domingo, setembro 02, 2018

CLÉIA MARIA DA LUZ RIVERO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de abril de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: CLÉIA MARIA DA LUZ RIVERO


 

A Secretária da Educação do Município de São Pedro, Profa. Dra. Cléia Maria da Luz Rivero elegeu a Educação como seu objetivo profissional. Foi uma escolha muito acertada do prefeito desse município paulista, Hélio Donizete Zanatta, para compor a sua equipe administrativa. A Professora Cléia ao longo dos anos acumulou larga experiência em formular e desenvolver projetos educacionais de ampla escala. Os resultados estão aparecendo a olhos vistos. Quando muitos brasileiros concluem que sem formação educacional o país não se desenvolve, prefeituras sofrem com dificuldades de verbas para a educação, a cidade de São Pedro, sob a dinâmica e competente administração na área educacional, dá o exemplo de como superar dificuldades.   
A senhora é natural de São Pedro?
Nasci a 10 de maio em Quarai, situada no Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai, atravessando o Rio Quarai situa-se a cidade de Artigas, Departamento do Uruguai. Meus pais tinham propriedade em Quaraí, depois meus pais mudaram-se para Santana do Livramento também fronteira com outra cidade do Uruguai: Rivera. Sou filha de João da Luz Filho e Hulda Rosa da Luz que tiveram os filhos: Cléia, La-Hire, João Antonio e Rosa Maria.
 
                                                      MUNICIPIO DE SÃO PEDRO
 
 
A senhora realizou seus primeiros estudos em que cidade?
Sempre em Santana do Livramento. Quando mudamos de Quarai eu não tinha idade escolar. Comecei os meus estudos em Santana do Livramento.






SANTANA DO LIVRAVENTO RS PRAÇA GENERAL OSÓRIO FRONTEIRA COM RIVERA NO URUGUAI
A senhora lembra-se do nome da sua primeira professora?
Lembro-me sim! Madre Joana! Eu estudava no colégio das Irmãs Teresianas. Era uma escola muito grande das Teresianas, uma irmandade católica que só tinha em três lugares no Brasil: Em Santana do Livramento  por terem vindo do Uruguai; uma escola em Porto Alegre e outra no Rio de Janeiro. Lá estudei desde o jardim da infância até me formar na Escola Normal, concomitantemente com a Escola Normal fiz também o Curso Científico. Fiz os dois curso hoje considerados de ensino médio. Estudava o dia inteiro. Desde pequena eu queria ser professora!
A senhora casou-se?
Casei-me em Livramento com um moço de Quarai: Carlos Roberto Rivero. Por acaso nos encontramos na juventude, em uma festa, namoramos por quatro anos. Tivemos três filhos: Martha Helena, João Miguel e Paulo Roberto. Fruto dos dois filhos, cinco netos.
Qual é a profissão do seu marido?
Ele sempre trabalhou com comércio. Quando viemos do Rio Grande do Sul para Piracicaba foi em função do seu trabalho: couro e artefatos de couro. No Rio Grande do Sul ele trabalhava com curtume e couros, junto com meu pai, inclusive exportavam tapetes, depois meu pai aposentou-se, fechou a empresa, o Roberto passou a trabalhar com uma empresa que se chama Fasolo S/A, ele foi escolhido para vir para São Paulo, para trazer a grife de artefatos de couro, cintos e carteiras. A marca Fasolo não tinha  em São Paulo, foi ele quem introduziu essa grife no Estado de São Paulo. Achamos por bem instalarmo-nos em Piracicaba, eu já tinha bastante conhecimento com o pessoal da UNIMEP, desde quando residíamos no Rio Grande do Sul. Era também uma forma para que eu continuasse meus estudos. Nunca parei de estudar. Eu vim de lá com 15 anos de carreira como professora do Estado, já tinha sido diretora e supervisora de ensino. Isso foi em 1982. Chegando aqui, já nos instalamos, ele começou a prospecção de clientes no Estado de São Paulo, eu mandei meu currículo para a UNIMEP, eu já tinha sido professora universitária no Rio Grande do Sul, dali a 15 dias o Reitor Professor Elias Boaventura mandou me chamar. Disse-me “- Professora eu vi o seu currículo, quero convidá-la para assumir a coordenação pedagógica do Colégio Piracicabano, estou sem coordenadora”. Ele estava 6 meses sem coordenadora. Disse-me: “O Colégio comporta muitos alunos, no momento temos só um decréscimo de alunos. Estamos com menos de seiscentos, vou confiar à senhora para fazer uma campanha para esse alunato crescer”. Disse-lhe: “Reitor, venho do Rio Grande do Sul, não vou negar a minha experiência de 15 anos, tanto de sala de aula como de coordenação, direção, supervisão. Mas preciso me ambientar, venho de um Estado diferente de São Paulo. Creio que há muitas questões, tenho que primeiro me atualizar.”. Ele disse-me: “-Não! Sei que vai dar certo! A senhora pode começar já!” Isso foi no comecinho do mês de fevereiro, comecei levando o professorado para o planejamento deparei-me com algumas coisas que aqui nem havia sido lançadas, na escola fundamental e de ensino médio. Tinha muitos cursos profissionalizantes no colégio. A primeira recomendação que o Reitor me deu foi: “-Faça um regimento comum da escola. Novo. A diretoria de ensino está pedindo e nós precisamos renovar”. A minha primeira dedicação foi arrumar a documentação da escola, depois me dediquei ao pedagógico e trabalhei por dois anos e meio como coordenadora lá. Quando saí tínhamos 1080 alunos!
A senhora saiu e foi para onde?
Fui para a UNIMEP! Para o Departamento de Ciências Humanas. Eu já estava fazendo o meu mestrado em Educação nessa época. Estava quase para defender a minha dissertação, quando fui chamada pelo diretor, perguntando-me se eu não queria assumir algumas aulas na sua área, na área de política educacional, de didática geral específica para os alunos. Das licenciaturas ou da pedagogia. Com isso sai do Colégio e fui para a UNIMEP, onde fiquei por 25 anos, como professora, lutando pela educação, sempre com a formação de professores. Trabalhei nas licenciaturas, no Curso de Pedagogia, na Pós-Graduação em Educação, isso depois que completei meu doutorado. Sou da primeira turma de doutorado da UNIMEP. Isso foi em 1996. A educação é a minha paixão, eu acredito ainda na educação. Acho que esse País no dia em que acreditar na Educação e colaborar para que os municípios possam fazer uma educação de qualidade, é através da Educação que o País irá se salvar. Não acredito em mais nada. Só na Educação!  
O título de cidadã piracicabana e são-pedrense já lhe foi concedido?
Ainda não! Nenhum dos dois! Recebi uma moção da Câmara de São Pedro.
Quantos livros foram escritos pela senhora?
Publicados tenho três livros, técnicos, na área da educação: “Interfaces da Gestão Escolar”; “Formação Profissional dos Educadores”; “Formação do Professor na Sociedade do Conhecimento”
A senhora assumiu como Secretária Municipal da Educação de São Pedro quando?
Foi em março de 2014, eu tinha mudado de Piracicaba para São Pedro fazia um ano e alguns meses, era o sonho do meu marido vir para São Pedro assim que se aposentasse. A minha tranqüilidade durou um ano. Recebi um telefonema de que o prefeito queria falar comigo. Disse-lhe: “-Se o senhor está procurando uma pessoa política, não encontrou!” Não sou política. Na administração anterior eu já tinha feito um trabalho de capacitação de professores através de uma empresa que criei para atender aos municípios que começaram a me chamar. Disse-lhe “-O meu voto foi em Piracicaba!” Mas tecnicamente se o senhor precisar do meu trabalho, eu estou em São Pedro. Ele disse-me: “Na Educação eu quero uma pessoa técnica! Se alguém quiser fazer política, faço eu!” Ele foi muito honesto e franco. Pedi-lhe uns dias para pensar, conversar com meu marido e dar-lhe a resposta. Eu já sabia o que significava ser uma Secretária da Educação. Os diretores que tenho até hoje, quase todos foram capacitados por mim.
Quantas escolas estão sob a responsabilidade do município?
São 20 escolas. Temos 5.520 alunos. Isso na rede municipal. Depois existem as escolas estadual e particulares. Quando assumi acho que não chegava a 3.600 alunos.
Como a senhora consegue manter uma rede municipal com esse número de alunos em uma cidade de 40.000 habitantes?
Recorremos ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vamos para Brasília, lutamos pela verba, sou da União dos Dirigentes Municipais de Educação do Estado de São Paulo (UNDIME-SP), represento um dos pólos da UNDIME, o pólo 33. É composto por 11 municípios.
Como está a nossa Educação?
Eu acredito que aqui em São Pedro a nossa educação está caminhando. Cada dia melhor. O corpo educacional une-se mais em torno de uma proposta. Não tínhamos uma proposta fechada, a minha equipe, são 18 pessoas, mais os diretores e coordenadores, atendemos desde a creche a partir de 4 meses até o 9º ano.
A creche é período integral?
Quase todas em período integral. Ensino fundamental do primeiro ao nono ano (antigo ginásio). As Escolas Estaduais cuidam do ensino médio (antigo científico). Não tem ginásio do Estado, só do Município de São Pedro. O currículo é elaborado por nós, pela equipe. Seguem as normas federais, adequado a nossa realidade. Nossa proposta, principalmente na educação infantil e parte da educação fundamental, é uma proposta muito lúdica, eles compreendem tudo de forma lúdica, essas crianças tem muita energia, não são mais crianças criadas em uma família sedentária, como era antigamente. Agora elas não têm mais família completa em casa, são famílias com outra formação, quando tem o pai e a mãe juntos os dois trabalham, as crianças precisam se socializar na escola.
Eles ficam em período integral na escola?
Tenho programa de educação integral. Não tenho em toda a rede. Tenho período integral que começou com subvenção federal, depois as escolas nossas que tiveram o Ideb alto (Ideb é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) eles não estão mais subvencionando o integral, só permaneceram com subvenção as que ficaram com Ideb baixo, que tem maior número de bolsas famílias, vulnerabilidade social. A nota da escola não atingiu o nível suficiente comparado com as outras, isso não deu margem para que ela também fosse dispensada do programa de tempo integral, que o governo subsidia. Essa minha escola que tem 400 alunos ainda é subsidiada para o tempo integral pelo Governo Federal. As outras todas minhas eu tenho tempo integral, mas com subvenção própria. O município custeia.
Como o município consegue obter renda para isso?
É uma renda muito bem gestada! Muito bem administrada! São Pedro foi considerado no Estado de São Paulo o Primeiro Município Gestor. Que tem a melhor gestão! No Brasil ele está em terceiro lugar!
O foco do Município de São Pedro é a Educação?
O foco do Município de São Pedro é Educação e Saúde! A Saúde alavancou uma qualidade! Tanto que cirurgia de média complexidade já está em parceria com Piracicaba. Quando eles não têm vaga lá, mandam para operar aqui!
Há uma história curiosa sobre a criação de uma mascote pelos alunos?
Surgiu em 2017, ano passado, o Governo Municipal junto com a Saaesp (Serviço Autônomo de Água e Esgoto de São Pedro) implantaram um projeto na Educação Ambiental, com o foco na reconquista do Selo Verde e Azul. (O programa analisa o desempenho em dez diretivas, onde são avaliadas ações nas áreas: esgoto tratado, lixo, recuperação da mata ciliar, arborização urbana, educação ambiental, habitação sustentável, uso da água, poluição do ar, estrutura ambiental e conselho de meio ambiente). São Pedro é uma cidade turística. Com isso, nossas escolas foram chamadas pela Secretaria da Educação para fazermos com as crianças muitos projetos da área de  Educação Ambiental,e a nossa resposta foi quando veio o Vice-Prefeito Tiago Silva que ao mesmo tempo é diretor da Saaesp. Uma empresa externa veio implantar o projeto, fomos chamados para que os nossos diretores incentivassem os alunos a terem projetos a fim de que todo esse arsenal fosse também considerado nesse projeto maior do município. Demos o nosso depoimento que no nível escolar nós já fazíamos isso. Nós já tínhamos tudo pronto: projetos da água, do plantio, horta. Só não tínhamos bem estruturada a questão seletiva do lixo. Tivemos o aval, isso incentivou mais essa parte. Até que chegou o momento em que eles quiseram fazer uma caminhada, da Praça Central até a Praça Santa Cruz. Para conscientização, era o dia da conscientização. Muitas das nossas crianças foram, na caminhada, mas antes da caminhada, teve um concurso, eles queriam uma mascote. Nossas crianças fizeram uns desenhos, as coordenadoras classificaram os desenhos, montamos um júri com os desenhos considerados mais destacados, o júri tirou três desenhos mais expressivos. Dos três o que tirou o primeiro lugar foi a formiga! A Dona Catarina! Nosso corpo docente é bastante comprometido com o ensino de excelência. Temos sempre o que fazer para melhorar, nunca digo que a coisa está completamente boa! Mas estamos no caminho!

                                                    Dona Catarina
                    A formiguinha símbolo criada por uma criança!
 
Turisticamente São Pedro oferece muitas opções, mas dá-se a impressão de que não é muito explorado.
Ele não era, estava muito tímido. Neste governo é que alavancou muito mais. Esportes radicais, saltos de ultraleves. A serra. Vem gente de todos os lugares. Final de semana fica lotado. 
Como a senhora se sente em São Pedro?
Eu me sinto muito bem, se tivesse que escolher de novo não escolheria outra cidade, eu viria para cá. Aqui é a nossa cidade. Gosto muito daqui.

ÉSIO ANTONIO PEZZATO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de abril de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

ENTREVISTADO: ÉSIO ANTONIO PEZZATO

 
 

Ésio Antonio Pezzato nasceu a Rua Visconde do Rio Branco, 1281, Piracicaba, a 3 de dezembro de 1952, é filho de Lásaro Pezzato e Maria Virginia Rizzi Pezzato.
Você pratica atividade física regularmente?
Tenho uma boa disposição física: vou a Pirapora do Bom Jesus (Pirapora) a pé, já fui 51 vezes, desde 1968, são 120 quilômetros. Quando era mais novo levei uma cruz de 100 quilos, sem rodinha atrás. Arrastando pelo chão, eram 10 metros de vigota de peroba 12 por 6.  Naquele tempo não tinha pinus. Demorei 8 dias para chegar em Pirapora. Foi do dia 10 de janeiro a 17 de janeiro de 1980. Ando todos os dias 15 quilômetros, às vezes 30 quilômetros no dia. Vou de Piracicaba até Rio das Pedras e volto, saio às 5 horas da manhã às 10 horas estou de volta. Já fui mais de 200 vezes.
Você levava mochila?
A mochila ia dependurada na cruz. Comida havia nas paradas, tinha que levar muita água.
E Santiago de Compostela?
Para Santiago de Compostela, cidade e município no noroeste de Espanha, fui duas vezes, estou me preparando para ir a terceira. São 814 quilômetros, fiz em 30 dias, agora vou fazer em 32.
Qual é a sensação que você sente nessa caminhada?
Seu mundo está lá! Você encontra o mundo no Caminho de Santiago de Compostela. Pessoas de todas as idades, diferentes classes e poder aquisitivo, ali somos todos iguais. Cada cidade pelo caminho tem albergues. No total, entre pequenas vilas, lugarejos e cidades existem 180 lugares de parada no caminho. Em pelo menos 170 tem lugar para se hospedar. Alguns são pagos outros são gratuitos. Tem banho, alimento às vezes eles fazem, tem cozinha, vou até a tenda compro os ingredientes e faço a minha comida. Encontrei um casal que mora no Oriente Médio já há 18 anos, começamos a conversar e logo descobrimos que somos brasileiros, em seguida que a filha deles mora em Piracicaba! Estava em lugar chamado Sebrero, passa um moço por mim, com um castelhano diferente, pergunta-me se posso olhar sua bicicleta. Logo percebi que era brasileiro, perguntei-lhe onde morava no Brasil, ele achou que eu não conhecesse a cidade, disse que era de Piracicaba. Perguntei o nome do seu pai. É filho do Dr. Zago!
   Plano geral do Caminho de Santiagp de Compostela
E bolha no pé?
Eu não gosto! Não dá porque eu não gosto! (risos). Mas levo todo aparato: Rifocina, agulha com linha, Uso tênis e chinelo havaiana, com meia. O cajado ajuda a seguir em descida e impulsiona na subida.
 
E quando termina a caminhada, o que você sente?
Ao mesmo tempo em que é uma vitória, é horrível! Você acorda pela manhã e não tem que andar! Você fica 30 dias ou mais andando, você esquece-se de veículos, que tem que olhar para atravessar a rua. Aqui a vida continuou. Ela parou para mim lá. Você não irá encontrar Santiago lá. O Santiago que você encontrará é aquele que esta dentro de você. É um caminho que tem 1200 anos.
Seu pai trabalhava em qual atividade?
 Meu pai faleceu no dia 26 de outubro de 1987 aos 73 anos, ele trabalhou na Companhia Telefônica Brasileira CTB, ficava inicialmente na Rua XV de Novembro, ocupava até a Rua Rangel Pestana, ao lado ficava o Curso Preparatório da Dona Amália. Depois a Companhia Telefônica mudou para CIPATEL, a Rua Voluntários de Piracicaba, 666. Do lado oposto, onde depois foi construído o novo prédio da CIPATEL Companhia Telefônica de Piracicaba.Minha mãe é um furacão! Trabalhou como empregada doméstica na casa da Dona Branca Motta de Toledo Sachs e depois trabalhou na Fábrica de Tecidos Boyes até quando ela se casou e teve a minha irmã mais velha. Somos quatro filhos: Regina, Dalva, Ésio e Maria Helena.



 
Você estudou em quais escolas?
O primário eu fiz no Sud Mennucci e terminei no Grupo Escolar Alfredo Cardoso em 1963. Minha primeira professora foi Therezinha Ferraz do Canto Kraide, a do segundo ano foi Maria Boloni Sávio, do terceiro ano foi Maria Aparecida Machado e a professora do quarto ano foi Dalva de Oliveira. No preparatório foi Dona Maria Tarsia, Entrei para o ginásio, onde tive muitos professores, lembro-me do nome de todos.
Conheceu o Professor Benedito de Andrade?
Conheci, ele não foi meu professor, Fizemos parte do júri de um concurso de poesias. Ele me fez um elogio que está na contracapa do meu primeiro livro.
Quantos livros você já publicou?
Tenho quinze livros publicados. Umas 40 antologias. Tenho mais de 300 prêmios literários em muitos Estados do Brasil e fora do Brasil também, em Portugal, Almancil e Seixal. Já fiz a loucura de subir em um banco em uma rua de Lisboa e declamar Guerra Junqueiro (Abílio Manuel Guerra Junqueiro).
                             Guerra Junqueiro (Abílio Manuel Guerra Junqueiro).
E faturou uns trocados?
Viram o meu chapéu, colocaram umas moedas dentro! Declamei “Fiel” e “Melro”. ( Ésio declamou entre outras, essas duas poesias, no Recanto dos Livros, espaço cultural do Lar dos Velhinhos, com entrada franca,evento que realiza-se uma vez ao mês, sempre trazendo convidados de alto nível cultural. Participam moradores e todos aqueles que buscam momentos de cultura e diversão. Nessas declamações a platéia composta por homens e mulheres foram as lágrimas).
Qual é a sua profissão?
Sou professor de literatura, não dou mais aula. Trabalho como funcionário público faz 21 anos. Tenho mais de 40 anos de contribuição com a previdência, já tenho tempo de trabalho para aposentar-me. Trabalho por hobby, ficar em casa o dia inteiro não tem o que fazer.
E fazer poesia?
Poesia não dá dinheiro!
É um fenômeno brasileiro?
É mundial! A época não é mais de poesia. Agora quem faz sucesso são cantoras que mostram o corpo, homens que viram mulheres, mulheres que viram homens. Grandes compositores como Chico Buarque, Caetano Veloso não tem suas músicas tocadas nas rádios. É tocado o que estamos ouvindo, a televisão tem uma influência enorme nesse fenômeno. Um livro custa muito caro, vamos imaginar que um livro custe 40,00 reais, uma televisão custa 2.000,00 reais, você assiste com a sua família 7 a 8 horas por dia, durante 10, 15 anos. Essa televisão sai por centavos. Duas pessoas lendo um livro de 40,00 reais passam a custar 20,00 reais para cada leitor. Não falta o poeta! Não falta o livro! Falta o leitor! Como eu posso em uma cidade com 400.000 habitantes como Piracicaba, fazer a edição de um livro “Os Caipiras”, um livro interessante onde conto toda a história de Piracicaba, uma edição de 1.000 livros deveria acabar, não é? Meus livros mais vendidos foram “O Evangelho” e “Os Caipiras”. Mas temos que considerar que é pouco! Em uma noite de autógrafos vendo de 100 a 150 livros, e eu sou conhecido! Única pessoa em Piracicaba que tem o epíteto de poeta.
Você é o sucessor de Lino Vitti, o “Príncipe dos Poetas Piracicabanos”?
Se não sou o sucessor estou no caminho que ele trilhou, ele me ensinou, foi meu mestre. Lino Vitti foi eleito Príncipe dos Poetas Piracicabanos pela Academia Piracicabana de Letras. Desde o falecimento do Lino, há dois anos, não foi realizada uma eleição para Príncipe ou Princesa dos Poetas. Alguns acham que essa eleição não deve ocorrer, outros apóiam a eleição. A meu ver, deve ser realizada uma nova eleição, onde seja analisado o passado da pessoa. Se alguém tiver o passado maior e melhor do que o meu eu vou ficar quieto.
Você tem uma memória espantosa, muito acima do que vemos normalmente. Você tentou investigar cientificamente a origem dela?
Eu acho que sou normal!
Que você é normal todos nós sabemos! Pelo menos eu não conheço alguém que declame horas a fio!
Eu também não conheço! Sei minhas 400 poesias de cor! Hoje apresentei “O Evangelho”, só que apresentei apenas 250 versos! (Sem ler, apenas declamando). No total “O Evangelho” são 1.500 versos! Assim como “Navio Negreiro”, declamei uma parte, existe outra parte! Vozes, D'África”, “Livre América” sei inteiras. Sei dezenas de sonetos, meu, de Vinicius de Moraes, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Machado de Assis, sei um pouco de bastante coisa.
Você chegou a freqüentar algum ambiente fora de Piracicaba?
Já fui! Uma vez dei uma palestra em Santos, era para durar 50 minutos, fiquei quatro horas falando, ninguém me deixava parar. Presente estava um Desembargador Dr. Eldar, a palestra começou as 8 as 11:30 ele levantou a mão, pensei que ele fosse fazer alguma pergunta, ele disse-me: “-Meu filho! Nunca vi inteligência igual! Cada pergunta que foi feita aqui você sabe aonde  a pessoa nasceu, o dia em que ela nasceu, o ano em que ela morreu, o meio em que ela viveu. Você dá exemplos, você não fala, dá todo um jantar completo da pergunta que foi feita. Não conheço isso!¨ Respondi-lhe: “-É que eu gosto!”, ele disse-me: “-Eu também gosto! Mas eu não sei!”
O que você acha que está faltando? Divulgação?
Falta divulgação! Foi anunciado a muitos veículos de comunicação de que estaria no “Recanto dos Livros” no Lar dos Velhinhos, no entanto nem toda a mídia veiculou o evento. Considero-me ainda assim privilegiado, tenho muitos amigos nas mais diversas mídias, que divulgam. Mas e quem não tem essa facilidade? Talvez tenha poetas melhores do que eu e ninguém sabe.
Não é contraditório um país como o nosso, carente de cultura, ter disposições como a sua para levar cultura e não encontrar apoio?
Eu vim até o “Recanto dos Livros”, graciosamente, mas alguém ofereceu café, salgadinhos (Os voluntários ofereceram um modesto cafezinho). A mídia, quer o retorno financeiro, vira um ciclo. Não tem almoço de graça!
Se alguém quiser adquirir algum dos seus 15 livros ou das 50 antologias como deve fazer?
Não tenho mais! Vi aqui no “Recanto dos Livros” algumas obras minhas. Não tenho mais livros para vender, sou uma pessoa agraciada, vendo todos os meus livros. Tenho um blog na internet http://esiopoeta.blogspot.com.br/ lá tem todos os meus livros, tem livros inéditos, literatura de cordel, tem livro de poesia de forma fixa, são poesias que existem no mundo poético, mas como o soneto é uma forma fixa, 4,4, 3 e 3, a balada francesa é um poema de forma fixa, se a linha métrica dela for de 8 versos, 8 sílabas métricas, então deve ter 8 estrofes, 8 por 8. E tem que ter 3 estrofes de 8 e 1 de 4 que é o envio, a oferenda, a oferta. Se ela tiver versos de 10 sílabas, ela tem que ter estrofes de 10 sílabas. Existe todo um esquema rimário, Para a de 10 sílabas, por exemplo, é a,b,b,a,a, c,c,d,d,c. Se é de 8 nunca pode ser em oitava rima, oitava rima é aquele clássico de Camões: a.b.a,b,a,b,c,c  mas tem que ser a,b,a,b,b,a,b,a,a,b,a,b,c,d, cd, Sendo que o último verso tem que ser sempre igual nas quatro estrofes. Existe o Canto Real que são cinco estrofes, de 11 versos, e o envio final que pode ser de 5 ou de 6 versos, existe o triolé que tem 8 versos. Existe o Pantun que é um poema criado na Malásia e Victor Hugo trouxe para a literatura francesa. Para o Brasil quem trouxe o Pantun foram Alberto de Oliveira, Olavo Bilac, Gustavo Teixeira.
Qual é a sua opinião sobre Gustavo Teixeira?
A poesia dele é interessantíssima! Usa um vocabulário dificílimo. Tem os cacoetes, quando fala violeta vem borboleta. Isso na obra completa dele inteira. Acho que Ementário, publicado em 1908  é um livro bastante interessante, tem algumas poesias maravilhosas: Cleópatra; Na Várzea; Tempestade; Leda e Tântalo. Eu sabia de cor esses poemas. A obra dele só veio a ser publicada pela segunda vez em 1925, com Poemas Líricos. Mas são anacronicas, ele usou a mesma coisa de 1908, ele não cresceu. Em 1908 estava no fim o parnasianismo, em 1925 estava um parnasianismo ultrapassado. Em 1937 ele fez O Último Evangelho, uma coleção de 107 sonetos alexandrinos, uma técnica também ultrapassada, mas tem alguns sonetos maravilhosos! Alguns nem tanto. Nenhum poeta consegue ser bom em tudo. A arte de um poeta se resume a 10, 15 poesias. A não ser que seja um grande gênio. Machado de Assis foi um grande romancista e um poeta frustrado! Ele durante sua vida inteira queria ser poeta. A obra poetica dele é grande,  ressalto  “A Mosca Azul” ; “Circulo Vicioso”; “A Carolina”e “Soneto de Natal”. Olavo Bilac tem umas 10 poesias que são mais do que inspiração, é uma coisa etérea. Eu devo ter umas 4 ou 5 que são interessantes. Me coloco dentro da minha limitação. Sou um poeta que gosta de poesia. Procuro fazer aquilo que melhor eu consigo fazer. Se não faço melhor a culpa é minha, eu não sou gênio.
E Francisco de Castro Lagreca ?
Foi um poeta fantástico! Ele morava a Rua Bom Jesus esquina com a Rua XV de Novembro. Era a esquina mais famosa da cidade: de um lado Lagrega, de outro lado Dona Branca, do lado de baixo Arquimedes Dutra e Dona Zoraide e o Colégio Sud Mennucci. Eu tenho um pouco de Lagreca no tipo caipira que ele fez. Ele tem um poema que fez quando Pádua Dutra faleceu em 1939 que é um “monstro” de poema! Fez outro poema para a Revolução Constitucionalista de 1932, tem algumas páginas maravilhosas. Um grande poeta de Piracicaba é o Professor Newton de Almeida Mello autor do Hino de Piracicaba. Ele tem um livro chamado “Carrilhões”. É um livro maravilhoso. O chamado “véu da noiva” não são as águas que caem do Mirante, próximo ao Engenho Central. O “véu da noiva” é a névoa das noites piracicabanas, que sobrem do salto quando o rio está cheio. A expressão foi usada pelo poeta Brasílio Machado, quando, num de seus poemas, chamou Piracicaba de “Noiva da Colina”. Tendo a névoa matinal do rio se prolongando à maneira de um véu, escreveu em Madressilvas, seu primeiro livro, o poema Piracicaba, em versos alexandrinos, o qual assim se inicia:
“Sacode os ombros nus, ó noiva da colina”.

Você iniciou seu trabalho em qual órgão da imprensa?
Comecei como revisor no Jornal de Piracicaba a 14 de janeiro de 1972, fiquei até 1974, quando fui trabalhar para a Xerox do Brasil. Fui para o setor de cobranças, ganhando três vezes mais do que ganhava antes. Na época eu tinha um Fusca 1972, amarelo, placa RM6174.
Você é casado?
Sou casado com Ana Maria Morales Fogaça, filha de Leonidas Fogaça, herói da Revolução de 1932. Ana e eu temos os filhos: Thaís, Thales e Ésio.
 
Você tem retratos pintados por artistas famosos?
Fui muito amigo de Arquimedes Dutra que pintou o meu retrato; do Renato Wagner que pintou o meu retrato; do Pacheco Ferraz que pintou o meu retrato. Eu gosto da arte.
Você freqüenta escolas?
Recebo muitos convites para dar palestras em escolas, faculdades, universidades, clubes. As pessoas, parece que estão descobrindo o meu trabalho. Quando as pessoas me vêem declamar ficam hipnotizadas. (Enquanto Ésio declamou muitos ficaram imóveis, espantados, suas poesias como ópera tocaram fundo os sentimentos dos presentes, lágrimas furtivas, boca entre abertas, silêncio total).
Qual é um epitáfio próprio para um poeta?
Quero que ponha que sou poeta. “Aqui jaz o Poeta Ésio Antonio Pezzato”. Mas vai demorar! Só vou falecer no dia 20 de fevereiro de 2041, aos 89 anos.
Você tem alguma clarividência?
Tenho! Funciona!
Você usa pseudônimos para escrever?
Uso muitos! Inclusive de autora: Samantha Rios. Outros são: Manoel Cançado, Clara Cançado, Martinho Nogueira, Martinho Chaves,
Você já fez alguma poesia causticante que tenha provocado a ira de alguém?
Já! Eu era diretor social de um clube da cidade e publiquei uma poesia, erótica, mas não pornográfica. Uma senhora zelosa dos bons costumes, horrorizada ligou para o clube, dizendo que eu não poderia mais ocupar o cargo de diretor de um clube tão tradicional. (Ésio declama o poema, com maestria transmite o sentimento natural entre um homem e uma mulher, sem cair na vulgaridade).

domingo, julho 22, 2018

URBANO ROQUE ZOTELLI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 21 de abril de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/





ENTREVISTADO:  URBANO ROQUE ZOTELLI







Urbano Roque Zotelli nasceu em Piracicaba a 7 de dezembro de 1944. Neto de tiroleses formou-se na Escola Cristóvão Colombo, a “Escola do Zanin”, trabalhou em três empresas de destaque em Piracicaba, ocupando cargos de confiança. Prestou concurso para trabalhar no Banco do Estado de São Paulo, o Banespa. Naquela época quem trabalhava no Banespa e no Banco do Brasil era tido como funcionário com um excelente emprego. Fez o concurso com 20 anos, demorou dois anos para ser chamado. Após muitos anos de trabalho, já aposentado, prestes a ingressar em um emprego, uma tragédia abateu-se sobre sua família. Após algum tempo, equilibrou-se, reagiu e foi em busca de conhecimentos novos. 




 
 
A capacidade de superação do homem ainda está para ser dimensionada. Urbano Zotelli dá um pouco da dimensão dessa capacidade incalculável. Urbano Roque Zotelli nasceu no bairro rural de Santana, uma comunidade de tiroleses, Seu avô paterno, Basílio Zotelli e sua avó Emma Nardelli Zotelli, ele nasceu na Província de Trento, que na época  pertencia à Áustria, o passaporte do seu avô é do Império Austro-Húngaro.  Hoje essa região pertence à Itália. O seu avô e  sua avó vieram no mesmo navio, onde se conheceram, Se casaram no Brasil. O seu avô paterno foi morar na Fazenda Glória, hoje pertencente ao município de Charqueada. Aos quinze anos de idade seu pai mudou-se para o bairro rural vizinho, Santana. Em frente a igreja tem a venda, conhecida como “Venda do Tio Chico” (Francisco Vitti), mais tarde conhecida como “Venda do Noi”.  Tio Chico era casado com a irmã do seu pai. Lá seu pai conheceu a sua mãe. O seu avô materno era imigrante espanhol: Domingos Ferrero.
Não é pouco comum um espanhol em um bairro formado por tiroleses?
De fato é uma curiosidade! Anteriormente ele tinha uma sapataria, na região de Engenheiro Coelho, lá ele fazia sapatos, botinas, sapatão, bota, ele vendia muito bem, minha mãe contava que ele ia de trem comprar couro em Campinas. Na época ele tinha um Ford 1929, o chamado “Ford Bigode”. Eram poucos que tinham acesso a automóvel. Depois ele teve uma sapataria em Santana. Eu nasci em uma casa em frente a venda, onde funciona o Circolo Trentino Di Piracicaba, todos nós temos a cidadania italiana. Votei no Senador Fausto Longo as duas vezes. Ele sempre foi eleito. Meus pais se casaram e tiveram oito filhos: Luisa, Zélia, Edith, Urbano, Maria da Glória, Flávio, Natanael e Cecília.
O senhor permaneceu morando em Santana?
Eu era muito novo ainda quando o meu pai foi trabalhar como funcionário do Estado no Dispensário de Tuberculose, situado na Rua José Pinto de Almeida, quase esquina com a Rua XV de Novembro. Dr. Sérgio Caruso era o pneumologista chefe. Meu pai iniciou em uma função simples, com o passar do tempo foi sendo promovido até ser o responsável em tirar Raio-X dos pulmões. Era um local voltado só para o tratamento de tuberculose. Na época era um problema sério que acometia parte da população.
O trabalho do seu pai oferecia alguns riscos para a saúde dele, na época?
Eu sabia que faziam o Raio-X dos pulmões, acredito que deviam fazer o tratamento também. O trabalho dele era fazer o Raio-X, mas isso significava contato com o doente, alem do risco como operador de Raio-X, periodicamente ele ia à São Paulo onde fazia um exame para uma avaliação da interferência do seu trabalho em sua saúde. Nesse aspecto o Estado era muito cuidadoso.
A família trabalhava também?
Na época adquirimos um barzinho na esquina da Rua Moraes Barros com a Rua Alfredo Guedes, bem atrás da Igreja Bom Jesus.
Como se chamava o bar?
Curiosamente, naquele bar reunia-se uma turma, fizeram de lá o ponto de encontro, com direito a um escudo na  parede, do “El Tigre” Isso foi na década de 50. (A origem do nome do time é muito interessante Na final do Campeonato Sul Americano no dia 29 de maio de 1919, o jogo em seu tempo regulamentar havia acabado com duas prorrogações sem gols. Na terceira prorrogação, aos 150 minutos de jogo, Arthur Friedenreich domina a bola no peito e arremata em direção ao gol, convertendo o lance em gol, a torcida lançou uma chuva de chapéus no gramado que o jogo teve que ser interrompido por vários minutos, quando o juiz apitou o final da partida a torcida enlouqueceu  e invadiu o campo agarrando Arthur, lançando-o para o ar. A polícia tentou tirar Friedenreich do meio da confusão, mas era inútil tentar. Os Uruguaios encantados com futebol outorgam-lhe um pergaminho que dizia, “Nós, os componentes da Seleção Uruguaia, conferimos ao Sr. Arthur Friedenreich o título de ‘El Tigre’, por ser o mais perfeito center foward (atacante) do Campeonato Sul Americano de 1919.”). A duras penas meus pais conseguiram criar os oito filhos. Meu pai era muito religioso, Dom Ernesto o primeiro bispo da Diocese de Piracicaba (1945) quando foi a Santana ficou hospedado na casa do meu pai. O meu pai assistia missa e comungava diariamente. Morando atrás da igreja então... Ele era Mariano, da Ordem Terceira, Tesoureiro dos Vicentinos. Na época tinham um quarteirão inteiro com casas para famílias carentes, eram administradas pelos vicentinos.
Em que escola o senhor estudou?
Eu tinha 5 anos quando meu pai veio para Piracicaba, com 7 anos comecei a freqüentar o Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. Ficava a duas quadras de casa, sempre fui sozinho, voltei sozinho, a pé.
A Rua Moraes Barros era movimentada?
Como hoje não! Todos os enterros subiam por ali. A Rua Moraes Barros era calçada. A Rua XV de Novembro, da Rua Alfredo Guedes em direção ao centro era calçada. Da Rua Alfredo Guedes até a Avenida Independência era terra. No sábado de aleluia eles faziam o “pau-de-sebo” na Rua XV de Novembro.
Os enterros subiam a Rua Moraes Barros?
È uma subida acentuada, iam a pé, os caixões eram carregados pelos acompanhantes que se revezavam. Os homens de paletó e gravata! A maioria das vezes o enterro parava na Igreja Bom Jesus, o Padre Martinho Salgot fazia as exéquias (cerimônias ou honras fúnebres. Eu era coroinha, quando o corpo chegava à igreja eu segurava a vasilha de água benta, o Padre Martinho conduzia o cerimonial, e benzia com àquela água.
O caixão era aberto ou fechado?
Fechado! Após realizada a cerimônia, o caixão era reconduzido até a Rua Moraes Barros e subia em direção ao Cemitério da Saudade. Era costume, ao passar, os comerciantes fechavam s portas em sinal de respeito. Conforme passava o cortejo, quem estava na porta, na calçada, tirava o chapéu.  Os tempos mudaram. Hoje é até relativamente comum encontrar pessoas de bermuda no velório. Outra característica que está tornando-se comum é a determinada hora, fechar o velório, a família, amigos, conhecidos, vão para casa dormir e voltam no dia seguinte pela manhã. É raro passar a noite “velando” o falecido.
Qual era a sua impressão como criança?Aquilo impressionava?
Não, eram outros tempos, não havia velório, o corpo era velado na própria casa de quem tinha falecido, tinha muitas pessoas que quando o corpo estava na sala da casa eles pediam para o Padre Martinho ir fazer uma prece. Eu fui junto algumas vezes, na qualidade de coroinha. Quando morávamos na Rua Benjamin Constant,entre a Rua D. Pedro II e D.Pedro I, hoje no local construíram um edifício. Antes do meu pai comprar o bar, ele trouxe o pai e a mãe que moravam na Fazenda Glória, Estavam muito doentes. Minha avó faleceu, no mesmo dia faleceu o meu avô. Os dois corpos foram velados na sala de casa.
Qual era a cor da batina do coroinha da Igreja Bom Jesus?
Era batina preta. Quando terminei o curso primário fui para o Seminário Diocesano, na Vila Rezende, seminário fundado por Dom Ernesto de Paula, exatamente ao lado da Igreja Matriz, bem na esquina. O prédio existe até hoje. Depois o seminário mudou-se para o Bairro Nova Suíça. Permaneci por três anos no seminário. O ensino era de um nível impensável tinha aula em período integral, além das disciplinas básicas de todos os colégios, aprendíamos inglês, francês, grego, latim. O grego era ensinado por um padre da ordem premostatense, da Igreja São Judas Tadeu. Era tudo voltado para o ensino, religião e muita disciplina. Era chamado Seminário Menor. Nas férias passávamos um período de tempo em casa e outro período no Seminário Nova Suiça, que naquela época estava em construção. Eram férias maravilhosas, Não havia energia elétrica, a noite contemplava aquele céu bonito. Tinha um riacho onde íamos nadar.  Hoje na Nova Suiça existe o Seminário Propedêutico, que é para o iniciante.
O que levou o senhor a deixar o seminário?
Questionamentos! Hoje acredito que achei a resposta. O foco é a Justiça de Deus. Deus é justo? Tanto que o Papa João Paulo II foi visitar na Alemanha o campo de concentração e perguntou: “-Onde estava Deus que permitiu isso?” Ele tocou em um ponto que era exatamente o meu questionamento: a Justiça de Deus. Eu não conseguia aceitar a explicação da Justiça de Deus da forma que era e é até hoje ensinada. Eu encontrei essa resposta no Espiritismo. Através da reencarnação acredito que tenha explicação para a Justiça de Deus. Tornei-me espírita, durante oito anos fui membro do Conselho Fiscal da União Espírita.
Após sair do seminário onde o senhor foi estudar?
Estudei no Colégio Dom Bosco, por um ano, depois fui estudar no Sud Mennucci a noite para poder trabalhar durante o dia.
Teve aula com o Professor Benedito de Andrade?
Tive! Meu ídolo! Ele era brilhante! Quando ele chegou para lecionar no Sud Mennucci houve uma sessão solene para apresentar o Dr. Benedito de Andrade. Era um ritual, uma importância. Os professores todos de terno e gravata. As professoras todas muito chique. Fui aluno de Arquimedes Dutra. Os alunos que fizeram o Curso Científico tiveram aula de química com o Professor Demóstenes. Lembro-me do Professor Otávio, de matemática, o Professor José Salles, o professor de português era nascido em Portugal. O Sud Mennucci era referência como escola. No Dom Bosco tivemos como diretor o Padre Pedro Baron, o Padre Bruno Ricco, nesse tempo teve um Congresso da Juventude Salesiana, no Rio de Janeiro o Padre Bruno me convidou para representar o colégio. Eu também era coroinha no Dom Bosco, usava batina vermelha.
Onde foi o seu emprego em Piracicaba?
Trabalhei com três empresários de renome em Piracicaba. O primeiro foi na Fábrica de Balas Atlante, do Hermínio Petrin que ficava onde é o Jaú Serv com entrada na Rua Governador Pedro de Toledo com saída na Rua Ipiranga. Hermínio Petrin era um benemérito, fundou uma creche que era administrada pela União Espírita, Na década de 60 ele e Humberto Capellari compraram um terreno na Rua do Trabalho, e criaram a Casa Transitória Dr. Cesário Mota Junior depois ele transformou em Hospital Espírita Dr. Cesário Mota Junior. O objetivo era cuidar de pessoas com problemas mentais. Depois transferiu para a Rodovia que liga Piracicaba a Águas de São Pedro. Hermínio Petrin para mim foi uma figura emblemática. Em seguida fui trabalhar com Lélio Ferrari, Ele transformou o Empório Brasil no primeiro supermercado do interior de São Paulo. Era muito dinâmico. Ele visitou um supermercado em São Paulo, viu um açougueiro que fazia a exposição das carnes, mas com muita arte, E trouxe para Piracicaba. Ele tinha a torrefação de café Ouro do Brasil, ali onde hoje é o Pão de Açúcar, no Bairro Alto. Quando era pagamento dos funcionários o contador me levava para ajudar, envelopávamos o pagamento.
E outro local em que o senhor trabalhou?
Foi em 1963, fui convocado para servir o Exercito em Brasília. Tempo do Jango.
O senhor chegou a conhecer Dona Maria Tereza, Primeira Dama?
É incrível como me perguntam sobre ela! Eu a vi várias vezes, junto com o Jango. Era uma mulher muito bonita. Naquela época Brasília tinha sido recém criada, não havia jovens para servir o Exército. Foram buscar recrutas no Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina principalmente, de Piracicaba em 1964 foram mais de 100 convocados. Passei um ano no BGP – Batalhão da Guarda Presidencial, Eram Sete Companhias.
Chegou a ficar na rampa do Planalto?
Todos os serviços do quartel são feitos pelos soldados, Perguntavam a função de cada um: mecânico de automóvel, não chamavam de encanador e sim bombeiro, e assim foram selecionando a mão de obra disponível. Perguntaram quem é datilógrafo? Levantei a mão. Fizeram os testes e me escolheram. A minha vida no quartel não foi de soldado, foi de burocrata. Datilografava documentos internos, escala de serviço, boletim  do dia, a minha vida lá foi de escriturário. Havia eventos, desfiles. Mas nunca fui da guarda do Palácio. Calculo que tinha 600  a 700 soldados, quartel recém construído,tudo novinho, chuveiro bom, água quente, colchão confortável.
O tempo que o senhor serviu o Jango permaneceu o tempo todo?
Permaneceu! Houve algum ruído entre alguns militares de baixa patente, mas logo passou. Ai movimentou-se os burocratas, lembro-me que fiquei na casa de um sargento que foi recolhido. Ele era um dos lideres desse movimento. A casa dele ficou vazia, nos ficávamos revezando para protegê-la. Eu dei baixa na hora certa, no fim de 1963, em 1964 as coisas foram bem diferentes.
Ai o senhor voltou à Piracicaba?
Voltei, fui trabalhar com o terceiro empresário de renome, Octamiro Garcia Nascimento. Ele tinha frigorífico, pertinho do Matadouro Municipal.  Chegava a ter abate de 200 bois em um dia. Era gigante. A carne ele enviava para o Rio de Janeiro, São Paulo e fornecia para Piracicaba. Era muito movimento, muito grande. Eu trabalhava no escritório. Lá eu trabalhei como caixa. Os açougues da cidade forneciam a chave do estabelecimento para os caminhões, de madrugada eles deixavam a carne no açougue. Tinha um funcionário que ficava recebendo dos açougueiros que iam prestar conta. Esse funcionário pegava todo aquele dinheiro e levava para o escritório. Era muito dinheiro. Tinha que conferir, fazer o “bate” como falávamos, depois arrumar no capricho, fui bancário, nunca vi tanto capricho como lá. Octamiro era muito dinâmico. Depois ele chegou a comprar um frigorífico em Presidente Prudente. Ele morava na esquina da Avenida Independência com a Rua Governador Pedro de Toledo, hoje tem uma loja no local. Quando ele viajava, pedia que eu fosse dormir na casa dele, para não ficar sozinha. Mesmo assim tinha um guarda noturno que ficava com um relógio, ele tinha que registrar no relógio o horário e o ponto onde estava. Foi um período bom.
(O depoimento do Sr. Urbano Roque Zotelli vai mais além, com um fato que anunciava ser uma grande tragédia, mas transformou sua vida. Comovente, sensível e estimulante. Na próxima semana conheceremos um pouco mais da vida desse piracicabano. )
Em que ano o senhor entrou no Banespa?
 Entrei em 1966 com 22 anos. Fui trabalhar na matriz do Banespa, ficava na Praça Antonio Prado, no começo da Avenida São João em São Paulo. Eu trabalhava no 14º andar, um amigo comprou um Fusca, fomos até a janela ver o carro estacionado lá embaixo. Em frente a matriz! Tinha essa facilidade! Naquele tempo começou a surgir uma novidade, que era o Telex. Até então o contato com as agências urbanas era por telefone, às vezes não completava a ligação, o sistema era precário. Lembro-me de que no período em que trabalhei nos Supermercados Brasil, logo cedinho pedia a ligação para São Paulo, quando vencia as quatro ou cinco horas que era o tempo de demora para fazer uma ligação de Piracicaba à São Paulo, o Lélio Ferrari perdia a paciência! Ficava muito bravo. Mas voltando ao Banespa, fizeram uma central de telex na matriz e as agências eram todas conectadas. Era uma inovação tão revolucionária que era utilizada no marketing do banco. Gravaram um comercial, eu recém-ingresso no Banespa apareci na propaganda do banco, digitando no telex. Fizeram mas só fui ver acidentalmente aqui em Piracicaba. Saiu na televisão. Trabalhei na matriz, depois em uma agência próxima uns 200 metros na Rua da Quitanda, depois fui trabalhar em uma agência situada no cruzamento da Avenida Ipiranga com Avenida São Luiz, nas proximidades do Edifício Itália, Edifício Copan.
O senhor trabalhou em banco num período em que eles eram visados por grupos ideológicos que “expropriavam” essas instituições.
Era ações pontuais, um número muito menor do que os assaltos a agências bancárias que ocorrem atualmente. Causavam grande furor na mídia.
Conheceu o Edifício Martinelli?
Conheci! Lá funcionava o Sindicato dos Bancários antes de ter a sede própria deles. Na cobertura às vezes o Sindicato fazia churrasco, com chope. Esse prédio quando foi construído foi o mais alto edifício de São Paulo. Depois por uns 20 anos o Banespa foi o mais alto. No Viaduto do Chá, onde é a Prefeitura Municipal de São Paulo, funcionou uma agência do Banespa. Foi construído pelo Matarazzo, ali era sua sede anteriormente. O antigo edifício Altino Arantes, conhecido como o prédio do Banespa, agora se chama Farol Santander. Está aberto para a visitação do público em geral. A entrada custa R$ 15,00 O espigão no Centro de São Paulo foi restaurado e virou centro de cultura, entretenimento e lazer. Além de uma pista de skate, o prédio tem um mirante e até um apartamento amplo de luxo que pode ser alugado por R$ 3.500 a diária. A bandeira do Estado de São Paulo segue no mastro no topo do prédio, que tem ainda um farol.
Nessa época em que região de São Paulo o senhor morava?
Quando comecei a trabalhar no Banespa morava em uma pensão no Bom Retiro. Quando ia para São Paulo pegava o ônibus ao lado da Igreja Catedral de Santo Antonio, o último ônibus saia as nove horas da noite, chegava em São Paulo mais de meia noite, na Duque de Caxias, onde ficava a rodoviária. Já era aquela rodoviária de teto em acrílico colorido. Eu saia a pé da rodoviária, atravessa o Jardim da Luz. Dois anos após entrar no Banespa eu me casei, fui o primeiro morador de um prédio situado na Avenida Prestes Maia, próximo ao Viaduto Santa Ifigênia, trabalhava de manhã na matriz, vinha almoçar em casa, em cinco minutos, depois voltava para fazer hora extraordinária. Depois trabalhei em Jundiaí, Campinas.
O senhor tem filhos?
Tenho três filhos: Douglas, Jefferson e Sheila.
Quantos anos o senhor ficou no Banespa?
Fiquei 25 anos, comecei como escriturário, Naquela época trabalhávamos no período do Natal, a noite.
A agência ficava aberta à noite?
Ficava até as dez horas da noite! Os comerciantes iam fazer o depósito das suas vendas. Acredito que esse horário funcionava em algumas cidades, em outras não. Com isso dormíamos tarde e acordávamos cedo. No Natal de 1985 eu trouxe a mulher e as crianças para Piracicaba, uma semana antes do Natal, e voltei para São Paulo. No dia 24 de dezembro encerramos o expediente na hora do almoço e eu vim para Piracicaba. Eu estava cansado, esgotado, dormi na direção e capotei o carro, acordei no hospital de Americana. O meu veículo era um Gol, eu estava sem cinto de segurança. Nem sei se o carro tinha cinto de segurança naquela época. Fiquei por dois anos afastado do Banco. Esse acidente deixou-me uma série de seqüelas que demorou muito para serem corrigidas. Fui socorrido por um rapaz, nem sei como ele me tirou de dentro do carro, naquele tempo não havia os recursos que temos hoje:Bombeiros, Samu. Foi difícil descobrir quem era esse moço, mas fiz questão de descobrir e levar-lhe um presente. Após dois anos fui trabalhar por dois anos na tesouraria regional de Campinas. Eu era chefe da tesouraria. Nessa época o Banespa fez um Plano de Demissão Voluntária- PDV, eu ia aposentar-me como sub-gerente da administração. Aposentei-me a primeiro de maio de 1992.
Nesse período o senhor deve ter vivenciado histórias memoráveis.
Muitas! O Brasil teve um período de inflação que girava em torno de 80% ao mês! Havia o open market em português, 'mercado aberto', refere-se ao mercado de títulos no qual atuam um banco central e os bancos comerciais de um país e no qual são comprados e vendidos os títulos da dívida pública; e o over-night (tradução: durante a noite). Quando o Brasil vivia com uma inflação gigantesca, as pessoas de posses e empresas de grande porte tinham acesso a aplicações financeiras que protegiam suas economias da desvalorização diária e desenfreada. Elas podiam participar do over-night emprestando para os bancos e recebendo no outro dia. O open market ficava em aberto, o cliente tinha que pedir o resgate. O over-night era resgate automático em 24 horas. Na agência em que eu trabalhava havia clientes de grande expressão, multinacionais, nem me lembro os nomes, tinham valores astronômicos. O sistema era precário, nem dá para imaginar como funcionaria hoje em dia. Eu era chefe da seção de pagamentos. As empresas ligavam: “-Quero aplicar no over!” Eram valores expressivos. Em seguida eu ligava para a Banespa Corretora e fazia a aplicação. As empresas não podiam ligar diretamente para a corretora porque tínhamos que confirmar se quem estava aplicando tinha aquele saldo. Minha vida era terrivelmente estressada. Isso sem contar que atendia clientes que já tinham passado por outros setores tendo eu que resolver o seu problema. Tinha muitas contas de Secretarias de Estado, todo mês tinham que fazer um fechamento e era tudo na minha seção. Até o meio-dia tinha over-night. E tinha casos no balcão que eram muito importantes, como por exemplo dessas secretarias. Muitas vezes acumulava, estava atendendo um caso complicado, tinha mais dois esperando. Mais os telefonemas pedindo para aplicar no over. Não sei como não fiquei louco! Até que chegou um dia que aconteceu o que eu temia. Passou um minuto do meio-dia, liguei para a corretora, Disse que tinha uma aplicação. A resposta foi: “- Sinto muito, mas já encerramos!”. O juro de um dia daquilo era uma fortuna! Fiquei apavorado, não sabia o que ia fazer, Pensei: “Quer saber? Vou almoçar!”. Voltei, pensei: “Vou conversar com o gerente!”. Não sei o que vai ser da minha vida, vou perder o emprego, não posso pagar esses juros é impossível” Voltei, sentei junto a mesa dele, fiquei esperando ele acabar de atender a ligação. Nisso tocou o outro telefone. Eu atendi, disse que o gerente Marcos estava ocupado. Era da Banespa Corretora, tinham aberto  uma margem de aplicação, não sei se alguém desistiu. Mas em tudo que você pensar há uma margem de tolerância. Fiz a aplicação! Até hoje o Marcos não sabe disso.
Como era organizado o atendimento?
Não havia senhas, ficava uma aglomeração diante do caixa.
Tinha muito cheque sem fundos?
Nossa ! Como tinha! Daí não entregávamos mais talão de cheques. Eram cheques avulsos. Eu acompanhava o XV de Novembro, fui em várias cidades, O Picolé jogou no XV de Novembro e no Palmeiras. Depois de jogador profissional ele foi delegado, por isso recebia no Banespa, perguntei: “-Você que é o Picolé”? Ele matreiramente, disse-me: “Oh! É você! Se eu soubesse não teria entrado nessa fila!” Ele nunca tinha me visto!
O cliente saia com o dinheiro no bolso?
Quem quisesse fazer uma transferência bancária fazia a “Ordem de Pagamento”. Datilografava, punha no malote, o favorecido se fosse correntista era creditado na conta ou então ficava aguardando procurar. Era um sistema muito precário. Trabalhei bastante no Banespa, sou muito grato ao banco.
O senhor aposentou-se no Banespa e continuou trabalhando?
Era o que eu imaginava fazer. Tinha passado em um concurso no fórum de Piracicaba. Um dos meus filhos, o Jefferson, praticava, mergulho, e em um desses mergulhos na Lagoa da Conceição, em Santa Catarina, ele acidentou-se e ficou tetraplégico Ele estava no último ano de medicina. O mundo caiu na minha cabeça! Ele ficou morando aqui em casa por uns três  anos.  Por uma incrível coincidência, a USP naquele ano adotou a inclusão de estudantes com deficiências na universidade. A Vereadora Cida Abe conseguiu uma entrevista com o reitor da USP, conseguiu junto ao reitor que o meu filho ficasse hospedado no Hospital  das Clínicas, lá ele fez  o último ano de medicina e a especialização de psiquiatria. Hoje ele é independente, trabalha em um hospital no Acre, tem seu consultório particular. O que era uma tragédia para mim hoje é um orgulho! Alan Diniz Souza é presidente da União das Sociedades Espíritas –USE, o meu filho freqüentou a Sociedade Espírita comigo. O Alan mais de uma vez citou o nome do meu filho como guerreiro. No Acre meu filho conheceu uma moça natural de Assis, São Paulo, casaram-se. Sou muito amigo do Nelson Spada, através dele, assíduo leitor de “A Tribuna Piracicabana”, além de colaborador, leio todas as entrevistas que o Jornalista João Umberto Nassif publica. Uma delas, foi com uma professora que mora no Acre, ela leciona em uma escola rural, gosta da natureza, diz que não há vida melhor do que lá. Em uma das falas ela diz: “Sou a única piracicabana aqui no Acre!” Pensei: Ah, não! Não é não...!”
O senhor tem algum hobby?
Não sou nenhum especialista em rosas, mas plantei uns pés no quintal, gosto de olhar a beleza delas, sentir o perfume. Tem uma chamada de “Príncipe Negro” que é negra. Gosto de ouvir musica clássica na NET. No tempo em que permaneci no Seminário tínhamos canto gregoriano, eu cantava no coral. No Domingo de Páscoa, a missa na Catedral era muito concorrida, festiva, Dom Ernesto de Paula era muito dedicado. O Coral do Seminário cantava na catedral cantos litúrgicos em latim, havia um momento em que o coral silenciava-se, o Antonio Carlos Copatto e eu fazíamos um dueto. Em um Domingo de Páscoa ele ficou afônico. Eu fiz um solo na Catedral! Era o Canto do Credo. ( Urbano passa a cantar, como estivesse na Catedral, sua memória traz o latim perfeito e afinado) No Seminário tive alguns colegas ilustres, o Angelo Angelini foi deputado e governador de Rondônia. Fui colega do Dr. Erotides Gil Bosshard. Secretário Municipal de Administração. Guardo boas lembranças do Seminário. Quando eu era coroinha, na época morava em uma casa logo atrás da Igreja Bom Jesus, na época o Grupo Escolar Alfredo Cardoso era atrás da Igreja Bom Jesus, na Rua Alfredo Guedes. Comecei a estudar no primeiro ano que o Grupo Escolar Alfredo Cardoso começou a funcionar no prédio novo, que é o atual. O Café Morro Grande ficava ao lado da Igreja Bom Jesus, Que saudade! Quando saia aquele cheiro do café sendo torrado! Nessa época em que eu era coroinha, só havia violino e órgão, eram musicas sacras e hinos religiosos. As pessoas ficavam mais concentradas. Dom Ernesto de Paula veio um dia até a igreja, houve uma cerimônia, a Adoração do Santíssimo. Quando terminou o bispo convidou os presentes para dirigirem-se ao Salão Paroquial. Lá ele leu a carta enviada pelo Papa, promovendo o padre Martinho para Monsenhor Martinho Salgot. Veja o cuidado do bispo, ele não fez isso na igreja. A minha infância foi no Largo Bom Jesus, meu pai aos domingos vendia ingresso na bilheteria do XV de Novembro, na época ainda no Estádio Roberto Gomes Pedrosa, conhecido como “Panela de Pressão”. Quando era jogo grande, ele ia de manhã e eu levava uma cestinha de almoço. Eu entrava e ficava. Desde muito pequeno assisti o jogo de grandes jogadores, Pelé com 17 anos, Palmeiras, Corinthians, o XV de Novembro de Piracicaba era um time de muita expressão. Lembro-me que o Santos veio jogar, terminou o jogo, eu fui entrando, quando percebi estava no vestiário do Santos. Nisso chegou o Gatão com seus dois filhos. Ele disse ao Pelé que queria apresentar-lhe seus filhos, com isso o Pelé também me cumprimentou. O Largo Bom Jesus era o reduto da criançada, jogava com bola de meia, subíamos na torre da igreja. Cheguei a tocar os sinos da igreja. As seis horas da tarde tocavam Ave Maria. Domingo as nove e meia da manhã, tocavam, tinha uma corda que descia, tinha três níveis, no coro, onde tocava Ave Maria, subindo mais um lance tinha a corda que tocava o sino mais em cima, no total eram seis cordas, tinha uma seqüência para tocar, eu não cheguei a tocar a Ave Maria, mas a minha irmã aprendeu a tocar as notas musicais. Um dos garotos que freqüentava o Largo Bom Jesus era o Coutinho (Antônio Wilson Vieira Honório) jogou no Santos, foi considerado o melhor parceiro de Pelé. Ele jogava no Palmeirinha, aos 17 anos foi jogar no Santos Futebol Clube. Naquele tempo sempre tinha o jogo  preliminar,  e o jgo principal que o povo cahamava de “Cascudo”. O Coutinho nem era para jogar, só que faltou um jogador, ele acabou substituindo, o Lula que era tecnico do Santos viu ele jogando. Levou-o pa4ra Santos.
O senhor é Bacharel em Direito?
Quando fiz esse curso eu estava vivendo aquele momento terrível do meu filho. Ele morava comigo. Fiz o vestibular no meio do ano na UNIMEP em Santa Barbara D` Oeste. Foi uma forma de me ocupar com atividades úteis, e também já tinha sido o sonho da minha vida. Eu era o vovô da turma. Mas me senti muito bem integrado. No vestibular eu tirei a nota 10 na redação. O coordenador do curso quis me conhecer. Foi uma boa experiência, eu recomendo!


 

 

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