domingo, fevereiro 05, 2017

JOVELINA GOIA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 dezembro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: JOVELINA GOIA
Ao relatarmos sobre Jovelina Goia, estamos trazendo a tona parte da história recente de Piracicaba. Um dos pontos que desperta lembranças é a saga de “Ao Cardinali” há períodos em que as narrativas se entrelaçam. “A trajetória empresarial de “Ao Cardinali” iniciou-se em 1 de janeiro de 1936, quando o casal Augusto e Ida Cardinali estabeleceram-se na Avenida Conceição,19, antiga Avenida Rui Barbosa,129, na Vila Rezende. O casal permaneceu com essa atividade até o ano de 1949, quando no dia 9 de julho, estabeleceu-se na mesma Avenida Conceição,13, com a denominada “Casa Imaculada Conceição”, no ramo de comércio de louças e presentes. No ano de 1951, no mês de novembro , abriu a filial da Rua Governador Pedro de Toledo,784, permanecendo até o ano de 1995, transferindo-se em seguida para a Rua Governador Pedro de Toledo, 826 contando sempre com a colaboração do seu filho Irandir (Didi) na direção da empresa, da filha Arlet e também do neto Irandir Junior. No ano de 1969, dia 20 de abril, um incêndio devorou todo o estabelecimento, passando a atuar na mesma Rua Governador Pedro de Toledo, esquina com a Rua São José, imóvel pertencente a família Luciano Guidotti, até o mês de dezembro do mesmo ano, retornando ao prédio da Rua Governador Pedro de Toledo,784 , totalmente remodelado. “Ao Cardinali” tornou-se celebre por estar voltada para artigos para presentes, cristais, porcelanas, artigos em inox, peças para decoração e utilidades domésticas, sempre com o lema de bem-servir e transparência nas operações comerciais, contando com uma equipe de colaboradores, atentando sempre para o bom atendimento. Pertence a família de Irandir, sua esposa Eudacil e a filha Iraneuda. Essa nota foi distribuída, mencionando o ano de 1991”.
Jovelina Goia nasceu a 7 de novembro de 1946 no bairro rural de Santana, em Piracicaba, filha de Oscar Goia e Otilia Cristofoletti Goia que tiveram nove filhos: Jovelina, Ana Maria,Olivia Carmem, Roque Caetano,Luiz André, Aparecida de Fátima, Deucida, Luzia e Dorival. Seu pai foi agricultor, cultivava arroz, melancia, feijão, ervilha até que nos últimos anos cultivou cana-de-açúcar. 
Naquela época desde pequenos já ajudavam o papai e a mamãe?
A partir dos sete anos, ia para a escola, voltava e já ia ajudar o pai e a mãe. Tinha uma avó que era da família Vitti e outra das minhas avós era Cristofoletti, ambas descendentes de tiroleses. Eu freqüentava o Grupo Escolar Dr. Samuel de Castro Neves.
Essa escola tinha também alunos do bairro vizinho de Santa Olímpia?
Eu acredito que sim, havia certa disputa entre os dois bairros, desde aquela época. Acredito que com o passar do tempo essas disputas, que eram até saudáveis, foram diminuindo.
Em Santana a senhora estudou até que série?
Até a terceira série. Eu era muito magrinha, meu pai tirou-me da escola por precaução levava uma hora a cavalo para chegar até a escola. Quando chegava à minha casa tomava um lanche, não me alimentava bem. Depois fiz o quarto ano noturno, em Santana, meu pai fez comigo para que eu fosse. O sítio era do Seu Antonio Gadotti que tinha um açougue na Vila Rezende, na Rua Primeiro de Agosto.
A senhora ia a cavalo sozinha?
Íamos eu e minha irmã.
Como chamava o cavalo?
Era uma éguinha, a “Pampa”, pintadinha de branco e marrom. Era mansinha, tenho muita saudade dela. Enquanto estávamos na escola ela ficava na casa de um padeiro que era vizinho do grupo escolar.
O seu pai estudou o quarto ano primário com a senhora?
Estudou comigo! Ele já tinha estudado anteriormente, mas foi comigo só para que eu fizesse o quarto ano noturno. Lembro-me que a professora que lecionava no quarto ano noturno era Dona Isabel Vitti. Havia também a professora Raquel, que era professora substituta. Eu a adorava. Outra professora era a Dona Dirce. Nessa época tínhamos mudado para próximo da escola, cerca de 50 metros de distância.
Naquela época ao completar o quarto ano primário já se encerravam os estudos e ia trabalhar?
Exatamente! Fui trabalhar com o papai na roça. Nessa época trabalhávamos com arroz, feijão, melancia, milho. Plantávamos, cuidávamos e colhíamos. Meu pai passava com o arado, ia abrindo a cova e nós íamos atrás plantando. Com o pezinho íamos cobrindo as sementes com terra. Nós morávamos no meio de uma invernada, os bois eram para serem abatidos. As vacas tinham crias, mas eram muito bravas. Se não estou enganada, minha mãe adquiria leite de cabra de alguma vizinha. Ou comprava leite de vaca, mas de outra pessoa. Nessa época já éramos cinco filhos.
E os pratos italianos, como eram?
Havia muita fartura, macarronada, polenta, nunca faltou nada. Não havia o luxo que existe atualmente. Tínhamos carne de porco, de frango, fazíamos lingüiça, fritava a carne do porco e deixava dentro da lata de gordura. Era assim que se armazenava, não havia geladeira. Depois à medida que comíamos, tirávamos e colocávamos para fritar na panela. Era uma comida saudável. Não se falava em colesterol e demais índices indicadores de gordura. Trabalhava-se muito.
Vocês vinham muitas vezes para a cidade?
Vínhamos poucas vezes. Papai vinha, fazia as compras e levava para casa. Comprava-se o essencial: sal, açúcar pegava na usina, coisas que não tinha mesmo em casa. Praticamente tínhamos tudo lá. Verduras, alface, cenoura, tínhamos uma horta.
O seu pai vinha para a cidade de charrete?
Ele vinha de charrete até o “caiapiá”, (acredita-se que tenha essa denominação derivada de “calepiá” por sua vez derivada de eucaliptal ).era aonde carregava-se cana de açúcar nos vagões de trem do Engenho Central.  Na estrada que liga Piracicaba a Charqueda, ali ele vinha, deixava a charrete e o cavalo na casa de um tio, que era da família Zambon. Ele pegava o ônibus da Trevisan e vinha para Piracicaba. Propriedade de Egisto Trevisan (A Viação Trevisan, em plena atividade desde 1954, foi fundada pelos irmãos Egisto Trevisan, Lazaro Trevisan e Antonio Trevisan). Em Santana conheci um moço e acabei casando-me com ele e vim morar em Piracicaba. A partir daí eu ia até a casa dos meus pais só para passear, eles tinham mudado para a Vila Santa Luzia, conhecida também como Tabela do Recreio.
A senhora passou a trabalhar em Piracicaba?
Comecei a trabalhar quando faltavam quinze dias para inaugurar o Hotel Beira Rio. Eram cinco andares.  Entrei como camareira, arrumava os quartos do segundo andar, era um hotel luxuoso para a época. Lá eu também tomava as minhas refeições, eu morava pertinho, na Vila Rezende. Permaneci no Hotel Beira Rio por dois anos e oito meses. O serviço em hotel exige muito do funcionário, embora obedeça a uma escala, trabalha-se aos sábados, domingos. O proprietário era Seu Antonio José Martins, o “Toninho Beira Rio”.  Ele veio de Curitiba. O seu filho tem o Antonio`s Hotel.
A senhora saiu e foi trabalhar aonde?
Fui trabalhar na casa de Dona Amélia Guidotti, esposa de Luciano Guidotti, na época já havia falecido. Trabalhei oito anos com ela. Eu conheci o Prefeito Luciano Guidotti, porque tinha minhas amigas que trabalhavam lá há muitos anos, eu ia visitá-las e conseqüentemente as vezes o via. A casa situava-se na Avenida Independência esquina com a Avenida Saldanha Marinho. Ali morava Dona Amélia, a sua filha Lucia Cristina ao lado, o Seu Wilson Guidotti, pai do Balu Guidotti, do outro lado.
Como era a Dona Amélia?
Maravilhosa! Eu sempre dizia para ela que a tinha como minha segunda mãe. Aprendi muito com ela. Entrei como arrumadeira, tinha cozinheira e uma babá que era para os netinhos dela. Nessa época ela já morava no Edifício Tapajós.
 Dona Amélia comentava alguma particularidade do Comendador Luciano Guidotti ?
Ela falava que ele deitava na cadeira de balanço e dormia. Ela dizia: “- Nossa Luciano!  Você mal encostou e já está dormindo!” Ele respondia: “-É a consciência tranqüila!”
Por que a senhora deixou de trabalhar para Dona Amélia?
Eu queria t5rabalhar no comércio. Eu estava doida pelo comercio. Queria entrar na Drogasil. Existia a Farmasil e a Drogasil. Era três farmácias da rede na Rua Governador Pedro de Toledo. Dona Amélia dizia: “–Você vem amanhã almoçar comigo!”. Na hora do meu almoço na Drogasil eu ia ao Edifício Tapajós, que ficava a uns quatro ou cinco quarteirões. E gradativamente fui espaçando esses almoços. Eu a adorava. Aprendi muita coisa com ela, ela às vezes perguntava se eu ia demorar muito na cozinha, e convidava-me para sentar junto a ela para assistir televisão. Foi e época em que a filha dela mudou-se para o apartamento debaixo.
Em qual dos estabelecimentos da Farmasil a senhora foi trabalhar?
Fui trabalhar como caixa na Farmasil denominada Nova Piracicaba, situada entre a Rua XV de Novembro e a Rua Rangel Pestana. Era ao lado da Lojas Riachuelo.
Como era trabalhar no caixa?
Eu transpirava de baixo em cima! Ficava nervosa quando via fila no caixa. Meu gerente, Seu Antonio, dizia: “- Você vai prestar toda a sua atenção no primeiro cliente que estiver a sua frente! Cobra volta o troco direitinho. Depois vem o outro! Não veja a fila!” Isso no tempo daquela abençoada máquina registradora que tocava campainha quando cobrava. Fazia um barulhinho característico e abria a gaveta. Eu queria ter um salário melhor, passei a ser perfumista. Cuidava dos perfumes e atendia os clientes que desejassem perfume.
O que é necessário para ser uma perfumista?
Não sei! Entrei de olhos fechados!
Como identificar o perfume ideal para cada pessoa?
Normalmente a pessoa já estava determinada a adquirir o produto que ela desejava. Uma das características é que eu trabalhava maquiada. Usava-se um sapato com um salto médio, usava calça cumprida e um casaquinho, comprido e com manga até abaixo do cotovelo, tinha gola, No pescoço usava um lencinho. Não havia ar condicionado, apenas ventilador. A loja “Ao Cardinali” tinha convenio com a Drogasil eu via o que as funcionárias de “Ao Cardinali”gastavam na Drogasil, logo conclui que o salário deveria ser muito bom. A Arlet Cardinali, irmã do Irandir (Didi) Cardinali, convidou-me para trabalhar em “Ao Cardinali”. Nessa época o gerente da Drogasil era o seu Elcio. Após uns dois meses fui trabalhar em “Ao Cardinali”. Nessa época ainda estavam em “Ao Cardinali” o Seu Augusto Cardinali e Ida Siviero Cardinali, pais do Didi , da Arlet, Augusto Cardinali Junior, esses três filhos ficavam na loja, os demais filhos tinham atividades fora da loja.
Por muitos anos “Ao Cardinali”  dominou o mercado de presentes finos em Piracicaba.
Foi criada uma tradição, o fato de dar um presente com a etiqueta “Ao Cardinali” já estava chique. Fiz muitas amizades quando trabalhei lá. As famílias Dedini, Ometto, todo pessoal da alta sociedade piracicabana comprava em “Ao Cardinali”. É interessante observar que as pessoas de menos recursos também compravam lá, havia facilidades para realizarem o pagamento. Havia o crediário com cinco a seis pessoas trabalhando  nesse setor. Vendia-se muito para empresas, todos os restaurantes adquiriam produtos com eles: copos, pratos, taças. O Restaurante Mirante adquiria tudo que necessitava em “Ao Cardinali”. Aceitávamos encomendas. Se dois pratos do aparelho de jantar quebrassem, nós providenciávamos a reposição. Havia uma grande confiança por parte do cliente em nossas orientações. Caso a pessoa precisasse dar um presente a alguém, seja aniversário, casamento, ou outra ocasião especial, éramos instruídas como agir. Direcionávamos o presente e o cliente para o mesmo sentido. Conforme a situação e a posição social do cliente e do presenteado, e as possibilidades de comprar. Era feita uma rápida análise e tínhamos de pronto a solução. Recebíamos treinamento para agir corretamente em cada situação. O importante era que o cliente saísse plenamente satisfeito. Tínhamos aulas de etiqueta, de que lado coloca-se o garfo e a faca, conforme a bebida a ser servida correspondia uma taça. Até a abordagem ao cliente. Cada produto novo que chegava tinha instruções a respeito do produto, se chegasse um carrinho de bebe tínhamos que aprender tudo sobre como abrir, fechar, desmontar.
A venda de faqueiros na época era muito grande?
Saia bastante havia com 130 peças e outro com 101 peças. Acredito que foi “Ao Cardinali” que lançou em Piracicaba a hoje tão comum “Lista de Presentes”. Que são os presentes que os noivos gostariam de ganhar. Isso facilita muito.
Alguns anos antes eram comuns, presentear galheteiros.
Davam muito, era um dos presentes mais acessíveis financeiramente. Tínhamos também o sistema de troca de presentes, se por acaso o casal ganhasse três panelas de pressão, podia dar uma para a mãe, outra para a sogra e uma para o casal. Mas e quando ganhava cinco panelas de pressão? Trocava por aquilo que ela não tinha ganhado. As panelas Nigro, Panex, Rochedo, eram bem conceituadas. Dos faqueiros o Hercules era o de maior valor.
Tinha brinquedos?
Na época de brinquedos era muito bom, fazíamos a felicidade de muitas crianças.
A relação de “Ao Cardinali” com a loja “A Porta Larga” como era?
“A Porta Larga” era uma loja muito bem conceituada, com excelentes produtos, só que o segmento em que eles atuavam era mais da área têxtil.
Ainda com relação a treinamento, se houvesse pessoas interessadas em fazer fondue, marcávamos um local, convidávamos os interessados, vinha um senhor de São Paulo, trazendo todo o material, íamos duas ou três vendedoras, a gerente, o professor e os convidados.  Cada vez que fazíamos iam 20 a 30 pessoas. Pessoas de restaurante também participavam. O Vado do Restaurante Mirante estava sempre em “Ao Cardinali”.Quando eu entrei já trabalhavam lá 30 funcionárias. Nos finais de ano contratavam mais funcionários. O Seu Didi trabalhava mais na área de compras, seu irmão cuidava das finanças, sua irmã cuidava de nós. Havia três homens só para fazerem as entregas, trazerem mercadorias do depósito. Tudo que havia de novidade tinha em “Ao Cardinali”.
A vitrine de “Ao Cardinali” marcou uma época, era muito atraente, principalmente a noite quando as pessoas saiam a passeio.
Todas as semanas fazíamos uma vitrine diferente. A gerente dava as instruções e umas três ou quatro funcionárias ajudavam. No Natal não trabalhávamos com venda de árvore de Natal, porém montávamos uma para dar o clima natalino. No período do Natal não tínhamos tempo de almoçar, jantar, era uma loucura!
A loja “Ao Cardinali”, com uma clientela muito boa, excelentes fornecedores, decidiu abrir uma filial logo que o Shopping Piracicaba foi inaugurado, como isso foi visto pelos funcionários?
Na realidade o Didi Cardinali abriu a loja para dar oportunidade de crescimento e expansão, por razões que merecem um estudo a parte, o empreendimento permaneceu aberto por alguns anos. Ele próprio esteve a frente da loja, lá eu trabalhei de 1990 a setembro de 1997. Lá havia a Mesbla e a Sears.
Com toda a sua vivência em comércio, como a senhora vê a postura e o atendimento que são dados atualmente aos clientes em determinados estabelecimentos?
Na minha época havia uma comissão que o vendedor recebia pelas vendas realizadas. Dizem que houve diversas mudanças, isso refletiu negativamente no atendimento, no tratamento que é dispensado ao cliente. Trabalhar no “Ao Cardinali” era um privilégio, era uma escola, os demais comerciantes queriam empregar todos que trabalharam no “Ao Cardinali”. Um conhecido lojista, bem sucedido, sempre esteve atento as possíveis e raras funcionárias que saiam de “Ao Cardinali”. Ele celebrizou essa convicção de que todas nós éramos excelentes funcionárias. Entre os fatos marcantes e característicos, aconteceu de uma criança entrar com febre e sair feliz, ele queria intensamente determinado brinquedo. A mãe não podia adquirir a vista, nem em duas parcelas, mas consegui fazer com que pagasse em cinco vezes pelo crediário. A criança transformou-se na hora. Saiu radiante de felicidade. Outra coisa que deixou saudade eram as festas de confraternização que fazíamos entre nós, na própria loja. Fechávamos a loja e comemorávamos nossos sucessos, nossas vitórias, lutas, desafios vencidos.




segunda-feira, janeiro 16, 2017

JOSÉ AREF SABBAG ESTEVES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de dezembro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: JOSÉ AREF SABBAG ESTEVES


José Aref Sabbag Esteves nasceu a 13 se setembro de 1953 na cidade de Jaú. Recebeu o título de cidadão piracicabano concedido pela Câmara Municipal de Piracicaba. José Aref é filho de Ayres Esteves Farto e Ivone Aref  Sabbag Esteves que tiveram ainda os filhos: Mário, Maria Helena, Walter e Carlos Alberto.
José Aref Sabbag Esteves é Diretor Jurídico na APASPI – Associação de Pais e Amigos de Surdos de Piracicaba; Membro Titular do Conselho Acadêmico do Clube dos Escritores de Piracicaba- Cadeira 26 – área de Ciências- A partir de 2006; Membro Efetivo do Conselho Consultivo do Sindicato dos Contabilistas de Piracicaba e Região, desde 2005; Voluntário- Contabilidade e Assessoria Tributária na Associação de Pais e Amigos dos Alunos da Escola Passo a Passo; Voluntário – Contabilidade e Assessoria Tributária no Esporte Clube XV de Novembro; Sócio Patrimonial do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba, desde 1987; Moção 019/02 de Aplauso, como um dos idealizadores do VIII Arrastão Ecológico no Rio Piracicaba; Moção 080/03 de Aplauso de Contabilista de Piracicaba em comemoração ao Dia do Contabilista; Cidadão Piracicabano conferido pela Câmara Municipal de Piracicaba, Decreto Legislativo 14 de 03/10/2005, projeto apresentado pelo Capitão Gomes; Contabilista Emérito do ano de 2006, eleito pelo Sindicato dos Contabilistas de Piracicaba e Região aos 25 de abril de 2006. Exerceu os cargos de: Diretor Tesoureiro da OAB/SP 8ª Subesecção Piracicaba 1998/2002; Coordenador da Escola Superior de Advocacia – ESA- Piracicaba 1999/2000; Primeiro Secretário do Rotary Club de Piracicaba ano 1998/1999; Coordenador da Comissão de Serviços Internos do Rotary Club de Piracicaba 1999/2000 e Serviços à Comunidade de 2005/2006; Presidente do Rotary Club de Piracicaba, Período2001/2002; Presidente das Empresas de Serviços Contábeis de Piracicaba e Região por duas gestões 1991/1994 e 1994/1997, e 2005; Membro Efetivo da Primeira Câmara do Conselho de Contribuintes do Município de Piracicaba; Membro do Conselho Consultivo da Associação das Empresas de Serviços Contábeis de Piracicaba e Região 1998/2001; Membro do Conselho Consultivo do Sindicato dos Contabilistas de Piracicaba e Região 1999/2001; Presidente do Sindicato dos Contabilistas de Piracicaba e Região 2002/2005; Conselheiro do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo 1996/2005 exercendo o cargo de Coordenador da Câmara de Registro; Vice-Presidente de Registro do Conselho Regional de Contabilidade Mandato 2006/2009; Coordenador da Comissão de Administração do Clube do Rotary Club de Piracicaba 2006/2007; Governador Assistente Distrital da Área 8 do Distrito 4310, do Rotary Club Internacional




                                                                             


Você fez seus primeiros estudos em qual escola?
Estudei em várias escolas, mas o local em que permaneci maior tempo estudando foi no Colégio Piracicabano. Em Jaú estudei em escolas infantis, primário. Uma parte do primário eu estudei em Maringá, no Instituto Filadélfia, eram adventistas. Permaneci lá até os 12 anos quando vim com a minha família para Piracicaba.
Qual era a atividade profissional do seu pai?
Nos últimos anos meus pais tinham loja. Antes ele teve uma fábrica de perfumes: Perfumaria Ivone, que é o nome da minha mãe. Isso na época em que não existia a forte industrialização dos cosméticos. Isso faz bastante tempo, muitos não irão se lembrar quando se fabricava laquê, brilhantina, óleo de babosa, pó de arroz, óleo de ovo, esmaltes, antigamente muitos desses produtos eram utilizados para passar no cabelo.
Eram produzidos em que local?
Em casa mesmo, era uma empresa de economia familiar, funcionava na Rua Ipiranga esquina com a Avenida Armando Salles em um sobrado. Ali meus pais fabricavam o que conseguiam produzir. Papai saia fazer entregas as segundas feiras, o que tinha sido vendido na semana anterior. Na terça, quarta e quinta ele saia para vender. Não tinha carro, não tinha nada, ia de ônibus. Vendia para lojas, pequenos bazares, ia até Araçatuba, Itapetininga, Botucatu, para todas as lojas da região ele ia para fazer vendas. Às sexta feiras, voltava, fazia a relação da matéria prima que tinha que adquirir, minha mãe ia para São Paulo no sábado, fazer as compras desse material. Adquiria geralmente na Rua 25 de Março, ou nas proximidades da Praça João Mendes, onde havia uma rua com muitas lojas que revendiam frascos, todo tipo de artigo para fabricantes de perfumes. Ali havia essências, vidros, todo o material necessário para produzir o que o cliente necessitava.
Quando seu pai entrou para esse segmento de negócio, ele tinha alguma formação na área?
Não tinha! Era motivado pela curiosidade. Ele tinha um cunhado que fabricava esses perfumes em Belo Horizonte. Em uma das ocasiões em que ele foi para lá, conheceu, seu cunhado Hélio montou a estrutura para que meu pai começasse a trabalhar nesse setor. O negócio foi progredindo. A vida do meu pai foi muito sacrificada, ele fazia tudo isso a pé, às vezes de ônibus. Mas ele se saia bem. Lembro-me até hoje, ele fazia as caixas dos cosméticos, ele adquiria papelões na fábrica de papel, em Piracicaba, trazia nas costas essas folhas de papelões, grandes e fabricava as caixinhas para colocar os produtos: perfumes, esmaltes, laquês.
E os rótulos?
Isso ele adquiria em São Paulo, escolhia uma linha de rótulos e adquiria sempre aquela linha. Com o mostruário montado, saia vendendo. Sábados à tarde e domingos eram produzidos os produtos que haviam sido vendidos. Os esmaltes vinham prontos, a granel, eram colocados nos vidrinhos. O laquê era muito utilizado na época, as mulheres usavam o cabelo armado. Papai fabricava o laquê, montou a fórmula, vendia muito.
Quanto tempo ele ficou nessa labuta?
Foram uns 20 a 30 anos.
Com isso o nome ficou muito forte?
Não se divulgava muito o nome na época. Era um produto conhecido, as vendas eram feitas em armazéns da nossa cidade ou de outras cidades, o estabelecimento já sabia o que queria, o que comprar dele. Ele formou uma clientela cativa, principalmente em bairros. Todos da família ajudavam, nesse ínterim eu trabalhava na loja Kraid Magazine de propriedade de Nagib Kraid e Miguel Kraid. Era boy, faxineiro, fazia entregas de roupas. A noite estudava no Colégio Industrial, tive como professor Danilo Sancinetti.
Havia a famosa Banda Marcial do Colégio Industrial.
Toquei muito tempo na Banda Marcial, visitei com ela muitas cidades. Era um espetáculo muito bonito. Impecável. Uniformes fantásticos. Era uma banda famosa, conhecida em nível nacional. Era uma banda muito bem montada, com instrumentos fantásticos. Eu tocava corneta, surdo ou bumbo. Ia revezando. O bumbo era cansativo. Na época eu estudava desenho técnico, que não cheguei a concluir. Meu tio Issa Elias Orani me levou para fazer contabilidade, era a profissão do momento. Fui estudar o Curso de Técnico em Contabilidade da Escola Técnica de Comércio Cristóvão Colombo (Escola do Zanin), situada ao lado do Cinema Politeama, bem próximo existia a Bomboniere do Passarela. Saindo do Kraide Magazine fui trabalhar com o meu pai e conclui o Curso de Contabilidade no Colégio Piracicabano, isso foi por volta de 1975 a 1976. O Colégio Piracicabano já estava na Rua Boa Morte, em seu novo prédio. Fui estudar Ciências Econômicas, após uns três semestres descobri que não era o que eu queria. Nessa época eu já tinha completado 18 anos, aprendi a dirigir, prestei serviço militar no Tiro de Guerra, com o Sargento Azeredo e depois o nosso vereador Capitão Gomes, que na época foi meu capitão.  Nessa época eu precisava ajudar os meus pais. Consegui adquirir um carro, passei a fazer as vendas com ele. Era um Volkswagen 1962, azul, 6 volts, ia apara São Paulo para fazer compras, minha mãe ia junto, ia pela antiga estrada de Tupi, a Anhanguera não era duplicada, levava horas para chegar a São Paulo. Em cima do Volkswagen colocava um bagageiro, vinha lotado, era uma aventura. Na época em que começou a industrialização dos perfumes, cosméticos para cabelos, meus pais continuaram com a perfumaria, mas já montaram um comércio de bijuterias foi a era da bijuteria popular, adquiríamos as bijuterias em São Paulo e vendíamos no atacado, junto com a perfumaria. Colares, óculos, eram vendidos muitas dúzias. Nessa época começamos a pensar um pouco maior, sempre que comprávamos determinada quantidade, adquiríamos um pouco a mais. Íamos guardando, até montar um estoque para abrir uma loja. Minha mãe conseguiu alugar um prédio na Rua D.Pedro I, entre a Rua José Pinto de Almeida e Avenida Armando Salles. Ali trabalhando sério e pesado montamos o Bazar Ivone. Viemos abrir esse bazar na Rua Governador Pedro de Toledo, entre a Rua D.Pedro e Rua Ipiranga, próximo ao Mercado Municipal. Ficamos por muitos anos ali. Minha mãe veio a falecer, desativamos a loja. Meu irmão assumiu o local, meu pai já estava aposentado.
Você tinha concluído o Curso de Contabilidade?
Tinha terminado o curso, só que não exercia a profissão. Como meus pais estavam tendo sucesso com a loja, fui trabalhar como contador. Meu primeiro emprego como contabilista foi na empresa Irmãos Schiavinatto em Saltinho. Faziam martelos para calcário e tinham uma pequena transportadora. Eu conhecia o Luiz Nazareno Schiavinatto, era meu amigo. No principio eu tive algumas dificuldades naturais a um profissional em inicio de carreira, fui estudando, aprendendo, com isso fiquei por vários anos trabalhando para eles. A 2 de julho de 1982 casei-me com Maria de Fátima Carvalho Esteves, passamos a residir em Saltinho.
Como você e a sua futura esposa se conheceram?
Aqui no centro, na Sociedade Italo-Brasileira, havia as tradicionais brincadeiras dançantes, muito populares entre os jovens da época. Foi lá que nos conhecemos. Ali conheci seus irmãos, a família toda. Casamos e tivemos duas filhas: Michelle e Millene.
Quando você montou seu escritório?
Foi quando sai do escritório da empresa Schiavinatto e em uma sala, na Rua Governador, continuei a fazer a contabilidade da empresa Schiavinatto, fazia a contabilidade de um armazém de Saltinho, um consultório dentário, dali, após muito tempo, montamos um escritório na Rua Benjamin Constant, no lado oposto onde estamos hoje. Trabalhava na parte do fundo, em uma garagem grande e morava na lateral. Ficamos muitos anos ali. Com o correr do tempo, surgiu a oportunidade de mudarmos para o lado oposto da rua, onde passamos a morar em um sobrado e manter o escritório na parte térrea. Hoje tenho cerca de 30 a 35 anos de contabilidade e advocacia. A advocacia veio agregando valores a necessidades dos clientes. Quem me convenceu a fazer advocacia foi Luiz Nazareno Schiavinatto. Lembro-me que eu estava na Praça José Bonifácio, encontrei-me com ele que me disse: “- Aref eu estou me formando em direito, você tem que ver que magnífico!” Fui para casa, fiquei pensando, tinha que fazer alguma coisa, não podia parar de estudar. Decidi fazer e fiz o curso de direito. Conheci Francisco Irineu Cassella, fizemos uma parceria, aprendi com ele na prática o que aprendia na teoria na faculdade. Com o passar do tempo ele precisava crescer, passou a atender em Rio das Pedras e o meu escritório de advocacia já estava caminhando junto com a contabilidade.
No Direito qual é a sua área de atuação?
Na área contábil e na área empresarial. Contencioso bancário, tributário e administrativo. Criamos uma logomarca: Delta Org Assessoria. Utilizamos para denominar as três áreas em que atuamos: imobiliária, contabilidade e advocacia.
Você é Delegado Regional representando o Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo?
Ainda sou. É um posto avançado executando e representando o Conselho para os profissionais de Contabilidade de Piracicaba. Isso permite que ele tenha aqui um atendimento necessário sem ter que se deslocar-se até São Paulo. Seja Registro, atualização, solução cadastral. É uma espécie de sucursal que dá suporte e representa o Conselho em Piracicaba. A eleição para o Delegado do Conselho em uma localidade é bem rigorosa, a oportunidade é aberta à todos os escritórios da cidade, esse escritório é fiscalizado integralmente em todas as suas ações, a cidade indica entre os interessados aquele que pode ser seu Delegado junto ao Conselho. É uma atividade voluntária.
Você tem uma forte atuação junto a APASPI?
A APASPI – Associação de Pais e Amigos de Surdos de Piracicaba é uma atividade que a Fátima, minha esposa, é apaixonada, que vibra, chora, se doa, e eu estou junto com ela. Desde o saudoso Julio Sierra, a Fátima deve estar há mais de 25 anos dedicando-se como voluntária na APASPI. A APASPI dá suporte social, profissional, para crianças e adolescentes até 17 a 18 anos deficientes auditivos. Orientamos a viverem socialmente, a conversarem pela língua de LIBRAS, a conviverem com os pais. Infelizmente alguns pais, acabam instintivamente discriminando o filho deficiente. É realizado um trabalho junto a família do deficiente juntamente com as pedagogas, assistente social.
Quem arca com as despesas decorrentes de toda essa estrutura?
É a população. O município e o Estado destinam uma verba, mas é bem menor do que a necessária. O município e o Estado exigem que tenhamos fonoaudióloga, merendeira, faxineira, pedagoga, existe normas, essas entidades têm que funcionarem dentro das normas legais, tanto em estrutura, como higiene, qualidade. Somos cercados e recebemos a imposição de uma legislação séria, mas não remuneram adequadamente por falta de recursos. Quem assume a função do Estado somos nós. O Estado exige, mas não dá a remuneração suficiente para realizar as exigências. Com isso temos que fazer ações juntos a comunidade, como vendas de pizzas, rifas, bazar, pedindo, passando o chapéu, enfim tudo que for possível, até mesmo colocarmos recursos dos próprios diretores. Só não desanimamos porque vemos os resultados e o prazer das crianças que atendemos.
Como é possível entrar em contato com a APASPI?
Quem quiser colaborar de alguma forma, é só entrar em contato através do telefone 34349947, Rua Dr. Alvim, 1464, Bairro São Dimas. Contatos com Saulo ou Denise. Existem muitas formas de contribuir, ser associado, adotar os custos relativos a uma criança. Pode contribuir com qualquer valor. Todas as crianças que atendemos são carentes, em função disso aceitamos doações de roupas, alimentos. Pessoas de posses buscam entidades especializadas, particulares. Há até casos em que a própria família omite a deficiência.
Você recebeu esta semana a Medalha Joaquim Monteiro de Carvalho, concedida pelo Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo, uma das mais raras e elevadas honrarias concedidas a um profissional. É motivo de jubilo para você e para Piracicaba.

Para mim foi uma surpresa! Não imaginava que alguém do Conselho Regional estivesse vendo e avaliando o trabalho que nós fizemos em mais de 20 anos como Conselheiro. No Estado de São Paulo temos 150.000 profissionais de contabilidade. Neste ano foram concedidas duas medalhas, tive a honra de ser um dos ganhadores. Joaquim Monteiro de Carvalho foi um dos fundadores do Conselho de Contabilidade, um profissional emérito, dedicado. Essa medalha é dada por relevantes serviços prestados à classe contábil. Recebi essa medalha no Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo em uma sessão plenária com mais de 300 pessoas, líderes das mais variadas áreas contábeis e de todo o Estado de São Paulo. 

domingo, janeiro 15, 2017

EUGENIO MORATO DE JESUS (MESTRE GENINHO)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de dezembro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 


ENTREVISTADO:EUGENIO MORATO DE JESUS

                      MESTRE GENINHO

Eugenio Morato de Jesus nasceu em Piracicaba a 14 de fevereiro de 1959, filho único de Benedito Osvaldo Morato de Jesus e Sebastiana Candido Morato de Jesus. Mestre Geninho é Educador de Capoeira, iniciou o estudo da capoeira em 1977, isso há 39 anos, formado por Claudival da Costa, o Mestre Cosmo. É sobrinho, pelo lado materno, de uma das mais expressivas figuras da cultura popular piracicabana: Antonio Candido, o lendário Parafuso, cantador de cururu, cujos feitos levaram a designar uma praça em seu nome, a Praça Parafuso. Geninho tem a veia cultural da família: toca cavaquinho, violão, berimbau (o qual afina com uma precisão fantástica). Canta Musicas de Capoeira, Maculelê, Samba de Roda. É um entusiasta e um estudioso da nossa cultura. É diretor vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de Piracicaba, Limeira e Região, membro do Conselho Fiscal da Federação dos Gráficos, filiado a Força Sindical. Filiado ao CONESPI de Piracicaba – Conselho Sindical de Piracicaba. Eugenio Morato de Jesus é mestre de capoeira, conhecido no meio como Mestre Geninho.
Você nasceu em que local?
Nasci na Vila Rezende, na casa onde moro até hoje. Com o passar do tempo fomos ampliando-a, no início era uma casa de três cômodos, em frente havia uma valeta onde quando era criança brincávamos. Mais abaixo havia um campo de futebol, onde jogávamos. Naquele tempo era muito comum, as crianças procurarem em terrenos, ruas, locais públicos, pedaços de ferro, que vendíamos aos depósitos de ferro velho. Os pequenos pedaços de ferro eram descartados, não eram valorizados, só que juntávamos e com isso conseguíamos alguns trocados. Não é como hoje que há reciclagem de forma seletiva.
Em que escola você estudou?
Estudei no Grupo Escolar José Romão, até o quarto ano. Era comum naquela época, ao completar o quarto ano primário, parar de estudar e ir trabalhar.
Em que local você foi trabalhar?
Fui trabalhar na fábrica Modesto Filho, que fazia pés de cadeira, ficava onde é hoje o bairro Nova Piracicaba, ali só havia aquela empresa, o resto era praticamente só mato. A Praça Parafuso era só mato, depois fizeram um campo de futebol. Ali moravam muitos tiroleses. Há uma série de casas de etilo semelhantes, foram construídas bem depois. Aqui, onde hoje é a Avenida Manoel Conceição, era tudo mato. Nós chamávamos de “roizá”, era um mato alto que ia até a beira do Rio Piracicaba. Aonde hoje é a loja Nhô Quim Pneus havia um pasto com muitos cavalos. Nós íamos soltar pipa no pasto. No quarteirão onde moro havia a casa do Seu Mingo Durante aonde vinha muitos boiadeiros que negociavam cavalos, eles se encontravam muito aqui.
Qual era a atividade do seu pai?
Meu pai trabalhou na Usina Costa Pinto, no Engenho Central, com a movimentação de sacaria de açúcar. Trabalhava como “saqueiro”com sacos de 70 quilos. Tinha dias em que eu levava almoço pra ele dentro de uma cestinha de bambu aqui no Engenho Central. Eu não podia entrar no Engenho, chegava na porteira e entregava. Lembro-me do trenzinho que havia lá, meu padrinho, Caio Prado, foi maquinista. Na Avenida Rui Barbosa tinha o bonde. Aqui onde morávamos quando chovia a água descia com violência.
E a famosa “Bimboca” fica em que local?   
Ficava mais acima, de seis a sete quarteirões, em direção a pista que liga Piracicaba a Águas de São Pedro. Lá pelos lados do Areião ficava a casa do meu tio Parafuso. Este ano ela foi derrubada, era uma casa antiga de telhado muito alto.
Você guarda lembranças do seu tio famoso?
Antonio Cândido, conhecido pelo nome artístico de Parafuso, era filho de Felício Candido e Lázara Cândido. Nasceu a 19 de fevereiro de 1920 no Distrito de Recreio, município de Piracicaba, começou a cantar cururu aos 18 anos. Casou-se por três vezes e teve 22 filhos. Trabalhou no Engenho Central  de Piracicaba onde aposentou-se. Além de cantor de cururu Parafuso tinha grande capacidade de comunicação, conseguia manter o publico atento aos seus trejeitos e comicidades. Calcula-se que apresentou-se mas de 1.000 vezes. Cantou em toda a região do Médio Tietê e também fez apresentações no Rio de Janeiro e Minas Gerais. Parafuso faleceu a 2 de dezembro de 1973, aos 56 anos. No auge da fama entre as décadas de 60 e 70, Parafuso participou de gravação de LPs, cantando com Horácio Neto e Nhô Chico, dois grandes parceiros de cantoria.

                                                                        PARAFUSO

Mestre Geninho, como começou a trabalhar em que local?
Fui trabalhar na empresa Modesto Filho, fazia pés de cadeiras a seguir fui trabalhar na Coopersucar, como ajudante geral.  Permaneci lá por uns cinco anos, quando estava já com três anos de trabalho, o gerente colocou-me para trabalhar no moinho, onde eu ligava e desligava de dezoito a vinte chaves. Era um pessoal muito bom onde fiz muitas amizades. Havia muitas pessoas do bairro rural de Santana que trabalhavam na Coopersucar. Quando sai da Coopersucar fui trabalhar como metalúrgico na Trevelin, comecei como ajudante, passei a soldador, fazia caçambas de caminhões. Permaneci lá por uns cinco anos. A seguir fui trabalhar como gráfico.
Como você entrou para o setor gráfico?
Lembro-me que uma vez fizemos uma apresentação de capoeira, no Bairro Cidade Jardim. Fui convidado pelo proprietário da Gráfica Kelly situada na Rua Treze de Maio, para ir trabalhar lá. Colocaram-me para fazer pacotinhos, fazer entregas com a bicicleta, com o passar do tempo colocaram-me para fazer as composições das letras, cada palavra era montada letra por letra, havia o tipo que dava o espaço, pontuação. Era uma verdadeira arte. Conforme o tamanho da letra usava o que era chamado de corpo. O texto era montado em uma caixa de madeira, uma espécie de gaveta de laterais mais baixas. O trabalho de montagem das chapas era dos tipógrafos. Tinha um esquadro de ferro que apertava os tipos para permanecerem firmes. Colocava os tipos com texto na máquina Minerva, descia o rolo com tinta na chapa, tirava a prova, era feita a leitura, o tipógrafo fazia alguma correção que fosse necessária, depois fazíamos a impressão.
Imprimia-se uma cor apenas?
Podíamos imprimir em várias cores. Por exemplo, imprimia em preto, depois limpava o rolo da máquina com thinner ou gasolina, limpava o tinteiro para colocar outra cor.
Nessa época você já era casado?
Casei com 27 anos, na Igreja Matriz Imaculada Conceição, o celebrante foi o Padre Jorge. Casei-me no dia do meu aniversário, 14 de fevereiro de 1987. A minha esposa é mineira, de Poços de Caldas chama-se Ana Maria Siqueira Morato de Jesus, temos dois filhos: Marcelo e Marília. 
Naquela época gráfica era um bom emprego?
Havia uma disputa por bons funcionários. Trabalhei uns quatro anos com Avary Perches em sua gráfica. Era um serviço seleto, não era qualquer pessoa que se tornava gráfico. Geralmente os gráficos tinham um bom salário. Eu trabalhei em gráfica até 1998, eu trabalhava na Copel, a gráfica do Seu Carlos. Por volta do ano 2000 fui chamado para trabalhar no Sindicato dos Gráficos, situado a Rua Antonio Bacchi, 1820. Por coincidência o pai da minha esposa, foi o fundador do sindicato como Associação dos Gráficos e que hoje é denominado Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de Piracicaba, Limeira e Região. Fui presidente, atualmente sou diretor.
Quando você começou a “jogar” capoeira?
Eu tinha uns 12 a 14 anos aqui na Vila Rezende havia um negro que nós o chamávamos de “Prefeito”. Não havia academia, mas eles brincavam de capoeira. Na rua sem uniforme, sem nada. Eu ia ao  Club de Regatas de Piracicaba. Ali tinha uma pessoa a quem chamávamos “Mestre João do Regatas Capoeira”, era branco com tez bronzeada, ou como dizíamos, “um branco moreno”.  Ele dava aula no Club Regatas. Lembro-me que na camisa estava escrito: “Capoeira Oxossi”. Isso foi por volta de 1974,1975, o Seu João mantinha a cultura e educava através da capoeira.


                            INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA "JOGAR" CAPOEIRA



                                        Capoeira - Instruments - Berimbau

O que o seduziu na capoeira?
Os movimentos, o som do berimbau.
Algum dia você utilizou a capoeira para defesa pessoal?
Graças a Deus não! Estudamos o exercício da capoeira, os toques do berimbau, as cantigas.



Capoeira é uma dança?
É uma dança, um esporte, um elemento faz uma armada outro faz uma tesoura, tem muitas composições de movimentos. A capoeira pode também ser uma prática mortal, uma das suas variáveis é o capoerista que prende uma navalha entre os dedos dos pés e desfecha golpes fatais. O Mestre Cosmo nos orientava sobre essa prática, sem, contudo que ela fosse utilizada. Cosmo era o cognome de Claudival da Costa, ele morava no São Dimas, depois adquiriu uma casa no CECAP. Trabalhou na Prefeitura, no Teatro Municipal, após o Club Regatas de Piracicaba, do Mestre João, de quem Cosmo era aluno, veio o Grupo Cativeiro, foi evoluindo e nós começamos com o Cosmo, por volta de 1976 tinha academia no CALQ – Centro Acadêmico Luiz de Queiroz a Rua Voluntários da Pátria entre a Rua do Rosário e Rua Tiradentes. O Cosmo tinha uma grande coordenação de movimentos.
Há uma hierarquia, conforme o grau de aperfeiçoamento do capoerista, ela é simbolizada por cordões, qual é essa ordem do principiante até o grau máximo?
Não ha necessariamente um padrão nacional para os cordões, eles variam de grupos para grupos, cada grupo faz da maneira que concebe. Quando fundamos o nosso grupo de capoeira pegamos um padrão de graduação igual ao da Confederação Paulista de Capoeira. A graduação infantil, de 13 a 14 anos segue verde e laranja, amarelo e laranja, azul e laranja, marrom e laranja, amarelo, azul e laranja, laranja.  A criança dos 13 aos 14 anos não irá alcançar aquele que tem 15 anos. Essa criança ficará formada muito jovem. Ela tem que passar por um processo de amadurecimento natural. Após os 15 anos irá começar o verde, o amarelo, o azul, o verde e amarelo, o verde e azul, o amarelo e azul, o verde, amarelo e azul, quando ele atingir os 18 anos ele estará alcançando o monitor, verde e branco, depois ele com 23 anos irá alcançar amarelo e branco, como professor, com mais de 32 anos de idade será contra-mestre, usando o cordão azul e branco, mestre que é o cordão branco ele irá recebe com 40 anos ou mais, o cordão branco com lacre bronze irá receber com 45 anos de idade, o branco lacre prata com 50 anos de idade, o branco com lacre ouro aos 55 anos de idade. Eu tenho 57 anos, sou branco com lacre ouro. Essa graduação foi feita para que o desenvolvimento do esporte acompanhe o amadurecimento da personalidade do jovem. Se não existir uma regra nesse formato, pode ocorrer de um jovem de 18 anos queira ser um mestre de capoeira, só que o amadurecimento pessoal dele ainda não estará preparado para exercer a função de mestre. A capoeira é sábia ao conceder os graus conforme ocorre a maturidade do praticante.
Qual é o limite de idade para praticar a capoeira?
O Celso Alexandre Máximo, Celsinho, tem 5 anos, o Cauã Mathias tem 9 anos, o Adrian 10 anos, o Vitor 9 anos,  o David 15 anos, o Daniel 13 anos, o Natan 7 anos, o Rafael 11 anos, fora os meuá alunos formados que tem mais de 30, 40 anos de idade.  O Gabriel deve ter uns 63 anos. Com 65 anos temos o Pereira, ambos ainda jogando capoeira, isso aqui em Piracicaba. Temos um grupo, a Associação de Capoeira Engenho Central. No meu entender, o melhor capoerista é aquele que tem sabedoria para entender e mostrar por exemplos a sua razão. Não é o que usa da violência para se impor.
Uma pessoa, com algumas décadas de vida, que não tenha tido uma existência voltada ao esporte, ele pode praticar capoeira?
Nesse cão iremos agir de forma diferenciada, será praticada a capoterapia!  Eu fiz um curso com o Mestre Giovan, aonde foi abordado o tema. Nós, com mais idade já não jogamos capoeira. Nós dançamos a capoeira. Isso não significa que muitos mestres já praticantes não continuem a jogar capoeira com extrema habilidade. Se iniciarmos com uma pessoa mais idosa, vamos ensinar os movimentos quase dançando, para não forçar o organismo. Passa a ser quase uma dança, para o organismo fazer movimentos.
Atualmente, o seu trabalho na capoeira é como um educador?
Exatamente! Eu ensino o exercício da capoeira, as cantigas, com escala musical, berimbau.
Mestre Geninho, entre suas habilidades uma delas é a composição de cantigas de capoeira, além de tocar e afinar todos os instrumentos, já há algumas músicas de sua autoria a serem lançadas?
Tenho as musicas que apresentei a você, são inéditas, compostas por mim. Do meu tio Parafuso devo ter herdado o improviso, que foi o que fizemos logo no inicio da nossa entrevista, onde em sua homenagem fiz uma musica de improviso. Considero-me com diversas habilidades, todas conquistadas com estudo e dedicação. Posso afinar o berimbau de forma tradicional ou através de um aparelho eletrônico. (Nesse instante Mestre Geninho faz a demonstração de como se afina um berimbau das duas formas).



Como era o seu tio Parafuso?
Ele vinha aqui na cozinha, minha mãe alisava o cabelo dele. Conheci Pedro Chiquito, cresci os vendo cantarem. Assim como Nhô Serra, Zico Moreira, Horácio Neto, Jonata Neto.
Você tem algum projeto para a Praça Parafuso?
Tenho vontade de fazer pelo menos uma vez por ano uma homenagem ao Parafuso, montar na praça que leva o seu nome, trazer cururu, sertanejo, capoeira, samba de roda, fazer um evento cultural, dinamizar essa praça. Nossas crianças necessitam conhecer essa cultura antes que ela se vá sem deixar nenhuma lembrança. Existe muita coisa que infelizmente a internet não tem.
Quando será feito esse evento?

Tenho que montar e obter a aprovação da Ação Cultural Municipal. 




                                A CAPOEIRA
A Capoeira, é uma das manifestações culturais mais importantes do Brasil. Surgida do encontro, em terras brasileiras, principalmente das culturas do índio, do negro e do português, tornou-se um dos mais importantes símbolos do Brasil. Trata-se de uma das manifestações culturais da corporeidade humana, a qual é baseada em um diálogo corporal, no qual terá maior destaque o jogador que fizer mais perguntar corporais do que as respostas corporais obtidas, ou então aquele capaz de apresentar mais argumentos corporais do que as perguntas corporais que lhe foram feitas. Neste diálogo entrarão em jogo os braços, as pernas, a cabeça e os jeitos corpo. A primeira citação do vocábulo foi feita pelo Padre Fernão Cardim em 1577. Tende-se a acreditar que o vocábulo, de origem indígena Tupi, tenha servido para designar negros quilombolas como “negros das capoeiras”, posteriormente, como “negros capoeiras” e finalmente apenas como “capoeiras”. Cabe ressaltar, que nunca houve nenhum registro da Capoeira em qualquer quilombo. Dizem  também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento,motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Viam os negros escravos como o ‘amotinado’ se defendia quando era atacado por 4 ou 5 homens, e aprenderam seus movimentos, aperfeiçoando-os e desdobrando-os em outros dando a cada um o seu nome próprio. Como não dispunham de armas para sua defesa uma vez atacados por numeroso grupo defendiam-se por meio da ‘capoeiragem’, não raro deixando estendidos por uma cabeçada ou uma rasteira, dois ou três de seus perseguidores. Em 1.808 chega ao Brasil D. João VI e sua corte, fugidos das tropas
napoleônicas que então dominavam a Europa. Temendo ser liquidado por espiões estrangeiros ou por alguma represália por parte dos escravos ou provocada por capoeiristas, ou ainda temendo que intrigas feitas por descontentes que o levassem a uma situação desfavorável, procurou o imperador dar uma nova estrutura a polícia aumentando sua segurança e a da Cidade do Rio de Janeiro, na época Capital do Brasil, o que se deu através do Alvará de 10 de maio de 1.808, criando a Intendência Geral de Polícia, que foi baseada nos mesmos moldes da organizada pelo Marques de Pombal em Portugal, sendo nomeado primeiro intendente o desembargador Paulo Fernandes Viana, que tratou logo de organizar uma secretaria de polícia, para facilitar a expansão de seu programa de realizações. Fruto deste trabalho foi criada a Guarda Real de Polícia, que foi originada pelo Decreto de 13 de maio de 1.809 e cuja direção foi confiada ao Major Miguel Nunes Vidigal, que se tornou um célebre combatente dos capoeiristas, causando-lhes um verdadeiro terror, mesmo porque também era uma capoeirista. Segundo nos afirmam Barreto Filho e Lima “era um homem alto, gordo,do calibre de um granadeiro, moleirão, de fala abemolada, mas um capoeira habilidoso, de sangue frio, e de uma agilidade a toda prova, respeitado pelos mais temíveis capangas de sua época. Jogava maravilhosamente o pau, a faca, o murro e a navalha, sendo que nos golpes de cabeça e pés, era um todo inexcedível8. Esta riquíssima narrativa nos aponta para o fato de que a capoeiragem, já fazia parte da sociedade branca e era utilizada em iguais condições para reprimir aqueles que não se enquadravam no modelo social dominante. “Parecia estar em toda parte, com seus granadeiros, armados de longos chicotes. Protegidos pela distância que mantinham dos capoeiras, podiam atingi-los a salvo. Chegava, inesperadamente,aos quilombos, rodas de samba e candomblés, arrebentando tudo e todos que encontrava. Aos capoeiras, que foram sua mira principal, reservava um tratamento especial, uma espécie de surras e torturas a que chamava de ‘ceia dos camarões’” .
A arma comum dos capoeiras, na época, era a temível navalha, a qual manejavam com a mais absoluta destreza, e em virtude disto, usavam um lenço de seda pura em torno do pescoço como precaução para se defenderem, sabido que a mesma embota o fio da navalha. Com a Guerra do Paraguai, o Império viu-se na contingência de formar batalhões específicos de negros, em sua grande maioria, capoeiristas. Sendo assim, entre 1865 e 1886, os governos provinciais fizeram seguir para a frente de batalha, grande número de capoeiristas, em batalhões específicos denominados Zuavos. Se por um lado o objetivo era reduzir sensivelmente o número de capoeiristas, por outro conseguiram tornar a modalidade uma Arte Marcial, posto ser este um título que usualmente é conquistado por alguma forma de luta que tenha passado por uma experiência de guerra. Alguns capoeiras chegaram a ser oficiais do Exército e da Marinha, por seus atos de bravura, e recebendo a comenda da Ordem do Cruzeiro, como foi o caso do Capitão Cezário Álvaro da Costa do 7º Batalhão de Caçadores. Outro exemplo também é o do Alferes Francisco de Melo do 9º Batalhão de Caçadores que com bravura se destacou na Batalha do Riachuelo, juntamente com outros companheiros, como foi o caso do “Príncipe Oba II, Cândido Fonseca Galvão, um negro que se tornou Alferes do Batalhão de Zuavos e depois encarnou o papel de monarca dos negros e negras da Corte, exibindo seus conhecimentos de figuras deproa da vida do Império, se identificando com o Partido Conservador, e chegando adesfrutar da amizade do próprio Imperador Pedro II.

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