domingo, fevereiro 05, 2017

ROSÉLYS SEGHESE ALLEONI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de fevereiro de 2017.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ROSÉLYS SEGHESE ALLEONI


Uma verdadeira revolução no ensino da música, crianças realizando apresentações musicais aos cinco, seis anos. Graças ao interesse e ao esforço de Rosélys Seghese Alleoni que se deslocou até os centros onde essa nova técnica de ensino é estudada e ministrada, Piracicaba dispõem desse método criado por um gênio, o japonês Shinichi Suzuki, que faleceu no Japão em 26 janeiro de 1998, com quase 100 anos de vida. Com uma sólida formação musical Rosélys aprofundou-se no estudo desse método e hoje oferece aos alunos da Escola de Musica de Piracicaba “Ernst Mahle” a formação musical a partir dos cinco anos de vida. Uma grande descoberta para a humanidade e uma grande conquista para Piracicaba.



                                                                         2 years old

Rosélys Seghese Alleoni nasceu em Piracicaba a 9 de fevereiro de 1946.  É filha de Iracema Seghese Alleoni e Antonio Francisco Alleoni que tiveram cinco filhos: Rosélys, Carlos Alberto, Elisete, Elizabete e Silvana.
Você nasceu em que bairro de Piracicaba?
Nasci na Vila Rezende, na Avenida Rui Barbosa, no primeiro quarteirão, logo após da ponte sobre o Rio Piracicaba. Nossa casa era do lado esquerdo. Sou rezendina, com orgulho!
Os seus estudos foram iniciados em que escola?
Foi no Instituto Baroneza de Rezende, fiz o pré-primário, o primário, comecei a tocar piano com uma das irmãs, a Irmã Clemência.
O que fez com que você se interessasse em tocar piano, sendo tão jovem ainda?
Vários fatores contribuíram, um deles foi a indicação de um dos meus médicos, o pediatra Dr. Tito Gomes de Moraes, em uma das suas conversas com a mamãe ele disse que seria ótimo que eu tocasse piano, iria me proporcionar um bem estar maior. Na época eu tinha algumas limitações para locomoção sem auxilio de alguém. Minha mãe atendendo a indicação do Dr. Tito colocou-me no curso de piano. A minha madrinha, Inês Seghese, irmã da mamãe, deu-me de presente um piano, que conservo até hoje. Nessa época eu tinha entre seis a sete anos. Isso foi me incentivando.
Quando você viu o piano que tinha recebido como presente, qual foi o impacto que ele lhe causou?
Ele chegou todo encaixotado, a minha casa tinha uma escada, foi uma emoção muito grande. Foi um presente que eu nem esperava em ganhar. Até então eu não tinha piano em casa, tinha as aulas no colégio e estudava lá. Sempre gostei bastante de tocar piano.
Qual era a atividade profissional do seu pai?
Ele começou com uma fábrica de vassouras, iniciou com seu irmão, Irineu Alleoni, a vassoura chamava-se “Marabá”.  (O grande artista plástico, Marco Antonio Cavallari reconhecido mundialmente, por suas inúmeras obras expostas em muitos países sendo talvez uma das mais conhecidas pela mídia a reconstituição a partir do crânio da cabeça de Josef Mengele componente do primeiro escalão nazista, Cavallari tem seu nome como escultor no laudo oficial da polícia brasileira, alemã, israelense e americana. Em entrevista dada para esta coluna afirmou que muito jovem começou a trabalhar, conforme suas palavras: “Sei fazer vassoura de piaçava, fazia quarenta dúzias por dia, isso na Fabrica de Vassouras Marabá”.) Depois ele teve um sócio, o Ferreti. A fábrica começou com o meu avô, Antonio Alleoni. A nossa casa era na Avenida Rui Barbosa e eles tinham a indústria em um barracão na Avenida Maria Elisa. Permaneceram por alguns anos, depois se mudaram, meu pai construiu a nossa casa na Rua Dona Eugênia, e ao lado um barracão onde atualmente tem casas e prédio construídos no local. Quando mudei para essa casa eu tinha uns 10 anos.  
Você formou-se como pianista?
Sou formada em Piano pelo Conservatório Dramático e Musical de Piracicaba. Também sou formada como professora primária, antigo Magistério ou Normal no Colégio Piracicabano. Posteriormente estudei com a pianista Maria Dirce Rodrigues de Almeida, com quem aprendi toda a parte pedagógica do ensino do Piano. Sou graduada em Educação Artística pela Universidade Metodista de Piracicaba- UNIMEP.
Você lecionou piano?
Fui professora de Piano no Conservatório Dramático e Musical de Piracicaba por 25 anos. Em 1982 passei a lecionar na Escola de Música de Piracicaba, hoje Escola de Música de Piracicaba “Maestro Ernst Mahle”.
Você sempre buscou aprimorar sua técnica participando de diversos cursos.
Fiz o curso de Visão Científica da Pedagogia da Técnica Pianística com o Professor Luis Carlos de Moura Castro – Texas USA. Princípios de Técnica Pianística com o Professor Alfeu Araujo. Freqüentei Cursos de Técnica Pianística com Dirce A. Camargo, Olga Normanha, Beatriz Balzi, Maria Helena Pacheco Ferraz, Fernando Lopes e Professor Alfeu Araujo, M.Helena P. Ferraz, Fernando Lopes, Alfeu Araujo. Participei dos Master Classes com os pianistas Luis Carlos Moura Castro (USA), Estela Caldi, Daisy de Luca. Estudei harmonia e flauta doce com o maestro Ernst Mahle. Participei de inúmeros cursos referentes a Iniciação Musical e Pedagogia Pianística. Como professora do Iº e IIº Graus (Curso Técnico, reconhecido pelo MEC) tive vários alunos que conquistaram prêmios em Concursos Nacionais e Estaduais como Concurso Jovem Instrumentistas do Brasil, Magda Tagliaferro, Souza Lima e Art Livre Em 2005 obtive da Suzuki Association Of The Americas em curso realizado em Lima, Peru o Certificado de Capacitação para Ensino do Método Suzuki para Piano, com crianças a partir de 4 anos. Recebi a Capacitação em Filosofia e Leitura Musical, com a Professora Caroline Fraser, em Lima, Peru. Em 2009 participei do curso “Toda Criança é Capaz”, ministrado pela Associação Suzuki das Américas com a professora Shinobu Saito, teacher tainer da Associação Suzuki Americana (SAA). Em setembro de 2009 participei do curso “Lectura Musical Com El Metodo Del Lingua Materna” com a professora Caroline Fraser, do Peru reconhecida pela Associação Suzuki das Américas (ASA), como professora de capacitação do Método Suzuki para piano e coordenadora de piano pela Associação Suzuki do Peru. Em 2011 participei do Curso de Rítmica Dalcroze, ministrado pelo Professor Iramar Rodrigues (Suiça). Em 2013, com Caroline Fraser, Peru, Curso Sobre Método Suzuki. Em junho de 2014 tive a participação no 1º Encontro Internacional de Pianistas de Piracicaba, assistindo a palestras e masterclasses com as pianistas e professores João Paulo Casarotti e Leslie Spotz (USA).




        Shinichi Suzuki A beautiful heart = a beautiful tone

Além desses cursos todos, você tem realizado ações culturais em Piracicaba? 
Criei o Recital Mirim, para dar oportunidade aos musicistas mirins de 5 a 11 anos se apresentarem. Criei o Concerto para a Juventude, onde jovens tenham a oportunidade de mostrar o seu trabalho em todos os instrumentos e voz. Fui por 5 anos secretária da Sociedade de Cultura Artística de Piracicaba.
O que é o Método Suzuki?
Esse método foi criado por um filósofo, educador, músico. Ele viveu na época da Segunda Guerra Mundial, ele percebeu que as crianças estavam ficando muito tristes nesse período, ele queria fazer alguma coisa para que elas tivessem um pouco mais de alegria. Começou a estudar como a criança aprende a falar. De que forma ela aprendia. A criança aprende a falar antes de ler e escrever: ouvindo e repetindo. Ele percebeu que a criança tinha muita facilidade independente da língua: japonesa se morasse no Japão, alemão se morasse na Alemanha. As crianças aprendiam com muita naturalidade a língua do local onde morasse. Ele passou a estudar de que forma ela aprendia e passou a aplicar isso no sentido de que forma ele iria ensinar a música. Dessa forma toda criança é capaz: ouvindo e repetindo. Shinichi Suzuki criou um método fantástico, as crianças aprendem com muita facilidade, é muito lindo ver esse desenvolvimento.

     Suzuki Violin Book 4 Graduation Recital, 5 years old.   

      

                        First concert - 2 year old violinist   



                 Violin graduation concert, Gossec Gavotte


Você tem alunos com que idade?
Começo a lecionar para alunos a partir dos cinco anos. Já até realizaram recitais!
A seu ver qual é a importância da música para o ser humano?
É incalculável.
Como você descobriu o Método Suzuki?
Através da leitura, pesquisas, internet. Busquei o máximo que consegui. No Brasil esse método começou no violino, no Sul do Brasil. No piano encontrei em São Paulo algumas professoras que tinham ido buscar o método, mas não eram habilitadas a ministrarem aulas sobre o método para professores. Para ser training (O processo ou a rotina de quem treina) são necesários muitos anos de estudos além de uma série de pré- requisitos para ensinar professores do Método Suzuki. Nem é a minha pretensão. Eu quero é trabalhar mesmo com alunos, com as crianças. Depois de muita procura fiquei sabendo que no Peru tinha o Método Suzuki para piano. Fui para o Peru, juntamente com a professora Luciane Penati.Prmanecemnos por 10 dias fazendo toda a filosofia. O método é uma filosofia. O método não envolve apenas o aluno e o professor, trabalham os pais, aluno e professor. Shinichi Suzuki afirma que o método é uma mesa de três perninhas, se uma das pernas não existir o método já não funciona.
Esse método de aprendizado pode ser aplicado para outras matérias além da música?
O Kumon acho que é meio parecido. Fiquei até com vontade de fazer o Kumon para ver se tinha alguma relação (Kumon é um método que visa desenvolver o autodidatismo nos alunos de forma individualizada, A palavra designa além do nome do fundador  Toru Kumon o método de estudo. Acredito que haja alguma relação, mas não sei definir qual seria essa relação. Há semelhanças, é diário, no piano é dito que “você tem que praticar todos os dias que você come” o tempo não é tão importante, no começo a criança tem pouco material, se ela ficar cinco minutinhos no piano é maravilhoso. A criança vai criando esse hábito, os pais têm que estar muito presentes, eles assistem a aula com a criança, ela não fica sozinha.
Isso não é meio complicado?
No Brasil é muito complicado quando envolve essa parte familiar. Tenho aluno em que os pais estão sempre presente, não importa se são 10 ou 15 minutos. Com isso o menino deslancha, vai muito rápido. Outros aluninhos vão para a aula e ninguém toma conhecimento. Torna-se mais complicado.
Caso a criança esteja sob os cuidados de uma pessoa da família, avó, por exemplo, ela pode participar?
Já tive casos em que a avó participava. Frequentava a aula e depois trabalhava com a criança em casa. Criança de cinco anos não irá lembrar tudo que eu disse à ela. Os pais têm essa missão, de ser o professor em casa. Orientar a criança. Isso é importante porque o professor fica pouco tempo com a criança. No inicio damos só meia hora de aula. A concentração dela é ainda muito pequena. Com o passar do tempo percebemos que a concentração da criança vai aumentando de uma forma visível.
É um trabalho que não se limita a música, abrange a mente humana?
Trabalhamos com o ser humano, com o indivíduo. Ele irá aprender muita coisa: raciocínio, memorização, concentração, disciplina, postura, coordenação motora, percepção auditiva, sensibilidade, musicalidade, socialização, ritmo, afinação, auto-estima. Há um leque muito grande de benefícios, não é o simples fato de estar tocando piano. A criança que estuda música é centrada, tem um objetivo a alcançar. No ensino ele tem várias metas, ela vai alcançando essas metas. Ela irá aprender a trabalhar em sua vida.
Algumas famílias ainda têm algum preconceito, de que o filho torne-se um músico, e em decorrência das distorções, principalmente na música popular, isso pode comprometer o futuro profissional do jovem.
Na verdade nunca ouvi nada a respeito. Os meus alunos eu não tenho como objetivo em torná-los profissionais. Irá tornar-se um musico profissional se for a vontade dele. Estou fazendo o meu papel de pedagoga para ele adquirir conhecimentos, ter uma apreciação musical, saber ouvir uma música, alguns escolhem essa carreira. Tive dois alunos que seguiram e hoje são bem sucedidos, um está nos Estados Unidos e a outra viajou para o exterior, atualmente está na Escola de Musica de Piracicaba fazendo doutorado. Escolher uma carreira é uma iniciativa muito pessoal. Posso até falar que a pessoa tem talento. Mas a iniciativa e decisão são da pessoa. Tive alunas ótimas, hoje uma é médica e outra é advogada, a música serviu para a vida delas, enfrentar platéia. Cada vez que você sobe no palco é um enfrentamento, você está “dando a cara para bater”.


                  Pânico de Palco ou "Stage Fright", por Luiz Carlos de Moura Castro   

                    RECITAL POR LUIZ CARLOS DE MOURA CASTRO

Você tem um grande número de apresentações?
Identifico-me mais com a área de pedagogia, gosto de ensinar. É o meu ponto forte.
Quando um aluno vai se apresentar o seu coração bate forte?
Nesse instante estou junto, com certeza! Temos que estar sempre incentivando, motivando.
Existe o inverso também, aquele aluno que não progride de forma alguma?
Eu nunca falo nada. As mudanças são muito grandes. Já tive alunas ótimas que desistiram e péssimas que se tornaram pianistas maravilhosas. Por isso não podemos falar nada. É uma coisa que às vezes vai fluindo, então tem que deixar. Vou até o ponto em que a pessoa diz que não quer mais.
Ou seja, é praticamente impossível definir o ser humano?
Nunca se pode dizer: “Você não tem capacidade para isso, então não pode fazer!”. A vida dá tantas reviravoltas, que as vezes a pessoa tem um estalo, uma luz.
Somos 200 milhões de habitantes, porém não temos a mesma proporção de interessados em musica clássica.
São poucas famílias que ouvem música clássica.
A tão decantada musicalidade brasileira tem atingido alguns limites abaixo de qualquer comentário, isso é a força da mídia?
É a mídia. Os veículos que atingem a massa popular não transmitem musica erudita, basta olhar o que é transmitido pela televisão. São raríssimas as apresentações, e mesmo as vezes assistimos na TV Cultura alguma coisa. A música é assim: “Se você não ouve você não gosta”. Se você ouvir cinco vezes uma peça de Villa Lobos irá amar. Agora nunca ouve, ou ouve uma única vez, não vai gostar. Não vai gostar nunca! Tem que ouvir, a gente precisa ouvir! Tem que degustar a música.
A diferença do teclado para o piano é muito grande?
É bem grande! Desde a parte técnica, o teclado é baseado em um sistema eletrônico, ele não tem peso e também você não pode mostrar o seu sentimento. Já está gravado, não dá para transmitir. Quando alguém está tocando piano há pessoas que não transmitem nada e outras estão tocando musicas tão simples e conseguem passar isso para você. É  aonde está a beleza. O João Pedro Carlini Garcia é um menino de 10 anos que ganhou o premio de musicalidade, para mim foi o maior premio. Ele conseguiu sensibilizar o júri. 
Música e saúde estão interligadas?


Muito. Todo ser humano não pode viver sem música. Seria muito triste se vivêssemos em um mundo sem música, ela está presente em todos os momentos, felizes, tristes, a musica influencia muito no nosso interior. Existe a musicoterapia, não é a minha área, mas deve ser muito linda também. 


NOTAS



·         SOCIEDADES MÉDICAS DE PIRACICABA, ANTECESSORAS DA (APM) ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA SEÇÃO REGIONAL DE PIRACICABA 19/01/1950 RESUMO HISTÓRICO


Diversas entidades médicas foram fundadas em Piracicaba antes da fundação da Regional da APM de Piracicaba, porém, todas tiveram vida efêmera. Segundo o relato do Dr. Oswaldo Cambiaghi em seu livro "MEDICINA EM PIRACICABA" (contribuição à sua história) - 1984 - foram as seguintes:
CENTRO MÉDICO - fundado em 13 de maio de 1913, por iniciativa do Dr. José Rodrigues de Almeida, teve como presidente o Dr. Torquato da Silva Leitão e secretário o Dr. José Rodrigues de Almeida.
SOCIEDADE MÉDICA DE PIRACICABA - fundada em 2 de julho de 1924, tendo à frente o Dr. José Rodrigues de Almeida, a primeira diretoria foi constituída pelos profissionais: Presidente, Dr. Coriolano Ferraz do Amaral; Vice presidente, Dr. Orestes Pentagna e Secretário, Dr. Francisco Simões da Costa Torres.
SINDICATO MÉDICO DE PIRACICABA - 13 de setembro de 1931 por iniciativa do Dr. Rosalvo Salles, iniciaram-se os trabalhos para a fundação do sindicato e elaboração do seu estatuto. Finalmente, no dia 3 de outubro de 1931, foi fundado o Sindicato Médico de Piracicaba com a presença Prof. Dr. Franklin de Moura Campos. Sua primeira diretoria ficou assim constituída: Presidente, Dr. Galdino Ferreira de Carvalho; Secretário, Dr. José Rodrigues de Almeida; Tesoureiro, Dr. Francisco Alves Corrêa de Toledo; Membros do Conselho Deliberativo: Dr. Coriolano Ferraz do Amaral; Dr. Júlio César de Mattos; Dr. Fernando da Rocha Paes de Barros e Dr. Francisco de Assis Jorge Monteiro.
SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA - em 25 de janeiro de 1947, fundava-se a sociedade dos médicos da Santa Casa de Piracicaba, com a finalidade de promover reuniões mensais de caráter médico científico e a Mesa Administrativa sorteava Bolsas de Estudos aos Membros do Corpo Clínico e ao mesmo tempo o Corpo Clínico proporcionava Bolsas para o comparecimento em congressos e cursos de aperfeiçoamento no país e no exterior. Na primeira reunião ordinária estiveram presentes os seguintes médicos: Dr. José da Cunha e Oliveira Júnior, Dr. Caio Ferreira Carneiro, Dr. Samuel de Castro Neves, Dr. Tito Gomes de Moraes, Dr. Irineu Bacchi, Dr. José Pessoa de Aguiar, Dr. Raul Machado Filho, Dr. Zeferino Bacchi, Dr. Bernardo Dias de Aguiar, Dr. Fortunato Losso Neto e Dr. João José Corrêa. As diretorias eleitas foram assim constituídas (1947): Presidente, Dr. Raul Machado Filho; Secretário, Dr. Bernardo Dias Aguiar - (1948): Presidente, Dr. João José Corrêa; Secretário, Dr. Wanderley Fonseca.
Em 1950 a Associação Paulista de Medicina que abrigava aos médicos da capital, graças aos trabalhos dos professores Dr. Jairo de Almeida Ramos e Alípio Corrêa Neto decidiram estender seu âmbito de ação também para o interior, criando as seções regionais e filiadas. Em Piracicaba, o grande batalhador para a instalação da regional foi o Dr. Luiz Gonzaga de Campos Toledo (Dr. Lula) e, sendo na época o Presidente de Sociedade de Medicina e Cirurgia o Dr. Nelson Meirelles, que reconhecendo a importância desse acontecimento, decidiu, em conjunto com outros colegas, paralisarem temporariamente as atividades da Sociedade para dar apoio a fundação da Regional da APM de Piracicaba.
ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA - SEÇÃO REGIONAL DE PIRACICABA - A Associação Paulista de Medicina (APM) fundada em 29 de novembro de 1930, abrangia os médicos da Capital de São Paulo, porém com a reforma do Estatuto em 1948, todos os médicos do Estado passaram a integrá-la, incorporando-se a ela as várias sociedades já existentes.
A partir dessa data, o Dr. Lula, que era Delegado do Departamento de Previdência não mediu esforços e após três reuniões de Intercâmbio Científico e Cultural com Diretores da APM, decidiram fundar a Regional de Piracicaba e depois de mais outras tantas reuniões preparatórias, no dia 19 de janeiro de 1950, na sede da Legião Brasileira de Assistência (Società Italiana de Mutuo Socorso), instalou-se a Assembléia Geral de Fundação com a presença de 38 médicos (fundadores), foi eleita por voto secreto, a primeira.
Diretoria que ficou assim constituída:

Presidente - Dr. Tito Gomes de Moraes
Vice presidente - Dr. Bernardo Dias de Aguiar
1º Secretário - Dr. Plínio Alves de Moraes
2º Secretário - Dr. Ben-Hur Carvalhais de Paiva
Tesoureiro - Dr. José Cunha e Oliveira Júnior
1º Orador - Dr. Fortunato Losso Netto
2º Orador - Dr. José Wenceslau Júnior

Entretanto, o Dr. Tito, presidente eleito, renunciou ao cargo alegando que por justiça o presidente deveria ser o Dr. Lula. O Vice presidente, Dr. Bernardo convocou a Assembléia Extraordinária, quando compareceram 29 sócios e o Dr. Lula recebeu 27 votos válidos, tendo ainda 01 em branco e 01 destinado a outro colega. A primeira sede foi instalada no Edifício Leitão, na Rua Alferes José Caetano, esquina com a Rua São José. Posteriormente passou a funcionar na Santa Casa, onde todos os membros do Corpo Clínico eram associados. Nessa época a Regional de Piracicaba estava integrada pelas seguintes cidades: Capivarí, Santa Bárbara D`Oeste, São Pedro, Águas de São Pedro, Tietê, Laranjal Paulista, Cerquilho, Rio das Pedras, Pereiras, Charqueada, Rafard e Santa Maria da Serra.
A IDÉIA DA SEDE PRÓPRIA - Em 1959, sob a presidência do Dr. Alcides Aldrovandi, realizou-se em Águas de São Pedro o VII Congresso Médico da APM. Foi aí que sedimentou a idéia de que a Regional necessitava da sua sede própria e assim os companheiros da diretoria se puseram em luta. Esse sonho já vinha sendo alimentado pelo Dr. Lula há muito tempo e não estava morto.
PRIMEIRA CASA DO MÉDICO DE PIRACICABA - inaugurada no dia 11 de agosto de 1962, no 12º andar do Edifício Lúcia Cristina, Rua XV de Novembro, 802. A Regional de Piracicaba comprou um apartamento e o Departamento de Previdência da APM o outro, assim a Casa do Médico ficou com a cobertura do prédio. Esse mérito é do Dr. Alcides Aldrovandi, sua Diretoria e aos Diretores da APM nas pessoas do Dr. Edson de Oliveira, Dr. Henrique Melega e Dr. Nicolau Oppido Sobrinho.
SEGUNDA CASA DO MÉDICO DE PIRACICABA - a cidade foi crescendo e aumentando o número de médicos. A sede ficou pequena e já não comportava para as atividades científicas, culturais e sociais, pois quando se construiu a primeira sede éramos 50 médicos, 12 anos após passou a ser cerca de 200. Desta vez, coube ao Dr. Legardeth Consolmagno, iniciar os trabalhos para a construção da nova Casa do Médico. Sob a presidência do Dr. Legardeth foi nomeada uma comissão pró construção da "Nova Casa do Médico", que ficou assim constituída: Dr. João José Corrêa, Dr. Arthur Campanhã Affonso, Dr. João Carlos Sajovic Forastieri, Dr. Benito Filippini e Dr. Geraldo Ferreira Borges. Adquirido o terreno de 1.000 metros quadrados e doado ao Departamento de Previdência por escritura lavrada no dia 25 de julho de 1975, sendo presidente da APM o Dr. Henrique Arouche de Toledo. Contratou-se a firma L M P K - Engenharia Projetos e Obras Ltda., para elaborar os projetos e orçamentos. No dia 15 de agosto de 1976, foi lançada solenemente a Pedra Fundamental e em 27 de agosto de 1977, foi inaugurada a Nova Casa do Médico de Piracicaba na Avenida Centenário, 546, com seus 640 metros quadrados de construção, tudo muito simples, o máximo que foi possivel com as dificuldades da época e sem nenhuma ostentação, empregando sempre o material mais econômico.
UTILIDADE PÚBLICA - A Associação Paulista de Medicina - Seção Regional de Piracicaba é reconhecida de UTILIDADE PÚBLICA pela Lei Municipal nº 361, de 6 de junho de 1953, quando era prefeito o Dr. Samuel de Castro Neves.
Dr. Legardeth Consolmagno
Piracicaba, 10 de julho de 2003

        ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
apresenta
MÚSICA DE CÂMARA
Luiz Carlos de Moura Castro,
piano
Sexta-feira, 29 de agosto de 2008, às 17h30min.
Direção Artística
André Oliveira e Guilherme Bernstein
Produção Artística
Nikolai Brucher
Realização

Patrocínio Petrobrás


Sobre o Artista

Luiz Carlos de Moura Castro 
Natural do Rio de Janeiro, Luiz Carlos
de Moura Castro graduou-se em piano pela Escola de Música da UFRJ e pela
Academia Lorenzo Fernandez. Posteriormente, realizou ainda estudos de
aprofundamento na Academia Franz Liszt, em Budapest. Em 1968, a convite
de Lili Kraus, tornou-se professor da Texas Christian University e atualmente
integra o corpo docente da Hartt School of Music em West Hartford,
Connecticut. Além disso, Moura Castro leciona na Catholic University, em
Washington D.C., na Escola de Música Juan Pedro Carero, em Barcelona e
retorna anualmente ao Brasil para lecionar Master Classes nos Seminários de
Música Pro-Arte, no Rio de Janeiro.
Nos anos recentes, Moura Castro atuou em diversos festivais
internacionais no Brasil, na Argentina, na Bélgica, na Itália, em Portugal, na
Espanha, no Japão, no Canadá, na Venezuela e nos Estados Unidos. Além
disso, realizou palestras e concertos em Ekaterinenburg, na Rússia; em
Rovello, na Itália e em Praga, na República Tcheca. Como membro da
American Liszt Society ele organiza anualmente o Festival Liszt do Rio de
Janeiro.
Como concertista, o pianista já se apresentou com diversas orquestras,
incluindo a Orquestra de Câmara de Lausanne; a Orquestra da Rádio de Lisboa;
a Filarmônica de Turim; a Sinfônica de Yaroslav, na Rússia; e as orquestras de
Dallas, Fort Worth, Hartford e Syracuse, nos EUA, além de todas as grandes
orquestras brasileiras. Sua carreira solo inclui recitais no Piccolo Scala, em
Milão; no Teatro Ghione, em Roma; na Sale Gaveau, em Paris; no Palau de la
Musica, em Barcelona; no Rubinstein Hall, em S.Petersburgo e no Merkin Hall
do Metropolitan Museum de Nova York.
Sua discografia inclui mais de 30 CDs para os selos Ensayo (Espanha),
Euterpe (Suiça), L’Art (Brasil) e Musical Heritage (EUA). Entre suas gravações
mais recentes estão o 2º e 3º concertos e as Variações Paganini de
Rachmaninov, a Rhapsody in Blue de Gershwin, o Momoprecoce de Villa-Lobos,
os dois concertos de Liszt, canções brasileiras com Maria José Montiel, o
quinteto com piano de Henrique Oswald, obras de Schubert, a 2ª Suite para
piano a 4 mãos de Rachmaninov com Bridget de Moura Castro, obras brasileiras
para violoncelo com Guerra-Vicente, Noturnos de Chopin e os cinco concertos
para piano de Beethoven com a Orquestra Sinfônica da Venezuela.
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
Avenida Presidente Wilson 203, Castelo
Rio de Janeiro – RJ, CEP: 20030-021
Tel.: (21) 3974-2500
www.academia.org.br

academia@academia.org.br


A Música que Machado ouvia

(Clube Beethoven)
Joaquim Antônio Callado Flor Amorosa
(1848-1880)
Alexandre Levy Tango Brasileiro
(1864-1892)
Ernesto Nazareth Odeon
(1863-1934) Batuque
Francisco Mignone Valsa de Esquina No3
(1897-1986)
Frederic Chopin Noturno op.15, No2, em Fá# menor
(1810-1849) 4 Mazurcas
3 Valsas
Heitor Villa-Lobos 3 Peças do Carnaval das Crianças
(1887-1959) Manhã da Pierrete
A gaita de um precoce fantasiado
O ginete do Pierrozinho
Robert Schumann Carnaval, op.9

(1810-1856)


Ao longo do séc.XIX, a ascensão da classe burguesa no Rio de Janeiro levou a

um crescente interesse pelo piano, que representava valor agregado e ostentação nas casas das famílias de classe média e fazia parte da educação das meninas. Surgiu assim uma demanda que estimulou o desenvolvimento de um comércio musical de pianos,edições, composições, arranjos e sobretudo do ensino de música.
Joaquim Antonio Callado foi um dos primeiros chorões cariocas e seu
trabalho contribuiu significativamente para o desenvolvimento e estabelecimento do gênero. O chôro “Flor Amorosa” de 1880, com letra de Catulo da Paixão Cearense, éconsiderado a sua derradeira composição.
Alexandre Levy foi um dos primeiros compositores eruditos brasileiros a
tentar estabelecer uma identidade nacionalista em sua música. O Tango Brasileiro de1890, apesar da evidente influência da habanera espanhola, apresenta ao mesmo tempo uma sonoridade com características bem brasileiras.
Ernesto Nazareth iniciou seus estudos ao piano com sua mãe, passando em seguida por outros mestres. Na composição foi um autodidata, aprendendo com as obras de outros compositores, sobretudo Chopin, cuja escrita pianística tanto influênciou seu estilo. Atuou como pianista em casas de música e no cinema mudo e compôs mais de uma centena de polcas, maxixes, tangos e valsas. Nelas, revelam-se aspectos marcantes da musica brasileira, em especial do cenário musical carioca do final do séc.XIX.
Francisco Mignone entrou para a história da música brasileira como autor de grandes obras sinfônicas como “Festa nas Igrejas”. Porém, com o pseudônimo de Chico Bororó, produziu também um grande número de obras em linguagem popular, e estas
duas vertentes viriam a se fundir nas valsas de esquina, onde a linguagem popular aparece com uma roupagem formal erudita.
A música para piano representa quase a totalidade da produção musical do compositor polonês Frédéric Chopin e sua importância para o desenvolvimento da escrita pianística no séc.XIX é única. Afastando-se gradualmente das grandes formas, como a sonata, Chopin optou por também dedicar-se à elaboração das pequenas formas, contribuindo para o estabelecimento de sua importância dentro do repertório romântico.
Como resultado, deixou-nos uma grande quantidade de valsas, mazurcas, noturnos, scherzos, prelúdios e outras pequenas peças que ajudaram a moldar a música para piano do romantismo brasileiro.
O pianismo brasileiro indubitavelmente atingiu um ápice na obra de Heitor Villa-Lobos, que, mesmo não sendo um grande pianista, desenvolveu uma escrita extremamente individual. O Carnaval das Crianças é um ciclo de 8 peças com temática carnavalesca composto em 1920. Posteriormente, em 1929, o compositor transformou esta suite em uma fantasia para piano e orquestra intitulada “Momoprecoce”.
Ao lado dos mais de 250 lieds, as obras para piano representam a maior parte da produção de Robert Schumann, um dos mais emblemáticos compositores do Romantismo alemão. O Carnaval op.9, uma de suas obras mais conhecidas, foi composto em 1835. Trata-se de um ciclo de 22 pequenas peças para piano que são unificadas através do emprego de um motivo recorrente representado pelas notas Lá –
Mib – Dó – Si, na nomenclatura musical alemã A – S (soa como Es) – C – H, que seriam as letras musicais no nome do compositor (SCHumAnn

ARY WERNECK

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 21 de janeiro de 2017
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ARY WERNECK
(ARISTIDES DE OLIVEIRA CAMPOS)




Aristides de Oliveira Campos é o nome civil do artista Ary Werneck nome sugerido em 1976 por uma diretora de teatro que admirava e quis homenagear Nelson Werneck Sodré (Pesquisador e escritor sobre a história do Brasil publicou dezenas de livros que se tornaram obras de referência para os historiadores e estudiosos do país.).
Você nasceu em qual cidade?
Nasci a 30 de agosto de 1934, em Jardinópolis, uma pequena cidade próxima a Ribeirão Preto. Meu pai era mineiro, seu nome é Abílio de Oliveira Campos e minha mãe Catharina Balbina do Nascimento, da região de Ribeirão Preto, com ascendência paulista de 400 anos. Tiveram quatro filhos: Alderico, Aristides, Irineu e Ivone de Lourdes.
Você estudou inicialmente em qual cidade?
O meu pai era encanador, no tempo em que era um ofício que exigia do profissional uma série de atribuições técnicas, os canos tinham que serem trabalhados com tarrachas, faziam-se as roscas, ele era contratado para fazer encanamentos nas cidades próximas. Fomos morar onde na época era chamado de distrito Sales de Oliveira. (Atualmente Sales Oliveira é um município  Estado de São Paulo, que faz parte da Região Metropolitana de Ribeirão Preto). Entrei na escola com sete anos, meu pai aos 36 anos faleceu. Estudei na Escola Capitão Getulio Lima em Sales de Oliveira. Lembro-me da minha escola até hoje. Fiz os quatro primeiros anos lá, quando conclui não havia outro curso a seguir em Sales de Oliveira. Após o falecimento do meu pai, minha mãe e nós, seus quatro filhos, mudamos para Ribeirão Preto. Quando meu pai faleceu minha mãe tinha 34 anos. Ela teve que trabalhar muito para nos criar. Ela lavava roupa para outras pessoas, lembro-me de que eu ajudava quando ela ia passar roupa. Era utilizado ferro a carvão, ela passava roupas para pessoas grã-finas: camisas, saias. Trabalhava com dois ferros, enquanto usava um o outro já era preenchido com brasa do fogão a lenha. Isso foi no período da Segunda Guerra Mundial. Lembro de que tudo era racionado, havia o cartão de racionamento. Lembro de que meu tio Alberico resolveu fazer gasogênio, para um ônibus que circulava pelo local. Ele cortava a lenha, fazia o carvão e vendíamos em um posto de gasolina. Na época a gasolina era importada, vinha em tambores era colocada em bombas de gasolina. Essa gasolina era bombeada manualmente, abasteciam os veículos.  Os ônibus denominados de jardineiras, utilizavam muito o gasogênio, era comum pararem na estrada, dar todo tipo de problema, mas acabavam chegando ao seu destino. O Brasil produzia muito pouca coisa, Importávamos o trigo que era consumido. Lembro-me com muita saudade da estrada de ferro.  A Companhia Mogiana de Estradas de Ferro passava bem no meio da cidade. Todos os dormentes que eram cortados para a Mogiana, cortados na Alto Sorocabana, envelheciam ali, no pátio, era cortadas com quatro faces, chanfradas, tinha acredito que uns dois metros e vinte sentimetros de comprimento, eram colocados ali para secarem em pilhas com dormentes sobrepostos dois a dois. Minha mãe descobriu que em cada dormente daquele tinham umas lascas que ficavam como cascas. Ela pediu licença para o chefe da estação ela, meus irmãos, eu, íamos tirar aquelas cascas enormes, juntavamos tudo em um quartinho no fundo de casa. Cozinhamos com aquelas cascas durante muito tempo. Outra coisa que ela fazia também, aos domingos após a missa, íamos até a beira da estrada de ferro, que era pertinho. Tinha a linha de trem, logo depois acompanhando os trilhos era plantada erva cidreira, Ao lado havia um pasto e em seguida a cerca, ali ela plantava abobora, pepino, buxa, antes de roçarem o pasto íamos lá e trazíamos, aboboras, pepinos. Havia uma fruta silvestre chamada marolo. Agora estão cultivando, na época era uma fruta silvestre que não se plantava. Tem um perfume que se sente a distância. Tenho muita saudade daquele perfume e da doçura da fruta.
Você permaneceu em Sales de Oliveira até quando?
Eu calculo que permanecemos lá até uns três anos após ter terminado a escola. De lá fomos à Ribeirão Preto aonde conhecíamos uma senhora amiga da família. Ribeirão Preto é uma cidade muito importante, eu me lembro de Ribeirão Preto com 70.000 habitantes. Com quatro jornais diários. Quatro estações de rádio. Com uma biblioteca chamada Padre Euclides. O que sobrou do Cassino Antárctica e transformou-se em um auditório. No passado a Antarctica tinha nontado esse cassino e patrocinava tudo. O Bar Pinguim já existia. Lembro-me do Edifício Antônio Diederichsen, um prédio de seis andares, mas muito alto para a época. Tinha uma parte residencial e outra de escritórios. Embaixo lojas. Na esquina da Rua São Sebastião tem a Cafeteria A Unica, eu acho que é o mellhor café do mundo. Próximo havia uma loja que vendia produtos importados: pera, maçã. Até hoje lembro-me do aroma da maçã. Minha mãe era uma escavadora. Quando a maçã estava um pouquinho amassadinha eles nos davam. Bem como outras frutas finas importadas. Essa loja chamava-se “ A Deliciosa”. Tinha as lojas Caprichosa que tinha artigos para senhoras, Caprichosinha com artigos para crianças e Caprichoso que era uma alfaiataria. Em frente tinha uma casa chamada “Arca de Noé”, o proprietário era um português, vendia todo tipo de frios importados: salame, presunto. Na Praça XV, que é a praça principal da cidade, tinha o Teatro D. Pedro II, a Companhia Cervejaria Paulista, produzia uma cerveja preta chamada Niger. A Cervejaria Paulista foi adquirida pela Antarctica. Na esquina havia o Palace Hotel, onde ficavam os grandes artistas.  Na Praça XV tínhamos três café, entre eles o Café Pinho, famosíssimo e o Café Triangulo. Ainda na praça tínhamos uma loja de pianos, que tem uma ligação com Piracicaba. Ribeirão Preto tem dois times gloriosos de futebol: Botafogo e Comercial. O Comercial foi muito famoso nas décadas de 20,30, foi jogar na Europa, quando voltou fizeram uma campanha gloriosa pelo Norte do Brasil, sendo chamado “Leão do Norte” por causa disso. Atualmente não existe mais o Comercial, só o Botafogo. Belmácio Pousa Godinho  nascido em Piracicaba, foi jogar no Comercial contratado a peso de ouro.  Belmacio foi um importante futebolista, músico e comerciante. A família tem a loja “A Musical” em Piracicaba até hoje.
Você concluiu o ginásio em Ribeirão Preto?
Quando vim para Ribeirão Preto já tinha passado alguns anos, fui trabalhar. Trabalhei no comércio, na Cervejaria Paulista, por parte de mãe eu tinha um tio, ele possuía um Chevrolet ano 1944. Era representante comercial, viajava pelo Sul de Minas Gerais: Muzambinho, Sacramento, Guaxupé, eu ia com ele só para abrir as malas com mostruário de roupas, depois guardar e fechar. Naquela época não havia a quantidade de escolas que temos agora. A maioria era de escolas particulares. Quando tive a oportunidade fiz os chamados exames de madureza.
Como se deu a sua entrada para o teatro?
Em Ribeirão Preto havia um teatro chamado “Teatro Escola Ribeirão Preto”.
O que o levou a entrar para o teatro?
A fascinação pelo teatro. Quando a minha mãe foi para Ribeirão Preto ela foi trabalhar em uma pensão, como cozinheira, isso facilitava também porque morávamos no porão da pensão. Na época Ribeirão Preto estava no roteiro feito pelas grandes companhias de teatro. Os artistas famosos ficavam no Palace Hotel, Grande Hotel, Hotel Brasil, Hotel Aurora, e os técnicos, chamados maquinistas naquela época, ficavam na pensão aonde a minha mãe trabalhava. Eu ajudava a distribuir filipetas, às vezes tinha que conseguir algum móvel, às vezes ganhava ingresso para ir assistir ao espetáculo. Com isso vi grandes artistas que trabalhavam naquela época: vi muitas vezes Procópio Ferreira, Itália Fausto, Jaime Costa, Dulcina de Moraes e seu marido Odilon, ela era filha de Conchita de Moraes, eram atores de grande importância. Ribeirão Preto tinha um teatro amador muito forte também. Lá foi fundada uma escola de teatro chamada Teatro Escola de Ribeirão Preto, a fundadora, segundo consta, era chamada de Dona Pequena é tia do ator Lima Duarte.



Isso foi motivando a sua vontade de ingressar no teatro, qual foi a primeira peça em você participou?
Foi “Casa de Orates”, uma peça de Aluisio Azevedo. Casa de Orates é um asilo de malucos. (Casa de Orates palavra de origem espanhola que quer dizer loucos, doidos). Para mim isso foi importantíssimo, eu estava trabalhando com os bons atores da cidade. Em Ribeirão Preto recebemos o Teatro da Universidade de Coimbra. Fizeram apresentações no Rio de Janeiro, São Paulo e Ribeirão Preto. Apresentaram “O Auto da Barca do Inferno” uma complexa alegoria dramática de Gil Vicente. Ribeirão Preto tinha uma Orquestra Sinfônica altamente conceituada, que infelizmente encerrou suas atividades. Durante a Segunda Guerra tínhamos um maestro idoso, chamado Inácio Stabile, quando ele faleceu trouxeram um maestro da Itália chamava-se Enrico Ziffer, na época tínhamos dois corais, eu participava, fazia a voz de tenor. Ele ficou tão animado que quis montar uma ópera. Ele conseguiu patrocínio e trouxe os artistas principais de fora. Escolheu as óperas mais conhecida como; “La Traviata”, onde participei; “La Bohème”, o pessoal do coro entrava, era uma maravilha! Foi uma vivência cultural muito grande. Naquele tempo tínhamos o chamado “Teatro de Lona”. Também denominado de “Circo Teatro”. Tivemos grandes espetáculos de Circo Teatro que viajava. Apresentávamos peças como: A Mulher Que Veio de Longe; Amar Foi a Minha Ruína, O Mundo Não Me Quis, eram sucessos garantidos.
Quando você mudou-se para São Paulo?
Fui em 1956, tinha 22 anos. Meu tio José Mário convidou-me para ir trabalhar Trabalhei em uma loja chamada Casa José Silva que vendia roupas masculinas. Eu era auxiliar, os vendedores eram muito bem pagos, bem vestidos. Trabalhavam com gravata, paletó. Diga-se de passagem, que naquela época todo mundo usava paletó, gravata e chapéu No Cine Ipiranga não entrava quem não estivesse usando paletó e gravata. Havia grandes lojas, lembro-me da “  Exposição” cujo slogan era: “ Basta ser um rapaz direito para ter crédito na Exposição”.
O teatro continuava em sua vida?
Fazia os espetáculos nos fins de semana, foi uma época em que o pessoal da musica raiz quis entrar no circo, eles já cantavam, eram fortes, além de nós que nos apresentávamos tinham os violeiros que cantavam. Lembro-me que Cascatinha & Inhana fizeram uma turnê grande conosco. Nos anos 50, 55, após a Segunda Guerra, começaram a vir para o Brasil as grandes cabeças do Teatro, inclusive o fundador da  Companhia Cinematográfica Vera Cruz Franco Zampari. Todo mundo juntou-se no TBC – Teatro Brasileiro de Comédia, na Rua Major Diogo, era a elite, embora ninguém fosse profissional ainda. Até que em 1952 tornaram-se artistas atuando como profissionais, com alto nível. Só fomos ter a nossa categoria reconhecida como profissional em 1972 pelo Ministério do Trabalho. De 1964 a 1972 tínhamos nossa carteira funcional emitida pelo Departamento de Diversões Públicas, ligado ao Ministério da Justiça, maldosamente também chamada de “carteirinha de prostituta”, isso porque essas profissionais para se safarem da policia se registravam como atrizes sendo que eram de fato prostitutas. Jamais pisaram em um palco.ndo o TBC  Trabalharam muito pela categoria de ator e artista Lélia Abramo, Cacilda Becker, Juca de Oliveira. O pessoal da categoria era muito unido naquele tempo. Quaganhou importância e as companhias se dividiram, tinha uma crítica que acompanhava o teatro, começou com Décio de Almeida Prado, Sabato Magaldi veio depois. O Professor Alfredo Mesquita organizou em sua casa a EAD- Escola de Arte Dramática. Fiz um concurso, fui aprovado, mas não pude dar continuidade. Tinha que sobreviver, naquele tempo saia vendendo liquidificador, enceradeira, não havia lojas que vendessem esses produtos. Ninguém queria vender em loja esse tipo de produto. A Arno foi a primeira empresa que organizou esse tipo de venda de porta em porta para esses produtos.
Com raríssimas exceções o ator não é valorizado financeiramente?
Até hoje é uma profissão muito difícil. Em alguns países, há uma organização muito bem feita, e as coisas funcionam a contento. Aqui há o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão de São Paulo que é o mesmo tanto para o funcionário como para o patrão.
De quantas peças você participou?
Foram muitas peças, fazíamos muito Teatro Popular. Fundamos um grupo de teatro chamado PETECA – Pequeno Teatro da Capital. Fazíamos muitos entretenimentos, esquetes, peças curtas, variedades, canto, musica.
É mais difícil fazer o público rir ou chorar?
Acho mais difícil fazer rir. A comédia tem um “time” que o drama às vezes você está contando alguma coisa e leva a emoção, o riso tem o tempo certo, para ser engraçado tem que ter aquele momento, aquele instante. Fazíamos muitas comédias de costumes, eram originarias do teatro francês. Eu acho que tudo começou mesmo quando importamos grandes diretores: Gianni Ratto, Ruggero Jacobbi, Zbigniew Marian Ziembinski, Maurice Vaneau, o TBC era a grande estrela do teatro, o TBC não parava. Era uma peça atrás da outra.
Como o ator sente o público?
Cada lugar tem um publico diferente. Há localidades ou regiões, onde o publico vai ao teatro porque acha chique. Outros lugares o publico freqüenta porque gosta de fato. Enfim há inúmeras formas de manifestação do publico com relação ao espetáculo apresentado.
Você conheceu Plínio Marcos?
Conheci muito, do Teatro de Arena, do Redondo. (Bar Redondo tradicional ponto de encontro de artistas nas décadas 60,70,80 é vizinho do Teatro de Arena, na Rua Rego Freitas, ganhou esse nome pelo formato circular do prédio) Hoje também tem um pessoal novo na Praça Roosevelt. Mas o Redondo continua sendo ponto de encontro de artistas..
Quantas peças você escreveu?
Registradas na SBAT - Sociedade Brasileira de Autores Teatrais tenho quatro peças.Duas políticas e duas infantis. Uma política chama-se”O Diabo Mostra o Rabo”. Uma peça infantil é “Alma das Coisas”. Quero apresentar a peça “ O Diabo Mostra o Rabo”.  A nossa vida é curta, mas a arte é para sempre.
Ha quanto tempo você está em Piracicaba?
Já faz muito tempo, meu irmão mais velho veio para Piracicaba no inicio da década de 60. Ele faleceu, recebeu em homenagem uma rua com seu nome Alderico de Oliveira Campos, o Tenente Campos.
Quantos filhos você tem?
Tenho um, chama-se Paulo, tem 54 anos, já é avô também, ou seja, eu sou bisavô!
Você atuou em diversas ações culturais em São Paulo, sob patrocínio?
Tinha uma empresa que trabalhava basicamente com cultura, tive o patrocínio de diversas empresas de grande porte. Até que decidi morar em Piracicaba. Aqui realizei ações culturais, produzi um espetáculo que financeiramente foi oneroso para minhas economias. No inicio sentia muito a falta do ambiente teatral que eu vivia em São Paulo.
Ari tem um poema que você gosta muito e o acompanha em seus pensamentos?
Tem sim. É de Vinicius de Moraes. Chama-se Soneto da Fidelidade.

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



DIRCE CASSANHA GONÇALVES PINTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de janeiro de 2017
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/



ENTREVISTADA:  DIRCE CASSANHA GONÇALVES PINTO
Dirce Cassanha Gonçalves Pinto nasceu a 8 de agosto de 1930, a Rua William Speers no bairro da Lapa, em São Paulo, filha de Raul Cassanha e Josefina Carrera Cassanha que tiveram quatro filhos: João , Geraldo, Laís e Dirce. Raul Cassanha era funcionário do escritório da estrada de ferro SPR - The São Paulo Railway Company Ltd. que fazia a ligação entre Santos e Jundiaí, utilizava o sistema “locobreque” O "locobreque" tinha a função de frear a composição na descida da serra, que simultaneamente puxava outra que subia. O cabo entre as duas máquinas passava por uma grande roda volante, chamada de "máquina-fixa" que ficava em cada um dos cinco patamares.
A senhora lembra-se da descida da serra?
Andei tanto naquele trem, com o meu pai, com a nossa família. Saíamos de São Paulo e íamos até Santos, lembro-me das rodas dentadas e cordas de aço, que tracionavam o trem. A  minha meninice foi muito boa, joguei barra-bool, um joga a bola para outro, com uma risca onde não pode ser ultrapassada. Barra-manteiga é a jogada em que a bola bate e não pode atingir o jogador ou ele ficará de lado. Acusado era outra bricadeira onde a agilidade era colocada em prática. São brincadeiras inocentes e da minha época de menina.Eram brincadeiras em que meninas e meninos participavam. Hoje desde pequena a criança quer tablet, celular. Eu cheguei a jogar bolinha de vidro, rodar pião. Fui meio moleequinha. Fui sócia do Clube de Regatas Tiete, andava com meu futuro marido e uma amiga, de catraia pele Rio Tietê, dentro de São Paulo. Tinha algumas pessoas que até nadavam no Rio Tietê.
A mãe da senhora tinha alguma outra atividade além de cuidar do lar?
Ela foi professora de bordados, fazia crivo, filet, antigamente usava-se muito cortinas de crivo, filet. Ela tinha uns bastidores enormes de pé, no chão. Aprendi a fazer muitos tipos de bordados, mas esses com bastidores eu não quiz aprender.
A senhora estudou em qual escola?
Estudei na Academia Comercial São Paulo. Morávamos na Lapa, meu pai acredito que foi promovido, fomos morar em Campos Eliseos, quando ele ficou Chefe do Movimento, mudamos para o Bairro da Luz, isso porque ele tinha um horário diversificado.
A família foi morar em que rua?
Fomos residir a Rua São Lázaro, uma travessa da Rua São Caetano, hoje tradicional pelas lojas especializadas em vestidos de noivas.Naquela época era um bairro uito tranquilo, muito bom, tinhamos uma boa casa, depois fui estudar o curso primário no Grupo Professor Pedro Voss. Após eu terminar o curso primário, meu pai mudou-se para a Vila Clementino, a Rua Botucatu, bem em frente a Escola Paulista de Medicina. Fui estudar em uma escola na Vila Mariana, era o Colégio Campos Salles, minha irmã e eu pegávamos o bonde, as vezes o bonde aberto, outras vezes o bonde fechado, que por sua cor vermelha era conhecido popularmente como “camarão”. Naquela época não se pensava em um curso superior como engenharia, advocacia. Geralmente as opções para a mulher era ser professora ou secretária. Fiz tres anos de secretariado. Eu gostava muito da Vila Mariana, as vezes ia a pé até a Vila Mariana.
Após formar-se como secretária a senhora foi trabalhar em qual empresa?
Fui trabalhar na empresa Itaú Transportes Aéreos. Eu trabalhava na Rua Asdrubal do Nscimento. Era uma empresa aérea que só transportava carga. Tinha que usar saia azul marinho e blusa branca, tinha algumas mulheres que usavam gravata, eu nunca usei.
Qual foi o próxima empresa em que a senhora foi trabalhar?
Fui para o frigorífico Anglo (do Grupo Vestey) de capital britânico. O escritório ficava no décimo e décimo primeiro andar de um edifício situado a Rua Anchieta, logo após a Praça da Sé, primeira travessa da Rua XV de Novembro. Eu trabalhava no Departamento de Vendas, havia uma secretária que tinha fluência em inglês, tínhamos três chefes, ingleses. Eles produziam enlatados, apresuntados, charques, derivados de carne vindos de Barretos, Pelotas. Trabalhava da 8:30 às 11:30 e das 13:30 às 17:30 . No Anglo as roupas eram a vontade, cada um vestia-se como gostava.
Tinha restaurante no local?
Não tínhamos, nós íamos almoçar em casa, ninguém comia na cidade. Eu senti em sair de lá, mas saí porque tinha casado. Os primeiros móveis que comprei quando casei foi no Mappin, na Praça Ramos de Azevedo esquina com a Rua Xavier de Toledo. Os produtos comercializados pelo Mappin eram muito bons, eu gostava muito. Eu ia muito ao Restaurante Itamarati, que existe desde 1940, fica na Rua José Bonifácio.
Como secretária a senhora fazia o serviço de rotina?
As vezes chegava um telegrama, conforme o lugar eu tinha que datilografar em 8 vias, 12 vias para entregar à todos os chefes. No caso de doze vias usavam-se onze carbonos! A máquina que eu utilizava era uma da marca Olivetti. Eu gostava do meu trabalho.
A senhora era boa datilógrafa?
Acho que era! Eles gostavam. Tinha feito o curso de datilografia em uma escola particular.
Quanto tempo a senhora permaneceu na empresa Anglo?
Acho que fiquei uns três anos. Comecei a trabalhar em uma empresa pequena, de lá fui para a Itaú, onde permaneci por um ano, sai e fui trabalhar no Anglo. Saí para casar, aos 23 anos.
Como a senhora conheceu seu futuro marido?
Eu tinha um primo que fazia ginástica na Associação de Cultura Física, ficava na Rua Augusta, quase esquina com a Rua Santo Antonio. Decidi também fazer. Eu tinha uma tia que também gostava de fazer ginástica. Antigamente era muito praticada a chamada Ginástica Sueca. Em competições nos encontrávamos grupos de moças e rapazes, vinham grupos do Rio de Janeiro. Não era a ginástica como é feita hoje, eu fazia todos os aparelhos da época: paralelas, trave, solo,cavalo, ginástica olímpica. Naquela época era uma atleta. Eu pesava 42 quilos. Foi lá que conheci o meu marido Henrique Gonçalves Pinto, ele tinha cinco anos a mais do que eu. Era contador-auditor. Tivemos três filhos: Roberto, Marta e Fábio. Permanecemos casados por quarenta e seis anos e meio, a 3 de agosto de 1999 ele faleceu.
Em qual igreja vocês casaram-se?
Casamos na Igreja da Consolação, no dia 16 de abril de 1953. Sempre tivemos um ótimo relacionamento, se um dos dois ia sair, saiamos juntos. Não havia essa história de se você não vai então eu vou sozinho. Íamos muito a bailes da Associação Cultura Física. Depois mudamos para Bebedouro.
O que os levou a mudar para Bebedouro?
Um amigo do meu marido tinha uma fazenda, eles foram criar frangos. Galinhas poedeiras e frangos de corte. Na época meu marido já estava cansado de ficar em São Paulo. Após um ano adquirimos uma propriedade rural, ele fez uma granja, e uma particularidade curiosa, pouco conhecida, o que mais vendia e dava mais lucro era o esterco das galinhas. Naquela época Bebedouro era muito forte na cultura de café, e o esterco era utilizado como adubo para o pé de café. Depois Bebedouro dedicou-se a cultura de laranja. Permanecemos em Bebedouro por uns quatro anos, eu sempre gostei de morar no interior em chácara, sítio, fazenda. Eu tinha dois cavalos, um era o Gaucho, um cavalo castanho escuro. Outro cavalo era meio marrom. Em função da família, com o objetivo de ficarmos mais próximos, viemos morar no Jardim da Glória, no Cambuci. Cerca de um ano depois, fomos para perto de Miracatu, nas proximidades de Registro. Praticamente a cultura praticada é de banana. Tudo que tinha que se fazer havia a necessidade de deslocar-se até Registro pela BR-116. Meu marido tinha bananal e ele quis colocar gado de leite. Na época do frio, a banana tem seu preço mais alto, só que tem pouca banana, ela demora para engordar. Quando a banana está bonita, o valor dela é muito baixo. Eu me desiludi completamente com a agricultura. Quando tínhamos a granja em Bebedouro meu marido plantou algodão. Deu um algodão maravilhoso. Quando chegou o atravessador, disse: “-Tem muito algodão por ai, dou tanto pelo algodão do senhor!”. Se o agricultor segurar o algodão perde peso, quem ganha é o atravessador. Quando morávamos em Miracatu não havia energia elétrica, meu marido adquiriu um rádio de pilha, um dia ouvimos Alziro Zarur transmitindo suas mensagens. Fomos a São Paulo e visitamos a Legião da Boa Vontade, a LBV. Conhecemos, conversamos, gostamos.
A senhora permaneceu por muito tempo em Miracatu?
Logo que as crianças passaram a freqüentar a escola mudamos para Peruíbe. Meu marido ia para o sítio e eu ficava em Peruíbe. O colegial eles tinham que estudar em Itanhaém. Uma perua da prefeitura levava e trazia. Em Peruíbe morávamos em um prédio bem na beira da praia. Um lugar bonito, gostoso. Gosto de Peruíbe até hoje. Nesse meio tempo, meu filho tinha se formado e trabalhava na Caterpillar em São Paulo. Quando a Caterpillar mudou-se para Piracicaba, meu filho veio para trabalhar na empresa. Foi quando eu conheci Piracicaba. Morávamos em Peruíbe, meu marido adoeceu, as consultas médicas eram feitas em Santos. Por insistência do meu filho que estava em Piracicaba, viemos para cá. Fomos atendidos por um médico de Piracicaba que constatou a gravidade da doença do meu marido e tomou as devidas providências. Com isso ele viveu mais uns cinco anos e pouco.
A senhora acompanha noticiários, vê televisão?
Acompanho, só deixo de acompanhar quando o tema passa a envolver violência, noticias que transmitem pessimismo, levanto, vou tomar uma água. De uma forma geral, se posso fazer determinada coisa eu faço. Tenho opinião própria formada.
Continua com a prática de esportes?
Faço ginástica aqui na quadra, a chinesa, e faço de alongamento com outra professora.
Algum hobby?
Gosto de ler.
A seu ver, as mudanças ocorridas no decorrer dos anos tornaram a vida melhor?
No aspecto de evolução tecnológica melhorou. Em contrapartida as relações humanas pioraram.
Atualmente a senhora reside sozinha há momentos em que a solidão se faz presente?
De uma forma geral não me sinto só, sinto sim que aos sábados a tarde há uma quietude, natural do próprio dia. Nessas horas recorro ao computador, onde tenho meu facebook, e-mail, faço minhas pesquisas no Google, e para me distrair também as vezes utilizo algum jogo como paciência e caça palavras.
Qual é a sugestão que a senhora dá para a pessoa ter a longevidade com  plena saúde física e raciocínio rápido que a senhora possui?


A meu ver a pessoa deve procurar ter atividade, para não ficar pensando de forma negativa. Uma das coisas importantes em nossa vida é não guardar ressentimentos Não limitar-se a ver televisão exclusivamente, buscar uma atividade manual, enfrentar novos desafios como por exemplo  aprender novos comandos de computador, o computador não cria dependência, é a cabeça da pessoa que determina o quanto ela deve permanecer em frente ao equipamento. Se a pessoa tiver condições de sair, deve passear. Mesmo que seja uma voltinha, conversa com alguém, jamais se isolar. Tenho cinco netas, um neto e uma bisneta de três anos.  Tenho três filhos maravilhosos, com famílias maravilhosas, mas julgo ser importante ter a minha vida própria, ter autonomia. Sinto permanentemente o carinho que meus filhos têm por mim e eles sabem o quanto amo a minha família. Há uma grande diferença entre vida própria e abandono. 

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