sexta-feira, outubro 30, 2015

AURORA UNBEHAUN

Entrevista realizada a 27 de outubro de 2015
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 31 de outubro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 




ENTREVISTADA: AURORA UNBEHAUN

Aurora Unbehaun nasceu a 24 de setembro de 1942, na cidade de São Paulo, na Maternidade São Paulo. A família residia no bairro Jabaquara, seu pai ainda solteiro já tinha adquirido o terreno onde mais tarde construiu a casa onde a família morava. Seu pai teve duas filhas em seu primeiro casamento: Aurora e Inês. Das segundas núpcias nasceram os filhos: Roberto, Olga e Pedro Ernesto. Sua mãe faleceu quando ela tinha seis anos, seu pai casou-se em segundas nupcias quando ela tinha 10 anos. Ele faleceu quando Aurora tinha 23 anos.
Em qual escola você iniciou seus estudos?
Naquele tempo nem tinha escola no bairro Jabaquara. Era chão de terra, não havia asfalto. Para chegar ao bairro Jabaquara embarcava-se no ônibus “12” da CMTC – Companhia Municipal de Transportes Coletivos que vinha da Praça João Mendes até o Jabaquara passava na rua paralela a da minha casa, logo acima.




Mais tarde ele passou a ir ate mais para frente, quando fizeram a garagem. Antes ele parava em frente a um comércio que tinha duas portas, um era açougue outro era um mercadinho. Estudei com uma professora que lecionava na sua própria casa, Dona Maria Amélia, na parte da manhã dava aula para os terceiros e quartos anos. Na parte da tarde as aulas eram para os primeiros e segundos anos. Era um bairro novo,  a escola um lugar pequeno, devia ter uma dúzia de alunos em cada período. Isso foi no ano de 1949. Eu estudei até o equivalente a primeira série do ginásio. Nesse meio tempo já havia a Escola Paroquial São Judas Tadeu e abriu o Grupo Escolar Almirante Barroso. Fiz o ginásio no Centro da Juventude do Cambuci, o colegial fiz no Curso Anglo Latino.


Qual era a profissão do seu pai?
Meu pai era marceneiro Todos os móveis do seu primeiro casamento foram feitos por ele. Ele trabalhou com móveis sob medida, depois passou a trabalhar na Movelar – Móveis para o Lar. Eles faziam móveis para televisão Philco, RCA Victor, antes era de madeira, assim como os móveis de rádio-vitrola, tínhamos uma em casa. Toda aquela caixa de madeira era feita pela Movelar. Meu pai cuidava da marcenaria, o Seu Oswaldo era amigo dele, era quem cuidava da pintura a revolver. Diziam que a Philco era muito exigente, tinha fama mundial pela qualidade. Aos 53 anos meu pai estava preparando-se para aposentar-se, quando sofreu um acidente , foi atropelado e faleceu. Na época eu tinha 23 anos, era a irmã mais velha.
Aquela região era praticamente desabitada?
Quando meu pai adquiriu o terreno lá no Jabaquara disseram a ele: “Você vai morar aonde tem os macacos?”. Isso porque havia a mata do Estado, onde há o zoológico. Mas era longe de onde ele havia adquirido. O chefe geral da empresa em que meu pai trabalhava tinha adquirido um terreno ao lado, chamava-se Ernesto Kaiser.
Em que ano seus pais se casaram?
Foi no final de 1941 e eu nasci em 1942. Eles casaram-se na Igreja Santa Generosa, era na praça ainda, onde hoje é o Centro de Controle Operacional do Metro. Era a Praça Rodrigues de Abreu, em frente a Catedral Metropolitana Ortodoxa.
Naquela época ali no bairro Paraíso já  tinha água encanada?
Nem pensar! Era água de poço! Tinha que tirar com manivela mesmo. A bomba para tirar a água do poço foi colocada quando eu tinha uns cinco ou seis anos. Nós morávamos no lado alto da rua, o poço ficava no fundo, e a fossa séptica ficava na frente da casa, para evitar contaminação do poço. Muitas pessoas tinham poço contaminado iam buscar água na nossa casa. 

A água encanada chegou ao bairro quando eu tinha entre 12 a 15 anos. O nosso bairro, Jabaquara, era constituído de muitos estrangeiros: japoneses, alemães, eram cidadãos que não tinham representação pelo voto. Havia bairros mais humildes que já tinham esses melhoramentos, representavam um bom número de eleitores. Aos políticos o que contava era o número de votos que poderia ter em determinado bairro. Depois veio o asfalto.
Você gostava de estudar?
Gostava muito! Meu sonho era ser professora. Percebi que tinha que trabalhar para ajudar no sustento da casa. Disse ao meu pai que iria trabalhar. Ele concordou sem questionar se eu queria continuar os estudos. Eu tinha 13 anos, fui aprender corte e costura. Aprendi em uma escola próxima cuja proprietária era Toshi Fuji. Lá aprendi a costura básica. Com quase 16 anos fui trabalhar na Rua 25 de Março, em uma camisaria  chamada Lewis. No inicio fui ajudar na embalagem, eu queria era trabalhar na máquina de costura. Fiquei pouco tempo, arrumei outra empresa na Liberdade, situada na Rua Conde de Sarzedas, travessa da Rua Conselheiro Furtado, onde se fabricava camisa esporte mas com mais requinte. Meu serviço era fazer a barra do bolso, fazia a barra da camisa. Vinha tudo cortado. Como eu já estava trabalhando, meu desejo era estudar a noite, fui dissuadida pela minha madrasta de continuar os estudos. Após algum tempo fui trabalhar nas Confecções Jamil na Rua Carlos Petit, Vila Mariana, próximo a caixa d`água, próxima a Rua Joaquin Távora era uma travessa da  Rua Inácio Uchoa. Era confecção de lingerie, fazia camisolas, peignoar, fazia muito conjuntos para noivas. O tecido utilizado era o nylon.
A costura com nylon é trabalhosa?
É um tecido muito mole, escorrega fácil. As peças já vinham todas cortadas. Chegou uma fase que cansei de tomar ônibus. Abriu uma fábrica de lingerie perto de casa, fui trabalhar lá. Nessa época que meu pai faleceu atropelado por um Volkswagen vermelho, dirigido por um engenheiro que estava com muita pressa para ir dar aulas. 
A senhora é católica?
Sou. Tinha uma amiga que freqüentava a Igreja Nossa Senhora das Graças, ela trabalhava na Pull Sport, ele disse-me que estavam precisando de costureiras. Diziam na época que Bradesco e Pull Sport eram duas empresas que faziam muita propaganda. A Pull Sport era uma empresa enorme. Começou em um fundo de quintal. Ficava na Rua Pires da Motta, Aclimação, entre as Rua Castro Alves e Rua José Getúlio, o comecinho era a Rua Antonio Prudente, em um prédio de quatro andares, logo depois eles adquiriram um terreno ao lado e construíram mais um prédio com sete andares. Ficava próximo ao Hospital do Câncer Antonio Prudente, hoje Fundação Antônio Prudente Hospital A. C. Camargo Cancerologista, quando eu trabalhava ali, se descesse na Avenida 23 de Maio, vinha a pé pela Rua São Joaquim, era muito grande o número de ambulâncias do interior que iam levar pacientes ao Hospital Antonio Prudente. No fundo do hospital havia acomodações para pacientes que estavam em tratamento e seus familiares.
Quanto tempo a senhora trabalhou na Pull Sport?
Foram doze anos e meio. Comecei como costureira. Era roupa 'prêt-a-porter', em termos de moda, quer dizer pronto para levar, pronto para vestir e usar. Fazia muito redingote (Casaco ou paletó longo) predominava a cor azul marinho. Tailleur, traje feminino composto por casaco e saia, é muito difícil de ver. Era uma moda bonita, elegante. A Pull Sport na época era só de confecção feminina. Eu fazia uma cópia do que vinha da modelagem para dar para costureiras terceirizadas. Trabalhei na modelagem, lá eu fazia a primeira peça.  Trabalhei com Dona Eva, uma italiana que era modelista, estilista, aprendi muito com ela. Fernando José estava em começo de carreira, não era famoso ainda, trazia seus desenhos, o Seu Sidnei que era o chefe da seção o ensinava. Eles desenham, mas parece que a mulher é uma tabua. A proprietária era Milla Libermann, os pais dela que começaram a empresa. Ela casou-se com David Zeiger, proprietáro das Capas Goomtex, capas de gabardine. 
















TIME Magazine, Brazil's President Costa e Silva, 21/04/1967Em 1967, a revista norte-americana Time publicou uma reportagem de capa, com a foto do presidente Costa e Silva. A matéria focalizava no progresso da economia brasileira, e citava exemplos de lideres em vários campos de atividade. Nela, David Zeiger foi apresentado como industrial exemplar.


TIME Magazine, Brazil's President Costa e Silva, 21/04/1967

Em 1967, a revista norte-americana Time publicou uma reportagem de capa, com a foto do presidente Costa e Silva. A matéria focalizava no progresso da economia brasileira, e citava exemplos de lideres em vários campos de atividade. Nela, David Zeiger foi apresentado como industrial exemplar.


Na Pull Sport fiquei até 1979, eu já ensinava o serviço de ampliação, antes era tudo manual, hoje tudo é feito pelo computador. Uma amiga saiu, logo depois também sai, fomos trabalhar em uma empresa no Brás. Eram produtos de qualidades inferiores. Permaneci lá uns seis meses. Uma amiga que tínhamos trabalhado juntas na Pull Sport, inclusive foi quem me ensinou o serviço de ampliação, estava precisando de uma ajudante. Assim fui trabalhar na Malhas RM situada na Rua Clímaco Barbosa, no Cambuci. Lá permaneci por três anos e meio. Isso foi em 1983. A costura realiza quem a faz, você sente que fez aquela peça. Sempre fui muito minuciosa. Procurava não errar, era um ponto de honra. Quando a Pull Sport encerrou suas atividades naqueles prédios, em um deles passou a funcionar a Rádio Eldorado, na Rua Pires da Mota, 820.
Da RM a senhora foi para onde trabalhar?
Fui trabalhar com alta costura, com Conceição Vigas. Na época ela estava na Rua Mello Alves. Depois ela abriu uma confecção na Rua Pinheiros. Ai ela foi para uma casa grande na Rua Gabriel Monteiro da Silva, Jardins. Era uma mansão muito bonita. Eu fazia o molde e cortava. Ela que tirava as medidas e passava para mim.
A senhora chegou a trabalhar com Clodovil, Dener?
                                                                   DENER


                                                            CLODOVIL
Não trabalhei, mas era muito comum quem estava no meio saber como cada um deles procedia profissionalmente. A alta costura é um lugar de muito glamour. As roupas do filme “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” foram todas feitas na Pool Sport. Possivelmente devo ter costurado algumas delas.
                                    ROBERTO CARLOS EM RITMO DE AVENTURA
O que é alta costura?
É a roupa mais fina, outra forma de costurar. Têm as roupas drapeadas, tudo com ponto feito a mão. O trabalho das costureiras é um trabalho mais fino.
Você conheceu a célebre Madame Rosita?
Não a conheci, só ouvi falar. Lembro-me de quando ela estava com a Maison Madame Rosita,na avenida Paulista quase na esquina com a Rua da Consolação. Ali era um local onde só freqüentavam carteiras muito bem recheadas. Trabalhei em algumas confecções pequenas, até ir trabalhar no Atelier Parisiense na Rua Major Diogo, o proprietário era o Seu André. Lá eu completei 30 anos de serviço, em 1994 aposentei-me. Depois de aposentada passei a trabalhar na Linea Laura. Lá trabalhei mais 15 anos, mesmo estando aposentada. Morava na Rua José da Fonseca Nadais, que tinha sido motorneiro de bonde, eu o conheci.
Porque a senhora escolheu Piracicaba para residir?
Eu já tinha duas amigas de São Paulo que tinham mudado para Piracicaba. Em março de 2010 eu trabalhava ainda em São Paulo, passava de quatro a quatro horas e meia no trânsito entre ir e voltar do trabalho. Cansava mais no trajeto do que no trabalho, além da tensão o tempo todo.
Quem é mais vaidoso, o homem ou a mulher?
Nos dias atuais está difícil afirmar, ambos estão vaidosos.
Até pouco tempo havia um cuidado em vestir com esmero. Este habito mudou?
Ao que parece quanto mais a vontade sentem-se melhor. Roupa furada, roupa rasgada. Acho que é relaxo. E são mais caras, dá muito trabalho Usam pedras para lavar a roupa e gastar o tecido. O cliente compra a roupa só com meia vida! O brim é um tecido duro, antigamente, logo que apareceu usavam-se calças bem duras.
Como você vê isso?
Quando começaram a usar a etiqueta da roupa á mostra, eu fiquei abismada, para mim era o fim do mundo. Estava acostumada a umas roupas tão clássicas.
A seu ver a exposição explicita do corpo feminino quebra a magia do romantismo?
Com certeza! Já está tudo a mostra, não há mais o que ver. Infelizmente a pessoa torna-se vulgar. A pessoa deveria preservar-se mais. Isso muitas vezes banaliza o que deveria muito importante na vida da pessoa. A convivência entre casais sem nenhum compromisso, onde não há um vinculo, torna-se fonte de frustrações sucessivas. Para ter-se uma família unida é necessário superar eventuais sacrifícios.
A forma de vestir reflete o espírito da pessoa?
Acho que sim. A gente não consegue vestir uma coisa que não aceitamos.
Sempre existiram pessoas bem vestidas, de ambos os sexos, porém de caráter e conduta duvidosos?
Isso sempre existiu.
O que mais chama a atenção do homem, o recato ou a exuberância?
A princípio a exuberância chama mais a atenção dos homens. Só que com o passar do tempo o homem de forma natural ou forçosamente percebe que era um engodo. A mulher inteligente usa o recato.
Essas questões têm muito a ver com moda, estilo, enfim o trato com qual a pessoa veste-se.
Eu trabalhei em lugares que produziam roupas consideradas como normais. Não conseguiria trabalhar em lugares cuja roupa explorasse a sensualidade feminina de forma acintosa e desrespeitosa. O bom gosto salienta a beleza feminina.
Você tem algum passatempo?

Gosto de ouvir rádio! Ouço “Os Comentaristas” da Rádio Educadora de Piracicaba, ouço “Radioatividade” da Jovem Pan. Às vezes consigo sintonizar a Rádio Nove de Julho de São Paulo. 


ROSA DE LIBMAN nasceu no dia 10 de maio de 1904, no Uruguai. Veio para o Brasil no início de 1935 acompanhada pelo seu marido, Sr. Max Libman.
Em outubro de 1935 inaugurou sua maison com o nome de "Madame Rosita" na Rua Barão de Itapetininga em São Paulo. Trabalhava principlamente com artigos de pele ; visons, martas, raposas e zibelinas.
Em 1942, no fechado mercado expositor internacional de peles do Canadá Mme. Rosita elegia as mais requintadas peles do mundo sendo a primeira griffe brasileira a entrar no mercado de peles do Canadá.
Fez o primeiro desfile profissional do Brasil em 1944. Mme. Rosita foi uma verdadeira pioneira da Alta Costura feminina no Brasil, apresentando roupas elegantes e muito bem acabadas que conquistou uma clientela fiel. Adaptava alguns modelos de costureiros europeus para a mulher brasileira realizados com exclusividade para suas clientes.
Sua oficina de costura dava trabalho a 50/60 pessoas aproximadamente.
Madame Rosita sempre foi a primeira a lançar toda e qualquer novidade que surgia na Europa nos importantes e badalados desfiles de moda que apresentava no Brasil, como por exemplo o desfile feito no Teatro Municipal de São Paulo no ano de 1938.
Sempre foi considerada a "primeira dama" da Alta Costura Brasileira e conquistou grandes prêmios e troféus tais como: "Sapatinho de Ouro", "Agulha de Ouro" e muitos outros. Também foi a primeira representante feminina da Alta Costura a ser membro da "Chambre Sindicale de la Haute Couture Francaise".


Quando a Barão de Itapetininga deixou de ser um ponto considerado chique na cidade de São Paulo, Madame Rosita mudou-se para a Av. Paulista, primeiramente no Conjunto Nacional e em 1965 a antiga "Peleteria Americana" situada no n. 2.295 passou a se chamar "Madame Rosita". Uma casa nos moldes de "Celina", em Paris, com tapetes orientais, cadeiras forradas de veludo, e antigos móveis.
As vitrinas expunham de forma tradicional e exibiam vestidos clássicos e uma malharia que lembrava muito Chanel.

Atualmente a oficina conta com oito costureiras, que fazem modelos exclusivos com tecidos, na maioria das vezes, importados.
Na linha prêt-à-porter, do "casual ao chique" as roupas são importadas, principalmente da etiqueta italiana "Emilio Pucci" enquanto representantes exclusivos no Brasil.

Rosa de Libman teve a assessoria de sua filha "Dorita" e sua neta "Suzana" que criou a "Mademoiselle Rosita" propondo uma moda mais jovem.

Madame Rosita ou a Sra. Rosa de Libman faleceu em maio no ano de 1991.

É o Dr. Saul, seu filho, que cuida da parte administrativa e da importação a 10 anos e sua outra neta "Daniela Libman" que administra a parte comercial da "maison".

A "maison" mudou-se da Av. Paulista para a Alameda Jaú n. 1.725 onde continua até hoje.
Mantem disponível o serviço de armazenar trajes em pele para suas clientes em câmeras frigoríficas que conservam e protegem as "peles".
Os desfiles acontecem duas vezes por ano apresentando a coleção outono/inverno, em abril e primavera/verão em outubro e suas clientes são na maioria de classe alta, com uma faixa etária que varia de 30 a 80 anos. Na Mademoiselle Rosita encontram-se roupas para a faixa etária mais jovem.

David Zeiger, personalidade publica

David Zeiger (São Paulo, 21 de fevereiro de 1918 — São Paulo, 10 de maio de 1981) foi uma personalidade publica do século 20. Filantropo, industrial, colecionador de arte e paulistano inveterado, ele participou ativamente do desenvolvimento de São Paulo. Uma escola estadual e uma rua prestam homenagem ao cidadão de São Paulo.
Desde jovem David Zeiger demonstrou tendências progressistas. Apesar de criado e educado dentro de uma comunidade de imigrantes judeus no Bom Retiro, o David adolescente já mostrava um bom domínio da língua portuguesa e uma curiosidade pela cultura brasileira que o levou a procurar amizades for a do pequeno núcleo de europeus onde vivia.
Para atingir esse objetivo, ele se tomou sócio dos clubes Espéria, Floresta e Regatas do Tiete, no qual participou como remador em competições. Por ser naturalmente comunicativo David se tomava popular em qualquer ambiente que frequentava. Para aprimorar o seu estilo de escrita, ele se associou ao clube Portugália, que publicava um jornal com textos de autoria dos vários sócios. Em pouco tempo os seus textos de reportagem e ficção passaram a ser regularmente publicados sob a orientação do poeta Mario Gallo, que se tomou o seu mentor de gramática e estilo. Apesar de trabalhar em tempo integral no negocio de seu pai, David Zeiger finalizou a sua educação na Escola Técnica de Contabilidade.
Durante a segunda guerra mundial, os judeus exilados da Europa aceleraram seus esforços visando a criação do estado de Israel, para o qual se destinariam os refugiados sem cidadania. Em São Paulo, assim como em varias cidades do mundo foram criadas organizações que visavam arrecadar dinheiro para o sustento de judeus que já moravam na Palestina.
Uma vez criado o estado, novas contribuições continuaram a ser enviadas, para financiar a construção da infraestrutura. Foi nesse contexto que David Zeiger iniciou suas atividades filantrópicas, ajudando a arrecadar e contribuindo com seus próprios fundos.

Apesar desse foco inicial no exterior, a maioria de seus esforços por causas sociais se concentrou no Brasil. Ele participou habitualmente de bazares, reuniões e festas beneficentes. O ímpeto de David era mais voltado a saúde e ao acesso a instituições médicas de qualidade.
Para isso ele auxiliou D. Carmem Prudente no estabelecimento do Hospital do Câncer, e nas campanhas beneficentes que se seguiram.
Ele se distinguiu também como doador inicial do Hospital Israelita Albert Einstein.

Com os funcionários da fabrica e os empregados domésticos, ele aplicou os mesmos princípios de bem estar social provendo a todos acesso familiar a uma clinica medica.
m termos filosóficos, David Zeiger acreditava num Brasil que funcionasse no modelo de economia de mercado dos Estados Unidos, com uma vasta classe media, acesso geral a educação e serviços médicos.
Durante o governo Juscelino Kubitschek (1956 a 1961), ele encontrou um clima favorável para esse tipo de pensamento, que ajudaria o Brasil a sair do estado de uma economia agrária para se tornar um gigante industrial.

Nessa época David conheceu o deputado Antônio Sílvio Cunha Bueno, com o qual ele desenvolveu uma longa amizade, e através do qual começou a participar mais ativamente da vida política do Pais.
O Brasil experienciou um grande crescimento econômico nos anos 60, propulsionado por uma generosa injeção de capital dos Estados Unidos. Nesse clima de prosperidade, os negócios de David Zeiger prosperaram com velocidade, e a sua confecção (Cia Pullsport de Malharia) cresceu para dois prédios de sete andares e 500 funcionários.
Em 1967, a revista norte-americana Time] publicou uma reportagem de capa, com a foto do presidente Costa e Silva. A matéria focalizava no progresso da economia brasileira, e citava exemplos de lideres em vários campos de atividade. Nela, David Zeiger foi apresentado como industrial exemplar.

Apesar de todo sucesso, David tinha um comportamento despretensioso e afável, que se manifestava igualmente com os indivíduos mais humildes de sua empresa, ate as personalidades mais importantes que conheceu.
David Zeiger era um paulistano inveterado. Para ele, a cidade de São Paulo tinha o potencial de se tornar a metrópole mais importante da América Latina.
Para isso, ele participou desde o principio das feiras industriais estabelecidas por Caio de Alcântara Machado, dos painéis da Bienal Internacional de Arte de São Paulo] e de um projeto que visava integrar um centro cultural com teatros e salas de concerto no parque Ibirapuera.

Ávido colecionador de arte, para ele a cultura artística exprimia a verdadeira riqueza de urna sociedade. Ele não chegou a viver para ver a inauguração da escola com o seu nome[ , mas teria grande orgulho de estar associado com esta instituição.
Marca Pull Sport.jpg

sexta-feira, outubro 23, 2015

ELIZABELTE CASAGRANDE

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 de outubro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ELIZABELTE CASAGRANDE





Elizabelte Casagrande é filha de Orlando Casagrande e Francisca Maria da Silva, nasceu a 8 de outubro de 1936. Seu bisavô paterno era italiano, sua bisavó paterna era austríaca, seus avós paternos eram italianos, da região de Treviso, vieram para o Brasil em uma das primeiras levas de italianos que imigraram logo após a abolição dos escravos.
No Brasil eles moraram inicialmente aonde?
Segundo o meu avô contavam, eles foram morar nas senzalas que era anteriormente ocupada pelos escravos, só caiaram (passaram cal) e colocaram os italianos lá. Alguns escravos permaneceram na fazenda, mesmo após a abolição. Eles vieram da Itália para Tietê, era uma fazenda pertencente a um patrão muito bom, conhecido como Chiquinho Antunes. Meu nono (avô) contava muitas histórias interessantíssimas sobre os negros. Há um aspecto interessante, os italianos e os negros se davam muito bem, os italianos aprenderam muito com os negros sobre a lavoura do café. Não sei se é muito significativo, mas uma das histórias que gravei foi quando meu avô contou sobre um negro com fama de feiticeiro, tinha conhecimento de magia. Era uma pessoa boa, segundo meu nono todo o mundo gostava dele. Esse negro teve um desentendimento com uma pessoa, ele disse: “-Vamos fazer o seguinte, vá até a minha casa amanhã a meia noite!” A pessoa foi ao chegar encontrou o negro estendido sobre uma mesa, com duas velas acesas ao lado e uma coruja sobre seu peito. Ele estava morto. O seu desafeto chegou, olhou, mexeu, ele estava durinho. Ele saiu correndo! No outro dia o negro estava já de manhã trabalhando. Parece ser uma daquelas histórias dos zumbis que eles contam, eles possuem a capacidade de entrar em estado letárgico. Meu avô era um homem muito inteligente, aprendeu a escrever embaixo do pé de café. Meu avô falava conosco em português, em italiano geralmente falava com outros italianos, principalmente com os padres italianos que nos visitavam. Minha avó falava muito em dialeto vêneto. Uma vez fui para a Itália, de lá fui até a Hungria, que na época era comunista, hospedei-me em um hotel cujo proprietário era italiano, falava o mesmo dialeto que a minha avó usava no Brasil! Isso facilitou a nossa comunicação, praticamente me adotaram! Levaram-me para conhecer aqueles jantares com musica, violino. Em Budapeste me levaram a todos os passeios a que foram.
E seus avôs maternos?
Meu avô era português de origem judaica, conhecido como cristão-novo.

Seus bisavós paternos permaneceram em Tietê?
Eles mudaram-se para Palmital, nessa época meu pai era um bebê ainda. As primeiras levas de italianos que vieram para o Brasil não receberam terras do governo, outras que vieram mais tarde, e que em grande parte foram para o sul, o governo brasileiro comprometeu-se a dar uma pequena área de terras para eles. Os italianos que não ganharam terra trabalharam duro durante anos e conseguiram guardar algum dinheirinho. O patrão, Chiquinho Antunes, sabia que eles queriam ter seu pedacinho de terra. Ele tinha um amigo advogado de nome Cardoso que tinha uma fazenda e muita terra em Palmital, que era uma localidade muito pequena, um arraial, era sertão, isso foi por volta de 1920. Com isso meu nono, seu cunhado, irmão da minha nona, mais algumas famílias foram para lá. A terra que eles compraram era mato, derrubaram, o casarão antigo foi construído com boa parte da madeira que eles retiraram do local. Foi um período em que não havia quase granjas, meu nono começou a criar galinhas, mandava para São Paulo, mandava ovos. Meu avô e minha avó tiveram cinco filhos. Uma curiosidade, ele consertava e também fazia sanfonas. Ele mandava vir o material de São João da Boa Vista, onde tinha uma fábrica de sanfonas. Aos poucos foram adquirindo mais terras, até passar a cultivar café também.
                                                        PALMITAL SÃO PAULO
Seu pai continuava em Palmital?  
Meu pai cresceu, esteve na frente de batalha na Revolução Constitucionalista de 1932, ele era da artilharia. Ele ficou na região entre Aparecida do Norte e Rio de Janeiro. De Palmital voltaram ele e um amigo.
Você lembra-se da sua primeira professora em Palmital?
Lembro-me sim! Era Dona Zenaide Badim de Souza. Depois foi Dona Heloisa, que era esposa do Cardoso ou do seu filho. A terceira professora foi Dona Maria Diaz, o pai dela era coletor da receita, a professora seguinte foi Dona Marta. Conclui o Grupo Escolar de Palmital entrei para o Ginásio Estadual de Palmital, o curso normal fiz em Assis, que ficava a uns trinta ou quarenta quilômetros distante de Palmital. Ia e voltava todos os dias pela Estrada de Ferro Sorocabana. Era uma viagem gostosa, íamos em uma pequena turma, cantávamos, dançávamos, naquela época não havia passe de estudante, adquiríamos o bilhete, o chefe de trem passava para picotar o mesmo e anunciava a próxima estação: “-Palmitar!”, outro dizia “-Palmital!” e um terceiro falava “Parmitar!”. Nós ríamos muito!
Naquela época mulher praticava esporte na escola?
Eu jogava basquete, aprendi a jogar no ginásio. O uniforme era um short azul marinho e blusa branca, com, o emblema da escola, tênis e meia. Lembro-me da professora de Educação Física, Areco, foi uma excelente professora. Na época a Escola Normal de Assis era considerada uma das melhores do Estado. Formei-me professora, que era o máximo que se tinha no local. Voltei à Palmital, lecionei na roça por uns três anos. Teve um período em que eu ia e voltava até a escola. Já cheguei a andar dez quilômetros a pé para ir lecionar, isso ocorria em situações especiais, quando chovia muito, aquela lama, não passava carroça, bicicleta, nada. Normalmente eu ficava no sitio, na casa da fazenda onde lecionava. Lembro-me de uma casa onde fiquei da Dona Hermantina, quando eu estava lá nasceu seu décimo filho. Era da família Monteiro. Geralmente no começo da semana eu ia de bicicleta até a fazenda, permanecia lá e voltava de bicicleta no final de semana.
                                                            ASSIS - SÃO PAULO
Você teve o desejo de cursar uma faculdade?
Tinha uns fazendeiros em Palmital cujos filhos estudavam em São Paulo. Minha irmã Therezinha Casagrande gostava muito de escrever, ela começou a escrever sobre a história de Palmital. Foi uma cidade que teve uma história muito conturbada. Houve uma rixa muito grande entre duas famílias, uma que já residia no local e outra que veio morar na cidade. Por razões políticas, houve uma tocaia onde morreram sete pessoas.
Em que cidade você fez a faculdade?
Tinhamos parentes em Londrina, e lá já existia a faculdade que eu pretendia fazer. Fui para lá de ônibus, era ainda estrada de terra, tinha que passar o rio pela balsa, cheguei em Londrina no final da década de 58. A cidade era toda em ruas de terra, acho que nem a Avenida Paraná era calçada. Fiquei no Distrito de Irerê onde tinha uns primos e prima que era da família Ronch.
Quantos idiomas você fala?
Falo o português e o italiano. Mas entendo espanhol, inglês, francês, alemão uma palavra ou outra, como Weltanschauung (termo alemão que se pronuncia "vèltanxauung"), palavra de origem alemã que significa literalmente "visão de mundo".
Na época do ginásio estudávamos latim. Minha prima tinha um armazém no Irerê, foi lá que conheci Alexandre Von Pritzlwitz que doou a FEALQ a Fazenda Figueira, situada em Londrina, com 3.900 hectares de terra.

                                               HISTÓRIA DE LONDRINA PARTE 1



HISTÓRIA DE LONDRINA PARTE 2



HISTÓRIA DE LONDRINA PARTE 3



HISTÓRIA DE LONDRINA - PARTE 4
               


                                           IMIGRAÇÃO JAPONESA EM LONDRINA
Você fez faculdade de qual curso?
Comecei estudando história e geografia, mas depois surgiu a pedagogia, eu já era professora, sou da primeira turma de pedagogia, da Faculdade Estadual de Londrina foi em 1965. Fui para Irerê, era a primeira professora formada de Irerê. Vim para Londrina, lecionei e tornei-me diretora dessa escola. Vi uma notícia de que estavam precisando de professores no Amapá. Na época era Território. Encontrei o professor de administração no correio, ele disse-me que o INEP - Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos de São Paulo estava selecionando pessoal para mandar para os estados do Norte e do Nordeste.
Fiz a prova na USP, passados uns 10 dias recebi um telegrama de que havia sido aprovada para participar do programa do INEP. Em janeiro me chamaram para vir para a USP para fazer a preparação de dois a três meses, o José Mário era o coordenador. Fomos preparados para sair para o Norte e Nordeste. Fui para Rondônia. Lá fiquei hospedada em hotel. Isso na época áurea da cassiterita.

Como era a relação dos habitantes locais com vocês?
De forma geral era bem aceita, embora houvesse certa reserva. Fazíamos o planejamento, fazíamos pesquisas, montávamos os planos, era uma beleza. De tudo que fazíamos se 10% eram aproveitados era muito. Entrava o jogo político interferindo. Tinha verba, só não era aplicada em sua finalidade. Íamos dar cursos para professores leigos na redondeza. 

Em Guajará-Mirim demos um curso de 60 dias. Infelizmente havia uma visão de só realizar se fosse uma vantagem política. Depois fui para o Maranhão. Viajávamos naqueles aviõezinhos sem pressurização, saiamos com os ouvidos estourando.  Mais tarde fui para Alagoas. Trabalhamos como camelos, o secretário ia para os Estados Unidos, queria apresentar o projeto, trabalhávamos na época com mimeografo. Ele foi, apresentou o projeto e politicamente destacou-se. Implantar mesmo o projeto que fizemos isso nunca foi feito. Sai do programa, voltei para São Paulo.
Qual foi seu próximo destino?
Minhas colegas da faculdade tinham ido à Brasília, decidi ir também. Comecei a lecionar matemática em uma das escolas do centro. Recebi um telegrama da Indústria e Comércio de Minérios S.A. (ICOMI) 
                                                JK INAUGURA A ICOMI EM 1957


ICOMI


                                                         SERRA DO NAVIO



                                                        DR. ANTUNES - ICOMI/ CAEMI
e explorava minério de manganês na Serra do Navio, Amapá.  Depois passou a chamar-se Caemi e se uniu a Bethlehem Steel, americana. Não dei atenção ao telegrama. Um dia bateram na porta da minha casa, um representante da ICOMI que morava em Brasília perguntou se eu não tinha recebido o telegrama, que eles gostaria que eu participasse. Eles queriam implantar o curso de ginásio voltado para o trabalho, na Serra do Navio.  Eles tinham uma vila maravilhosa. A parte dos operários era uma beleza, na época os melhores recursos hospitalares eram deles. O lazer era dançar e o cinema. Quando saiu o filme “Uma Odisséia no Espaço” levei todos os meus alunos para assistirem. Só se entrava lá no trem pertencente a companhia. Ia de avião, descia no aeroporto, ficava hospedada no melhor hotel de primeiríssima, ai eles vinham de carro me buscar, levavam-me para o trem e ai íamos até a Serra do Navio. Tinham construído uma vila em Macapá, viajávamos no trem de minério, no final eles tinham um ou dois vagões destinados aos passageiros. Permaneci lá por três anos. Em 1969 quando o homem foi à lua eu estava lá! Só tinha um engenheiro que tinha uma televisão, a Eliete Covas era Secretária da Educação, tinha amizade com eles, ela que me levou ao Amapá. 
Após três anos você decidiu sair de lá?
                                                                 BRASILIA
                                          


                                                                        BRASILIA                                          No período em que estive trabalhando lá procurava me atualizar indo a congressos em Belém, São Paulo. Quando pedi para sair ofereceram diversas vantagens, inclusive financeiras. Eu tinha decido sair voltei para São Paulo. Passei a trabalhar com o grupo que ia realizar a descentralização do ensino. São Paulo já estava uma cidade cuja qualidade de vida tinha deteriorado. Recebi através de uma amiga a notícia de que haveria um concurso de Alto Nível para a Secretaria do Distrito Federal, em Brasília.
 Voltei a Brasília. Fiz dois meses de curso, passei. Entrei como Especialista em Educação. Permaneci lá por 15 anos. Nesse meio de tempo fui ao Acre dar um curso, veio o reitor da Universidade do Acre convidou-me para ministrar esse curso. Permaneci lá por seis meses. Em Brasília eu trabalhava muito com a parte de currículo, planejamento e supervisão Fizeram a programação introduzindo arte nos currículos, fui para a Itália onde fiquei um ano, fiz o curso de História da Arte. Voltei ao Brasil. Como tinha uma licença premio, férias, fui de novo para a Itália onde estudei Gemologia.
O que é Gemologia?
É o estudo das pedras preciosas, das gemas. É um ramo da mineralogia.
Você chegou a estudar o diamante?
Estudei! Diamante é a pedra mais preciosa por ser a pedra mais dura. E que dá mais brilho. Temos no Brasil a famosa pedra de diamante conhecida como Getulio Vargas.


Das pedras tipicamente brasileiras qual é a considerada de grande valor?
As turmalinas. Também tem as esmeraldas, mas as esmeraldas colombianas são melhores do que a nossa. Temos algumas boas, as melhores são as da Bahia. Encontram-se algumas muito boas, mas é muito pouco.
                        TURMALINA

Se trouxerem uma pedra você consegue identificar seu valor?A primeira coisa que aprendemos no curso de gemologia é nunca dizer o que é uma pedra sem antes passar por todos os exames. Temos pedras sintéticas que imitam quase todas elas. Tem pedras que tem características uma da outra, mas é de outra família. Você trabalha com cinco ou seis instrumentos para reconhecer a pedra. A balança, o epidiascópio (aparelho para projetar imagens de corpos opacos na luz refletida ou transmitida), ácidos, balança.
O que a levou a gostar da gemologia?
Isso começou quando eu estava em Rondônia tinha um topógrafo que gostava de pedras, uma vez ele veio com algumas pedras, eram granadas, é uma pedrinha vermelha, preciosa também, está entre as gemas. Não compensa fabricar o diamante, o maior uso é na indústria, ele não precisa ser especial. O diamante é formado em altíssima pressão e por volta de 1.000 graus de calor. Ai depois vem a família dos coríndo: a safira e o rubi. O rubi está em extinção. Há diamantes azuis, verdes, mas são raridades.
A senhora aprecia essas pedras pela sua beleza?
Exatamente! Só que para ser possuidor de uma dessas pedras envolve uma quantia de valor que é privilégio de poucos. Ou seja, gosto, entendo, mas não tenho posse de nenhuma delas. Conhecê-las é um hobby.
Quais são os países que são mais meticulosos quanto a qualidade das pedras?
Acho que é a França, a Itália. Os americanos também são exigentes. Só um gemolista pode dar atestado de autenticidade de uma pedra. Uma conhecida um dia disse ter adquirido um topázio para presentear uma pessoa querida, ela adquiriu no exterior, disse: “- Vou lhe mostrar!”. Peguei, pelo peso já vi que não era, disse-lhe: “-Estou achando que está muito leve. Quanto você pagou?” Ela disse-me o valor pago, eu disse-lhe que era mais uma razão, se fosse um topázio de verdade valeria muito mais. Ela levou no joalheiro era um citrino! De um valor bem abaixo.
A senhora é dançarina?
Sou apenas uma principiante. Hoje faço parte de um grupo da Ana Paula Minari, professora formada pela Unicamp. Somos a primeira turma dela da terceira idade de dança flamenca. 





Há quanto tempo a senhora dança flamenco?

Há cinco anos. Não podemos ficar presos, precisamos de desafios e caminhar pelo lado positivo. Fiz um curso de Bio Ética quando mudei na ultima vez para Londrina. Faz 16 anos. É uma disciplina que está em alta, a preocupação é preservação da vida e do planeta. Não só a vida animal e vegetal como a natureza. Um dos Bio Eticistas é da Corrente da Ética da Responsabilidade, ele diz: “- Age de tal maneira que as conseqüências das suas ações possibilitam a permanência de uma vida  verdadeiramente humana na face da Terra” .Seu nome é Hans Jonas. 


O diamante Presidente Vargas

Foi no Rio Santo Antônio do Bonito que, no dia 13 de agosto de 1938, foi encontrado o maior diamante já formado no solo do Brasil. A pedra de 726,6 quilates foi batizada com o nome de Presidente Vargas, em homenagem ao então presidente da República, Getúlio Dornelles Vargas. Por algum tempo, ele ocupou o posto de quarto maior diamante do mundo. Hoje, está em sexto lugar na lista dos maiores. Os garimpeiros Joaquim Venâncio Tiago e Manuel Domingues venderam o diamante por US$56 mil para um corretor, que, logo em seguida, o revendeu por US$235 mil. Algum tempo depois, ele foi negociado com o banco Dutch Union Bank, de Amsterdã (Holanda).Enquanto o diamante estava guardado nos cofres do banco holandês, o famoso lapidador Harry Winston - responsável pela clivagem do diamante Jonker - tomou conhecimento da existência do magnífico diamante brasileiro. Winston viajou para Amsterdã e comprou essa pedra preciosa. O preço pago não veio a público, mas se sabe que Harry Winston adquiriu um seguro no valor de US$750 mil.O jornal O Imparcial, de 11 de junho de 1939, anunciou: O diamante "Presidente Vargas" vendido por 2.550 contos adquirido pelo industrial norte-americano Harry Winston, o célebre diamante "Getúlio Vargas", achado no rio Santo Antônio em Minas, levantou grande celeuma, não só devido à avaliação então feita pela Casa da Moeda, como ainda pelo seu tamanho, considerado, acertadamente, o quarto do mundo.O Imparcial, aliás, em tempo, occupou-se pormenorizadamente do assumpto, referindo-se à classificação fita a 7 de outubro de 1938 pela Casa da Moeda, de 871:920$ para efeitos de exportação, muito aquém do seu valor.O diamante "Getúlio Vargas", como "specultivestone", foi, então, exportado pelo Correio Geral, via marítima, a 26 de outubro para Amsterdam, na Holanda, o maior centro de pedras preciosas do mundo.Segundo notícias agora chegadas ao nosso conhecimento, a preciosa pedra foi adquirida a 23 de maio último, pelo grande industrial norte-americano sr. Harry Wisnton, antigo amigo do Brasil, que já aqui esteve algumas vezes, e um incansável propagandista das nossas riquezas minerais, aproximadamente pela importância de 2.500 contos de réis, ou seja, o triplo da avaliação feita pela Casa da Moeda."Notícias sobre a questão da venda também ocuparam as páginas dos jornais.A Noite - 4 de novembro de 1940 Agita o Fôro Mineiro o diamante "Getúlio Vargas e Patos a Patrocínio e de Patrocínio a Nova York - Dois garimpeiros e um lavrado discutem por causa de seiscentos e cinquenta contos - E a preciosa gema já está avaliada em 20.000 contos de réis.Belo Horizonte, 4 (da sucursal de A Noite) - O famoso diamante "Getúlio Vargas", que ora agita os tribunais de Londres e Nova York, repercutindo na imprensa mundial, continua a movimentar também os tribunais de Minas, sua terra de origem.O litígio despertado no fôro mineiro pela preciosa gema remonta à data da sua descoberta e resume-se no seguinte: É hábito dos garimpeiros e faiscadores que exploram a fortuna em terras alheias dividirem com o proprietário desta o produto de sua descoberta. Os felizardos garimpeiros que encontraram o "Getúlio Vargas", Manoel Miguel Domingues e Joaquim Venâncio Thiago, alegando que o venderam a Oswaldo Dantes Reis, por 700 contos, depositaram a metade dessa quantia num banco, a favor do dono das terras, Sebastião Rodrigues Amorim.Este, sabedor de que a primeira venda do diamante rendeu não setecentos, mas dois mil contos, protestou que tinha direito a mais seiscentos e cinquenta contos e intentou imediatamente uma ação judicial para a cobrança dessa importância...Diário da Noite - 11 de novembro de 1940O diamante "Getúlio Vargas" vale vinte mil contos será dividida em doze partes, a famosa pedra Nova York, 11 (Reuter) - Segundo declarações da firma proprietária do famoso diamante brasileiro, conhecido como Getúlio Vargas, terminou a controvérsia judicial em torno da propriedade da mesma pedra. O bello diamante, avaliado em um milhão de dólares, será cortado em doze partes.O diamante Presidente Vargas foi, então, clivado e lapidado. O diamante bruto deu origem a 29 diamantes menores. Entre eles, havia 16 com lapidação esmeralda, um com lapidação pear ou gota, um marquise, e, entre as gemas menores, 10 trillions e uma baguete.Após a clivagem, a maior pedra, um diamante corte esmeralda de 48,26 quilates, foi denominada Presidente Vargas. Acredita-se que hoje ele pertença ao joalheiro Robert Mouawad, de Beirute.As gemas trocaram de mãos com o passar dos anos. No entanto, nas últimas décadas, alguns pedaços reapareceram em leilões da Sotheby's. Em abril de 1989, o Presidente Vargas IV, com 28,03 quilates, foi vendido por US$781 mil, e o Presidente Vargas VI, com 25,4 quilates, por US396 mil, em 1992.

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