sexta-feira, março 30, 2018

MARCO ANTONIO CAVALLARI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 31 de março de 2018.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO: MARCO ANTONIO CAVALLARI

Profissional de Belas Artes

         


          Nascido em Vila Rezende, Piracicaba, em 29 de Outubro de 1948. Filho primogênito de Agenor Rosário Cavallari e Rita Bortolazzo Cavallari, Marco Antônio ainda com oito anos, iniciou sua carreira artística como cantor mirim, no Programa Infantil da Rádio Difusora de Piracicaba (antiga PRD-6), sob a direção do radialista Benê Marques. Paralelamente a esta atividade e inspirado pelo pai, modelava figuras diversas em argila crua, que após serem finalizadas a seu modo, eram comercializadas por ele mesmo em um recanto do quintal da casa onde morava.  Também desenhava constantemente tudo o que via e imaginava.

          Aos 13 anos de idade, aprendendo com o pai, também músico e artista plástico e discípulo de Frei Paulo de Sorocaba, começou a tocar e ministrar aulas de violão popular para as internas e freiras do Instituto Baronesa de Rezende, antigo Colégio das Freiras que, conhecendo as suas habilidades como desenhista, passaram a encomendar Planos de Aula de Anatomia Humana, que consistiam em Folders Anatômicos Didáticos de grande formato (Folders, como eram chamados), que eram depois colorizados com lápis de cor.  Ele também fazia ilustrações para publicações didáticas e, como pintor de murais, executava Decoração Pictórica em paredes, com temas  variados, em estabelecimentos públicos diversos, inclusive no próprio colégio.  O Grupo Escolar José Romão escola onde concluiu o 1° grau, também optou por suas ilustrações de Desenho Anatômico.   Quando se aproximava a época de Corpus Christi, a Igreja Matriz do Bairro Vila Rezende solicitava os seus trabalhos artísticos para a decoração do trajeto da procissão, com temas sacros diversos relacionados ao evento.

          Daí para frente não mais parou; tanto como artista plástico ou gráfico, como músico guitarrista e crooner pela Ordem dos Músicos do Brasil, época em que atuou com diversos conjuntos musicais (quinze ao todo) e também com artistas do rádio e da televisão, tais como: Márcio Greick, Jair Rodrigues, Agnaldo Timóteo, Ed Carlos, Peninha, Pery Ribeiro, etc. A partir dos 18 anos, ele atuou 21 anos como crooner em bailes de carnaval. Na época, incentivado pelo radialista Moraes Sarmento, apresentou-se no Programa “A Gaiola de Ouro do Borba”, do apresentador de TV Alfredo Borba, da TV Tupy , Canal 4, onde foi aprovado pelo seu rigoroso júri. Após concluir o 2° grau, atuou como cantor tenor do Coral da Escola de Música de Piracicaba, onde ingressou como aluno de trombone de varas e posteriormente na Orquestra Sinfônica “Ernest Mahle” como Trombonista Amador.  Também fez parcerias muitas vezes, com o cancioneiro Pedro Alexandrino, Poeta e outros cancioneiros piracicabanos, que eram amigos do seu pai.  De 1965 a 1968, cursou Artes e Desenho Artístico e Publicitário na Escola Panamericana de Arte em São Paulo, cujos professores eram Aldemir Martins, Ziraldo, Mário Tabarim, Walter Foster, Di Prete, entre outros. Quando concluiu, cursou Desenho, Escultura e Cerâmica no Instituto “Elly Krayer Krauss,” também em São Paulo, ao mesmo tempo em que ministrava Aulas de Cerâmica Rústica às crianças excepcionais do Centro de Reabilitação de Piracicaba, onde trabalhou como professor de Modelagem em Argila por 7 anos.   Paralelamente atuava como músico, artista plástico, gráfico e publicitário.    Em 1972 casou-se com Marilda dos Santos com a qual teve dois filhos: Marco Antonio Cavallari Júnior e Mariana Gabriela Cavallari.    Em 1973 foi contratado como Desenhista Técnico/ Artístico, Ilustrador e Projetista de EPIs e Equipamentos de Segurança pela COPERSUCAR (Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo), onde trabalhou por 14 anos, deixando lá um arquivo com mais de dois mil e quinhentos desenhos, que realizou nas mais diversas modalidades no decorrer deste período.

          No transcorrer de sua carreira concluiu diversos cursos técnicos, na área de desenho e outros, formando-se, Desenhista Artístico; Desenhista Publicitário; Desenhista Mecânico; Letrista, Desenhista Arquitetônico; Desenhista de Segurança do Trabalho; Produtor de Recursos Áudios-Visuais Didáticos; Projetista de Máquinas e Equipamentos; Fotógrafo Amador; Escultor; Modelador; Restaurador; Músico Popular, Encadernador, Serigrafista e Maquetista. A partir de 1973, até a presente data participou de muitos Salões de Belas Artes, nos quais conquistou 53 Prêmios Honoríficos, entre eles 16 Medalhas de Ouro, 2 Prêmios Aquisitivos, Câmara de Vereadores e Prefeitura Municipal de Piracicaba, assim como 12 Homenagens; 3 Menções de Congratulações, 4 Moções de Aplausos e “Diploma de Reconhecimento de Mérito” pelo Dia Municipal do Artista Plástico, através da Câmara dos Vereadores de Piracicaba, sendo que uma das Moções de Aplausos foi proposta pelo Vereador Moacir Monteiro, como reconhecimento ao artista, pela realização dos trabalhos de Reconstituição Craniométrica do Médico Nazista Dr. Joseph Mengele e do Beato Joseph Benoit Marcelin Champagnat (José Bento Marcelino Champagnat), em prol à humanidade.

          Foi o escultor-autor da Reconstituição Craniométrica do médico nazista Dr. Joseph Mengele, a pedido da Polícia Federal do Brasil, através do Dr. Romeu Tuma, Superintendente Geral da Polícia Federal de São Paulo, sob a direção do Dr. Prof. Fortunato A. Badan Palhares, médico forense; Dr. Prof. Nelson Massini, médico forense e das Autoridades Federais de Israel, Alemanha e EUA.   O trabalho foi reconhecido pelas autoridades federais e forenses do Brasil e de vários países, destacando-se os EUA e a Europa, sendo intensamente divulgado pelos meios de comunicação mundiais, como; o Diário ABC, S.L. de Madrid, Espanha e publicações variadas do Brasil, América Latina, Europa e EUA, através de entrevistas e informes concedidos pelo artista à imprensa falada e escrita, compreendendo a TV, rádio, revistas e jornais, de um modo geral.   Tanto este trabalho, como o que foi posteriormente realizado no crânio do Beato Joseph Benoit Marcelin Champagnat, também se encontram referenciados nos livros: “Por Que Converso Com os Mortos,” de autoria do Dr. Prof. Fortunato A. Badan Palhares e no “Tratado de Odontologia Legal e Deontologia,” de autoria do Dr. Prof. Eduardo Daruge, 1ª edição, no capítulo que trata sobre a Reconstituição Craniométrica, ilustrado com 18 fotos cedidas graciosamente e que foram executadas pelo escultor no decorrer do trabalho que realizou no crânio do nazista Dr. Joseph Mengele.    Cavallari também atuou como o escultor-autor da Reconstituição Crânio Facial do Beato e Sacerdote Marista, Pe. Joseph Benoit Marcelin Champagnat, solicitado pelo SIMAR; Secretariado Interprovincial Marista do Brasil e da França, por intermédio do Pe. Roque Brugnara e do Dr. Prof. Fortunato A. Badan Palhares, sob o requerimento oficial do Vaticano, cujos processos e resultados técnico/artísticos foram publicados nas páginas 61 e 62 do Livro de Ciências e Educação Ambiental “O Corpo Humano” do Prof. Daniel Cruz, para a 7ª Série, como matéria didática, entre tantas outras importantes publicações do país e do mundo.   As cinco peças anatômicas concluídas, resultantes do processo de reconstituição fisionômica do Beato Joseph Benoit Marcelin Champagnat, incluindo um busto fundido em bronze; que foi um presente concedido pelo artista à Ordem Marista, se encontram registradas nos Arquivos da Casa Geral do Vaticano em Roma, como elementos documentativos e constitutivos do acervo. Marco Antônio Cavallari é reconhecido como o único escultor que realizou uma Reconstituição Cranio-métrica de um Comandante-Médico e Membro do Partido Nacional Socialista Alemão - Nazismo; o Dr. Joseph Mengele, ao propósito da confirmação de sua identidade e a conclusão do processo de caça aos nazistas refugiados no Brasil, assim como a de um Sacerdote Marista, como no trabalho do Beato Joseph Benoit Marcelin Champagnat, Fundador do Instituto dos Irmãos Maristas francês, nascido em Marlhes a 20 de Maio de 1789 e falecido em Notre Dame de L’Hermitage - França, em 6 de Junho de 1840, que foi destinado ao processo de sua Canonização pelo Vaticano em 18 de Abril de 1999, pelo Papa João Paulo II. Muitas das 1475 obras escultóricas feitas pelo artista se encontram em coleções particulares, museus, cemitérios, hospitais, escolas, etc, no Brasil, Colômbia, EUA e Europa. Entre elas destacam-se: o busto do Campeão de Fórmula 1, Ayrton Senna da Silva; os bustos dos Presidentes; Tancredo Neves e Prudente José de Morais e Barros; o busto do Cancioneiro Vitório Ângelo Cobra “Cobrinha;” o busto do Beato Antonio Maria Claret; o busto do Beato Joseph Benoit Marcelin Champagnat; o busto do Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec; o busto do Beato Antonio Frederico Osanan (Associação São Vicente de Paulo); o mini-meio-busto do Dr. Norman Ernest Borlaug , Nobel da Paz , 1970; o mini-meio-busto do Dr. Luiz de Queiroz (concedido pela ESALQ ao Rei Gustaf XVI da Suécia); o mini-meio-busto do Maestro Fabiano Lozano (designado pela Secretaria de Ação Cultural de Piracicaba como, “Prêmio Fabiano Lozano”); o mini-meio-busto da Prof. Miss Martha Hite Watts entre tantos outros.                                                                                                                                         

Em 1987 fundou o M. CAVALLARI - Studio di Arte, onde trabalha e ministra Aulas de Desenho, Pintura e Modelagem de Figuras Escultóricas, sendo que pelo qual já promoveu Seis Mostras de Trabalhos Artísticos dos seus alunos.   Cavallari também pertence a várias associações relacionadas à arte, como à APAP (Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos), Piracicaba (sócio fundador e emérito); ao SINDESP (Sindicato dos Empregados Desenhistas de Piracicaba), Piracicaba (sócio fundador e diretor); ao Clube dos Escritores de Piracicaba (grau Academicus Praeclarus  cadeira nº 49  Membro); ANAP (Academia Nacional de Artes Plásticas), Poços de Caldas - MG., (Membro); Alborques Online Art Gallery,  Portugal, (Membro).

          Diversos dos seus mais relevantes trabalhos de escultura e pintura, tanto como inúmeras ilustrações nas mais diversificadas designações e modalidades técnicas, foram fartamente publicadas em informativos e revistas, como por exemplo, Manchete; ASA; Família Cristã; Conexão Paulista; Histórica, etc, assim como catálogos, livros didáticos e jornais do Brasil e do mundo. Também concedeu diversas entrevistas a profissionais consagrados da Imprensa, do Rádio e da Televisão, entre eles a Jornalista Marília “Gabi” Gabriela; Jornalista César Costa; Jornalista João Umberto Nassif; Radialista Paulo Eduardo; TV BBC de Londres/Brasil; TV Globo; TV Bandeirantes; TV Rede Vida; TV SBT, etc.   Na internet existem muitas referências sobre o artista e seu vasto trabalho, que podem ser encontradas no Google; gigapira.com.br; NossoJornal.com; Site da APAP - Piracicaba;BLOG DO NASSIF https://blognassif.blogspot.com.br/; Top 1000 Links úteis; Ipplap.com.br; ANAP.art.br; Albor-ques.com - Portugal (Membro do Alborques Online Art Gallery); dandonota.wordpress.com; Hotel Praia do Encanto.com.br; HOTFROG.com.br newpagerank.com; vejablog.com.br; riodasartes.-blogspot.com.br; guialis.com.br; yasni.com; Tuugo.com.br; Nget.com/arte_cultura; diretorioempresas.com.br; Ur/Pulso.-com.br; Zeen.com.br e muitos outros.   Diversos dos seus trabalhos foram adquiridos e outorgados a personalidades e autoridades diversas, tais como o Rei Carlos XVI Gustaf da Suécia, Presidente João Batista de Oliveira Figueiredo; Instituições Maçônicas Internacionais e Brasileiras, estando entre elas o GOB (Grande Oriente do Brasil) e GOSP (Grande Oriente de São Paulo); Maestro Ernest Mahle; Prefeito Barjas Negri, entre tantos. 

          Realizou oito Mostras Individuais de Esculturas e Desenhos. Também atuou como Presidente da Comissão Organizadora do 47° SBAP (Salão de Belas Artes de Piracicaba) e como Presidente (biênio 2001 a 2003) e Vice Presidente (biênio 2004 a 2006), da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos - APAP, da qual é Sócio Fundador e Emérito.

          Estudioso autodidata da Anatomia Humana, com o aprimoramento da modalidade pela experiência que adquiriu na área de Estudos Forenses e Anatômicos da Cabeça Humana, com a parceria e as orientações recebidas durante o período em que atuou nos trabalhos de Reconstituição Crânio Facial supra-referidos, pelos Drs. Profs. Fortunato A. Badan Palhares, Nelson Massini, Fausto Bérzin e Eduardo Daruge, da UNICAMP - Brasil. Fundamentando-se nestas experiências, está escrevendo o livro: “Estudo da Anatomia da Cabeça Humana - Suas Características e Diversificações,” dirigido exclusivamente aos propósitos artísticos.   Ainda como escritor, é autor dos livros: “Tratado de Desenho Artístico Clássico”; “Aprenda a Desenhar com o Júnior” (dirigido a crianças dos sete aos onze anos); “Reconstituição Craniométrica do Médico Nazista, Dr. Joseph Mengele”; “Reconstituição Craniométrica do Beato, Joseph Benoit Marcelin Champagnat”, consistindo este último em um documento complementar do Filme-Documento; sob o mesmo título, que produziu no decorrer do processo de reconstituição da face do Beato.  Também escreveu os livros: “Cerâmica Rústica”; “Documento do Trabalho de Restauração da Imagem em Cedro Policromatizado, de Jesus Cristo Crucificado”, pertencente ao acervo sacro da Matriz de Vila Rezende - Piracicaba; Julgamento, Martírio e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, que foi produzido com base nos estudos realizados no Santo Sudário de Turim; “A Pseudosimetria da Face Humana” (ainda em andamento) e “Grimório - Scientia Sancta Sanctis” (ainda em andamento).    Como pintor, está produzindo uma discreta coleção de pinturas a óleo sobre tela, que estão destinadas à sua Primeira Mostra de Pinturas, em programação.
MARCO ANTONIO CAVAVALLARI AO LADO DO BUSTO DO CANCIONEIRO VITÓRIO ANGELO COBRA, O COBRINHA

Marco há muitas peças artísticas em seu ateliê, esse crânio humano é real?(Trata-se de uma réplica perfeita, com todos os ossos internos inclusive, de uma perfeição absoluta).    

Esse crânio eu esculpi no gesso, tem o peso de um crânio de osso, deixei uma abertura onde você toda a conformação óssea interna de um crânio, nos mínimos detalhes. ( Ossos pouco maiores do que um fio de barbante fino). Fiz para testar o que eu sei. A mandíbula é articulada, fiz até o etmóide. Septo nasal dividido em dois. Esse forame tem passagem. (Forame é o nome dado a uma abertura para passagem de vasos e nervos em ossos ou entre ligamentos). Eu amo fazer esse trabalho. Sempre analiso tudo pela dedução lógica. Tudo tem uma lógica. Nada na natureza pode sumir, pode sim mudar de forma. O corpo fenece, a terra, o fogo ou a água absorve-o.

Atuando como músico, o seu trabalho com artes plásticas caminhava em paralelo?

Trabalhava como desenhista publicitário em casa, inclusive para o Jornal de Piracicaba. Fazia perspectivas de prédios, para as construtoras que iam lançar um prédio. Trabalhei com muitas óticas, mais de 300, até da Bolívia. Havia dois representantes no Brasil que faziam acessórios para ótica. Eu fazia os desenhos que ilustravam.

Como foi o seu salto da ilustração para a escultura?

Sempre fiz esculturas. Tem uma passagem curiosa, recebi algumas visitas de um pessoal altamente especializado, em meu ateliê. Uma das pessoas, por algum motivo, questionou alguns aspectos técnicos de uma escultura minuciosa de um crânio. À medida que fui respondendo-lhe em sua linguagem técnica, ela foi tomando ciência de que o meu trabalho tem fundamento artístico e rigorosamente científico.

O que é uma herma?

É a coluna que sustenta o busto representado. A figura é o busto que vai sobre uma herma.

Como surgiu o Caso Mengele para você trabalhar?

Foi uma coisa que jamais esperava em minha vida. Com tantos especialistas, principalmente no Japão, Estados Unidos, tenho um livro de reconstituição, que ganhei do Dr. Badan Palhares, é impressionante o trabalho feito pelos americanos. Eu estava em uma festa de casamento, deram-me o recado de que uma pessoa queria falar comigo. Sai do local da festa e em frente estava o Dr, Massini. Identificou-se, perguntou-me se eu era o Cavallari. Após as apresentações ele disse-me que estava com a cabeça do Mengele. Eu não sabia quem era Mengele. Josef Mengele, era um médico alemão e capitão da SS no campo de concentração de Auschwitz, no subcampo de Birkenau, durante a Segunda Guerra Mundial. O Dr. Massini disse-me que Mengele tinha falecido no Brasil e ele queria fazer a reconstituição. Disse-me ainda que tinha urgência. Tive que deixar o casamento do meu irmão e ir até a casa do Dr. Massini. Fomos, ao chegar ele retirou a cabeça de um acondicionamento próprio, disse-me: “Tem que repor todo o tecido, vou fornecer-lhe todo material necessário”.
EWCONSTITUIÇÃO FEITA POR CAVALLARI A PARTIR DO CRÂNIO DE Josef Mengele

Qual foi a sua reação?

De início Dr. Massini já disse que a polícia não tinha verba para pagar o meu trabalho, nem ele estava recebendo nada. Pensei: “Saber que um nazista veio parar na minha mão!”. Disse-lhe: “ Massini , vamos começar a estudar, me dê os livros de anatomia de cabeça”. Na realidade eu já desenhava e esculpia cabeças humanas.

Você tinha várias réplicas de cabeças em diferentes faixas etárias de Mengele.

Marco Antonio Cavallari, abre um armário onde estão dispostas uma série de trabalhos de reconstituições faciais, reconstituições de crânios, inclusive de crimes famosos conhecidos no Brasil inteiro, com as características detalhadas das entradas e saídas de projéteis. De Mengele ele explica: “Guardei uma réplica que fiz para mim, ele reconstituído quando era moço e quando era velho”. (Mengele nasceu em 16 de março de 1911, na Alemanha e faleceu a 7 de fevereiro de 1979, aos 67 anos, possivelmente de um ataque cardíaco quando se banhava nas águas do mar em Bertioga, São Paulo). Cavallari dá uma aula de identificação, pontos frágeis, grau de habilidade de quem pratica o crime, com incrível perícia ele consegue informações preciosas para identificar pontos que ao leigo não significam nada.  A obra de Marco Antonio Cavallari é muito diversificada e precisa. Técnica e artística. Um artista que ganhou a glória do reconhecimento internacional.

 
CAVALLARI E O PORTAL ESCULPIDO POR ELE EM SEU ATELIÊ.



 

domingo, março 25, 2018

EDUARDO DARUGE JÚNIOR


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 de março de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: EDUARDO DARUGE JÚNIOR

Eduardo Daruge Júnior nasceu em Ribeirão Preto a 15 de novembro de 1960, tem seus irmãos Luis Antonio, Rinaldo Carlos, Cristiane, Adriano, Alexandre e Maria Eduarda. Eduardo Daruge Júnior é casado com Maísa Cruzatto Perrini Daruge que têm os filhos Eduardo Daruge Neto,médico, e Fernando Perrini Daruge, empresário.
Os primeiros estudos o senhor fez em qual escola?
Foi no Grupo Escolar Prudente de Moraes. No ano passado faleceu Dona Domingas Gallo, uma professora dedicada ao ensino, apaixonada pelo que fazia. Naquele tempo tínhamos um respeito pelo professor que hoje não existe mais, atualmente o aluno manda na escola, não é o professor e a escola que mandam no aluno. Tinha que entrar na classe em fila cantava-se o Hino Nacional com a mão no peito. Quando o professor entrava na sala de aula os alunos ficavam em pé. Lembro-me que quando fazíamos alguma “arte”, brincadeiras de criança, ela fazia escrevermos no caderno: “Cada coisa em sua hora, cada coisa em seu lugar” repetíamos essa frase exaustivamente a cada vez que fizéssemos algo errado. Tive uma afinidade pela sua didática, que mantive o relacionamento de amizade até ela falecer aos 96 anos. Em uma das últimas visitas que fiz à Dona Domingas, ela mostrou-me um pequeno caderno com o nome de todos seus ex-alunos, inclusive o meu, eu tinha escrito aos 10 ou 11 anos de idade. O detalhe, é que cada aluno que ela alfabetizava anotava com sua própria grafia o seu nome. Ela mantinha esse caderninho desde a década de 50. Depois que ela faleceu a família deu-me de presente o caderninho, tenho até hoje. Quando conclui o primário fui para a APAF Escola Estadual Dr. Antonio Pinto de Almeida Ferraz Em seguida fui para a Escola Estadual Professor José Mello Moraes. De lá fui estudar no Instituto de Educação Sud Mennucci. A Seguir estudei no Colégio Luiz de Queiroz, onde tive uma excelente formação. Lembro-me de que embora já estivesse no prédio novo, as provas eram feitas na cripta da Catedral de Santo Antonio. Quando eu fazia o colegial, fiz também o curso técnico de prótese, na Faculdade de Odontologia de Piracicaba - FOP.
Atualmente a prótese dentária está em uma fase de transição?
Quem permanece trabalhando com a prótese que se usava antigamente, que era a prótese total, popularmente chamada de dentadura, em sua maior parte está trabalhado com porcelana, muito envolvimento estético, houve uma evolução da prótese dentária, voltada para o desenvolvimento dos equipamentos que existem atualmente. Hoje conseguem confeccionar uma coroa dentária sem ter a intervenção manual. Usando o computador em três dimensões. Já está disponível em Piracicaba. Alguns clínicos já possuem esse equipamento. Através do scanner ele transmite as informações para o computador e já confecciona a peça. Logicamente que ainda existe a demanda para a prótese comum. Ainda se faz muita dentadura.
O poder aquisitivo de boa parte da população é limitado.
O Brasil é um dos poucos países que tem uma preocupação com a saúde oral muito grande. Existem países, inclusive muito desenvolvidos, onde uns bons números de indivíduos têm os dentes estragados. São países onde não há a cultura do tratamento odontológico.
O senhor estudou na FOP – Faculdade de Odontologia de Piracicaba, integrante da UNICAMP?
Estudei na FOP, conclui o curso em 1985. Trabalhei por seis meses com consultório, sempre adorei odontologia, sempre achei que seja qual for o trabalho tem que dar satisfação pessoal e uma forma de ver horizontes. No meio do ano prestei a Faculdade de Direito, fiz o mestrado em Odontologia Legal, eu já tinha essa vontade, pelo fato de sempre acompanhar os passos do meu pai, lembro-me de que na década de 70 ele publicou um artigo na Revista Quintessence ele descreveu uma ocorrência. Ele conseguiu identificar um delinqüente pela mordedura, pela mordida dele. Um casal estava namorando dentro de um Fusca, em uma área rural, na época era comum, tinham deixado uma fresta do vidro do carro aberta. O marginal encostou o revolver e anunciou o assalto, segundo o relato do delegado, o assaltado pediu para abrir o carro, o assaltante permitiu. Com a mão direita ele abriu o carro, pensando em segurar a arma do assaltante, e foi o que aconteceu, quando ele abriu a porta segurou a arma, o assaltante começou a disparar a arma porque esquenta o cano do revolver, como ele não soltou o assaltante começou a morder o braço do assaltado. Nisso a menina veio por trás e com as unhas compridas cravou no pescoço do assaltante e começou a puxar, ele largou a arma e saiu correndo. O Dr. Luiz T. Brienza era o delegado que fez o Boletim de Ocorrência do casal. Ele lembrou-se do meu pai, telefonou e perguntou se não seria interessante fazer a coleta das marcas das mordidas. Meu pai Eduardo Daruge, foi até a delegacia, moldou, fotografou, é moldado em silicone e depois coloca o gesso para ficar a delimitação da mordida. Uma semana depois, o Dr. Luiz Brienza estava de plantão novamente, atendeu um caso de atentado violento ao pudor. Quando o Dr. Luiz viu as marcas no pescoço do detido, lembrou-se do casal que tinha sido atacado. Dr. Luiz questionou o individuo sobre aquelas lesões, ele disse que foi pescar cascudo e enroscou no arame farpado. Era evidente que as marcas eram divergentes. Ele chamou o meu pai para fazer a moldagem da boca do detido. Ele moldou, comparou com as mordidas que ele tinha coletado no braço do rapaz que tinha sofrido o ataque, o resultado foi 100% de identificação. Isso acontece muito em estupro, o estuprador acaba mordendo a vítima.
Com relação ao DNA vocês usam como processo de identificação?
O DNA veio depois de um longo tempo, e ainda está muito novo no Brasil, isso porque o custo é muito alto, quando se fala em DNA para pessoas vivas é uma coisa, quando se fala em DNA para material necrótico é outra coisa. Exige uma técnica mais apurada. É mais cara também. O Estado paga, mas é um processo mais demorado. Vitimas em estado de decomposição ou esqueletizado, para trabalhar com DNA é um processo oneroso. Tanto que só é feito o DNA nesses casos quando se encontra uma família suspeita em pertencer ao individuo que foi encontrado.
Quando é feita a exumação como se encontra o corpo?
Depende de quanto tempo foi sepultado. As circunstâncias em que a pessoa faleceu influenciam. O individuo que passa por um tratamento quimioterápico acaba preservando esse corpo por uma longa data. A fauna cadavérica (que destrói o tecido mole) fica prejudicada, não consegue destruir aquele corpo. Uma vez foi encontrado um corpo em um poço de água desativado, a vítima era uma senhora que foi jogada ali. Entre o momento em que foi lançado e o momento em que foi encontrado, passaram-se trinta dias, Esse corpo estava muito bem preservado. Lá embaixo, no poço, é escuro, geralmente em corpos que estão expostos, o processo de decomposição começa com a mosca, que faz parte da fauna cadavérica. O processo de decomposição pode começar a partir de 12 dias, quando irá encontrar um corpo quase esqueletizando. Tem um caso recente, onde o prazo de desaparecimento e o encontro da ossada foram oito dias. Estava totalmente esqueletizado. Com partes ósseas destruídas. Existe a possibilidade de participação de animais carnívoros que devoram o corpo, tanto que vários ossos longos tinham as extremidades totalmente roídas. A literatura afirma que a decomposição normal é de dois a seis meses, podendo demorar até dois anos o tempo para esqueletização total.
A forma mais indicada de destino a um corpo, em termos de saúde pública, qual é?
É a cremação. Ela esbarra em um problema cultural. Até mesmo religiosa às vezes.
Após terminar o mestrado qual foi a sua próxima etapa?
Fui contratado na UNICAMP, em 1994, só que já trabalhava, dava aula em Araras, comecei a clinicar em 1986, na UNICAMP fui contratado como mestre tinha três anos para fazer o meu doutorado, hoje sou Livre Docente em Grau II,  o penúltimo degrau da carreira docente. O Departamento é da Odontologia Social, a área é de Odontologia Legal. A chefe do Departamento é a Dra. Gláucia Maria Bovi Ambrosano.

Prof. Dr. Eduardo Daruge Júnior , Prof. Dr. Luiz Francesquini Júnior e equipe.
O senhor tem consulta de outros estados?
Sempre têm.
O que o senhor recomenda à população como fator de colaboração na identificação humana?
A pergunta que eu faço é se o senhor já fez radiografias? Dentárias? Tomografia? O senhor tem as radiografias guardadas? Tem algum documento guardado daquilo que fez em odontologia? Se tivéssemos essa orientação na nossa formação, e entender que cada documento que a gente faz, correspondente ao nosso corpo pode ser extremamente importante. Lógico que ninguém pensa em ter um falecimento trágico. Que esse material vai ser necessário para um processo de identificação. Muitas vezes até o DNA fica prejudicado.
O senhor tem exemplos dessa situação?
Muitos! Há uns dois anos foi encontrado um corpo carbonizado em uma cidade da região. No mesmo dia foi encontrado outro corpo carbonizado em outra cidade também da região. No primeiro caso descobrimos a quem pertencia o veículo. Supostamente o corpo poderia ser do proprietário do veículo. A mesma coisa aconteceu com esse outro corpo da outra cidade, com a diferença de que o corpo além de carbonizado estava calcinado, desintegrado, tinha virado pó. Não tinha mais dente, osso. Vieram os dois corpos para o IML. Pediram que os auxiliassem. O primeiro caso estava mais preservado, foi mais fácil fazer a identificação, o suspeito fazia tratamento odontológico aqui na FOP. Foi identificado pelos dentes. O outro caso, não tinha material para fazer DNA. Fui buscar informação médica e odontológica. O exame primário de identificação consiste em três exames: 1-) Datiloscópica; 2-) Dentes, nesse caso não tinha material; 3-) O DNA, possivelmente o DNA ali já estava prejudicado em decorrência do grau de carbonização. Comecei o trabalho de investigação, no seu de local de trabalho não havia nada, só que o pessoal me informou que ele estava fazendo correção ortodôntica. Documentação ortodôntica é centro de radiologia que faz. Fui e descobri onde ele tinha feito radiografia. Quem o atendeu foi Dr. Pérsio Faber e outro dentista de Saltinho. Dr. Pérsio Faber passou todo prontuário dele, ele havia feito um implante no incisivo lateral, o dentista de Saltinho tinha feito mais cinco implantes nele. Pedi ao delegado para ir ao local onde estava o carro, para peneirar todo o material que estava no carro. Fui com a minha equipe, peneiramos e fomos encontrando seis implantes com as coroas de porcelana nele. A porcelana, o ponto de fusão dela é bem alto. Pegamos as radiografias, os informes de Saltinho, reconstruímos aqueles dentes nas posições e radiografamos. Comparamos com as radiografias existentes. Eram exatamente os mesmos. Fiz o laudo e mandei. Após a identificação do corpo inicia-se a o processo da busca da autoria. Rastrearam o telefone da esposa dele, descobriram que estava em atividade, ela disse que só iria se apresentar em juízo. Ela foi presa, já está solta. O crime deve ter sido cometido por um terceiro a mando dela. Com o auxilio de Luminol descobriram que ele tinha sido executado dentro da casa dele.
O senhor participa de eventos específicos?
Existem congressos de odontologia legal e medicina legal. Nesses congressos ele trazem toda tecnologia existente hoje. Já estão fazendo autópsia digital. Uma necropsia envolve três aberturas: craniotomia; tórax e abdômen. Verificam-se as lesões existentes, para tentar diagnosticar a causa da morte. Na identificação o sistema mais utilizado é a datiloscopia ou papiloscopia é o sistema mais econômico, geralmente parte-se de um reconhecimento, há muitos casos de erro ou fraude de reconhecimento. O reconhecimento não é identificação, você conhece alguém e reconhece o corpo da pessoa. Há casos quase folclóricos sobre reconhecimento, envolvendo três corpos e três famílias, com trocas de corpos que passaram apenas por reconhecimento. A impressão datiloscópica em um deles desfez a confusão. Saiu até no Fantástico! O reconhecimento é o preâmbulo da identificação. A necropsia determina se foi crime ou não. A causa da morte sempre tem que ser determinada, para evitar qualquer tipo de defesa do possível homicida. Qualquer suspeita de morte por intoxicação é colhido material para fazer exame toxicológico. É colhido o material e remetido para o IMESC - Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo.
A falta de informação geral prejudica a investigação?
Esse é o mal do Brasil! Só existe informação local ou nos arredores. O cadastro de pessoas desaparecidas é muito deficiente. Teve um caso de um corpo encontrado em um canavial, carbonizado, com uma lista de pessoas desaparecidas entrei em contato com várias famílias até que em uma delas a esposa disse que a pessoa tinha uma placa de metal no braço esquerdo, resultado de um processo cirúrgico em função de um acidente. Identifiquei o médico, ele trouxe todos os informes sobre a placa que foi fixada no braço dele. Todas as placas cirúrgicas têm o número de série, fabricante, os parafusos são todos numerados, no prontuário do paciente fica marcado isso. Não é comum o IML abrir braço, perna, por isso é importante o exame de imagem. Fui até o IML, abri o braço, conferi todos os informes, confrontou tudo certo. Hoje a Interpol aceita as placas
cirúrgicas no corpo, desde que tenham dados informativos, como metodologia primária de identificação.
O senhor tem algum livro publicado?
O livro “Tratado de Odontologia Legal e Deontologia” é de autoria do meu pai Eduardo Daruge, Eduardo Daruge Júnior e Luiz Francesquini Júnior.

È alto o custo de um exame de DNA?
Se for um exame para um corpo em decomposição, o Estado fornece, mas a demora é de aproximadamente seis meses. Se a família for a um laboratório particular irá pagar uns 14.000,00 reais. O Exame de DNA que o Ratinho popularizou, para reconhecimento de paternidade fica em torno de 300,00 a 500,00 reais.
O esqueleto passa informações importantes?
Passa sim. Só que são secundárias: estimativa de estatura, de idade, de sexo e ancestralidade. O crânio fornece dados importantes, houve um caso em que eu tinha o crânio da pessoa falecida, após muitas buscas consegui uma imagem de uma tomografia do crânio, que ele havia feito no Hospital dos Plantadores de Cana, comparei um dado, que é a “impressão digital” do crânio: o seio frontal. Cada indivíduo tem um seio frontal único e exclusivo. Fica dentro do osso, em um espaço vazio. Entre a tábua óssea interna e a interna. Comparamos o seio frontal da tomografia anterior com a que fizemos aqui, sobrepomos um sobre a outra, deu certinho. Identificamos o individuo.

 

ANTONIO COSTA GALVÃO E THEREZA ANGÉLICA MARINO GALVÃO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 03 de março de 2018.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/







ENTREVISTADOS: ANTONIO COSTA GALVÃO
     E THEREZA ANGÉLICA MARINO GALVÃO

 

Antonio Costa Galvão nasceu a 9 de novembro de 1923 em Itu,  filho de Silvino Costa Galvão e Tereza Marques Galvão que tiveram os filhos Sebastião, Valter, Cilza, José Maria (Juquinha) e Antonio. Ficou órfão de mãe aos 2 anos e seu pai faleceu quando Antonio tinha 7 anos.

Quem cuidou do senhor quando perdeu os pais?

Nas férias escolares o meu pai me levou para passear em Santo Amaro na casa do meu padrinho Manoel Severino, enquanto eu estava lá ele faleceu em Itu. Meu padrinho passou a tomar conta de mim. Passei a freqüentar o Grupo Escolar Paulo Eiró. Permaneci morando com meu padrinho até os 10 a 12 anos. Eles já tinham uma idade mais avançada, e eu era um garoto muito ativo. Minha irmã Cilza, que fez o magistério em São Paulo me trouxe para morar em Palmital. Permanecemos alguns anos em Palmital, até que ela veio lecionar em Santa Cruz do Rio Pardo, ela casou-se. Um amigo da família, Odilon Bueno e sua esposa me receberam em sua casa. Passei a freqüentar o Colégio Rio Branco, em São Paulo, isso foi por volta de 1937,1938.Terminei os estudos no Rio Branco fiz um ano de cursinho e entrei na Universidade Mackenzie em 1950, me formei em 1954 como Engenheiro Civil. Fiz o CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) de onde sai como Segundo Tenente. O quartel ficava no centro de São Paulo, próximo ao Parque D.Pedro II. Era para eu ter ido para a FEB  Força Expedicionária Brasileira, para lutar na Segunda Guerra, na Itália, o fato de estar fazendo o CPOR impediu que eu fosse para a Itália. Conhecendo a minha vida nota-se que sempre teve a presença de Deus.

Na época em que o senhor estudava já trabalhava?

Para estudar eu trabalhava, lecionava, fazia pequenos serviços, trabalhei no Sindicato dos Alfaiates de São Paulo, situado a Rua Libero Badaró esquina com a Avenida São João. Era escriturário. Morei na Rua 7 de abril, foi no tempo em que fiz o CPOR. Morava em pensão. Aos domingos ia à missa na Igreja Consolação. Nessa época a USP tinha a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras na Rua Maria Antonia, sempre houve uma divergência com o pessoal do Mackenzie.

Após formar-se como Engenheiro Civil onde foi o seu primeiro emprego?

Fui trabalhar na Prefeitura de Santo Amaro. Naquela época o hoje bairro Santo Amaro era outro município. Ia trabalhar de bonde, era uma viagem, saia da Conselheiro Brotero segui em direção a Santo Amaro, naquele tempo chamavam Estação Indianópolis,Estação Moema, Estação Brooklin, não me lembro exatamente o tempo que demorava para chegar a Santo Amaro, mas era próximo a uma hora. Tinha o bonde aberto e o bonde fechado, denominado “Camarão” por causa da sua cor vermelha.  Não permaneci muito tempo na prefeitura. Fui trabalhar em uma empresa de fundações a S/A. Sociedade Brasileira de Fundações (SOBRAF), o escritório ficava na Rua Libero Badaró. Às vezes ia ao Restaurante Brahma, na Avenida Ipiranga esquina com a Avenida São João, tinha uma exímia violinista. Ia a um concerto na Gazeta, que ficava na Rua Florêncio de Abreu. Na SOBRAF fui tomar conta de uma fábrica de bate estacas, estacas de prédio. Fiquei lá algum tempo, até que o Dr. Lorena que era o proprietário estava com uma obra de expansão da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda, fui enviado para lá, Eu tinha que tomar conta de 400 funcionários. Tinha a estrutura do Núcleo de Expansão da Usina (NEU) que dava suporte. Tinha que fazer as fundações do novo alto forno, era uma obra pesada.

Tinha assessoria estrangeira?  

Tinha orientação norte-americana.

Após trabalhar na SOBRF qual foi a próxima empresa que o senhor trabalhou?

Trabalhei na Construtora Mauá, em São Paulo. Morei 2 anos em Campinas construindo os laboratórios da Rhodia.

Quando o senhor conheceu a sua esposa?

Quando eu trabalhava em Volta Redonda, vim para São Paulo, e tinha uma família amiga, fui visitá-la, foi quando conheci a Thereza que estava com suas amigas. Em seis meses namoramos e casamos. Estamos 63 anos juntos!

Da. Thereza Angélica Marino Galvão a senhora nasceu em que cidade?

Nasci a 6 de abril de 1933, em Rio das Pedras, fiz o curso primário no Grupo Escolar Barão de Serra Negra, com 11 anos fui estudar no Colégio Assunção, em Piracicaba. Meu pai é Nicolau Marino, foi prefeito de Rio das Pedras, a avenida que vai para o bairro Nosso Teto chama-se Nicolau Marino em sua homenagem, minha mãe é Luca Marino, minha mãe era de São Paulo e o meu pai era italiano, veio da Itália com nove anos ele também estudou no Grupo Escolar Barão de Serra Negra. O meu avô Donato Marino veio da Itália, da região de Potenza, deixou a minha avó na Itália com três filhos, quando ele se estabeleceu aqui foi buscar a minha avó. Aqui em Rio das Pedras ele teve comércio. No inicio ele era mascate. Ele não veio chamado pelo governo para trabalhar na lavoura, veio com recurso próprio. Primeiro ele parou no Rio de Janeiro,  ficou sabendo de Rio das Pedras e veio para cá. Estabeleceu-se com um armazém de secos e molhados, na Rua Rangel Pestana, tradicionalmente conhecida como Rua Torta, era a rua principal da cidade. Ai ele foi buscar vovó Maria Carmela Marino, meu pai, Nicola, que aqui passou a ser chamado como Nicolau. Veio a minha tia Rosa Marino que se casou com Paschoal Limongi. Veio também minha outra tia, Vicentina. E sete dos meus tios nasceram em Rio das Pedras. Tiveram no total 10 filhos: Nicola, Rosa, Vicentina, Antonio, Vicente, Elvira, Maria Thereza, Aurora, Miguel, Américo. Meus tios foram estudar no Dante Alighieri, só meu pai que não foi. As áreas do cemitério, do clube, da praça central, da igreja, foram doadas pelo meu pai. Quando o meu pai chegou aqui só existia uma igreja pequenininha, não era a atual. Rio das Pedras tinha uma rua só, o resto era sítio, fazenda. Onde hoje é o bairro São Cristóvão era a Fazenda Fortaleza, uma das propriedades do meu avô. Meu avô naturalizou-se brasileiro. Meu pai permaneceu com a nacionalidade italiana, o que lhe causou alguns aborrecimentos na época da Segunda Guerra Mundial. Para viajar precisava de salvo-conduto. Não era permitido ouvir rádio, nosso rádio foi confiscado. O clube era uma sociedade formada por italianos, era denominada Societá Patria e Lavoro mudaram para Cultural Riopedrense. Com o fim da guerra muita coisa mudou, meu pai chegou a ser prefeito de Rio das Pedras, o clube que ele fundou rendeu-lhe uma homenagem. Minhas tias foram para o Colégio Assunção em Piracicaba. Fui também para o Colégio Assunção onde permaneci por 7 anos, de 1945 a 1952. Formei-me como professora. Ficava interna, naquela época não tinha estrada, meu pai tinha um Fordinho 1929! Tinha que colocar correntes nos pneus, por causa do barro. Perto da Caninha da Roça tem um morro conhecido como Morro do Sarapião, a saída para Piracicaba era por ali, não existia a estrada Valério Pedro da Silveira Martins. Fui visitar uma ex-colega, Terezinha, que morava em São Paulo, nós nos formamos juntas, foi na casa dela que conheci o Galvão. Dei aula em São Paulo no Itaim-Bibi por dois anos, Escola Estadual Diva Maria B. Toledo na parte da manhã e a tarde no Colégio das Irmãs de São José, na Rua da Glória, no Cambuci.

O senhor se interessou de imediato pela Dona Thereza?

Conversamos na casa dos nossos amigos, estava a Terezinha, sua mãe, uma reunião social. Daí uns dias entrei de férias e fui para São Paulo, a Thereza morava na casa do seu avô materno, Sr. João Luca. As estradas eram precárias, de São Paulo à Piracicaba só até Jundiaí a estrada tinha calçamento, o resto era chão de terra, o pessoal de Rio das Pedras ia até a Estação Taquaral para tomar trem para São Paulo, pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro. A Sorocabana tinha que fazer baldeação (troca de trem) Era outra época.

O senhor lembra-se do dia em que se casou?

Foi dia 4 de maio de 1954! Na Igreja Imaculada Conceição, na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, próximo a Avenida Paulista.

Dona Thereza a senhora morava nas proximidades?

Morava na Brigadeiro Luiz Antonio, região dos Jardins, lembro-me das mansões da Avenida Paulista, da Madame Rosita, freqüentada pelas moças da família Matarazzo. Eu tinha uma tia, irmã da minha mãe, que costurava muito bem, ela que fez o meu enxoval, em Piracicaba tinha a Madame Georgina, que fazia os vestidos chiques.

Após casarem, foram morar em que cidade?

Lá em Volta Redonda, em um hotel. Naquela época Volta Redonda era bem dividida, quem era engenheiro da Siderúrgica tinha um bairro lindo, com casas lindas, outro bairro era dos operários. Nós que éramos empreiteiros tínhamos que morar no hotel. O nosso patrão pagava o hotel. Havia diversos casais nas mesmas condições, que também moravam no hotel. Em Volta Redonda tinha um bairro chamado Niterói, e tinha um pessoal que tinha condições de pagar o aluguel, que era caríssimo, no mesmo hotel tinha um casal, ele o engenheiro José Buschinelli de Rio Claro e a Maria Emilia, eles tinham casado em fevereiro e nós em maio, ela ficou grávida do primeiro filho e eu também, o quarto dela ficava no andar logo acima da cozinha, com isso ela teve muito enjôos, O José foi encontrar uma casa nesse bairro, do outro lado da ponte. Fomos morar juntos os dois casais, dividíamos todas as despesas, sempre fomos religiosos, eles eram muito religiosos, com eles aprendemos a rezar o terço como casal. Rezávamos juntos todas as noites. Ela era muito devota de Nossa Senhora de Fátima. Após seis meses a empresa nos mandou para o Rio de Janeiro.

Vocês tiveram quantos filhos?

Tivemos três filhos: José Célio, Antonio Carlos e Ana Thereza.

No Rio de Janeiro qual foi a atividade do senhor?

Fui tomar conta de uma obra na Gamboa, morava na Rua Siqueira Campos, em Copacabana. Do Rio voltamos para São Paulo, fomos morar no Boaçava, bairro entre a Lapa e Pinheiros, próximo a Rua Cerro Corá. A água era de poço, não tinha asfalto, era loteamento novo. Não havia a Avenida Marginal, foi no tempo em que construíram o CEASA. Já tinham retificado o curso do Rio Pinheiros. Eu trabalhava na Empresa Mauá. Fui convidado par construir um hospital de altíssimo padrão em Uberaba. Fomos morar em Uberaba por uns tempos. Nesse meio tempo eu havia feito uma sociedade com possivelmente o maior conhecedor de edificações hospitalares, Jarbas Karman. De lá nós voltamos, eu deixei a empresa porque tinha que ter recursos para expandir os negócios. Assim mesmo fui construir o Hospital São Jorge, no primeiro quarteirão da Avenida Consolação, junto a Avenida Paulista. Esse hospital não existe mais naquele local.  Construí um hospital na Rua Juriti, no bairro de Moema. Nesse meio tempo ajudei a construir a Igreja dos Frades Dominicanos no bairro da Saúde. Ficou muito bonita a igreja. Fui diretor de Obras do Clube Alto de Pinheiros, do Clube Paineiras do Morumby. Em Três Lagoas fui fazer a fundação de uma ponte sobre o Rio Sucuriú, a CESP estava construindo a ponte, eu morava em um hotel em Andradina.  Fiquei um ANP e pouco.

O senhor praticava algum esporte?

Jogava tênis. Fui destaque no jogo de xadrez no Mackenzie. Na época existia a MAC-MED entre Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz dos alunos da Faculdade de Medicina da USP e a Associação Atlética Acadêmica Horácio Lane dos alunos da Faculdade de Engenharia da Universidade Mackenzie. Eu jogava pelo Mackenzie. Hoje jogo com o computador. Faço algum trabalho no Word, Excel. Envio e recebo e-mails.

O senhor foi prefeito de Rio das Pedras em que ano?

Fui de 2001 a 2004.

É uma experiência boa?

Para mim e para a Thereza a experiência resulta hoje nas amizades, no conceito que o pessoal acha que nós temos.

Dona Thereza complementa:

O Galvão pegou a prefeitura em sérias dificuldades financeiras, ele não tinha vinculo com ninguém, conseguiu 19 pessoas comissionadas, fortaleceu os funcionários, conseguiu pagar as dividas fazer com que a prefeitura tivesse confiabilidade, quando entramos tinha uma única ambulância com o motor fundido! Precisamos colocar dinheiro do nosso bolso, a oficina de Rio das Pedras não aceitava consertar mais, a administração anterior não pagava. Não pagava farmácia. Tudo isso colocamos em ordem, fizemos muitas solicitações, somos do PSDB, foram pedidas mais ambulâncias, mais carros para a polícia, que na nossa gestão não chegou, toda a documentação exigida o Galvão teve que arrumar. Para poder pedir. Com essas 19 pessoas certas, técnicas, ele conseguiu. O prefeito sozinho não faz nada, ele precisa de pessoal técnico. E que os funcionários dediquem-se.

O senhor aposentou-se quando?

Aposentei com pouco mais de 50 anos. Vim para Rio das Pedras, construí um prédio, junto com um sócio, financiado por uma instituição financeira. Construí também o prédio onde funcionou por muitos anos a Padaria Cristal, foi a primeira vez que um bate estaca trabalhou na cidade. Construí a Igreja Mãe Rainha. Fiz o primeiro loteamento asfaltado da cidade.

O senhor veio para Rio das Pedras já aposentado.

Vim para cá para não fazer mais nada, fiz essas construções, acabaram me convidando para ser candidato, eu nem político não era. Tinha na igreja um grupo denominado Grupo de Apoio Político, o Padre Eugênio Broggio Neto me entusiasmou muito. Ganhei na segunda eleição em que concorri.

Como o senhor vê a Rio das Pedras de quando a conheceu e a Rio das Pedras atualmente?

Mudou muito! São épocas diferentes, não há como comparar. Rio das Pedras não era nem calçada. O Prefeito Gramani entre outras obras fez o encanamento, Como prefeito consegui tirar o esgoto do Ribeirão Tijuco Preto. Realizamos obras no sistema viário, demos inicio no Centro Pedagógico. O povo sempre me recebeu muito bem, sou cidadão riopedrense, sempre me senti muito bem aqui. E também a Thereza fez muita coisa pela parte social da cidade. O meu casamento com ela foi um presente de Deus.

Em Rio das Pedras tinha um cinema, a senhora lembra-se do nome dele?

Tinha sim, o Cine Ipiranga. Era do meu pai. Pela primeira vez Rio das Pedras tinha um cinema CinemaScope, foi feito com inclinação, papai trouxe um engenheiro de Piracicaba para fazer uma planta apropriada. Meu pai doou o prédio para a Igreja Católica, Fizemos pela cidade o que pudemos fazer e fizemos com amor. Pensando no povo, na melhoria da cidade.

 

segunda-feira, março 19, 2018

JOSÉ CARLOS GONZALEZ E CARLOS ALEXANDRE HENRIQUE


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de fevereiro de 2018

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADOS:JOSÉ CARLOS GONZALEZ E
CARLOS ALEXANDRE HENRIQUE
               Esporte Clube Vera Cruz


 

José Carlos Gonzalez nasceu em Piracicaba a 22 de novembro de 1951, filho de Armando Gonzalez e Maria de Lourdes Sampaio de Lima Gonzalez que tiveram os filhos: José Carlos, Rosangela e Alexandre, seu pai era cunhado de João Marchiori, que tinha empresa de ônibus. Aos 16 anos seu pai fazia a linha de ônibus de Piracicaba a Tietê, era estrada de terra, isso por volta de 1945 a 1948. Carlos Alexandre Henrique é piracicabano, nascido a 2 de outubro de 1978, casado com Elisabeth Afonso Carvalho,  pai de quatro filhos: André, Felipe, Carlos e Caio.

José Carlos Gonzalez, em que bairro a sua família morava?

Morávamos na Rua Tiradentes, 106, nasci ali, de onde sai com 26 anos de idade para casar com Maria da Conceição, tivemos dois filhos: Marcelo e Rafael. Fiz os meus primeiros estudos no Grupo Moraes Barros, até o quarto ano, no Grupo Escolar José Romão fiz o quinto ano, fui para o Colégio Imaculada Conceição, depois fiz a Faculdade de Comunicação na UNIMEP. O E.C. Vera Cruz ficava na Rua Tiradentes 180. Meu era vendedor de caminhão, assim como eu e meu irmão também somos vendedores de caminhões. Meu pai vendeu caminhões de todas as marcas, até passar a vender caminhões Mercedes-Benz. Meu pai trabalhou com o Pedrinho Fidélis da agência Ford, com Geni Totti, Zé Tietê. Eu mesmo tenho a assinatura na minha carteira profissional de Geneci Totti e de José Guirardo Fustaino (Zé Tietê). Fui vendedor do caminhão FNM (Fábrica Nacional de Motores), a revenda COMDASA ficava na Rua Governador Pedro de Toledo, em Campinas. O Geni Totti e o Zé venderam a COMDASA para o Grupo Comolatti, nessa época a IVECO comprou a FNM. Eu vim para Piracicaba onde eles abriram a Auto GT, passei a vender caminhões IVECO. Eu visitava todas as cidades ao longo Rodovia Washington Luiz inteira.


Você chegou a dirigir o caminhão FNM?

Dirigi. As marchas não eram sincronizadas (câmbio seco), tinha 4 marchas à frente e a ré. Para engatar a marcha com as "caixas secas" o processo era realmente bem difícil, porque você tinha que conhecer o motor. Para trocar a marcha, você tinha que acertar o tempo certo. Nesse "tempo certo" era o momento que a caixa ficava leve e aceitava qualquer tipo de marcha, se você errar esse tempo, e forçar a entrada da marcha, você poderia arrebentar a caixa de marchas ou o diferencial. Eram tempos de estradas de terra, um caminhão andava a 60 quilômetros por hora. Hoje temos caminhões Mercedes-Bens que ao aproximar-se 100 metros do veículo da frente ele já corta o fornecimento de óleo diesel, se pisar no acelerador ele não acelera. A 60 metros ele começa a frear aos 20 metros de distância do veículo da frente ele trava no freio, sozinho. Já está no mercado brasileiro. Eu vendia caminhões novos até 1988, ai fui trabalhar com o Chico Tietê, irmão do Zé Tietê e aprendi sobre caminhões usados. Hoje faz 22 anos que administro três grandes lojas de revenda de caminhões usados. Já cheguei a ir a Brasília e comprar 22 caminhões Mercedes-Benz, cavalo e carreta, em um único dia, viemos em 22 motoristas até a Pirasa.


Qual é a sua percepção do futuro?

Tenho muita confiança no futuro, mais do que tinha no passado, hoje temos como conhecer de forma mais realista o que no passado passava-se de forma oculta ou despercebida.

Em que área o senhor trabalha Carlos Alexandre Henrique?

Sou metalúrgico, trabalho na área de usinagem.

José Carlos Gonzalez qual é a sua paixão?

Tenho duas paixões: caminhão e o Esporte Clube Vera Cruz. Sábado a tarde vou viajar a trabalho. Domingo pela manhã estarei no Vera Cruz. O meu pai já era dirigente do Vera Cruz.

Onde fica a sede do Vera Cruz?

A sede do Vera Cruz era na Rua Tiradentes, em um bar, esse bar foi vendido, o novo proprietário disse ser torcedor do MAF, pintou a parede, descaracterizando ser Vera Cruz, e mandou tirar os troféus. Tivemos uma grande diretoria que voltou ao Vera Cruz por 12 anos, infelizmente 8 diretores já faleceram. O Esporte |Clube Vera Cruz foi fundado em 1950, filiado a Federação Paulista de Futebol em 2 de fevereiro de 1954. Em 1955,1956 e 1957 disputou a terceira divisão, sendo que no final de 1957 ia decidir o título contra o Lampianinho de Osasco. O Vera Cruz voltou para o amador por questões financeiras. Naquele tempo os jogadores iam jogar de taxi: Simca; Aero-Willys.


Tem algum nome que se projetou a partir do Vera Cruz?

Nos anos 50 o Wilson Bauru que foi para o Noroeste de Bauru, Fluminense e para o Olympique Lyonnais, conhecido como Lyon, na França. Ele vinha de tempos em tempos para a Rua Tiradentes, sempre acompanhado de francesa. Devido a ele fizemos por cinco anos seguidos excursões para o Paraná e Santa Catarina. Outros nomes que se projetaram no Vera foram Gatãozinho, Tatau, Armando Mala, Milu, são muitos.


E sempre qual o campo que vocês utilizavam em Piracicaba?

Nunca tivemos campo! Sempre a reunião era na Rua Tiradentes com a Rua Cristiano  Cleopath. No inicio era na esquina, depois veio para o bar que ficava no meio da quadra, na Rua Tiradentes a 50 metros da Rua Cristiano  Cleopath. Jogamos com o MAF, Palmeirinhas, Jaraguá, Costa Pinto, São Francisco, Lusitano, Santa Terezinha, São João da Montanha, jogamos amistosos com o time da Agronomia, o “A” encarnado, são tantos times. Conquistamos muitos troféus, cinco vezes troféu amador, quatro vezes campeões da taça Cidade de Piracicaba, duas vezes da Copa dos Campeões, que só teve duas edições, a terceira irá começar em março, e duas vêzes campeão varzeano.Vice temos muitos. Isso de 12 nos para cá.

Qual é a idade mínima necessária para ingressar no Vera Cruz?

A partir de oito anos, na categoria Dente de Leite.

Qual é a importância do futebol para a criança, para o adolescente?

Hoje estamos baseados no Bairro Algodoal, eles não tem outra diversão. Esse campo tem história. O Vera Cruz e a escola de samba ao que parece foi a Zoom-Zoom, se uniram e entregamos uma carta aberta em cada casa de Piracicaba, fizemos a campanha do prefeito eleito Adilson Benedito Maluf. Tudo foi feito de forma muito organizada, com mapa da cidade, cada veículo levando quatro a cinco pessoas. Até então jogávamos no campo da Vila Boyes. O Adilson cedeu em comodato por 51 anos um terreno de 39.000 metros na Rua Emilio Bertozzi, 1616, paralela a Rodovia Piracicaba a São Pedro, quilometro 1. Tem uma arquibancada de madeira para umas 200 pessoas. Mario Scarpari, Antonio Scarpari, Antonio Cera, João Pavan, Rubens Spolidoro, João Sturion, me incentivaram a assumir a presidência que eles ajudariam. Montamos uma diretora. Pagamos os impostos atrasados, e começamos a jogar. Hoje o presidente é Adriano Cardoso Figueiredo, o vice-presidente é Carlos Alexandre Henrique, O diretor de esportes é Germano Lacerda. Estou passando aos poucos o Vera Cruz para o comando dos moradores do Algodoal. Da “cidade” (outro lado do Rio Piracicaba) só tem eu mesmo. Sei que tem muitos torcedores para o lado de cá, mas dirigentes não tem nenhum.

O uniforme manteve sempre as mesmas cores?

Branco, preto e vermelho. O uniforme que esta sendo usado é fornecido pela Selam (Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Atividades Motoras)

Quantos clubes amadores de futebol têm em Piracicaba?

No ano passado foram 30. Ficamos em quarto lugar. O futebol corre pela periferia. Não é tão divulgado como deveria ser. Se incluirmos o futebol varzeano passa de noventa times. O grande incentivador do esporte Dinival Tibério tem mais uns 60 times cadastrados. Hoje temos mais de 40 jogadores profissionais disputando campeonatos. Nunca passaram pelo XV de Novembro! Não posso afirmar com certeza, mas o lateral esquerdo que fez o gol no São Paulo Futebol Clube em 17 de janeiro deste ano é do bairro Tanquinho! Já disse ao Secretário Municipal Pedro Mello: fazemos 20 times da periferia, de 15 a 17 anos, de 17 a 19, abrangendo os bairros Novo Horizonte, Vila Real, Vila Fátima, a SELAM fornecendo pelo menos o juiz que é caro, montamos o time do XV de Novembro em 5 anos.

O que falta ao XV de Novembro?

Como não estou lá dentro eu não sei. No inicio coloquei quatro garotos jogando no XV, um lateral direito, um meia direita, um ponta esquerda, e mais um , o XV veio me pedir para pagar a passagem de ônibus para eles irem treinar e voltarem do treino. Por um tempo eu paguei. Faltam incentivos ao futebol amador de Piracicaba. Para o futebol das categorias menores. Em 2016 o sub-9 nosso ficou em terceiro lugar, junto com o Clube de Campo, Atlético, Sindicado dos Metalúrgicos, Cristóvão Colombo, Educando Pelo Esporte. Em 2016 ficamos campeões da Liga Piracicabana sub-15.

Carlos Alexandre Henrique em que posição você joga?

Eu jogava como ponta esquerda, mas parei! Estou pensando em voltar a jogar pelos Veteranos. Nossa intenção é integrar as gerações, que os jogadores façam novas amizades. Com uma disputa leal.


José Carlos Gonzalez, a diretoria influencia na conduta do time?

Não resta dúvida! O Bosque do Lenheiro jogou os seus três primeiros jogo com o nosso uniforme, emprestado! Temos sempre quatro a cinco jogadores do Bosque do Lenheiro na nossa equipe. Nos últimos três anos eles têm um time.

Há uma tendência, quase natural, de se colocar rótulos. Quem mora em bairro “X” age de certa forma. Quem mora em bairro “Y” age de outra forma, isso dificulta a integração?

Hoje o melhor jogador nosso é do Jardim Gilda. Hoje ele trabalha em uma grande empresa multinacional, há um empresário que está convidando-o para seguir carreira no futebol. Nessa hora tenho que ajudar esse jovem a tomar a melhor decisão para o seu futuro. Com muita serenidade e sem que sonhos abstratos tomem o lugar da realidade. 

Em especial, certas redes de televisão vendem uma enorme ilusão aos jovens?

As televisões estão focadas em vender propaganda. Cria ilusionismos, fantasias. Há um ou dois jogadores que ganham somas milionárias, os demais ganham o suficiente para manter um padrão de vida que pode ser atingido em qualquer profissão qualificada. Há muitos jovens iludidos com essas perspectivas de ascensão fácil. Quando o Pianelli tinha 14 anos fui técnico dele, a sensação de ver ele jogando no XV de Novembro, no São Paulo, é enorme.

O que um jogador sente em um gramado, com o estádio cheio?

Uma emoção muito grande, indescritível!

Carlos Alexandre Henrique concorda?

É uma sensação muito boa! Lembrando que o campeonato amador teve um bom público. O Estádio Barão de Serra Negra ficou lotado.

Ou seja, o piracicabano gosta de futebol?

Gosta! O que falta é incentivo, principalmente para as categorias de base.

José Carlos Gonzalez como é a segurança para o público?

Há uma conscientização de que a disputa deve ser com a bola, dentro de campo. Conseguimos desmistificar a prática de violência em campo. Há penalidades severas para quem transgride as regras. Com relação ao público, são vibrantes, mas há muito respeito. A Guarda Municipal está presente, nos ajuda muito. Em jogos maiores a Polícia Militar dá a cobertura necessária. 

Carlos Alexandre Henrique vocês estão fazendo escolinha para as crianças menores?

Uma boa pergunta! Temos que tornar público que o Vera Cruz tem uma consciência social. A escolinha é gratuita, feita para os moradores do Algodoal, há atletas de outros bairros que vem treinar conosco. Não importa se é bom jogador ou não, mas aprendem a ter disciplina, a respeitarem uns aos outros.

Vocês fornecem algum tipo de lanche?

Atualmente os recursos que vem é pessoal do presidente. Temos sonhos de fazer algo mais, poder proporcionar um reforço alimentar. Pela área que dispomos podemos proporcionar outras atividades, como um curso de computação. Se quisermos mudar o país temos que educar as crianças. O bairro está rotulado, com isso foi relegado ao abandono. Esse é o grande erro! Lá é o lugar onde o investimento tem que ser maior para que mude. Nossa luta atual é com relação a iluminação, a noite é um local muito escuro. Precisamos de ajuda para prevenir, educar. A repressão se dá pela falta de orientação, é traumatizante, cara e dificilmente recupera o individuo.

José Carlos Gonzalez vocês mencionaram o trabalho com os jovens, e as meninas, há algm projeto?

Pensamos muito nisso. Inclusive em futebol feminino. A pessoa ideal para levar esse projeto adiante era o Zé do Gás, só que ele faleceu de infarto fulminante. Estamos necessitando de voluntários, podem ser estagiários, temos muitas possibilidades de aproveitamento e transmissão de experiências para área de educação física, informática, assistente social. Temos o imóvel para ceder, fazemos de tudo para ajudar na segurança. Quem quiser pode nos procurar na Rua Emílio Bertozzi, 1616. Telefone 9 9221 9980 (José Carlos) ou 9 7412 0522 (Carlos Alexandre).

José Carlos Gonzalez refere-se a Tribuna Piracicabana e um fato determinante.

Tenho uma história que ocorreu há uns 12 ou 13 anos, eu fazia o “peneirão”. Fazia o anuncio em todos os jornais, em todas as rádios, que o Vera Cruz ia promover a peneira, isso significa que iam 200 garotos e os melhores eram escolhidos. Quando cheguei a diretora da Tribuna, Dona Astir, entreguei o texto e pedi se ela poderia fazer o anuncio, nós íamos fazer peneira. Ela perguntou-me: “ Quem não passar na peneira não joga?”  Respondi-lhe que não jogaria. Ela disse-me: “Então não anuncio!”. Gravei esse fato, hoje todos os garotos que vão ao Vera Cruz treinam, participam do coletivo, dos fundamentos, e lá vemos quais são os melhores para disputar os campeonatos. Durante a semana, devido a Dona Astir, esses garotos que não são bons de bola ficam treinando no Vera Cruz.

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