domingo, agosto 31, 2008

ELIZABETE LIBARDI FEREZINI 102 ANOS DE VIDA FELIZ

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz
Sábado das 10horas ás 11 horas da Manhã
Transmissão ao vivo pela internet : http://www.educadora1060.com.br/

A Tribuna Piracicabana
http://www.tribunatp.com.br/

Entrevista 1: Publicada: Ás Terças-Feiras na Tribuna Piracicabana

Entrevista 2: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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Entrevistado: ELIZABETE LIBARDI FEREZINI

DATA: (24 DE AGOSTO DE 2008)




No dia 26 de agosto o Lar dos Velhinhos completou 102 anos de fundação. A mesma idade da nossa entrevistada!


Dona Elizabete, ou Isabel como também é conhecida, reside em sua própria casa, no bairro da Paulista. Sob os olhares cuidadosos da sua grande família que em um revezamento pré-agendado a acompanha de perto. Se o Lar dos Velhinhos passou por inúmeras transformações e tornou-se a Primeira Cidade Geriátrica do Brasil, Dona Elizabete mantém os hábitos adquiridos imutáveis, entre eles rezar um terço todos os dias, bordar crochê, e sorrir, sempre sorrir! Ela carrega um sorriso quase santificado, terno, brando, suave. É impossível não se render de imediato á uma pessoa tão carismática. Que conversa regularmente, conta causos, fã do Padre Marcelo. Todos os dias Dona Elizabete assiste a missa transmitida pela televisão! Devota fervorosa de Nossa Senhora Aparecida, conserva em seu quarto, imagens da mesma. E não dispensa um pouco de vinho ingerido á refeição principal. Em 1950 o armazém do bairro rural Pau Queimado foi adquirido pela família, onde o casal permaneceu até 1976. Era o ponto de encontro dos moradores próximos. Na época havia umas oito olarias nas proximidades. Tinha cancha para jogo de bocce, campo de futebol. Na igreja local eram celebradas missas por vários religiosos, entre eles Frei Agostinho de Penápolis, Frei Paulo, que percorria andando a pé os seis quilômetros de distancia do bairro até a cidade. Descia o denominado na época de Morro do Enxofre, hoje final da Avenida Madre Maria Teodora. Seguia até onde hoje existe o terminal de ônibus e continuava caminhando no sentido de Anhumas. Existem até hoje a igreja, o armazém, o bocce, o campo de futebol. Participamos de uma reunião de família, onde ouvimos algumas palavras de descendentes de Dona Elisabete. Um dos filhos, o Guido mora em outro estado do Brasil. .

O que a senhora está fazendo agora?
Trabalhando neste guardanapo, fazendo crochê. Este trabalho não demora muito para ser feito. Em dois dias fiz os arremates do guardanapo em crochê. Comecei a fazer crochê aos oito anos de idade hoje estou com 102 anos! Nasci em 17 de junho de 1906 em Saltinho. Sou descendente de tiroleses.
O que a senhora faz para ter tanta saúde?
Não faço nada! Levanto, tomo café e começo a trabalhar bordando. Hoje já rezei o terço para todos os meus filhos, para as pessoas doentes. Este terço veio de Pirapora, meu filho Roque é quem trouxe para mim. Eu almoço, durmo umas duas horas.
A senhora gosta de vinho?
Gosto! Gosto de tomar de vinho na hora do almoço. Meu nonno apanhava a uva, colocava-a em uma esteira, onde permanecia por um ou dois dias para enxugar a água contida na uva. Depois ele pisava, dentro da metade de uma cartola de madeira. O líquido era colocado dentro de uma outra cartola, fechada, onde ficava por três dias, quando era então retirado. Depois de oito dias permanecia para se apurar. Assim saia o vinho.
Qual a quantidade de vinho que a senhora considera ideal para acompanhar a refeição?
Meio copo de vinho. Apenas isso, não se deve misturar com outras bebidas alcoólicas.
Na vida toda da senhora, só trabalhou bordando?
Nom! He...he! (Ela responde com sotaque italiano bem acentuado). Trabalhei como uma condenada quando era moça. Eu era mocinha e já trabalhava com enxada, lá na fazenda do Velho Vitorião (Vitório Bortoletto). Eu morava no Bairro Passa Cinco. Meu pai Pedro Libardi era da família Libardi, de Saltinho, ele plantava milho, arroz, feijão. Minha mãe Emília Bortoletto, era filha do Velho Vitorião. Eles tiveram seis filhos. Eu apanhava café, com a mão pegava na vareta do pé de café e puxava. O meu “nonno” (avô) tinha mais de dois mil pés de café. Meus pais nasceram na Itália. Conheceram-se e casaram-se no Brasil.
Não machucava a mão?
Oh! Mas diga nem! Não só as mãos, como também os braços.
Como era a alimentação?
O café da manhã era polenta brustolada na gradella. Colocava-se a polenta em cima da gradella e a brasa em baixo, bebia-se leite. A água ficava em um garrafão de vidro, que ficava na sombra. N almoço comia-se arroz, feijão, verduras.
Qual era a roupa usada para trabalhar?
Vestido grosso, com manga, chapéu de palha. O sapato era andar na terra, descalço. Perto da nossa casa havia uma igreja, nós íamos á missa.
A senhora morou em Saltinho até quando?
Casei-me, aos 21 anos de idade com Antonio Ferezini. O casamento foi realizado na Catedral de Piracicaba. Mudei para o Bairro do Pau Queimado, exatamente no lugar onde é chamado de Morro do Sapo. Era propriedade de Jacob Ferezini casado Filomena Ferezini Pessatto. Em 1975 completamos 50 anos de casados.

Como filho primogênito do casal qual o nome que o senhor recebeu?
Meu nome é Oscarlino Ferezini, nascido no dia 14 de maio de 1930, sou o primeiro filho do casal. Hoje tenho 78 anos. Nascido no Bairro Pau Queimado, freqüentei a escola até o quarto ano, que ficava no bairro anteriormente denominado de Matão, hoje já como bairro urbano, integrante da cidade de Piracicaba, é denominado de Itapuã. Casei-me com Maria Luiza Carone Ferezini, tivemos cinco filhos, oito netos e uma bisneta. Portanto minha mãe Elizabete é tataravó!
Qual era a forma utilizada pelo senhor para chegar até a escola?
Vinha a pé. Vínhamos pela estrada. Naquele tempo ainda não tinha sido construída a Igreja da Paulicéia, vínhamos assistir a missa na Igreja Sagrado Coração de Jesus, comumente denominada Igreja dos Frades. Arrumava um companheiro para vir junto. A escola era das 8 da manhã até as 12 horas. Eu saía de casa ás seis e meia da manhã, trazia os cadernos em uma bolsa de pano. Vinha descalço. Comecei a usar sapato aos 14 anos de idade.
O senhor não gostava de calçar sapatos?
Não tínhamos condições para adquiri-los!
Havia alguma coisa para comer na escola?
Não existia nada!
Como era o café da manhã do senhor?
Café com queijo. Quando voltava, almoçava e ia ajudar o meu pai. Meu pai trabalha fornecendo para o Mercado Municipal, eu ficava até a noite para amarrar maços de verduras. De duas a três vezes por semana ele trazia verduras para o Mercado, utilizava carrinho com tração animal. Meu pai tinha dois alqueires de terra no Bairro do Matão. As verduras eram molhadas com regador, a água era retirada de um ribeirão que existe no local. Naquele tempo era possível beber a água do ribeirão, embora existisse poço de água em casa.
A seguir nasceu Dona Carmem?
Exatamente! Meu nome é Carmelina Ferezini, também chamada por Carmem nascida em 16 de julho de 1932. Quando nasci ainda estávamos no Morro do Sapo, vizinho ao Pau Queimado. Freqüentei até o quarto ano. Casei-me em 1960, na Catedral, com Nelson Andia, agricultor. Temos três filhas, cinco netos. Trabalhei por muito tempo, como costureira em uma camisaria chamada Camisaria Brasil, que ficava no final da Rua Governador Pedro de Toledo.
O próximo filho a nascer foi o Roque?
Perfeito! Meu nome é Roque Ferezini, sou casado com Antonia Madalena Sartori Frerezini, tenho três filhos. Nasci no Pau Queimado. Do Pau Queimado, ali no Morro do Sapo. Mudamos para o Matão. Eu vinha a pé até a escola Dr. João Conceição, situada no prédio que existe até hoje, ao lado da Igreja dos Frades. Eu vinha a pé para escola cortando o caminho por baixo. Saia do Matão subia o Morro do Enxofre, e chegava até a escola. Nós vínhamos em um grupo com três ou quatro colegas, todos de sacolinha de pano e descalços. Trabalhei um tempo na fábrica de fogos de propriedade de José Balistiero Filho, que ficava no Pau Queimado. Chamava-se Pirotécnica São Benedito. Fazia bomba, rojão, fogos de artifício. Muitas vezes viemos queimar fogos de artifício na Catedral de Piracicaba. Íamos muito á Anhembi, na Festa do Divino. Eu ajudava a montar a bateria de fogos.
Essa fábrica fazia o rojão de vara?
Fazia! O rojão de vara é feito com vara cortada no mato, chamada propriamente de vara de rojão, faz-se um estopim, amarrado na ponta.
Ao dirigir-se á escola o senhor correu de algum boi bravo?
Muitas vezes chegávamos a ter medo, evitávamos em passar muito próximo do animal.
Havia uma carregadeira de boi da Estrada de Ferro Paulista, (N.J. Onde hoje existe um terreno baldio, ao lado do Restaurante Frios Paulista é parte remanescente do que foi no passado prolongamento da Estrada de Ferro. Essa área se estendia até onde hoje há um depósito de areia, pedras, na esquina da Avenida Nove de Julho).
O trem parava para a descarga de gado vivo. A cada vagão esvaziado a locomotiva realizava um movimento para alinhar a porta do próximo vagão com a prancha de descarga. Ás vezes a composição permanecia por períodos maiores, impedindo o tráfego da Rua do Rosário. Os pedestres se arriscavam a passar debaixo dos engates entre um vagão e outro.

O senhor chegou realizar esse tipo de travessia?
Nós tínhamos que esperar. Ás vezes nós ficávamos enjoados de ficar ali esperando, então passávamos por debaixo! Existia no pátio de manobra da estação um dispositivo para girar a frente da locomotiva a vapor no sentido contrário a que tinha chegado na estação. Eu gostava de ficar olhando.
(N.J.A seguir nasceu Brasília, filha de Dona Elisabete. Que não estava presente no momento. Em seguida o Filho Jacob Ferezini).
Jacob o senhor nasceu no Matão?
Meu nome é Jacob Ferezini, que é o nome do meu avô, pai do meu pai. Tenho um filho que se chama Jacob Ferezini Júnior. Eu nasci em 8 de outubro de 1940. Estudei no Grupo João Conceição, ao lado da Igreja dos Frades. Vinha a pé do Matão até a escola. Minha primeira professora foi Dona Maria Baiana, era muito brava. Para ir ao banheiro era necessário levantar dois dedos. Não havia merenda e nem cantina. Cada um levava seu próprio lanchinho: uma banana, um pedaço de pão, um pedaço de batata doce. Não havia uniforme. A criançada ia descalça. Era comum usarem as famosas Alpargatas Rodas. O pé era deformado, por não usarem calçados. As Alpargatas por serem molinhas, de tecido, era confortável. Eu tinha 11 anos de idade quando a nossa família comprou o armazém do Pau Queimado. Meu pai vinha ao Mercado vender, antes de voltar para casa, ele ficava lendo o jornal na casa de um tio. Ele achava que não dava para ficar todo mundo na roça, a família tinha crescido. Ele dizia que iríamos comprar um comércio. Um tio nosso, chamado João Canale, pai do falecido Décio Canale. Ele alugou no período de 1949 á 1951 ao Sr. Izidoro(Nenê) Lopez, o armazém. O João Canale resolveu vender para o cunhado dele, que é o meu pai. Foi quando o Oscarlino assumiu a frente do armazém. Isso foi em 1951. Ele vinha de carrinho de tração animal buscar pão na Padaria Cruzeiro, do Berto Saches. Ficava na Avenida Dr. Paulo de Moraes, quase em frente onde hoje está o Toninho Lubrificantes. Levava pão salgado, pão doce. Quando chovia era triste. O cavalo desse carrinho chamava-se Palhaço, ele balançava!
Qual era o prato que se a Dona Elisabete fizesse todo mundo ficava com água na boca?
Os filhos não pensam duas vezes para responderem: Polenta com frango!
O rádio, assim que apareceu funcionava como?
No antigo bairro Matão hoje Itapuã não existia energia elétrica. O rádio funcionava com bateria, acumulador. Nós pegávamos no Lilo Barbosa, aqui próximo ao Pontilhão da Paulista. O primeiro rádio que tivemos a marca era Imperial.
Na época existiam umas velinhas que eram acesas com água e óleo dentro de um copo?
Essas velas eram chamadas de “mariposa”! Acendia-se em louvor á um santo ou mesmo para deixar uma luz funcionando.
Qual a primeira condução que a família teve?
Roque responde: Foi um Ford 1929, uma caminhonete. Eu cheguei a transportar crianças para a escola com essa caminhonete. Colocava um toldo na carroceria e levava a criançada do Serrote ao Pau Queimado. Iam doze a treze crianças. Isso quando elas eram pequenas, ao final do curso como tinham crescido nesse período já não cabia mais na caminhonete! Eu ganhava da prefeitura para fazer essas viagens. Havia três assentos na carroceria.
Daniel Ferezini, o senhor é o caçula?
Exatamente! Nasci no dia 21 de novembro de 1947. Casei em 12 de maio de 1973. Estudei na Escola do Pau Queimado, que é a Escola Professor Carlos Sodero. Naquele tempo nós vendíamos muito querosene, porque não havia luz no sítio. Outro item que saia bastante era o fumo de corda. Geralmente a pessoa ia comprar, mas não tinha muito dinheiro. Queria apenas um pedacinho. Quando eram cinqüenta gramas era pesado na balança. Agora menos do que isso a balança não pesava, tinha que ser cortado no cálculo visual. Sempre tinha aqueles clientes exigentes. Quando eu ia cortar o pedaço de fumo eles diziam: “-Não vai cortar a unha!”. (risos).







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NATUREZA


sábado, agosto 30, 2008

XXXV SALÃO INTERNACIONAL DE HUMOR DE PIRACICABA


"O passado é um pecúlio para os que já não esperam nada do presente ou do futuro ; há ali sensações vivas que preenchem as lacunas de todo o tempo."
Machado de Assis




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Helládio do Amaral Mello *18/08/1917 +28/08/08

Helládio do Amaral Mello *18/08/1917 +28/08/08

Helládio do Amaral Mello nasceu em Piracicaba, em 18 de agosto de 1917. Estudou na Escola Normal de Piracicaba, hoje Instituto de Educação Sud Mennucci. Engenheiro Agrônomo formado em 1943 pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) da USP, teve sua carreira fortemente influenciada por Edmundo Navarro de Andrade e por seu avô, Vicente do Amaral Mello, fazendeiro em Rio das Pedras/SP, que aliava a atividade econômica da cultura do café ao bem-estar dos funcionários e à permanente preocupação com a proteção dos recursos naturais.

De 1944 a 1951, trabalhou no Serviço Florestal de Estradas de Ferro de Goiás em Araguari, com a incumbência de reflorestar uma área recém-adquirida com eucaliptos, destinados à fabricação de dormentes para suprir a ferrovia. De 1951 a 1954, trabalhou como adido na Casa da Lavoura de Rio Claro: realizou plantios de café, observando as regras para a conservação do solo, modelo que lhe rendeu prêmio da Secretaria da Agricultura.

Em 1954, ingressou na USP/ESALQ, a convite do prof. Philippe Westin Cabral de Vasconcellos, para ocupar a cadeira de Horticultura. Aceitou o convite com a condição de ficar na área de Silvicultura, que não tinha expressão na Escola até então. As aulas práticas de Horticultura deram-lhe uma grande experiência de viveiros e plantio de mudas.

Em 1962, com o desdobramento da 12ª. cadeira em duas, prestou concurso e passou a ser Titular da cadeira de Silvicultura. Na década de 1960, a convite do ministro da Agricultura, Hugo de Almeida Leme, integrou o grupo de trabalho encarregado da reformulação do Código Florestal Brasileiro, aprovado em 1965.

Em meados de 1960, conseguiu uma bolsa de estudos da Fundação Rockefeller para aperfeiçoar seus conhecimentos na Escola de Florestas da North Carolina State University, onde conheceu o prof. Bruce Zobel, especialista em melhoramento vegetal. Acompanhando-o em suas visitas a empresas da região, viu como funcionava um programa de cooperação entre a universidade e o meio de produção para realização de pesquisa no setor florestal. Voltou ao Brasil com a idéia de planejar um programa semelhante e isto foi o embrião do Ipef. Assim, em 1968, liderou a equipe de empresários do setor florestal que criou o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef), sendo seu diretor científico até 1980, por ocasião de sua aposentadoria.

Galgou todos os degraus da carreira universitária: foi vice-diretor da gestão do prof. Ferdinando Galli (de 23.12.1970 a 22.12.1974) e, por ocasião da Reforma da USP em 1970, foi chefe do departamento de Silvicultura, hoje departamento de Ciências Florestais, até a sua aposentadoria em 1980. Em 1971, conseguiu autorização para a criação do curso de Engenharia Florestal na USP/ESALQ, o terceiro curso do País, que já formou mais de 760 engenheiros florestais.

Em 1976, conseguiu implantar o curso de Pós-Graduação em Engenharia Florestal na Escola, em nível de mestrado. Foi responsável pela incorporação à USP/ESALQ da Estação Experimental de Anhembi/SP (1974) e da Estação Experimental de Itatinga/SP (1988), visando sua preservação e uso para programas de ensino, pesquisa e extensão universitária.

Atuou ainda como consultor de diversas entidades, como o CNPq e Comitê de Ciências Agrárias da Fapesp. É autor de mais de 50 trabalhos científicos, além de 200 artigos de divulgação e amplo material didático.

O seu importante trabalho realizado pelo desenvolvimento florestal brasileiro foi reconhecido inúmeras vezes com a concessão de prêmios e distinções, como a Medalha Navarro de Andrade (duas vêzes). A Biblioteca do Ipef, idealizada por ele, leva o seu nome, sendo um dos mais importantes Centros de Documentação Florestal da América Latina, com um acervo florestal com mais de 90.000 referências bibliográficas, disponibilizadas em site na Internet. A revista Ipef, também idealizada por ele, divulga os resultados da pesquisa realizada pelo convênio Ipef e USP: hoje Scientia Forestalis é uma revista científica com artigos florestais de toda a comunidade florestal brasileira, cujos artigos são indexados em base de dados internacionais.

Em 1981, foi instituído o prêmio Helládio do Amaral Mello, concedido todos os anos ao diplomando do curso de Engenharia Florestal da USP/esalq que obtém a melhor média final.

O prof. Helládio do Amaral Mello faleceu na noite de quinta-feira, 28 de agosto de 2008, às 23h. O corpo está sendo velado no Edifício Central (saguão do Salão Nobre) da USP/ESALQ. O sepultamento será hoje, 29 de agosto de 2008, às 15h, no Cemitério Parque da Ressurreição.






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terça-feira, agosto 19, 2008

Professor Doutor Almir de Souza Maia

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
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A Tribuna Piracicabana
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Entrevista 1: Publicada: Ás Terças-Feiras na Tribuna Piracicabana

Entrevista 2: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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Entrevistado: Professor Doutor Almir de Souza Maia

DATA: (16 agosto 2008)


Ao chegar a Piracicaba, em 1881, Miss Martha Watts foi recebida pelo próprio Prudente de Morais, futuro presidente da República. Em 1882, no confronto de opiniões e divergências sobre quais deveriam ser os papéis das mulheres na sociedade paulista e brasileira, quando a maioria masculina ainda se mostrava contrária à emancipação feminina. Mademoiselle Marie Rennotte, mulher de idéias avançadas, foi contratada para lecionar no Colégio Piracicabano, fundado por metodistas do sul dos Estados Unidos na cidade de Piracicaba, em 1881, ano esse em que se fundou a terceira Igreja Metodista no Brasil. A proposta educacional dos colégios protestantes valorizava o ensino das matérias científicas. Belga de origem, Marie Rennotte nasceu em Wandre, em 1852, tendo imigrado para o Brasil em maio de 1878. Além de professora, Marie Rennotte foi também uma médica ilustre. Seu Diploma de Medicina foi emitido no Women's Medical College of Pennsylvania, Philadelphia, em 1892, quando tinha cerca de 40 anos. O protestantismo trazia para o Brasil os valores da sociedade burguesa. Idéias que, na França e nos Estados Unidos, haviam desferido dois profundos golpes nasociedade aristocrática, através de suas revoluções, lembrando que "todos os homens foram criados iguais, que foram dotados, por seu criador, de certos direitos inalienáveis, entre os quais estão: a vida, a liberdade e a busca da felicidade".
O Professor Doutor Almir de Souza Maia é o tema do livro escrito pela jornalista e escritora Beatriz Vicentini Elias. Com o título “Além das Crises, esperança”. E o sub-título: “Almir Maia: educação como compromisso” o livro é uma catarse. (N.J. Efeito salutar provocado pela conscientização de uma lembrança fortemente emocional, até então reprimida). É a documentação de um período efervescente da história da educação em Piracicaba.
O senhor é nascido em Piracicaba?
Nasci em Pirapetinga, Minas Gerais, divisa com o Rio de Janeiro, em 15 de setembro de 1945. Sou formado em odontologia, pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Essa foi a profissão que escolhi para trabalhar e dar a minha contribuição para com a sociedade. O trabalho com a educação falou mais alto. Principalmente depois que em 1978 me convocaram para vir á Piracicaba, quando a Universidade Metodista de Piracicaba estava iniciando o seu trabalho. Vim como diretor do Centro de Ciências Biológicas e Profissões da Saúde. Logo depois fui para a Vice-Reitoria na época do Professor Elias Boaventura. Após oito anos, em 1986 fui indicado para ser o Reitor da Universidade e Diretor Geral do Instituto Educacional Piracicabano.
O senhor permaneceu em Pirapetinga por quantos anos?
Essa é uma história muito interessante, inclusive encontra-se descrita no livro! Meus pais eram sitiantes, na região de São Pedro, Estado do Rio de Janeiro. A falta de uma perspectiva maior para a educação dos filhos fez com que meus pais mudassem para uma cidade onde os filhos pudessem estudar. Eu tinha apenas três anos de idade! Meus pais Braulino de Souza Maia e Alcides de Souza Maia. Era primos, na época era muito comum o casamento entre primos. Um detalhe bastante curioso é o nome de mamãe ser Alcides, na verdade o nome dela era Alcídia. O cartório ao registrá-la simplesmente escreveu Alcides! Mamãe assinava o seu nome correto: Alcídia, e isso ás vezes gerava algum tipo de confusão. Éramos sete irmãos. Quatro homens e três mulheres.
Seus estudos foram feitos todos em Juiz de Fora?
Estudei em escola pública, minha família era muito humilde. O sonho era estudar em um colégio da Igreja Metodista, era um internato masculino: Instituto Metodista Granbery. Foram comuns algumas cidades brasileiras possuírem a instituição internato. Com uma educação diferenciada, o Instituto Metodista Granbery sempre uniu a busca pelo conhecimento acadêmico-científico à formação ética de seus alunos. O ex-presidente da República Itamar Franco, estudou lá.
O senhor chegou montar seu consultório?
Eu me formei em 1973. Trabalhei no consultório durante sete anos. Quando vim para Piracicaba, nos primeiros dois anos tive consultório aqui. Quando assumi as funções de Vice-Reitor e Reitor, não houve a possibilidade de conciliar as atividades acadêmicas com o consultório.
O senhor casou-se em que cidade?
Casei-me em Juiz de Fora, com uma mineira também, Suzana Maia, filha de família muito tradicional. Ela é formada como pedagoga na Universidade de Juiz de Fora, trabalhou no Instituto Metodista Granbery como coordenadora, e durante vinte e sete anos dedicou-se aqui no Colégio Piracicabano.
Essa escolha pela religião metodista foi uma opção do senhor ou seus pais já eram metodistas?
Os meus pais já tinham uma relação com a Igreja Metodista. Quando eles tiveram a propriedade rural, por ali passavam os pastores que visitavam as pequenas igrejas existentes na região. A minha família hospedava os pastores no nosso sítio. Era interessante, era oferecida para eles a melhor comida, o melhor quarto. Essa relação com o líder religioso é válida também para os padres da igreja católica. É uma relação muito afetiva, da família com os pastores. Um dado interessante, quando eu nasci, estava em minha casa um missionário muito famoso, que se chamava Almir. Em homenagem á ele os meus pais recebi o nome de Almir. Naquela época, as crianças nasciam em sua própria casa, não havia o conforto dos hospitais, maternidades. Meus irmãos nasceram dentro desse sítio. Um dos meus irmãos, o Adriel, no dia em que nasceu, estava também em visita lá, um pastor bastante conceituado, chamado Adriel. Minha família também homenageou o Reverendo Adriel dando o seu nome ao meu irmão Adriel.
Qual é a atuação do senhor dentro da Igreja Metodista?
Como leigo, tenho ocupado todos os cargos. Só não sou clérigo. Decidi pela área educacional, e na área de educação me realizei nesse contexto metodista desde 1972, quando me indicaram para ser membro do conselho diretor do Instituto Metodista Granbery, em Juiz de Fora. Eu era muito jovem ainda, no meio de pessoas com mais experiência de vida. Isso foi a primeira inserção na educação como membro do conselho diretor.
Quando o senhor veio para Piracicaba, a Unimep estava passando por um período de mudanças?
Tive uma participação muito rápida no Departamento do Centro de Saúde da Universidade. Isso foi entre 1978 e 1979. Em julho de 1978 o Dr. Richard Edward Senn foi substituído pelo vice-reitor, Professor Elias Boaventura. Fui indicado por ele para ser o seu vice-reitor, função em que permaneci por seis anos. Foi um período muito importante da instituição. A transferência das atividades de ensino para o Campus Taquaral. Imagine que nesse período também foi instalado o Campus de Santa Bárbara D`Oeste. Imagine o que significa isso! Em uma época muito difícil. Construir, criar cursos, preparar professores. Não tínhamos qudros nem administrativos e nem acadêmicos para a Universidade. Isso foi o que me trouxe á Piracicaba. Eu queria era fazer pós-graduação! O plano era voltar para Minas Gerais! Vim para fazer mestrado e doutorado na Unicamp, depois prestar concurso na Universidade Federal para ser professor universitário da Universidade Federal de Minas Gerais, onde estudei.
A revitalização do prédio da Rua Boa Morte, onde funciona o Centro Cultural Martha Watts foi uma ação muito importante para Piracicaba?
Em termos arquitetônicos é um prédio muito bonito, tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba. Quando cheguei á Piracicaba, em 1978, vim de ônibus, ao subir pela Rua Boa Morte, foi o primeiro prédio que contemplei. Eu não conhecia Piracicaba! Embora já estivesse um pouco deteriorado, era um prédio imponente! Todo os esforços da universidade estavam direcionados para o campus Taquaral e para Santa Bárbara D`Oeste.
A área onde hoje se situa a Unimep, no Taquaral, já pertencia á universidade?
Foi uma negociação realizada. Era uma fazenda com plantação de cana. Era área rural. O Campus ia ser instalado onde hoje é a região do Shopping Center Piracicaba, na Avenida Limeira. O projeto inicial do campus não era no Taquaral! Foi uma decisão acertada, hoje seria uma região saturada. Na época da implantação do Campus Taquaral todo mundo achava distante. Os estudantes, os professores, os funcionários, reclamavam. Todos diziam: “Mas que distancia!” Hoje é uma região urbana! Com isso o prédio onde hoje funciona o Centro Cultural Martha Watts só pode ser recuperado entre 2003 e 2004. Na época precisamos resolver a situação da clínica de psicologia que funcionava aqui, em condições desfavoráveis. Foi ai que surgiu a idéia de implantar um centro de memória, de referencia, que em um primeiro momento eu sonhava em fazê-lo no Taquaral. A Universidade Metodista é a primeira universidade da América Latina.
No ensino metodista Piracicaba é uma das localidades pioneiras?
O Colégio Piracicabano é o primeiro colégio metodista do Brasil, e o terceiro da América Latina! O primeiro é no México, em Puebla, Instituto Madero, o segundo na cidade de Rosário, na Argentina. A diferença de datas de instalação é bem pequena entre as três instituições. Elas foram criadas pelos missionários e missionárias norte-americanos. A igreja metodista tem uma filosofia que considero fantástica: “Onde tem uma igreja, tem uma escola.” Essa dimensão da fé e essa dimensão do conhecimento que John Wesley nos passou como aquele que trabalhou o movimento metodista no século XIIX na Inglaterra. Como educador, como ser humano, me apaixono por saber que essas dimensões da fé e do conhecimento andam juntas. Não podem ser separadas, é inerente a vida. Não podemos separar a cultura da vida humana. Eu ia fazer um Centro de Memória no Campus Taquaral, mas surgiu a idéia de aproveitar o espaço já tombado pelo patrimônio, e restaura-lo como antigamente. Foi uma das obras que mais alegria deu á instituição, a mim, e á cidade de Piracicaba. Não se vê essa preocupação com restauro na amplitude e na profundidade em que fizemos. Restaurando o que deve ser restaurado, mas também dando maior utilidade social ao uso do interior daquele prédio.
Hoje está se tornando comum empresas privadas realizarem um pequeno museu, mais propriamente denominado de “memorial”?
Essa preocupação com a memória, com a história, com o passado, não é coisa muito própria de nós brasileiros. Nem nas universidades essa questão da memória é lembrada! Nem na área da educação. Nós certamente nadamos contra essa cultura que despreza, descarta! Para fazermos o Centro Martha Watts, contamos com parte da memória, parte da história do Piracicabano. Algumas pessoas criticam o fato de ter sido recriado um quarto da mesma forma que existia na época. Criticam o espaço físico ocupado pelo ambiente. Afirmam que poderia ser colocada uma sala de aula, ou alguma atividade que rende dinheiro para a escola. Não é isso! O projeto do Centro Cultural é guardião da história do Colégio Piracicabano, que é uma das escolas mais importantes para a educação brasileira! Nós sabemos da trajetória que o Colégio Piracicabano tem na historiografia da educação brasileira. Com o apoio de Prudente de Moraes.
Hoje a visão em todos os campos é extremamente materialista?
Exatamente! O papel da educação é o de ser plantada para vir a atender gerações! Toda a filosofia da educação metodista transcende essa dimensão que hoje está muito comum no Brasil e em outras partes da América Latina. A educação passou a ser um comércio. É algo muito triste, mas essa é a verdade.





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domingo, agosto 17, 2008

LUIZ DA SILVA

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Entrevista 1: Publicada: Ás Terças-Feiras na Tribuna Piracicabana

Entrevista 2: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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Entrevistado: Luiz da Silva

DATA: (12 agosto 2008)


São vários atributos que formam uma pessoa de sucesso. Escolher o que vai fazer da sua vida, amar essa função e nunca, jamais, desistir dela. Muita dedicação e humildade. Uma determinante para chegar cada vez mais longe é procurar se superar cada vez mais. Traçar uma meta baseando-se em ultrapassar os próprios limites. Dessa maneira, quando menos esperar, chegará mais alto. Luiz da Silva é um exemplo de fé, persistência, humildade, e determinação. Muitas pessoas têm com a mãe de Luiz, Dona. Emília uma dívida impagável. Só aqueles que freqüentaram o seio dessa família podem avaliar a importância anônima e avessa á qualquer tipo de divulgação sobre as inúmeras pessoas e famílias que foram beneficiados pela Dona Emília, mãe de Luiz, Nilza e José. Essa educação sólida, embasada em valores morais e espirituais é que ainda faz com que o ser humano acredite ser dono de qualidades, fraternidade, solidariedade, que muitos consideram ultrapassados, em nome de um materialismo avassalador. Luiz da Silva nasceu em 31 de março de 1934, na cidade de Piracicaba. Filho de Emília Vieira e Silva e João Silva. São seus irmãos Nilza Silva e José Maria da Silva.
Luiz o senhor nasceu em uma casa construída pelo seu pai e seu avô?
Eles eram construtores, e no período de 1932 a mão de obra era paga em material. Foi assim que construíram a casa. Meu pai era carpinteiro. Minha mãe nasceu em 4 de julho de 1908, meus vós, seus pais, vieram de Portugal. Somos primos dos videntes de Fátima: Lucia, Jacinta e Francisco. Meu avô veio de Portugal, ele tinha um primo que o aguardava em Batatais. Quando ele chegou á Santos, o encarregado dos imigrantes e falou com meu avô que ele iria trabalhar em uma fazenda de café em São Pedro. Foi muito difícil para ele.
Como ele mudou-se para Piracicaba?
Depois de um tempo, com o auxílio dos frades capuchinhos, eles moraram em uma casa em frente á Igreja dos Frades. Ele então pediu que vendessem propriedades que ele tinha em Portugal. Foi quando ele adquiriu a casa onde passaram a residir. Na época onde é a garagem da Prefeitura na Avenida Dr. Paulo de Moraes era tudo pasto! Aonde hoje é o Toninho Lubrificantes funcionava uma empresa de descaroçamento de algodão. Nós brincávamos na esquina da Rua Joaquim André com José Pinto de Almeida, onde era um terreno descampado. Havia uma casinha, naquele quarteirão, onde morava Dona Carula e Seu Francisco, eles tinham cinco ou seis filhos. Houve uma época em que houve uma febre muito violenta, morreram quatro filhos deles em uma semana! Tod dia saía um caixão da casa deles, com um filho morto. O único que não morreu era um dos filhos que na ocasião encontrava-se na casas dos tios em São Paulo. Depois desa situação minha mãe presenciou uma fumaceira danada naquela casa. Ela foi até lá ver o que estava acontecendo. Tinham aconselhado o casal a queimarem tudo que eles tinham para não transmitir a doença. E eles estavam queimando tudo! Tudo que existia dentro da casa! Foi nessa época em que a minha mãe acolheu o casal. Eles permaneceram morando e uma dependência que tínhamos anexa á nossa casa.
A Dona Emília estava sempre pronta para ajudar a quem necessitasse?
Ela acudiu “meio-mundo” aqui em Piracicaba! Parentes e não parentes! Quanta gente morou em casa!
Seus primeiros estudos foram feitos onde?
Foram feitos no Externato São José, no prédio aonde depois veio a funcionar a Escola de Odontologia, na rua D.Pedro I. Era uma escola excelente! Nesse período, em 1940, faleceu o meu pai. As freiras fizeram questão que nós três continuássemos alunos do externato, oferecendo uma bolsa de estudos integral para nós três, que até então éramos alunos que regulares, inclusive pagando regularmente as mensalidades. Assim completamos o quarto ano primário no Externato São José. Nessa ocasião mudamos para o Bairro Monte Alegre. Eu vinha a pé do Monte Alegre até o Externato São José. O Dr. Lino Morganti e Dona Odila quando me viam na estrada me colocava no carro deles. Eu ia de carro! Quando tinha ônibus, o Dr. Lino deu-me passagens para utilizar os ônibus todos os dias. Ele deu ordem aos motoristas, para quando me vissem dessem carona, tanto para ir como para vir. Teve uma ocasião em que peguei carona na garupa de um burrico, foi difícil agüentar as gozações que meus parentes e amigos fizeram! (risos). Para vir á escola saía de lá ás 10 horas da manhã, para chegar á escola ás 12 horas. As aulas acabava ás 16 horas e 30 minutos, conforme a disposição física chegava ao Monte Alegre ás 18 ou 18 horas e trinta minutos.
De lá o senhor foi estudar onde?
Fui estudar na Escola de Comércio do Professor Zanin, meu irmão já estava estudando lá, onde se formou. Eu permaneci por dois anos lá. Eu era coroinha na Igreja dos Frades e tinha um colega coroinha também o Mário Perin, que se tornou sacerdote. Eu fui para o seminário onde permaneci até o primeiro ano de teologia. Fui para Rio Claro, de Rio Claro para o seminário de Ribeirão Preto, onde permaneci por muito tempo. Quando saí do seminário me senti sem opção de trabalho. Meu irmão conhecia a oficina radio técnica do Lillo, que era mariano, na Igreja dos Frades, e estava estabelecido na Rua Benjamin Constant. Carregava baterias para os rádios de sítio. Ele saiu para atender clientes e me deixou lá. Havia rádios ás pencas para consertar. Eu substituí a válvula de um deles e deixei funcionando. Quando ele voltou disse-lhe: “-Lillo, não sei podia fazer isso, esse rádio aqui tinha a válvula queimada e eu troquei.” Ele me olhou espantado e perguntou se eu entendia de rádio. Eu contei á ele porque era rádio técnico. No seminário, quando mudamos para Ribeirão Preto, todas as noites queimavam os fusíveis e ficava aquela escuridão danada. Eu disse ao Padre Modesto: “-Posso examinar o que está acontecendo?”. Ele disse-me “-Está á sua disposição!”. Comecei a olhar o que acontecia: Queimavam-se os fusíveis. Mas por quê? Subi no forro. Estava tudo em ordem, não tinha nada de especial. Eu estava no quarto ano de ginásio, estava estudando ciências, passei a freqüentar a biblioteca, á procurar causas. A biblioteca do seminário tinha coisas á beça. Tudo que dizia respeito á eletricidade eu devorei! Subi novamente no forro para examinar qual era a causa. Disse ao Padre Modesto: “-Quando fizeram a parte nova do seminário, alguém ligou os fios da parte nova na parte já existente!”. Ele disse-me: “-O que vamos fazer? ” Disse-lhe: “Se o senhor comprar os fios eu coloco-o lá!”. Ele comprou, acho que 600 metros de fio. Era um seminário imenso. Tive que esticar aqueles fios. Toda quarta-feira á tarde os seminaristas iam jogar futebol, era quando eu subia no forro para trabalhar, colocar roldanas, chaves, esticar os fios. Como o serviço era feito só as quartas-feiras á tarde, demorou meses para que eu concluísse. Pus as chaves, os fusíveis, separei a fiação da parte nova com relação á parte velha. Nunca mais deu pane!
Qual foi a reação dos padres?
O Padre Modesto como prêmio me deu o curso do Instituto Monitor. Em prazo de três tempos eu dei conta daquele material, e eu estava formado por correspondência como técnico. Quando fui trabalhar com o Lillo eu já era formado!
Quais eram os maiores problema que aconteciam com os rádios na época?
Queima de válvula, transformador, bobinas, receptores, o grande problema eram as baratas que entravam nos rádios e causavam esses danos. A primeira providencia era remover a barata. Limpar tudo e trocar o componente danificado.
Na casa do senhor tinha rádio?
Um dos primeiros rádios que apareceu em Piracicaba, foi na minha casa. Nós morávamos na Rua Ipiranga, e eu me lembro como vinha gente para ouvir rádio em casa! A tardezinha vinha muita gente para ouvir a Rádio Nacional, Tupy, novelas, programa de auditório, noticiário, Hebe Camargo, ficavam lá até as dez ou onze horas da noite. Meu pai era músico, tocava qualquer tipo de instrumento. Eu não toco nenhum instrumento. Mas participei de muitos corais, aprendi a cantar!
Quanto tempo o senhor permaneceu com o Lillo?
Alguns meses apenas. Eu estava querendo entrar em uma empresa de maior porte.
Quantos idiomas o senhor fala?
Latim, grego, espanhol, inglês, italiano, francês. Já falei correntemente, hoje por falta de uso já não falo com a mesma habilidade. Sempre tive uma memória bastante eficiente. Sempre escrevia tudo que o professor falava. O pessoal percebeu que eu escrevia tudo que o professor falava, queriam meu caderno! Acabava a aula, na hora de estudo, meu caderno passeava. Na hora de escrever eu dominava a matéria. Bastava escrever para gravar a matéria.
O senhor chegou a fazer taquigrafia?
Tentei! Mas descobri que escrevia mais rápido se usasse a minha forma natural de escrever.
O senhor foi trabalhar na Romi?
Entrei na Romi á 16 outubro de 1958. Permaneci lá por quarenta anos.
O senhor participou do projeto da Romi-Isetta?
Não participei! Eu trabalhava na divisão de fabricação de tornos. (N.J. Fabricado durante cinco anos em Santa Bárbara d`Oeste pelas Indústrias Romi S.A., o primeiro automóvel fabricado em série no Brasil teve seu lançamento oficial em 5 de setembro de 1956.)
O senhor foi trabalhar na fábrica da Romi em Santo André?
Eu já estava no topo da faixa salarial em Santa Bárbara d`Oeste. Meu salário não progredia. Vi no jornal o anuncio de Curso de Controle de Qualidade que estava sendo ministrado em São Paulo pelo período de um mês. Era um curso caro. Falei com a minha esposa, concordamos em investir as nossas economias nesse curso. Ao chegar a Romi, falei com o meu chefe, Amauri, comuniquei que iria fazer o curso em São Paulo. Ficaria um mês fora de empresa e depois retornaria. Logo depois ele anunciou que eu iria fazer o curso e que a Romi iria pagar o curso! O curso era á noite, eu estava em São Paulo, passava durante o dia na fábrica de Santo André. A principio eu ficava apenas disponível na fábrica, logo tomei a iniciativa de participar das atividades da empresa, por minha própria vontade. Ao terminar o mês, eles simplesmente não permitiram que eu retornasse á Santa Bárbara. Arrumaram uma casa para que eu morasse com a minha família. Passei a fazer um curso de engenharia que existia na época. Passava dia e noite na fábrica, inclusive aos sábados e domingos. Teve uma ocasião em que tínhamos o compromisso de entregar se não me engano 50 tornos para o México. Passamos dia e noite trabalhando. Lembro-me que teve um dia em que dormi por uma hora deitado em cima de uma mesa! Conseguimos cumprir o nosso compromisso! Eu tive alguns dias de folga depois!
Luiz, o senhor tinha um computador de sua propriedade, lembra-se da marca?
Era um TK-75. Com fita cassete, utilizava um gravador de som comum, era ligado em uma televisão normal. Isso foi em Santo André. Olhando o computador, pensei que poderia ser útil na fábrica. Em Santa Bárbara d`Oeste havia os equipamentos IBM. Levei para a fábrica de Santo André. Tínhamos que mandar informações para Santa Bárbara. Comecei a realizar os registros no TK-75. Após 500 registros acabava a capacidade! Fui dar treinamento na nossa unidade de Joinville. Á noite ia para a biblioteca que tinha um material fabuloso sobre informática. Eu estava preocupado com o limite do TK-75. Eu mexi no cerne do programa, usando a linguagem assembler, foram mudados alguns trechos do programa. De 500 registros passamos a ter uma capacidade muito maior. Ele abriu, expandiu. Quando chegou aos cinco mil registros aquilo era lento! Estudei á valer o equipamento. Para entrar quarenta itens a coitada da máquina ficava perdida. Calculei em quanto tempo a moça levava para digitar com cada registro. Era cerca de dois minutos. Usei esse tempo para aliviar o computador. No dia seguinte ao terminar de digitar, a moça ao terminar de digitar me chamou dizendo: “-Luiz, aconteceu alguma coisa errada aqui!”. A informação estava pronta! O engenheiro Enzo quando chegou, viu aquilo, na semana seguinte recebi um computador IBM completinho, com impressora e tudo! Era o que havia de melhor na época, um XT.
O senhor teve uma moto, com a qual ia até o seu trabalho em Santa Bárbara?
Era uma Jawa-Monark de 125cc. Não havia capacete, nem blusão de proteção.
O senhor treinou muitos profissionais na área técnica?
Eu tive a satisfação de formar mais de 3.500 alunos dentro da fábrica. Chegou aos ouvidos do Senai, que passou a oferecer certificados a esses alunos, isso dentro da fábrica. Saiam mecânicos abalizados!







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