sábado, fevereiro 16, 2013

ARNALDO MARCONDES MACHADO e SUZANA PAPPERT

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 09 de fevereiro de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: ARNALDO MARCONDES MACHADO e SUZANA PAPPERT





A Sears, Roebuck and Company é uma rede de lojas de departamentos americana sediada em Chicago, foi fundada por Richard Sears e Alvah Roebuck no final do século XIX. Possui lojas nos Estados Unidos, Canadá e México. A Sears também já possuiu lojas no Brasil até 1992. Por 25 anos Arnaldo Marcondes Machado foi funcionário da empresa no Brasil que tinha a denominação de Sears, Roebuck S.A Comércio e Indústria. Arnaldo galgou passo a passo até chegar ao importante cargo de Gerente Geral de Crédito. A sua história e a da empresa se entremeiam. Piracicaba foi pesquisada em determinado período para possuir uma loja da rede Sears, só que na época não se encaixava no perfil da rede de loja de departamentos. Arnaldo Marcondes Machado é paulistano, nascido a 17 de julho de 1920 na Vila Queiroga, Brás na Avenida Celso Garcia. Antonio Marcondes Machado e Isabel Araujo tiveram os filhos Iracema, Maria, Arnaldo, José, Reinaldo, Osvaldo, Lucila. Arnaldo é casado em segundas núpcias com Suzana Pappert nascida na Iugoslávia a 28 de janeiro de 1922, filha de Henrique Pappert e Bárbara Chaner que tiveram os filhos João, Suzana, Cristina, Eva, Sofia, Rudolf e José. Suzana veio para o Brasil trazida pelos seus pais quando ela tinha quatro anos de vida. Arnaldo e Suzana residem há treze anos no Lar dos Velhinhos de Piracicaba.


Os pais da senhora tinham quais atividades na Iugoslávia?


Meu avô tinha uma propriedade rural onde era cultivado trigo, uva, ali meus pais trabalhavam.


Como decidiram imigrar para o Brasil?


Naquela época dizia-se que o Brasil era muito bom, enriquecia-se em pouco tempo. Os que tinham pouco tempo de casados vinha para se aventurarem. Descemos do navio em Santos, fomos para a Hospedaria de Imigrantes em São Paulo. Nossa família permaneceu em São Paulo, entre outras obras meu pai trabalhou na construção da Catedral da Sé. Ele era serralheiro, fazia as armações de ferro para as coberturas da igreja. Trabalhei em várias fábricas de tecidos entre outras a Mário Filipelli.


 Como a senhora conheceu o Sr. Machado ?


Fui casada em primeiras núpcias, fiquei viúva, fui morar com a minha irmã Cristina que com seu marido tinha um estabelecimento comercial na Mooca, freqüentado pelo Machado. Quando o conheci eu tinha 38 anos e ele 40 anos, também já tinha sido casado. Sou do tempo em que havia bonde em São Paulo, moramos um período de tempo em Santo André, em seguida fomos morar em Santos onde também havia o bonde. Morávamos na Rua Manoel Vitorino, no Gonzaga pertinho da Avenida Ana Costa, isso foi por volta de 1962. O Arnaldo era sempre transferido, com isso conhecemos e moramos em várias cidades.


Qual era a atividade dos seus pais Sr. Machado?


Meu pai era viajante (vendedor viajante), minha mãe era do lar


Sr. Machado em que escola o senhor estudou o curso primário em São Paulo?


Foi no então denominado Grupo Escolar da Barra Funda. Estudei no Colégio Stafford. Esse colégio ficava na Alameda Cleveland, num casarão que havia sido residência de Santos Dumont. Estudei no SESC situado na Rua do Oratório onde fiz o curso de química de couro para fazer tintas para calçados. Naquela época era raro um garoto de 14 anos saber ler e escrever.. Eu trabalhava em uma loja de calçados onde vendiam retalhos de couro por quilo, a proprietária da Loja Italiana pesava e ficava esperando uma pessoa da loja de calçados para dizer quanto custava. Foi quando viram que eu sabia ler, escrever, dividir. Na fábrica de calçados eu ganhava quinze mil réis. Ofereceram-me cinqüenta mil réis, é lógico que eu fui trabalhar na Loja Italiana situada na Avenida Celso Garcia quase esquina com a Rua Bresser, ao lado de um cinema que já não existe mais. Lá fiquei uns dois anos trabalhando. A loja abria além dos dias de semana, também aos sábados e às vezes domingo pela manhã


Qual era o seu trabalho nessa loja?


Eu fazia de tudo, inclusive às vezes ia fazer entrega, ia de bonde, ônibus. Meus irmãos trabalhavam na fábrica de calçados Campana e Companhia, na Rua Marajó, eles não trabalhavam aos sábados após o almoço. Entrei no Campana onde trabalhei por uns oito anos. Comecei tirando a forma que vinha no sapato quando era produzido, limpava o sapato, lixava, realiza várias atividades. Como eu sabia ler e escrever muito bem, colocaram-me para fazer o controle do pessoal que saia para fumar fora da fábrica. Não podiam fumar dentro da fábrica pelo grande risco de combustão dos produtos: cola, couro. Fizeram uma espécie de gaiolinha onde eu passava o dia inteiro controlando o tempo de quem ia fumar, ia ao banheiro. Eu marcava saiu tal hora voltou tal hora.


Quantos funcionários trabalhavam nessa fábrica?


Mais ou menos uns trezentos funcionários. Fabricavam Tênis e Keds, naquele tempo calçado feito com tecido custava muito barato, cerca de um quarto do valor de um sapato de couro. Os Tênis e Keds daquela época eram muito mais simples do que os atuais. O modelista dessa empresa abriu uma fábrica e me chamou para tomar conta da mesma, dirigi-la. Ficava na Rua São Filipe, no Tatuapé. Eu tinha 25 anos, nessa época contrai o meu primeiro matrimonio. Permaneci nessa fábrica por dois anos, chamava-se Fábrica de Calçados Petiz. Fui convidado para trabalhar na fábrica de calçados Clark, uma empresa muito grande. Fui ser mestre de planchamento de sapatos. Após a produção do calçado ele saí todo “quebrado”, sujo, há um trabalho para colocá-lo na caixa, limpar, se for sapato de verniz pintá-lo todinho, de forma que atraisse a atenção do cliente. Naquela época a Clark tinha uns cento e cinqüenta a duzentos funcionários. Era um sapato famoso e de alto custo. A fábrica ficava na Rua da Mooca. Meu cunhado foi trabalhar na “Triunfal” situada na Rua Direita, centro de São Paulo. Era uma loja de mercadorias variadas, fui trabalhar lá. A Sears tinha uns auditores americanos realizando pesquisas nas lojas do centro de São Paulo. Entraram na Triunfal, questionaram-me sobre produtos e preços das mercadorias a venda. Respondi com firmeza e conhecimento. Fui convidado para trabalhar na Sears. A Sears ficava na Rua Treze de Maio, 1947, no Paraíso, próximo a Avenida Paulista. Era tão grande que atualmente funciona um shopping no local. Havia mais de 800 funcionários.




O senhor começou em que função?


Fui trabalhar no crediário. Mr. Roland que era o gerente não me deixou sair mais, me colocaram para obter informações sobre clientes na rua. Passei a ser chefe da sessão de cadastro. O cadastro de uma empresa as vezes levava trinta dias para obter um crédito consegui reduzir o prazo. De três a cinco dias estava concedendo o crédito, as informações eram aprovadas pelo gerente. Permaneci ali por dois anos. Ofereceram-me para ser chefe da cobrança. Fiz um estágio na rua, batendo de porta em porta, cobrando, um mês e pouco depois passei a ser gerente da seção de cobrança. Por seis anos consecutivos ganhei um prêmio de caráter internacional, como o melhor desempenho do grupo Sears na minha atividade de cobrança. Passei a ser assistente de gerente de crédito, a minha carreira foi passo a passo. Havia três categorias de loja Sears: A, B e C. Em Santo André abriu uma loja na categoria “B”. Eu já estava trabalhando em uma loja de classificação “A”. Fui ser gerente da loja em Santo André. Houve a transformação da documentação do crédito de manual para mecanizado. Fiz o curso para fazer a transferência de manual para a máquina. Até nos Estados Unidos estavam com dificuldades nessa migração de escrito para mecanizado. Fui para a loja de Santos, fiz a transferência, deu certo, bateu os balanços.


Em que local da cidade de Santas ficava a Sears?


Ficava no centro, na Rua Amador Bueno. Eu ia trabalhar com um Fusca 1959. Tive um fusca 1952, cujo vidro traseiro era dividido por um friso central. Permaneci em Santos por cinco anos. Inaugurei uma filial Sears em São Vicente, ninguém acreditava no sucesso, em dois meses a despesa de abertura retornou, um verdadeiro fenômeno, o normal era o retorno das despesas demorarem de quatro a cinco anos. Fui transferido para o Rio de Janeiro, onde tinha quatro lojas para tomar conta: Botafogo, Méier, Ramos e Niterói. Enquanto eu trabalhei na Sears ela tinha no Brasil 16 lojas. Em 1970 me aposentei. Depois disso fiz vários trabalhos para a Sears, mas esporádicos. Aqui mesmo em Piracicaba fiz uma pesquisa para a Sears, foi considerado um local com baixa perspectiva, a única loja que se destacava na cidade era a Porta Larga. Atualmente o cenário é outro. Trabalhei nos mais diversos estados, inclusive em Manaus, Sergipe, Alagoas, a Sears tinha nesses locais escritórios de representação. Viajava de avião, lembro-me do Super Convair 303, da Real Transportes Aéreos. Quando fui para Manaus não existia nem hotel, apenas pousadas do governo. A cama era coberta por um mosquiteiro, de manhã quando fui me levantar estava cheio de calango no mosquiteiro.


O senhor lembra-se quais eram os produtos que eram mais vendidos pela Sears?


Vendiam-se muitos colchões, móveis, tapetes importados, a linha branca era o forte, vendíamos televisão, na época em preto e branco. Rádio era um produto muito procurado.

O senhor praticava algum esporte?


Fui campeão paulista de ciclismo em 1938/1939. Tive uma bicicleta Turino, italiana, de oito marchas. Aos 35 anos concorri na Festa do Pedal, realizada no Anhangabaú, isso foi em 1954 ou 1955. Eu concorria pelo Ciclo Clube Teixeira, situado na Rua da Mooca. Cláudio Rossi, que mais tarde foi campeão internacional, iniciou seu treinamento comigo. Quando morava em Santos cheguei a jogar um pouco de vôlei. Cheguei a correr de motocicleta pelo Moto Clube Piratininga no Autódromo de Interlagos.


O senhor acompanhava os jogos do Juventus?


Logo que me casei morei em um prédio em frente ao Juventus, na Rua dos Trilhos, da janela eu assistia aos jogos.


O senhor gosta muito de ler?


Gostava, não leio mais nada. A vista já não ajuda muito e eu também perdi o entusiasmo pela leitura. Lia tudo que estava escrito no jornal, hoje pego o jornal, vejo o horóscopo e fecho.


Na capela do Lar dos Velhinhos em certa ocasião o senhor fez a leitura de um texto que emocionou muitas pessoas.


Devo ter criado na hora. Em reuniões dificilmente falo. Meu negócio não é falar é agir. Aprendi com os americanos algo que no Brasil infelizmente não existe. Quando entrevistaram um brasileiro perguntaram se ele gostava de comer arroz e feijão. Sua resposta foi: “Arroz e feijão, com um belo bifinho, uma saladinha talvez vá”. “Quando me fizeram a mesma pergunta eu respondi:” “- Claro que gosto, é a comida de toda brasileiro”. A resposta do americano é “sim” ou “não”. Observo que em muitas reuniões no Brasil, as pessoas são repetitivas. Para o americano isso não existe. Água é água. Vinho é vinho.


O senhor serviu o exército?


Fui dispensado. Dr. Silvestre Passi que consultava no Largo do Arouche, quando eu tinha uns oito anos, diagnosticou que eu tinha propensão para morrer aos dezoito anos, com um buraco na garganta em decorrência de uma doença chamada ozena (Doença do nariz, onde se formam crostas que exalam cheiro fétido, acompanhada de perda do olfato). Não morri até hoje!


Em 1932 houve a revolução constitucionalista, o senhor participou de algum ato?


Eu era escoteiro, fui de trem, junto com os militares até Itararé levar uma mensagem. Em 1932, a Associação de Escoteiros de São Paulo passou a chamar-se "Boy Scouts Paulista".


Foi fardado?


Fui em trajes civis. Lembro-me do enterro do General Marcondes Filho, parente do Yvens Marcondes. A solenidade foi no Pátio do Colégio. O cavalo dele estava sem ninguém montado, restava apenas a lembrança.


Durante a Segunda Guerra Mundial havia restrições para o uso do rádio por imigrantes italianos, japoneses e alemães. A Sears vendia rádio à essas pessoas?


Podiam comprar rádios. Não podiam adquirir imóveis. Clubes, associações e sociedades italianas, japonesas e alemãs tiveram que trocar seus nomes alusivos ao país de origem por nome tipicamente brasileiro. Onde é o campo da Portuguesa era um clube alemão, passou para o Estado, hoje é o estádio da Portuguesa.


O Rio Tamanduateí como era?


Era um rio fininho, mas já não era limpo. O Rio Tietê era sujo também, só que hoje está demais. Cheguei a nadar com Maria Lenk em 1937, na Vila Guilherme havia um trampolim.



O senhor é do tempo do Avenida Danças?


Eu era mocinho, freqüentava o Avenida Três, quando entrava recebia um cartão que era picotado. Após a gente dar uma parada, a dançarina pegava o cartão e dava para o funcionário picotar o correspondente aos minutos que tínhamos dançado. 10 minutos de danças ela mandava dar 10 picotadas. As músicas eram lindas.


Qual é a receita para chegar com essa disposição toda na idade em que estão?


Estamos juntos há 53 anos. Para ter disposição é tentar manter uma vida saudável, não comer alimentos prejudiciais, não beber em excesso, freqüentar parques, estar junto a natureza, levar uma vida regrada, sem excessos.


O senhor é usuário de computador?


Um pouquinho, comecei no Excel, Word.




 

segunda-feira, fevereiro 04, 2013

NELSON MONTEIRO SPADA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado, 02 de fevereiro de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: NELSON MONTEIRO SPADA



 

Nelson Monteiro Spada possui criatividade acima da média. Encara a vida sempre com otimismo, dinamismo, revertendo facilmente situações adversas. Isso lhe proporcionou o respeito de quem o conhece e o sucesso natural dos empreendedores que visualizam boas oportunidades aonde muitos vêem o fracasso. Em seu escritório, no meio de muitos papéis, sempre alguém o procura para “um dedo de prosa. O bate-papo é sempre interessante, rico em informações, desde o lançamento de um produto absolutamente inédito até filatelia, veículos, literatura, ou algum fato marcante na cidade. Conversar com Nelson é uma terapia. Em certa ocasião recebeu uma proposta de uma agência de publicidade de São Paulo onde seu trabalho seria apenas um: pensar, criar novas aplicações para produtos já existentes e novas formas de divulgação. Ele agradeceu e declinou da proposta, pois tinha suas atividades em andamento. Nelson Monteiro Spada criou uma empresa que hoje presta serviço à grande parte da população piracicabana: o Teleresponde. É a tábua de salvação de muitas pessoas e empresas quando necessitam saber um número de telefone desconhecido, qual empresa presta determinado serviço ou comercializa um produto ou serviço específico. Foi uma iniciativa que no seu início, há décadas, alguns não viam utilidade e hoje é objeto de desejo de grandes instituições. A Spada Máquinas é outra empresa que é fruto da determinação de Nelson, incansável na busca de novas ferramentas e aplicações. Nelson Monteiro Spada nasceu a 14 de abril de 1950, filho de José Daniel Spada e Lydia Monteiro Spada, que além do primogênito Nelson tiveram os filhos: Roberto, Osvaldo, Durval, Agenor, Olga, Maria Elvira, Maria Cecília e Ana Lúcia. Nelson Monteiro Spada é casado com a professora Lúcia Aparecida André Monteiro, são pais de duas filhas. Entre outros cursos é Formado em Administração de Empresas pela ECA.


Em que localidade o senhor nasceu?


Nasci no Bairrinho, um bairro rural situado depois de Saltinho. Meu avô Zebedeu Spada veio da Itália, região de Trento, com 14 anos. Desceu no Porto de Santos, não passou pela Casa do Imigrante, fiz uma pesquisa onde não consta sua passagem por aquele local. Conservo comigo a carteira modelo 19 dele (carteira de identidade permanente de estrangeiro). De São Paulo ele veio para uma localidade denominada “35” próxima ao Bairrinho. Lá ele conheceu a minha avó, sua esposa, Itália Zandoná Spada. Após se casarem foram morar no Bairrinho, onde meu avô Zebedeu passou a produzir fumo, foi o início de um período onde o fumo do Bairrinho tornou-se muito procurado pelas suas qualidades. Ainda menino “virei cambito”, expressão usada para quem faz a corda de fumo. Conheço todos os detalhes da plantação de fumo que fazíamos no Bairrinho, assim como os métodos utilizados no Rio Grande do Sul na plantação e produção de fumo. Minhas tias casaram-se com produtores de fumo da região, como o Caetano, Bairro Peruca, Fazenda Velha, Inferninho.


Porque o bairro tinha o nome de Inferninho?


Inclusive o meu pai nasceu no Bairro Inferninho, mês avós logo que se casaram por um período moraram no Inferninho, depois se mudaram para o Bairrinho. Até hoje a denominação do bairro é a mesma. O roteiro é: Saltinho, Formigueiro, Peruca, desce em direção ao Caetano e sai no Inferninho depois vem o Marques. A denominação de Inferninho é pela topografia, bambus entrelaçados sobre a estrada, formando um túnel natural, capoeiras, casas de barro antigas.


Os primeiros estudos foram onde?


Fiz o curso primário na Escola Capitão Antonio Correa Barbosa, situada no Bairrinho. Minha primeira professora foi Dona Rosa Zinsly; tinha mais quatro professoras, o diretor era Leo Litta, ele morava na Rua Governador Pedro de Toledo em Piracicaba. Em 1962, aos 12 anos, terminei o quarto ano primário. Meu avô Zebedeu tinha mudado para Piracicaba, na Rua Carlos Zanotta, 1003. Meu pai tinha uma produção de calcário na Rua Vinte e Três de Maio, ao lado do Posto São Luiz que se situava na Avenida São Paulo. Eu vinha de caminhão até o Posto São Luiz, o pessoal trazia pedra para moer, enquanto o caminhão era descarregado ia até a casa do meu avô, visitava-o e depois retornava com o mesmo caminhão.


Após concluir o curso primário em que escola o senhor foi estudar?


Passei a residir com os meus avós e fui estudar na Escola Modelo, localizada na Rua Boa Morte esquina com a Rua Rangel Pestana, mais tarde demolida e dando lugar ao Edifício Miori. Nessa escola era ensinada a escrita fiscal e datilografia. Após dois anos saí como prático em escrita fiscal e prático em datilografia.


O senhor é um bom datilógrafo?


Fui. A escola tinha máquinas de escrever Remington, na época era utilizada uma tábua, uma espécie de caixa, que não permitia ver o teclado, tinha que memorizar a posição de cada letra e com as mãos sob a tábua, datilografar. Após concluir meus estudos nessa escola, fiz um curso preparatório na Escola Dom Bosco, meus pais já tinham vindo morar em Piracicaba, na Rua Riachuelo, 2004. Fui estudar o curso básico na Escola Técnica Cristóvão Colombo, a Escola do Zanin, situada na Praça José Bonifácio. Meu primeiro emprego foi em uma fábrica de elástico de propriedade do Borghesi, pai do prefeito Borghesi, na época estudante de agronomia. A fábrica situava-se na Rua Saldanha Marinho esquina coma a Avenida Independência, em cada tear o elástico era trançado com fios que saiam de oito carretéis, havia diversos teares, meninos e meninas trabalhavam nos teares, eu controlava o pessoal, isso foi em 1963. Meu emprego seguinte foi em um escritório na Rua XV de Novembro onde permaneci por pouco tempo. Em seguida fui trabalhar na Organização Cruzeiro do Sul localizada a Rua Moraes Barros, 802, telefone 22-5660 de propriedade de Guido Maria Camuzzo e o gerente era meu tio, irmão da minha mãe, Lázaro Antonio Monteiro. Em 1965 ou 1966 fui para a Fundição Técnica Nacional de Venezio Serra Zanetti, que até hoje é vivo. Lá se fundia carcaças para motores GE, Electrolux, e outras grandes empresas. Muitos proprietários de empresas ligadas ao setor metalúrgico trabalharam lá como funcionários. Na época havia 63 funcionários, eu sabia o nome e número do registro de cada um, eu fazia a parte de escritório, departamento de pessoal. A fundição tinha Issa Salles como responsável, ele era um dos sócios e administrava a produção. Dercy Rossetto era o engenheiro químico da empresa. Francisco Tavares era o contador. Em 1968 fui para a Sobar- Sociedade Bandeirante de Reflorestamento, que depois passou a ser Sobar Reflorestamento, ela fazia projetos de incentivos fiscais para reflorestamento. Em 1967 era descontado até cinqüenta por cento do imposto de renda para aplicar em reflorestamento. Em Piracicaba havia a Sobar e a Seta de propriedade de João Hermann Neto.


Como funcionava esse incentivo fiscal?


Havia diversas modalidades sendo que duas eram as mais utilizadas. Através do investimento próprio, que era a terra, plantava-se o Pinus elliottii ou eucalipto em cima, o que era gasto com plantio, custeio, era deduzido do imposto de renda. Se uma empresa fosse pagar 100 reais com imposto de renda, gastava 50 com o plantio do Pinus e só pagava 50 de imposto de renda. Ou seja, a terra e a madeira pertenciam aos investidores, o Pinus para ficar pronto para corte leva 22 anos. Nesse meio tempo era feito o ralhamento, que é o corte dos galhos para serem comercializados para fazer aglomerados de madeira, carvão. Em um hectare de terras plantava-se 2.000 pés de Pinus. Entrei nessa empresa em 1968 e saí em 1979. A área de plantio ficava em Guarei, eram 5.000 alqueires de área plantada. Em Agudos foi feito um reflorestamento com abacate, uma empresa francesa que produzia óleo de abacate para uso em cosméticos projetou uma indústria para produzir o óleo no Brasil. Só que após termos plantado os pés de abacate a matriz francesa deve ter passado por alguma reestruturação e desistiu de montar a indústria no Brasil. Em 1973 eu já tinha a intenção de mudar minhas atividades, me associei a um primo, José Antonio Monteiro com o Depósito de Materiais de Construção Santa Rita, situado na Avenida Piracicamirim; 2.562. Em 1979 vendi a minha parte no depósito de material de construção e montei uma fábrica de rações para pássaros a Cisne, fabricava vitamina para pássaros, rações específicas para cada tipo de pássaro, embalava sementes de diversos tipos como girassol, colza, níger. Gosto das cores das aves, mas não tenho nenhuma gaiola, a fábrica era nos altos da Rua Moraes Barros, havia bastante procura de produtos. Um banco espanhol instalou-se no Brasil, ele dominava na Espanha a área de rações para pássaros, quis fazer o mesmo no Brasil, foi comprando todas as pequenas fábricas, inclusive a minha. Na época eu tinha ao mesmo tempo um depósito de ferro velho, no Jardim das Flores, na Avenida Raposo Tavares.


Qual foi sua próxima iniciativa comercial?


O Luis Chorilli tinha uma empresa na Rua XV de Novembro com Silva Jardim, acabei me associando a ele na venda de abrasivos e outros produtos. a NM Abrasivos, N de Nelson e M de Marcos, filho de Luiz Chorilli. Permaneci nessa empresa de 1980 a 1982. Montei minha oficina própria voltada para abrasivos e manutenção de ferramentas, isso em 1982 a 1983. e onde estou até hoje. .No inicio ela funcionava na Rua Lauro Alves Catulé, próxima a Avenida Alberto Vollet Sachs, mudei para a Rua D. Pedro I, transferi para a Rua Manoel Ferraz de Arruda Campos, fui pata a Rua Treze de Maio, mudei para a Rua Voluntários esquina com a Rua Silva Jardim e finalmente vim para a Praça da Bandeira.


Como surgiu o Teleresponde?


Era uma época em que a inflação era grande, comprava-se uma máquina por 10 vendia por 13, para repor no estoque pagava-se 14. A oficina com a mão de obra é que mantinha o negócio. Fazendo cursos percebi que na mão de obra poderia ganhar dinheiro. Em 1987 comecei a estudar o que veio a ser o Teleresponde.


Como surgiu essa idéia?


Senti que a informática era o futuro, em 1978 eu já tinha feito um curso de informática, tempo do cartão ´perfurado, como foi o início da Loteria Esportiva. Fiz o curso no Piracicabano, o professor vinha de São Paulo para lecionar BASIC , COBOL Eu estava estudando a melhor forma de aproveitar o uso do computador, uma noite vendo o programa Fantástico apareceu Honório Cardoso, de Pato Branco, Paraná. Na época Pato Branco deveria ter no máximo 3.000 telefones, Honório tinha parte do corpo paralisado, era cego, tinha desenvolvido melhor a memória, uma senhora lia a lista telefônica para ele que a memorizava. As pessoas ligavam para ele perguntando qual era o número do telefone de determinada empresa, ele falava. Pensei: “Se ele faz isso com a cabeça eu posso fazer com o computador onde posso armazenar a quantidade de informações que quiser. A parte comercial eu tive que desenvolver. Achei um serviço dessa natureza na França, Em São Paulo tinha algo parecido, mas de forma pontual e precário. Hoje tenho empresas conveniadas que tem a preferência da informação. O primeiro equipamento foi um Itautec 286, cinza, adquiri em 24 parcelas, foi onde iniciei a digitação. Todo negócio tem seus detalhes, devem ser estudados oferecendo vantagens ao consumidor.


Existem serviços semelhantes em outras cidades?


Muitos. Fui o pioneiro. Nós informamos o telefone pelo nome fantasia. Atualmente recebemos 30.000 ligações por dia através do telefone que funciona todos os dias das sete horas da manhã até as 23 horas, No site são 120.000 acessos por mês. Dia 2 de abril iremos fazer 22 anos de atendimento. Em Piracicaba de segunda a sexta feira muda-se os números de 15 telefones comerciais por dia.


Qual é a relação da sua família com a Vila Monteiro?


Meu avô Antonio Monteiro veio de Portugal, casou-se com Elvira Belinatti Monteiro, foram morar na Lapa, em Rio das Pedras onde montou um engenho de pinga. Vizinho ao engenho de pinga morava o irmão da minha avó, da família Zandoná. Meu pai ia passear lá, acabou conhecendo a minha mãe e casaram. Meu avô vendeu o engenho de pinga e veio para Piracicaba, comprou uma chácara que ia das atuais ruas XV de Novembro até D. Pedro II na altura da Rua Silva Jardim, era uma área equivalente a três quadras. Ele vendeu em partes essa área e adquiriu uma área que ficava entre a Avenida Piracicamirim, Coriolano Ferraz do Amaral, João Bottene englobava uma área de quatro a cinco quadras. Lá ele cultivava vaca de leite, banana, e outros produtos. Após um determinado tempo ele loteou essa área que automaticamente passou a se chamar Vila Monteiro. Há uma placa na Avenida Piracicamirim esquina com a Rua Coriolano Ferraz do Amaral em homenagem ao meu avô. Ele construiu diversas casas onde até hoje residem muitos membros da família Monteiro, inclusive o Professor Moacir Nazareno Monteiro, filho de Pedro Monteiro, irmão da minha mãe e meu primo, reside na Vila Monteiro.


A família Monteiro é composta por muitos familiares?


É grande, só que existe vários ramos. Há Monteiros e Monteros. A origem do Monteiro português vem do hábito do rei de Portugal de caçar raposas. Para que isso acontecesse havia cavaleiros que preparavam a raposa a fim do rei atirar. Eles achavam a raposa, com o auxilio de cavalos, cães e conduziam-na em direção ao rei. Esses cavaleiros moravam em uma colônia, quando o rei chegava a sua casa de campo dizia: “Avise os monteiros que amanhã cedo iremos caçar raposas. Todos que nasceram naquela colônia passaram a ter o sobrenome Monteiro.


Qual foi o próximo passo do seu avô após lotear a área?


Vendeu lotes, construiu casas que passou a alugar e construiu uma boa casa onde até hoje reside um dos meus tios.


Sua paixão por filatelia começou quando?


Quando eu fazia o curso primário, no sítio, colecionava figurinhas de jogador de futebol, marcas de cigarros. Aos 15 anos comecei a colecionar selos, aquele papelzinho me chamava a atenção. As cartas que chegavam a empresa geralmente eram abertas por mim, com isso acabava aproveitando o selo que iria para o lixo. Descolava o selo com água ou vapor. Na época a moda era tirar o selo da carta. Hoje tem mais valor o selo na carta. Tenho alguma coisa de moeda. Na verdade gosto mais da literatura sobre filatelia e numismática do que o objeto em si. Coleciono cartão telefônico, devo ter uns 20.000 cartões telefônicos. Fichas telefônicas eu tenho de todos os estados brasileiro. Aparentemente são iguais, a partir do momento em que se aprofunda a análise descobre-se variações muito grandes, tudo em função do peso de cada ficha. O Clube Filatélico e Numismático de Piracicaba foi fundado em 15 de outubro de 1963. Sou filatelista há 50 anos. Existe a FEFIESP Federação Filatelica do Estado de São Paulo, a FEBRAFI Federação Brasileira de Filatelia, a FIP Federação Internacional de Filatelia. Existe uma sociedade americana de filatelia a qual é associada a FEFIBRA. Através da filatelia adquire-se conhecimentos em todas as áreas. O selo não é feito ao acaso, é feito com um propósito e muitas vezes demoram de oito a dez anos para ser lançado.


Quem pode ser o tema de um selo?


No Brasil pessoas vivas não podem ser homenageadas em selo, com exceção do presidente da república após ter deixado a presidência. Apena um ou dois ex-presidentes do Brasil não foram homenageados com sua imagem impressa em selo. Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula após seu primeiro mandato todos tiveram selos em sua homenagem, Existe uma coleção de selos só de presidentes do Brasil. O Pelé tem selo em sua homenagem, só que ele está de costas, porque não pode sair de frente pessoas vivas. Cielo tem selo, só que estilizado. Os selos são fabricados na Casa da Moeda, com papel moeda.


Há falsificação de selos postais?


Em Belo Horizonte ocorreu falsificação de selos. Para o colecionador após uma época ele passa a ser valorizado. Assim como moeda com defeito, desde que seja “flor de estampa”, ou seja, ela não tenha sido usada ou gasta. No Brasil um dos selos mais valiosos é o “Olho de Boi”. Existe um selo das Guianas, é um único exemplar, é de valor único. O penny black foi o primeiro selo postal do mundo feito pela Inglaterra em 1840. O Olho de Boi foi lançado pelo Brasil em 1 de agosto de 1843, é o segundo selo que circulou no mundo. Existe um segundo selo, que circulou em apenas em uma região da Suiça. O Brasil lançou o terceiro selo, mas de circulação mundial foi o segundo.


Piracicaba sediou exposições filatélicas?


Foram feitas diversas exposições, a primeira exposição do Brasil, de um quadro só, foi feita no Teatro Losso Neto. Para se fazer uma coleção e participar de uma exposição patrocinada por federações, tanto do estado, do Brasil como do mundo, tem um ranking, e existem as normas, uma dessas normas é ter cinco quadros que são 80 folhas A-4 de selos. Em cada quadro são 16 folhas A-4. Surgiu uma nova norma: um quadro, com um tema e apenas 16 folhas A-4. A primeira exposição do Brasil, de um quadro, foi feita em Piracicaba.


Atualmente os jovens têm interesse por selos?


Há uma sequência normal, até os 12 anos o jovem admira selos, isso o ajuda muito na escola. Depois que ele passa por essa fase, abandona um pouco os selos. Já adulto, com sua educação completa, ele volta a ter um pouco de interesse pelos selos. Aos quarenta anos retorna seu interesse pelos selos.


Para o colecionador selo é uma espécie de cachaça?


Torna-se um hábito.


Existe um mito de que colecionar selos pode significar no futuro uma grande importância financeira acumulada com as estampas.


Conheço pessoas que guardaram 200 selos do Pelé. Não tem nenhum valor financeiro. Alguns compravam folhas de selos. Pode até ter um valor um pouco maior fora do Brasil, só que ele terá o custo de ir até outro país. No Brasil temos colecionadores qe se dedicam a selos de um determinado país, os temáticos, esses selos podem ser um pouco mais valorizados por causa da sua antiguidade. Angelo de Lima é um dos grandes colecionadores do Brasil, tinha a maior coleção de selos do Império Português, ele a vendeu. Quantos anos foram necessários para realizar essa coleção, os custos, se somar isso tudo o valor de venda pode não ser tão compesatório. O que ele de fato acumulou foi conhecimento.


Quantos membros tem O Clube Filatélico e Numismático de Piracicaba?


Uns cento e oitenta colecionadores. Sem o clube filatêlico não é possível realizar uma exposição, uma coleção dever passar por uma exposição municipal, regional, estadual para fazer isso tem que ser sócio de um clube filatélico que é associado a uma federação estadual de filatelia. Depois pode participar de uma exposição nacional através da FEBRAFI Federação Brasileira de Filatelia. Para expor fora do estado de origem tem que ser filiado a FEBRAFI, se for expor fora do Brasil tem que se filiar a FIP Federação Internacional de Filatelia.


Qual é a origem da família Spada?


Grécia. Eu pensava que era Itália, pesquisando descobri que na Ilha de Creta fabricava-se espadas. Pela internet é possível verificar em Creta o grande número de estabelecimentos comerciais com a denominação Spada.


Isso significa que o senhor é também descendente de gregos?


Mediante a análise exposta, acredito que sim. Com as invasões muitos gregos imigraram para a Itália. É um país onde o sobrenome Spada é tão comum como Silva no Brasil.


O senhor tem uma incursão na área de fabricação de veículos?


Já fabriquei três réplicas do Porsche Spyder 350.


Como surgiu a sua disponibilização de livros na internet?


Eu gosto de histórias de cidades, coleciono livros de histórias de cidades, devo ter uns 450 volumes, alguns autores só fizeram um livro. Geralmente tenho mais de um exemplar do mesmo livro, como forma de manter viva essas histórias coloco a disposição pela internet, em um site, onde comercializo o exemplar excedente.


O senhor criou um site também?


É o site do Teleresponde, onde tem as buscas e uma página de matérias que recebe cinqüenta por cento das visitas ao site. Esse site existe há quase 10 anos, há treze colaboradores com matérias diversas.


Um dos seus grandes incentivos é para o chamado Troféu Caipira?


É o Troféu dos Melhores do Ano na Imprensa e no Esporte coordenado pelo Dinival Tibério. Nossa empresa faz as pesquisas pela internet, os certificados, trabalhos de divulgação, já estamos no décimo sétimo ano.


Com tantas atividades nas mais diversas áreas, como o senhor vê seu empreendedorismo?


Às vezes penso que não sou eu que estou fazendo isso, deve ter alguma força maior ajudando. Estamos trabalhando em um processo para conseguir fazer o selo de 100 anos do XV de Novembro.


Nelson, o senhor é considerado um bom profissional de marketing?


Marketing e criatividade; Já fui convidado por uma empresa de marketing de São Paulo para trabalhar lá. Era para não fazer nada. Só pensar. Isso a uns cinco ou seis anos.


Curitiba tem a celebre “Boca Maldita” na Rua das Flores, Piracicaba tem uma representação congênere?


Na Praça da Catedral esquina com a Rua Moraes Barros, embaixo da marquise do Banco do Brasil há uma série de bancos onde se sentam alguns amigos. Passam ali, por dia 80 ou mais pessoas conhecidas. Isso de manhã até a meia noite, uma hora da madrugada. Uns param ali 10 a 15 minutos, outros permanecem por mais tempo. São pessoas diferentes em horários distintos. Durante o dia é comum encontrar o Carlão Energia, o Arthêmio de Lello, a noite dificilmente eles se encontram lá. A cada horário há pessoas diferentes, de todos os cantos da cidade. Ali todos se informam de fatos acontecidos nas mais diversas partes da cidade. Às vezes alguém quer uma informação, os que estão lá não sabem responder, mas dizem que logo o fulano irá chegar e poderá dar a informação correta. È um encontro natural de pessoas que se conhecem e onde se sabe das notícias e fatos que ocorrem na cidade e nem sempre são divulgados pela mídia. Os que freqüentam aquele local à noite colocaram informalmente a denominação de “Turma do Sereno”, reunir-se ali é uma tradição há dezenas de anos.







domingo, janeiro 27, 2013

NATÁLIA RIBEIRO HILÁRIO BROZULATTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 19 de janeiro de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADA: NATÁLIA RIBEIRO HILÁRIO BROZULATTO

A jovem de aparência simpática, um tipo físico delicado, pode induzir quem a vê a cometer o engano de que se trata de uma moça frágil e até mesmo indefesa. Natália é praticante de artes marciais, integrante da seleção que representa o Brasil no caratê. Já viajou para muitos países, realizou grandes conquistas. Determinada, forjou sua carreira de atleta vencendo inúmeros obstáculos. Natalia nasceu em Marília a 28 de janeiro de 1990, reside em Piracicaba há oito anos. Filha de Sonia Ribeiro e Diogo Antonio Hilário Brozulatto. Ainda recém nascida foi morar com a família em Limeira, mais tarde mudaram-se para Iracemapolis. Assim que terminou o colegial mudou-se para Piracicaba onde se formou em Educação Física na UNIMEP. Natália tem uma irmã mais velha do que ela, chamada Giuliana e um irmão mais novo chamado Germano. Todos iniciaram a prática de artes marciais, caratê, capoeira, sendo que apenas Natália seguiu a carreira como profissional.


Quem influenciou você e seus irmãos para a prática de esportes?


Nós três assistíamos filmes de lutas, depois brincávamos simulando as lutas assistidas. Em Limeira passamos a freqüentar o Clube Grã São João onde tivemos a oportunidade de treinarmos.


Qual é a sua sensação quando está praticando uma luta?


Além de ser uma atividade física que traz muitos benefícios para o corpo, para a saúde, atingi um estágio onde penso muito em rendimento, quero melhorar cada dia mais, os detalhes para mim são fundamentais. Pelo tempo que estou praticando caratê, a prática do mesmo não é uma novidade para mim. Desde os cinco anos de idade pratiquei algum esporte: caratê, vôlei, futebol. É gratificante saber que ainda menininha procurava galgar alguma vitória e hoje estou na Seleção Brasileira, viajando para vários países, conhecendo povos e costumes diferentes, vivendo do caratê. É uma realização pessoal.

Com quantos anos você passou a defender o Brasil através da Seleção Brasileira?


Ingressei na Seleção Brasileira aos 16 anos, onde estive nas categorias juvenil, sub-21, juniores. Hoje integro a seleção adulta principal. Sou tri-campeã brasileira na categoria adulto, nas categorias menores tenho muitos títulos. No total sou oito vezes campeã brasileira, sendo três vezes consecutivas campeã na categoria principal. Hoje, janeiro de 2003, tenho 22 anos de idade, acumulo um grande número de títulos para a minha idade.


Você tem patrocínio?


Tenho alguns colaboradores. Formei-me na UNIMEP com bolsa de estudo, patrocinada pela universidade. Quem me apóia muito é o Sindicato dos Metalúrgicos, o Grupo Labmat , a Tatu Suplementos, o English Center que ajuda com uma bolsa estudos, eu estudo inglês, o Açai Mil & Ross .


Quantas atletas defendem a sua categoria?


Duas: a Lucélia Ribeiro e eu, sendo que a Lucélia está se aposentando este ano, ela está com 34 anos, reside em Santa Catarina.


A carreira é curta?


A vida de atleta é curta. O atleta tem que estar muito bem preparado, cuidar sempre das lesões para não se agravar. Às vezes ocorre algo que impede o atleta de continuar a treinar por algum tempo. No retorno pode acontecer do treinamento não ser tão bom. Algumas pessoas são privilegiadas, não tem nenhuma lesão. Muitas vezes pelo fato de treinar intensamente pode aparecer alguma lesão. No ano passado quebrei o nariz por duas vezes. Tive uma costela quebrada, torção de tornozelo é bastante comum. É feito um trabalho de fortalecimento, prevenção de lesão, só que não se escapa, é um esporte de luta.


A noção popular é que o praticante de caratê realiza atos espantosos, como quebrar pilhas de tijolos.


Isso faz parte do caratê budô, o caratê competitivo muda muito: são socos retos, chutes diretos, sem muito intervalo, sem ser cruzado. O caratê é muito rápido. O objetivo é atingir com um critério de pontuação, de forma mais rápida o oponente. Não pode atingir-se o joelho, região da coxa, panturrilha. Pode ser atingida as costas, abdômen, peito, pescoço, rosto.


Há algum tipo de proteção?


Há o protetor de boca, mulheres usam o protetor de seios, protetor de tórax, caneleira, proteção no pé, luvas.


Você leciona caratê?


Conclui o bacharelado em educação física em 2011, em 2012, com uma bolsa de estudo, conclui a licenciatura. Sou faixa preta de caratê, que me habilita também a dar aulas.


Em alguma ocasião você precisou usar suas habilidades para se defender?


Graças a Deus nunca. Ao treinar uma arte marcial, passa-se a ter mais controle, mais paciência com coisas que anteriormente não se tolerava tanto. Quando não se treina, não se pratica algum tipo de arte marcial, você torna-se mais sensível a provocações. Hoje me sinto bem preparada com relação a isso, há um sentimento de superioridade, onde a busca do dialogo é o melhor caminho.


Quem poderia provocar algum tipo de desavença ou ameaça física sente que a sua autoconfiança tem motivos muito fortes?


Com certeza sente. Percebem que sou uma pessoa diferente.


Você tem namorado?


Meu namorado é o meu técnico, é o Diego Spigolon, proprietário de uma academia. Meu “up” no caratê foi treinando com ele, estando junto a ele.


Como ocorreu a sua primeira convocação para a seleção brasileira?


Eu era bem novinha. Primeiro tem que disputar o campeonato brasileiro, ter um bom desempenho, eu tinha 16 anos quando fui campeã do campeonato brasileiro. No caratê existem várias federações, eu disputava em uma que não era oficial, passei a disputar a oficial. Comecei a disputar com 14 anos, aos 16 tornei-me campeã pela Confederação Brasileira de Caratê. No ano seguinte participei de uma seletiva, fui para a final, comecei a treinar com a seleção brasileira juvenil, hoje mudou a nomenclatura. Fui bem, fiquei vice-campeã sul-americana. No pan-americano fui a quarta colocada.


Quais países você se lembra de ter ido para disputar títulos?


Fui para a Itália em 2006, em 2007 fui para o campeonato em Lima, Peru. Nesse mesmo ano fui para o campeonato pan-americano realizado no Equador. Em 2009 fui para El Salvador, no pan-americano, disputando a categoria sub-21. Fui ao sul americano realizado na Colômbia. Em 2012 participei dos jogos pan-americanos da categoria adulto também realizado em Medellín, Colômbia. Em 2011 comecei a ir para o “Open de Las Vegas”, um campeonato preparatório para as competições, nesse mesmo ano participei do campeonato sul americano realizado em Assunção, no Paraguai, onde tive três colocações muito boas: campeã por equipe, vice-campeã na categoria open e terceiro lugar na categoria até 68 quilos.


Qual é o seu peso?


Peso 60 quilos, tenho 1,64 metros de altura. Minha categoria na seleção brasileira é a de 61 a 68 quilos. Às vezes estou abaixo dessa categoria, estou sempre ingerindo água.


E as olimpíadas?


Caratê não é olímpico, está tentando galgar esse espaço faz muito tempo. Vamos ver se em 2016 o caratê entra como experimental nas olimpíadas do Rio de Janeiro. O Brasil pode colocar um esporte, esperamos que seja o caratê. S e isso acontecer o caratê torna-se olímpico.





Quantas horas você treina por dia?


De três a cinco horas, inclusive aos sábados.




No Brasil, atletas de todas as áreas afirmam que falta incentivo para a pratica de esportes, você concorda?


É verdade. Além dos apoios que recebo, preciso participar de muitas competições, em cada competição as despesas são elevadas. Mesmo fazendo parte da Seleção Brasileira a maioria dos campeonatos não são pagos. Eu não ganho nenhum centavo da seleção brasileira. Hoje sou contratada por uma cidade de Santa Catarina, eles me pagam uma mensalidade.


Você mora em Piracicaba, e recebe incentivo de uma cidade de Santa Catarina?


Eu disputo por Itajaí, Santa Catarina porque tenho um contrato. Espero que este ano possa defender Piracicaba com garras e dentes. Aos 18 anos comecei disputando por Piracicaba, houve algumas mudanças, chegaram a me chamar, só que por um valor muito pequeno, eu não tinha como aceitar. Em 2008, 2009 e 2010 disputei por Piracicaba. Em 2011 mudaram as condições. Fui chamada por outra cidade contratada por um valor de quatro a cinco vezes maiores do que Piracicaba oferecia. Atletas de fora da nossa cidade recebiam valores acima do que me foi oferecido, para representar Piracicaba. Fiquei por dois anos disputando por Pindamonhangaba. Este ano, 2013, está indo tudo bem para que eu volte a disputar por Piracicaba. Estou feliz da vida, não é a mesma coisa disputar um título por outra cidade que não seja a sua. Como atleta profissional de esportes eu procuro agir a altura.


O caratê é uma opção para os jovens com tempo ocioso?


Não só o caratê como todo esporte. Acredito que têm que haver projetos de iniciação esportiva, núcleos esportivos, é um meio onde a criança vê a oportunidade de se superar, de autoconhecimento, disciplina. Fui uma menina que sempre tive dificuldade financeira, o esporte é que me deu uma estrutura para estabelecer minhas metas. Há muitos casos em que a estrutura familiar é falha, se não houver uma compensação o jovem entra em área de risco. Eu estava cercada de oportunidades para desenvolver um comportamento autodestrutivo. O esporte pode interferir na formação do caráter de uma pessoa. O professor tem que ser muito responsável, ele que conduz, deve tomar cuidado com as palavras.


Você é um ícone do esporte nacional?


Sou. Muitas pessoas me conhecem e eu não as conheço. Sou considerada um ícone do esporte. Sou muito conhecida, embora não seja famosa. O caratê tem que crescer muito.


Em nosso país certas profissões têm grandes dificuldades de reconhecimento, inclusive financeiro, você acredita que no futuro isso pode mudar?


Pode melhorar como já melhorou para mim. Antes eu trabalhava para poder pagar o meu treino, era garçonete aos finais de semana em Iracemápolis. Aos 12 anos. em 2002, comecei a trabalhar., só para pagar os meus treinos.


Você sabia que pelo Estatuto da Criança e Adolescente com essa idade é proibido trabalhar?


Sabia. Mas acredito que só cresci como pessoa. Passei a dar valor a tudo, ao dinheiro que ganhava que gastava. Eu era diferente de uma criança de 12 anos, era madura.


Você é vaidosa?


Sou. Apesar de praticar um esporte que envolve luta, freqüento salão de beleza, faço uma progressiva no cabelo, pinto as unhas. Só que em uma luta isso tudo passa para um segundo plano, tenho que ter um rendimento máximo, se for caso refaço unha e cabelo depois de ganhar a disputa.


Qual seu maior sonho?


Que o caratê se torne olímpico e que eu possa participar de uma olimpíada.


Você já foi convidada para protagonizar anúncios?


Já, realizei um trabalho para a loja “Aparência”


Sua estatura não é avantajada, já ocorreu de lutar contra uma adversária com estatura muito superior?


Na categoria “open” posso disputar com uma menina de 50 quilos até 80 quilos. Em Las Vegas lutei com uma menina da Alemanha, muito grande, que quebrou o meu nariz. Eu estava ganhando de 4 a 0. Após ela atingir e quebrar meu nariz, provocar muito sangramento, ela conseguiu virar o resultado. No ano passado fiz muitas lutas bonitas, ganhei o título para o Brasil que ficou campeão geral do Sul Americano com a medalha que eu trouxe.


O caratê ajuda no caso de crianças hiperativas?


Ajuda muito. A criança vem até a academia, gasta o excesso de energia, vai para casa deita e dorme. O número de mulheres está crescendo muito em todas as modalidades de lutas. Seja por redução de peso, autodefesa. O caratê vem de uma filosofia, não envolve apenas lutas.


Diego Spigolon, proprietário da academia onde Natália treina e trabalha, fez um depoimento bastante animador sobre o futuro do caratê em Piracicaba.


Para 2013 apresentamos um projeto que teve bastante receptividade por parte do Dr. Pedro Mello, esta quase acertada a nossa retomada do controle da equipe piracicabana de caratê. Tivemos o apoio de todos os professores de Piracicaba. Quero destacar a participação do professor Gilson Felipe da Associação dos Funcionários Públicos de Piracicaba e do professor Silvio Giatti. Há uma possibilidade muito grande de assumirmos e trazer a Natália de volta a casa para representar nossa cidade de uma forma muito prazerosa.










DINIVAL TIBÉRIO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de janeiro de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: DINIVAL TIBÉRIO

 
Dinival Tibério nasceu em Piracicaba a 27 de abril de 1942, filho de Paulo Tibério e Angela Cocco Tibério que tiveram os filhos Anaide, Dinival, Laerte, Marlene, Humberto e Paulo, o Paoléo fotógrafo do Jornal de Piracicaba.


Você morava em que bairro?


Nasci e fui criado na Cidade Alta, na Rua Aquilino Pacheco entre a Rua D. Pedro I e D. Pedro II.


O seu pai tinha qual atividade profissional?


Ele foi construtor e goleiro do XV de Novembro de Piracicaba, ele jogou de 1940 a 1944, era conhecido como Tibério. Isso no então Estádio Roberto Gomes Pedrosa. Onde hoje é o Estádio Barão de Serra Negra era um bosque, tinha um campo de futebol de várzea, do Paulistano.


Você freqüentou quais escolas?


Estudei no Grupo Escolar Dr. João Conceição, ao lado da Igreja dos Frades, depois estudei no Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. Sou formado em jornalismo pela UNIMEP. Rádio eu comecei na antiga Rádio A Voz Agrícola do Brasil, mais tarde tornou-se Rádio Alvorada e atualmente é a Onda Livre. A Rádio A Voz Agrícola ficava na Rua Moraes Barros entre a Rua José Pinto de Almeida e Rua Santa Cruz.


Na rádio “A Voz Agrícola do Brasil” como foi seu início?


O time do Santos Futebol Clube ia jogar com o XV de Novembro, no Estádio Roberto Gomes Pedrosa. Eles estavam concentrados em Águas de São Pedro. Deram-me a tarefa de entrevistar as feras do Santos: Gilmar, Zito, Dorval, Mengaldo, Coutinho, Pelé, Pepe. O gravador na época era enorme, pesado, com fita de rolo. Era uma mala de porte significativo. Fui com a viatura da rádio. Pensando como iria enfrentar esse desafio. Lembrei-me de que Wilson Antonio Honório, o Coutinho, foi criado comigo no Bairro Alto. O pai dele era pedreiro, trabalhava com o meu pai. Imaginei que a salvação da lavoura ia ser o Coutinho. Assim que cheguei, na entrada do hotel já tinha uns verdadeiros “guarda-roupas”, eram os segurança do Santos. Perguntaram-me: “O que você quer aqui garoto?”. Identifiquei-me e disse que desejava conversar com o Coutinho. Entraram em contato com ele pelo interfone, Coutinho desceu, expliquei o que eu necessitava: realizar uma entrevista com o pessoal do Santos. Ele perguntou-me: “Serve o meu compadre?” Era o Pelé. Pelo interfone ele entrou em contato com o Pelé, que desceu. Expliquei ao Pelé que dependia daquela reportagem para ganhar uma vaga na rádio. Sugeriu que fizesse a entrevista ao vivo, ele acertou com o gerente do hotel, de lá liguei para a rádio, o operador não acreditou que o Pelé estava ao meu lado. O Seu Caldeira ordenou para colocar imediatamente no ar. O Pelé estava no auge, isso foi entre 1954 a 1955. Em 1958 ele foi campeão do mundo pela seleção brasileira. Fiz a entrevista com Pelé, no ar. Depois entrevistei Gilmar, o time inteiro do Santos.


Ao voltar para a rádio qual foi a reação que você encontrou?


Quando eu cheguei à rádio o Caldeira queria saber como eu tinha feito para conseguir aquelas entrevistas com os jogadores, era muito difícil entrar na concentração, principalmente do Santos, que era o melhor time da época. Disse-lhe que tinha cumprido a tarefa, a forma como consegui era habilidade da minha parte e que não desejava revelar, era segredo de imprensa.


Você conquistou um lugar na rádio, o que passou a fazer?


Cobria o esporte amador, o varzeano, basquete, vôlei. Depois passeia ser setorista do XV de Novembro.


O que é setorista?


Acompanhava o dia-a-dia do XV, treinamento, amistosos, contratações.


Atualmente você tem um programa fixo em uma rádio?


No último dia 5 de janeiro completei 24 anos no ar só na Rádio Educadora de Piracicaba. O programa chama-se “Bola na Várzea”. Esse nome foi criado por mim e até hoje está no ar. É apresentado todos os sábados das 12 ás 13:30. Falo do futebol da várzea, futebol amador, englobo todos os esportes de Piracicaba, jogo de botão, jogo de baralho, bocha, jogo de malha, o que me mandar eu divulgo, tudo que for esporte é divulgado nesse programa. O SESC é quem patrocina o jogo de futebol de botão, é praticado por adultos. Não focalizo as equipes de São Paulo, a mídia paulistana já divulga muito sobre esses times.


Como ocorreu essa sua identificação com o futebol de várzea?


Comecei a praticar futebol na várzea, jogava como quarto zagueiro. Hoje está fácil jogar bola, antigamente era difícil. Antigamente para vestir a camisa do XV tinha que ser craque. O futebol mudou muito, o jogador bem preparado fisicamente é craque. Antigamente ele tinha que ter habilidade. Não havia a mordomia que existe hoje: o material ajuda, a bola ajuda, tem fisioterapeuta, fisiologista, concentração. Não existia nada disso.


Futebol amador e varzeano é a mesma coisa?


Não. Futebol amador pertence a Liga Piracicabana de Futebol, filiada a Federação Paulista de Futebol. A Associação Varzeana de Futebol é filiada a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Atividades Motoras (Selam).


Quem mantém a Associação Varzeana de Futebol?


A prefeitura cede o espaço, localizado embaixo das arquibancadas do Estádio Barão de Serra Negra. As pessoas que trabalham aqui são todas voluntárias, inclusive eu, nós trabalhamos por gostar de esporte. Temos uma subvenção da prefeitura para manutenção do local. Sou aposentado, quebro o galho no rádio, faço matérias para o Jornal de Piracicaba. Comecei a fazer jornalismo na Tribuna, devo muito ao Evaldo Augusto Vicente, um grande amigo. Trabalhei por seis anos na Tribuna como editor de esportes isso no tempo em que não havia internet, era tudo escrito a máquina de datilografia, as fotos nós tínhamos que correr atrás delas. Após seis anos recebi uma proposta para trabalhar no Jornal de Piracicaba, onde por 25 anos trabalhei. Hoje qualquer um é jornalista, qualquer um é radialista. Antigamente fazer a mesa de rádio era muito mais difícil, hoje se aperta um botão a rádio entra no ar, Para fazer reportagem de campo havia os cabos, era comum enrolarem, em uma partida entre XV e Santos na Vila Belmiro, na época o repórter podia entrar no campo, entrei com o microfone e o cabo no campo, embaralhei, com o cabo do repórter da Tribuna de Santos, o árbitro queria cortar os dois cabos, os jogadores do XV não deixaram, todos fora ajudar a desenrolar o fio, a torcida agitando. Retardamos o jogo quase meia hora. O XV para não ser rebaixado dependia do resultado de outro jogo que se realizava em determinada cidade, com o atraso da partida ficamos sabendo do resultado favorável ao XV, bastava empatar com o Santos, o que de fato ocorreu, com isso o episódio do cabo acabou sendo positivo para o XV.


Quantos times de futebol varzeano existem em Piracicaba?


Oitenta equipes. A Associação Varzeana de Futebol foi fundada por mim em 1996 que passou a funcionar nesta sala que estamos ocupando e que tem o nome de Francisco Jesuino Avanci, o Chicão, foi ele quem inaugurou esta sala. Chicão foi um grande atleta, jogou no São Paulo, Atlético, Seleção Brasileira. Equipes de futebol amador existem 29.


Essas oitenta equipes dependem da Associação Varzeana?


Eles dependem da associação para sobreviver. Agendo jogos para eles o ano todo. Promovemos campeonatos em parceria com a Selam. No primeiro semestre promovemos o “Copão da Várzea” e o “Campeonato de Veteranos”. No segundo semestre promovemos o “Campeonato Varzeano” e o “Campeonato Sub 20”, também promovemos “Chuteira de Ouro” e “Luva de Ouro” Bola Branca Esportes., para o melhor jogador e para o melhor goleiro da várzea.


Quais times varzeanos que deixaram de existir?


Os varzeanos antigos, que pararam, foram o Benfica, Portugal, ambos da Vila Rezende, o Bangu, o Nacional, Madureira, Penharol, da Paulicéia.


A diferença entre futebol amador e varzeano é a filiação?


É a filiação, mais nada. Quem alimenta o futebol amador com revelações de atletas é o futebol varzeano. Fui um dos fundadores do Olímpico Futebol Clube, juntamente com o Carlos Francisco Puerta, Cláudio Coradini, Carlinhos Pescuma, Carlos Alberto Totti. É a equipe de várzea mais antiga de Piracicaba, deve ter completado 45 anos. Eu joguei uns oito anos no Olímpico.


Esses times jogam em que campos?


Em todos os campos existentes na cidade, inclusive na gestão do prefeito Barjas Negri e do secretário de esportes Pedro Mello, foram construídos 25 campos de futebol, com alambrado, vestiário. O meu sonho é construir um centro esportivo para o futebol amador e varzeano de Piracicaba. Já iniciamos no Estádio Pedro Morganti, no bairro Monte Alegre. Toda infra-estrutura está sendo realizada. Toda decisão do futebol amador,varzeano, feminino, juniores, infantil, será lá. Fizemos uma proeza em Piracicaba, transmitir os jogos da várzea pela internet. O narrador é Ronaldo Ducatti, como comentarista trabalharam conosco Adriana Passari, Samanta Marçal, André Camargo. Eu como repórter de campo. Fomos os pioneiros em transmitir futebol de várzea pela internet, tanto que ela é conhecida no mundo todo. Recebemos e-mails de Portugal, Alemanha, Espanha, México, Argentina e muitos outros países. O endereço é www.multiemidia.com.br


Como surgiu o futebol feminino em Piracicaba?


É outra atividade em que fui pioneiro em Piracicaba. Fui presidente da Liga Piracicabana de Futebol de 1980 a 1983. Fui diretor de futebol amador e do profissional do XV de Novembro. O futebol amador antigo era composto pelo MAF, que parou, União Costa Pinto, Clube Atlético Piracicabano, Estrela Dalva, Vila Boyes, El Tigre, Nacional, Sociedade Recreativa Palmeiras, XV Escola, Ferroviária, São João da Montanha, Flamengo, Tupi, União Monte Alegre, Katatumba, Saltinhense. Essas equipes pararam.


O jogador de futebol varzeano tem alguma remuneração?


Pelo contrário, pagam para jogar: lavagem de uniforme, condução. Jogam por amor ao esporte. No futebol amador tem jogador que recebe alguma remuneração. Na várzea é o contrário, eles sustentam a própria equipe. O futebol feminino nasceu quando fui Presidente da Liga Piracicabana de Futebol, em 1982. Surgiu pelo interesse de muitas meninas em jogar futebol e não havia quem organizasse um campeonato. Realizei o primeiro campeonato de futebol feminino em Piracicaba, inclusive ajudei a montar uma forte equipe de futebol feminino no XV de Piracicaba. O XV tinha uma atleta chamada Paula, irmã do Armando Tomazzielo, na época era a Marta do futebol feminino, ela jogava no Tiririca Futebol Clube. A Emília da Rocha Lima, a Lili, torcedora símbolo do XV também jogou futebol feminino. Existiam de oito a nove equipes de futebol feminino: Treze de Maio, do Jardim Primavera, de Artemis. O futebol feminino em Piracicaba foi lançado em 1982, era uma novidade no país. Atualmente no Sindicato da Alimentação existe um time de futebol feminino.


O que desmotivou o futebol feminino em Piracicaba?


A falta de apoio. O XV de Novembro tem um dos melhores times de futebol feminino, foi realizado um torneio internacional de futebol feminino no Estádio Barão de Serra Negra.


Quais são as diferenças entre o futebol masculino e feminino?


O masculino imprime mais força física. O feminino é mais toque de bola. Tem atleta do futebol feminino que joga melhor do que atleta masculino. Um exemplo é a Marta, pode coloca-la em qualquer time de futebol que ela irá realizar uma grande partida. Ela tem explosão, é inteligente, habilidosa.


Os salários multimilionários ajudam ou prejudicam o futebol?


Prejudicam. Tem jogador que ganha muito e outros quase não ganham nada. Deveria existir uma escala salarial, onde seriam classificados os jogadores, sem essas diferenças enormes. Deveria ter um salário base desde a segunda divisão até a primeira divisão. Enquanto uns ganham milhões outros ganham alguns reais.


Porque o brasileiro gosta tanto de futebol ?


O introdutor do futebol no Brasil foi Charles William Miller, nascido em São Paulo a 24 de novembro de 1874, onde faleceu em 30 de junho de 1953, filho de pai escocês e mãe brasileira. Com dez anos de idade foi estudar na Inglaterra onde conheceu e se encantou pelo futebol. Com uma única bola 22 pessoas praticam esporte de baixo custo. É um esporte popular. Qunado fundei a Associação Varzeana de Futebol o objetivo era tirar os rapazes da rua para praticar esportes. Ao invés de se construir presídios construam-se praças de esportes, ginásios. É um dinheiro bem mais aplicado do que em presídios. Em meu programa, na abertura, sempre falo: “ Mãe, leve seu filho á igreja, não importa a religião, leve seu filho para praticar esportes, para que no futuro não tenha que visitá-lo no presídio”.E para encerrar o programa, desde que comecei a fazer rádio, a frase que uso é: “Se amanhã eu acordar Deus estará comigo, se eu não acordar estarei com ele”.


Dinival, uma iniciativa sua criou uma premiação anual concedida aos valores que se destacaram.


Em 2012 foi realizada a décima sétima edição da premiação “Melhores do Ano no Esporte e na Imprensa”. Tornou-se conhecia como o “Oscar Caipira do Interior”. Surgiu em 1995. Comecei com 10 troféus. A primeira festa foi na sala onde funciona a sede da Associação Varzeana. A Magic Paula estava no auge, a mãe dela, Dona Hilda, a Branca, todas estiveram presentes. O patrocinador dos primeiro e segundo ano foi a Passarella Calçados. O Clube Palmeiras abriu as portas para nós, onde por oito anos realizamos o evento. Quem bancava era a NM Abrasivos, do Marcos Chorilli. O Mauro Matta foi homenageado, gostou da festa e até hoje a Fast Work dá sustentação para essa festa. Realizamos a festa dois anos no Clube de Campo de Piracicaba, dois anos no SESC e dois anos no anfiteatro do Centro Cívico.


Você acredita que esse evento poderá fazer parte do calendário oficial do município?


Acredito que sim. O objetivo é incentivar quem pratica esportes e quem trabalha na imprensa, não só daqui, mas como de toda a região. A promoção é transparente, a pesquisa é feita pela empresa Teleresponde. A Teleresponde é um dos nossos patrocinadores há muito tempo.


Esporte e política se atraem?


Não se combinam esporte e política.


Voce tem idéia do número de jovens que através da sua ação com o esporte evitaram cair na marginalidade?

Foram muitos. O meu orgulho é poder tirar muitos jovens do risco da dependência química através do esporte. Tem caso em que a pessoa era dependente químico, passou a praticar esporte e hoje é um respeitado pai de família. Isso é muito gratificante. As indústrias de grande porte, o próprio governo, deveriam investir mais no esporte.










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