sábado, novembro 29, 2008


Aparecida Terezinha Gardenal Vicente


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

A Tribuna Piracicabana
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Entrevista: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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Entrevistada: Aparecida Terezinha Gardenal Vicente

Comunicativa, otimista, bem informada. Nota-se, porém que cada palavra que ela pronuncia tem o peso da experiência de vida adquirida ao longo dos anos. Pode-se dizer que se trata de uma pessoa de muita garra. Nascida para enfrentar os desafios que a vida oferece, sem perturbar-se. Ancorada em sua fé religiosa, que não é apenas um conceito relativo, e uma relação familiar muito consistente, Dona Cida, como muitos carinhosamente a tratam, revela uma vida de muita luta, trabalho e conquistas. Dentro da sua simplicidade construiu uma existência expressiva. Para si mesma e para muitos que já estiveram e outros que ainda permanecem á sua volta. Dona Cida é uma pessoa impossível de ser esquecida. Pelo seu caráter, sua retidão, a sua disponibilidade em ajudar seus semelhantes sem questionamentos indigestos. Ela é o testemunho vivo de que nossa sociedade só irá mudar e melhorar se as famílias mudarem e melhorarem.
A senhora nasceu em qual cidade e em que dia?
Nasci na cidade de Laranjal Paulista, no Bairro do Bicame, em 9 de abril de 1930. Sou filha de Adamo Gardenal e Anunciata Mateucci Gardenal, eles eram filhos de imigrantes italianos. Meu avô chamava-se João Batista Gardenal e minha avó Vitória Schincariol Gardenal. Vieram da Itália com três filhas pequenas e minha estava prestes a dar a luz ao meu pai, ele nasceu poucos dias após a chegada ao Brasil. Meu pai tinha o ofício de marceneiro, fazia móveis, jogos de quarto, fabricava carroças, troles, ferrava as rodas de madeira que eram utilizadas na carroça. A serra era movida a água. Ele construiu com madeira uma roda d água muito bonita. Ele desdobrava as toras de madeira na serra maior, e depois cortava nas medidas e repicava na serra circular. Além de ter um moinho de milho, fazia fubá, canjica. Eu trabalhava com qualquer máquina que havia no moinho.
Quem abastecia o moinho de milho durante o beneficiamento?
Nós mesmos! Nós éramos pau para qualquer obra! Hoje vejo essa criançada reclamando por qualquer coisa! Naquele tempo havia a troca de fubá beneficiado por milho que a pessoa trazia. Havia medidas de cinco, dez, quinze, e vinte litros. Era trocada uma vasilha cheia de milho por uma de fubá. Ou era vendido o fubá por peso. O fubá era um mimo! Meu pai aos sábados matava boi pela manhã quando chegava ao meio dia ficava lotado de gente. O bairro era grande. O povo vinha com as vasilhas para levar a carne.
Qual é a receita para fazer uma boa lingüiça?
Com cinco quilos de carne de pernil de porco, 300 a 400 gramas de sal, três cabeças de alho, uma cabeça de cebola, porque ela solta muita água, pimenta do reino bem fininha a gosto. Mói tudo junto. Se a máquina for boa basta moer uma vez só. Naquela época a máquina era manual, não era elétrica. Com o funil ensacava na tripa do boi. Jogava fubá em cima da lingüiça e deixava curar. Na época não havia geladeira, pegava-se uma lata de óleo de vinte litros, derretia gordura, tinha uma arte nessa função, a banha era bem branquinha. O bucho, a barrigada, era utilizado para fazer sabão. Para cada seis quilos de ingredientes usava-se um quilo de soda e dez litros de água.
Quantos filhos os pais da senhora tiveram?
Em vinte anos a minha mãe teve treze filhos, todos nascidos em casa eu sou a primeira filha deles, depois veio meu irmão que faleceu aos 50 anos de idade, Antonio Natalino Gardenal. A seguir nasceram os filhos: Vitória Domingas Gardenal, Maria Gardenal, Josué Elias Gardenal, Isabel Ely Gardenal, Irene Gardenal, João Mathias Gardenal, Junia Gardenal, Loide Herminda Gardeal,Tito Gardenal, Noemi Gardenal e Juraci Gardenal.
Após o nascimento de um filho havia o resguardo?
Por quarenta e cinco dias a mãe não mexia com nada. Não lavava nem roupa. Não fazia nenhum serviço mais pesado.
Como chamava o sítio em que a família da senhora morava?
Era chamado de Moinho do Damo Gardenal. Eles não costumavam chamar o nome completo do meu pai: Adamo. O único que o chamava pelo nome correto foi o Neco Escrivão, dono do cartório.
A família da senhora freqüentava alguma igreja?
Freqüentávamos a Igreja Presbiteriana do Bicamo.
Geralmente as famílias de origem italiana seguem a religião católica, como ocorreu a orientação da família da senhora para outra religião?
De fato, eram todos católicos. Mas em uma ocasião veio um missionário com o nome David Azevedo. A primeira casa para a qual ele se dirigiu foi á casa do meu pai. No diálogo entre eles saiu o assunto de religião. Após um bom tempo meu pai convenceu-se de que deveria seguir a religião presbiteriana. O povo do bairro dizia: “-Fulano é protestante agora!” Na época meu pai era o único. Um dia o David passou em casa e convidou meu pai para ouvir uma pregação na igreja. Meu pai escutou um versículo que o marcou muito: “-Filho meu dá-me teu coração.” É inacreditável o que meu pai fazia por causa desse versículo. Com o tempo o pessoal do bairro não se importou mais com o fato dele ser protestante. Com o tempo houve a adesão de outras pessoas, meu sogro foi um deles. Com o tempo quase todos do bairro converteram-se para a igreja presbiteriana.
Com quantos anos a senhora casou-se?
Casei-me com Américo Augusto Vicente. No dia 9 de abril eu completei 17 anos de idade, no dia 12 de abril de 1947 casei-me. O pastor que celebrou o casamento foi Lazaro Manoel de Camargo. Entrei vestida de branco, conduzida pelo meu pai. Quem deu a festa foi o Schincariol. Tivemos quatro filhos: Adão Lourenço Vicente era químico. Eunice Augusto Vicente, advogada, Evaldo Augusto Vicente, jornalista, e Américo Augusto Vicente Júnior, advogado. Mudei-me para Piracicaba com 34 anos de idade.
Como a senhora conheceu o noivo?
Morávamos todos próximos um do outro. Estávamos sempre na igreja. Ele era dez anos mais velho do que eu. Ele dizia aos amigos dele que ia casar-se comigo. Meu sogro Lourenço Augusto, casado com Vitalina Augusto dizia para o Américo: “Case com a filha de Damo que você terá uma verdadeira mulher dentro de casa: trabalhadeira, uma boa mãe.” Infelizmente ele morreu antes de nos ver casados.
Onde foi a lua de mel da senhora?
Foi no sítio mesmo. Trabalhando. A minha mãe quando se casou com meu pai passou oito dias em Salto de Itu em lua de mel. Naquela época não era comum viajar-se em lua de mel.
Depois de casada quanto tempo a senhora permaneceu no sítio?
Já faz quarenta e três anos que estamos morando em Piracicaba. Nós mudamos do sítio para Laranjal Paulista, lá tivemos um bar. Mudamos para Piracicaba com a intenção de montarmos uma pensão. O local escolhido foi uma casa situada na Rua São José esquina com a Rua do Rosário. Ali morei quinze anos. A casa pertencia á Luiz Dias Gonzaga, anteriormente tinha sido de Antonio Ribecco, onde hoje existe uma série de salões comerciais no local. Tinha oito quartos, uma cozinha grande, uma sala de jantar grande, e uma sala que era muito grande, onde servíamos as refeições. Os nossos vizinhos de esquina era a família Gianetti, o Pretel, onde hoje está a Uniodonto. Onde hoje se situa a Biblioteca Pública Municipal era um jardim muito lindo, com bancos, árvores. Na Rua Alferes com a Rua São José, onde hoje existe um moto taxi, morava Dona Mariquinha Libório. Mais á frente existia o Cine Broadway.
Quando a senhora mudou-se para essa casa uma parte foi reservada para uso da família?
Um quarto ficou para meu marido e eu e outro quarto para os filhos. O resto era alugado. Além de servir refeições. Davi Barros foi meu primeiro hospede, ele era funcionário do Banco Itaú, adorava carne moída e ovo frito com arroz e feijão. Entre os muitos hóspedes que tivemos lembro-me de Eduardo Daruge, João Paulo Feijão Teixeira, Luiz Antonio Campos Penteado. Onde hoje está a Uniodonto funcionava o Pronto Socorro de Piracicaba. Os médicos tomavam refeição na pensão. Ás vezes eles mandavam buscar um prato de comida já pronto. Adoravam a comida. Na época era tudo feito no fogão a lenha. Acordava ás cinco horas da manhã.
A senhora forneceu refeições para grandes empresas?
Forneci para os funcionários do Banco do Brasil. Quando foi construída a empresa Philips de Piracicaba eu forneci as refeições para o pessoal que estava executando as obras. A mesma coisa aconteceu durante a construção da Caterpillar de Piracicaba. Teve uma época em que chegamos a fornecer cinco mil refeições por dia. Só que já tínhamos comprado um fogão industrial de grande porte. Era uma comida trivial, bem caseirinha. A sobremesa eram frutas, doce de abóbora, doce de mamão, arroz doce. Para o arroz doce ficar gostoso deve-se cozinhar o arroz com leite.
A senhora fez um malabarismo para comprar o seu primeiro telefone?
O número do telefone era 7815. O cômodo reservado para os filhos foi ocupado por pensionistas. Essa renda extra é que complementou o valor necessário na compra do telefone. Por um período, os filhos se acomodaram em colchões colocados em área que durante o dia era de uso comum para os hóspedes, colocados a noite e retirados logo pela manhã cedinho. Assim que foi pago o telefone, os filhos voltaram a ter o quarto de novo.
Como era o nome da pensão?
Pensão da Aparecida. O pessoal chegava a Piracicaba e já se dirigia para lá. Principalmente os estudantes. Muitos até hoje, já formados, passam para nos visitar. Teve época em que chegaram a morar lá até 22 estudantes. Tudo com a mais absoluta ordem e higiene. Antigamente era muito comum haver um conjunto que compunha um jogo de marmitas, geralmente cinco unidades distintas. Em cada uma ia separado um tipo de alimento: arroz, feijão, salada, complementos. Com o tempo, a pensão foi dando lugar á um restaurante, havia grande procura pela comida. Os estudantes passaram a morar em repúblicas. Houve um período em que saímos dessa casa e fomos para o Bairro São Dimas. Mais tarde fomos para um local muito amplo na Avenida Luciano Guidotti. Nessa época já era um restaurante industrial, na época um fato não muito comum em cidade do interior.
A senhora mesma ia até o mercado para comprar os ingredientes?
Pedia por telefone e o pessoal mandava. Uma das fornecedoras era a Dona Maria Portuguesa. Carne eu comprava no Açougue Municipal, em frente ao antigo prédio da prefeitura, que foi demolido. O proprietário do açougue era o Seu Reialdo. Ao lado havia a Relojoaria do Tedesco. Nesse quarteirão havia uma Barbearia, o Berti Alfaiate.
De quem a senhora herdou essa garra toda?
Dos meus pais. Meu pai e minha mãe eram dois trabalhadores incansáveis.
Quem trazia a lenha para ser utilizada na pensão?
Era o Domingos Spolidoro, pai do Diógenes Spolidoro. A lenha chegava umas quatro horas da tarde, era descarregada do caminhão, deixada na calçada. Os filhos Eunice e Evaldo é que recolhiam. O Junior era muito pequeno ainda e o Adão estava fora de Piracicaba.
De onde surgiu o espírito de jornalista do seu filho Evaldo?
Foi um pedido meu. Foi uma benção que recebi de Deus. Meus pais moraram por um período de uns três anos em Maringá, no Paraná. A mudança quem levou foi o pai do Aldano Beneton, da Agencia Monte Alegre de Turismo. Fui visitar os meus pais, na volta fiquei grávida do Evaldo. Eu admirava muito a cultura que os reverendos possuíam. O nome do Evaldo foi uma forma de homenagear o pastor Evaldo Constantino Ramos. Pensei no meu intimo que meu filho deveria seguir uma carreira brilhante como a do pastor, que era um excelente escritor. O Evaldo com 11 anos de idade já lia e resumia livros para uma determinada professora que necessitava desse resumo em sua atividade profissional. Sempre foi precoce. O Evaldo é um homem muito bravo, só que ele domina seu temperamento. Deve ter herdado isso do pai. Muitos conhecidos da igreja que freqüento dizem: “Dona Cida, quantas mães gostariam de ser mãe do Evaldo”.
Qual foi a sensação que a senhora sentiu quando foi editado o primeiro exemplar do jornal feito pelo seu filho Evaldo?
Foi muito grande. Na época o jornal funcionava na esquina formada pela Rua Voluntários de Piracicaba com Rua Alferes José Caetano, onde hoje existe um laboratório de análises clínicas, ali nasceu o primeiro número da Tribuna. Na Rua Alferes José Caetano, 701 havia a Padaria Brasileira, era do Seu Yeda. Comprava muito pão ali. No final de ano levava quitutes para serem assados ali: leitoa principalmente. Também havia a Padaria Santo Antonio do Sergio Sachs, ficava para baixo da delegacia de polícia. Lembro-me do Dr. Alfredo de Castro Neves, ele que cuidava de todos nós. Lembro-me da Loja da Lua na esquina da Rua Prudente de Moraes com Alferes José Caetano, a Sapataria Oliveira que ficava na esquia da Rua Pudente de Moraes com a Rua do Rosário. Na Rua Prudente de Moraes entre Alferes e Rosário existia o Supermercado Guerra, a Agro-Comercial. Cheguei a ver o Governador Roberto de Abreu Sodré quando inaugurou o fórum no prédio existente até hoje, que também vi ser construído.
A senhora ia passear quando?
Nunca! Meu lazer era sentar na máquina de costura e trabalhar. É uma máquina Singer que conservo até hoje.
A senhora gostava de ouvir rádio?
Gostava, mas por causa do barulho não conseguia ouvir direito.
Uma profissão que a senhora gostaria de ter, se tivesse tido a oportunidade?
Eu tenho certeza de que seria jornalista!
A senhora tem algum apelido?
Algumas pessoas me chamam de Nena.
A senhora chegou a participar de algum coral?
Sempre cantei na igreja, como contralto.
Quantos funcionários a senhora chegou a ter no seu restaurante industrial?
Cheguei a ter cerca de 100 funcionários.
A senhora e seu marido chegaram a criar alguma criança sem lar?
Se somarmos todas as crianças que criamos em diversos períodos, foram mais de 40. De todas as origens possíveis. Alguns hoje ocupam cargos de destaque no trabalho que desempenham.
Tem uma passagem muito interessante de um menino que trabalhava em um circo?
Fui com meu marido ao Circo do Veneno, levar uma criança que queria conhecer o circo. Tinha um garoto bem miudinho, magrinho, vendendo amendoim. Quando terminou o espetáculo fui até a casa desse menininho. Lá encontrei o pai muito doente. Uma semana depois ele faleceu. Ele deu os documentos do menino para mim e para meu marido e disse: “Faça dele um homem”. Além desse menino havia mais quatro crianças. Foram todos morar na minha casa. E ali cresceram.







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"O medíocre é solene. Na pompa grandíloqua das exterioridades, busca um disfarce para a sua íntima vacuidade. Acompanha, com fofa retórica os atos mais insignificantes e profere palavras insubstanciais, como se a humanidade inteira quisesse ouví-las."
(Jose Ingenieros, in O Homem Medíocre)



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"A faculdade principal da alma é comparar. O bom senso é a justa comparação das coisas."
Montesquieu



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Luís Pereira, pintor de parede, dormiu com 200 votos e acordou como deputado federal. Era suplente de Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas, em Pernambuco, cassado pelo regime vigente. Chegou a Brasília de roupa nova e coração vibrando de alegria. Murilo Melo Filho melou o jogo, logo no aeroporto, com a pergunta abrupta :
- Deputado, como vai a situação ?
Confuso, nervoso, surpreso, sem saber o que dizer, tascou :
- As perspectivas são piores do que as características.




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quinta-feira, novembro 27, 2008

"Devido às quebras de Bancos, queda nas Bolsas, cortes no orçamento, crise nos combustíveis e racionamento mundial de energia, informamos que a famosa luz no fim do túnel será desligada!..."
by ACGB



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sábado, novembro 22, 2008

Postado por Luiz Bassetti em 22/11/2008 17:44 HOJE A TARDE EM CURITIBA...CIMENTEIRO C37 SEGUINDO PARA O PATIO DE CURITIBA, PASSANDO PELO BAIRRO ALTO DA XV EM CURITIBA.



Postado por Luiz Bassetti em 20/11/2008 18:13
MANUTENÇÃOAUTO DE LINHA COM PESSOAL DA MANUTENÇÃO, QUE PASSA FAZENDO ANOTAÇÕES SOBRE A VIA PARA DEPOIS EQUIPES ARRUMAREM OS TRECHOS DEFEITUOSOS.
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Entrevistada: Jussara Maria Siqueira Sansígolo


Jussara conquistou Piracicaba. Piracicaba conquistou Jussara. Jussara dança a vida, para ela dançar é viver. Quase um ritual sagrado. Vivifica a música. A vibração musical desperta nela uma alegria quase ingênua, porém de uma força extraordinária. Pode-se dizer que Jussara explode quando dança. Essa característica foi reconhecida desde os seus três anos de idade. Seu magnetismo pessoal, sua paixão pela dança, transformaram-na, até de forma precoce, em uma personalidade de Piracicaba. Por inúmeras vezes teve convites e oportunidades para integrar a seleta classe de artistas reconhecidos por sua atuação no eixo Rio-São Paulo, o sonho de muitos que aspiram ao estrelato nacional. O que mais fascina em Jussara é sua firmeza de caráter. Sempre soube definir muito bem suas metas e objetivos, algumas vezes até por intuição. Renegou a fama para continuar fazendo o que sempre gostou de fazer: dançar. Sem submeter-se a encilhamentos culturais. Pode-se dizer que se seu espírito para dança é indomável, sua autodisciplina é irretocável. A sua sólida formação moral, adquirida a partir do seu próprio berço, faz de Jussara uma das grandes figuras femininas da nossa época. Jussara nasceu em Piracicaba em 14 de dezembro de 1955, filha da professora Maria Angélica Fernandes Siqueira e do professor Juciê Roberto Siqueira.
A sua vida escolar iniciou-se onde?
Fiz o curso primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. De lá fui para o Colégio Assunção, em seguida para o Colégio Estadual Dr. Jorge Coury. Em seguida fui fazer o curso de Letras na Unimep.
Com quantos anos você começou a estudar ballet?
Minha mãe colocou-me no curso de ballet quando eu tinha três anos de idade. Existem aulas específicas para crianças com essa idade! Eu me apaixonei pela dança e nunca mais parei, até hoje. A primeira escola em que estudei ballet funcionava na Escola de Música Dr. Ernest Mahle, a minha primeira professora de ballet foi Íris Ast. Depois tive Silvia Hage como professora, ela dava aulas na Societá Italiana di Mutuo Soccorso. Eram professoras de ballet clássico. Depois disso, o ballet em Piracicaba ficou um período estagnado. Não havia professoras dando aulas. Minha mãe dirigindo o seu automóvel passou a me levar para Campinas, na Escola Lina Penteado, íamos uma a duas vezes por semana. Nesse período o Lions Independência passoua trazer de novo o ballet para Piracicaba. Passei a fazer ballet no Lions Independência, que por coincidência tinha um docente da Lina Penteado, que foi meu professor. Foi a primeira escola com grande número de alunos, havia 1.500 estudantes de ballet!
Existe um vinculo entre o ballet de Piracicaba e o de Londres?
Estudei sempre o curso da Royal Academy of London. É um curso em inglês, vem uma pessoa da Inglaterra para realizar os exames. O certificado tem validade internacional. Este ano tenho nove alunos recebendo certificado de Londres, eles fizeram o exame em setembro.
Além do ballet clássico existem outras derivações de danças?
Muitas! O Baby Class para crianças de 3 a 5 anos de idade, o Pré Primary de 5 a 6 anos de idade, o Clássico, o Jazz, Contemporâneo, Flamenco, Dança Espanhola, Dança do Ventre, Dança de Salão, Sapateado, Street Dance. O balett clássico tem suavidade, o flamenco é forte, a dança do ventre é sensual, cada dança tem uma linguagem. O corpo responde á modalidade de dança que está realizando.
Qual é o significado do ballet para você?
Ballet é a minha vida! (risos). Vivi a vida intera com danças, me apresentando em teatros, acho que ballet é primordial para todo mundo, independente da profissão que vá seguir. O ballet, em qualquer das formas que se apresenta é um alicerce para a vida. Faz parte da formação, da disciplina, da postura. Percebem-se facilmente as crianças que fazem ballet daquelas que não fazem. O movimento em si é muito importante para extravasar. Eles passam a serem melhores alunos em outras atividades escolares, fazem uma redação melhor, se expressam melhor.
Há uma grande procura de clinicas psicológicas, psiquiátricas, independente da faixa etária. Se forem dados maiores incentivos para escolas de dança pode haver uma redução nessa busca? (N.J. Após uma pausa, Jussara respira profundamente e responde).
A dança é terapia. Tanto que existe dança terapia. Eu não sou psicóloga. Meu irmão é médico psiquiatra, e em sua clinica conta com uma equipe de quatro psicólogas. Tive a oportunidade de colaborar em um trabalho de dança terapia que foi realizado na clínica. Foi um sucesso! Só não levei adiante esse projeto por absoluta falta de tempo. É um trabalho maravilhoso. As crianças são muito criativas em sala de aula. Possuem leveza. Elas levam isso para casa! É um mundo muito colorido, com muita dança. Além de evitarem possíveis terapias, algumas corrigem a postura corporal. Médicos pediatras e ortopedistas indicam a dança como forma de tratamento. Após quatro a seis meses o resultado é visível. Já tive casos de alunas com Síndrome de Down. Não há necessidade de nenhuma linguagem especial, basta a energia do amor. Elas entrosam sem ter receber algum trabalho diferenciado.
Você tem filhos?
Um casal. Meu filho é apaixonado, ele adora. Quando vê minhas alunas dançando, ou quando me via dançando, ele sempre manifestou muito entusiasmo pela dança. Hoje tenho as minhas obrigações dentro da minha academia, a coordenação e direção da escola, muitos alunos, muitas montagens de apresentações. O bailarino tem que estar dedicado por inteiro. Não tenho como me apresentar em um palco, pensando que determinada aluna precisando da minha atenção. Eu não estaria totalmente como bailarina. Eu não consigo atuar pela metade.
É sua característica pessoal tratar a todas as pessoas, inclusive seus alunos, professores, com a mesma deferência?
A minha escola, Ballet Jussara Sansígolo, tem essa receptividade. As alunas que possuem um padrão financeiro mais elevado sabem que na hora do espetáculo isso não influi em nada. Vou pela arte! Cada um vai buscando seu tempo, seu espaço. São tratados com profissionalismo. Quem entra na minha escola já sabe. Pobre ou não, todos são tratados de forma que se sintam muito bem aqui. Hoje tenho por volta de duas centenas de alunos, sendo que tenho alunas de 3 anos de idade e alunas com mais de seis décadas de vida.
Qual é a proporção entre alunas e alunos?
Existem bem mais mulheres. Existem rapazes freqüentando a escola. Tem um caso bastante interessante, trata-se de um garoto de 11 anos de idade, que os pais o trouxeram sorrindo, com muita alegria por poderem dar essa oportunidade ao filho. Os pais gostam de dança de salão, andaram fazendo dança de flamenco. O menino está realizado. No dia 16 e 17 de dezembro será o primeiro espetáculo em que irá dançar. Essa força grande que ele está recebendo da família é bastante rara. Normalmente eles chegam já na fase adulta, por saberem que gostam de dançar, não se preocupam com a opinião familiar a respeito.
Esse preconceito do homem dançar ballet é uma característica da sociedade latina?
Hoje já diminui muito. Antigamente era um pensamento mundial. A própria mídia define para o indivíduo, segregando o que deve ser exclusivamente feminino ou masculino. Já está diminuindo bastante, mas ainda existe, principalmente com relação ao ballet clássico. O bailarino de flamenco já não sente essa discriminação, é uma dança mais forte, mais determinada. O Street Dance hoje é coreografada, não tem nenhum tipo de discriminação.
A dança pode despertar romantismo entre uma aluna e um aluno?
Existe um bailarino, que hoje é flamenco, mas que já fez ballet clássico na minha escola. Na ocasião ele namorava. Na época eu tinha uma bailarina também clássica. Montei um Pas de Deux (Passo a dois), romântico. Ele não olhava para a bailarina como deveria fazer. Eu dizia: “Marcelo, olha para a Diane com mais vida!”. Ele acabou descobrindo que gostava da Diane. Terminou o namoro com a moça que estava namorando e passou a namorar a Diane! Após doze anos de namoro, ele está com 30 anos de idade e ela com 28, estão na minha escola até hoje e irão casar-se no começo de 2009. E com certeza serei a madrinha! Eu disse que eles deveriam casar-se no palco, esse amor começou na dança! (Risos).
A bailarina tem que estar vigilante quanto a sua alimentação?
Sim, embora eu não deixe em minha escola como uma determinação. Acho que a dança tem lugar para todos. Independente de ser mais cheinho. Para os que pretendem seguir carreira existem limitações. De um modo geral ao faço restrições na minha escola. Eu tento usar uma forma suave para passar a mensagem. Se eles tiverem comendo uma bolacha, pergunto se trouxeram alguma fruta. Percebo que as crianças passam a trazer de lanchinho pêra, maçã. Caso queiram comer bolacha deixo que comam. A dança traz todos os benefícios possíveis, mas se a pessoa não estiver com a cabeça centrada na dança e gostando, a pessoa continuará com seus problemas. A bailarina tem que ter um ideal, sentir-se por completa. Para que isso aconteça cada um tem seu tempo. Cada pessoa tem suas características próprias.
Quanto tempo dura um curso de ballet?
O ballet clássico é longo. Elas entram com 3 anos de idade, e algumas já estão comigo há 10, 12 anos. Algumas delas são minhas professoras. Eu mesma estudo até hoje. Não danço mais faço aulas, existe a reciclagem, os programas mudam. Os professores estão periodicamente participando de cursos. Tem que fazer para saber mostrar.
Você já sonhou que estava dançando?
Muito. Principalmente em véspera de espetáculo, já sonhei que estava dançando, sonhei até que estava caindo no palco! (risos)
Algumas bailarinas podem sofrer alguma queda durante a apresentação?
Isso é mais comum acontecer do que se pensa. Até bailarinas famosas já vi cair no palco do Teatro Municipal de São Paulo. Isso acontece. As bailarinas quando dançam nas pontas dos pés, elas estão usando uma sapatilha que tem um pouco de gesso na extremidade. Hoje já estão lançando novos modelos de sapatilhas. Esse tipo de apresentação pode estar sujeito ao menor desequilíbrio da bailarina.
È verdade que os pés de uma bailarina são de uma aparência um tanto quanto trágica?
Imagine! Nem tanto, só tem um pouco de calinho! (risos).
Qual é o uniforme da bailarina?
Usa-se meia calça, collant, algumas gostam de usar saia. Usa quem quiser. E a sapatilha, que pode ser de couro, lona, couro sintético, no caso de sapatilha para meia ponta. A da ponta é feita de cetim. A bailarina deve usar coque. O cabelo solto atrapalha ao fazer movimentos.
Quantos dias por semana uma aluna tem aulas?
Dois dias por semana com a duração de uma hora cada aula, isso para crianças. A partir de 11 anos de idade passa a ser uma hora e meia cada aula.
Uma pessoa que nunca praticou dança pode se matricular com qualquer idade?
Pode. O ballet não tem limitações. O que acontece é que o curso deve ser voltado para aquela idade. A pessoa não terá o mesmo programa que é dado para uma criança de 3 anos.
Você tem muitas alunas da terceira idade?
Não tenho. Mas trabalhar com crianças e com pessoas da terceira idade é uma das minhas paixões.
A mulher está mais sujeita a osteoporose, a dança contribui para que a perda de cálcio seja menor?
Contribui. A dança propicia o fortalecimento, isso não significa que a partir de certa idade a pessoa não irá necessitar a ingestão de medicamentos que reforcem o teor de cálcio em seu organismo. A atividade física fixa mais o cálcio. Acho que com a idade as bailarinas irão cair e quebrarem. Não irão quebrarem e cair! (muitos risos).
Você desfilou no carnaval de Piracicaba?
Saí por vários anos. Isso aconteceu nos anos 1974, 1975 a 1976. Eu estava na minha casa, era só dançava ballet clássico, meu tio Waldomiro Lopes, e convidou para participar do desfile. A princípio considerei a proposta fora de propósito, até que pela insistência dele eu concordei desde que eu dançasse do meu jeito, sem regras. A dança para mim vem de dentro. Fui até a concentração da escola, aquele som era muito gostoso. Comecei a dançar com um pouco de coreografia, jogava minhas mãos, meus cabelos.
Baixou o samba em você?
Jussara responde rindo muito: “É bem por aí!”. Aquela cuíca. Aquele som me emocionava. A única condição era de que eu saísse na frente da bateria, eu queria aquele som muito próximo. Gravei um pedaço do ritmo da escola e saí á procura de discos de escolas de samba do Rio de Janeiro. Comprei todos que encontrei. Pensei nos atributos que uma pessoa tem que ter para sair desfilando na rua. O visual, cabelo, corpo, cor e resistência. Ia até o Clube de Campo de Piracicaba, nadava, tomava o sol da manhã. As 10 horas eu vinha colocava o disco da escola de samba do Rio e ficava dançando até ao meio dia. Das duas horas até as cinco horas da tarde eu dançava de novo. Minha mãe e meu pai ficavam admirados! Isso foi dos meus 15 aos meus 18 anos de idade. Eu olhava na televisão e via as pessoas que desfilavam no Rio de Janeiro quase sem roupa. Pensava, eu quero ter uma roupa que tenha muito brilho, quero ter um anel com pedras que brilhem em meu dedo. Minha mão bordava a minha roupa cheia de pedraria. Eu usava sapatilha, na época o pessoal saía muito de salto alto. Quando desfilei foi uma sensação. Foi notícia em de primeira página em todos os jornais da cidade.
Você lembra-se do trajeto do carnaval?
Os primeiros desfiles desciam a Rua Governador, entrava na Rua Prudente de Moraes, passava em frente ao cinema Politeama e subia pela Rua Boa Morte. Só que na época não existia tempo determinado para que a escola desfilasse. A escola que estava na frente sacrificava a escola que vinha atrás. Permanecia o tempo que queria em frente a arquibancada do júri. Cheguei a passar as três horas da manhã em frente ao júri, sendo que tinha começado a sambar as 10 horas da noite! Olhe a resistência que era necessária!






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