamente uns três quilômetros. Ia a pé e pisando no barro quando chovia. Lembro-me de algumas professoras: Dona Amélia do Amaral, Dona Nercy, Dona Racy.

O trem parava ali?

Parava! Bem encostado a escola. As professoras, inspetor, diretor vinham todos de trem. Eles pegavam o trem na Estação da Sorocabana, onde hoje é o Terminal Urbano,

Quando fizeram a Estrada para Tietê era asfaltada?

Não! Era chão de terra! Depois de muito tempo é que foi asfaltada. O ônibus que ia para Rio das Pedras ia pelo Taquaral. Não havia a Estrada do CEASA, não havia a estrada que sai do anel viário em frente a Usina Santa Helena e vai para Rio das Pedras. Havia uma estradinha que passava pelo Bairro Chicó, passava pela fazenda do Furlan, era mais um “carreador”. Naquele tempo tinha pouca cana-de-açúcar plantada, era mais eucalipto. Depois que foi montada a Usina Santa Helena é que veio com força a plantação da cana. Até então, plantava-se arroz, milho, eucalipto, café, a terra é muito boa, terra vermelha, naquele tempo os italianos diziam que era terra “massapé”.

Na hoje Avenida Laranjal Paulista, antiga Estrada Laranjal Paulista, já tinha a “vendinha”?

Adiante da nossa casa, quando conheci a vendinha eu já estava com os meus cinco ou seis anos. Talvez até existisse já antes, só que naquele tempo criança não saia de casa. Meu pai não ia na venda, de jeito nenhum. Meu pai nunca foi de bar. E eu menos ainda, se ele não me levasse não tinha como ir. Havia o Bar do Antônio Bortoletto lá embaixo, e tinha o barzinho perto do campo de futebol.  Mais próxima de casa tem a Igreja Santo Antônio, depois é que foi feita uma mais distante um pouco, que é a Igreja Nossa Senhora Aparecida. Havia missa, celebrada pelos frades franciscanos. Era uma missa por mês. Não posso afirmar com certeza, mas acredito que fui batizado na Igreja dos Frades. Quando era moço frequentava a Igreja dos Frades.

Em frente a Igreja dos Frades havia um pastinho para os fiéis deixarem os cavalos, carrinhos?

Onde hoje é um jardim, em frente a Igreja, era comum deixarem os cavalos, carrinhos, enquanto iam à missa. Havia naquela época, mais união e respeito. Um vizinho que abatia um porco, ele mandava aos vizinhos um pedaço, e era assim com quase tudo.

Nós tínhamos uma tramela puxada por um barbante pelo lado de fora da porta da sala, levantava o barbante, a tramela destravava. Saia, quando voltava estava tudo como havia deixado. Não havia nenhum problema.

Com a experiência de vida que o senhor tem, a seu ver, porque as coisas mudaram tanto?

Há uma série de fatores, nós vivíamos em um mundo de respeito, confiança, seguro. A meu ver o país não estava preparado para tantas mudanças. Hoje a violência é tolerada, as drogas invadiram todos os lugares, a impunidade e leis extremamente liberais para com o menor, uma grande parte dos políticos roubam sem o menor pudor e sem que sejam penalizados. Para muitos políticos roubar é um fato normal e generalizado em todos os escalões.

A seu ver, a televisão, hoje possivelmente o maior meio de diversão de uma faixa da população, é boa ou ruim?

A televisão tem coisas boas e tem coisas ruins. Como o telefone celular, a internet. Atualmente está difícil assistir televisão. Temos que filtrar, analisar, se de fato o que está sendo mostrado nos interessa. Não nos deixarmos ser levados por coisas ruins, inúteis. Assisto missa duas vezes por semana pela televisão. Para mim é bom. Reza-se o terço. Novelas eu não gosto. Filmes também não gosto. Assisto o programa de sorteio do SBT, onde gira uma roda dando prêmios. Tem músicas que eu gosto na Rede Vida, TV Aparecida. 

No tempo da juventude do senhor havia muitos bailes nas redondezas?

Havia os bailinhos sim! Tinha no Bortoleto, no outro barzinho, o pessoal fazia o palizado (cobertura provisória) no terreiro e íamos dançar lá. Havia muita educação.

O senhor trabalhou muito tempo na lavoura?

Trabalhei mais de 40 anos.

Lembra-se em que dia se casou?

(Seu Francisco solta uma gargalhada, ele sabe que isso jamais poderá esquecer).

Eu casei em 21 de dezembro de 1963! Casamos na Igreja dos Frades, A festa foi em casa. As festas da época eram muito diferentes das festas atuais. Era comum servir pão recheado com carne e molho. Doces eram o creme, cocada branca, cocada preta, queijadinha. Era o tempo em que o Martini fazia. Tempo do Agostinho Martini Neto, o Neguinho.

Na Rua Benjamin Constant esquina com a Avenida Independência havia um comércio?

Ali era o armazém do Nei Barbosa. Ele tinha o pátio na frente onde todo mundo amarrava os carrinhos para ir para o centro da cidade. Ele colocava uns paus em pé, uma trava em cima bem amarrada, amarrava os carrinhos ali. Bem mais tarde nessa esquina funcionou a Funerária Libório. O meu pai faleceu com 45 anos eu tinha 8 anos e meio. Conheci muita gente; José Nassif, Luiz Angeli, Romeu Gomes de Oliveira, Jaime Pereira, Abel Pereira, pai do Jaime. O Abel Pereira tinha sítio após o Monte Branco, nós compramos muita lenha dele, Ele teve carvoaria também.

Na época havia muitas olarias na região?

Tinha muitas olarias: do João Pupim, Julio Filetti, Bertolini, Francisco Filetti, Buriol, Franhani, nós tivemos olaria, o Gustinelli. Tinha uma fila de olarias. Acabou tudo, ficou só o Gustinelli.

O Ditoca era proprietário de sítio também?

Subindo a Avenida São Paulo, passando a antiga PANSA, do lado direito era tudo do Ditoca, plantava café, algodão. Na Rua Benjamin Constant onde hoje é o Shopping Paulistar, ali era a caieira do Felício Tozzi. Do lado esquerdo da Avenida São Paulo, próximo a Avenida 31 de Março tinha a caieira do Toninho Coelho. A Avenida 31 de Março era tudo brejo. Ali perto do Bairro Verde existia o Rancho Alegre, faziam bailes ali,

De quem o senhor adquiriu o “Postão”?

Adquirimos do Fleury Bottene, Artêmio Bottene, Leopoldo Dedini e Mario Guerra. Eles tinham adquirido dos Irmãos Galdi. Adquirimos dia 1º de fevereiro de 1967. Subimos lá com carroça, pá, enxada, forca, limpamos tudo.

Quem são os irmãos Menegatti que adquiriram o Postão?

O Luiz, Antônio, Alcides, Ivo e eu, Francisco. Cinco irmãos. Passamos a trabalhar, tinha quatro bombas de gasolina e duas de óleo diesel. Era descoberto, nós cobrímos. Quando chovia e tínhamos que entrar embaixo do caminhão para colocar óleo na bomba injetora era muito ruim.

Vocês montaram o restaurante lá?

O restaurante era movimentado por uma pessoa de fora que assumiu, até que o meu irmão Alcides assumiu o restaurante. Piracicaba inteira conhecia como “Postão do Menegatti”. A bandeira do posto era “Esso”.

Era mais fácil estabelecer o preço do combustível?

O governo comandava o preço. Era tudo muito rigoroso.

Tinha borracharia tambem?

Teve vários borracheiros. O Alcidinho foi desmontar um pneu, tirar o pneu da tração do caminhão, o interno estava estourado, Ele não murchou o pneu de fora, no último parafuso, quando ele foi soltar o pneu saíu, levantou o Alcidinho a uns 15 metros de altura. Ele morreu sem saber como. Uma pessoa que tocou a borracharia por muito tempo foi o pai do Delegado Dr. Emerson Gardenal, eu o conheço desde menino. É uma família de pessoas muito boas.

O senhor lembra-se que era comum andar com a carteira de trabalho no bolso?

Lembro-me! Se o indivíduo estivesse andando na rua sem ocupação era preso por vadiagem. E ninguém, mexia com ninguém porque o outro poderia estar armado. Naquele tempo jogávamos futebol, tratávamos nossos amigos de preto. Não podia dizer negro. Hoje mudou tudo, temos que falar negro, não podemos chamar de preto. Sempre tive bons amigos negros, nunca liguei para a cor da pele da pessoa.

Qual foi o seu primeiro carro?

Foi um fusquinha 1300cc, depois tive três Brasílias, comprei uma Belina, um Escort importado, tive dois Fiesta, hoje tenho um Celta.

Para abastecer o posto vocês tinham caminhão?

A Companhia mandava. Compramos um caminhão Ford 1978. Depois compramos um Mercedes-Benz, com esse caminhão por mais de 10 anos “puxei” combustível. Comprei um caminhão Cargo da Companhia, transportei combustível por mais doze anos.

É uma carga perigosa.

O caminhão tanque é mais perigoso vazio do que carregado. Vazio se der uma faísca ele explode inteiro. Comecei a dirigir com 14 anos, faz 69 anos que dirijo, não parei mais. Aos 14 anos comecei a dirigir o caminhão GMC, o Willadns (Vila), filho do Luciano Guidotti que trouxe, disse que éramos trabalhadores e pagávamos. Já era câmbio sincronizado. O Ford 1946 era com câmbio seco, Tinha que trocar a marcha no tempo certo. Senão não engatava. Luciano Guidotti foi um segundo pai que nós tivemos. Compramos o GMC dele, fomos pagando, em 1954  o Vila trouxe dois caminhões 350, pagamos.

O senhor nunca foi convidado para entrar para a política?

Fui convidado para ser vereador, nunca quis. 

Do que o senhor tem mais saudade?

Do tempo em que eu jogava bola! Eu era bom de bola! Meu pai tinha morrido, eu era o filho caçula, veio um pessoal de São Paulo, queriam me levar para treinar em times grandes. Eu tinha entre 13 a 14 anos. Eu jogava de meia-esquerda. Joguei 27 anos com a camisa 10!  Comecei no Campestre Futebol Clube. Eu jogava bem, dominava a bola, corria muito, chutava com os dois pés. Naquele tempo jogador de futebol tinha ganhos muito limitados. Fui muito amigo do Gatão. Do Ediarte. Os jogadores naquela época todos trabalhavam em algum ofício. Não havia dedicação integral ao futebol. O Ediarte era gerente da Caixa Econômica!

Antigamente havia comícios e os violeiros era uma forma de atrair o público. O senhor lembra-se de alguns cantadores?

Lembro-me sim de Pedro Chiquito, João Davi, Parafuso, Nhô Serra, tinha uma turma boa, cantavam muito na Sociedade Beneficente Treze de Maio. Cantavam cururu, eu ia muito lá.

O senhor sempre cuidou da sua saúde?

Sempre respeitei a mim mesmo. Uma cerveja já era o bastante. Nunca fumei, não tive vícios. O fato de ter perdido meu pai muito cedo, a minha mãe tinha o controle, era uma mulher autêntica, segura, rígida. Gostava de tudo certinho. Eu tinha que andar na linha, ou iria ser repreendido quando chegasse em casa. A melhor escola da vida é a vida. Aquele que vive e aprende dá valor à vida, Aquele que vive e não consegue aprender, a vida para ele não vale nada! A vida ensina principalmente quem procura o conhecimento da vida em si próprio. Temos sempre que olhar para trás. Não olhar para frente. Atrás de nós sempre tem aquele que está pior do que nós. Olhando para trás, valorizamos o que temos, e valorizamos o que cada um é. Se olharmos para frente não nos damos valor, porque sempre queremos mais do que temos. Tudo que possuímos nos é emprestado. Um dia, sem que se saiba quando, levamos a roupa do corpo e mais nada. Quem pensa em acumular riqueza está muito enganado. A ilusão de “eu sou” ou “eu tenho”!

O senhor foi muito amigo de Leopoldo Dedini?

Fui! Ele gostava muito de mim! Quando negociamos o posto fizemos amizade, Eu sempre tive livre acesso ao escritório dele na MAUSA. Conversava com ele, com Dorival de Toledo, Rodolfo da Silva, o Franzoni que tomavam conta. O Leopoldo era meu amigo, quando chegava cumprimentava, abraçava. Assim como era o Joaquim Mário Peres Ferreira dono da Pirasa. Eu entrava na Pirasa, ficava a vontade, (Francisco se emociona), essas coisas é o que conta na vida da gente, saber que transpiramos confiança. Tem certas coisas que só se acolhe dentro da honestidade da gente. Eu chegava no Banco do Brasil, o Paulo Mattos, irmão do Jairo Mattos, ele me levava até o cofre, abria e dizia: “-Menegatti dá uma olhada! ” O Brasil seria o país mais rico do mundo se tivesse administração e não tivesse roubo, como tem.

Qual é a solução?

Na nossa bandeira está a resposta: “ORDEM! ”/Na minha casa sempre houve ordem!

O senhor liderou a vinda da água e do esgoto no Campestre?

Em conjunto como SEMAE fizemos uma parceria, sem interferência de nenhum político, alguns tentaram creditar as benfeitorias em seu nome.

E a energia elétrica como foi?

A energia elétrica já faz muitos anos. Naquele tempo tínhamos a força que passava por dentro do sítio aqui. A Companhia Elétrica pediu para o meu pai se ele pagasse um pouquinho iam trazer a energia até nós. Só que meu pai não tinha recursos para isso. Mais tarde, nos conseguimos recursos e trouxemos a energia até nós.

 


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