domingo, março 25, 2018

ANTONIO COSTA GALVÃO E THEREZA ANGÉLICA MARINO GALVÃO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 03 de março de 2018.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/







ENTREVISTADOS: ANTONIO COSTA GALVÃO
     E THEREZA ANGÉLICA MARINO GALVÃO

 

Antonio Costa Galvão nasceu a 9 de novembro de 1923 em Itu,  filho de Silvino Costa Galvão e Tereza Marques Galvão que tiveram os filhos Sebastião, Valter, Cilza, José Maria (Juquinha) e Antonio. Ficou órfão de mãe aos 2 anos e seu pai faleceu quando Antonio tinha 7 anos.

Quem cuidou do senhor quando perdeu os pais?

Nas férias escolares o meu pai me levou para passear em Santo Amaro na casa do meu padrinho Manoel Severino, enquanto eu estava lá ele faleceu em Itu. Meu padrinho passou a tomar conta de mim. Passei a freqüentar o Grupo Escolar Paulo Eiró. Permaneci morando com meu padrinho até os 10 a 12 anos. Eles já tinham uma idade mais avançada, e eu era um garoto muito ativo. Minha irmã Cilza, que fez o magistério em São Paulo me trouxe para morar em Palmital. Permanecemos alguns anos em Palmital, até que ela veio lecionar em Santa Cruz do Rio Pardo, ela casou-se. Um amigo da família, Odilon Bueno e sua esposa me receberam em sua casa. Passei a freqüentar o Colégio Rio Branco, em São Paulo, isso foi por volta de 1937,1938.Terminei os estudos no Rio Branco fiz um ano de cursinho e entrei na Universidade Mackenzie em 1950, me formei em 1954 como Engenheiro Civil. Fiz o CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) de onde sai como Segundo Tenente. O quartel ficava no centro de São Paulo, próximo ao Parque D.Pedro II. Era para eu ter ido para a FEB  Força Expedicionária Brasileira, para lutar na Segunda Guerra, na Itália, o fato de estar fazendo o CPOR impediu que eu fosse para a Itália. Conhecendo a minha vida nota-se que sempre teve a presença de Deus.

Na época em que o senhor estudava já trabalhava?

Para estudar eu trabalhava, lecionava, fazia pequenos serviços, trabalhei no Sindicato dos Alfaiates de São Paulo, situado a Rua Libero Badaró esquina com a Avenida São João. Era escriturário. Morei na Rua 7 de abril, foi no tempo em que fiz o CPOR. Morava em pensão. Aos domingos ia à missa na Igreja Consolação. Nessa época a USP tinha a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras na Rua Maria Antonia, sempre houve uma divergência com o pessoal do Mackenzie.

Após formar-se como Engenheiro Civil onde foi o seu primeiro emprego?

Fui trabalhar na Prefeitura de Santo Amaro. Naquela época o hoje bairro Santo Amaro era outro município. Ia trabalhar de bonde, era uma viagem, saia da Conselheiro Brotero segui em direção a Santo Amaro, naquele tempo chamavam Estação Indianópolis,Estação Moema, Estação Brooklin, não me lembro exatamente o tempo que demorava para chegar a Santo Amaro, mas era próximo a uma hora. Tinha o bonde aberto e o bonde fechado, denominado “Camarão” por causa da sua cor vermelha.  Não permaneci muito tempo na prefeitura. Fui trabalhar em uma empresa de fundações a S/A. Sociedade Brasileira de Fundações (SOBRAF), o escritório ficava na Rua Libero Badaró. Às vezes ia ao Restaurante Brahma, na Avenida Ipiranga esquina com a Avenida São João, tinha uma exímia violinista. Ia a um concerto na Gazeta, que ficava na Rua Florêncio de Abreu. Na SOBRAF fui tomar conta de uma fábrica de bate estacas, estacas de prédio. Fiquei lá algum tempo, até que o Dr. Lorena que era o proprietário estava com uma obra de expansão da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda, fui enviado para lá, Eu tinha que tomar conta de 400 funcionários. Tinha a estrutura do Núcleo de Expansão da Usina (NEU) que dava suporte. Tinha que fazer as fundações do novo alto forno, era uma obra pesada.

Tinha assessoria estrangeira?  

Tinha orientação norte-americana.

Após trabalhar na SOBRF qual foi a próxima empresa que o senhor trabalhou?

Trabalhei na Construtora Mauá, em São Paulo. Morei 2 anos em Campinas construindo os laboratórios da Rhodia.

Quando o senhor conheceu a sua esposa?

Quando eu trabalhava em Volta Redonda, vim para São Paulo, e tinha uma família amiga, fui visitá-la, foi quando conheci a Thereza que estava com suas amigas. Em seis meses namoramos e casamos. Estamos 63 anos juntos!

Da. Thereza Angélica Marino Galvão a senhora nasceu em que cidade?

Nasci a 6 de abril de 1933, em Rio das Pedras, fiz o curso primário no Grupo Escolar Barão de Serra Negra, com 11 anos fui estudar no Colégio Assunção, em Piracicaba. Meu pai é Nicolau Marino, foi prefeito de Rio das Pedras, a avenida que vai para o bairro Nosso Teto chama-se Nicolau Marino em sua homenagem, minha mãe é Luca Marino, minha mãe era de São Paulo e o meu pai era italiano, veio da Itália com nove anos ele também estudou no Grupo Escolar Barão de Serra Negra. O meu avô Donato Marino veio da Itália, da região de Potenza, deixou a minha avó na Itália com três filhos, quando ele se estabeleceu aqui foi buscar a minha avó. Aqui em Rio das Pedras ele teve comércio. No inicio ele era mascate. Ele não veio chamado pelo governo para trabalhar na lavoura, veio com recurso próprio. Primeiro ele parou no Rio de Janeiro,  ficou sabendo de Rio das Pedras e veio para cá. Estabeleceu-se com um armazém de secos e molhados, na Rua Rangel Pestana, tradicionalmente conhecida como Rua Torta, era a rua principal da cidade. Ai ele foi buscar vovó Maria Carmela Marino, meu pai, Nicola, que aqui passou a ser chamado como Nicolau. Veio a minha tia Rosa Marino que se casou com Paschoal Limongi. Veio também minha outra tia, Vicentina. E sete dos meus tios nasceram em Rio das Pedras. Tiveram no total 10 filhos: Nicola, Rosa, Vicentina, Antonio, Vicente, Elvira, Maria Thereza, Aurora, Miguel, Américo. Meus tios foram estudar no Dante Alighieri, só meu pai que não foi. As áreas do cemitério, do clube, da praça central, da igreja, foram doadas pelo meu pai. Quando o meu pai chegou aqui só existia uma igreja pequenininha, não era a atual. Rio das Pedras tinha uma rua só, o resto era sítio, fazenda. Onde hoje é o bairro São Cristóvão era a Fazenda Fortaleza, uma das propriedades do meu avô. Meu avô naturalizou-se brasileiro. Meu pai permaneceu com a nacionalidade italiana, o que lhe causou alguns aborrecimentos na época da Segunda Guerra Mundial. Para viajar precisava de salvo-conduto. Não era permitido ouvir rádio, nosso rádio foi confiscado. O clube era uma sociedade formada por italianos, era denominada Societá Patria e Lavoro mudaram para Cultural Riopedrense. Com o fim da guerra muita coisa mudou, meu pai chegou a ser prefeito de Rio das Pedras, o clube que ele fundou rendeu-lhe uma homenagem. Minhas tias foram para o Colégio Assunção em Piracicaba. Fui também para o Colégio Assunção onde permaneci por 7 anos, de 1945 a 1952. Formei-me como professora. Ficava interna, naquela época não tinha estrada, meu pai tinha um Fordinho 1929! Tinha que colocar correntes nos pneus, por causa do barro. Perto da Caninha da Roça tem um morro conhecido como Morro do Sarapião, a saída para Piracicaba era por ali, não existia a estrada Valério Pedro da Silveira Martins. Fui visitar uma ex-colega, Terezinha, que morava em São Paulo, nós nos formamos juntas, foi na casa dela que conheci o Galvão. Dei aula em São Paulo no Itaim-Bibi por dois anos, Escola Estadual Diva Maria B. Toledo na parte da manhã e a tarde no Colégio das Irmãs de São José, na Rua da Glória, no Cambuci.

O senhor se interessou de imediato pela Dona Thereza?

Conversamos na casa dos nossos amigos, estava a Terezinha, sua mãe, uma reunião social. Daí uns dias entrei de férias e fui para São Paulo, a Thereza morava na casa do seu avô materno, Sr. João Luca. As estradas eram precárias, de São Paulo à Piracicaba só até Jundiaí a estrada tinha calçamento, o resto era chão de terra, o pessoal de Rio das Pedras ia até a Estação Taquaral para tomar trem para São Paulo, pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro. A Sorocabana tinha que fazer baldeação (troca de trem) Era outra época.

O senhor lembra-se do dia em que se casou?

Foi dia 4 de maio de 1954! Na Igreja Imaculada Conceição, na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, próximo a Avenida Paulista.

Dona Thereza a senhora morava nas proximidades?

Morava na Brigadeiro Luiz Antonio, região dos Jardins, lembro-me das mansões da Avenida Paulista, da Madame Rosita, freqüentada pelas moças da família Matarazzo. Eu tinha uma tia, irmã da minha mãe, que costurava muito bem, ela que fez o meu enxoval, em Piracicaba tinha a Madame Georgina, que fazia os vestidos chiques.

Após casarem, foram morar em que cidade?

Lá em Volta Redonda, em um hotel. Naquela época Volta Redonda era bem dividida, quem era engenheiro da Siderúrgica tinha um bairro lindo, com casas lindas, outro bairro era dos operários. Nós que éramos empreiteiros tínhamos que morar no hotel. O nosso patrão pagava o hotel. Havia diversos casais nas mesmas condições, que também moravam no hotel. Em Volta Redonda tinha um bairro chamado Niterói, e tinha um pessoal que tinha condições de pagar o aluguel, que era caríssimo, no mesmo hotel tinha um casal, ele o engenheiro José Buschinelli de Rio Claro e a Maria Emilia, eles tinham casado em fevereiro e nós em maio, ela ficou grávida do primeiro filho e eu também, o quarto dela ficava no andar logo acima da cozinha, com isso ela teve muito enjôos, O José foi encontrar uma casa nesse bairro, do outro lado da ponte. Fomos morar juntos os dois casais, dividíamos todas as despesas, sempre fomos religiosos, eles eram muito religiosos, com eles aprendemos a rezar o terço como casal. Rezávamos juntos todas as noites. Ela era muito devota de Nossa Senhora de Fátima. Após seis meses a empresa nos mandou para o Rio de Janeiro.

Vocês tiveram quantos filhos?

Tivemos três filhos: José Célio, Antonio Carlos e Ana Thereza.

No Rio de Janeiro qual foi a atividade do senhor?

Fui tomar conta de uma obra na Gamboa, morava na Rua Siqueira Campos, em Copacabana. Do Rio voltamos para São Paulo, fomos morar no Boaçava, bairro entre a Lapa e Pinheiros, próximo a Rua Cerro Corá. A água era de poço, não tinha asfalto, era loteamento novo. Não havia a Avenida Marginal, foi no tempo em que construíram o CEASA. Já tinham retificado o curso do Rio Pinheiros. Eu trabalhava na Empresa Mauá. Fui convidado par construir um hospital de altíssimo padrão em Uberaba. Fomos morar em Uberaba por uns tempos. Nesse meio tempo eu havia feito uma sociedade com possivelmente o maior conhecedor de edificações hospitalares, Jarbas Karman. De lá nós voltamos, eu deixei a empresa porque tinha que ter recursos para expandir os negócios. Assim mesmo fui construir o Hospital São Jorge, no primeiro quarteirão da Avenida Consolação, junto a Avenida Paulista. Esse hospital não existe mais naquele local.  Construí um hospital na Rua Juriti, no bairro de Moema. Nesse meio tempo ajudei a construir a Igreja dos Frades Dominicanos no bairro da Saúde. Ficou muito bonita a igreja. Fui diretor de Obras do Clube Alto de Pinheiros, do Clube Paineiras do Morumby. Em Três Lagoas fui fazer a fundação de uma ponte sobre o Rio Sucuriú, a CESP estava construindo a ponte, eu morava em um hotel em Andradina.  Fiquei um ANP e pouco.

O senhor praticava algum esporte?

Jogava tênis. Fui destaque no jogo de xadrez no Mackenzie. Na época existia a MAC-MED entre Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz dos alunos da Faculdade de Medicina da USP e a Associação Atlética Acadêmica Horácio Lane dos alunos da Faculdade de Engenharia da Universidade Mackenzie. Eu jogava pelo Mackenzie. Hoje jogo com o computador. Faço algum trabalho no Word, Excel. Envio e recebo e-mails.

O senhor foi prefeito de Rio das Pedras em que ano?

Fui de 2001 a 2004.

É uma experiência boa?

Para mim e para a Thereza a experiência resulta hoje nas amizades, no conceito que o pessoal acha que nós temos.

Dona Thereza complementa:

O Galvão pegou a prefeitura em sérias dificuldades financeiras, ele não tinha vinculo com ninguém, conseguiu 19 pessoas comissionadas, fortaleceu os funcionários, conseguiu pagar as dividas fazer com que a prefeitura tivesse confiabilidade, quando entramos tinha uma única ambulância com o motor fundido! Precisamos colocar dinheiro do nosso bolso, a oficina de Rio das Pedras não aceitava consertar mais, a administração anterior não pagava. Não pagava farmácia. Tudo isso colocamos em ordem, fizemos muitas solicitações, somos do PSDB, foram pedidas mais ambulâncias, mais carros para a polícia, que na nossa gestão não chegou, toda a documentação exigida o Galvão teve que arrumar. Para poder pedir. Com essas 19 pessoas certas, técnicas, ele conseguiu. O prefeito sozinho não faz nada, ele precisa de pessoal técnico. E que os funcionários dediquem-se.

O senhor aposentou-se quando?

Aposentei com pouco mais de 50 anos. Vim para Rio das Pedras, construí um prédio, junto com um sócio, financiado por uma instituição financeira. Construí também o prédio onde funcionou por muitos anos a Padaria Cristal, foi a primeira vez que um bate estaca trabalhou na cidade. Construí a Igreja Mãe Rainha. Fiz o primeiro loteamento asfaltado da cidade.

O senhor veio para Rio das Pedras já aposentado.

Vim para cá para não fazer mais nada, fiz essas construções, acabaram me convidando para ser candidato, eu nem político não era. Tinha na igreja um grupo denominado Grupo de Apoio Político, o Padre Eugênio Broggio Neto me entusiasmou muito. Ganhei na segunda eleição em que concorri.

Como o senhor vê a Rio das Pedras de quando a conheceu e a Rio das Pedras atualmente?

Mudou muito! São épocas diferentes, não há como comparar. Rio das Pedras não era nem calçada. O Prefeito Gramani entre outras obras fez o encanamento, Como prefeito consegui tirar o esgoto do Ribeirão Tijuco Preto. Realizamos obras no sistema viário, demos inicio no Centro Pedagógico. O povo sempre me recebeu muito bem, sou cidadão riopedrense, sempre me senti muito bem aqui. E também a Thereza fez muita coisa pela parte social da cidade. O meu casamento com ela foi um presente de Deus.

Em Rio das Pedras tinha um cinema, a senhora lembra-se do nome dele?

Tinha sim, o Cine Ipiranga. Era do meu pai. Pela primeira vez Rio das Pedras tinha um cinema CinemaScope, foi feito com inclinação, papai trouxe um engenheiro de Piracicaba para fazer uma planta apropriada. Meu pai doou o prédio para a Igreja Católica, Fizemos pela cidade o que pudemos fazer e fizemos com amor. Pensando no povo, na melhoria da cidade.

 

segunda-feira, março 19, 2018

JOSÉ CARLOS GONZALEZ E CARLOS ALEXANDRE HENRIQUE


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de fevereiro de 2018

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADOS:JOSÉ CARLOS GONZALEZ E
CARLOS ALEXANDRE HENRIQUE
               Esporte Clube Vera Cruz


 

José Carlos Gonzalez nasceu em Piracicaba a 22 de novembro de 1951, filho de Armando Gonzalez e Maria de Lourdes Sampaio de Lima Gonzalez que tiveram os filhos: José Carlos, Rosangela e Alexandre, seu pai era cunhado de João Marchiori, que tinha empresa de ônibus. Aos 16 anos seu pai fazia a linha de ônibus de Piracicaba a Tietê, era estrada de terra, isso por volta de 1945 a 1948. Carlos Alexandre Henrique é piracicabano, nascido a 2 de outubro de 1978, casado com Elisabeth Afonso Carvalho,  pai de quatro filhos: André, Felipe, Carlos e Caio.

José Carlos Gonzalez, em que bairro a sua família morava?

Morávamos na Rua Tiradentes, 106, nasci ali, de onde sai com 26 anos de idade para casar com Maria da Conceição, tivemos dois filhos: Marcelo e Rafael. Fiz os meus primeiros estudos no Grupo Moraes Barros, até o quarto ano, no Grupo Escolar José Romão fiz o quinto ano, fui para o Colégio Imaculada Conceição, depois fiz a Faculdade de Comunicação na UNIMEP. O E.C. Vera Cruz ficava na Rua Tiradentes 180. Meu era vendedor de caminhão, assim como eu e meu irmão também somos vendedores de caminhões. Meu pai vendeu caminhões de todas as marcas, até passar a vender caminhões Mercedes-Benz. Meu pai trabalhou com o Pedrinho Fidélis da agência Ford, com Geni Totti, Zé Tietê. Eu mesmo tenho a assinatura na minha carteira profissional de Geneci Totti e de José Guirardo Fustaino (Zé Tietê). Fui vendedor do caminhão FNM (Fábrica Nacional de Motores), a revenda COMDASA ficava na Rua Governador Pedro de Toledo, em Campinas. O Geni Totti e o Zé venderam a COMDASA para o Grupo Comolatti, nessa época a IVECO comprou a FNM. Eu vim para Piracicaba onde eles abriram a Auto GT, passei a vender caminhões IVECO. Eu visitava todas as cidades ao longo Rodovia Washington Luiz inteira.


Você chegou a dirigir o caminhão FNM?

Dirigi. As marchas não eram sincronizadas (câmbio seco), tinha 4 marchas à frente e a ré. Para engatar a marcha com as "caixas secas" o processo era realmente bem difícil, porque você tinha que conhecer o motor. Para trocar a marcha, você tinha que acertar o tempo certo. Nesse "tempo certo" era o momento que a caixa ficava leve e aceitava qualquer tipo de marcha, se você errar esse tempo, e forçar a entrada da marcha, você poderia arrebentar a caixa de marchas ou o diferencial. Eram tempos de estradas de terra, um caminhão andava a 60 quilômetros por hora. Hoje temos caminhões Mercedes-Bens que ao aproximar-se 100 metros do veículo da frente ele já corta o fornecimento de óleo diesel, se pisar no acelerador ele não acelera. A 60 metros ele começa a frear aos 20 metros de distância do veículo da frente ele trava no freio, sozinho. Já está no mercado brasileiro. Eu vendia caminhões novos até 1988, ai fui trabalhar com o Chico Tietê, irmão do Zé Tietê e aprendi sobre caminhões usados. Hoje faz 22 anos que administro três grandes lojas de revenda de caminhões usados. Já cheguei a ir a Brasília e comprar 22 caminhões Mercedes-Benz, cavalo e carreta, em um único dia, viemos em 22 motoristas até a Pirasa.


Qual é a sua percepção do futuro?

Tenho muita confiança no futuro, mais do que tinha no passado, hoje temos como conhecer de forma mais realista o que no passado passava-se de forma oculta ou despercebida.

Em que área o senhor trabalha Carlos Alexandre Henrique?

Sou metalúrgico, trabalho na área de usinagem.

José Carlos Gonzalez qual é a sua paixão?

Tenho duas paixões: caminhão e o Esporte Clube Vera Cruz. Sábado a tarde vou viajar a trabalho. Domingo pela manhã estarei no Vera Cruz. O meu pai já era dirigente do Vera Cruz.

Onde fica a sede do Vera Cruz?

A sede do Vera Cruz era na Rua Tiradentes, em um bar, esse bar foi vendido, o novo proprietário disse ser torcedor do MAF, pintou a parede, descaracterizando ser Vera Cruz, e mandou tirar os troféus. Tivemos uma grande diretoria que voltou ao Vera Cruz por 12 anos, infelizmente 8 diretores já faleceram. O Esporte |Clube Vera Cruz foi fundado em 1950, filiado a Federação Paulista de Futebol em 2 de fevereiro de 1954. Em 1955,1956 e 1957 disputou a terceira divisão, sendo que no final de 1957 ia decidir o título contra o Lampianinho de Osasco. O Vera Cruz voltou para o amador por questões financeiras. Naquele tempo os jogadores iam jogar de taxi: Simca; Aero-Willys.


Tem algum nome que se projetou a partir do Vera Cruz?

Nos anos 50 o Wilson Bauru que foi para o Noroeste de Bauru, Fluminense e para o Olympique Lyonnais, conhecido como Lyon, na França. Ele vinha de tempos em tempos para a Rua Tiradentes, sempre acompanhado de francesa. Devido a ele fizemos por cinco anos seguidos excursões para o Paraná e Santa Catarina. Outros nomes que se projetaram no Vera foram Gatãozinho, Tatau, Armando Mala, Milu, são muitos.


E sempre qual o campo que vocês utilizavam em Piracicaba?

Nunca tivemos campo! Sempre a reunião era na Rua Tiradentes com a Rua Cristiano  Cleopath. No inicio era na esquina, depois veio para o bar que ficava no meio da quadra, na Rua Tiradentes a 50 metros da Rua Cristiano  Cleopath. Jogamos com o MAF, Palmeirinhas, Jaraguá, Costa Pinto, São Francisco, Lusitano, Santa Terezinha, São João da Montanha, jogamos amistosos com o time da Agronomia, o “A” encarnado, são tantos times. Conquistamos muitos troféus, cinco vezes troféu amador, quatro vezes campeões da taça Cidade de Piracicaba, duas vezes da Copa dos Campeões, que só teve duas edições, a terceira irá começar em março, e duas vêzes campeão varzeano.Vice temos muitos. Isso de 12 nos para cá.

Qual é a idade mínima necessária para ingressar no Vera Cruz?

A partir de oito anos, na categoria Dente de Leite.

Qual é a importância do futebol para a criança, para o adolescente?

Hoje estamos baseados no Bairro Algodoal, eles não tem outra diversão. Esse campo tem história. O Vera Cruz e a escola de samba ao que parece foi a Zoom-Zoom, se uniram e entregamos uma carta aberta em cada casa de Piracicaba, fizemos a campanha do prefeito eleito Adilson Benedito Maluf. Tudo foi feito de forma muito organizada, com mapa da cidade, cada veículo levando quatro a cinco pessoas. Até então jogávamos no campo da Vila Boyes. O Adilson cedeu em comodato por 51 anos um terreno de 39.000 metros na Rua Emilio Bertozzi, 1616, paralela a Rodovia Piracicaba a São Pedro, quilometro 1. Tem uma arquibancada de madeira para umas 200 pessoas. Mario Scarpari, Antonio Scarpari, Antonio Cera, João Pavan, Rubens Spolidoro, João Sturion, me incentivaram a assumir a presidência que eles ajudariam. Montamos uma diretora. Pagamos os impostos atrasados, e começamos a jogar. Hoje o presidente é Adriano Cardoso Figueiredo, o vice-presidente é Carlos Alexandre Henrique, O diretor de esportes é Germano Lacerda. Estou passando aos poucos o Vera Cruz para o comando dos moradores do Algodoal. Da “cidade” (outro lado do Rio Piracicaba) só tem eu mesmo. Sei que tem muitos torcedores para o lado de cá, mas dirigentes não tem nenhum.

O uniforme manteve sempre as mesmas cores?

Branco, preto e vermelho. O uniforme que esta sendo usado é fornecido pela Selam (Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Atividades Motoras)

Quantos clubes amadores de futebol têm em Piracicaba?

No ano passado foram 30. Ficamos em quarto lugar. O futebol corre pela periferia. Não é tão divulgado como deveria ser. Se incluirmos o futebol varzeano passa de noventa times. O grande incentivador do esporte Dinival Tibério tem mais uns 60 times cadastrados. Hoje temos mais de 40 jogadores profissionais disputando campeonatos. Nunca passaram pelo XV de Novembro! Não posso afirmar com certeza, mas o lateral esquerdo que fez o gol no São Paulo Futebol Clube em 17 de janeiro deste ano é do bairro Tanquinho! Já disse ao Secretário Municipal Pedro Mello: fazemos 20 times da periferia, de 15 a 17 anos, de 17 a 19, abrangendo os bairros Novo Horizonte, Vila Real, Vila Fátima, a SELAM fornecendo pelo menos o juiz que é caro, montamos o time do XV de Novembro em 5 anos.

O que falta ao XV de Novembro?

Como não estou lá dentro eu não sei. No inicio coloquei quatro garotos jogando no XV, um lateral direito, um meia direita, um ponta esquerda, e mais um , o XV veio me pedir para pagar a passagem de ônibus para eles irem treinar e voltarem do treino. Por um tempo eu paguei. Faltam incentivos ao futebol amador de Piracicaba. Para o futebol das categorias menores. Em 2016 o sub-9 nosso ficou em terceiro lugar, junto com o Clube de Campo, Atlético, Sindicado dos Metalúrgicos, Cristóvão Colombo, Educando Pelo Esporte. Em 2016 ficamos campeões da Liga Piracicabana sub-15.

Carlos Alexandre Henrique em que posição você joga?

Eu jogava como ponta esquerda, mas parei! Estou pensando em voltar a jogar pelos Veteranos. Nossa intenção é integrar as gerações, que os jogadores façam novas amizades. Com uma disputa leal.


José Carlos Gonzalez, a diretoria influencia na conduta do time?

Não resta dúvida! O Bosque do Lenheiro jogou os seus três primeiros jogo com o nosso uniforme, emprestado! Temos sempre quatro a cinco jogadores do Bosque do Lenheiro na nossa equipe. Nos últimos três anos eles têm um time.

Há uma tendência, quase natural, de se colocar rótulos. Quem mora em bairro “X” age de certa forma. Quem mora em bairro “Y” age de outra forma, isso dificulta a integração?

Hoje o melhor jogador nosso é do Jardim Gilda. Hoje ele trabalha em uma grande empresa multinacional, há um empresário que está convidando-o para seguir carreira no futebol. Nessa hora tenho que ajudar esse jovem a tomar a melhor decisão para o seu futuro. Com muita serenidade e sem que sonhos abstratos tomem o lugar da realidade. 

Em especial, certas redes de televisão vendem uma enorme ilusão aos jovens?

As televisões estão focadas em vender propaganda. Cria ilusionismos, fantasias. Há um ou dois jogadores que ganham somas milionárias, os demais ganham o suficiente para manter um padrão de vida que pode ser atingido em qualquer profissão qualificada. Há muitos jovens iludidos com essas perspectivas de ascensão fácil. Quando o Pianelli tinha 14 anos fui técnico dele, a sensação de ver ele jogando no XV de Novembro, no São Paulo, é enorme.

O que um jogador sente em um gramado, com o estádio cheio?

Uma emoção muito grande, indescritível!

Carlos Alexandre Henrique concorda?

É uma sensação muito boa! Lembrando que o campeonato amador teve um bom público. O Estádio Barão de Serra Negra ficou lotado.

Ou seja, o piracicabano gosta de futebol?

Gosta! O que falta é incentivo, principalmente para as categorias de base.

José Carlos Gonzalez como é a segurança para o público?

Há uma conscientização de que a disputa deve ser com a bola, dentro de campo. Conseguimos desmistificar a prática de violência em campo. Há penalidades severas para quem transgride as regras. Com relação ao público, são vibrantes, mas há muito respeito. A Guarda Municipal está presente, nos ajuda muito. Em jogos maiores a Polícia Militar dá a cobertura necessária. 

Carlos Alexandre Henrique vocês estão fazendo escolinha para as crianças menores?

Uma boa pergunta! Temos que tornar público que o Vera Cruz tem uma consciência social. A escolinha é gratuita, feita para os moradores do Algodoal, há atletas de outros bairros que vem treinar conosco. Não importa se é bom jogador ou não, mas aprendem a ter disciplina, a respeitarem uns aos outros.

Vocês fornecem algum tipo de lanche?

Atualmente os recursos que vem é pessoal do presidente. Temos sonhos de fazer algo mais, poder proporcionar um reforço alimentar. Pela área que dispomos podemos proporcionar outras atividades, como um curso de computação. Se quisermos mudar o país temos que educar as crianças. O bairro está rotulado, com isso foi relegado ao abandono. Esse é o grande erro! Lá é o lugar onde o investimento tem que ser maior para que mude. Nossa luta atual é com relação a iluminação, a noite é um local muito escuro. Precisamos de ajuda para prevenir, educar. A repressão se dá pela falta de orientação, é traumatizante, cara e dificilmente recupera o individuo.

José Carlos Gonzalez vocês mencionaram o trabalho com os jovens, e as meninas, há algm projeto?

Pensamos muito nisso. Inclusive em futebol feminino. A pessoa ideal para levar esse projeto adiante era o Zé do Gás, só que ele faleceu de infarto fulminante. Estamos necessitando de voluntários, podem ser estagiários, temos muitas possibilidades de aproveitamento e transmissão de experiências para área de educação física, informática, assistente social. Temos o imóvel para ceder, fazemos de tudo para ajudar na segurança. Quem quiser pode nos procurar na Rua Emílio Bertozzi, 1616. Telefone 9 9221 9980 (José Carlos) ou 9 7412 0522 (Carlos Alexandre).

José Carlos Gonzalez refere-se a Tribuna Piracicabana e um fato determinante.

Tenho uma história que ocorreu há uns 12 ou 13 anos, eu fazia o “peneirão”. Fazia o anuncio em todos os jornais, em todas as rádios, que o Vera Cruz ia promover a peneira, isso significa que iam 200 garotos e os melhores eram escolhidos. Quando cheguei a diretora da Tribuna, Dona Astir, entreguei o texto e pedi se ela poderia fazer o anuncio, nós íamos fazer peneira. Ela perguntou-me: “ Quem não passar na peneira não joga?”  Respondi-lhe que não jogaria. Ela disse-me: “Então não anuncio!”. Gravei esse fato, hoje todos os garotos que vão ao Vera Cruz treinam, participam do coletivo, dos fundamentos, e lá vemos quais são os melhores para disputar os campeonatos. Durante a semana, devido a Dona Astir, esses garotos que não são bons de bola ficam treinando no Vera Cruz.

domingo, março 18, 2018

ALAIDE BARNEZ


Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 de janeiro de 2018

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ENTREVISTADA: ALAIDE BARNEZ



 

A professora Alaide Barnez nasceu em Piraju, a 22 de julho de 1923. Está com 94 anos, filha de Gabriel Barnez e Isabel Alvarez que tiveram quatro filhas: Helena, Adélia, Neide e Alaide. Seu pai imigrante espanhol, aos 19 anos, veio de Granada, aportou na Bahia, onde permaneceu algum tempo, depois se mudou para o Rio de Janeiro onde trabalhou no comércio, veio da Espanha com um primo, já tinha outro primo morando aqui, Gabriel Barnez era marceneiro. Alaide Barnez é lúcida, feliz, tem a saúde perfeita, está sempre sorrindo. Sente às vezes uma “dorzinha” na coluna. Aparenta ser uma mulher muito decidida, corajosa. Enfrentou preconceitos que hoje a sociedade já superou, mas que em sua época tinha reflexo social, religioso e até mesmo profissional. Soube encarar com determinação a sua opção por uma paixão, coisa que atualmente é mais comum em romances e novelas. Seu avô paterno era Antonino Barnez e o avô materno José Lorenzo Alvarez.

A senhora estudou em Piraju?

Estudei na Escola Estadual Nhô-Nhô Braga. Lembro-me do nome da minha segunda professora, Dona Ernestina, teve uma presença marcante na minha vida. Nessa escola estudei o primário e o ginásio. Fui fazer o Curso de Magistério em Santa Cruz do Rio Pardo. Naquele tempo para formar-se como professora as cidades mais próximas existentes eram em Botucatu; Sorocaba e Santa Cruz do Rio Pardo. Nesta cidade  por causa do Deputado Estadual Leônidas Camarinha.

A senhora mudou-se para Santa Cruz do Rio Pardo?

Quando fui fazer o Curso Normal em Santa Cruz do Rio Pardo, minha mãe foi também, e foram mais oito meninas de Piraju, passamos a residir em uma casa, minha mãe dava pensão às meninas. O Curso Normal era feito em dois anos, foi assim que me tornei professora, que naquela época era respeitada como autoridade.

Tinha um salário significativo?

Não era bom não. Agora é pior!

Por quanto tempo a senhora lecionou?

Foram 31 anos!

A senhora tem idéia do número de alunos que teve?

Era classe mista, com 40 a 45 alunos. Uma das cartilhas adotadas foi a Caminho Suave.

A senhora se casou?

Não casei. Meu marido era desquitado. Ele era comerciante, seu nome era João Arruda Guimarães. Naquele tempo não havia o divórcio. Fui morar com ele. Não tivemos filhos. Gostávamos muito de viajar. Viajamos muito pelo Brasil afora, tínhamos um fusca bege, viajamos para o Sul, para o Norte, lembro-me de que no Rio Grande do Norte, umas quatro horas da tarde, diziam que tinha que passar logo senão a maré subia e só poderiamos passar no dia seguinte, as estradas eram na maioria de terra. Eu gostava muito de aventura. Ele também! Tanto que para ir morar com ele já foi uma aventura, naquele tempo eu fui viver “amasiada” que era o termo usado na época, e lecionar! Foi uma revolução! Na igreja com os padres e na escola com o Delegado de Ensino. Fui chamada para falar com ele, disse-me que eu tinha obrigações, mas disse-lhe que também tinha direitos!  Vivi com meu marido por 52 anos! Tivemos uma vida maravilhosa.

Daquela época o que lhe trás mais saudade?

As viagens! O Brasil tem coisas maravilhosas e o brasileiro não dá valor. Por exemplo, Orós, no Ceará. É um lugar muito lindo. O brasileiro não valoriza o que é seu, vão para a Disney!

A senhora lembra-se do período da Segunda Guerra Mundial?

Lembro-me! Para nós no Brasil não houve grandes alterações. Nunca me interessei por política nem por políticos.

Além de viajar, o que mais a senhora gostava de fazer?

Meu marido dançava muito bem, só dizia que eu era “muito pesada” para dançar! Eu gostava de Festa do Peão, eventos mais agitados. Eu tinha grandes amigas, mas elas não me acompanhavam nessas loucuras não! Naquela época isso tudo era loucura!

A senhora era vista como uma pessoa arrojada?

Sempre sim. Até uma menina fez uma homenagem, foi minha aluna, veio me visitar e deixou a mensagem: “Professora Alaíde: Pessoa dinâmica, equilibrada, positiva e de grande sabedoria, Não deixa nada nem ninguém interferir nas suas certezas. Otimista contagia a todos com sua alegria de viver. Maria Teresa Bonetti (Outubro de 2003)” Sempre eu tive uma personalidade muito forte e ninguém mudava a minha opinião. Estabelecia um objetivo e chegava lá.

Em que localidade a senhora iniciou a carreira de professora?

Comecei a lecionar perto de Apiaí, em uma fazenda situada em Ribeirão Branco, tinha que ir a cavalo da escola para a cidade. Eu morava na fazenda. Atravessava o Rio Apiaí a cavalo. E adorava, gostava muito! Quando o Delegado de Ensino foi ver o tamanho da sala em que eu lecionava ficou impressionado com o tamanho minúsculo da sala de aula. Não dava para andar entre as carteiras escolares. Eram alunos de todas as séries em uma sala única! Da primeira a terceira série. Era muito difícil lecionar nessas condições. Ainda não era professora efetiva, fui lecionar em Tejupá, tudo chão de terra, só terra. Tejupá já era melhor, tinha ônibus, a famosa jardineira aberta dos lados. Era uma poeira danada.

A senhora chegou a usar flanelógrafo?

Usei bastante, O flanelógrafo é uma placa de papelão colada com uma flanela. Para contar histórias às nossas crianças. Contar histórias e educar ao mesmo tempo é uma arte. Para que seja possível, as crianças têm de ser levadas ao mundo dos contos e da fantasia, e o flanelógrafo é perfeito para isso.

A seu ver como eram os alunos antigamente?

Eram mais simples, mais educados, respeitavam-nos, os pais cooperavam muito. Naquele tempo não havia a Caixa Escolar (A estrutura da Caixa Escolar é geralmente constituída de um presidente, que é o diretor ou o coordenador da escola, de um tesoureiro e do conselho fiscal), não tinha a Associação de Pais e Mestres (APM).

E a questão da disciplina?

Quando o menino era terrível eu ia à casa dele, conversava com os pais, dizia: “Por bem não vai! Se a senhora autorizar a ser mais enérgica com ele, ai talvez eu possa conseguir alguma coisa, caso contrário vou abandoná-lo”. De vez em quando eu era mais enérgica com algum aluno que saísse da linha.

Hoje se a senhora fizer isso!

Nossa mãe! Se eu disser que não suporto um menino já é uma briga!

A educação atual, a seu ver está na direção certa?

Eu acho que está na direção errada! Os pais dão muita liberdade aos filhos, e não dão autoridade nenhuma à professora.

Os pais atualmente trabalham fora de casa, essa ausência tem conseqüências?

Prejudica muito! Tentam mimar os filhos com presentes.

A senhora usa telefone celular?

Não uso, embora ache uma coisa extraordinária. Mas não como vício! Há pessoas que não largam do celular por cinco minutos!

A senhora viveu em uma época em que não existia televisão, e ter um rádio era para poucos, a senhora gostava de ouvir rádio?

Eu gostava! Ouvia Vicente Celestino, Orlando Silva, Carlos Galhardo. Lembro-me que o programa do Carlos Galhardo era aos domingos. Ouvia a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a Rádio Mayrink Veiga emissora de rádio carioca reduto de novos talentos da chamada Era do Rádio. Eram músicas com letras lindas, hoje não tem jeito.

E televisão, a senhora assiste?

Assisto! Tem programas bons, mas também tem muita coisa sem valor algum. Assisto muito a Rede Vida. Meu marido e eu íamos muito ao cinema, naquele tempo em Salto Grande passava filmes quarta, sábado e domingo, os filmes de sábado eram os mesmos que passavam domingo, nós assistíamos o mesmo filme duas vezes, de tanto que gostávamos. Após meu marido falecer, permaneci ainda em Salto Grande por quatro anos, depois mudei para Ourinhos onde permaneci por 10 anos.  

A televisão educa ou deseduca?

Faz as duas coisas!

Como era o Rio de Janeiro?

Era o sonho da minha vida! Fui visitar o Rio de Janeiro no meu primeiro ano de matrimônio. Eu lia tudo sobre o Rio. Conheci todos os pontos turísticos do Rio. Fui até a Ilha de Paquetá, Jardim Botânico, Cristo Redentor, Igreja da Glória, Copacabana , assistimos desfile de carnaval em pé.

E para São Paulo, a senhora ia muito?

Meu marido era comerciante, ele trabalhava com tudo, tecidos, arroz, feijão, ia de caminhão para São Paulo, para fazer compras. Eu ia junto. A viagem demorava umas doze horas, a estrada era de terra até São Paulo. Meu marido tinha uma irmã que morava lá, perto do Cine Paramount, no centro. Durante a viagem parávamos, ele dormia embaixo do caminhão, com o ajudante, eu dormia na cabine. Paravamos para comer nos restaurantes da estrada.Foi uma época muito boa, tenho saudade dela.

Como é a saúde da senhora atualmente?

Muito boa! Pressão normal. Não tenho nada. Só tenho dor na coluna.

A senhora já conhecia Piracicaba?

Conhecia, no tempo da guerra meu marido vinha buscar açucar em Piracicaba.

Comparando o passado com o presente, a senhora acha que as coisas melhoraram ou pioraram?

Piorou muito! A corrupção é muito grande. Antigamente não era tão grave.

Sob o seu ponto de vista qual é a solução?

Em primeiro lugar é ter Deus. As pessoas não tem mais Deus na vida deles. Não vamos conseguir corrigir os corruptos. A corrupção sempre existiu, mas não nessas proporções! Minha mãe era muito interessada em política, era fã do Adhemar de Barros.

Para qual lugar que a senhora gostaria de viajar?

Se eu pudesse viajar agora tenho muita vontade de conhecer novos lugares do Brasil.

Já andou de avião?

Já! Achei muito bom! Não tenho medo.

E cavalo, também gosta?

Muito, já andei bastante a cavalo. Sempre gostei de animais. Tive capivara no quintal, começaram a procriar muito, tinha um menino encarregado de alimentá-las, só que nós não estávamos mais aguentando tantas capivaras, meu marido doou para o Zoológico do Agenor, em São Paulo. Tinha macaco também, a capivara gostava de dormir embaixo da casinha dele.

A senhora tem uma religião?

Sou católica.

Para a senhora qual é o significado de Deus?

É tudo! É tudo! (Após uma pausa silenciosa, Da. Alaide prossegue) É um Ser Superior que não podemos nem pensar em julgar. Faço as minhas orações, assisto a missa através da televisão, todas as noites.

Qual é o significado do terço para a senhora?

Um terço é a vida de Jesus. Os mistérios mostram a vida de Jesus. Ontem mesmo fui até a igreja para rezar o terço, gosto de me concentrar, rezar no meu silêncio.

Qual é o passatempo principal da senhora hoje?

Fazer palavras cruzadas! Torna-se um habito! Quando estou fazendo palavras cruzadas não me lembro de almoçar, jantar.

Se o tempo voltasse a senhora faria tudo que fez novamente?

Tudo! Principalmente a vida matrimonial. Uma das coisas que sempre fiz é não dar importância ao comentário alheio! Contento-me com o que eu tenho e me sinto feliz com que eu tenho. Sou muito feliz, muito bem tratada por todos. Recebo muitas visitas de ex-alunos. Eu era muito enérgica, fazia a criança produzir o que ela podia como professora eu sou famosa na minha região.

Um dos segredos da vida é saber alimentar-se?

Fico horrorizada em ver a quantidade de alimentos que o pessoal come! Como apenas o necessário. Não como carne, eu nunca gostei de carne, como verduras e legumes. Não como macarrão, massas. Como arroz e feijão.

ELZA FERREIRA DE AMORIM BARBOSA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 27 de janeiro de 2018.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ELZA FERREIRA DE AMORIM BARBOSA



 

Elza Ferreira de Amorim Barbosa nasceu a 29 de junho de 1948, em Santo Anastácio, que faz divisa com os municípios de Piquerobi, Marabá Paulista, Mirante do Paranapanema, Presidente Bernardes e Ribeirão dos Índios. Filha de Jonas Ferreira de Amorim e Maria Paulino de Amorim, que tiveram seis filhos, sendo que três faleceram precocemente, sobrevivendo: Maria; Elza e Manoel.

Até que idade a senhora permaneceu em Santo Anastácio?

Aos três anos fiquei órfã, minha mãe faleceu, meus irmãos e eu viemos morar com a minha avó Maria Rosalina da Conceição, ela faleceu em 1975, meu avô Manoel Paulino Alves era vivo, faleceu quando eu tinha 16 anos. Foram eles que nos criaram, tanto eu como meus irmãos. Morávamos na Vila Maria Alta, em São Paulo. Fiz o primário até a quinta série, em uma escola entre a Vila Maria e o Jardim Japão (nome do bairro é devido aos nomes de diversas de suas ruas, que fazem referência a cidades japonesas). Na minha época o ginasial era durante o dia e tive que começar a trabalhar ainda bem jovem.

O seu primeiro emprego foi em que serviço?

Com treze para quatrorze anos fui trabalhar no bairro Bom Retiro, naquela época com essa idade podia-se trabalhar, hoje só após completar 16 anos, com essa idade já está acostumado a receber tudo facilmente do pai e da mãe. Para que trabalhar? Torna-se um ser improdutivo. Hoje é comum adultos morando com os pais, não querem sair da zona de conforto. Alguns até se casam e voltam para a casa dos pais. Mamanjos de 40, 50 anos morando as custas dos pais.

A senhora ia da Vila Maria até o Bom Retiro de ônibus?

Vinha de onibus até a Praça da Sé, e dali até o Bom Retiro ia a pé. Normalmente iamos juntos, minha irmã, meu irmão e eu. Nessa época havia muitos comerciantes de origem judaica Havia muitas confecções, entrei para o setor de arrematadeiras, que é a finalizaçõ da costura. Cortar pontos soltos, fazer complemento de barras, era fábrica de confecções femininas, comecei na GEA depois veio a segunda loja GEATEX. Os proprietários eram de origem grega: Leônidas, Sotirius e um terceiro irmão cujo nome não me lembro no momento. Ali permaneci até completar 18 anos. Fui fazer curso de ascensorista na Prefeitura Municipal de São Paulo. Era necessário ter esse curso de habilitação, a duração do curso era de oito meses, aprovada recebia uma carteirinha na qual dizia que era habilitada em “condução de veículo vertical”. Fui trabalhar na Secretaria da Fazenda, na Avenida Rangel Pestana. Os elevadores, que eram chamados técnicamente como carro vertical, eram automáticos. Esses elevadores transportavam geralmente 12 pessoas, existiam os elevadores de carga que transportavam cargas mais pesadas.

Por quanto tempo a senhora trabalhou como ascensorista?

Trabalhei quatro anos na Secretria da Fazenda e 3 anos na Câmara Municipal. Das 7:00 horas da manhã até as 13:00 na Secretaria da Fazenda e em seguida trabalhava mais 6 horas na Câmara Municipal, das 14:00 hàs 20:00 horas, trabalhava doze horas por dia.  Prestei um concurso público e fui trabalhar no Primeiro Tribunal de Alçada Civil, no Pátio do Colégio. Fui trabalhar no elevador também, só que era manual, tinha que parar no golpe de vista. Ali trabalhei por sete anos.

Como é a rotina de vida da ascensorista?

Geralmente a pessoa dentro do elevador fala sobre assuntos relativos ao trabalho. Na Secretria da Fazenda, eram 21 andares, sendo que 3 andares são subterrâneos. Embaixo há uma mina de água, que foi canalizada, ela fica em um corredor isolado. E é muita água!. Lembro-me de que houve um incidente onde os cofres da Secretaria da Fazenda encheram de água. Essa mina é canalizada e vai despejar àgua no Rio Tamanduatei, situado nas proximidades.

Nesse período com dois empregos, em que local a senhora morava?

Embora solteira, nessa época eu já morava sozinha, meus avós já tinham falecido. Morei perto da antiga rodoviária de São Paulo, na Avenida Duque de Caxias. Era um tempo diferente, havia muito respeito entre as pessoas. Nunca fui molestda, mesmo em época de eleições quando chegava mais tarde da noite em casa.

Na Câmara Municipal a senhora conhecia todos os vereadores, algum se destacava?

Os políticos passavam outra imagem. Um dos vereadores era Jósé Maria Marim que era um dos mais comunicativos. De forma geral o meu trabalho era de pouco contato com os usuários do elevador.

Nessa época quais eram os meios de lazer que  senhora tinha?

Eu morei com a mina avó  e meu tio Manoel Paulino, irmão da minha mãe. Minha irmã tinha se casado. Apesar de trabalhar em dois empregos, a vida era apertada em termos financeiros. Naqueles tempos a vida era mais doméstica. Estudei sempre em escola pública, que tinha uma excelente qualidade. Em 1987 fiz vestibular para direito e passei. Sem fazer cursinho. Frequentei por um ano o curso de Direito, estudei por um ano Psicologia. O meu marido era advogado. A minha paixão é pela agronomia. Frequento a ESALQ em caminhadas. É um local lindo!

No Primeiro Tribunal de Alçada Civil a senhora conheceu juizes, desembargadores?

Trabalhavamos com um uniforme fornecido pela Secretaria. Era taier, não podia usar calça cumprida. Minhas colegas e eu queríamos trabalhar com calças cumpridas, falei com o secretário do Primeiro Tribunal, autorizaram, passamos a usar o uniforme blazer com calça cumprida. Quando sai ganhei um dicionário de palavras cruzadas de um juiz, e outro livro de outro juiz. Coisas que eu nem esperava. Eram todos muito reservados. 

Através de concurso a senhora entrou na Secretaria de Segurança Publica?

O primeiro concurso que fiz na Secretaria da Segurança Pública foi para datiloscopista, no ano de 1977.

O que faz um datiloscopista?           

O datiloscopista só colhe as impressões digitais, para atestado de antecedentes criminais e para cédula de identidade. O operador de datiloscpia atualmente é denominado de papiloscopista. Em contrapartida o papiloloscopista passou a ser denominado de auxiliar de papiloscopista. Atualmente já é uma carreira que exige estudos de nivel superior. Após uns três ou quatro anos mudou a nomenclatura das carreiras o meu cargo passou a ser de auxiliar de papiloscopia e o papiloscopista passou a ser o operador de papiloscopia trabalha junto ao perito criminal, nos locais de crime ou interno no Instituto de Identificação para pesquisas datiloscópicas. Por exemplo. Um corpo de uma pessoa que é encontrado, sem nenhum documento, colhem a impressão digital, mandam para o instituto de identificação, analisam pelo computador, são milhões de fichas, o computador seleciona, sobram, de 10 a 100 fichas, é feito um exame a olho nu pelo papiloscopista, para identificar a identidade do corpo.

A senhora trabalhava em que local?

Trabalhava no Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt, na Avenida Cásper Líbero, 370.

A senhora colhia impressões digitais de pessoas com vida ou também de falecidas?

Se fosse o caso de pessoas falecidas também. Normalmente eles convocam quem está mais próximo, e antes trabalhávamos nos distritos policiais onde eram feitas as identidades. Quando encontravam um cadaver sem nenhuma identificação, ia para o Instituto de Identificação, no Intituto Médico Legal, Fiz duas vezes cursos na Academia de Polícia que funciona nas dependências da USP, em São Paulo. O papiloscopista tem a opção de trabalhar interno, só nas pequisas das planilhas criminais, ou no Instituto Médico Legal, junto aos cadáveres, um local dificil de trabalhar, ou junto ao perito criminal, que não precisa muito de papiloscopista, cada equipe tem um. Quando a equipe não tem, é só requisitar no Instituto de Identificação. Quando estamos terinando a Academia de Poícia ela já pergunta-nos em qual área desejamos trabahar e somos encaminhados para a àrea escolhida. Sempre optei pelo Instituto de Identificação. Nunca optei por Distrito Policial, muito menos pelo IML e nem junto ao perito criminal. Alguns escolhem o IML pela carga horária, que em função da atividade é menor do que em outros setores, ou a pessoa não aguenta. Só que tem que ter afinidade com a atividade, só a compensação horária não é fator de motivação. O médico, independente de ser legista ou não, ele trabalha com a morte. No IML o médico vai fazer autópsia desde crianças até o idoso. E todas as mortes que passam pelo IML são de vitimas que sofreram os mais diversos tipos de traumatismos e barbáries.

Para fazer uma identificação, após a triagem inicial, sobram em média quantas opçoes?

Após a identificação inicial, feita pelo computador, se sobrarem 20, temos que achar a correta. Ai a olho nu estuda-se as 20 planilhas, são utilizadas lentes de aumento e outros recursos tecnológicos. Vamos descobrir os pontos característicos, que ninguém tem igual. Pode levar um,dois, três dias. Não pode ser feito as pressas.

De vez em quando encontram-se surpresas?

Assim como tem características interessantes, pessoas que tem números formados pelas curvas digitais, desenhos, às vezes um rostinho, uma flor. É raro, mas é natural da pessoa. Há criminosos que tentam descaracterizar suas impressões digitais usando os mais diversos recursos. Assim como também existem produtos e técnicas para realçar impressões digitais de difícil identificação. Uma delas são as dedeiras, que deixam os dedos úmidos, para inchar as impressões digitais, a gente consegue tirar melhor. Só que isso tem o lado ruim, uma pessoa que faz a biometria dessa forma, para conseguir um documento, naquele dia ela através desses artifícios consegue, só em uma situação corriqueira como fazer a biometria em um banco, para uma operação financeira, ela não terá todos esses recursos a sua disposição.

Há uma tendência do sistema de identificação digital ser substituído pela identificação da íris?

De fato há. A íris também cada um tem a sua própria e única.

Por quantos anos a senhora trabalhou com identificação digital?

No total foram 18 anos. Antigamente as carteiras de identidades eram feitas nas delegacias, hoje são feitas no Poupatempo, é um serviço terceirizado. Só que ainda tem o auxiliar de papiloscopista, o papiloscopista, dentro do setor.

A senhora casou-se em que ano?

Foi em 4 de dezembro de1982 com Fausto Barbosa. Ele trabalhava na Secretaria da Fazenda. Gostava muito da noite, foi músico, tocava instrumentos de percussão, foi integrante do Teatro Municipal de São Paulo, quando nos casamos ele já tinha deixado o Teatro Municipal. Ele gostava muito de óperas, íamos assistir. Na época morávamos no bairro Bela Vista, que sempre ofereceu muitas opções gastronômicas e culturais. O bairro Bela Vista é conhecido pelo nome de Bexiga, inclusive a Escola de Samba Vai-Vai tem muita tradição no carnaval paulistano. Todos os anos íamos ver, lembro-me do Seo Chiclé, que comandou a escola por um bom tempo. As noites de tango. Os pães da Padaria Basilicata. Saíamos passear a noite. Íamos até na Parada Gay na Avenida Paulista, para ver. Gostávamos muito de viajar. Nunca saímos do Brasil, por opção. Ele faleceu em 2014, com 86 anos. Ficamos por 32 anos casados. Ele tinha sido anteriormente aviador, piloto e pára-quedista, só deu baixa na Aeronáutica por ter perdido ima das vistas. Nos dois sempre tivemos temperamentos fortes e gaiatos.

Qual é o seu passatempo atual?

Gosto muito de ler, não tenho atração por televisão. Hoje meu hobby é a jardinagem. Também gosto muito de caminhar pelas ruas de Piracicaba. Atualmente está muito difícil lidar com o ser humano, analisando pelo lado espiritual, o livro clássico ‘Os Exilados da Capela’ defende a teoria de que a Terra foi formada por seres exilados de outros planetas, e só com bandidos, assassinos. Somos descendentes disso! Como na época em que o Brasil foi descoberto, quem veio para cá trabalhar? Portugal mandou gente da pior espécie para o Brasil. Inicialmente corromperam a índole do indígena, uma mistura de raças: índio, negro e portugueses. A meu ver há os nascidos no Brasil, porém não formam uma raça pura no aspecto genético. Tenho origem nessas três raças. A mãe do meu pai é de Portugal, loira de olhos azuis, meu avô materno é filho de português, minha avó materna era mameluca: filha de índio com negro. Há muitos países onde essa mistura inexiste, a pessoa nasceu em determinada casta irá viver sua vida toda sem mudar. Meu pai e seus irmãos, três eram loiros e três eram morenos.

A senhora dirige veículos?

Tenho a carteira ainda, é categoria profissional, desde quando tirei a primeira carteira, aos 18 anos, já tirei carteira profissional, meu sonho era ser caminhoneira! Eu queria liberdade! Arrumei um caminhão de 6 toneladas, mas na época esbarrei no fato de ter menos de 21 anos. Não era emancipada.

 

 

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