sábado, agosto 08, 2020

Antonio de Padua Salmeron Ayres

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado O8 de Agosto de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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O entrevistado de hoje pelo jornalista João Umberto Nassif é Antonio de Pádua Salmeron Ayres.

ENTREVISTADO: Antonio de Padua Salmeron Ayres




Antonio de Padua Salmeron Ayres nasceu a 10 de maio de 1959 (dia das mães, naquele ano). Filho de Antonio de Padua Aguiar Ayres (rio-pedrense) e Thereza Virginia Salmeron Ayres (piracicabana) que tiveram dois filhos: Maria Cristina e Antonio. Antonio de Padua Salmeron Ayres é casado em segundas núpcias com Adriana Pantoja Huppert Gisele Ayres. Pai de Elisa e Fabio Augusto e avô de Ana Carolina. Bacharel em Administração (1982) e Mestre em Engenharia de Produção (2001), ambos pela Universidade Metodista de Piracicaba. Pós-graduação lato sensu em Economia de Empresas. Professor convidado da Fundação Getúlio Vargas e seus conveniados, em dezenas de praças no território nacional e algumas no exterior. Professor Mestre junto à Universidade Metodista de Piracicaba, onde atua desde 1990, incluindo elaboração, implementação e coordenação de cursos lato sensu em Gestão e Negócios, notadamente em Logística & Gestão da Cadeia de Suprimentos. No período lecionou em dezenas de cursos de graduação e dezenas de disciplinas, nas áreas de atuação, em 3 campus. Autor/coautor de 6 livros acadêmicos. Acumula experiências em EAD como autor, apresentador e tutor. Carreira em empresas privadas de grande porte, em diversos ramos (metalúrgico, metalomecânico de precisão, manufatureiro, serviços em saúde, alimentício, químico, operação logística & transportes, etc.). Fundador de empresa de consultoria e treinamento, onde atua como consultor desde 1988. Diversas viagens de estudo e trabalho na Europa, Américas, África e Japão completam o perfil. 




Você chegou a ter como colega o indicado por Jair Bolsonaro para ser Ministro da Educação?

 

O professor Carlos Alberto Decotelli da Silva e eu já viajamos, almoçamos, tivemos longas conversas.

O seu pai trabalhava com o que?

O meu pai teve uma profissão que não existe mais: Oficial de Farmácia. Em Rio das Pedras. Ele acabou sendo o dono da farmácia.

Essa farmácia ficava em que rua de Rio das Pedras?

Era a “Farmácia Agrícola” situada na Rua Prudente de Moraes, 139. Onde hoje funciona uma casa lotérica, ao lado tem um prédio conjugado, onde funciona uma loja, era anteriormente uma casa, ali vivi os meus dois primeiros anos de vida. Fica quase em frente a Drogaria Rio-pedrense, ao lado tem o Telécio, e logo em seguida, na esquina, era a Padaria do Giovanini, era um casal, uma das filhas, a Catarina, foi a minha pajem, eu a vi depois, quando tinha meus vinte anos. O irmão da Catarina, Guido Giovanini, o Lino, foi meu professor de desenho no curso ginasial do Instituto Sud Mennucci Eu adorava comer o mantecal que era produzido nessa esquina. Foi o melhor mantecal que já comi até hoje. No local em que existe a Caixa Econômica era um supermercado, o dono era o Ganassin. Ao lado da Favorita Calçados, ainda na Rua Prudente de Moraes, tem uma galeria, em baixo tem salas comerciais e em cima tem apartamentos, lá mora um grande amigo do meu pai o Carlos Abreu. O filho dele é o Carlos Sérgio Abreu, reconhecido fotógrafo, ele foi meu colega na Philips, em Piracicaba, sua esposa é da família Parisi.

 

 

 Quando nasci o meu pai já havia iniciado a construção de uma casa em Piracicaba, quando eu tinha um ano e meio a casa ficou pronta. Meu pai mudou-se para Piracicaba, transferiu a farmácia para Piracicaba, ela ficava na Rua Benjamin Constant esquina com

a Rua Joaquim André. Ficava quase em frente a Foto Fuji. Ao lado da Foto Fuji havia um mercado, a farmácia do meu pai era atravessando a rua. Depois que fechou a farmácia, foi instalada uma loja de calçados. Meu pai manteve essa farmácia até 1967. Continuou com mesmo nome: “Farmácia Agrícola”. Naquela época existia o Curso Técnico de Oficial de Farmácia. Havia até um Conselho dos Oficias de Farmácia. O meu avô paterno João Baptista de Mello Ayres também era Oficial de Farmácia. Meu avô foi prefeito de Rio das Pedras, isso no tempo em que o prefeito não tinha nenhuma remuneração, era indicado pelo Governador. Ele passou pelo Poder Executivo duas vezes.  Meu pai foi Vice-Prefeito de Rio das Pedras também, só que muito tempo depois.

Rio das Pedras tem uma dívida de gratidão com a sua família?

Talvez nem lembrem mais, mas se você for até o Hospital de Rio das Pedras, se não retiraram, deve ter uma placa, pelo menos tinha, eu cheguei a ver e devo ter fotografado, é uma placa de reconhecimento do município ao meu avô porque boa parte da verba utilizada para construir aquele hospital saiu do bolso do meu avô! Eu já era pré-adolescente quando meu avô me disse que esse era o maior orgulho da vida dele! Ele morreu pobre, mas ajudou de forma bastante marcante com a edificação e funcionamento do Hospital de Rio das Pedras. 

O que levou o seu pai a fechar a farmácia?

Com a regulamentação a partir de 1967, o Oficial de Farmácia não poderia mais ser responsável por farmácias como era até então. Como a farmácia era pequena, uma farmácia de bairro, ela não comportava que meu pai pagasse um farmacêutico, profissão nova no Brasil, isso em 1967, para que esse farmacêutico ser o responsável pela farmácia. Seria inviável. Esse foi um dos motivos dele ter fechado a farmácia.

Em Piracicaba você e sua família vieram residir em que bairro?

Fomos morar na Avenida Independência, 308, esquina com a Rua Santa Cruz. Hoje em frente ao Teatro Municipal, na época era em frente a um depósito de lixo. Hoje funciona nesse prédio a Academia da Polícia do Estado de São Paulo.

Em qual escola você iniciou seu aprendizado?

Fiz o curso primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco situado na Rua Ipiranga esquina com a Rua Governador Pedro de Toledo. Isso foi entre 1966 a 1969. O diretor era Mário Chorilli, era uma pessoa fantástica. Nos dois primeiros anos 1966 e 1967 ele foi o diretor, depois ele foi substituído naquele educandário por José Wander Parsia, irmão de um grande amigo meu, Alcides Parsia, autor da marcha carnavalesca do Clube Cristóvão Colombo. Minha primeira professora foi a foi Dona Adeneide, a segunda foi Dona Dinah, a terceira foi Dona Alice de Aquino, no quarto ano foi Dona Elza Romano. Após concluir o quarto ano prestei o exame de admissão para o ginásio na Escola Estadual Sud Mennucci, Por acaso fui o terceiro colocado. Cursei todo o ginásio no Sud Mennucci. Ao término do ginásio, hoje 8ª série, ai tinha o “Vestibulinho” para o colegial, prestei, por acaso também entrei em terceiro lugar. Cursei o colegial no Sud Mennucci também, Só para fechar os terceiros lugares, foi com essa colocação que entrei na FGV – Fundação Getulio Vargas, na graduação, que eu não cursei, e entrei também na UNIMEP em 1977, quando fiz a minha primeira graduação. Eu tive uma coletânea de terceiros lugares em concursos acadêmicos. No ginásio e no colégio tive como professores Marly Therezinha Germano Perecin, José Canuto Marmo ele nos dava aula de Astronomia no ginásio, Demostenes Santos Corrêa dava aula de química, orgânica aprendi com ele a Composição Centesimal dos Corpos. Otávio de Almeida lecionava matemática, o icônico José Salles, fui aluno de Joana Flordeliz de Aguiar, tive aula de francês com ela, depois ela tornou-se diretora do Sud Menncci. Tenho até hoje o livro de francês que era adotado, é um livro de capa vermelha chamado “ Le Francais Courant. Tem algumas lições que eu sei de cor até hoje. No ginásio não se aprendia inglês, só francês. Fui aluno ainda do Gilberto Lage que dava aula de química. Outra pessoa que se tornou um grande amigo, Gilson Alberto Novaes, foi presidente da Câmara de Santa Barbara D´Oeste várias vezes, foi deputado estadual. Era redator da “Edição Barbarense” periódico bissemanal, cujo proprietário era José Naidelice. Eu fiz alguns trabalhos para eles na década de 70. O Gilson foi meu professor de Geometria Descritiva. Nessas voltas que a vida da ele foi meu aluno no MBA, Na Primeira Turma de MBA de Logística da UNIMEP em 1995, antes de eu ser coordenador desse curso. Continuando as voltas que a vida dá, o Gilson foi o meu principal colaborador em uma indústria em que trabalhamos. Hoje ele é dirigente do Mackenzie. Eu sei que a gestão dele deve envolver Campinas e talvez uma parte de São Paulo. É uma amizade que cultuamos desde o começo da década de 70 até hoje. Ele ainda mora em Santa Barbara D`Oeste. Antes da Professora Joana Flordeliz de Aguiar assumir a direção, o diretor era Benedito Evangelista Costa.

Você frequentou muito o Clube Cristóvão Colombo?

Frequentei o “Palácio Encantado da Governador! ” Fui dirigente do Cristóvão por muito tempo.



Você chegou a andar de trem?

Sim! Tanto trem da Companhia Paulista como da Estrada de Ferro Sorocabana. A Sorocabana nos levava à Rio das Pedras. Meu pai teve a farmácia em Rio das Pedras até 1961, no começo de 1962 ele mudou-se para Piracicaba, só que ainda tinha vínculos com Rio das Pedras. O prédio onde era a farmácia ainda era nosso. Nessa época não era comum ter automóvel, nós não tínhamos. Íamos de trem. Eu tinha um tio que morava em Bauru, íamos até Rio Claro e depois embarcávamos no trem de aço da Companhia Paulista. Eu tive um problema de saúde viral, na minha primeira infância, eu fazia tratamento com um especialista chamado Marcelo Pio da Silva, ia de trem da Companhia Paulista para realizar as consultas periódicas a cada seis meses em São Paulo. Eu deveria ter uns 4 anos de idade.

Você passou a juventude em Piracicaba, acredito que deve ter frequentado todos os cinemas da cidade.

Frequentei os cinemas Paulistinha, Broadway, o Palácio, que depois passou a se chamar Rivoli, o Politeama, Colonial. Conheci também um cinema que foi relâmpago o Cine Grande Otelo, que ficava no prédio do Teatro Municipal.

N época o cinema era talvez, a diversão mais popular.

Eu me associei ao Clube Cristóvão Colombo em 1976, quando existia uma categoria de sócio chamada Aspirante, a pessoa precisava ter 16 anos, quando completei 16 anos e algumas horas acabei me associando ao Cristóvão. Eu tinha verdadeira paixão por aquele clube, passei a frequentá-lo de maneira bastante intensa foi assim até 1984. Ia quase todos os dias, participava de todos os eventos, atuei junto a Diretoria Social por algumas gestões, independentemente de chapa, minha afinidade era com o clube, não com a chapa. Na época participei da sede de campo, quando me associei o clube nem sonhava com a sede de campo.

O Clube Coronel Barbosa era muito ativo na época.

Na verdade, eu frequentava todos os clubes da cidade. Embora fosse associado só do Cristóvão, eu tinha bastante afinidade com os clubes Coronel Barbosa, Palmeiras, Regatas onde fui diretor, Clube Ítalo Brasileiro. O Atlético eu também frequentava muito, lá eu tinha muita amizade com a diretoria. Especialmente com o lendário Diretor Social Alberto Pinto Fonseca, o Bertinho. O Clube Coronel Barbosa conheci antes deles encamparem o Teatro São José.

Você é o que chamam Pé de Valsa?

Reconheço que todas as minhas parceiras de dança gostavam de dançar comigo, algumas das quais viraram namorada, as conheci em um ambiente musical, dançando. Realmente gosto de dançar, aprendi isso praticamente com a minha mãe, meu pai não era chegado na arte, mas a minha mãe era. Reconheço que evolui bastante nessa atividade!

Você recomenda que as pessoas dancem?

Sem dúvida! É extremamente saudável. Só tem um problema, embora eu não me considere velho, encontro dificuldades em encontrar ambientes saudáveis para dançar. Gosto de dançar todo ritmo musical, inclusive tango, recentemente pude me apresentar em um evento cujo foco era a pratica do tango. Não sou um exímio dançarino e nem acrobata de tango, mas trata-se de uma dança muito interessante. Danço bolero, xaxado, samba, samba-canção, samba de breque, danço tudo isso! Frequentei por muito tempo o Clube do Saudosista também. A grande dificuldade é encontrar bons grupos musicais. Tenho muita saudade. já dancei muito ao som da orquestra Som Brasil de Itu, Super Som T.A., Orquestra Luis Loe, Placa Luminosa, até os nossos regionais, Rudras, Embalo C-8, Super Som 7, RG Sons. Musical Opus cujo mentor é o Souza, inclusive tocou no meu casamento. O Souza é um pistonista marcante, gosto muito dele. Ele mesmo lamenta: “Olha, Ayres, não existe mais eventos como antigamente! ”  Eram bailes em que Pé de Valsa como eu começava a dançar ao primeiro toque da orquestra e ia até acabar o baile, geralmente 4h:30 da manhã. Isso não existe mais no Brasil. Recentemente estive em Portugal, Viena, fo onde encontrei bailes lindos. Participei de bailes de formatura da ESALQ, eram noites de sonho! Hoje já não existem mais. É uma barulheira terrível, você sai com dor de cabeça, músicas de péssima qualidade. Perdeu-se a classe, a elegância, houve uma banalização do corpo feminino, roupas inapropriadas para o momento e para o local. Questão de bom senso. Eu frequentava também clubes da região, os bailes em São Pedro na ADRS- Associação Desportiva e Recreativa de São Pedro. Eram bailes muito bons, inclusive faziam bailes de debutantes. Participei de muitos bailes de debutantes.



Você deve ter sido um carnavalesco muito animado!

Confesso que sim! Com relação a bem animado, já terminei alguns carnavais, no palco, tocando! Na minha pré-adolescência tive uma iniciação musical com piano, eu tinha piano em casa, isso me proporcionava uma certa facilidade em executar músicas. Sempre tive afinidade com música. Tanto que os meus dois filhos hoje têm outras funções, costumo falar que são “sinfônicos”. Os dois tocaram em orquestra, a menina já tocou em coral. Tocaram mais de um instrumento, tanto ela como ele. Sempre os incentivei a isso. Já adulto aprendi a tocar saxofone, tenho dois: o tenor e o sax alto, que é o “mi bemol”. De vez em quando “sopro meus cachimbos”. Na verdade, eu já participei de dois grupos informais. Um deles era um quinteto de saxofone, já toquei com alunos da UNIMEP no Restaurante Tambatajá, localizado na Rua XV de Novembro.

Você participou de alguma Scuderia quando Piracicaba viveu essa fase?

No final dos anos 70 desfilei por uma delas, foi na Eky-Pelanka ou Eky-Pexato. Os tempos eram outros. Eu cheguei a vir a pé do Atlético, lá no início da estrada que vai para São Pedro até a minha casa em frente ao teatro na Avenida Independência depois que terminou o baile. Estávamos em três, um deles é o Antonio Piselli, tínhamos 18 a 19 anos.

Você já pescou no Rio Piracicaba?

Já! Gosto de pescar. Eu remava no Rio Piracicaba, com sandolim. Os sandolins ficavam no Clube de Regatas. Antigamente tinha um trampolim no Rio Piracicaba, ficava em frente ao Largo dos Pescadores, eu saltei desse trampolim, mergulhando no Rio Piracicaba. O trampolim tinha dois estágios, o de baixo era para principiante e o mais alto para quem já sabia saltar. Comecei pelo mais baixo, depois saltava do mais alto. Assim como já saltei também na piscina do trampolim do Nauti Clube, também eram dois estágios. Eu tinha dois tios, irmãos da minha mãe, que tinham um rancho na altura do Nauti Clube do outro lado do rio. Na margem esquerda do Rio Piracicaba. Nesse sítio tinha um lago. Quando queríamos pescar para comer pescávamos no lago, quando queria pescar para divertir pescava no Rio Piracicaba. Fiz minhas pescarias no Mato Grosso, na barranca do Rio Paraná. Participei de um grupo de amigos, nós pescávamos no mar. Alugávamos da empresa Mykonos ou da sua concorrente um saveiro, em Caraguatatuba, São Sebastião, pecávamos de saveiro em alto mar. Fizemos isso em Santos também, Já pesquei, pernoitei dentro da embarcação na Ilha dos Alcatrazes. Era um grupo extremamente saudável e unido que infelizmente o exercício profissional de cada um acabou separando. Fizemos essas pescarias umas 10 a 12 vezes.

Você pescou algum, peixe que impressionou pelo tamanho?

Sim! Pesquei um robalo de bom tamanho, devo ter até a fotografia, pesou por volta de 8 a 9 quilos, foi um peixe bastante considerável. Veio no anzol, é raro pegar um peixe desse tamanho e dessa espécie em anzol mas deu certo. Foi no entorno da Ilha dos Alcatrazes, no Litoral Norte de São Paulo. Depois pesquei pintado, dourado, no Rio Piracicaba. Tenho uma parte de uma propriedade rural em Tupi, onde tem um tanque com um espelho d`agua de quase 5000 metros. Por uns anos cultivei consorciado pintado com tucunaré, sendo que com autorização do IBAMA eu trouxe do Acre o tucunaré-açu, é aquele grande. Criei isso consorciado com tilápia que na verdade usava para pasto do tucunaré.  Esse lago tem nascente nessa propriedade que alimenta o lago e está integrada a Bacia do Rio Piracicaba. Apareceu Dourados lá. Até imagino porque, a corredeira, o dourado é um peixe que sobe com muita facilidade, a questão de uns seis meses, um amigo pegou um dourado de pouco mais de quatro quilos. É difícil pegar dourado em cativeiro. Tenho foto, posso até mandar por WhatsApp!

Esportes, além do sandolim você praticou algum outro?

Eu tive sucesso com o basquete, apesar da minha estatura mediana, sempre me identifiquei com basquete, joguei nos Jogos Regionais.

Qual era o nome do time?

Joguei no “Pé na Cova”. Outro foi o Catimba`s era só de basquete, formou-se no Sud Mennucci e com o Catimba`s disputamos o Campeonato Regional.

Você é motociclista?

Nesse momento não tenho moto. Mas tive moto desde os 17 anos, sem que meus pais soubessem, era uma CG125, no Brasil não tínhamos motos maiores. Tive todo tipo de moto: Turuna. Depois tive a linha toda da Yamaha: 50, 75 cilindradas, fazia uma fumaceira enorme, o motor é de dois tempos, tive 125, RT 180, RX 180. RD  350 (Conhecida como Viuvai Negra), a moto mais bonita que tive foi uma Suzuki GT 380 quatro tempos, comprei uma CB400 que era a moto da moda. Tive CB400 four.  Harley 175, na idade adulta tive CB 450, XL 250. Já na idade madura acabei optando por moto estradeira. Virago 535, Virago 1200, Shadow 600, Shadow 750, a minha última moto foi uma Dragstar vendi por mera falta de utilização.

O que faz você ter essa sua disposição extremamente ativa?

Não tenho uma resposta objetiva! Diria que é da minha natureza. Sempre fui desse jeitão. Sempre me propus a fazer coisa não muito usuais. Inovar.

Quantos livros você já publicou?

Estou trabalhando no que provavelmente será o meu oitavo livro. É o primeiro livro não acadêmico, mas não é biográfico não. É um livro até certo ponto técnico, mas não em gestão.

Você conhece o Brasil todo praticamente?

O único Estado em que não pisei até hoje foi Roraima. Em todos os outros já estive, principalmente lecionando. Entre 1997 e 2017, nesses 20 anos, lecionei para a FGV como professor convidado e também seus conveniados espalhados pelo país, já lecionei em 46 cidades. Desde Rio Branco no Acre, várias vezes, até Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Manaus estive muitas vezes, cheguei a morar em Manaus. Ainda lecionei em cidades de outros países, lecionei em Angola, Cabo Verde. Na Argentina em Buenos Aires, Córdoba. Lecionei em Lisboa. Não é sistemático, mas geralmente ia para o exterior lecionar em julho ou em dezembro, nunca comprometi minhas atividades acadêmicas aqui no Brasil, especialmente da UNIMEP. A título de curiosidade, lecionei no Primeiro Curso de Mestrado oferecido no país Angola. Foi um mestrado direcionado apenas para pessoas do governo. Lecionei para 8 ministros de Estado, para 4 ou 5 prefeitos, foi uma experiência inédita, o país ficara independente há 20 e poucos anos. Acho que era há 23 ou 24 anos, dos quais os primeiros 21 a 22 anos o país tinha mergulhado em uma intensa e sangrenta guerra civil. Quando acabou a Guerra Civil em Angola eu apareci lá. Junto com uma turma de brasileiros, para lecionar no Primeiro Mestrado. Foi como encontrar um pais recém-saído de um contexto colonial. Recém independente. Foi uma experiência sem dúvida marcante. De certa forma não foi muito alegre pois o país estava devastado. A vivencia social nesse ambiente talvez me fez sentir como se tivesse voltado dois séculos na História do Brasil. Vivi isso, foi muito interessante.




Você foi a convite, como surgiu isso?

Esses programas em países africanos existiam, infelizmente não existem mais, eram a partir de um acordo internacional, capitaneado pela Universidade de Lisboa, pela Fundação Getúlio Vargas, que indicava os professores, e uma instituição africana, com sede em Angola, à princípio chamado IATA- Instituto de Atualização em Tecnologia Angolana que foi criada justamente posteriormente ao final da Guerra Civil daquele país. Essa entidade angariava recursos e organizava os cursos, organizou esse mestrado e outros mais, cheguei a voltar em Angola em outras situações. A Universidade de Lisboa cuidava de toda parte acadêmica-estrutural, e a FGV pela proximidade cultural com o povo angolano, a FGV entrava com o corpo docente. Fui convidado pela FGV por já lecionar disciplinas afins, no território brasileiro. Adaptei material à realidade angolana, e la fui ministrar Estratégia em Gestão Pública para um grupo de dirigentes públicos daquele Estado recém constituído. Foi muito prazeroso compartilhar experiência e conhecimentos com o povo angolano. Isso já faz alguns anos, mas até hoje tenho algumas relações de troca enfim ajudar um pais que tem um potencial muito grande pela frente.

Você lecionou em quantos países?

Dei cursos em seis países além do Brasil. Em português, em espanhol, língua que tenho fluência e em inglês já ministrei cursos de curta duração nos Estados Unidos. Em Chicago. Foi um curso técnico em uma área bastante específica, desvinculado de programa acadêmico. Relacionado em metodologias utilizadas em gestão. Foi um curso de uma semana e meia para alunos de graduação de duas universidades de lá.

O seu foco é gestão?

É Gestão Organizacional. Dediquei minha carreira toda a Logística e a Estratégias Empresariais. Como são áreas bastante amplas isso acaba requerendo conhecimentos de Marketing, de Gestão Financeira, de Planejamento Estratégico. De várias funções da administração, que é a minha primeira área de formação. Já na idade madura resolvi dedicar-me a mais um curso de graduação, quando já tinha 57 anos, sabendo que eu ia terminar o curso com 62 anos. Já estou matriculado no oitavo semestre. Isso faz parte daquele espírito que sempre tive.

Você começou a trabalhar ainda muito jovem?

Em 1° de agosto de 2020 completei 46 anos de carteira profissional assinada ininterrupta. Em dois terços desse período eu tive dois registros. Um deles trabalhando em indústria e outro trabalhando no mundo acadêmico. Na UNIMEP completei a minha terceira década ininterrupta. Entrei em 1º de março de 1990 completei minha terceira década em 1º de março último. De vida profissional comecei em 1º de agosto de 1974 empreguei-me ainda menor, na MAUSA onde eu era office-boy, onde permaneci até 1977. Lembro-me de uma festa em 1° de maio de 1976, foi uma festa que a MAUSA promoveu, no saudoso estádio “Roberto Gomes Pedrosa” o campo do XV que hoje é ocupado por um supermercado. Ali foi comemorado o dia do trabalhador, a empresa ofereceu um espetáculo circense para seus empregados e suas famílias. Quando terminei o curso na UNIMEP era empregado da Philips onde permaneci por mais de 10 anos. A partir do primeiro semestre de 2017 o meu único vínculo acadêmico e profissional é com a UNIMEP.

Você é aquele tipo de pessoa que dizemos que conhece metade das pessoas da cidade e a outra metade o conhece. Já foi convidado para entrar na política?

Nunca recebi um convite explícito, mas já me senti sondado para essa atividade. Em mais de uma ocasião. Prefiro continuar a minha trajetória em ambiente privado.

Você está com um livro no forno, pode adiantar o tema?

È sobre um assunto pelo qual sou apaixonado: vinhos. Posso afirmar que é um livro que faz uma abordagem inédita sobre o assunto. Alguns aspectos nunca foram abordados até hoje. Tenho me dedicado em determinados aspectos muito interessantes. Não me considero um enólogo, sou no máximo um enófilo. Recentemente, minha esposa, que é coautora do livro, estivemos na Europa fazendo um curso, pesquisando, os mais afamados locais produtores de vinho. Esse livro que publicaremos, imagino que será de grande utilidade para o produtor assim como para quem aprecia um vinho de qualidade. 

 

 

sexta-feira, agosto 07, 2020

NELSON SIDNEI MASSOLA JUNIOR

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de maio de 2020..

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: NELSON SIDNEI MASSOLA JUNIOR

 

Nelson Sidnei Massola Junior nasceu a 21 de junho de 1968, em Piracicaba, filho de Nelson Sidnei Massola natural de Piracicaba e Maria Vilma Consorte Massola natural de Laranjal Paulista, sempre foi cabelereira. Tiveram os filhos Nelson e Claudia. Seu pai, atualmente aposentado, trabalhava no DER – Departamento de Estradas de Rodagem, onde ingressou em Piracicaba aos 18 anos. Transferido para Tietê, onde casou-se e residiu até aposentar-se. Nelson Sidnei Massola Junior é casado com Fernanda Roncato Massola, eles tem dois filhos: Gabriela e Gustavo.

Nelson fez todos os seus estudos na Escola Estadual Plínio Rodrigues de Moraes, desde o pré-escola até o terceiro ano colegial. Foi em uma época em que a escola pública era considerada de excelente qualidade.

Após concluir seus estudos básicos a sua opção foi por qual setor universitário?

Decidi fazer Engenharia Agronômica, Fiz um ano de cursinho preparatório no Cursinho Pré Vestibular Anglo, era o início desse cursinho em Piracicaba. Os diretores eram: Eduardo Gerolamo João (Turcão) e Dorival Sudario Bistaco. Com orçamento familiar adequado, porém não suficiente para cobrir todas as despesas de escola e moradia, vim para Piracicaba, onde morava minha tia, na Rua Monsenhor Rosa, no centro. Expus minhas condições ao Turcão, comprometendo-me a ingressar na USP desde que o cursinho oferecesse um desconto. Foi dado o desconto de 50%.

Dali você ia até o cursinho utilizando qual forma de transporte?

Ia de ônibus, usava a então linha denominada Panorâmica. Pegava as 6:30, era sempre o mesmo motorista. Lembro-me até hoje da sua fisionomia, expressão de estar sempre bravo. Eu descia ali em frente a Santa Casa. O curso Anglo permanece no mesmo local. As aulas iam até por volta das 13h00. As aulas eram dadas em um anfiteatro enorme, com 180 alunos. Ali tive bons professores: Dorival, Turcão, o professor de química era o Angelo, hoje é professor da minha filha no curso Poliedro. O Ângelo ganhou o apelido de Corneto, graças a sua semelhança com o ator que fazia propaganda desse sorvete na televisão. O Turcão lecionava matemática. Física era o Batalha. Era muito comum ter sempre dois professores de cada matéria, eles se revezavam. Naquela época havia uma disputa grande entre os Cursinhos CLQ e Anglo. O professor de biologia era o Gentil. Outro professor de biologia era “esalqueano”, ou seja foi aluno da ESALQ, depois ele estudou biologia na Unimep. É interessante observar que em Piracicaba os cursinhos preparatórios para vestibular iniciaram-se com os “esalqueanos” lecionando.

Muitos professores de cursinho pré-vestibular marcaram a educação de gerações em Piracicaba.

Alunos que se formaram pela ESALQ lecionaram para inúmeros vestibulandos, eram excelentes professores. Foi uma época boa. Os anos 80 foram fantásticos! O país passava por uma mudança política muito grande,

Você prestou o vestibular e passou?

Não prestei nada além de FUVEST com o objetivo de entrar na ESALQ. Passei nos exames em 1987 iniciei o primeiro ano na Escola de Agronomia Luiz de Queiroz – USP. Passei pelo trote que é dado nos calouros, na época era um trote “pesado”. Só que o orgulho de usar o famoso “A” encarnado era e é até hoje, muito grande!

A ESALQ é uma instituição de projeção internacional, sendo considerada uma entre as melhores escolas do gênero no mundo. O seu corpo docente é formado por pesquisadores e cientistas, você teve aulas com titulares das cadeiras?

Tive aulas com professores célebres. Zilmar Ziller Marcos foi meu professor, deu aula de solos, fui aluno de Caetano Ripoli, Nilson Augusto Villa Nova. Para integrar o corpo docente da ESALQ as exigências de conhecimento científico são bem elevadas.

Qual foi o tempo de estudo para que você se formasse?

Na minha época já era de 5 anos. Log no segundo ano comecei a fazer estágio, eu  gostava muito da parte de microbiologia, tive aulas dessa matéria com Eric P. S. Baumer. Hasime Tokeshi, Armando Bergamin Filho que está lá até hoje, não aposentou-se, é colega de trabalho. Hiroshi Kimati foi um dos grandes professores que eu tive, faleceu, juntamente com sua esposa , em acidente de trânsito. Esses são os professores veteranos da ESALQ. Outro professor Clelio Lima Salgado também realiza um trabalho importante.

Você chegou a participar do prestigiado Coral da Esalq?

Não participei! Aliás isso é uma particularidade que eu tenho, tude que se refere a arte é muito verde em mim, não consigo me despontar. Instrumento musical, canto, desenho, atuação, não são áreas com as quais tenho desenvoltura.

O seu campo é “in vitro”, processos biológicos que têm lugar no ambiente controlado?

Exato, dentro do laboratório!

Quando estudante qual era o horário de aula?

Na ESALQ as aulas são em período integral. As aulas começavam as 8:00 horas até 12:00 horas. Na parte da tarde das 14:00horas até as 18:00 horas. A alimentação era feita no bandejão: café da manhã, almoço e jantar, na minha época tinha s três refeições no badejão. A linha de bonde já estava desativada, existia e permanece até hoje, um bonde em exposição. Após o almoço era comum irmos até lá, sentarmos nos bancos do bonde e ficávamos conversando.

Qual foi a sua sensação no primeiro dia, ao entrar e provavelmente pensar: “Estou como aluno na ESALQ”?

É difícil descrever! É a realização de um sonho, entrar na USP, em um curso de agronomia. Eu não conhecia nada dentro da escola, e nem conhecia as pessoas que estavam entrando, sempre entram 200 alunos. No primeiro dia fiquei meio perdido, não sabia onde estava, qual aula iria ter, nos primeiros dias existiam muitas aulas dadas como trote, na realidade o “professor” era um veterano! O início foi um misto de encantamento com surpresa.

Quantos alunos frequentam cada classe?

Entram 200 alunos por ano. Alguma disciplina tem classes bem numerosas. Dividem, 100 alunos em uma classe e outros 100 em outra classe. Além disso tem 40 alunos da Engenharia Florestal, que nos primeiros anos assistem aulas juntos com os alunos da Agronomia. No total são 240 alunos que nos primeiros anos tem aulas juntos, subdividindo em turmas de 140 a 150 alunos. Obviamente tem disciplinas que dividem um pouco mais, e principalmente as aulas práticas dividem mais ainda. Algumas turmas com 25 alunos. As aulas práticas eram em laboratórios, no campo, nas dependências da ESALQ. Todo Departamento tem um terreno que é para aula prática. Eventualmente algumas aulas práticas eram fora da ESALQ,  nessas ocasiões íamos utilizando aqueles famosos e tradicionais ônibus da ESALQ, que embora antigos estão em bom estado de conservação. (Os famosos ônibus monoblocos). Íamos para canaviais, barrancos com cortes, onde poderíamos analisar os tipos de dolo. Isso nos primeiros anos. Há um nivelamento no ensino até o terceiro ano, no quarto e quinto anos o aluno escolhe uma área e se aprofunda nela.

Esse nivelamento inicial incluía aulas de cálculo diferencial e integral I e II?

As aulas de cálculo eram as que deixavam os alunos mais apreensivos.

Cada professor tinha sua personalidade, e as aulas seguiam o ritmo deca um deles. Um dos mais consultados pela mídia nacional, tinha uma personalidade despojada, a ponto de em um dia muito quente ir dar aula de bermuda. Isso não tirava sua credibilidade e respeito. Um contraste, com o passado quando os alunos assistiam as aulas de terno e gravata!

O aluno formado pela ESALQ é comum sair com vários convites de empresas para trabalhar, foi o seu caso?

Tudo depende do foco do profissional. No meu caso em particular eu estava me dedicando bastante no estágio e visualizava seguir a carreira acadêmica, queria fazer mestrado e doutorado, não procurei emprego, surgiram algumas oportunidades, mas nem me inscrevi, eu estava focado em acabar a graduação e ir para o mestrado. A seguir fiz o doutorado. Um fato que me incentivou a seguir essa carreira também. Durante a minha graduação eu estudava durante o dia na ESALQ, morando em Piracicaba eu tinha que manter, meu pai funcionário público, minha mãe cabeleireira, ambos em Tietê. Comecei a procurar maneiras de obter recursos para minha manutenção. Naquela época, saia no Jornal de Piracicaba, geralmente no final de fevereiro, início de março, atribuições de aulas em escolas públicas. Começa o ano letivo e sempre havia falta de professor, a Delegacia de Ensino publicava uma coluna no Jornal de Piracicaba: Atribuições de Aulas. Eu queria lecionar Biologia, estava no meu sangue. Não conseguia aula de biologia, conseguia aula química, peguei muitas aulas de química, isso foi em 1989, eu estav entre o segundo a terceiro ano da Agronomia, eu er um menino, tinha entre 19 e 20 anos. Consegui aula de química na Escola Estadual Professor Elias de Mello Ayres, a diretora era Sueli Di Lellis, me entrevistou, eram aulas todos os dias a noite, para o Curso Colegial. Passei a dar aulas todos os dias a noite, era uma pilha enorme de cadernetas de classe! Eu nunca tinha dado aula na minha vida, fui com a cara e com a coragem. No começo foi muito difícil, mas eu fui pegando o traquejo. Peguei o jeito para dar aula. Com isso cheguei a conclusão de que gostava de ensinar, fazer pesquisa. Conclui que o meu futuro era trabalhar na academia. E dali para frente, mestrado, doutorado. Antes de terminar o doutorado, apareceu um concurso, para professor temporário na Universidade Estadual de Londrina em junho de 1998. Fiz o concurso, passei, não tinha acabado o doutorado. Só fui acabar em outubro de 1988, Fui contratado mesmo sem o doutorado.

Que matéria você lecionava?

Comecei a dar aulas de Fitopatologia na Universidade Estadual de Londrina para o curso de Agronomia. E comecei a dar aulas na pós-graduação, a minha área de pesquisa bem focada mesmo é meu trabalho com fungos que causam doenças em plantas. Como era temporário, eles renovavam até dois anos no máximo, abriu o concurso, prestei e entrei como Professor Efetivo na UEL, eu já tinha concluído ocurso e o doutorado aqui. Entrei lá como Professor Doutor, fiquei apenas um ano. Apareceu o concurso na ESALQ. Fiz, passei, pedi a exoneração lá.

Na ESALQ qual é a sua titulação atual?

Sou Professor Associado. Não sou Titular ainda. Ma ESALQ temos três categorias: Doutor, Associado e Titular. Para ,ir de Doutor para Associado é mérito do docente. Para Titular é necessário vir a vaga através do governo. Tem que esperar ter a vaga, os que estão aptos a concorrer se inscrevem.

A sua especialidade são fungos fitopatogênicos, como podemos definir de outra forma essa especialidade?

Em uma analogia bem tupiniquim, o ser humano tem alguns tipos de micoses, na pele, na unha, são doenças causadas por fungos no ser humano. A planta também tem doenças causadas por fungos. Existe fungos que atacam plantas. São muitos. Provocam um tipo de doença e reduzem a produção da planta. Por exemplo uma plantação de milho atacada por fungo fitopatogênico produz menos milho. Nós estudamos essas doenças, estudamos o agente causal e desenvolvemos estratégias para combater esse fungo, controlar a doença. É basicamente isso o que eu faço, porque trabalho com fungos. Não são só fungos que causam doenças em plantas, tem doenças em plantas causadas por bactérias, por vírus, por nematoide no solo. Enfim, essa matéria é denominada fitopatologia. Dentro dessa matéria me especializei em doenças causadas por fungos.

As plantas transgênicas são isentas de doenças?

Cada planta transgênica é resistente a alguma coisa. Normalmente tem pouquíssimas plantas transgênicas resistentes a doença. Mas tem muitas plantas transgênicas resistentes a pragas. Tem que ser feita uma separação. Doença é causada por micro-organismo: vírus, bactérias, fungos. Pragas, geralmente são os insetos. Que infestam a planta e comem ou sugam a planta. Para os insetos já existem muitas plantas modificadas geneticamente, portanto plantas transgênicas, que são resistentes a pragas. A doenças, são pouquíssimos casos por enquanto, estão tentando com a ferrugem da soja, que é um problema sério, não tem sucesso ainda. São plantas resistentes normalmente a pragas.

Pelas informações mais recentes, há uma grande procura da mídia pela sua opinião em determinados temas, qual é a razão desse interesse enorme pelas suas pesquisas?

Eu estou como Diretor Presidente da FEALQ – Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz. Ela faz um elo com a iniciativa privada, para desenvolvimento de pesquisas. Ela trabalha com ensino, pesquisas e extensão. A FEALQ gerencia cursos voltados ao agronegócio. Inclusive EAD, ensino a distância. Ela capta recursos na iniciativa privada, coisa que a ESALQ não pode fazer. Por exemplo, um grande grupo ligado a cana-de-açúcar, tem um problema de praga que está atacando a cana-de-açúcar, que não tem solução, Eles pedem ajuda para a ESALQ, identificamos internamente quem poderá resolver esse problema, a FEALQ faz um contrato com a empresa interessada, que por sua vez irá propiciar recursos financeiros para a pesquisa e solução desse problema. A ESALQ não pode receber esses recursos. A FEALQ sim, ela cobra uma taxa, em torno de 10% para manutenção da própria estrutura da FEALQ, e gerencia esses recursos voltados à própria pesquisa. Trabalhamos com projetos de pequeno porte até projetos de grande porte. Fazemos toda parte burocrática, legal, damos amparo jurídico, para que esses contratos comecem, se desenvolvam e terminem a contento. A FEALQ é uma instituição pública de direito privado. Ela não pode ocupar um prédio dentro de uma instituição pública. Portanto, ocupa área própria, fora das dependências da ESALQ. A sede dela fica na Avenida Centenário, ao lado da ESALQ.

O motivo da intensa movimentação midiática gira em torno da FEALQ?

Na FEALQ estamos na campanha de credenciamento de laboratórios para ajudar o agronegócio nessa crise do COVID-19. Já credenciamos um laboratório em Pirassununga, na realidade a ideia foi do grupo de Pirassununga, eles trabalham na Faculdade de Medicina, com amostras de animais, eles adaptaram o laboratório para fazer testes da COVID-19 no ser humano. E pediram ajuda para a FEALQ gerenciar os recursos e dar amparo jurídico. Aproveitamos essa ideia e estamos fazendo esse mesmo procedimento no CENA – Centro de Energia Nuclear na Agricultura.

Qual é a relação entre a FEALQ e a COVID-19?

A FEALQ dá amparo para o ensino e pesquisas no agronegócio. Nesse momento de isolamento vários serviços pararam. Um serviço que não pode parar de forma alguma é abastecimento de alimentos. Estamos preocupados com esse contingente de trabalhadores que estão produzindo e distribuindo alimentos. Se parte dessas pessoas se infectam e nada é feito, elas continuam trabalhando, elas vão infectando mais pessoas, entra no colapso. Podemos fechar frigoríficos, como aconteceu nos Estados Unidos, vários frigoríficos fechando porque os trabalhadores se contaminaram com o Coronavírus, nada era feito, eles não eram afastados. Não eram nem detectados. Chega uma hora que não tem mais ninguém para trabalhar. A planta daquele frigorífico é fechada. É isso que não podemos deixar acontecer aqui! O nosso foco é testar essas pessoas que estão trabalhando na produção e distribuição de alimentos. Estamos tentando captar recursos da iniciativa privada para a adaptação desses laboratórios e para fazer os testes. A FEALQ funciona como uma antena parabólica para captar isso, para proporcionar esse credenciamento e esses testes.

Está havendo uma colaboração estreita entre a atividade agronômica e a medicina?

Nós não temos médicos aqui. Esses testes são compostos por técnicas moleculares onde detectamos o material genético do vírus. Isso não é novidade, não é complicado, temos laboratórios aqui que tem todo equipamento e pessoas treinadas para fazer isso. Não fazem na área médica, mas fazem na área animal. O que estava faltando é adaptarmos para trabalharmos com amostras de ser humano. Para isso é necessário credenciamento junto ao Ministério da Saúde, nesse momento de pandemia o Ministério da Saúde deu uma flexibilidade ´para que outros laboratórios, que não são da área médica, ajudem nesse momento. Desde que tenham expertise. É isso que nós estamos fazendo. O laboratório que não trabalha e não vai mais trabalhar na área médica, conseguimos adaptar, para atender nesse momento delicado. É um laboratório que não queremos concorrer com a área de saúde. Só estamos emprestando a força que nós já temos para ajudar nesse momento. Para fazer isso tem que passar por todo credenciamento necessário: Vigilância Sanitária, Ministério da Saúde e Instituto Adolfo Lutz. Se todos eles, após as inspeções, nos derem esse alvará, começaremos a trabalhar sem nenhum problema.

Em relação a CONAVID-19, é difícil afirmar taxativamente quais direções seguir?

A cada hora recebemos uma informação, e ficamos sem saber aonde se agarrar. Procuro seguir o que é mais científico, mais técnico. Temos a opinião de Epidemiologistas famosos dizendo que nesse momento é importante o afastamento. Mas ao mesmo tempo temos que manter a economia funcionando! É um paradoxo! Para algumas profissões, como a minha, não tem problema nenhum, já faz 60 dias que estou dando aulas a partir de casa, fazendo reuniões diárias com as pessoas que me envolvo, a partir de casa, não parei, pelo contrário, até estou trabalhando mais. Mas sabemos que existem setores que não podem fazer isso.

A seu ver é um divisor de águas esse período pelo qual estamos passando?

Não tenho dúvida de que é! Principalmente na questão de ensino a distância. Fomos pegos de calça curta! Tivemos que agirmos rapidamente para não deixar as coisas caírem. Tenho a certeza de que quando voltarmos ao convívio presencial irmos encontrar algumas dificuldades em cumprimentar dando-nos as mãos, abraçarmos, participamos de aglomerações, isso será um efeito psicológico que vamos sofrer logo no início do convívio presencial. Não tenho dúvidas de que nesse momento de crise foram desenvolvidas mitas tecnologias para amparar a situação. Um exemplo, antes da pandemia, esta entrevista seria presencial, hoje não é mais necessário, saíram tantas plataformas virtuais onde conseguimos conversar e termos a imagem do interlocutor. Muitas das minhas aulas eu não preciso ir até a ESALQ. Dou aulas da minha casa! Acordo, de pijama, coloco uma camisa, tomo meu café e passo a dar aulas de casa mesmo. Não preciso gastar combustível para ir até o trabalho, não correr risco no trânsito. Daqui para frente essa questão de videoconferências, reuniões virtuais, trabalho remoto, talvez volte um pouco, mas não vai voltar ao ponto que era antes.

 A qualidade do ensino presencial e o ensino virtual, é a mesma?

Perde qualidade. Ainda quando se trata de um grupo pequeno, ocorre a interação. Quando tratar-se de um grupo grande, o olho no olho é insubstituível. Dar aula olhando para uma tela de computador não ~e fácil! Você não vê a reação das pessoas. A parte prática é muito prejudicada. Estamos aguardando a volta presencial para ministrar as aulas práticas.

A enorme procura da mídia pela FEALQ e seus parceiros no tocante a CONAVID-19 como o senhor vê?

´´E natural. Trata-se do assunto do momento. Sou muito mais de ficar dentro de laboratório, analisar dados. Tenho acumulado outras atividades, estou Chefe do Departamento de Fitopatologia e Nematologia.

Você tem obras publicadas?

Tenho capítulos escritos nos dois manuais de fitopatologia. Na minha área de pesquisa a informação mais rápida não é vi livro, é via trabalhos publicados em periódicos internacionais científicos, tudo em inglês, nessa área de ciências, a linguagem universal é o inglês.

Qual é sua visão sobre a posição global do Brasil após a pandemia?

O Brasil terá a seu favor sem dúvida alguma o agronegócio! Nossa missão é ser abastecedor de alimentos, essa é a vocação do nosso país. Somos privilegiados, temos a melhor escola de agronomia abaixo da Linha do Equador.  A ESALQ é a quinta escola de agronomia do mundo. Nossa vocação é produzir alimento para o mundo. O nosso território que dava par ocupar com agronomia já está ocupado, não podemos mexer em mata. O que pode ser feito é melhorar a produção dentro da mesma área. A ESALQ, a EMBRAPA, estamos fazendo isso.

Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (1991), mestrado em Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (1994), doutorado em Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (1998) e Pós-Doutorado em Fitopatologia pela Technische Universität München, Alemanha (2010). Foi professor de Fitopatologia na Universidade Estadual de Londrina entre 1998 e 2002. Desde 2002 é professor na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo nas áreas de fitopatologia (graduação) e fungos fitopatogênicos (pós-graduação). É assessor de instituições de fomento (CNPq, FAPESP, FAPDF) e assessor ad hoc em diversos periódicos científicos nacionais e internacionais. Desenvolve projetos na área de detecção, caracterização, identificação, variabilidade e ultraestrutura de fungos fitopatogênicos, especialmente do gênero Colletotrichum. Tem experiência nas Microscopias Eletrônicas de Transmissão e Varredura aplicadas ao estudo de fungos. Coordena o grupo "Biologia e patogenicidade de Colletotrichum"

 

IRINEU EVERSON MUNHOZ

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de julho de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/

 
ENTREVISTADO: IRINEU EVERSON MUNHOZ


Piracicaba é uma cidade que surpreende pela qualidade e quantidade de grandes profissionais, nem sempre muito conhecidos na própria cidade, mas de renome nacional e internacional. O fotografo profissional Irineu Everson Munhoz é um desses casos. Por muitos anos realizou fotografias para a chamada grande mídia, conviveu com pessoas de renome internacional, sem deixar se levar pelo glamour natural nesses ambientes. Com 32 anos de profissão, morou por 16 anos em São Paulo, até hoje é procurado por grandes empresas paulistanas. Quando voltou para Piracicaba, fez alguns trabalhos para “A Tribuna Piracicabana”, na época a diretora responsável por esse setor era a jornalista Astir Valim Vicente.

Você é natural de Piracicaba?

Nasci aqui em Piracicaba, no dia 26 de julho de 1966. Sou filho de Irineu Munhoz Perez e Helena Luzia Berno Munhoz Perez, que tiveram mais dois filhos: Adriana e Marcelo. Meu pai exerceu diversas atividades, foi carpinteiro, trabalhou na Cooperativa da Mausa S/A Equipamentos Industriais e atualmente faz manutenção em máquinas de lavar roupas.

Ele continua trabalhando?

Com 78 anos continua trabalhando!

Você fez seus estudos em qual escola?

Inicialmente na Escola Estadual Professor Augusto Saes depois fui para a Escola Estadual Sud Mennucci de Piracicaba, onde conclui o curso colegial. A seguir, em 1983, fui para São Paulo. Eu queria ser fotógrafo. Meu objetivo era o de fazer o curso de Publicidade e Propaganda. Fiz o Cursinho Objetivo, no prédio da Gazeta, na Avenida Paulista. Fiz o vestibular, entrei na ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing. Tida como uma das melhores no segmento, o seu custo sempre foi proporcional. Eu tive que fazer a opção: ou estudava ou me alimentava. Havia a possibilidade de assistir as aulas sem pagar, porém, isso não dava o direito a fazer as provas e obter o diploma. É o chamado “aluno assistente”.

Você trabalhava?

Comecei a trabalhar aos 14 de idade no Banco do Brasil de Piracicaba, era “menor-aprendiz”. Do Banco do Brasil fui trabalhar no Banco Nacional, lá eu pedi transferência para São Paulo, fui trabalhar em uma agência na Vila Mariana. Trabalhei em banco muitos anos até arrumar um emprego na Paranapanema Mineradora. Eu queria mudar de área, além do salário ser melhor. Tanto o Banco Nacional como a Mineradora Paranapanema ficavam na Avenida Paulista, próximo ao Trianon. Sai da Paranapanema e fui trabalhar em um laboratório fotográfico de propriedade de Edu Oliveira. Trabalhei um ano de graça no estúdio, vendia Natura, uma série de produtos para as modelos que estavam no estúdio para poder pagar minhas despesas e poder aprender. Comecei a revelar, trabalhar no laboratório, trabalhava durante o dia no estúdio para revelar a noite no laboratório.

Você pegou a época em que se usava filme nas máquinas fotográficas, diferente das atuais digitais.

Como eu não ganhava salário, as vezes sobrava um filme eu ganhava, para ir treinando. Muitas vezes sobrava um filme de algum trabalho ele me dava, Eu emprestava o equipamento dele, Eu chegava no estúdio umas seis horas da manhã, montava, fazia umas fotos, as nove horas da manhã eu fazia as coisas dele.

Vocês atuavam em diversas áreas, inclusive de modelos?

Ah! Sim! Fazíamos todo tipo de foto que exigisse qualidade. Fizemos a capa do disco do Paulo Ricardo, fotografamos Luciana Vendramini, Adriana Galisteu.

Faziam fotos de nus artísticos?

Essas fotos eram para propaganda de lingerie. Mais tarde fui trabalhar na Playboy, lá eu ajudava, não trabalhei com o famoso Duran, mas o conheci. Para a Playboy fiz umas fotos de publicidade, e antigamente tinha a “coelhinha” eram uma ou duas fotos de meninas que queriam ficar famosas.

Essas fotos eram com roupa ou sem roupa?

Das duas formas.

Para a modelo, ficar sem roupa não deve ser agradável, como o fotógrafo trabalha com isso?

No estúdio está o fotógrafo, o assistente, o maquiador, a produtora, fica muita gente, cada um em uma função, na realidade a modelo é encarada como um produto, todo mundo tem que fazer o seu trabalho. A fotografia publicada na revista passa por uma edição, ou seja, a modelo não é exatamente o que a fotografia mostra. Há casos célebres de “beldades” que passaram por primorosas edições de computador. Muitas horas foram gastas para editar, corrigir imperfeições de toda ordem. É o tratamento dado a um produto!  Com relação a modelo, procura-se passar um clima de muito profissionalismo e tranquilidade. Ela tem que saber que é um trabalho onde todos se respeitam.

Você tem alguma fotografia que o deixou marcado junto ao público?

Fiz várias fotografias marcantes, trabalhei muito com estilo, com publicidade, Fiz muita coisa. Teve fotos que eu mais gostei. Por exemplo, fiz um trabalho com a XUXA (Maria da Graça Xuxa Meneghel) era um trabalho para o Hospital do Câncer, ela valorizou o meu trabalho.

O que você achou da Xuxa como pessoa?

Bem tranquila. Como pessoa ela parece uma menina assustada! Ela é retraída, recatada. Não é uma pessoa expansiva.

Convivendo nesse nível, você teve rendimentos financeiro consideráveis?

Tive um bom padrão de vida, mas nada de luxuoso. Em uma oportunidade, fiz catálogos da AVON, eles remuneram com base no valor do dólar, eu trabalhei tanto que fiquei até doente. Eu nem dormia. O dinheiro que ganhei gastei me tratando!  Fazia o catalogo da AVON, daqui e da Bahia. Uma vez uma revista do Canadá a Toronto Magazine me ligou, era para fazer fotografias da Suíte Presidencial do Copacabana Palace, fizemos as fotos, inclusive a noite, sei que no fim eu acabei dormindo na suíte presidencial! Quem me viu saindo da suíte presidencial deve ter imaginado que eu era muito importante!

A fotografia proporcionou-lhe uma vida muito interessante?

Foi interessante! Com seus altos e baixos! Em São Paulo morei em vários bairros: Zona Norte, Bixiga, Liberdade.

Quando você morava em São Paulo era solteiro?

Era solteiro. Comecei a perceber que passava em torno de seis horas por dia, dentro de um carro, em função do trânsito. Pensei que não queria aquilo para mim e se um dia fosse casar ia querer que meus filhos subissem em árvore.  Na época namora uma moça de Piracicaba, que veio a ser minha esposa. Ela era química e depois decidiu pela Terapia Corporal. Ela atua na área.

Sou casado com Miriam Volpato, temos três filhos: Yacco, Mindy e Megara.

Mesmo em Piracicaba, você manteve seus contatos de trabalho em São Paulo?

Continuei trabalhando em São Paulo. Ia para lá e voltava à Piracicaba. A Editora Planeta por exemplo, eu fazia muitas fotos dos colecionáveis deles. Quando não achava um estúdio, alugava um quarto em um hotel e trabalhava no quarto do hotel. Trabalhava a noite, às vezes, em função dos flashes vinha algum funcionário do hotel perguntar se estava tudo bem. Imaginavam que estava dando curto-circuito no meu quarto.

Em termos de remuneração, Piracicaba não tinha como competir com São Paulo?

No interior a remuneração é menor. E o que eu fazia em São Paulo, aqui tinha muito pouco. Eram poucas agências de publicidade eu não conseguia me adaptar com o valor foi quando descobri que em Piracicaba havia muita gente que fazia eventos. Passei a fazer eventos. Comecei a ter muito trabalho aqui, montei um estúdio em Piracicaba. Hoje em decorrência da pandemia estou trabalhando no sistema Home Office. Tinha meu estúdio na Avenida Itália, o pessoal que estava comigo saiu, eu não ia ficar sozinho.

Você fez muitas fotos para grades companhias?

Entre ela fiz para a Nestlé (Yopa). Cristais Baccarat. Fiz para a H.Stern um catalogo de um relógio de safira, tinha o formato oitavado, Levei uns 20 dias para fazer uma foto. Quase fiquei doido. Na época não tinha os recursos de informática. Fui fazer umas fotos do Cristal Baccarat fiquei deslumbrado com a beleza de tudo. Na época cobrei um valor compatível com o requinte do produto. Nessa época eu estava namorando, íamos casar, embora encantado com as belezas das peças, não imaginava que se tratava de produto para alguns afortunados, peguei umas taças, um jogo de pratos, um jogo de cristal para espumante. Eram coisas bonitas que peguei na promoção. Apesar de ter cobrado um bom valor pelo meu trabalho, quando fui acertar as contas, descobri que a minha pequena fortuna não dava para pagar o que eu tinha comprado! No final acertamos tudo, recebi um desconto e vim para casa, com o Cristal Baccarat e sem dinheiro pelo trabalho realizado!

Para efeitos fotográfico, o cristal dá muitos reflexos?

Tem muitos reflexos, transparência tem que fotografar com fundo de contraste e só com luvas.

Todo fotografo tem uma marca de equipamento preferida. Você pode dizer a sua?

Hoje eu uso tudo Nikon. Câmera, lentes, flash. Existe máquinas que tornarem-se ícones. Uma delas, cuja fábrica foi fundada em 1913, é a Leica (Pronuncia-se “Laika”) é produzida por uma empresa alemã, fabricante de produtos óticos e equipamentos para vídeo e fotografia. Destaca-se pelas câmeras e lentes de alto padrão, que muitas vezes são confeccionadas manualmente. Ganhou visibilidade mundialmente nos anos 50, nas mãos de Henry Cartier-Bresson, um dos ícones mais conhecidos da história da fotografia que utilizou somente uma câmera Leica “Rangefonder” e uma lente 50 milímetros durante praticamente toda sua vida como fotografo. Sebastião Salgado também usa algumas lentes Leica. Eu imagino que possa ter existido pessoas que achavam que se utilizassem equipamentos de fotógrafos famosos também iriam ficar famosos. Como certa vez um professor citou: “Alguns pesquisadores afirmaram que no cachimbo que Shakespeare usava tinha sinais de  cannabis. Logo, se para ser genial como foi Shakespeare é só usar cannabis, a sua chance de transformar-se em um viciado é milhares de vezes maior do que tornar-se um gênio”.

As pessoas questionam muito a respeito de qualidade de máquina fotográfica?

Perguntam se a minha máquina é profissional. Respondo: “Minha máquina é boa! Profissional é quem estuda, minha máquina não estuda! Quem estuda é o profissional, ele fica atrás da máquina, a máquina nunca irá ser boa profissional, ela tem sim seus recursos, inclusive ela não raciocina, se você disser a ela o que ela tem que fazer, ela não faz! “ Não existe máquina profissional, existe o profissional que fica atrás da máquina! ”

Atualmente você trabalha com qual modelo?

Com uma D-750.

Essas máquinas vêm só com o “corpo”. Depois existe um tipo de lente para cada objetivo que a pessoa pretende. Para quem está começando, qual modelo de que você recomenda?

Essa é uma questão que depende do que a pessoa deseja fazer. Uma boa lente, com qualidade e preço baixo é uma lente de 35 milímetros.

Sabemos que além dos apaixonados por fotografias, existem escolas de publicidade onde o aluno tem que praticar. A opinião de um profissional do seu nível é muito valiosa, mesmo porque você não comercializa equipamentos!

O iniciante pode ter um equipamento de qualidade, e a medida em que aprimorar seus estudos, tendo recursos, pode ir adquirindo equipamentos que irão aperfeiçoar sua técnica.

 

A seu ver, para o iniciante, qual é o melhor programa de computador para tratar imagens fotográficas?

Tanto para o iniciante como quem já tem experiência, considero dois programas: Lightroom e Photoshop, os dois são da Adobe.

Tem muita gente que tem o Photoshop instalado, mas não tem nem o conhecimento básico. Você acredita que pode proporcionar um curso a respeito?

Posso.

Há cursos, porém com o objetivo de vender um equipamento ou acessório de maior valor. O objetivo é vender.

Assim como existem cursos que se prolongam sem sentido, tirando o foco do aluno.

O piracicabano gosta de registrar em fotografias pessoas, famílias, passeios, lugares, eventos. As fotos amadoras com celulares é uma prova disso.

Você faz fotos de casamentos?

Faço! Bastante ainda!

É muito rentável?

Já foi. Com a pandemia quantos casamentos serão realizados? Hoje há muitos fotógrafos que se dedicam a fotografar casamentos. Dos mais antigos ficaram os teimosos, inclusive eu. Na realidade, temos que estar sempre reciclando, com equipamentos mais avançados, ou perde-se o espaço,

Você conheceu Sebastião Salgado?

Conheci em Curitiba, em uma bienal de fotografia.

O que você acha da opção dele em fazer fotos em preto e branco?

Ele gosta muito. Na verdade, ele até brinca dizendo que as cores o confundem. Quando você faz foto em preto e branco, acaba vendo só a luz. Com isso você consegue um controle melhor de luminosidade. Alguns eventos que vou fotografar, fotografia em preto e branco, passam a ter cor quando passo para o computador.

Quando você fotografa casamento tem que levar mais alguém junto?

Hoje sim! Criou-se um protocolo muito grande em casamentos, que hoje você precisa de uma equipe boa. Tem que haver uma sintonia muito boa, sempre vai ter alguém que estará fotografando onde você não pode estar. Antigamente não tinha isso, mas hoje se faz as fotos do noivo se arrumando e da noiva se arrumando. Como não dá para fotografar os dois ao mesmo tempo, você coloca um profissional para ajudá-lo. Digo que é a síndrome do Batman e Robin! O casamento foi agregando protocolos, coisas que foram sendo criadas, para ficar uma cerimônia mais bonita, é a economia de consumo. Temos muito mais passos, mais coisas do que era antigamente. Da mesma forma as pessoas pedem muito mais do que antigamente. Antigamente o casal ia até o estúdio, fazia uma fotografia vestidos a caráter, e pronto, ia para o porta-retratos. Depois vieram as fotografias de casamento, o álbum de casamento, até chegar os dias de hoje, onde temos um álbum com fotos que parecem um livro impresso, escrevem no livro com letras impressas. Começamos com uma foto em estúdio, passou para uma dúzia de fotos, quando estava com filme chegava a fazer 400 fotos de um casamento. Hoje em um casamento você faz mais de 6.000 fotos! Tem alguns profissionais que chegam a fazer 10.000, 20.000 fotos de um casamento!

A noiva vai escolher quantas, em média?

Quando você faz muitas fotos, muitas coisas ficam quase que repetidas, é feita uma pré-seleção, e você só manda as melhores para a noiva escolher, geralmente são mandadas umas 1.000 fotos, ela escolhe umas 100 fotos.

Quando termina o casamento, geralmente o fotógrafo está muito cansado?

Diversos fatores contribuem para isso, entre eles o fato de estar trabalhando de oito a dez horas, em pé. O nível de atenção é muito grande. Imagine se você perder a entrada da noiva na igreja? Você é um fotógrafo morto! Ela irá ficar decepcionadíssima! Imagine se na hora da troca de alianças você não tem fotos?

Você já publicou algum livro?

Não, mas tenho pensado em fazer um sobre histórias de casamento. Vivenciei muitas histórias inusitadas.

Existe alguma foto que você fez e tem predileção?

Senti muito a importância da fotografia quando fiz um projeto da Fundação Ilumina, algumas mulheres em tratamento, portadoras de câncer, era um book, fiz uma sessão de fotos para deixá-las bonitas, felizes. Muitas delas até hoje são minhas amigas. Para elas foi um momento maravilhoso. Algumas disseram que foi um incentivo para lutar pela vida.

 

 

 

 

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