sexta-feira, agosto 07, 2020

IRINEU EVERSON MUNHOZ

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de julho de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/

 
ENTREVISTADO: IRINEU EVERSON MUNHOZ


Piracicaba é uma cidade que surpreende pela qualidade e quantidade de grandes profissionais, nem sempre muito conhecidos na própria cidade, mas de renome nacional e internacional. O fotografo profissional Irineu Everson Munhoz é um desses casos. Por muitos anos realizou fotografias para a chamada grande mídia, conviveu com pessoas de renome internacional, sem deixar se levar pelo glamour natural nesses ambientes. Com 32 anos de profissão, morou por 16 anos em São Paulo, até hoje é procurado por grandes empresas paulistanas. Quando voltou para Piracicaba, fez alguns trabalhos para “A Tribuna Piracicabana”, na época a diretora responsável por esse setor era a jornalista Astir Valim Vicente.

Você é natural de Piracicaba?

Nasci aqui em Piracicaba, no dia 26 de julho de 1966. Sou filho de Irineu Munhoz Perez e Helena Luzia Berno Munhoz Perez, que tiveram mais dois filhos: Adriana e Marcelo. Meu pai exerceu diversas atividades, foi carpinteiro, trabalhou na Cooperativa da Mausa S/A Equipamentos Industriais e atualmente faz manutenção em máquinas de lavar roupas.

Ele continua trabalhando?

Com 78 anos continua trabalhando!

Você fez seus estudos em qual escola?

Inicialmente na Escola Estadual Professor Augusto Saes depois fui para a Escola Estadual Sud Mennucci de Piracicaba, onde conclui o curso colegial. A seguir, em 1983, fui para São Paulo. Eu queria ser fotógrafo. Meu objetivo era o de fazer o curso de Publicidade e Propaganda. Fiz o Cursinho Objetivo, no prédio da Gazeta, na Avenida Paulista. Fiz o vestibular, entrei na ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing. Tida como uma das melhores no segmento, o seu custo sempre foi proporcional. Eu tive que fazer a opção: ou estudava ou me alimentava. Havia a possibilidade de assistir as aulas sem pagar, porém, isso não dava o direito a fazer as provas e obter o diploma. É o chamado “aluno assistente”.

Você trabalhava?

Comecei a trabalhar aos 14 de idade no Banco do Brasil de Piracicaba, era “menor-aprendiz”. Do Banco do Brasil fui trabalhar no Banco Nacional, lá eu pedi transferência para São Paulo, fui trabalhar em uma agência na Vila Mariana. Trabalhei em banco muitos anos até arrumar um emprego na Paranapanema Mineradora. Eu queria mudar de área, além do salário ser melhor. Tanto o Banco Nacional como a Mineradora Paranapanema ficavam na Avenida Paulista, próximo ao Trianon. Sai da Paranapanema e fui trabalhar em um laboratório fotográfico de propriedade de Edu Oliveira. Trabalhei um ano de graça no estúdio, vendia Natura, uma série de produtos para as modelos que estavam no estúdio para poder pagar minhas despesas e poder aprender. Comecei a revelar, trabalhar no laboratório, trabalhava durante o dia no estúdio para revelar a noite no laboratório.

Você pegou a época em que se usava filme nas máquinas fotográficas, diferente das atuais digitais.

Como eu não ganhava salário, as vezes sobrava um filme eu ganhava, para ir treinando. Muitas vezes sobrava um filme de algum trabalho ele me dava, Eu emprestava o equipamento dele, Eu chegava no estúdio umas seis horas da manhã, montava, fazia umas fotos, as nove horas da manhã eu fazia as coisas dele.

Vocês atuavam em diversas áreas, inclusive de modelos?

Ah! Sim! Fazíamos todo tipo de foto que exigisse qualidade. Fizemos a capa do disco do Paulo Ricardo, fotografamos Luciana Vendramini, Adriana Galisteu.

Faziam fotos de nus artísticos?

Essas fotos eram para propaganda de lingerie. Mais tarde fui trabalhar na Playboy, lá eu ajudava, não trabalhei com o famoso Duran, mas o conheci. Para a Playboy fiz umas fotos de publicidade, e antigamente tinha a “coelhinha” eram uma ou duas fotos de meninas que queriam ficar famosas.

Essas fotos eram com roupa ou sem roupa?

Das duas formas.

Para a modelo, ficar sem roupa não deve ser agradável, como o fotógrafo trabalha com isso?

No estúdio está o fotógrafo, o assistente, o maquiador, a produtora, fica muita gente, cada um em uma função, na realidade a modelo é encarada como um produto, todo mundo tem que fazer o seu trabalho. A fotografia publicada na revista passa por uma edição, ou seja, a modelo não é exatamente o que a fotografia mostra. Há casos célebres de “beldades” que passaram por primorosas edições de computador. Muitas horas foram gastas para editar, corrigir imperfeições de toda ordem. É o tratamento dado a um produto!  Com relação a modelo, procura-se passar um clima de muito profissionalismo e tranquilidade. Ela tem que saber que é um trabalho onde todos se respeitam.

Você tem alguma fotografia que o deixou marcado junto ao público?

Fiz várias fotografias marcantes, trabalhei muito com estilo, com publicidade, Fiz muita coisa. Teve fotos que eu mais gostei. Por exemplo, fiz um trabalho com a XUXA (Maria da Graça Xuxa Meneghel) era um trabalho para o Hospital do Câncer, ela valorizou o meu trabalho.

O que você achou da Xuxa como pessoa?

Bem tranquila. Como pessoa ela parece uma menina assustada! Ela é retraída, recatada. Não é uma pessoa expansiva.

Convivendo nesse nível, você teve rendimentos financeiro consideráveis?

Tive um bom padrão de vida, mas nada de luxuoso. Em uma oportunidade, fiz catálogos da AVON, eles remuneram com base no valor do dólar, eu trabalhei tanto que fiquei até doente. Eu nem dormia. O dinheiro que ganhei gastei me tratando!  Fazia o catalogo da AVON, daqui e da Bahia. Uma vez uma revista do Canadá a Toronto Magazine me ligou, era para fazer fotografias da Suíte Presidencial do Copacabana Palace, fizemos as fotos, inclusive a noite, sei que no fim eu acabei dormindo na suíte presidencial! Quem me viu saindo da suíte presidencial deve ter imaginado que eu era muito importante!

A fotografia proporcionou-lhe uma vida muito interessante?

Foi interessante! Com seus altos e baixos! Em São Paulo morei em vários bairros: Zona Norte, Bixiga, Liberdade.

Quando você morava em São Paulo era solteiro?

Era solteiro. Comecei a perceber que passava em torno de seis horas por dia, dentro de um carro, em função do trânsito. Pensei que não queria aquilo para mim e se um dia fosse casar ia querer que meus filhos subissem em árvore.  Na época namora uma moça de Piracicaba, que veio a ser minha esposa. Ela era química e depois decidiu pela Terapia Corporal. Ela atua na área.

Sou casado com Miriam Volpato, temos três filhos: Yacco, Mindy e Megara.

Mesmo em Piracicaba, você manteve seus contatos de trabalho em São Paulo?

Continuei trabalhando em São Paulo. Ia para lá e voltava à Piracicaba. A Editora Planeta por exemplo, eu fazia muitas fotos dos colecionáveis deles. Quando não achava um estúdio, alugava um quarto em um hotel e trabalhava no quarto do hotel. Trabalhava a noite, às vezes, em função dos flashes vinha algum funcionário do hotel perguntar se estava tudo bem. Imaginavam que estava dando curto-circuito no meu quarto.

Em termos de remuneração, Piracicaba não tinha como competir com São Paulo?

No interior a remuneração é menor. E o que eu fazia em São Paulo, aqui tinha muito pouco. Eram poucas agências de publicidade eu não conseguia me adaptar com o valor foi quando descobri que em Piracicaba havia muita gente que fazia eventos. Passei a fazer eventos. Comecei a ter muito trabalho aqui, montei um estúdio em Piracicaba. Hoje em decorrência da pandemia estou trabalhando no sistema Home Office. Tinha meu estúdio na Avenida Itália, o pessoal que estava comigo saiu, eu não ia ficar sozinho.

Você fez muitas fotos para grades companhias?

Entre ela fiz para a Nestlé (Yopa). Cristais Baccarat. Fiz para a H.Stern um catalogo de um relógio de safira, tinha o formato oitavado, Levei uns 20 dias para fazer uma foto. Quase fiquei doido. Na época não tinha os recursos de informática. Fui fazer umas fotos do Cristal Baccarat fiquei deslumbrado com a beleza de tudo. Na época cobrei um valor compatível com o requinte do produto. Nessa época eu estava namorando, íamos casar, embora encantado com as belezas das peças, não imaginava que se tratava de produto para alguns afortunados, peguei umas taças, um jogo de pratos, um jogo de cristal para espumante. Eram coisas bonitas que peguei na promoção. Apesar de ter cobrado um bom valor pelo meu trabalho, quando fui acertar as contas, descobri que a minha pequena fortuna não dava para pagar o que eu tinha comprado! No final acertamos tudo, recebi um desconto e vim para casa, com o Cristal Baccarat e sem dinheiro pelo trabalho realizado!

Para efeitos fotográfico, o cristal dá muitos reflexos?

Tem muitos reflexos, transparência tem que fotografar com fundo de contraste e só com luvas.

Todo fotografo tem uma marca de equipamento preferida. Você pode dizer a sua?

Hoje eu uso tudo Nikon. Câmera, lentes, flash. Existe máquinas que tornarem-se ícones. Uma delas, cuja fábrica foi fundada em 1913, é a Leica (Pronuncia-se “Laika”) é produzida por uma empresa alemã, fabricante de produtos óticos e equipamentos para vídeo e fotografia. Destaca-se pelas câmeras e lentes de alto padrão, que muitas vezes são confeccionadas manualmente. Ganhou visibilidade mundialmente nos anos 50, nas mãos de Henry Cartier-Bresson, um dos ícones mais conhecidos da história da fotografia que utilizou somente uma câmera Leica “Rangefonder” e uma lente 50 milímetros durante praticamente toda sua vida como fotografo. Sebastião Salgado também usa algumas lentes Leica. Eu imagino que possa ter existido pessoas que achavam que se utilizassem equipamentos de fotógrafos famosos também iriam ficar famosos. Como certa vez um professor citou: “Alguns pesquisadores afirmaram que no cachimbo que Shakespeare usava tinha sinais de  cannabis. Logo, se para ser genial como foi Shakespeare é só usar cannabis, a sua chance de transformar-se em um viciado é milhares de vezes maior do que tornar-se um gênio”.

As pessoas questionam muito a respeito de qualidade de máquina fotográfica?

Perguntam se a minha máquina é profissional. Respondo: “Minha máquina é boa! Profissional é quem estuda, minha máquina não estuda! Quem estuda é o profissional, ele fica atrás da máquina, a máquina nunca irá ser boa profissional, ela tem sim seus recursos, inclusive ela não raciocina, se você disser a ela o que ela tem que fazer, ela não faz! “ Não existe máquina profissional, existe o profissional que fica atrás da máquina! ”

Atualmente você trabalha com qual modelo?

Com uma D-750.

Essas máquinas vêm só com o “corpo”. Depois existe um tipo de lente para cada objetivo que a pessoa pretende. Para quem está começando, qual modelo de que você recomenda?

Essa é uma questão que depende do que a pessoa deseja fazer. Uma boa lente, com qualidade e preço baixo é uma lente de 35 milímetros.

Sabemos que além dos apaixonados por fotografias, existem escolas de publicidade onde o aluno tem que praticar. A opinião de um profissional do seu nível é muito valiosa, mesmo porque você não comercializa equipamentos!

O iniciante pode ter um equipamento de qualidade, e a medida em que aprimorar seus estudos, tendo recursos, pode ir adquirindo equipamentos que irão aperfeiçoar sua técnica.

 

A seu ver, para o iniciante, qual é o melhor programa de computador para tratar imagens fotográficas?

Tanto para o iniciante como quem já tem experiência, considero dois programas: Lightroom e Photoshop, os dois são da Adobe.

Tem muita gente que tem o Photoshop instalado, mas não tem nem o conhecimento básico. Você acredita que pode proporcionar um curso a respeito?

Posso.

Há cursos, porém com o objetivo de vender um equipamento ou acessório de maior valor. O objetivo é vender.

Assim como existem cursos que se prolongam sem sentido, tirando o foco do aluno.

O piracicabano gosta de registrar em fotografias pessoas, famílias, passeios, lugares, eventos. As fotos amadoras com celulares é uma prova disso.

Você faz fotos de casamentos?

Faço! Bastante ainda!

É muito rentável?

Já foi. Com a pandemia quantos casamentos serão realizados? Hoje há muitos fotógrafos que se dedicam a fotografar casamentos. Dos mais antigos ficaram os teimosos, inclusive eu. Na realidade, temos que estar sempre reciclando, com equipamentos mais avançados, ou perde-se o espaço,

Você conheceu Sebastião Salgado?

Conheci em Curitiba, em uma bienal de fotografia.

O que você acha da opção dele em fazer fotos em preto e branco?

Ele gosta muito. Na verdade, ele até brinca dizendo que as cores o confundem. Quando você faz foto em preto e branco, acaba vendo só a luz. Com isso você consegue um controle melhor de luminosidade. Alguns eventos que vou fotografar, fotografia em preto e branco, passam a ter cor quando passo para o computador.

Quando você fotografa casamento tem que levar mais alguém junto?

Hoje sim! Criou-se um protocolo muito grande em casamentos, que hoje você precisa de uma equipe boa. Tem que haver uma sintonia muito boa, sempre vai ter alguém que estará fotografando onde você não pode estar. Antigamente não tinha isso, mas hoje se faz as fotos do noivo se arrumando e da noiva se arrumando. Como não dá para fotografar os dois ao mesmo tempo, você coloca um profissional para ajudá-lo. Digo que é a síndrome do Batman e Robin! O casamento foi agregando protocolos, coisas que foram sendo criadas, para ficar uma cerimônia mais bonita, é a economia de consumo. Temos muito mais passos, mais coisas do que era antigamente. Da mesma forma as pessoas pedem muito mais do que antigamente. Antigamente o casal ia até o estúdio, fazia uma fotografia vestidos a caráter, e pronto, ia para o porta-retratos. Depois vieram as fotografias de casamento, o álbum de casamento, até chegar os dias de hoje, onde temos um álbum com fotos que parecem um livro impresso, escrevem no livro com letras impressas. Começamos com uma foto em estúdio, passou para uma dúzia de fotos, quando estava com filme chegava a fazer 400 fotos de um casamento. Hoje em um casamento você faz mais de 6.000 fotos! Tem alguns profissionais que chegam a fazer 10.000, 20.000 fotos de um casamento!

A noiva vai escolher quantas, em média?

Quando você faz muitas fotos, muitas coisas ficam quase que repetidas, é feita uma pré-seleção, e você só manda as melhores para a noiva escolher, geralmente são mandadas umas 1.000 fotos, ela escolhe umas 100 fotos.

Quando termina o casamento, geralmente o fotógrafo está muito cansado?

Diversos fatores contribuem para isso, entre eles o fato de estar trabalhando de oito a dez horas, em pé. O nível de atenção é muito grande. Imagine se você perder a entrada da noiva na igreja? Você é um fotógrafo morto! Ela irá ficar decepcionadíssima! Imagine se na hora da troca de alianças você não tem fotos?

Você já publicou algum livro?

Não, mas tenho pensado em fazer um sobre histórias de casamento. Vivenciei muitas histórias inusitadas.

Existe alguma foto que você fez e tem predileção?

Senti muito a importância da fotografia quando fiz um projeto da Fundação Ilumina, algumas mulheres em tratamento, portadoras de câncer, era um book, fiz uma sessão de fotos para deixá-las bonitas, felizes. Muitas delas até hoje são minhas amigas. Para elas foi um momento maravilhoso. Algumas disseram que foi um incentivo para lutar pela vida.

 

 

 

 

domingo, agosto 02, 2020

FRANCISCO MENEGATTI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com 

Sábado 18 de Julho de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/ 

O entrevistado de hoje pelo jornalista João Umberto Nassif é Francisco Menegatti. Um dos donos do posto de combustíveis que foi um dos ícones em Piracicaba, o “Postão” ou Posto Menegatti.


ENTREVISTADO: FRANCISCO MENEGATTI

Piracicaba cresceu muito nas últimas décadas. Novas indústrias de porte propiciaram desenvolvimento em todas as áreas. Até algumas décadas quando alguém precisava saber um endereço, era muito fácil, bastava ter um ponto de referência. Os edifícios eram conhecidos pelos seus nomes Moro no “Edifício Rio Negro”, ou moro no “Edifício Romano”. No meado da década de 70 tínhamos em torno de 10 edifícios na cidade. Nem se sonhava com GPS. Tínhamos sim, pontos de referências: Catedral, Campo do XV, Escola Agrícola, Lar dos Velhinhos, Mirante. Antes de entrar na Rodovia Cornélio Pires, que passa por Tietê, bem próximo a pista tem o Posto Menegatti, hoje com outra razão social. Por ser o maior posto de combustível da cidade era mais conhecido como “Postão”. Era um ponto de referência de Piracicaba. Aqui cabe um complemento. Um conhecido empresário da cidade, teve um grande sucesso em um loteamento de alto padrão, feito na cidade. A seguir ele adquiriu uma área de terras próxima ao Postão. Construiu casas populares e colocou a venda, houve uma migração forçada das prostitutas, do Bairro Alto (Cano Frio).  Sem ter para onde ir elas alugaram ou compraram essas casas formando um reduto. Esse empresário disputava um cargo político com um membro de uma tradicional família de Piracicaba. Seu adversário não perdeu a oportunidade e denominou o bairro onde moravam as moças alegres, com o sobrenome do adversário. Assim a zona de meretrício passou a ser nominada com um derivativo do sobrenome do construtor da mesma. Por muito tempo os interessados nos serviços profissionais dessas senhoras recebiam a indicação: “Vai até o Postão, vira e segue em frente” Os hábitos e costumes foram mudando, até que um prefeito da época decidiu pôr fim naquilo, publicou no Jornal de Piracicaba quem esteve divertindo-se naquele local no dia anterior, publicou por dois dias o nome dos frequentadores. Extinguiu a freguesia. O “ Postão” continuou como referência geográfica até os dias atuais.

Francisco Menegatti nasceu a 23 de maio de 1937, no Bairro Campestre, em Piracicaba, filho de Fioravante Menegatti e Adelaide Zatarin. Francisco Menegatti casou-se com Maria De Liz Giuliani, tiveram quatro filhas: Rosangela, Sandra, Claudia e Eliane.

Quando o senhor nasceu os seus pais trabalhavam na agricultura?

Meu pai comprou o sítio em que moramos em 1935, em frente passava a estrada que ia para Laranjal Paulista. Para ir para Tietê tinha que ir até Laranjal Paulista, não havia a Estrada Cornélio Pires. Eu me lembro quando foi aberta essa estrada. Era tudo sítio: a fazenda da família Furlan, da família Montebelo, Rasgaram a estrada no meio das fazendas. Onde é o Postão era de propriedade da família Pupim. O Estado desapropriava, pagava e fazia a estrada. Antes de criarem a Estrada Cornélio Pires, quem ia para Tietê tinha que passar por Laranjal Paulista.

O senhor viu abrir a Estrada Cornélio Pires?

Vi! Naquele tempo abriram tudo com carrocinha e burro. Ali na baixada onde existe a empresa Tolotto os burros descarregavam as carrocinhas cheias de terra, estavam tirando de algum morro, assim era feita a terraplanagem: com carrocinhas. Era uma fila de carrocinhas que descia e subia. Carregavam as carrocinhas com a força do braço. Não havia máquinas. Tudo feito com picareta e pá! Os dois irmãos Tolotto que trabalhavam no DER Departamento de Estradas de Rodagem, como trabalhavam aqueles homens! Conheci o Brioschi, ele montou uma olaria de tijolo comum, depois passou a fazer o tijolo baiano. Agora mudou para a fabricação do bloco.

Que tipo de lavoura era cultivada na região do Campestre e arredores?

Era de café e eucalipto! O forte mesmo era lavoura de café. O Valentin, o Palmiro Bortoletto, o Luiz “Gigio” Bortoletto, a família Augustti, nós, todos tínhamos lavouras de café, era tudo cuidado pelos próprios donos, o Valentin Furlam tinha meeiro. O Palmiro Bortoletto também tinha meeiros. O Luiz Bortoletto também tinha meeiro. No nosso caso era apenas a nossa família que cuidava. Naquele tempo os homens trabalhavam muito.

Atualmente uma boa parte da mocidade está viciada em drogas, bebidas, e os que não tem vícios não tem disposição para trabalhar! Por isso nosso país está desse jeito, tem muita coisa errada. Uma parte dos empregados não têm interesse que a empresa em que trabalham se desenvolva. O empregado esquece que quem afunda primeiro é ele mesmo!

Com que idade o senhor começou a trabalhar?

Com seis anos comecei a ir para a roça. Usava Alpargatas Roda, a famosa “enxuga-pocinha” só fui usar sapatos na minha vida quando era já adulto.

O que o senhor fazia na roça, quando era ainda criança?

Eu comecei cedo na roça, colocava a semente de arroz, feijão, de milho que plantava nos riscos, naquele tempo cobria com terra empurrando com o pé. Carpia, coroava café, apanhava café. O que tinha que fazer, fazia! Naquele tempo era obrigado a fazer, os pais, queriam que os filhos ajudassem. Tinha que ajudar o pai, não tinha outro jeito.

O que é coroar o pé de café?

É tirar parte da terra embaixo do pé de café e embaixo fazer um “cordão” de terra. Depois apanhar e varre, para o café não esparramar.

O senhor frequentava a escola?

Fui para a escola com sete anos e meio. O quarto ano estudei no Bairro Chicó, mas propriamente não participei da aula, Só participei ativamente da aula durante a primeira semana. O diretor era Antônio do Amaral Mello, uma pessoa maravilhosa. Ele perguntou para a professora qual era o melhor aluno, ela disse: “-O Francisco! ”. Seu Antônio  disse: “Então, a partir de segunda feira ele vai comigo na horta!”. Eu já fazia horta em casa, entendia de tudo! Fiquei o ano inteiro na horta! Não ia para a aula.

A horta era para os alunos?

Era para os alunos da escola. Plantava de tudo: alface, almeirão, chicória, rabanete, beterraba, cenoura, agrião.

Os alunos tinham lanche?

Naquele tempo não. Quem levava lanche de casa tinha lanche, quem não levava não tinha.  Os professores almoçavam lá.

Qual era a distância da sua casa até a escola?

Aproximadamente uns três quilômetros. Ia a pé e pisando no barro quando chovia. Lembro-me de algumas professoras: Dona Amélia do Amaral, Dona Nercy, Dona Racy.

O trem parava ali?

Parava! Bem encostado a escola. As professoras, inspetor, diretor vinham todos de trem. Eles pegavam o trem na Estação da Sorocabana, onde hoje é o Terminal Urbano,

Quando fizeram a Estrada para Tietê era asfaltada?

Não! Era chão de terra! Depois de muito tempo é que foi asfaltada. O ônibus que ia para Rio das Pedras ia pelo Taquaral. Não havia a Estrada do CEASA, não havia a estrada que sai do anel viário em frente a Usina Santa Helena e vai para Rio das Pedras. Havia uma estradinha que passava pelo Bairro Chicó, passava pela fazenda do Furlan, era mais um “carreador”. Naquele tempo tinha pouca cana-de-açúcar plantada, era mais eucalipto. Depois que foi montada a Usina Santa Helena é que veio com força a plantação da cana. Até então, plantava-se arroz, milho, eucalipto, café, a terra é muito boa, terra vermelha, naquele tempo os italianos diziam que era terra “massapé”.

Na hoje Avenida Laranjal Paulista, antiga Estrada Laranjal Paulista, já tinha a “vendinha”?

Adiante da nossa casa, quando conheci a vendinha eu já estava com os meus cinco ou seis anos. Talvez até existisse já antes, só que naquele tempo criança não saia de casa. Meu pai não ia na venda, de jeito nenhum. Meu pai nunca foi de bar. E eu menos ainda, se ele não me levasse não tinha como ir. Havia o Bar do Antônio Bortoletto lá embaixo, e tinha o barzinho perto do campo de futebol.  Mais próxima de casa tem a Igreja Santo Antônio, depois é que foi feita uma mais distante um pouco, que é a Igreja Nossa Senhora Aparecida. Havia missa, celebrada pelos frades franciscanos. Era uma missa por mês. Não posso afirmar com certeza, mas acredito que fui batizado na Igreja dos Frades. Quando era moço frequentava a Igreja dos Frades.

Em frente a Igreja dos Frades havia um pastinho para os fiéis deixarem os cavalos, carrinhos?

Onde hoje é um jardim, em frente a Igreja, era comum deixarem os cavalos, carrinhos, enquanto iam à missa. Havia naquela época, mais união e respeito. Um vizinho que abatia um porco, ele mandava aos vizinhos um pedaço, e era assim com quase tudo.

Nós tínhamos uma tramela puxada por um barbante pelo lado de fora da porta da sala, levantava o barbante, a tramela destravava. Saia, quando voltava estava tudo como havia deixado. Não havia nenhum problema.

Com a experiência de vida que o senhor tem, a seu ver, porque as coisas mudaram tanto?

Há uma série de fatores, nós vivíamos em um mundo de respeito, confiança, seguro. A meu ver o país não estava preparado para tantas mudanças. Hoje a violência é tolerada, as drogas invadiram todos os lugares, a impunidade e leis extremamente liberais para com o menor, uma grande parte dos políticos roubam sem o menor pudor e sem que sejam penalizados. Para muitos políticos roubar é um fato normal e generalizado em todos os escalões.

A seu ver, a televisão, hoje possivelmente o maior meio de diversão de uma faixa da população, é boa ou ruim?

A televisão tem coisas boas e tem coisas ruins. Como o telefone celular, a internet. Atualmente está difícil assistir televisão. Temos que filtrar, analisar, se de fato o que está sendo mostrado nos interessa. Não nos deixarmos ser levados por coisas ruins, inúteis. Assisto missa duas vezes por semana pela televisão. Para mim é bom. Reza-se o terço. Novelas eu não gosto. Filmes também não gosto. Assisto o programa de sorteio do SBT, onde gira uma roda dando prêmios. Tem músicas que eu gosto na Rede Vida, TV Aparecida. 

No tempo da juventude do senhor havia muitos bailes nas redondezas?

Havia os bailinhos sim! Tinha no Bortoleto, no outro barzinho, o pessoal fazia o palizado (cobertura provisória) no terreiro e íamos dançar lá. Havia muita educação.

O senhor trabalhou muito tempo na lavoura?

Trabalhei mais de 40 anos.

Lembra-se em que dia se casou?

(Seu Francisco solta uma gargalhada, ele sabe que isso jamais poderá esquecer).

Eu casei em 21 de dezembro de 1963! Casamos na Igreja dos Frades, A festa foi em casa. As festas da época eram muito diferentes das festas atuais. Era comum servir pão recheado com carne e molho. Doces eram o creme, cocada branca, cocada preta, queijadinha. Era o tempo em que o Martini fazia. Tempo do Agostinho Martini Neto, o Neguinho.

Na Rua Benjamin Constant esquina com a Avenida Independência havia um comércio?

Ali era o armazém do Nei Barbosa. Ele tinha o pátio na frente onde todo mundo amarrava os carrinhos para ir para o centro da cidade. Ele colocava uns paus em pé, uma trava em cima bem amarrada, amarrava os carrinhos ali. Bem mais tarde nessa esquina funcionou a Funerária Libório. O meu pai faleceu com 45 anos eu tinha 8 anos e meio. Conheci muita gente; José Nassif, Luiz Angeli, Romeu Gomes de Oliveira, Jaime Pereira, Abel Pereira, pai do Jaime. O Abel Pereira tinha sítio após o Monte Branco, nós compramos muita lenha dele, Ele teve carvoaria também.

Na época havia muitas olarias na região?

Tinha muitas olarias: do João Pupim, Julio Filetti, Bertolini, Francisco Filetti, Buriol, Franhani, nós tivemos olaria, o Gustinelli. Tinha uma fila de olarias. Acabou tudo, ficou só o Gustinelli.

O Ditoca era proprietário de sítio também?

Subindo a Avenida São Paulo, passando a antiga PANSA, do lado direito era tudo do Ditoca, plantava café, algodão. Na Rua Benjamin Constant onde hoje é o Shopping Paulistar, ali era a caieira do Felício Tozzi. Do lado esquerdo da Avenida São Paulo, próximo a Avenida 31 de Março tinha a caieira do Toninho Coelho. A Avenida 31 de Março era tudo brejo. Ali perto do Bairro Verde existia o Rancho Alegre, faziam bailes ali,

De quem o senhor adquiriu o “Postão”?

Adquirimos do Fleury Bottene, Artêmio Bottene, Leopoldo Dedini e Mario Guerra. Eles tinham adquirido dos Irmãos Galdi. Adquirimos dia 1º de fevereiro de 1967. Subimos lá com carroça, pá, enxada, forca, limpamos tudo.

Quem são os irmãos Menegatti que adquiriram o Postão?

O Luiz, Antônio, Alcides, Ivo e eu, Francisco. Cinco irmãos. Passamos a trabalhar, tinha quatro bombas de gasolina e duas de óleo diesel. Era descoberto, nós cobrímos. Quando chovia e tínhamos que entrar embaixo do caminhão para colocar óleo na bomba injetora era muito ruim.

Vocês montaram o restaurante lá?

O restaurante era movimentado por uma pessoa de fora que assumiu, até que o meu irmão Alcides assumiu o restaurante. Piracicaba inteira conhecia como “Postão do Menegatti”. A bandeira do posto era “Esso”.

Era mais fácil estabelecer o preço do combustível?

O governo comandava o preço. Era tudo muito rigoroso.

Tinha borracharia tambem?

Teve vários borracheiros. O Alcidinho foi desmontar um pneu, tirar o pneu da tração do caminhão, o interno estava estourado, Ele não murchou o pneu de fora, no último parafuso, quando ele foi soltar o pneu saíu, levantou o Alcidinho a uns 15 metros de altura. Ele morreu sem saber como. Uma pessoa que tocou a borracharia por muito tempo foi o pai do Delegado Dr. Emerson Gardenal, eu o conheço desde menino. É uma família de pessoas muito boas.

O senhor lembra-se que era comum andar com a carteira de trabalho no bolso?

Lembro-me! Se o indivíduo estivesse andando na rua sem ocupação era preso por vadiagem. E ninguém, mexia com ninguém porque o outro poderia estar armado. Naquele tempo jogávamos futebol, tratávamos nossos amigos de preto. Não podia dizer negro. Hoje mudou tudo, temos que falar negro, não podemos chamar de preto. Sempre tive bons amigos negros, nunca liguei para a cor da pele da pessoa.

Qual foi o seu primeiro carro?

Foi um fusquinha 1300cc, depois tive três Brasílias, comprei uma Belina, um Escort importado, tive dois Fiesta, hoje tenho um Celta.

Para abastecer o posto vocês tinham caminhão?

A Companhia mandava. Compramos um caminhão Ford 1978. Depois compramos um Mercedes-Benz, com esse caminhão por mais de 10 anos “puxei” combustível. Comprei um caminhão Cargo da Companhia, transportei combustível por mais doze anos.

É uma carga perigosa.

O caminhão tanque é mais perigoso vazio do que carregado. Vazio se der uma faísca ele explode inteiro. Comecei a dirigir com 14 anos, faz 69 anos que dirijo, não parei mais. Aos 14 anos comecei a dirigir o caminhão GMC, o Willadns (Vila), filho do Luciano Guidotti que trouxe, disse que éramos trabalhadores e pagávamos. Já era câmbio sincronizado. O Ford 1946 era com câmbio seco, Tinha que trocar a marcha no tempo certo. Senão não engatava. Luciano Guidotti foi um segundo pai que nós tivemos. Compramos o GMC dele, fomos pagando, em 1954  o Vila trouxe dois caminhões 350, pagamos.

O senhor nunca foi convidado para entrar para a política?

Fui convidado para ser vereador, nunca quis. 

Do que o senhor tem mais saudade?

Do tempo em que eu jogava bola! Eu era bom de bola! Meu pai tinha morrido, eu era o filho caçula, veio um pessoal de São Paulo, queriam me levar para treinar em times grandes. Eu tinha entre 13 a 14 anos. Eu jogava de meia-esquerda. Joguei 27 anos com a camisa 10!  Comecei no Campestre Futebol Clube. Eu jogava bem, dominava a bola, corria muito, chutava com os dois pés. Naquele tempo jogador de futebol tinha ganhos muito limitados. Fui muito amigo do Gatão. Do Ediarte. Os jogadores naquela época todos trabalhavam em algum ofício. Não havia dedicação integral ao futebol. O Ediarte era gerente da Caixa Econômica!

Antigamente havia comícios e os violeiros era uma forma de atrair o público. O senhor lembra-se de alguns cantadores?

Lembro-me sim de Pedro Chiquito, João Davi, Parafuso, Nhô Serra, tinha uma turma boa, cantavam muito na Sociedade Beneficente Treze de Maio. Cantavam cururu, eu ia muito lá.

O senhor sempre cuidou da sua saúde?

Sempre respeitei a mim mesmo. Uma cerveja já era o bastante. Nunca fumei, não tive vícios. O fato de ter perdido meu pai muito cedo, a minha mãe tinha o controle, era uma mulher autêntica, segura, rígida. Gostava de tudo certinho. Eu tinha que andar na linha, ou iria ser repreendido quando chegasse em casa. A melhor escola da vida é a vida. Aquele que vive e aprende dá valor à vida, Aquele que vive e não consegue aprender, a vida para ele não vale nada! A vida ensina principalmente quem procura o conhecimento da vida em si próprio. Temos sempre que olhar para trás. Não olhar para frente. Atrás de nós sempre tem aquele que está pior do que nós. Olhando para trás, valorizamos o que temos, e valorizamos o que cada um é. Se olharmos para frente não nos damos valor, porque sempre queremos mais do que temos. Tudo que possuímos nos é emprestado. Um dia, sem que se saiba quando, levamos a roupa do corpo e mais nada. Quem pensa em acumular riqueza está muito enganado. A ilusão de “eu sou” ou “eu tenho”!

O senhor foi muito amigo de Leopoldo Dedini?

Fui! Ele gostava muito de mim! Quando negociamos o posto fizemos amizade, Eu sempre tive livre acesso ao escritório dele na MAUSA. Conversava com ele, com Dorival de Toledo, Rodolfo da Silva, o Franzoni que tomavam conta. O Leopoldo era meu amigo, quando chegava cumprimentava, abraçava. Assim como era o Joaquim Mário Peres Ferreira dono da Pirasa. Eu entrava na Pirasa, ficava a vontade, (Francisco se emociona), essas coisas é o que conta na vida da gente, saber que transpiramos confiança. Tem certas coisas que só se acolhe dentro da honestidade da gente. Eu chegava no Banco do Brasil, o Paulo Mattos, irmão do Jairo Mattos, ele me levava até o cofre, abria e dizia: “-Menegatti dá uma olhada! ” O Brasil seria o país mais rico do mundo se tivesse administração e não tivesse roubo, como tem.

Qual é a solução?

Na nossa bandeira está a resposta: “ORDEM! ”/Na minha casa sempre houve ordem!

O senhor liderou a vinda da água e do esgoto no Campestre?

Em conjunto como SEMAE fizemos uma parceria, sem interferência de nenhum político, alguns tentaram creditar as benfeitorias em seu nome.

E a energia elétrica como foi?

A energia elétrica já faz muitos anos. Naquele tempo tínhamos a força que passava por dentro do sítio aqui. A Companhia Elétrica pediu para o meu pai se ele pagasse um pouquinho iam trazer a energia até nós. Só que meu pai não tinha recursos para isso. Mais tarde, nos conseguimos recursos e trouxemos a energia até nós.

 


Manuela Cibim Kallajian

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de dezembro de 2019.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: Manuela Cibim Kallajian

 





Manuela Cibim Kallajian é Doutora em Direito Civil Comparado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mestre em Direito Civil Comparado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Graduada em Direito pela Universidade São Francisco. Atualmente é Coordenadora do Programa de Mestrado em Direito da UNIMEP. Coordenadora do Curso de Pós-Graduação Lato sensu em Direito Civil e Direito Processual Civil da UNIMEP. Docente no Curso de Graduação em Direito da UNIMEP. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Civil e Direito Constitucional.

Manuela Cibim Kallajian, nasceu em Piracicaba a 6 de fevereiro de 1078 é filha de Lourdes Magali Cibim Kallajian e do advogado Manuel Kallajian, descendente de armênios. Manuela tem um filho, Matheus.

Os seus primeiros estudos foram feitos aonde?

O primário, fundamental e médio fiz na Escola Estadual Professor Manoel da Costa Neves "Macone" na cidade de Rio das Pedras, onde morei até os 17 anos. Minha mãe inclusive foi diretora dessa escola.

Nesse período em que a sua mão foi diretora da escola, você era aluna, como é ser filha da diretora?

Foi uma época em que o fato de ser filha da diretora significava que eu tinha que ter mais responsabilidade, convivia com os demais alunos sem qualquer diferenciação. A única coisa é que eu podia frequentar a escola fora dos períodos de aula, enquanto esperava a minha mãe que estava em alguma reunião na escola, eu brincava na quadra de esportes. Isso me dava bastante alegria porque eu sempre gostei de ficar dentro da escola.

O seu pai formou-se em qual cidade?

Quando meu pai se formou, era gerente de banco, ele trabalhou no Banco Real, Banco Francês e Brasileiro Meu pai era natural de Piracicaba, minha mãe natural de Rio das Pedras, eles se conheceram, namoraram por muitos anos, nesse período minha mãe estudou, meu pai também, formaram-se, casaram, tiveram três filhos: Gustavo, Rodrigo e eu. Meus pais moraram em São Paulo, onde o meu pai formou-se em Direito pela PUC - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ele foi transferido pelo banco para Piracicaba. Logo depois ele saiu do banco e passou a advogar a princípio em Piracicaba, em seguida estabeleceu escritório em Rio das Pedras à Rua Prudente de Moraes e depois na Ladeira José Leite de Negreiros, no prédio onde hoje funciona a Prefeitura Municipal de Rio das Pedras. Esse prédio na época, era em parte ocupado pela tradicional Padaria Cristal. Quando se instalou a Vara Distrital de Rio das Pedras, o meu pai ofereceu uma das salas dele para que fosse gabinete da juíza, eles tinham alugado salas, mas não havia espaço para todos, assim meu pai cedeu uma das suas salas para o gabinete do juiz ou juíza, não me recordo no momento. Por um bom tempo a Vara Distrital funcionou naquele prédio. Meu pai também permaneceu naquele prédio por um bom tempo. Ele decidiu mudar para um escritório na Rua Prudente de Moraes, sendo que logo após aposentou-se.

Você considera que o seu pai teve influência na sua opção profissional?

Embora nunca tivemos processos em comum, ou trabalhássemos em parceria, acredito que sim, mesmo porque quando ele afastou-se por razões de saúde, eu assumi alguns dos seus processos para dar continuidade. Lembro-me de que quando era criança, sentava em seu colo e ele, como é comum os pais perguntarem, ele dizia: “-O que a minha menina vai querer ser quando crescer? ”. Eu respondia: “- Quero ser juíza! ”, outros dias dizia que queria ser promotora pública. Outros dias dizia que queria ser delegada de polícia! Sempre na área jurídica! Trabalhei com meu pai quando eu era adolescente. Quando a secretária dele tirava férias eu ia até o escritório, ajudava, atendia aos telefonemas. Fazia os meus afazeres da escola dentro do escritório dele. Presenciava o entra e sai de clientes. Quando eu tinha 16 anos, lembro-me de que se instalou o fórum em frente ao escritório, lembro-me de que ele ficava bastante tempo na Vara Distrital de Rio das Pedras, Nesse período em que eu estava no escritório, gostava muito de observar a entrada e saída de juízes, promotores, advogados, as partes. Esse meio influenciou-me bastante!

O seu pai, como advogado, tinha uma área específica de atuação?

Antigamente o advogado atuava nas mais diversas áreas, meu pai sempre gostou muito da parte empresarial, ele advogou para a Painco, Caninha da Roça, Ele dava assessoria na área empresarial. Acabava fazendo muito Direito Empresarial, Direito Civil, Tributário,

Seu na área se deu como?

Com 17 anos fui estudar fora, fui morar em Bragança Paulista, onde fiz a minha faculdade na Universidade São Francisco, inicialmente fui morar em um pensionato, era administrado por pessoas religiosas, já não eram as freiras que administravam. O espaço tinha transformando-se em um pensionato de meninas. Morei ali durante um ano. Depois disso fui morar com uma colega em um flat mais próximo da Universidade.

Você ia de Rio das Pedras até Bragança Paulista de ônibus?

Até o quarto ano ia de ônibus, tinha que parar em Campinas, para depois pegar outro ônibus para Bragança Paulista. Era uma viagem e tanto! O que de carro demorava uma hora e meia, levava em torno de três horas, isso quando o ônibus não tinha saído há uns cinco minutos. Nesse caso tinha que esperar uma hora para pegar outro ônibus! A empresa que fazia a linha Piracicaba a Campinas era a AVA – Auto Viação Americana. A vida não foi fácil!

Bragança Paulista é uma cidade gostosa, tranquila, para o jovem não havia mutas opções de lazer?

Era uma cidade em que se vivia muito a universidade! Tínhamos muitos amigos que moravam lá e tinham vindo de outras cidades, lá existe a Faculdade de Medicina, de Odontologia, pessoas do Brasil todo vinham para estudar ali. Vivíamos muito a vida universitária.

Você estudou em uma época interessante, de mudanças.

Entrei na faculdade em 1996, me formei no final do ano 2000. Estudei pelo Código Civil de 1916! Em 2002 tivemos alteração da Lei. Saí da faculdade defasada, o que aconteceu com muitos dos nossos alunos com o Código de Processo Civil agora em 2015. E deve acontecer com o Código Penal!

Quando você entrou na Faculdade qual foi a sua primeira sensação?

Lembro-me de que a primeira aula que tive na Faculdade foi de Sociologia Jurídica, a professora chamava-se Iara, e tinha uma janelinha na porta. Eu entrei, aquele silêncio, primeiro semestre do primeiro ano, tinha vários alunos na sala. Entrei, sentei-me. A professora falava grego!  Sociologia Jurídica para uma menina de 17 nos era grego! Praticamente eu não estava entendo nada do que ela dizia! Tive a sensação de que estava no lugar certo e de que deveria dedicar-me muito! Naquele momento eu tive a sensação de que não era um curso fácil! Lembro-me muito bem dessa cena, isso porque os meus pais foram me levar, era o primeiro dia de aula. Eles pegaram o carro em Rio das Pedras e me levaram para Bragança. O meu, pai que também não se esquece disso, com a carinha no vidro da porta da sala de aula! Me olhando ali dentro, talvez com uma sensação de orgulho, satisfação em ver a sua caçula seguindo os passos dele. Eu dei muito trabalho no primeiro semestre. Eu chorava, não queria ficar lá! As vezes a minha mãe me deixava lá na segunda=feira pela manhã, eu chorava, para ela vir me buscar. Minha mãe sempre foi uma fortaleza, dizia: “Isso é comum, você vai ficar, é isso que você quer! Vai ser difícil no primeiro momento, faça amizades, converse com as meninas do pensionato, estude, vai passar! ”. Eu dizia: “ Quero ir embora! Não quero ficar aqui, estou sozinha! ”. Eu tinha aula até o meio-dia do sábado. Se quisesse vinha para casa, chegava praticamente as quatro horas da tarde do sábado. Para ir embora, pedia: Por favor, me levem na hora da aula porque eu quero ficar mais um pouquinho e casa.

Quanto tempo demorou para ocorrer a sua adaptação?

Isso foi no primeiro semestre, depois fiz amizades, me enturmei, senti que realmente era o que eu queria, então a coisa foi se acalmando no meu coração.

Na época a proporção entre alunos do sexo feminino e masculino era equivalente?

Naquela época, se não era igual, existiam mais mulheres!

Você foi se desenvolvendo e criando amor pela profissão?

Fiz estagio em escritório de advocacia lá, desde o segundo ano já comecei a fazer o estágio. Aprendi muita coisa de advocacia fazendo estágios. Todo aluno deve fazer estágio. O que se ensina na sala de aula tem que se encontrar com a prática, é necessário. Visualizar o que foi ensinado em um caso concreto. Faz toda a diferença! Aconselho que desde o início que se faça.

A seu ver qual é a importância da atuação do advogado na vida comunitária?

É de extrema importância! A advocacia faz parte de toda a estrutura do Estado, eu entendo assim. Não há meios de você chegar a efetividade se imaginar que nós temos a efetividade da justiça aplicada através do poder judiciário. Exceto algumas situações em que a própria parte pode ir até o Poder Judiciário sem a assistência do advogado, e são raras essas situações, não tem outra forma de você ter a prestação desse serviço do Estado se não for através do advogado, só ele é que pode fazer o seu peticionamento, ele que poderá levar o seu problema para solução junto ao Judiciário. Ele é de extrema importância, não só nisso, a aplicação da norma vai muito além daquela que recebemos do Judiciário. É importante que o advogado faça a sua parte como consultoria para tirar essa carga da lide do processo e até mesmo orientar as pessoas. Costumo a falar muito em sala de aula, os alunos quando chegam para a Universidade em nosso país, são todos privilegiados. É importante que se devolva isso à sociedade de alguma forma.

Há uma certa imagem de que em nosso país há muitos advogados. Sabemos que muitos não atuam na área. A seu ver temos a necessidade dessa quantidade de advogados ou é um curso que a pessoa faz pelos mais diversos motivos?

Acho que os Cursos de Direito todos deveriam fazer! É ali que você se instrui, conhece realmente seus Direitos e Obrigações, como essa máquina funciona.

Você é a favor de ensinar a Constituição Federal do Brasil já no curso primário?

Com certeza! Noções Básicas de Direito! Nós tínhamos antigamente uma disciplina que foi instituída na grade escolar em 1962 e suprimida em 1993, se chamava OSPB – Organização Social e Política do Brasil, trata da organização do Estado, como uma sociedade se desenvolve, os limites que existem, como se costuma dizer “O meu direito vai até onde começa o seu” isso é muito importante que se incute na cabeça das crianças, dos jovens e que eles tenham essa noção. Isso é extremamente importante.

Não interessa muito á determinadas áreas que o povo seja bem informado?

Sim, com certeza! Quanto menos informações é mais fácil manipular !

Voltando ao período em que você realizava o seu curso.

Nesse interim em que eu concluía o meu bacharelado os meus pais mudaram-se de Rio das Pedras. Foram morar em Uberlândia. Eu tinha um irmão que estudava lá, onde formou-se. Meu outro irmão tinha empresa na área de informática, montou uma filial lá, minha mãe estava aposentada, meu pai também já estava estabilizado, eles mudaram-se para Uberlândia. Quando concluí o meu curso no ano 2000, os meus pais já moravam em Uberlândia, Fui para lá. Onde permaneci por um ano e meio, além de trabalhar na administração da escola, no jurídico da escola, eu lecionava s disciplinas de legislação e direito dos cursos técnicos. Foi ai que me apaixonei pela docência. Dei inicio no curso Lato Sensu, especialização. Na Universidade Federal de Uberlândia. Era um curso com duração de um ano, Processo Civil. Fiz por seis meses e vim prestar o curso de seleção na PUC em São Paulo, Passei. Vim para São Paulo fazer o curso de mestrado na PUC.

Em São Paulo em qual local você se hospedou?

Fiquei a uma quadra e meia da PUC, em um pensionato de Irmãs, o tradicional Pensionato Santa Marcelina. O curso tinha a duração de dois anos, após seis meses de curso eu consegui uma bolsa do CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (até 1974 Conselho Nacional de Pesquisas, cuja sigla, CNPq, se manteve). Consequi prorrogar pr mais seis meses a minha defesa da minha dissertação em virtude da bolsa. Então conclui o mestrado em dois anos e meio. Nesse período eu me casei, Não podia trabalhar porque era bolsista do CNPq. Terminei o meu curso, voltei a morar em Rio das Pedras, com meu marido, tive meu filho Matheus, nascido em Piracicaba, quando o Matheus tinha 1 ano e 4 neses comecei a lecionar na UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba, na época eu tinha 27 anos.

Em qual área você ingressou na UNIMEP?

Como professora do estágio, no Juizado Especial Cívil. Foi onde fiquei até o final de 2018. Em 2018 eu era professora de Direito, mas a minha carga horária maior era no estágio. Trabalhava 25 horas semanais dando orientação de estágio no Juizado Especial Cívil, que é um convênio da UNIMEP com o Tribunal de Justiça, atendendo a população. Fiquei lá desde 2006 quando ingressei na UNIMEP até o final de 2018

Ministrava Direito Civil nas aulas teóricas e dava orientação no Juizado Especial Cívil. Também coordenava o curso de especialização da UNIMEP, de Direito Civil, Direito Processual Civil e Especialização. Por dez anos coordenei e ainda coordeno esse curso.

 O doutorado em que ano você ingressou?

Em 1916 ingressei no Curso de Doutorado. Fiz o exame de seleção e fui aprovada na PUC de São Paulo. Praticamente após 10 anos que acabei o meu mestrado fui fazer o doutorado. No final de 2018 prestei um concurso interno, na Universidade, para ser professora do mestrado. Sai da Graduação e passei a ser titular do Curso de Mestrado em Direito. Em abril de 2019 mediante portaria da Reitoria. Fui nomeada coordenadora do Curso de Mestrado. Desde abril sou professora do Curso de Mestrado, ministro aulas na graduação, sou professora do Curso de Mestrado em Direito e Coordenadora do Curso de Mestrado em Direito.”

Quantos livros você já publicou?

Na época do doutorado, junto com uma aluna, publiquei o livro: “A (IM) PENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA DO FIADOR LOCATÍCIO”. E também quatro capítulos, com um aluno do Curso de Especialização da época.

Manuela Cibim Kallajian, você está lançando um livro denominado “PRIVACIDADE, INFORMAÇÃO E LIBERDADE DE EXPRESSÃO”. O comentário especializado analisa-o da seguinte forma:

“A obra foi cuidadosamente construída ante a relevante e atual discussão acerca do conflito entre o direito à privacidade e os direitos à informação e à liberdade de expressão. O choque entre direitos da personalidade, que também são direitos funda­mentais, ganha relevância no momento da aplicação prática, já que a solução foge à simples subsunção. Neste contexto, a autora situa, inicialmente, o conflito de normas através da hermenêutica jurídica, analisando o problema das antinomias. Em seguida, examina os direitos da personalidade e estes como direitos funda­mentais. Especificamente aos direitos à privacidade, informação e à liberdade de expressão, a obra traz um estudo aprofundado sobre definição e tratamento legal, no âmbito nacional e es­trangeiro. Hipóteses comuns de conflito entre tais normas são le­vantadas através de ampla pesquisa jurisprudencial e doutrinária, objetivando verificar a maneira pela qual o conflito é solucionado atualmente. Após identificar o tipo de antinomia que atinge as normas em questão, a autora passa a solucioná-la através da her­menêutica, indicando o caminho a ser percorrido pelo intérprete para a solução do conflito entre o direito à privacidade e os direi­tos à informação e à liberdade de expressão no direito brasileiro, com vistas ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Como surgiu esse livro?

  É fruto da minha tese de doutoramento. Conclui o doutorado, minha defesa foi em março de 2018. Quando você termina uma tese de doutorado, não há condições físicas   e nem psicológicas de olhar para o trabalho, tão grande é a exaustão. No início deste ano decidi publicar. Quando se escreve uma tese, a complexidade é tão grande, que dá pena deixar isso em uma gaveta. Mesmo porque temos que publicar os frutos das nossas pesquisas. Em que pese, para fazer o Curso de Doutoramento não tive qualquer tipo de auxílio governamental.

Quem escreve o prefácio do seu livro é considerada uma das maiores autoridades em Direito, não só no Brasil como em outros países: Maria Helena Diniz.

A Professora Maria Helena Diniz, foi minha orientadora tanto na dissertação do mestrado quanto na tese de doutorado. Fui  aluna dela em ambos os cursos.

Como é trabalhar comUm patrimônio vivo do Direito”?

A Professora Maria Helena Diniz é de uma humildade ímpar, imensurável. A simplicidade dela é tão grande, que as vezes achamos que ela não imagina quem ela é, qual o seu grau de importância para o Direito. Tamanha é a simplicidade e a forma generosa como ela trata todos os seus alunos.  Quando fiz a opção de escrever sobre esse tena “Conflito de Normas” o título do trabalho sugere, a privacidade a informação, a liberdade de expressão, traz muito de hermenêutica (se ocupa da interpretação das normas) a professora Maria Helena é um ícone do Direito Civil. Tem obras lindas, incríveis sobre hermenêutica jurídica. Quando eu levantei a questão do conflito das normas, fui na minha condição de doutoranda, fui construindo a minha tese, e cheguei a uma conclusão sobre o tipo de conflito que se dava entre sses direitos e a forma de solução deles. Quando dei por mim, descobri que a minha forma de solução de conflito era totalmente contraria a posição da minha professora e orientadora, Maria Helena Diniz. Você pode imaginar um doutorando contrariando o seu orientador! Ela nunca me disse isso. Ela foi me dando orientações de material, para que eu chegasse a essa conclusão, de que o posicionamento meu era contrário ao dela. Mas jamais ela disse-me: “Você está me contrariando! Passei uma semana angustiada, preocupada, para não dizer, desesperada, sem dormir, comecei a me colocar em uma posição: “Quem sou eu? Alguma coisa está errada no meu pensamento! ” Como posso contrariar essa pessoa? Marquei uma orientação com ela, fui até São Paulo, eu estava só na fase de escrita. Ela parou tudo que estava fazendo e foi conversar comigo. Disse-lhe: “ Professora! O que que eu faço? Estou contrariando a senhora! ” Embora eu disse com palavras doces, que eu não achava que estivesse errada. Ela pegou na minha mão, olhou no fundo dos meus olhos e disse-me: “ Manuela, o trabalho é seu! [E a sua tese, é o seu pensamento. A única coisa que vou observar é se você está fundamentando o seu pensamento. A tse é da Manuela não é da Maria Helena! Você escreva o que você quiser, da forma que você quiser. Vou obviamente observar se você está fundamentando o seu pensamento. Desde que você tenha condições de enfrentar uma banca de defesa de tese você é livre para escrever o que você quiser”. E ainda aceitou fazer o prefácio da obra. Uma obra que traz o meu pensamento, contrário ao dela! Isso para mim é um exemplo de profissional, de pesquisador, de professor e muito mais do que isso, é um exemplo de ser humano!


Postagem em destaque

      TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS     TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS       TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS             ...