sábado, dezembro 11, 2010

ALTINO JORGE VIEIRA

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 04 de dezembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADO: ALTINO JORGE VIEIRA
Em um dos cursos de fotografia promovido pela Fuji Photo Film do Brasil um dos participantes perguntou ao renomado professor que ministrava as aulas: “-Qual máquina o senhor considera como a melhor para realizarmos fotografias?”. Imediatamente ele respondeu: “- O fotógrafo com sua sensibilidade e suas habilidades é quem define a importância e a qualidade da fotografia, nem sempre o equipamento mais avançado irá representar o melhor trabalho fotográfico, portanto a melhor “maquina” é o indivíduo que opera a câmera fotográfica”. Altino Jorge Vieira é uma das figuras mais populares de Piracicaba Ainda estudante foi um dos comandantes da famosa Fanfarra do Industrial, que deu muitas alegrias á Piracicaba, tocando no Maracanã por ocasião do IV Centenário da Cidade Maravilhosa. Como fotógrafo trabalhou em um período de grandes mudanças no campo da fotografia, retratou os eventos mais importantes de Piracicaba. O arquivo fotográfico que Jorge mantinha em seu estúdio foi inutilizado após uma forte chuva, que reduziu a lixo a quase totalidade do seu acervo pessoal, uma perda inestimável para ele e para Piracicaba. Jorge teve uma foto sua publicada ocupando metade da primeira página do jornal “Estado de São Paulo”, foi na queda do Comurba. Teve intensa participação junto ao Clube Ítalo Brasileiro, desde o seu surgimento até o encerramento de suas atividades. Nascido em Piracicaba no dia 23 de junho de 1940, na Rua Riachuelo, seu pai era o português Altino Vieira, que aos 19 anos aportou no Brasil, sua mãe é a piracicabana Valdomira Ferraz Vieira, eles tiveram seis filhos, sendo que dois faleceram ainda muito novos. Os filhos que permaneceram vivos são: Antonio, José, Altino Jorge e Manoel. Jorge casou-se com Antonia Lazara Di Bene, sendo pai de dois filhos a Ana Lucia e o Jorge Paulo.
Como se deu a vinda do seu pai á Piracicaba?
Meu pai morou em São Paulo e no Rio de Janeiro, até que a Light começou a implantar os bondes em Piracicaba, ele era chefe de turma dos eletricistas, radicando-se em Piracicaba, tendo contraído matrimonio com a minha mãe ele foi chefiar o setor de eletricidade do Engenho Central, onde se aposentou.
Em que escolas você realizou os seus estudos?
O primário eu estudei no Grupo Escolar Dr. João Conceição que na época funcionava ao lado da Igreja dos Frades, em um prédio que existe até hoje, lembro-me das professoras Dona Maria, Dona Elvira, do professor Conca, do diretor, o Professor Negri. Na época eu morava na Rua do Rosário, na altura do número 1700, cheguei a ver a Rua do Rosário receber o asfalto, uma inovação que na época foi muito desfrutada pela criançada com seus carrinhos de rolimã, algo hoje impensável! O Bairro da Paulista era em grande parte ocupado por plantação de algodão. Na Rua Riachuelo havia até a bem pouco tempo a famosa Chácara do Vevé, a Rua Riachuelo terminava onde começava a chácara, um recinto de milionários. Cheguei a jogar futebol nessa chácara, minha posição era de half direito, o time era o Juvenil Riachuelo. O médico José Francisco Botelho, neto dos proprietários da chácara, era praticamente o dono do time. Eu cheguei a jogar contra o Coutinho (José Wilson Honório, nascido em Piracicaba a 11 de junho de 1946, foi um dos jogadores da Era Pelé do Santos, com quem fazia as célebres tabelinhas.). Onde hoje é o SESC era parte da Chácara do Vevé, assim como a área de lazer logo adiante.
Você freqüentava a Igreja dos Frades?
Cheguei a ser mariano, cordigero. Havia a projeção de filmes em um salão junto à igreja. Sempre tive facilidade em me comunicar, o grande violonista Antonio Carlos Coimbra estudava na minha classe, na festinha de quarto ano primário fui o apresentador e o Antonio Carlos com o violão se apresentou. Isso ficou em minha memória. O pai dele, o Miguelzinho, tocava muito bem violão. O ginásio eu fui estudar no Instituto Piracicabano, no Colégio Industrial conclui os meus estudos formando-me como técnico em Desenho Mecânico. Um dos motivos que me levou a estudar no Industrial era a Banda Marcial existente naquela escola. Além de participar fui um dos dirigentes, dos grandes amigos que encontrei lá um deles foi o professor Danilo Sancinetti. Nessa época, aos 17 anos, eu estudava a noite e trabalhava durante o dia na Casa Bischof , foi o inicio do meu trabalho com fotografia.
Na Banda Marcial da Escola Industrial que instrumento você tocava?
Comecei tocando o bumbo, eu ia á frente da banda, fazendo as evoluções. Ocorreu um episódio interessante, Paulo Clarício, Danilo Sancinetti e eu, acompanhando a Banda Marcial da Escola Industrial fomos a um concurso de bandas em São Paulo, o nosso uniforme era muito simples, a representação da cidade de Jaú deu um tremendo show. Ao voltarmos á Piracicaba, disse ao Danilo que deveríamos fazer uma campanha para arrecadar dinheiro e confeccionar um uniforme para a nossa banda. A nossa banda era muito querida, todos os grandes eventos cívicos que ocorriam na cidade eram efusivamente comemorados com a participação da Banda Marcial da Escola Industrial. Nessa época eu já fotografava os eventos, usava uma câmera Rolleiflex. O Comendador Antonio Romano foi quem deu-nos o empurrão inicial para a aquisição do uniforme. Reunimos um pequeno grupo e expusemos ao comendador o nosso plano, queríamos comprar um automóvel para sortear, com o dinheiro arrecadado pagaríamos o carro e empregaríamos o lucro na compra de 90 uniformes de gala, completos, para 90 pessoas, era caríssimo. A alfaiataria que fazia esse tipo de uniforme localizava-se na cidade de Jaú, tudo feito sob medida para cada integrante da banda. A Silvia Hage era nossa baliza, mais tarde ela foi eleita Miss São Paulo. O Comendador Antonio Romano disse que poderíamos adquirir o carro que ele avalizava a aquisição. O carro da época era o Gordini! Onde hoje é o Bradesco, na Praça José Bonifácio, era o Cine Politeama, havia um hall na entrada do cinema, conseguimos expor ali o Gordini que seria rifado. Com o uniforme da Banda Marcial revezávamo-nos oferecendo a rifa. A aceitação por parte do povo piracicabano foi tão grande que em uma semana vendemos todos os números, a nossa previsão era para serem vendidos no prazo de um mês. Devolvemos o dinheiro para o Comendador Antonio Romano. Ele doou do seu próprio bolso um valor adicional, assim como o Comendador Mário Dedini e o Comendador Luciano Guidotti também fizeram doações pessoais. Com essas arrecadações confeccionamos um uniforme muito garboso, lembrava muito o uniforme do soldado da rainha da Inglaterra. Foi feita uma grande apresentação em Piracicaba para apresentar o uniforme á cidade. Apresentamo-nos em São Paulo, tínhamos um toque muito bonito, que incluía marcha de banda, mas incluía também musica popular. Os concursos realizados no Vale do Anhangabaú apresentavam 40 a 50 bandas, eram enormes. A comissão julgadora era composta por militares de alta patente, o próprio governador Adhemar de Barros assistiu nossos desfiles. Quando a nossa banda entrou, arrasou. Isso foi em 1963. Apareceram convites de muitas cidades para que fossemos nos apresentar aos seus moradores. Viajamos por mais de 40 cidades. Lotávamos três ônibus. A televisão transmitia os desfiles do Vale do Anhangabaú. Com isso alcançamos uma repercussão muito grande.
Como era a composição da Banda Marcial do Colégio Industrial?
Á frente ia a baliza, em seguida três harpas, umas três porta bandeiras, duas fileiras com quatro bumbos cada uma, em seguida vinham 10 surdos, umas 20 tarolas, em seguida os instrumentos de sopro, incluindo dois trombones, totalizando 90 pessoas. Era uma coisa maravilhosa. Em 1964 houve os Jogos Mundiais da Primavera no Rio de Janeiro, foi realizado no Maracanã. Estivemos lá, tocando ao lado da famosa Banda dos Fuzileiros Navais, por ocasião do IV Centenário do Rio de Janeiro, o governador Carlos Lacerda foi nosso anfitrião.
O que determinou o fim da Banda Marcial da Escola Industrial?
É difícil afirmar especificamente o que aconteceu. Por mais de 10 anos tivemos muito sucesso em todos os lugares em que nos apresentamos. Participávamos de muitos concursos entre bandas, lembro-me de um concurso em Araraquara onde de 10 troféus conquistamos sete! Ganhávamos troféu de melhor apresentação, melhor repertório, ritmo, e assim sucessivamente.
Como era o ensaio?
Ensaiávamos uma vez por semana, na rua próxima a Escola Industrial, também no local onde atualmente é a Biblioteca Municipal. O evento que você imaginar era abrilhantado pela banda, até mesmo no sepultamento do Comendador Mário Dedini, nós executamos a marcha fúnebre. Quando éramos convidados a tocar em outras cidades era comum sermos a última banda a tocar para não desmotivar a platéia a assistir as demais, com apresentações inferiores a nossa. Nosso desfile em Piracicaba descia pela Rua Boa Morte, todo colégio tinha a sua fanfarra, nenhum fazia sombra para nós, embora o Colégio Dom Bosco, o Instituto Piracicabano e mais tarde o Jerônimo Gallo tivessem boas fanfarras.
Quando foi o momento em que se decidiu que não dava mais para continuar a existir a fanfarra do Colégio Industrial?
Não houve um momento determinante, com o passar do tempo os instrumentos foram deteriorando-se, os uniformes também foram gastando-se, quando o Danilo Sancinetti aposentou-se mudou a diretoria do Colégio Industrial, a escola então recolheu os instrumentos e hoje nem sei mais em que situação se encontra. Os jovens da época tomaram seus destinos, a nova geração infelizmente tem novas formas de ocupação de seu tempo, algumas até prejudiciais a sua educação.
As músicas eram tocadas de ouvido?
Exatamente, eram tocadas de ouvido, não líamos as notas musicais para serem executadas.
Quando foi despertado o seu interesse pela fotografia?
Na época as coisas eram um pouco diferentes do que é hoje, eu fiz amizade com os proprietários da Casa Bischof, situada na Rua Governador Pedro de Toledo, 1005, os proprietários eram o Rodolfo e o José Bischof. Eles tinham um laboratório de revelação de fotografias que o pai tinha construído e que estava sem ser utilizado. Nós só revelávamos fotografias em branco e preto, não existiam fotos coloridas. Os filmes eram revelados em tanques grandes com revelador, água e fixador. Havia o ampliador, mas usavam-se mais a copiadeira. “A parte mais difícil era após revelar, saber qual foto perterncia a quem”! Os filmes eram chapas grandes, 6 por 9, 6 por 6, com 8 e 12 fotos respectivamente.
As fotografias tinham quais motivos principais?
Eram fotografadas crianças, cães e gatos. Ninguém da família tirava fotos de eventos, se fizesse um aniversário era contratado um fotografo profissional, que na época eram poucos, isso em 1960. Na ocasião os fotógrafos de destaque eram o Lacorte, o Caprecci, o Filetti, o Cícero. Na Vila Rezende tinha o Mário Curvinha, ficava na segunda casa após a curva em que inicia a Avenida Rui Barbosa.
Você chegou a fotografar pessoas falecidas antes de serem sepultadas?
Muitas pessoas vindas de outras regiões do país tinham por costume guardar como lembrança a foto do rosto do falecido, principalmente se fossem crianças. Essas fotografias eram muito utilizadas para serem transpostas para a porcelana e colocadas nos túmulos. Houve um caso em Piracicaba que se tornou célebre, ocorreu com o Filetti, a pessoa veio de algum sítio da redondeza, procurou um fotografo para retratar o rosto da criança falecida, só que já era tarde, não dava mais para sepultar naquele dia. Foi quando o responsável pediu para deixar o corpo no estúdio até o dia seguinte. E assim foi feito. Em 1965 eu já era reconhecido como fotógrafo. Quase ninguém tinha máquina fotográfica. Assim como existia o médico da família, o barbeiro da família havia também o fotógrafo da família. A foto da capa do primeiro LP do Pedro Alexandrino foi feita por mim. Fui free-lance de “O Diário”. A foto da queda do Comurba, em 1964 aconteceu quando eu estava na porta do Bischof, ouvi o enorme barulho, meu irmão Antonio era proprietário da relojoaria Esmeralda, que era bem próxima ao Comurba, na hora pensei no que podia ter acontecido á ele. Graças a Deus ele estava no fundo da relojoaria. Pequei a minha máquina Yashica e tirei algumas fotos, não se tirava a quantidade de fotos que se tira hoje.
Como a sua fotografia foi ocupar metade da primeira página do “Estadão”?
O Rocha Netto foi um apaixonado por fotografia, era colaborador da Gazeta Esportiva. Ele disse-me: “- Jorge você tem alguma fotografia da queda do Comurba, o Estadão me ligou pedindo.”, foi então que lhe passei a fotografia que dias depois foi publicada na primeira página do jornal.
Você recebeu algum pagamento pela foto?
Não recebemos nada, naquele tempo não havia essa postura comercial como hoje. Ninguém se preocupava em ser remunerado por alguma foto interessante. Era um prazer ver uma foto de sua autoria ser publicada em um veiculo tão importante. Colaborei muito com a imprensa de Piracicaba, nunca cobrei nada, eu ganhava dinheiro fazendo fotografias de eventos. Tirei uma foto histórica, no dia em que o Presidente Emílio Garrastazu Médici veio a Piracicaba, fotografei quando ele descia a Rua Moraes Barros, a rua foi isolada e o fluxo de transito passou a ser na mão contraria para que o carro presidencial fizesse o percurso até o centro. Fotografei Ulisses Guimarães em Piracicaba, fotografei Janio Quadros em um jantar na Chácara Nazareth eu dei essas fotos para o Deputado Francisco Antonio Coelho.
Você mantém um arquivo de fotos e negativos?
Eu tinha um estúdio na Rua Benjamin Constant, 1123, as calhas do prédio eram antigas. No fundo havia um quarto, onde fiz uma prateleira, com umas 100 caixas de sapato onde eu colocava as fotos e os negativos, bem organizados. Em 1988 tivemos uns três dias de chuvas constantes, que transbordaram pelas calhas do meu estúdio sem que eu percebesse. Uns dias após ter cessado a chuva desci até um laboratório desativado que ficava no porão, fui surpreendido por sinais de água que vinham de cima. Abri a sala onde estava meu arquivo fotográfico e vi que estava tudo perdido. Chorei o dia todo.
Quando você entrou no Clube Ítalo Brasileiro?
Eu tinha uns 30 anos, entrei no Ítalo por acaso, a sede da Sociedade Italiana (Società Italiana di Muto Soccorso di Piracicaba) na Rua D.Pedro I, estava parada, de vez em quando os sócios faziam uma reunião. O Banzato era o zelador do prédio. O Walter que tinha como apelido Italianinho me procurou e disse que o seu pai queria movimentar o espaço. Foi formada uma diretoria, independente da diretoria e fundado o Clube Ítalo Brasileiro, que funcionava em espaço cedido pela Sociedade Italiana. Fomos agrupando pessoas interessadas, montamos algumas peças teatrais, onde inclusive atuei, a primeira delas foi a peça “O Mundo Não Me Quis” de Procópio Ferreira.. Aos poucos conquistamos mais espaço físico no prédio da Sociedade Italiana, passamos a realizar bailes, sendo que o primeiro baile do Hawai realizado em Piracicaba foi trazido por mim, que havia participado de uma festa semelhante em Jundiaí. O Professor Joaquim do Marco foi o primeiro presidente do Clube Ítalo Brasileiro, eu fui diretor social. Começamos com 100 associados, com o passar do tempo adquirimos a área onde seriam construídas as instalações do clube. A ferragem da primeira piscina foi doada por Armando Dedini, coube-lhe o título de associado número 007. Passamos a fazer festas já na sede do clube.
Porque os clubes sociais estão em declínio?
As atividades do Ítalo cessaram em 2008, chegamos a ter 2.200 sócios, ultimamente eram apenas 300 sócios. A família ia ao clube, o menino ia ao futebol, á piscina, ao boche, outros dançavam cada um se encontrava em uma ocupação. Atualmente o jovem não quer saber de ficar com a família.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

CLEUSA BELLINI – ASSOCIAÇÃO DOS PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS - APAE PIRACICABA

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 06 de novembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: CLEUSA BELLINI – ASSOCIAÇÃO DOS PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS - APAE PIRACICABA
O grande salto tecnológico que a humanidade deu no último século infelizmente não teve a mesma correspondência em eliminar preconceitos enraizados por algumas culturas. Ao nascer um ente querido, caso ele seja portador de necessidades especiais, para algumas famílias despreparadas é gerado um mal estar, um complexo de culpa, que acarreta na atitude mais primária, que é esconder o “problema” da sociedade. Diante da mesma situação, outros se realizam como verdadeiros pais descobrem-se senhores de um carinho infinito com relação a um filho especial. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia tem feito grandes progressos para dar melhores condições de vida e realizar a inclusão social do portador de necessidades especiais. A prevenção e tratamento do portador de necessidades especiais avançaram muito. Já ao nascer uma criança deve fazer o Teste do Pezinho, que é um exame rápido de prevenção onde são coletas gotinhas de sangue do calcanhar do bebê com a finalidade de impedir o desenvolvimento de doenças que, se não tratadas, podem levar à deficiência intelectual e causar outros prejuízos à sua qualidade de vida. Através do Teste do Pezinho podem ser diagnosticadas a Fenilcetonúria, o Hipotireoidismo Congênito, a Anemia Falciforme, a Fibrose Cística e demais Hemoglobinopatias. Para que a prevenção seja possível, a coleta deve ser efetuada na primeira semana de vida da criança e as amostras devem ser enviadas o quanto antes para o laboratório. Hoje toda a criança nascida em território brasileiro tem direito ao Teste do Pezinho Básico, totalmente gratuito. Em Piracicaba a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais é administrada por Cleusa Bellini. Instalada em prédio recém-inaugurado com salas amplas e planejadas para a função a que se prestam, e aparelhos necessários á atividade específica. Há de salientar-se que todos que trabalham na APAE exalam um imenso amor ás “suas crianças”. Cleusa Bellini é vila rezendina convicta, nascida em 22 de dezembro de 1949, é formada em Economia pela UNIMEP. Atuou em empresas como a Motocana, do Grupo Dedini, Caterpillar do Brasil e Votorantin. Em 17 de novembro de 1998, já aposentada, ingressou na administração da APAE, que possui 25 diretores e cujo presidente é Paulo Odair Correr.
A APAE de Piracicaba conta com quantos funcionários?
São 80 funcionários, temos 280 alunos, para o próximo ano há uma lista com mais 200 candidatos, que passarão por uma triagem. A escola já se tornou pequena, embora caibam 300 alunos. Quando mudamos para este local estávamos com 219 alunos. A demanda é muito grande.
Qual é a faixa etária dos alunos?
A partir de 2012 a Secretaria Estadual de Educação não irá mais assumir os alunos com mais de 30 anos, ela já nos comunicou a respeito. Esses alunos serão excluídos do convenio com a Secretaria. Atualmente temos em nossa APAE 65 alunos com idade superior a 30 anos, no próximo ano estaremos estudando uma solução que deverá ser tomada com relação a esses alunos.
Qual é a idade mínima para ser atendendo pela APAE?
Não há idade mínima, temos crianças com zero ano de idade até o nosso mais velho, com 52 anos.
Que atividades são realizadas na oficina?
Os alunos trabalham com madeira, tapetes, camisetas, bijuterias, pinturas em gesso, madeira. A nossa oficina é pequena, para o número de alunos que nós temos.
Como é feita a captação de recursos?
Você pode observar os cuidados e a boa qualidade das nossas instalações. Fico até constrangida em dizer que apenas 30% das nossas necessidades são atendidas pelos governos federal, estadual e municipal. O nosso custo mensal é de 170 mil reais, incluindo folha de pagamento, impostos. O prédio em que estamos instalados foi construído no ano passado, pela Prefeitura Municipal, cedido para nosso uso em regime de comodato. O convenio federal é uma vergonha, abri esse convenio em 1998, recebendo por mês R$ 5.085,00 esse valor é exatamente o mesmo até hoje, não sofreu nenhum tipo de correção. As nossas despesas aumentaram nesses 12 anos.
Como a senhora consegue complementar a verba necessária para o funcionamento da instituição?
Saio na batalha todo mês. Graças a Deus até o momento, com muito esforço temos conseguido recursos para continuar o nosso trabalho. Fazemos todos os tipos de eventos possíveis, como a venda de pizzas, bingos, rifas, jantares, almoços. Sempre buscando angariar recursos. Temos no Brasil 2085 APAE, participamos da federação nacional das APAE, há muitas APAE de cidades em que o município ajuda muito. Posso afirmar que em Piracicaba o único prefeito que enxergou a nossa APAE foi o prefeito Barjas Negri. Temos atualmente 3.300 metros quadrados de área construída em uma área total de mais de 6.000 metros quadrados. A APAE de Piracicaba foi fundada em 29 de janeiro de 1986, nesses 24 anos ela nunca tinha saído do lugar. Quando entrei na instituição ela funcionava na Rua Monsenhor Rosa, em uma casa velha, em péssimas condições, com um quadro de 10 funcionários e 45 alunos. Eu me sentia mal naquela situação. A própria alimentação dos alunos era muito precária.
Como é hoje a rotina do aluno?
Ele chega à escola sendo conduzido pelos pais, ou com o sistema de transporte Elevar, que trás o aluno cadeirante, e são muitos nessa condição, há também o transporte feito por peruas particulares. Ao adentrar a escola ele toma o café da manhã composto de leite com chocolate, pão que é feito em nossa própria padaria, esse pão que o aluno consome é com manteiga, ou patê e uma fruta. Há aqueles que têm uma alimentação diferenciada pela sua limitação física, requerem maiores cuidados. As “minhas crianças” comem muito bem aqui, luto muito para isso. Toda sala de aula tem uma professora e uma auxiliar, é praticamente impossível apenas uma professora cuidar de uma classe. Temos atualmente 13 salas de aulas. Os alunos da escola ás 11 horas e 30 minutos voltam para as suas casas. Aqueles que freqüentam a oficina permanecem em tempo integral, temos 50 crianças nas duas oficinas. Temos empresas como a Caterpillar, Delphi, Waller, que formalizaram contrato conosco, onde os alunos saem da nossa escola pela manhã dirigem para trabalharem como aprendizes nessas empresas e voltam para a escola ás 16 horas e 30 minutos. Eles trabalham com embalagem, na contagem. São acompanhados por uma monitora. É interessante observar que realizam suas tarefas com extrema competência. A nossa escola oferece desde o ensino fundamental até o treinamento para que possam atuar no mercado de trabalho. No ano passado tivemos 35 aprendizes que passaram a integrar o quadro regular de funcionários em diversas empresas.
A padaria existente na APAE forma alunos na profissão?
Um dos objetivos é ensinar os alunos a trabalharem em panificação e confeitaria. Um padeiro profissional os orienta. Temos 5 ex-alunos no setor de panificação do Wal Mart., trabalhando registrados como profissionais. Na Kraft Foods Brasil S/A tem mais de uma dezena de ex-alunos trabalhando como profissionais. Na Santa Casa de Piracicaba há ex-alunos trabalhando.
Como é a relação desses aprendizes com os funcionários efetivos dessas empresas?
Muito boa! Temos um aluno trabalhando na CETESB, os funcionários o adoram, não sabem o que fazer por ele. A cada seis meses fazemos uma reunião com essas empresas, onde são abordados diversos aspectos da nossa parceria, e com muita satisfação recebemos elogios aos nossos alunos.
Esses alunos usam o salário de que forma?
Acredito que são orientados pelos pais para aplicarem bem esses recursos. A maioria deles é bem independente, freqüentam shopping, namoram. No ano passado tivemos dois casamentos de alunos, inclusive de casal de deficientes que já tiveram um filho perfeitamente normal. Temos em nossa escola uns cinco ou seis alunos que são casados e pais de filhos sem nenhuma necessidade especial.
O nome da instituição é de “Amigos e Pais” Quem pode ser amigo dos excepcionais?
Qualquer pessoa que deseje ajudar. Estamos instalados na Av. Brasília 1381, Vila Industrial, Telefone: 3413-1233.
A deficiência mental tem diversas origens?
Há centenas de doenças que podem ocasionar essa anomalia, há o fator genético e mais recentemente houve um acréscimo substancial em decorrência do uso de drogas pelos pais. No meu ponto de vista acredito que os governos federal, estadual e municipal deveriam dar mais atenção ao aumento de pacientes portadores de deficiências. É preocupante como cresce o numero de crianças com necessidades especiais. Temos casos de acidentes de transito que transformaram em deficientes pessoas normais.
Se gasta muito mais tratando do que prevenindo?
Um aluno custa para a nossa escola um “per capita” de R$ 900,00. Há setores, como o carcerário, que consomem o dobro “per capita”. O governo não enxerga situações como a nossa, a entidade funciona por estar sendo administrada pela iniciativa de pessoas de boa vontade e graças à sensibilidade de parte da população.
Há alunos que recebem aulas de educação física?
Temos alunos que praticam canoagem na Rua do Porto, orientados pelo nosso professor de educação física, Alan Annibal Schmidt. O SESI cede as instalações para a prática de esportes.
Há fatos marcantes que ocorreram com alunos?
Há sim, alunos que adquirem a capacidade de andar, falar. É maravilhoso!
A relação é mais difícil com os alunos ou com seus pais?
As maiores dificuldades encontraram com os pais. Alguns pais deixam seus filhos conosco sem se importarem com o que acontece com a criança. Já tive que ser muito enfática em algumas reuniões de pais. Há também pais extremamente zelosos e carinhosos. O ambiente doméstico pode afetar muito a conduta de uma criança.
A classe social a que a família pertence determina a conduta da mesma com relação a criança?
Temos um grande percentual de alunos pertencentes a classes menos favorecidas. Há também filhos de famílias abastadas que freqüenta a APAE. O fato de ter melhores condições financeiras não implica que essa criança receba um melhor tratamento por parte dos pais. Alguns aparentam certo desprezo pela situação do filho. Temos em nossos quadros pedagogas, médicos, dentistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, assistente sociais, são profissionais experientes, em alguns casos acredito que são mais carinhosos do que a própria família do aluno. Algumas crianças não querem voltar para casa, querem permanecer na APAE.
Há algum vinculo religioso da APAE?
Não há nenhuma influencia religiosa.
Quanto um pai paga para ter seu filho na APAE?
Não há obrigatoriedade de pagamento. Caso queira contribuir cada um dá o que acha que pode. Alguns não dão absolutamente nada. Há um caso que é gritante, sabemos que se trata de pessoa com bom poder aquisitivo, mas que contribui com uma quantia totalmente irrisória.
Há biblioteca na APAE?
Atualmente não temos espaço pra ter. Pretendo colocar uma sala de música, um teatro, um ambulatório, eu gostaria muito de fazer um salão de festas, nós fazemos muitas promoções. O Lar dos Velhinhos é muito atencioso conosco, eles cedem o salão de festas deles quando realizamos nossos eventos para angariar recursos. Recentemente fizemos uma bacalhoada para 600 pessoas. No dia 17 e 18 de dezembro, as 19 horas, alguns alunos estarão fazendo uma apresentação teatral na Estação da Paulista
Há alguma colaboração na aquisição de medicamentos?
Geralmente a própria família providencia os medicamentos, mas há casos em que nós adquirimos ou recebemos doações da Rede Drogal, da Farma Vip.
Os diretores da APAE são necessariamente pais de alunos especiais?
A diretoria é formada por 25 voluntários, sendo que apenas quatro tem filhos com necessidades especiais.
Com a sua experiência a senhora tem, acha que pode ter muitas pessoas que levam uma vida normal, mas nem imaginam serem portadoras de leve deficiência mental?
Acredito que isso seja possível sim.

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