sábado, dezembro 13, 2008


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
A Tribuna Piracicabana
http://www.tribunatp.com.br/
Entrevista: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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Entrevistado:
Sebastião Franco – Craveiro

Por definição cultura é o conjunto de manifestações artísticas, sociais, lingüísticas e comportamentais de um povo ou civilização. Portanto, fazem parte da cultura de um povo as seguintes atividades e manifestações: música, teatro, rituais religiosos, língua falada e escrita, mitos, hábitos alimentares, danças, arquitetura, invenções, pensamentos, formas de organização social. Piracicaba tem influenciado a cultura do nosso país, em todos os segmentos. Uma das grandes expressões de cultura da nossa terra é a dupla Craveiro e Cravinho. Com a música no sangue, são donos de um talento reconhecido e cantado pelo Brasil inteiro. Introvertidos na vida pessoal, muito modesta, apresentam as características daqueles que sempre lutam por um sonho, por muitos anos foram obrigados a exercerem atividades profissionais alheias a música.
Craveiro, como é o seu nome?
Eu me chamo Sebastião Franco, e meu irmão o Cravinho, chama-se João Franco. No tempo em eu nasci para fazer o registro de nascimento de uma criança, esperava-se acumular o nascimento de várias outras crianças para então aproveitar a ida do sítio ao cartório e então se registravam todas nascidas naquele período. Com isso eu nasci no dia 5 de outubro, mas fui registrado no dia 5 de fevereiro de 1931. É bom ter duas datas de nascimento: eu ganho presentes duas vezes. (risos). Meu irmão nasceu em setembro de 1938. Meu pai chamava-se Josué Inocêncio Franco e minha mãe Julia de Andrade Franco. Nasci em um bairro rural que tinha por nome Cortume, município de Pederneira, próximo a Jaú. Quando tinha uns seis ou sete anos de idade mudamos para o que na época era um lugarejo, que tinha duas vendinhas, chamado Itatingui. Éramos nove irmãos. Hoje somos cinco.
Qual era a atividade profissional do seu pai?
Meu pai era retireiro, e eu ainda bem novo também comecei a trabalhar nesse ofício. Pouca gente sabe o significado da palavra retireiro. É aquele que tirava leite da vaca. O retireiro apartava os bezerros ás duas horas da tarde. Trazia as vacas na mangueira, separava os bezerros, para ele não mamar até no outro dia. Lá pelas quatro horas da manhã do dia seguinte, começava a tirar o leite. O bezerro vinha dava umas cabeçadas no ubre, o leite descia. Na época era tirado leite de umas oitenta vacas, por quatro a cinco pessoas adultas e eu, que embora tivesse uns 12 ou 13 anos de idade, fazia o trabalho de um adulto. Tínhamos que ordenhar e entregar o leite para que o trem que passava ás nove horas da manhã levasse esse leite. Para levar esse leite até a estação era usada uma carroça puxada por bois, chamada carretela.
Quantos bois puxavam essa carroça?
Dois bois. Para puxar lenha colocávamos mais bois.
O senhor lembra-se do nome de alguns desses bois?
Lembro-me do nome de alguns deles: Rolete, Maneiro, Desenho, Deserto, Pente Fino. Eram bois mansinhos, quando nós os tocávamos na mangueira eles ficavam um ao lado do outro para colocarmos a canga.
Como a família foi residir em Pederneiras?
A origem da família era lá. Meu bisavô, Felipe Franco foi quem doou a terra onde foi fundada a cidade de Pederneiras.
A vocação para cantar surgiu quando?
Surgiu quando eu ainda era criança. Meu pai, minha mãe, minha família toda cantava. Nas festas de sítio, meu cantava, catira, cateretê, e eu passei a ajudá-lo a cantar. Eu era criança, peito fino. Montamos uma dupla e passamos a cantar as modas conhecidas.
O senhor dança catira?
Dancei muito, agora as pernas já não ajudam tanto. ( risos) Mas dou uns pulos ainda.
Como surgiu o nome Craveiro?
O Bairro Itatingui, era um lugarejo, menor do que Porto João Alfredo (Artemis), só tinha duas vendas. Na época apareceu um circo, do tipo pavilhão, chamava-se Circo do Miguel. Normalmente o circo comum é redondo, o circo do tipo pavilhão é quadrado, coberto com lona, duas águas. Veio se apresentar no circo uma dupla de nome Craveiro e Rosinha. Era pai e filha. Naquele tempo eles iam e permanecia a semana inteira no local do primeiro show, por causa de condução. Deram o show no sábado, ficaram para o domingo, para a quinta-feira até o outro sábado. Com isso houve um entrosamento nosso. Eu era doente por cantoria, eles cantavam, faziam mágicas no circo. Fiquei entrosado no circo. Tornei-me muito amigo deles. Segundo alguns diziam, eu era muito parecido fisicamente com o Craveiro, a diferença é que eu era um menino e ele um senhor de uns quarenta e poucos anos de idade. Depois de o circo ter ido embora, quando eu chegava a algum lugar o pessoal dizia: “Olha o Craveiro que vem vindo”. Eu passei a ser o Craveiro.
Como surgiu o nome Cravinho?
Em Jaú existia uma rádio chamada PRG-7, eu meu irmão fomos cantar lá. Na época eu era molecão de uns 17 anos, já usava calça comprida. Um locutor falou: “Olha o Craveiro ali!”. Outro locutor disse: “E o Cravinho junto.” Quando voltamos para Itatingui já passamos a ser chamados de Craveiro e Cravinho. Quando lançamos o nosso primeiro disco, houve um momento em que foi pensado em chamar a dupla de Paulista e Paulistinha, mas acabou permanecendo Craveiro e Cravinho.
Quando a música passou a ser a profissão definitiva da dupla?
Eu fui carpinteiro. Fazia madeiramento de casa, portas, janelas.
Mas com o talento artístico de vocês não tinha como viver só da música?
Trabalhamos muito, no batente duro. Mudamos em 1957 para o Porto João Alfredo (Artemis). Logo em seguida viemos morar em Piracicaba. Na época, existia em Piracicaba uma pessoa chamada Jaime Pereira, que era um grande admirador de moda de viola. Em 1957, um cururueiro de nome Barbosinha tinha um programa no rádio isso no tempo de Lazinho Marques, Nhô Serra. Quando escutaram nossa apresentação feita á alguns amigos, imediatamente nos levaram para catar na rádio. O pai do Jaime Pereira, o Seu Abel Pereira tinha uma carvoaria na Rua Sud Mennucci, no bairro da Paulista. Ele participou ativamente da construção da Igreja São José, e nós cantávamos nas animadas quermesses, feitas em benefício das obras da igreja. Ainda em 1957 passamos a nos apresentarmos na rádio, o José Soave contratou-nos. No finzinho de 1957 passamos a ter um programa fixo na Rádio Difusora. Foi uma coqueluche. Todos elogiavam, diziam: “-Que dupla boa!”. Ficamos na rádio até o início de 1980. O Dr. Bento Dias Gonzaga também sempre admirou moda de viola. Dr. Francisco Salgot Castillon também gostava de música raiz.
Continuavam a trabalhar como carpinteiro?
Continuamos, o salário na rádio era bem apertado. Surgiu a oportunidade de gravarmos o nosso primeiro disco em 1962. Era com as músicas “Ponta de Faca” com autoria minha e de Nhô Serra e “Mata Deserta” de autoria minha e do Cravinho. Continuamos trabalhando na rádio e aos domingos íamos fazer shows na região de Piracicaba.
Quando a dupla Craveiro e Cravinho apresentou-se pela primeira vez na televisão?
Foi no programa “Canta Viola” de Geraldo Meirelles, na TV Record.
O senhor gosta de jogar truco?
Gosto muito. Todo cururueiro gosta de truco. Conheci uma turma boa de truco. João Nhô, Zé de Freitas, José Nassif. Essa turma era terrível no truco. Eu inteirava!
A dupla que aceitava jogar truco com vocês era o que chamavam de “pato”?
Saiam sem penas!
O jogo de truco é um jogo de muitas estratégias, uma delas é o sinal entre os parceiros, indicando as cartas que cada um tem nas mãos?
O uso acertado de sinal entre os parceiros significa metade do jogo ganho. O sinal corriqueiro ficou muito conhecido. Cada dupla usa um tipo de sinal. Existem sinais que são quase despercebidos pelos adversários.
Qual é a maior satisfação que um cantor obtém?
Soltar com a voz os seus sentimentos. A cantoria é emotiva. Quem canta sem entusiasmo a moda não sai boa. Tudo tem que ser natural. Quando nós cantávamos na Rádio Difusora de Piracicaba, isso em 1957, no nosso início, a nossa vontade de cantar era muito grande, o corpo acompanhava a viola, o jogo, o pessoal notava aquilo Todo serviço que é feito com amor sai perfeito.
Qual foi o lugar mais distante de Piracicaba que a dupla Craveiro e Cravinho já se apresentou?
Nos Estados Unidos! Nova Yorque e Nova Jersey. Lá existem as colônias brasileiras, o empresário brasileiro contratou a dupla de cantores Cesar e Paulinho, e pediu que nós também nos apresentássemos lá. O nosso disco “Franguinho na Panela” é muito tocado nas comunidades brasileiras de lá.
Craveiro e Cravinho já se apresentaram para autoridades muito conhecidas?
Fizemos a entrega de uma viola caipira para o Presidente Figueiredo. Foi em Ribeirão Preto. Ele gostou do presente e cantou conosco aquela Moda da Mula Preta. Ele era canhoteiro, tocou a violinha. Foi uma festa. Era um homem muito simples.
Craveiro e Cravinho tiveram um programa na televisão?
Por dois anos apresentávamos um programa. na TV Bandeirantes, em São Paulo. Era gravado no Teatro Brigadeiro, ao vivo. Chamava-se Som Verde, eram duas horas de programa. Foi um programa que mexeu com o Brasil de Norte á Sul. Nós levávamos muitas duplas boas. Quem fundou o programa foram o Tonico e o Tinoco.
Era gravado uma vez por semana?
Uma vez por semana nós íamos á São Paulo para gravar o programa. Na época nós tínhamos um carro DKW. Ia pela Via Anhanguera. Voltava á noite, naquela época não havia o trânsito que há hoje. Vinha com calma.
Vocês participaram de muitos programas de televisão?
Cantamos no programa de Airton e Lolita Rodrigues, o “Almoço Com As Estrelas”. Já participamos do programa da Hebe Camargo, Gugu Liberato. Conhecemos o Silvio Santos na Rádio Nacional de São Paulo. Nós fazíamos um programa lá. Conheci Manoel da Nóbrega. Conheci muito o saudoso Edson “Bolinha” Coury. Conheci o Chacrinha. Era boa gente, tinha um espírito de criança. Cesar de Alencar também foi nosso conhecido. Cantamos juntos com Dorival Caymi. Na ocasião do cinqüentenário da música sertaneja participamos fazendo uma apresentação no Parque São Jorge, o campo do Corinthians. Lotou o estádio. Apresentaram-se muitos cantores, foi um dia inteiro de festa. A moda de viola sempre foi uma moda querida por todos, e com a Graça de Deus está voltando de forma mais forte.
E a música que vocês fizeram em homenagem ao Pelé?
É a música Pelé dos Pobres. Quando o Pelé estava no auge, na década de 70, o Moacyr dos Santos fez uma moda que dizia que existe o Pelé rico, eu sou o Pelé dos pobres. Nós gravamos essa música. Foi uma musica muito tocada. Conheci Garrincha, Rivelino. Elza Soares. Nós freqüentamos o programa da Inezita Barroso. Domingo próximo será transmitido pela TV Cultura o programa especial que nós fizemos para o fim do ano.
Atualmente a dupla apresenta um programa na Rádio Educadora de Piracicaba?
Começa ao meio dia e meia e vai até as duas e meia horas da tarde. Aos domingos. Na AM 1060 Khertz.
A dupla sempre encontra muitos fãs onde se apresenta?
Em todo lugar que nós vamos encontramos fãs ardorosos, que acompanham a nossa carreira. Muitos choram. Dão presentes: fotos, canivetes, pito.
O senhor andou muito de bonde em Piracicaba?
Lembro-me do bondinho, ele saia da Estação Sorocabana e ia até a Escola Agrícola. O Milito era o motorneiro do bonde. Os funcionários que trabalhavam no bonde gostavam muito de moda de viola. Tenho saudades daquele tempo.
Qual a sua comida preferida?
Todas são boas. Um arroz com feijão e um ovo frito é muito gostoso.
Com um franguinho na panela?
Um franguinho!
A música Franguinho Na Panela é um grande marco ma carreira da dupla?
Após essa música, conhecemos em seis ou sete anos lugares que não tínhamos conhecido em quarenta anos. Viajamos para Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso. Hoje os veículos de comunicação são muito rápidos. A moda quando é boa chega ao conhecimento do povo de forma rápida.
Já tem alguma novidade para ser lançada?
Tem um CD quase pronto para sair.
O senhor é religioso?
Sou católico. Creio muito em Deus.
Vocês cantaram uma música para uma novela famosa?
Cantamos para a novela Corpo Dourado, a música Cabocla Tereza.
Estamos próximos ao final de 2008 qual é a sua mensagem para Piracicaba?
Que seja um Natal muito feliz, com muita comida na mesa, muita paz, e que o Ano Novo seja o ano prometido.





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sexta-feira, dezembro 05, 2008

Else Ferraz Salém


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

A Tribuna Piracicabana
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ESCOLA DE APLICAÇÃO
Entrevista: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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Entrevistada: Else Ferraz Salém
Um dos privilégios da maturidade é trazer doces lembranças. Se lembrar é reviver, nada melhor do que lembrar-se dos bons momentos. São imagens guardadas na memória de cada um. Muitas vezes a pessoa é a protagonista principal. Também pode ser coadjuvante. E algumas vezes apenas assiste a um fato, sem intervenção direta. Saber viver cada etapa da nossa existência é uma arte. Um eterno descobrir-se. Se por acaso a idade traz algumas limitações físicas, naturais, também aguça outras, é a lei da compensação da mãe natureza. Certo dia, um casal deixou uma cidade do litoral paulista, onde vivia com o conforto que lhe era permitido. Escolheram Piracicaba para morar. Mais precisamente, o Lar dos Velhinhos, que lembra o Vaticano, pelo fato de ser uma cidade dentro de outra. Se o Vaticano fica encravado em Roma, a Primeira Cidade Geriátrica do Brasil fica inserida no coração de Piracicaba. Desfrutando de excelente saúde, uma disposição invejável, eterno bom humor, e um relacionamento extremamente harmonioso são notáveis o exemplo de vida de Else Ferraz Salém e Tércio Becker Salém, um casamento que perdura por 60 anos. Um casal de eternos apaixonados.
A senhora é paulistana?
Nasci em 3 de abril de 1926, na Rua Joly, no bairro do Brás. Naquele tempo bem em frente de casa ainda tinha lampião de gás. Um senhor chegava lá pelas seis horas da tarde, limpava lampião e acendia. Era gás de rua. Ele ia a pé de poste em poste. No dia seguinte ele mesmo apagava. É de uma época em que começo a lembrar de alguns fatos da minha vida, deveria ter uns 4 anos de idade. Meu pai Sethe Ferraz e minha mãe Gertrudes Hermel de origem alemã. Meu avô Virgílio Spindler Hermel nasceu no Rio Grande do Sul e minha avó da família Metzner Muller. A minha mãe, Gertrudes, aprendeu a falar português aos seis anos de idade, até então se comunicavam em alemão. Meus av´s tiveram treze filhos, sendo que a minha mãe era a mais velha. Após mudar-se para São Paulo, com o tempo passaram a usar mais a língua portuguesa como meio de comunicação. Os filhos mais velhos aprenderam a língua alemã. Os mais novos não. Minha mãe casou-se em 1 de junho de 1922.
Eles tinham algum propósito definido quando se mudaram para São Paulo?
Meu avô era do tipo que fazia de tudo. Moraram primeiro em Ibitinga, depois para Bauru, e finalmente para São Paulo. Ele exerceu as funções de fotografo, dentista, trabalhou com engenharia também. Meus costumavam dizer que as pedras de calçamento que existiam em Ibitinga, Bauru, Piraju eram todas obras realizadas pelo meu avô, como mestre de obra. Minha mãe durante uma semana ajudava a minha avó no trabalho de costura, outra semana ela ajudava meu avô no consultório dentário. Meu avô era ainda pastor evangélico.
A senhora foi paciente do seu avô?
Ele obturou alguns dos meus dentes. Até hoje tenho essas obturações. A cadeira era bem simples. O motor era movido conforme o movimento do pé do dentista sobre um pedal. Tinha que ter uma coordenação motora boa, além de trabalhar com as mãos nos dentes do paciente, tinha ainda que movimentar o motor com o pé. Meu avô era um homem enorme, muito alto, grande.
Os pais da senhora tiveram quantos filhos?
Seis filhos. Cinco mulheres e um homem: Maria Clara, Else, Odila, Jaci, Cláudio e Marila. Minha mãe ainda criou por uns três anos uma garotinha cuja mãe havia ficado doente, a Tirza.
A atividade do pai da senhora qual era?
Papai era pastor evangélico da Igreja Presbiteriana Independente. E era médico pediatra também. Ele estudou medicina e teologia em São Paulo. Era vontade do meu avô que ele fosse pastor. Da minha avó que ele fosse médico. Para contentar aos dois, formou-se nas duas profissões. Papai residiu por uns dois anos no bairro do Belém em São Paulo, depois se mudou para o Brás. Eu nasci na Rua Almirante Barroso. Meu marido Tércio nasceu na mesma rua. Quando eu tinha um ano de idade a igreja construiu uma casa para o pastor, e nessa casa papai morou quase até o fim da vida. Ele teve que mudar de lá porque a poluição do Brás estava prejudicando a saúde da minha mãe. Mamãe era muito ativa na igreja. Na família do meu pai tivemos sete pastores, o assunto no almoço era sempre sobre igreja.
A senhora estudou em que escola?
Com sete anos de idade fui estudar na Escola Normal Padre Anchieta, que ficava na Avenida Celso Garcia. Lá estudei até a quinta série. Eu queria estudar medicina, mas não deu certo, naquela ocasião teve a reforma Capanema. Na época faziam o pré e entravam para a faculdade. Eles terminaram os prés e criaram os colégios. Demoravam muito para criarem os colégios e o pré tinha acabado. Na ocasião eu não fiquei sabendo que estavam aceitando alunos da quinta série sem pré, sem nada. Bastava fazer o exame e entrar na faculdade. Fui fazer o exame para a faculdade de educação física, que também fazia isso. Entrei para a Escola de Educação Física de São Paulo, era do Departamento de Educação Física. As aulas práticas eram dadas no Clube Espéria, depois passou a funcionar no Estádio do Pacaembu, onde permaneceu por muito tempo até ser construída na Cidade Universitária a Escola de Educação Física. Sou da turma formada em 1944. (N.J. Em 1931, a Reforma Francisco Campos, chamada reforma Chico Ciência, complicou ainda mais as coisas, “dividindo o curso em duas partes, ou dois ciclos: o primeiro de 5 anos e o segundo, e complementar, ou colégio universitário, de dois anos. Na gestão do ministro Gustavo Capanema foi promulgada, em 9 de abril de 1942, a Lei Orgânica do Ensino Secundário, também conhecida como Reforma Capanema. Por essa lei, foram instituídos no ensino secundário um primeiro ciclo de quatro anos de duração, denominado ginasial, e um segundo ciclo de três anos).
A senhora nadou no Rio Tietê em São Paulo?
Comecei a nadar com oito anos de idade. Havia o cocho no Rio Tietê, que era uma área cercada, não havia piscina no Clube de Regatas Tietê, isso foi em 1933 ou 1934. Depois que construíram a piscina aprendi a nadar com Sr.Lenk, pai de Maria Lenk. Ainda menina, quando o rio enchia o Sr, Afonso Simões, membro da nossa igreja, nos levávamos passear nas áreas inundadas, e fazíamos passeio memoráveis nas regiões alagadas.
Havia uma carência muito grande de professores de educação física naquela época?
Por ser uma disciplina relativamente nova, havia uma carência. A primeira turma formada em educação física em São Paulo foi em 1936. Era um grupo muito pequeno. Havia uma seleção rigorosa para entrar para a escola.
Como os alunos viam a adoção da educação física como matéria curricular?
Os alunos gostavam muito. Quando me formei era aplicado o método francês de pedagogia. Depois foi surgindo o método sueco, calistenia que se aplica na Associação Cristã de Moços. O método francês é uma aula de educação física bastante complicada. Tinha certa ordem de exercício que não poderia ser trocada. Diziam que quebrava o ritmo da aula. Havia uma alternância de exercício de braços, de pernas, de tronco. Havia uma preocupação muito grande com o plano de aula. Trabalhei por 10 anos na Escola de Aplicação que funcionava no Parque da Água Branca. (N.J. Criada oficialmente pelo decreto 10.307, em 13 de junho de 1939, a Escola de Aplicação ao Ar Livre Dom Pedro I só foi de fato instalada na cidade de São Paulo no dia 12 de outubro, durante as comemorações da Semana da Criança. Após os discursos da solenidade de inauguração, os alunos da Escola Superior de Educação Física “realizaram uma completa demonstração de educação physica, pelo método francês, official do governo da União” Fonte: Overmundo). Era uma escola do departamento de educação física, voltada para estudos sobre a educação física infantil, que não havia naquele tempo, e até hoje ainda é muito precária a educação física voltada á essa faixa etária.
Quantas professoras de educação física havia na Escola da Água Branca?
Eram 10 professoras de educação física naquela escolinha. Eu passei a trabalhar com a professora Maria Laura, de acordo com ela passei a fazer um trabalho inovador com as crianças. Depois disso passei a dar aulas sempre para crianças de 4 e 5 anos de idade, sempre na escolinha do Parque da Água Branca. Quando havia uma visita importante Adhemar de Barros a levava visitar a escola. Ele e Dona Leonor ficavam sentados ali, olhando as crianças bem pequenininhas. A Lúcia Mercandante era a professora, quando ela saiu, eu assumi o seu lugar. Passei a dar as demonstrações para as visitas do Dr. Adhemar de Barros. Dona Leonor sempre me dizia: “-Só sendo uma menina desse jeito para dar uma aula assim”. Ela e Dr. Adhemar eram pessoas muito simples. Tem uma passagem muito peculiar. O Dr. Adhemar de Barros era muito amigo do Oswaldo Miller da Silva, que era meu primo. Um dia eles estavam na praia de Bertioga, o Milton que era professor de educação física e médico e irmão do Oswaldo Miller da Silva, entrou no mar, com a noiva, chamada Hilda Zanini. O mar começou a puxar a Hilda não sabia nadar e o Milton não agüentou segurar a menina. Ele fazia sinal para a praia de que estava com dificuldade. Minha tia estranhou e disse: “-O que está acontecendo com o Milton?”. Um dos rapazes que estava junto disse: “-Eu vou ver.” Conseguiu chegar lá perto. O Milton falou para que ele segurasse a Hilda que ele estava exausto. Minha tia via o Milton indo embora, o mar puxando. Ela foi até a estrada e pediu socorro. Parou um carro. Quem desceu do carro? Adhemar de Barros ele já era governador. Ele conhecia minha tia. Disse á ela”- A senhora espere um pouco!”. Deu meia volta, foi para o porto de Bertioga, a lancha dele estava lá. Havia sido roubada do Porto de Santos algum tempo antes. Com a lancha Dr. Adhemar pegou a lancha, puxou o Milton pelos cabelos, e fez os procedimentos de primeiros socorros. O Adhemar de Barros era médico.
A senhora credita essa precariedade no ensino de educação física infantil á que fatores?
Acho que existe uma grande dificuldade nesse sentido. Quando me formei só havia 3 colégios do estado em São Paulo: Padre Anchieta, Escola da Praça (Caetano de Campos, na Praça da República) e o Colégio do Estado. Pouco antes de eu me formar, alguns poucos foram construídos em bairros isolados.

Em que ano a senhora passou a lecionar no Estádio do Pacaembu?
Foi em 1944. Eu estive na inauguração do Estádio do Pacaembu em 27 de abril de 1940, como participante do orfeon da escola Padre Anchieta. Eu era soprano.
A senhora freqüentava as lojas do centro de São Paulo?
Com 10 a 12 anos de idade eu ia para a cidade de bonde, para fazer as compras para a minha mãe. Tinha também um ônibus que ia do Brás até o Largo São Bento. Andava por todo o centro de Piracicaba. Cheguei a comprar na loja do Mappin que ainda era no hoje Largo do Patriarca.
Qual seu lazer preferido?
Eu era filha de pastor. Isso significava que havia restrições quanto a formas de lazer. São bastante rígidos. Nós vivíamos em uma comunidade um tanto quanto fechada. A igreja oferecia aos jovens partidas de pingue-pongue, patins na quadra de esporte, passeios, piquenique. Os meus colegas de colégio é que iam estudar em casa. Os estudos de grupo eram feitos em uma sala da igreja, que tinha um quadro negro. Era um ambiente de estudos muito bom.
Na época a igreja católica tinha laços muito fortes com o poder constituído. Havia algum tipo de descriminação aos não católicos?
Não cheguei a sentir muito isso. O fato de papai ser médico quebrou muitas barreiras, ele era muito querido no bairro todo. No Brás o Dr. Sethe era muito conhecido. Fiz uma poesia ao meu pai: “Tinha eu meus três anos; e da porta fascinada; olhava no consultório; de avental branco imponente; todas as tardes ele atendia aos seus doentes; e a nós pequenos era proibida a entrada no pequeno consultório; ou na grande sala ao lado. Eu, pequena, olhava fascinada, para aquele armarinho branco; com caixinhas coloridas de vidrinhos variados. E papai me perguntava: - Você quer alguma coisa? Eu dizia: - Uma caixinha, um vidrinho e um dinheiro. Papai então tirava do armário, uma caixinha, um vidrinho vazio e do bolso do colete é que vinha a moedinha: um tostão ou duzentos réis. Eu saía contente tendo em mãos o que julgava o mais rico presente. Os anos foram passando, e pelo meu aniversário, papai sempre perguntava: - Você ganhou uma caixinha, um vidrinho e um dinheiro? Sempre ganhava, quando faltava um ele completava. Os anos passam velozmente, e ainda hoje, velhinho, com um sorriso brejeiro, me pergunta: Recebestes uma caixinha? Um vidrinho? Ou um dinheiro? (N.J.: Poesia recitada de memória pela entrevistada).
Havia ensino religioso na escola?
Nós saíamos da sala de aula e ficávamos no pátio. Era dada essa liberdade de escolha. Um fato muito interessante foi o comentário de uma professora, que gostava muito de nós, ela dizia: “-É uma pena que vocês sejam protestantes!”. Em outra ocasião o diretor chamou algumas alunas á diretoria, quando olhei eram todas evangélicas, além de uma espírita. Estranhei a situação. Ele disse: “-Essa escola está sofrendo a ação de alunos que querem fazer greve, bagunçar com o colégio. Mas eu notei que neste grupo aqui eu posso confiar, e nós vamos fazer uma campanha de moralização da escola”. Ele era católico. Não houve discriminação religiosa.
Como era o uniforme da escola?
Era uma saia azul marinho, pregueada, plissada, blusa branca com o emblema do colégio, meia de cor branca, sapatos pretos. No grupo usávamos o laço de fita no cabelo. Era aquele bendito laço de fita enorme.
O pai da senhora trabalhou como médico durante o período de alguma epidemia em São Paulo?
Como médico ele trabalhou muito durante a gripe espanhola que grassou pela cidade. E na Revolução de 1932 ele trabalhou muito, mesmo não tendo ido á frente de batalha. Como éramos pequenos fomos com a minha mãe para a casa de familiares em Bauru.






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Millôr Fernandes



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quinta-feira, dezembro 04, 2008

Especulação no mercado imobiliário de Dubai – o começo do fim
Cecília Bicca Paetzelt - Advogada brasileira residindo em Dubai


Nos Emirados Árabes Unidos, pequeno país do Oriente Médio que tem maravilhado o mundo todo com um inigualável crescimento econômico e obras faraônicas, existe um sintoma generalizado e contagioso chamado otimismo. A crise financeira assola o mundo e nos Emirados o clima era, há até bem pouco tempo, o de que "eu não tenho nada a ver com isso". Não que o otimismo seja algo para se envergonhar ou desprezar; ao contrário, pois é evidente que as pessoas de visão, os líderes e empreendedores estão mais para integrarem a turma dos otimistas do que dos pessimistas.
Entretanto, recentemente, os líderes políticos e empresários de Dubai, um dos emirados do país que mais cresce no mundo, começaram a dar o braço a torcer, admitindo publicamente que o momento econômico é de desaceleração, adiando projetos e cancelando outros. Ilustrando esse cenário, centenas de pessoas perdem empregos diariamente, em geral estrangeiros, principalmente nas áreas bancária e imobiliária.
O mercado imobiliário em Dubai estava tão aquecido nos últimos anos, que a profissão de corretor de imóveis era mais atrativa do que a de advogado ou médico. Muitos fizeram fortuna com comissões fáceis e polpudas, aproveitando-se do momento intenso de especulação em imóveis, gentilmente chamada de "investimento imobiliário" no mercado local.
O mecanismo em que consiste a especulação em Dubai é muito simples. O investidor adquire um imóvel na planta e efetua um pagamento inicial de 10% a 15%, dependendo das condições oferecidas pelo empreendedor. Em seguida, coloca o imóvel à venda no mercado de revenda ou mercado secundário. O imóvel é revendido pelo preço original acrescido de um prêmio ("premium"), ou seja, o segundo comprador paga o valor original, o prêmio, taxa de transferência e comissão de venda. O prêmio é o lucro dos especuladores. As situações podem variar, podendo o primeiro comprador pagar mais parcelas antes de colocar o imóvel à venda. O prêmio não é um valor fixo, variando de acordo com as condições do mercado e valorização do móvel. Estima-se entre 10 ou 25%, ou até mais. Uma situação hipotética seria a de um investidor que adquire um imóvel no valor de US$ 1,000,000 e paga US$ 100,000 de entrada. Após um curto período, revende o imóvel, recebendo do comprador o valor já pago mais um prêmio de 20%, equivalente a US$ 200,000. Negócio da China ? Não, negócio de Dubai.
Esse tipo de especulação inflacionou o mercado imobiliário de Dubai nos últimos anos e beneficiou investidores, empreendedores e corretores de imóveis. As autoridades governamentais, a par de todo o processo, posicionou-se inerte e despreocupada. Vale lembrar que muitos grandes empreendedores imobiliários do país pertencem ao governo, parcial ou totalmente. Porém, obviamente o sistema acima já não funciona como antes.
O mercado imobiliário, atualmente paralisado, sofre as conseqüências da crise econômica mundial. Preços caíram e especuladores tentam vender seus imóveis na planta a qualquer preço. Muitos não têm fundos para continuar os pagamentos dos imóveis ou das hipotecas contraídas, infringindo contratos com empreendedores.




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ESTUDO DA ESALQ RECEBE PRÊMIO BOLSA FAMÍLIA
Artigos premiados participarão de missão de estudos internacional

Em cerimônia realizada em Brasília, em 25 de novembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, entregaram os prêmios de Gestão e de Estudos sobre o Bolsa Família. Entre os 37 artigos de autores brasileiros e estrangeiros inscritos, um estudo da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), conquistou a segunda classificação do “1º Prêmio Nacional de Estudos sobre o Bolsa Família”.

Ana Lúcia Kassouf, docente do departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) e pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da ESALQ, em parceria com o professor da Paul Glewwe, da Universidade de Minnesota, analisaram oito anos do censo escolar brasileiro - de 1998 a 2005 - com o objetivo de mensurar o impacto do Programa Bolsa Família no rendimento escolar de estudantes no País. A comparação foi feita entre escolas públicas de ensino fundamental com alunos recebendo o apoio do Bolsa Família e escolas sem alunos recebendo o benefício, em diferentes períodos.

Conforme estudo dos pesquisadores, o Programa aumentou as matrículas de 1ª a 4ª série em 17%, e de 5ª a 8ª série em 20%. As taxas de abandono diminuíram em 2% nas escolas de 1ª a 4ª série, e em 1,2% nas de 5ª a 8ª série. O Bolsa Família teria também aumentado as taxas de aprovação em cerca de 3% de 1ª a 4ª série, e em 1% de 5ª a 8ª série.

A primeira colocação ficou para o trabalho “Relaciones directas o mediadas? Participación ciudadana y control social en el programa Bolsa Família”, de Felipe J. Hevia, de Ciesas/México, enquanto que o estudo “Análise do impacto do Programa Bolsa Família na oferta de trabalho dos homens e mulheres”, de Clarissa Gondim Teixeira, da UFMG/Cedeplar, obteve a terceira classificação.

Com esses resultados, os pesquisadores premiados participarão de uma missão de estudos internacional com o propósito de conhecer uma das seguintes experiências de programas de transferência condicionada de renda. São eles o “Programa Oportunidades”, executado pelo governo do México; “Programa Chile Solidário”, executado pelo governo do Chile; ou “Programa Famílias em Ação”, executado pelo governo da Colômbia. Ana Lúcia Kassouf optou pelo Programa Chile Solidário e terá sua viagem custeada pelo Ministério do Desenvolvimento Social.

“O prêmio mostra o comprometimento do governo com a melhoria da gestão do Programa Bolsa Família que vem mostrando bons resultados na redução da pobreza e desigualdade de renda e, agora, na melhoria dos indicadores educacionais. Receber esse prêmio significa um reconhecimento da qualidade da pesquisa desenvolvida na ESALQ. Hoje, por meio desse estudo, tenho a oportunidade de ir ao Chile para conhecer de perto o Programa de Transferência Condicionada - Chile Solidário - o que é muito
importante, pois atualmente o Chile é um exemplo em gestão de programas sociais, tendo conseguido ganhos significativos na melhoria da qualidade de vida da sua população”, declara a pesquisadora.




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