sábado, agosto 22, 2020

Antonio José Lázaro Aprilanti

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de agosto de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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O entrevistado de hoje pelo jornalista João Umberto Nassif é Antonio José Lázaro Aprilanti

ENTREVISTADO: Antonio José Lázaro Aprilanti

 

 

 

O local já estava com a planta pronta, ruas, praças e lotes de terrenos demarcados. A Companhia tinha muita experiência em empreendimentos de vulto. A localização não poderia ser melhor, central e ao mesmo tempo com uma vista magnifica do Rio Piracicaba. Da ponte Irmãos Rebouças popularmente conhecida como Ponte do Mirante até a ponte popularmente denominada Ponte do Morato, o lado direito do Rio Piracicaba, próximo a sua margem, onde funcionou por décadas o Engenho Central iria ser loteado! Os velhos barracões gigantescos seriam demolidos. E abonados proprietários ali iriam construir suas mansões. Uma intervenção ocorreu no futuro loteamento; preservando e restaurando as velhas estruturas onde hoje são realizados inúmeros eventos, aos quais a população tem acesso, além da visão maravilhosa da natureza. Nada disso seria possível se não fosse a coragem e a determinação de um arquiteto e urbanista com visão do futuro. Um homem adiante do seu tempo: Antonio José Lázaro Aprilanti. Amigo de Jaime Lerner, político, arquiteto e urbanista brasileiro que foi prefeito de Curitiba por três vezes e governador do Paraná por duas vezes. Logo que assumiu a prefeitura pela primeira vez, em 1971, o arquiteto Jaime Lerner pôs em prática o Plano Diretor da cidade, que existia desde 1965 e que ajudou a detalhar enquanto trabalhou no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC). Esse preambulo é para registrar para a história que se hoje temos o Engenho Central como área pública foi graças a intervenção enérgica do Arquiteto e Urbanista Antonio José Lázaro Aprilanti.

 

Antonio José Lázaro Aprilanti você é descendente de italianos?

Meu avô paterno Giuseppe Aprilanti veio da Itália com uns 24 a 25 anos de idade, de navio. Isso foi em 1894. Em conversas familiares há a menção de um irmão que veio com ele, mas seguiu para outro destino, há quem diga que foi para a América do Norte, outros afirmam que foi para a Argentina.   Aqui no Brasil meu avô casou-se com uma italiana. Quando foi casar passou a se denominar José Aprilanti. Ele veio da região de Piza, a cidade dele é San Giuliano Terme.

No Brasil em qual cidade ele foi morar?

Ele estabeleceu-se em Rafard conhecida como “Cidade Coração”, foi fundada por Júlio Henrique Raffard em 1883 e povoada por italianos que se estabeleceram como colonos na lavoura de cana-de-açúcar. A história de Rafard inicia-se com a instalação da Usina, antigo engenho central, pertencente a Sociéte de Sucréries Brésillenes, ela tinha três usinas: o Engenho Central em Piracicaba, a Usina em Rafard e a Usina em Porto Feliz. Sempre teve uma rixa entre Rafard e Capivari, isso porque Rafard tinha uma receita mais expressiva do que Capivari e era tido como distrito do Município de Capivari. Meu avô paterno acabou por montar um comércio, ele tinha uma padaria Rafard; Antigamente a pessoas estabeleciam-se no comércio, levava á sério, adquiria bens, ele deixou um patrimoniozinho. Vou fazer 79 anos, minha mãe contava que quando ele faleceu eu tinha um ano de vida. Eu nasci em Capivari, a 22 de maio de 1941. Sou filho de Cesar Aprilanti e Odete Pellegrini Aprilanti. Tenho uma irmã, Josete, ela mora em Capivari. Eu nasci em Capivari porque naquela época meu avô materno morava em Capivari, normalmente a filha ia para a casa da mãe para dar a luz. Havia uma luta muito grande para Rafard tornar-se município, meu pai era um ferrenho defensor dessa emancipação, quando jovem participei muito das atividades em favor de Rafard. No período que antecedeu 1964, Capivari era um reduto janista, houve uma eleição em que disputavam o Governo do Estado Adhemar de Barros e Carvalho Pinto. Adhemar de Barros ganhou. Capivari tinha trabalhado muito para Carvalho Pinto, meu pai era ademarista, fizeram um trabalho grande, Adhemar de Barros teve uma votação enorme em Rafard, conclusão, Adhemar de Barros ajudou a Rafard emancipar-se. Na época eu tinha um tio que era de Capivari, da família Vigorito, eram donos da agência Chevrolet, esse meu tio casou-se coma a irmã do meu pai. Esse meu tio tinha mais duas revendas em São Paulo, ele permanecia muito em São Paulo. Por influência da minha tia, ele acabou assumindo a liderança desse movimento para emancipar Rafard.  Esse meu tio, Genaro Vigorito, era muito influente, um dos seus amigos era o famoso apresentador Blota Júnior, líder do partido do Adhemar de Barros. Na época existiam apenas dois partidos políticos: Arena e MDB. Pouco tempo depois o Adhemar de Barros foi cassado.

Você estudou arquitetura em qual escola?

Sou Arquiteto e Urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, FAU/USP, onde me formei em 1967. Permaneci em São Paulo por uns seis meses, mas já tinha alguns serviços em Rafard. A família da minha esposa é de Piracicaba, por uma série de coincidências, acabei vindo para Piracicaba. Comecei a trabalhar na Prefeitura de Piracicaba em expediente de meio período. Tinha alguns projetos em Capivari, Em Piracicaba trabalhei por 20 a 22 dias. Com o seu falecimento assumiu o Nélio Ferraz de Arruda, trabalhei com ele durante seis meses.

Você não fez a “prainha” do Nélio?

(Aqui cabe um esclarecimento. O Professor Nélio, já exercendo o cargo de prefeito, tinha um sonho, ver os piracicabanos desfrutando as margens do Rio Piracicaba, como se estivessem em uma praia de mar. Muito animado, e rindo muito do seu equivoco, ele contou-me que a primeira chuva forte levou toda a areia que encantava aquele trecho do Rio Piracicaba, ele tinha feito com as melhores das intenções, contrariando a opinião técnica da inviabilidade do projeto).

Nélio Ferraz de Arruda, era vice-prefeito, trabalhei com ele por seis meses. Depois houve a eleição e Francisco Salgot Castillon ganhou a eleição. O Nélio insistiu muito em fazer a “Prainha”, a sua insistência foi tamanha que fiz um projeto para ele. (Aprilanti ri ao lembrar-se). No meu projeto dentro da água era para ter uma rampa para encostar barco. Tenho até hoje o desenho do projeto. Era um sonho dele. Assim como o viaduto na Avenida Carlos Botelho que ele fez, uma obra de utilidade questionável. O Nélio vinha da área do ensino, era excelente pessoa. Em 1° 

de dezembro de 1968 eu me casei com Maria Ângela Duarte Aprilanti, professora. No início da sua carreira ela deu aula em Andradina, transferiu-se para Guarulhos, teve uma escolha de aula excepcional e ela foi para Barueri, eu tinha um apartamento em São Paulo, ela passou a morar lá, e eu aqui em Rafard. Existia uma lei em que a mulher casada tinha preferência para escolher cadeira, era uma lei denominada União de Cônjuges. Na ocasião ela estava esperando nosso primeiro filho. Ela transferiu-se para Piracicaba.

Vocês tiveram quantos filhos?

Tivemos três filhos, Marcos que é engenheiro, Monica é arquiteta e Milena, que faleceu em um acidente. Estava fazendo vestibular.

Voltando a prefeitura, o Salgot tinha sido eleito.

O Salgot ficou pouco tempo no governo e foi cassado.  Ai veio o Cássio Paschoal Padovani, que era o vice-prefeito. O Cassio e eu éramos amigos, eu tinha um cunhado que já faleceu e na época namorava uma filha dele. Eu tinha uma certa liberdade com ele, ele gostava muito de mim. Ele se interessou em fazer o Plano Diretor de Piracicaba. Eu sempre tive um viés mais voltado para urbanismo do que arquitetura. Na época não era nem secretaria, era coordenadoria, só poderia mudar o nome para secretaria se a cidade tivesse mais de 120.000 habitantes. Eu trabalhava ali dentro, no setor de obras. (A prefeitura funcionava no palacete que pertenceu ao Barão de Serra Negra, hospedou personagens como D. Pedro II, Conde D`Eu. Infelizmente foi demolido para ampliar o estacionamento atualmente ocupado por funcionários da Câmara Municipal.) Na época existia o BNH, era tudo no Rio de Janeiro, embora a capital tenha sido mudada para Brasília, muitos órgãos ficavam no Rio de Janeiro. E dentro do BNH tinha um setor era o SERFHAU - Serviço Federal de Habitação e Urbanismo destinado a financiar obras para prefeituras, infraestrutura. A lei dizia que a prefeitura devia ter um plano diretor para usar essa ajuda financeira. Fora uma série de coisas que hoje estamos querendo fazer e que os militares fizeram na época. Alguma coisa a gente tem que dar o braço a torcer para eles. Tentaram endireitar, criaram o BNH, um banco com recursos para esses fins, dentro do BNH havia diversas áreas para habitação, urbanismo, Fui para o Rio de Janeiro tratar do Plano Diretor e consegui enquadrar Piracicaba dentro desse plano, Logo depois vieram para cá uns técnicos do SERFHAU para estudar Piracicaba e Piracicaba foi enquadrada. Na época foi feito um documento, que na realidade era um livro, chamava-se “Diagnóstico de Piracicaba”. Foi discutido com a cidade, com o Rotary, Lions, naquele tempo não havia muitas comunidades de base de bairro. Começou mais depois, no tempo de João Hermann Netto. Existiam lideres de bairros, que acabavam virando vereadores. Esse plano foi discutido muito, foi discutido com a Câmara, O Prefeito Cassio Padovani fez o edital de concorrência para contratação do Plano Diretor. Ele fez uma comissão, da qual eu fui diretor. Na época participaram várias empresas, entre elas a Hidroservice, a Promon, participaram umas seis ou sete empresas de porte. O Joaquim Guedes acabou fazendo o plano. A própria equipe do SERFHAU ajudou a fazer essa concorrência. Foram classificadas duas empresas, a do Jorge Wilhelm (Autor do primeiro Plano Diretor de Curitiba, em 1965.) e a empresa do Joaquim Guedes. Não foi definida qual iria executar, o SERFHAU partia do princípio que a Secretaria de Planejamento deveria ser criada e implantada. Funcionando e esse plano feito junto.

Nessa época as lajes do Edifício Comurba ainda estavam dependuradas?

O Cássio Padovani era muito amigo do Lazinho Capellari. O Lazinho tinha sido prefeito de São Pedro. Ele resolveu que ia demolir o Comurba. Um dia ele me chamou e disse: “Vamos lá junto comigo, vamos ver esse negócio aí! ”. O Lazinho era Secretário de Obras, acumulou o SEMAE também. Era um prédio comprido, havia uma junta de dilatação no meio. Uma parte era encostada na outra. A parte que caiu sozinha foi aquela voltada para a Rua Prudente de Moraes. O prédio tinha o desenho de um “S”. A parte que caiu, desceu esfregando na parte que permaneceu em pé. Lembro-me do dia em que o Lazinho, o engenheiro da prefeitura João Ferro e eu subimos pela escada até lá em cima. Olhamos tudo, e chegamos a conclusão de que iriamos demolir na marreta. O João Ferro ficou como responsável técnico pela demolição. Nesse meio tempo pedi a demissão da prefeitura. Fui trabalhar como autônomo. O Prefeito Cassio insistiu para que eu ficasse mas achei que deveria sair. Algum tempo depois o Cassio faleceu. Quem assumiu por um ano aproximadamente foi o Presidente da Câmara, Homero Paes de Athayde.

Como ficou o Plano Diretor?

Nessa época que discutíamos o Plano Diretor, o Adilson Maluf vinha muito na prefeitura, ele era estudante de engenharia ainda lá em Taubaté. Ele tinha muitos projetos, um deles era alargar a Rua Moraes Barros, que foi aprovado no seu governo e depois revogado. Eu sempre dizia: “-Adilson, o que precisamos é implantar o plano diretor! ”. Hoje não se faz mais projetos traumáticos, que tenha que desapropriar, derrubar, acredito que muita coisa irá mudar no transporte urbano. Voltando ao Plano Diretor, com o Homero como prefeito, ficou tudo parado. Em 1972 o Adilson Maluf foi eleito prefeito. Meu escritório era na Rua Moraes Barros, 802, ao lado do Café Haiti. O tio da minha mulher era sócio do João Fleury, ele me arrumou uma sala lá. Quando saia do escritório a noite, encontrava a “Turma do Sereno”: Adilson, seus irmãos, Xuxo Piazza, sempre ficava uma rodinha batendo papo. O Prefeito Adilson Maluf me convidou para trabalhar com ele, queria implantar o Plano Diretor que eu tinha começado no Governo do Cassio. O Adilson montou sua equipe eu entrei como Secretário de Obras, não existia a de Planejamento, era Coordenadoria. Levantamos o processo e chamamos as duas empresas que tinham sido classificadas. Como já tinha passado alguns anos, pedimos que eles atualizassem as propostas, consultamos os órgãos competentes, com a assessoria da SERFHAU acabamos contratando o Joaquim Guedes. Ele tinha certa familiaridade com Piracicaba, o pai dele tinha tido uma propriedade perto da Estação da Paulista. Naquela época um irmão dele era padre, diretor do Colégio Dom Bosco. Ele tinha um amigo, para quem fez uma casa no bairro Cidade Jardim pertencia a Dalton Belmudes de Toledo.

A grosso modo, como funcionou o planejamento do Plano Diretor de Piracicaba?

Iniciamos fazendo o levantamento aerofotogramétrico, a cidade nem planta não tinha!

Iniciamos pelo recadastramento da cidade. Foi um levantamento braçal!

E não tinha computador naquele tempo?

Não tinha nada!

Foram montadas equipes de levantamento, iam de casa em casa, levantando, fazendo um croqui, ia para o escritório, desenhava aquilo, depois através de uma lei, aquilo foi oficializado e feito o recadastramento da cidade. Isso servia de base para tudo.

Naquele tempo tinha ainda poço de água e fossa séptica?

Tinha bastante! Inclusive no Governo do Adilson ele colocou o Negreiros lá no SEMAE. Foi a primeira vez que nós, Secretaria de Obras e o SEMAE fizemos um plano de ação para execução de galerias fluviais, redes de água e esgoto, esse projeto do bairro Capim Fino é projeto da nossa época. O Prefeito José Machado que inaugurou a estação lá convidou o Adilson, que estava presente, fui junto para prestigiar. O projeto previa fugir do Rio Piracicaba por causa desse problema de poluição ir para um manancial mais limpo, em uma outra etapa era previsto outro. Chegamos a fazer um projeto de galeria de águas pluviais, sumiu, ninguém mais viu, ninguém segue nada. A prefeitura tem essa tradição, entra um prefeito começa tudo do zero! Sempre discuti o Plano Diretor por causa disso, nunca houve uma sequência. Do segundo ano para o terceiro, foi feita uma primeira lei que institucionalizava o processo de planejamento, criava a Secretaria do Planejamento. Todas as Coordenadorias passaram a ser Secretarias. Na realidade a nossa não se chamava Secretaria e sim Centro Municipal de Planejamento – CEMUPLAN. Era composto por todos os Secretários, presidido por um Secretário Executivo que era o Secretário de Planejamento, O Presidente desse Conselho era o prefeito.

E o Plano Diretor deu certo?

Nós não conseguimos aprovar o Plano Diretor. O Adilson não tinha maioria na Câmara. No início do mandato dele conseguimos criar o Distrito Industrial UNINORTE, trouxe a Caterpillar, ninguém conseguia ser contra. A jornalista Regina Leão escreveu um livro a respeito das inovações, principalmente conceituais, realizadas em Piracicaba.

O Planejamento encampava a Habitação e o Transporte. O atual SEMUTRAN era dentro do Planejamento; COHAB, CECAP. Vários núcleos que foram feitos em Piracicaba são desse tempo. Estive muitas vezes na Câmara Municipal. O exemplo que citavam era o de Curitiba, a minha resposta sempre foi de que em Curitiba deu certo porque foi feito com planejamento e dada a continuidade a esse planejamento. Criou-se o conceito de cidade organizada. Em termos de meio ambiente fizeram uma série de parques enormes.

 

Antonio José Lázaro Aprilanti tem uma extensa relação de serviços prestados à comunidade: Arquiteto e Urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, FAU/USP (1967) ocupou os cargos Arquiteto junto ao Departamento de Planejamento e Obras da Prefeitura do Município de Piracicaba - PMP

(1968); Secretário da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Piracicaba (1968); Arquiteto Chefe do Departamento de Planejamento e Obras da PMP (1969/1972);

Coordenador de Obras e Serviços Urbanos da PMP (1973); Secretário Municipal de Obras e Serviços Urbanos da PMP (1973/1974);Presidente da Comissão responsável pelo Estudo e Execução do Cadastro Técnico Municipal de PMP (1975);Secretário Municipal de Planejamento da PMP (1975/1977); Secretário Executivo do Centro Municipal de Planejamento da PMP (1978); Vice Presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Piracicaba; Assistente Técnico de Engenharia e Arquitetura da Prefeitura Municipal de Rafard (1970/1974); Conselheiro da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Piracicaba (1971/1978); Delegado Regional do CREA em Piracicaba e Região (1970/1972); Diretor Técnico e Sócio proprietário da TECPLAN – Projetos Técnicos, Engenharia, Arquitetura e Construções Ltda. (1970/1974); Membro do Conselho Consultivo do Governo Municipal da PMP (1977/1978); Membro do Conselho de Curadores da Fundação Municipal de Ensino de Piracicaba, Indicado pela Câmara Municipal de Piracicaba; Diretor Executivo, Pró-tempore, da Fundação Municipal de Ensino de Piracicaba (12/1978 - 04/1979); Diretor Técnico e Sócio Proprietário da PRONAP – Engenharia e Arquitetura Ltda. (1979/1997); Diretor Executivo da Fundação Municipal de Ensino de Piracicaba (01/1980 - 01/1983); Secretário Executivo do Centro Municipal de Planejamento da PMP (1983/1988); Arquiteto Chefe da Equipe de Planejamento que elaborou o Plano Diretor de Desenvolvimento do Município de Piracicaba, aprovado em 1.985; Membro convidado pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, Subcomitê Urbanização, para elaboração das normas para Plano Diretor de Municípios; Membro da Divisão de Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Piracicaba; Membro participante do Projeto Piracicaba 2010, no Grupo de Planejamento Físico Territorial-Uso do Solo;

Representante da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Piracicaba no Conselho Deliberativo do IPPLAP – Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba (05/2004 - 06/2005); Membro do CONGEPPP – Conselho Gestor do Programa Municipal de Parcerias Público-Privadas do Município de Piracicaba como Representante da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Piracicaba. Indicado pelo Centro de Pesquisa e Estudos Urbanísticos da FAUUSP, para dirigir, junto à Prefeitura do Município de Santa Rita do Passa Quatro, o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município;      Trabalho no Escritório de Arquitetura e Urbanismo do Arquiteto Jorge Wilheim no projeto “Restauração do Vale do Tietê”;   Trabalho no escritório do Arquiteto Roberto Tibau e Hélio Duarte, em diversas Reuniões e Congresso de âmbito Municipal, Estadual e Federal;      Conferencista no II CONAENGE – Congresso de Associações de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos na área de Arquitetura, com a tese “Habitação de Interesse Social”; Palestras sobre Planejamento e o Plano Urbanístico de Piracicaba, junto a Colégios, Associações e Clubes de Serviços; Membro da Equipe Técnica que estabeleceu o Diagnóstico para elaboração do Plano Diretor Urbanístico de Piracicaba;

Membro da Equipe Técnica que estabeleceu o Diagnóstico para elaboração do Cadastro Técnico Municipal; Membro da Comissão de julgamento das Propostas Técnicas e Financeiras do Plano Diretor de Desenvolvimento Local e Integrado de Piracicaba;      Membro Presidente da Comissão para análise e recebimento dos trabalhos de Cadastro Técnico Municipal; Membro do Grupo de Trabalho para estudos do Fundo Municipal de Habitação em Piracicaba;    Membro da Comissão encarregada de proceder à adaptação à nova Sistemática de Cadastro Imobiliário, no que se refere aos critérios da classificação de edificações; Presidente da Comissão Organizadora do XI Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba (1978); Curso sobre Elaboração de Proposta Orçamentária Municipal na Fundação Getúlio Vargas - FGV, Rio de Janeiro (1983);      Participante da Equipe cujo projeto representou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP na 9a Bienal de São Paulo; Congresso Brasileiro de Entidades Mantenedoras de Ensino Superior, Rio de Janeiro (1982); •     Elaboração de Laudos, Perícias e Avaliações como Profissional Autônomo ou como Assistente Técnico em diversas Ações Judiciais;      Elaboração e participação na elaboração de diversos Laudos, Avaliações e Perícias Técnicas como Auxiliar Técnico de outros Profissionais Peritos, na cidade de Piracicaba e região. Participação de Perícias e Arbitragens Judiciais no Fórum de Piracicaba. Plano Diretor do Físico-Territorial do Município de Várzea Paulista, São Paulo; Projeto do Centro Cívico-Administrativo do Município de Rafard; Código de Obras, Loteamento e Zoneamento do Município de Rafard;Projeto do Paço e Câmara Municipal de Rafard; Projeto de Fábrica e Escritório, “Fitas e Viés Ltda.”, em Capivari; Prédio Industrial da Transchid – Transmissões Hidráulicas Ltda, Piracicaba;

Hospital e Maternidade Rafard; Ginásio Estadual em Rafard;  S.L. Alves – Fábrica de Macarrão e Bolachas, Piracicaba;   Prédio Industrial da Fundição Técnica Nacional;

   Agência Chevrolet: Felício Vigorito e Filhos Ltda, Guarulhos;  Agência Chevrolet: Cia Rioclarense de Automóveis Ltda.;  Instituto Araraquarense de Psiquiatria, Araraquara;      Agência Ford: DIVECA – Distribuidora de Veículos Capivari Ltda; Agência Ford: Cia Piracicabana de Automóveis Ltda., Piracicaba;   Prédio do Grupo Escolar do Jardim Primavera, Piracicaba; Prédio do Grupo Escolar do Jardim Esplanada, Piracicaba; Reestudo do projeto do Teatro Municipal de Piracicaba; Reestudo do projeto do Hotel Municipal de Piracicaba (Beira-Rio); Reestudo do Prédio da Câmara Municipal, Piracicaba; Projeto do Prédio do Pronto Socorro Municipal, Piracicaba; Posto de Serviços, Capivari;  Posto de Serviços, Piracicaba; Prédio de apartamentos “Edifício Céu Azul”, Piracicaba; Prédio de apartamentos e escritório “Edifício Uirapuru”, Piracicaba;   Prédio de apartamentos “Edifício Porto Seguro”, Piracicaba; Prédio de apartamentos “Edifício Bandeirantes”, Piracicaba; Igreja de Santo Antonio, Rafard; Estudo de Viabilidade, Assessoria Técnica e Projeto de Execução do Distrito Industrial no Município de Rafard;    Estudo de Viabilidade, Assessoria Técnica e Projeto de Execução do Distrito Industrial no Município de Rio das Pedras à Rodovia do Açúcar; Concurso de Projetos da Sede da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Piracicaba (obra não executada); Prédio de apartamentos “Edifício Luxemburgo”, Piracicaba; Prédio de apartamentos ”Edifício Leriam”, Piracicaba; Prédio de apartamentos “Edifício José Ozores”, Piracicaba; Estudo de Viabilidade, projeto executivo e direção técnica da obra do prédio industrial da CROMOTEC – Indústria e Comércio Ltda, em pré-moldado executado na obra, com 3.000m2 de área construída (1999/2000);   Estudo de Viabilidade, projeto executivo e direção técnica da obra do prédio industrial da BULDRINOX - Indústria Metalúrgica Ltda., com 2.500 m2 de área construída (2001/2002); Estudo de Viabilidade, projeto executivo e direção técnica da obra do prédio industrial da DMI Isolantes Elétricos em São Bernardo do Campo, com 2.250 m2 de área construída (2010/2011); •     Estudo de Viabilidade, projeto executivo e direção técnica da obra do prédio industrial da SYNTPAPER – Comercial Ltda em Santana do Parnaíba, com 1.500 m2 de área construída. (2011); Diversos projetos residenciais e comerciais em Piracicaba e região.

 

 

sexta-feira, agosto 14, 2020

Silvio Bertoloti

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado  15 de agosto  de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVIS      SILVIO GILBERTO BERTOLOTI

 

                         Silvio Bertoloti e sua esposa Luzia Martins Bertoloti.

Silvio Gilberto Bertoloti nasceu em Piracicaba em 14 de dezembro de 1953 é filho de Sylvio Bortolotti e Dolores Lopes Bertolotti, que tivera, os filhos Silvio Gilberto (Gilberto por causa de um cantor chamado Gilberto Alves), Gilmar (Por causa do goleiro Gilmar), Gilson, Silvia e Gilsilei.

Você é neto de imigrantes?

  Meu avô paterno, veio da Itália, seu nome correto é Ângelo Felicce, aqui no Brasil, no seu registro de imigrante, passou para Augusto Bertolotti!  Sua profissão no em Piracicaba era coveiro do Cemitério da Saudade, minha avó materna não queria o namoro do meu pai com a minha mãe. Naquela época havia um preconceito, meio folclórico a tudo relacionado a morte. O meu pai e a minha mãe namoraram por 10 anos. Meu avô materno, Lopes, trabalhava em um ramo importante: logística.

Como ele exercia a logística?

Ele tinha uma égua, uma carroça e ficava na Estação da Paulista esperando o trem que trazia o povo que ia fazer compras em São Paulo e ele fazia o frete, geralmente uma vez ao dia. Posso dizer que um avô era coveiro o outro do ramo de logística!

Qual era a profissão do seu pai?

O meu pai era carpinteiro, proprietário da Carpintaria Dom Bosco, próximo à Rua XCV de Novembro. Omo carpinteiro meu pai possibilitou que três filhos se formassem como engenheiros. Sou casado com a também esalqueana Luzia Martins Bertoloti. O pai dela era chefe da Estação Sorocabana. A família inteira dele é de ferroviários. O meu irmão Gilmar é Engenheiro Florestal formado pela ESALQ. Meu cunhado e minha cunhada são agrônomos da ESALQ. Meus dois filhos são agrônomos da ESALQ. Minha nora é agrônoma da ESALQ. O nome de um dos meus filhos é Silvio também. Meu pai era Sylvio Bortolotti, meu sogro Silvio Martins, meu filho ficou Silvio Martins Bortolotti. O outro filho é André Bortolotti. Esse ato de dar nome aos filhos renderia muitas histórias!

Você cursou o primário em qual escola?

Fiz o primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Por ser o primeiro filho, o primeiro neto, eu deveria estudar em um colégio de padres, fui estudar no Colégio Dom Bosco. Era um colégio que primava pela formação moral. Quando sai do Dom Bosco, fui estudar no Colégio Estadual Dr. Jorge Coury, lá você não tem nem ideia do que passei com a professora de português Da. Conceição! (Um dos grandes nomes do ensino em Piracicaba.) Descobri que eu não sabia nada de português! Sofri o quanto você nem imagina! Com o passar do tempo as coisas foram mudando, a melhor palestra era eu que dava. Ela passou a gostar do meu desempenho. A ponto de ela pedir para dar nota para as palestras dos meus amigos. Imagine que situação. (Conhecendo o rigor da professora, Silvio fez por merecer.) As minhas notas com ela eram todas 5. Isso porque ganhava meio ponto porque não faltava. Tem até um fato interessante, nós estudávamos em uma sala vizinha a diretoria. A classe era dividida, metade da sala era ocupada pelos meninos e a outra metade pelas meninas. Como era em ordem alfabética, eu era o aluno que sentava no último lugar. Começamos, eu, Tinão, Gerin. Crócomo a cantar uma paródia. O diretor, Arlindo Rufatto, homem muito enérgico, chegou e colocou-nos para fora da escola. Todos os homens. Só ficaram as meninas! Foi quando eu pensei: Meu Deus do céu! Como vou fazer agora? A próxima aula era com a Dona Conceição, vou perder o meu meio ponto de presença! Fui até fora da escola e voltei sozinho. Sentei, era o único homem na classe. Ouvia meus amigos furiosos pelo fato de eu ter entrado. Veja o poder que essa professora tinha sobre nós.

Acabando o colegial você fez o CLQ?

Aí tem uma outra história, no início, fazíamos o cursinho que valia como terceiro ano colegial, eles tinham um convênio com o Colégio São José de Ribeirão Preto. Quando chegou no meio do ano Esther de Figueiredo Ferraz que foi secretária de Estado e ministra, desconsiderou aquele convenio. Todos do cursinho que estavam nessa situação foram estudar seis meses no Colégio Piracicabano. Tivemos que fazer exame na escola Sud Mennucci para poder passar. Eu já tinha entrado na ESALQ e não tinha o certificado de conclusão do terceiro colegial. Isso foi em 1972. Foram mais de 200 pessoas fazer o exame no Sud Mennucci. Infelizmente não guardo boa impressão dessa senhora como secretária e ministra da educação. Muita gente deixou de continuar os estudos em função dessa confusão toda.

Em que ano você entrou na ESALQ?

Em 1973 eu entrei na ESALQ, sai em 1976, tive o percurso como entomologista, a minha vida foi estudar insetos. Fui ser professor na Universidade Federal de Lavras, era um status elevado, só que eu tenho um negócio chamado banzo. Originalmente um sentimento de nostalgia que os negros da África têm, quando estão ausentes do seu país. Banzo é saudade. Eu não conseguia ficar fora de Piracicaba. Lavras é Federal, eu ia fazer PhD na Inglaterra, não fui. Eu queria ficar em Piracicaba, sou amarrado e Piracicaba. Tenho até uma definição: Em Piracicaba você é touro, fora você é vaca! Meu irmão por exemplo já foi ficar no Pará por 10 anos. Meu outro irmão vive fora, em outros países. Eu não consigo. Fui dar uma palestra em Lavras depois de 35 anos que estive lá, perguntaram-me porque eu não tinha permanecido lá, minha resposta é que o piracicabano arraigado a terra dele tem banzo em sair daqui. Entrei na ESALQ em 1973, em 1975 já estava fazendo estágio com o Professor Nakano, uma pessoa que fez estágio com ele, o Francisco Monteiro, foi lá para verificarmos um problema com o pé de maracujá do sogro dele. O Professor Nakano, mandou eu e o José Maria de Arruda Mendes Filho, fazíamos estagio juntos. Essa casa que tinha o problema com o maracujá, situava-se na Rua José Vizioli próxima a casa do José Maria. Em frente à casa da Professora Bernadete que dava aula deu aula de francês, para nós no Jorge Coury. Fomos, eu e o Zé Maria, descobrimos que era um percevejo que picava o maracujá, e o o maracujá ficava murcho.

Vocês observaram mais alguma coisa?

Nessa casa tinha duas meninas gêmeas fazendo vestibular para entrarem na Escola de Agronomia. Uma das moças tinha olhos verdes, eram bonitas. Fomos caçar o percevejo cujo nome científico é Diactor bilineatus, para fazer um estudo sobre ele. Eu me encantei com uma das meninas, nunca tinha namorado ninguém. Levamos os insetos para a escola, eu e o Zé Maria exterminamos os mesmos, durante a análise. Dissemos: “-Professor, precisamos buscar mais insetos! ” Ele concordou. Voltamos até o pé de maracujá. Uma das duas gêmeas tinha entrado na ESALQ. Era teoricamente minha caloura, “minha bicha”. Prometi proteger a menina, era muito comum os trotes nos calouros. Emprestei meus livros para a menina. Começamos a namorar e casamos! Tivemos dois filhos, que fizeram a ESALQ. Na nossa intimidade, dizemos que o causador disso tudo foi o percevejo. Logo o primeiro filho quando entrou na ESALQ ganhou o apelido de “Percevejo” como existe uma música que faz referência a pulga e ao percevejo, o segundo filho ao entrar na ESALQ passou a ser conhecido como “Pulga”. O Professor Nakano deve ter tido uns 600 estagiários, era uma referência ter sido estagiário do Nakano. Teve uma churrascada em homenagem ao Nakano, todos os presentes fizeram discursos, o estagiário mais famoso que o Nakano tinha na época, era o Professor Parra, Diretor da ESALQ. Fiz um discurso, sou bom nisso. Disse: “ Todos que estão aqui tem prestigio, bom emprego após ter sido estagiário do Nakano, está aqui o exemplo máximo nosso, sei que todo mundo começou a chorar, só que eu sou mais feliz do que vocês”. Pairou um silêncio, até que alguém quis saber o porquê.  Narrei a história do maracujá, que me trouxe uma grande esposa. Ela estava ao meu lado.

Quando você concluiu a ESALQ seu primeiro emprego foi onde?

Eu era solteiro, fui dar aulas em Lavras. Voltei por causa do Banzo.

Não foi por causa da namorada?

Ela pensa que foi por causa da namorada, mas foi pela cidade mesmo.( Silvio expõem suas razões de estar longe da terra amada, mas algo no ar deixa transparecer que bons motivos o trouxeram de volta). Eu andava 480 quilômetros, pegava três ônibus, para vir para Piracicaba todo fim de semana! Ela sabe que é por causa dela!

Você acabou voltando?

Vim para Campinas, fui trabalhar na Estação Experimental, em 1980 casamos, na Igreja da Imaculada Conceição, na Vila Rezende, tendo como celebrante o |Padre Jorge. Há um ditado:  

“ Quem o Padre Jorge casa, ninguém descasa! ” Em 1981 vim para Piracicaba trabalhar na Cooperativa de Cana, para trabalhar com Domingos José Aldrovandi, agricultor, industrial, contador, farmacêutico, vereador. Foi um dos primeiros contadores da Dedini. Como industrial, criou fábrica de papelão no Sítio dos Kanemblay. Em 1958-59 presidiu a Câmara Municipal de Piracicaba. Em 1962 foi eleito deputado estadual, reeleito em 1966 pela Arena, e atuou como um dos principais líderes da política e da economia piracicabanas. Em 1968 fez parte do grupo de cotistas que adquiriu e passou a editar o “Diário de Piracicaba”, publicando-o sob nova denominação: “O Diário”. Foi de sua propriedade a Farmácia Central, à av. Rui Barbosa, 121, em Vila Rezende. Sua atuação foi decisiva para a criação (1948) da Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba, que presidiu, assim como para o surgimento da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo e da Cooperativa de Crédito dos Fornecedores de Cana. Foi gerente desta última, que inicialmente abrangia quarenta municípios, com sede própria à rua D. Pedro I. A cidade deve-lhe a criação e construção do Hospital dos Plantadores de Cana de Piracicaba, que tem seu nome. Foi presidente da Associação Brasileira de Fornecedores de Cana. Integrou o Conselho Superior do Colégio Piracicabano, tendo sido seu presidente, em meados do século passado conforme relata Samuel Pfromm Netto.

Quanto tempo você ficou na Cooperativa?

Fiquei até 1990. A Associa dos Fornecedores de Cana é a mantenedora do Hospital dos Plantadores de Cana. Isso é uma coisa importante que ninguém fala: quem construiu o Hospital da Cana foram os fornecedores de cana de Piracicaba e Região, que recolhem uma taxa toda tonelada de cana-de-açúcar que é entregue na usina recolhe uma taxa, para manter o hospital em pé, e para atender o SUS. Hoje fornecedores de cana é uma minoria, eram aproximadamente 8.000 fornecedores. Hoje não tem nem 500.

Hoje um grande conglomerado arrenda praticamente todas as pequenas propriedades com cana-de-açúcar, ele recolhe essa taxa para manter o hospital?

Hoje não recolhe mais. Quando o Ex-Presidente da República Fernando Collor de Mello entrou ele extinguiu essa taxa obrigatória que existia desde 1964. Por 10 anos fui funcionário da Cooperativa, hoje sou autônomo, mas sou um representante de empresas dentro da Coplacana, junto aos cooperados da Coplacana.

Hoje a colheita da cana é toda mecanizada?

Hoje não há condições de cultivo em pequena escala. Como um agricultor vai adquirir uma colhedeira que custa um milhão de reais? Briguei muito com relação a queimada de cana. Como agrônomo sou contra a queimada. Acontece que a cana não é como soja. A cana você planta hoje e só vai replantar após seis anos. O sistema usado anteriormente era para a colheita manual. Hoje o espaçamento é idealizado para a máquina entrar. Você não pode pisar na soqueira da cana. Na época eu pedi de 4 a 5 anos de carência, permitindo o método tradicional, a queima da palha, para o povo renovar o canavial. “O corte de cana na queimada é penoso, na palha é mais penoso ainda” segundo o presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Jaú, Hermínio Stefanin. A ideia era de deixar o canavial adaptado para a colheita mecanizada.

Você sugeriu uma nova represa para abastecer Piracicaba?

Lutei para fazer uma nova represa. Brigaram comigo, possivelmente poderá faltar água.

Silvio discorre sobre dados, situações que conforme sua análise, poderão trazer consequências desagradáveis. A sua preocupação com o meio ambiente o deixa agitado. Vai citando referencias e considera que poderia ser melhor.

O seu avô paterno morava em que rua?

O meu avô morava em frente ao Grupo Alfredo Cardoso, na Rua Moraes Barros, ele era coveiro, o meu ainda criança, meu avô esquecia o pito dele, no cemitério, meu pai tinha que sair à noite, onde é o Estádio Barão de Serra Negra, era um bosque, ele atravessava esse bosque, naquela época havia muita superstição: Mula sem cabeça, e outras mais, meu pai atravessava, pulava o muro do cemitério para pegar o pito do meu avô. Minha avó tinha uma lojinha ali na esquina da Rua Floriano Peixoto com a Rua Boa Morte. O Diretor de TV do SBT, José Occhiuso, morava em frente a minha casa na Rua Floriano Peixoto. Na Rua Ipiranga, morava o Roberto Cabrini.

Você sempre gostou de área rural?

Teve um período em que tive um sítio em Anhumas. Já era estrada de asfalto. Em 1004 comprei um sítio, só que todo agrônomo, quer ter um sítio, colocar a teoria dele na prática. Achei que iria ter muito sucesso, em sete alqueires coloquei uma granja de frangos e uma de porcos, dei o nome de “Granja Liberdade”. Eu não acreditava naquela conversa: “Sitiante tem duas alegrias na vida, uma quando compra o sítio, outra quando vende o sítio”. Fiquei por 15 anos com o sítio. Em 2010 recebi duas graças na minha vida: vendi o sítio e fiz a operação de redução do estomago. Entrei na ESALQ com 66 quilos. A minha mulher me deixou com 156 quilos, de tão boa cozinheira que ela é. Eu tinha tudo: diabetes. Pressão alta, operei no Hospital da Cana, cheguei a pesar 102 quilos, hoje com o momento que estamos passando, de ficar em casa, estou com 110 a 112 quilos. Hoje não dou mais trabalho para o SUS. Hoje fazem 48 cirurgias por mês. Há capacisase de fazerem mais. Quando eu ia nascer, minha mãe estava tendo o primeiro filho, na Rua Floriano Peixoto na última quadra próximo a Chácara Nazareth só tinha a casa dela. Eu não nascia, vieram duas parteiras, eu não nascia. Chamaram o Dr. Aninoel Pacheco, médico experiente, ele me tirou com fórceps. Quando nasci estavam inaugurando o encanamento de água, soltaram fogos. O prefeito era o Dr. Luiz Dias Gonzaga.

Você morava perto da Chácara do Vevé?

Morava no primeiro quarteirão junto a chácara. Na Rua Madre Cecília havia a Chácara Nazareth. O sogro do José Victória tomava conta. A molecada, inclusive eu, gostávamos de apanhar frutas nessas chácaras, mas elas eram bem muito bem vigiadas.

Da cana-de açúcar o que se perde?

Hoje não se perde nada! A Usina Costa Pinto da folha ela faz o etanol de terceira geração, pegam a palha, bagaço, fazem um processo com enzimas fornecidas por uma empresa suíça, eles conseguem pegar a celulose e produzem álcool. O Rubinho Ometto estudava no Dom Bosco, ele estava no científico eu estava no ginasial. Ele é inteligentíssimo. Hoje uma boa parte da margem rentável do grupo vem da logística, a cana passou para um segundo plano. Eu me considero um canassauro, tenho mais de 30 anos de trabalho com cana-de-açúcar[U1] . Dou muitas palestras, escrevo artigos, uso a mídia eletrônica, Hoje tem em torno de 380 escolas de agronomia no Brasil. Inclusive escolas noturnas! Imagino como vão fazer uma aula prática a noite!

Você ajudava o seu pai na carpintaria, quando ainda era estudante?

Sou de uma geração que tinha que trabalhar! Cedo eu ia no Dom Bosco, a tarde ia na carpintaria e a noite eu ia envernizar as coisas que tinham sido feitas durante o dia. No fundo da carpintaria, tinha a casa do Craveiro e Cravinho, enquanto envernizávamos portas, janelas, armários, escutávamos Craveiro e Cravinho treinando! Isso em 1965, 1966. Escutávamos na rádio “Noites do México”, com Dario Correia. Lembro-me até hoje de uma das propagandas que ele fazia: “Sapatão gostosão, colado e pregado, Casa Oliveira, a mais barateira, Largo São Benedito, em frente ao Fórum”.



domingo, agosto 09, 2020

ANA MARIA BREGLIA ROSA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 11 de Julho de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA:ANA MARIA BREGLIA ROSA




Ana Maria Breglia Rosa nasceu a 2 de agosto de 1954, em Piracicaba, no seio de uma família tradicional de piracicabanos, com exceção do avô paterno que nasceu na Itália. Seus pais são Victorino Breglia, contador e Celeste Cecília Cenedese Breglia, professora. Ana Maria é viúva de Marcelo Silva Rosa, tiveram duas filhas: Vivian e Cynthia.

Você iniciou seus estudos em qual escola?

Em 1961, eu tinha seis anos e meio quando entrei no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, a minha primeira professora foi Dona Maria José Piedade, a Dona Zezé , mãe da Lurdinha Piedade Sodero Martins, ela era nossa vizinha lá no Bairro da Paulista, tínhamos casas quase encostadas, fui amiga das filhas dela. No quarto ano a Ivana Maria França de Negri e eu estudamos juntas. Após 4 anos, fui fazer o quinto ano no SESI 165, no prédio existente até hoje, ao lado da Igreja dos Frades, nesse mesmo prédio passou a funcionar o Colégio Estadual Dr. Jorge Coury, onde completei o ginásio. Em 1971 foi inaugurado o prédio novo do Colégio Dr. Jorge Coury, eu estava no segundo ano colegial lá conclui o colegial e fui estudar na Universidade Metodista de Piracicaba – Unimep, onde fiz o curso de Letras até 1975.

A profissão do seu marido qual era?

Meu marido foi bancário. Nós trabalhamos juntos no Banco Nacional, daí ele foi para o Branco Francês-Brasileiro, foi transferido para Limeira, Uberlândia, onde moramos, ele veio transferido para Piracicaba, aqui ele trabalhou no Banco Luso-Brasileiro, o principal acionista era o Comendador Almeida.

Você chegou a lecionar?

Lecionei até 2015, quando me aposentei. Lecionei no Colégio COC de Piracicaba, lecionei na EAC – Escola Alegria de Crescer na cidade de Capivari, no Instituto Atlântico de Ensino de Piracicaba, nessa época também lecionava no Colégio Educare de Piracicaba, em 2007 fiz concurso para lecionar na escola do Estado, em 2015 me aposentei no Estado.

Você começou a dar aulas quando?

Logo que me formei dei aulas de inglês no FIISK, no Yazigi, no ICBEU- Instituto Cultural Brasil Estados Unidos, casei, quando percebi que estava difícil conciliar filho e escola , deixei tudo. Cada vez que eu tentava retornar o meu marido era transferido , tinha que recomeçar tudo. Retornei a dar aulas em 1993 até 2015, foram 22 anos

Nesse período percebeu alguma modificação com relação ao aluno, ao nível de ensino?

As diferenças foram grandes! Cheguei a ter crises de choro em sala de aula. Ao mesmo tempo em que eu queria que eles tivessem um conhecimento cultural mais amplo, percebi que eles estavam interessados no agora. A maioria queria ganhar dinheiro na hora e viver a vida imediatamente. 

 A cultura fica para depois. Se compararmos a nossa geração e a geração atual, há grandes diferenças. Fomos educados com um objetivo, tínhamos uma projeção para o futuro, ter uma profissão, uma meta de vida. Sabíamos que demorava. Dava a impressão de que os tempos eram mais lentos! A história do imediatismo, algumas vezes vemos pessoas ganhando rios de dinheiro enquanto outros que estudaram muito não tem o seu valor reconhecido. Um problema grave, fruto da modernidade, é que trocamos o papel de professor pelo papel de educador, Educador é o pai e a mãe que tem  obrigação de dar a educação ao filho! Só que os pais delegaram a educação para a escola. Ao recebermos essa função tínhamos que impor certos limites, posturas, cobranças. E eles não aceitavam! Ficou tudo muito solto, perdido, sem rumo.

O consumismo, o direcionamento feito pela mídia, influenciou muito?

Sem dúvida. Nós recebemos dos nossos pais muitas orientações importantes. Posso citar um exemplo, minha mãe afirmava sempre: “ Precisamos pensar em ser e não em ter”. Hoje os filhos querem ter amanhã. Os pais tornaram-se um meio de subsistência deles, os pais passaram a ser as pessoas que trazem o dinheiro dentro de casa! È difícil dizer isso, ainda há pais que pensam diferente.

Há também os casos dos “adultos adolescentes”, são pessoas com 35, 40 anos, que agem como adolescentes, dependem dos pais, moram ainda com os pais, não criaram uma vida própria.

Não querem assumir responsabilidades. Nós assistimos muitos filmes norte-americanos, onde os filhos saem de casa para a universidade e não voltam nunca mais a residir com os pais. Criam vida própria. Nessa globalização que estamos assistindo, parece que a coisa virou mundial. Nós conhecemos famílias norte-americanas em que os filhos moram com os pais ainda. Com 30, 40 anos, não casaram, voltam para a casa dos pais, Muitas vezes, além de não saírem da casa dos pais, são eles que ditam as normas da casa! Isso quando não trazem mais alguém para morar com eles na casa dos pais! Fica uma posição em que os pais em determinadas situações viraram reféns dos filhos. Os pais proporcionam o melhor que podem sem o retorno adequado.

Analisando friamente, o fato de nós termos tido, na maioria das vezes, muitas dificuldades, acabou gerando essa situação?

Exato! Nós queremos compensar os filhos para que eles não sofram o que sofremos! Isso é uma falha da nossa geração, com exceções. Nós nos sacrificamos para poupar os filhos, quando o correto é que eles também conheçam as dificuldades, que existem frustrações,

Lembro-me de que tínhamos horário para chegar em casa.

Tínhamos responsabilidades, compromissos,

A seu ver isso é bom ou ruim?

 

A gente nunca sabe. Há o lado bom, eu tive sorte com as minhas filhas, elas conseguiram seguir a carreira delas. São independes, embora a gente sempre quer ajudar. Houve nesses anos todos, uma deturpação da realidade e a nossa geração tem um pouco de culpa nisso, os nossos filhos é essa geração que está ai. Tem a geração dos netos, eu não tenho neto, mas quando vejo netos, fico muito preocupada. Dei aulas em escola pública de periferia, percebi muito a história de pais irresponsáveis que passaram para os avós a criação dos próprios filhos. Isso é muito difícil, acho muito complicado, os avós já tiveram a sua função de pais! A função dos avós é agradar, cuidar, na medida do possível, mas não criar! Já tive em escola pública avós de 32 anos! Essa nova geração está fazendo com que os seus pais se responsabilizem pelos seus filhos. Estamos passando por um período de terceirização da educação: ou é a escola ou são os avós que estão educando os filhos dessa nova geração.

Voltando um pouco, você teve o privilégio de estudar nas mais conceituadas escolas públicas de Piracicaba.

Tivemos sorte nisso, tivemos escolas de referência.

Foi uma época em que o ensino público era considerado superior ao ensino privado?

Exatamente.

Você é coordenadora de um grupo de ex-alunos do Colégio Dr. Jorge Coury, hoje todos profissionais de destaque em seus campos de trabalho.

Eu promovo essas reuniões do pessoal desde 1993. Eu, Yurika e Sônia Komatsu, somos colegas daquela época, Foi no começo do e-mail! Decidimos montar um grupo de ex-alunos. Entramos em contato com alguns colegas que sabíamos onde moravam, foi tomando uma proporção significativa, tinha jantares com mais de 100 pessoas. Hoje usamos muito o WhatsApp. Inclusive os professores eram frequentadores dessas reuniões: as professoras Conceição Brasil, Cecília Graner, Clemência Pizzigatti, professor Davi, Paulo, professor de física, Miguel Salles, inspetor de alunos, Seu Atílio, Professora Maria José, de estudos sociais. Professor Beduschi, professora Jandira Ramos.

As reuniões eram em qual local?

A primeira reunião foi na parte superior do tradicional Restaurante Mirante, famoso pelo pintado na brasa. Hoje o Vado, chefe de cozinha do Restaurante Mirante está com o seu restaurante localizado na Rua Alferes José Caetano. Depois fizemos no Hotel Nacional. Restaurante Monte Sul. No Clube de Campo. Com a mudança de cidade da Yurika, e com o passar do tempo, houve uma dispersão do grupo, até que a Selma Kassouf montou esse grupo no WhatsApp. Acredito que temos mais de trinta integrantes do grupo.

É muito comum haver divergências quando determinados assuntos são abordados dentro de um grupo, podendo até mesmo exterminar o grupo.

No nosso grupo achamos mais saudável para todos, evitarmos expressar o posicionamento político individual.

Qual é o principal objetivo do grupo?

É mantermos o nosso vinculo. Muitos colegas moram fora do país, fora do Estado, ou fora de Piracicaba, esse contato pelo menos uma vez por ano é presencial, mas diariamente estamos nos comunicando, trocando impressões, sabendo como cada um está. Uma das coisas muito agradáveis é a forma como nós nos tratamos, com polidez, respeito, cuido em não ferir sensibilidades, o cuidado e o carinho que cada um tem com o grupo. Esse respeito acredito que é uma coisa própria da nossa geração. Grupos de pessoas pelo meio virtual nem sempre agrada, alguns geram problemas, chateações.  

Um dos fatos extremamente comovente, foi a iniciativa desse grupo com relação a um integrante do grupo.

Trata-se de um colega, pessoa extremamente inteligente, sempre foi um aluno exemplar, formou-se em uma das maiores escolas do país. Após formado trabalhou em empresas de tecnologia de ponta em São Paulo, desenvolveu vários projetos. Seus pais faleceram, ele retornou a Piracicaba na casa onde sempre tinha vivido. Ali passou a residir sozinho, não havia se casado. Adoeceu e aos poucos foi definhando. Sem ninguém que cuidasse dele. Suas economias escasseando. Ele participava do grupo.  Os colegas ao saberem da situação, inmediatamente se movimentaram. Desde a assistência hospitalar. até os cuidados que só uma mulher sabe realizar em um lar. Cuidaram de tudo. Ele permaneceu no hospital, as visitas eram constantes, mesmo ele estando inconsciente. Até o último momento da vida dele, teve o total apoio desse grupo de amigos.

Diante do atual quadro que a COVID-19 trouxe, mostrando a fragilidade humana, ao que tudo indica, vamos passar a valorizar mais o que de fato importa.

Eu me abalo muito com o fato das pessoas estarem sendo usadas como “descartáveis”! Acho isso muito perigoso.  Nós temos aquele apego fraternal, de não desligarmos da pessoa que prezamos. Tanto assim que conservamos amizades de infância,

Você tem saudade do bonde?

Andei muito de bonde. A parada do bonde da Paulista era ao lado da casa da minha avó,na Rua Benjamin Constant esquina com a Avenida Dr. Paulo de Moraes. A minha mãe nasceu naquele casarão onde agora é uma floricultura. Nasci na casa que ficava na Rua Benjamim Constant, quase esquina com a Avenida Independência, meu pai tinha adqurido a casa da família Gobeth. Ali morei até 1974 quando mudei ao lado da casa de Dona Maria Figueiredo, dona da Rádio Difusora de Piracicaba. Essa casa onde morei não existe mais, fica próxima de onde hoje existe a Igreja Presbiteriana, na Rua Alferes José Caetano. Essa casa pertencia a Dra. Ana D`Abronzo. Ali que meu pai faleceu aos 45 anos. Fomos morar em um apartamento no Edifício Checolli de onde sai quando casei.

Você casou-se em qual igreja?

Casei-me na Igreja dos Frades. Frei Augusto fez a minha primeira comunhão e o meu casamento. Quando fiz a minha primeira comunhão eu o olhava erguendo a cabeça para cima, quando casei olhava-o olhando para baixo, eu estava mais alta do que ele. (Ana é uma pessoa alta para os padrões brasileiro.).  No lado oposto ao Lar Escola Maria Nossa Mãe, na Rua Boa Morte, 1966, havia o depósito e fábrica da aguardente, Caninha 21 da Del Nero & Cia. Ltda. com enormes tonéis de madeira. Lembro-me da Normanda Del Nero e dos irmãos dela.

Você chegou a andar de trem?

Íamos para Mongaguá de trem! Saiamos de Piracicaba até Sorocaba, lá faziamos a baldeação e íamos de trem até Mongaguá. Nossas férias era lá, na casa dessa nossa tia de Sorocaba, que morava em frente a Estação da Sorocabana, em Sorocaba. Era muito bom!

Onde hoje existe um edifício, na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com São Francisco de Assis Havia uma pensão bem-conceituada. Ali morava o Marcos Ometto, que estudava no Jorge Coury. Mais adiante, na Rua Governador morava o Felipe Belato, outro colega de Jorge Coury. O Maestro Ernst Mahle residia na Rua São Francisco de Assis.entre a Rua Governador Pedro de Toledo e a Rua Benjamin Constant. Nesse trecho morava os Guimarães de Souza. Eu tinha duas vizinhas de casa: Hercília e Ângela Brasil. A Cecília, filha da Dona Zezé, estudou no Colégio Nossa Senhora da Assunção. Minha mãe também estudou no Colégio Nossa Senhora da Assunção até o quarto ano de ginásio, depois ela foi fazer o Curso Normal no Instituto de Educação Estadual Sud Mennucci. Outra vizinha era a Cecília Piedade, é dentista, mora em São Paulo.

Havia uma senhora, estrangeira, cujo nome tinha o som de Iope, você chegou a conhecer?

Conheci! Ela morava na Rua São Francisco de Assis, entre as ruas Governador Pedro de Toledo e Rua Boa Morte Morava em um casarão, com fachada de pedra. Eu frequentava muito o Lar Escola Maria Nossa Mãe, Dona Zezé tinha duas irmãs que eram freiras, uma ficava no Lar Escola, eu com a Cecília íamos a Missa das Crianças, as 8 horas da manhã, na Igreja dos Frades, saiamos da missa todos os domingos, passávamos no Lar Escola, brincávamos em um parquinho que existia no fundo, hoje já não existe mais, comíamos alguma coisa que elas davam para nós, e depois levávamos retalhos de hóstia (não consagrados) , para comer.

Você chegou a frequentar as quermesses que havia ao lado da Igreja dos Frades?

Todos os anos, em junho, havia essas quermesses. Eu adorava aquela festa!                                                                                                                      Dancei muito no Lar Escola, todos os anos tinha uma festinha no Lar Escola. Cada ano era uma fantasia: cigana, baiana, ensaiamos pelo menos por seis meses e faziamos a apresentação. Era uma delícia, tinha pandeirinho, peteca, bola.

E os carnavais de Piracicaba, você frequentou?

Eu frequentava o Clube Cristóvão Colombo., o “Palácio de Cristal” com a sacada que balançava! Aquela sacada? Não sei como aquilo nunca caiu! Você mexia nela, ela sacudia! Parece que o prédio foi alugado a um órgão público. Meu pai foi um dos primeiros sócios do Cristóvão, depois o meu marido que chegou a ficar remido. O Cristóvão era um carnaval autêntico no Salão de Cristal. Quando o clube veio para a Avenida Professor Alberto Vollet Sachs perdeu totalmente a característica de carnaval! Uma luz apagada, as pessoas sentadas à mesa, não tinha aquele contato de dançar no meio do salão, dai nunca mais eu fui!

E cinemas você frequentava?

Frequentávamos! O Cine Palácio (mais tarde Rivoli, hoje um templo religioso), o Broadway, o Politeama. O Broadway chegou uma época em que só tinha filmes que não gostávamos de frequentar. O Cine Plaza, que durou muito pouco tempo, ficava no Edifício Comurba, que ruiu. Tivemos lanchonetes memoráveis: Daytona, na esquina da Rua Moraes Barros com a Praça da Catedral, em um nicho tinha a réplica em tamanho natural de um carro de Formula-1. Antes tivemos o Karamba`s que ficava na esquina da Rua São José com a Praça da Catedral. 

Foi uma época fantástica!

Lembro-me dos bailes do Teatro São José. Um local fantástico, onde ocorriam os bailes de formaturas. Grandes shows. Meu pai nos levava. Quando acabava o baile voltávamos a pé até a Avenida Independência com a Rua Benjamin Constant. Voltava a pé pela Rua Governador Pedro de Toledo, passavamos pelo Mercado Municipal que estava abrindo. Sem perigo nenhum, sem desespero. Era uma delícia! Por isso que 1954 foi uma época boa para nascer! A melhor safra!

Ainda menino eu tinha um sentimento difícil de definir se era medo ou pavor em passar pela Rua Benjamin Constant esquina com a Avenida independência, ali ficava a Funerária Libório, com os caixões expostos para o cliente escolher.

Pertinho de casa! (risos); Pois saiba que nos bons tempos, quando tinha 14  15 anos, fazíamos brincadeiras dançantes, na parte de baixo da loja do Libório.Um tipo de um porão, rodeada de caixões funerários.

Mas isso é meio estranho, não?

É sério! Naquela época cada semana fazíamos uma brincadeira dançante na casa de um dos integrantes do grupo de jovens. Era moda as brincadeiras dançantes.

Levávamos bebida, alguma coisa para comer. Geralmente a bebida era Ki-Suco, groselha. Dançávamos ao som das músicas que eram sucessos, sem que nos sentíssemos incomodados com a decoração do ambiente. Possivelmente, o fato de sermos muito jovens, para nós a morte era algo muito distante. Também o fato de estarmos permanentemente vendo uma urna funerária entrando ou saindo era coisa mais natural do mundo. Hoje quando me lembro disso, penso: “Gente! Éramos loucos! ”.

Na esquina da Rua São Francisco com Rua Benjamin Constant tinha um armazém chamado “Casa Nê” Mais para frente a famosa Foto Fuji. Em frente tinha a Vidraçaria do Furlam. Na esquina tinha a sapataria do Seu Toninho. Na esquina da Rua Benjamin Constant com a Avenida Dr. Paulo de Moraes tinha o armazém do tio da minha mãe, onde hoje é a floricultura. Ele que construiu aquele sobrado que existe até hoje.

Ele era libanês?

Era sim, meu tio João Elias. Aquela casa era muito interessante, era uma casa enorme, com dois andares, tinha duas salas grandes, embaixo tinha uma sala de jantar, uma cozinha, a casa inteirinha tinha um banheiro! A minha avó morava ali com eles. Vinham visitas, cada um tinha o seu quarto, mas o banheiro era único. Meu tio construiu um segundo banheirinho na parte externa. Minha avó chamava-se Deolinda Elias Cenedese e meu avô Fioravante Cenedese.

Virando a esquina pelo lado direito, na Avenida Dr. Paulo de Moraes, é a família Filetti.

Exatamente. Ontem mesmo estava comentando com a minha filha e meu genro, que trabalhei muito no Filetti. Ao mesmo tempo em que brincava, empacotava, farinha de milho, fubá, depois no final do dia varria tudo, o pátio inteirinho. Ao mesmo tempo que era uma brincadeira, ajudávamos. Tinha a Maria Aparecida, que era tia da Izilda, a diferença de idade entre as duas era de apenas um ano! E tinha a Vera. Subindo tinha um outro moinho, que era onde eu brincava e trabalhava, Eram dois moinhos: O moinho do Seu Antonio mais próximo da esquina da Rua Benjamin Constant e o moinho da parte de cima do Seu José.

 

 


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