domingo, junho 08, 2008

Excelentíssimo Dom Fernando Mason, OFMConv

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz A Tribuna Piracicabana
Sábado das 10 ás 11 Horas da Manhã Publicada ás Terças-Feiras

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
19 3433.8749 / 8146.0313 / 8171.5774
Rua do Rosário, 2561 Cep 13401.138 Piracicaba-SP
joaonassif@gmail.com

Entrevistado: Excelentíssimo Dom Fernando Mason, OFMConv

Em 24 de julho de 2005 tomou posse o 5º bispo da Diocese de Piracicaba, Dom Fernando Mason, OFMConv. (A pronúncia correta é Mazon). Ele foi nomeado pelo Papa Bento XVI no dia 25 de maio. OFMConv significa Ordem dos. Frades Menores Conventuais e passa a integrar o nome completo do franciscano. Nasceu em 21 de janeiro de 1945 em Loreggia, cidade de cerca de 4 mil habitantes, na Província de Pádua, Itália. Foi batizado em 28 de janeiro. Filho dos lavradores Florindo Mason e Ângela Piccolo Mason, é o oitavo de nove filhos do casal. Recebeu o nome de Ernesto Ferdinando Mason. Mais tarde, ao tornar-se frade, adotou o seu nome: Fernando.Cursou o primário em Rustega de Camposampiero.Em 24 de setembro de 1955, seguindo sua precoce vocação à vida religiosa, entrou no seminário franciscano de Camposampiero, onde completou o primeiro grau. Cursou o ensino médio em Brescia e Pedavena. Em 1961, no Convento Santo Antônio, em Pádua, fez o Noviciado, o “ano de provação”, findo o qual, em 26 de setembro de 1962, fez sua primeira profissão religiosa como franciscano da Ordem dos Frades Menores Conventuais. Cursou Filosofia e Teologia em Pádua, no Instituto Teológico Santo Antônio Dottore, tornando-se bacharel em Teologia. Sua profissão solene aconteceu na Basílica de Santo Antônio em 4 de outubro de 1966. No mesmo local, em 3 de abril de 1971, com 26 anos, foi ordenado sacerdote. Depois de ter cursado Português na Universidade de Coimbra, em Portugal, e de ter feito um curso de preparação para a missão no CEIAL, no dia 21 de junho de 1972 embarcou no porto de Gênova com destino ao Brasil. Chegou ao porto de Santos no dia 4 de julho. O seu lema é: "Christus Factus Obbediens" (Seguir Cristo Feito Obediente). Antes do episcopado exerceu as atividades de 1972 a 1977 Vice-Pároco em Guaira, Diocese de Toledo-PR; de 1977 a 1981 foi Reitor do Seminário Menor em Ibema, Cascavel-PR; 1983 Reitor de Seminário Maior em Santo André-SP; 1984 a 1985 Vice-Pároco em Ubatuba-SP; 1986 a 1991 foi Mestre de Noviços em Caçapava-SP; 1992 a 1994 Pároco em Santo André-SP; 1995 a 1999 Mestre dos Noviços em Caçapava SP. Entre seus estudos realizou doutorado em Teologia pela Faculdade Teológica S. Boaventura Seraphicum de Roma. Teologia de 1967 a 1971 no Instituto Teológico Santo Antônio Dottore em Padova. Filosofia de 1965 a 1966 no Instituto Teológico Santo Antônio Dottore, Padova. Em 1992 fez o Curso "Cefepal” Centro de Estudos Franciscanos e Pastorais para América Latina (Franciscanismo para Formadores) em Petrópolis-RJ. Obras publicadas Artigos no "Mensageiro de Santo Antônio" e no "Mílite".
O senhor considera interessante um curso de nível universitário voltado exclusivamente para a formação de novos políticos?
Nossa cultura é uma cultura muito exigente, comporta grandes conhecimentos, por isso cursos desse tipo são sempre bem vindos e sem dúvida podem ajudar. O importante é a orientação desse curso, os valores que ele irá buscar transmitir. O estilo político que esse curso desenvolver. Sem dúvida, vivemos em uma época de muito estudo, de muita competência. Existe a questão de como encaminhar um curso dessa natureza. As possibilidades de como realizar esse curso são inúmeras. Todo conhecimento nesse sentido é bem vindo!
O senhor tem um ligeiro sotaque estrangeiro, qual a origem desse sotaque?
Eu nasci na Itália! Mas já vivi muito mais no Brasil do que na Itália! Vim para o Brasil em 1972, fui para Guairá, quase na divisa com o Paraguai e Mato Grosso. Chegamos ao Brasil após uma viagem de 14 dias de navio. O avião não era tão usual como hoje. Além de estarmos trazendo nossos pertences pessoais, o que acarretava em uma bagagem mais compatível com esse tipo de transporte. Desci no porto de Santos. Quando desci a terra tremeu, começou, a ondular, a balancear. Como Cristóvão Colombo colocou o seu primeiro pé na terra ao descobrir a América! Depois de 14 dias de navio o viajante já está todo adaptado ao mar e as condições do navio, ao pisar em terra firme a mesma parece dançar! Depois se estabiliza tudo.
O senhor participou de 2 a 11 de abril da 46ª assembléia da CNBB. Qual é a importância desse evento para a Igreja?
CNBB é a sigla da Conferencia Episcopal dos Bispos no Brasil. A Igreja deve sempre se questionar sobre a sua presença, sua atuação, da sua missão. Essas conferências episcopais têm como objetivo principal esse tipo de questionamento, em busca de respostas. Nessa última assembléia foi debatido e foi identificado o caminho da Igreja no Brasil a partir da 5ª Conferencia dos Bispos da América Latina e do Caribe que se realizou em Aparecida do Norte, quando então se elaborou as novas diretrizes para a Igreja no Brasil. Isso faz parte da conduta da Igreja, sempre se interrogar acerca da sua missão, de se interrogar em profundidade e lançar suas respostas.
Na última assembléia, qual foi o tema principal e quais foram outros assuntos estudados?
O tema principal a partir de um documento preparado anteriormente, foi de fato a formulação definitiva das diretrizes da Igreja no Brasil ao longo dos próximos quatro anos. Na assembléia foram tratadas de outras questões, desde aquelas um pouco mais simples até questões mais profundas como a defesa da vida, a comunicação da Igreja, e a questão especialmente particular em que alguns bispos se acham. Existem bispos que estão ameaçados a sofrerem atitudes violentas, até contra a própria vida. Também foram analisados os aspectos dos momentos político, social e religioso vividos atualmente. A Assembléia é articulada em atividades bastante diferenciadas e algumas é chave, como definir as diretrizes da Igreja no Brasil.
Quem ameaça bispos no Brasil?
As ameaças não estão só distantes de nós. Ás vezes elas estão aqui bem próximas de nós! Faz parte do coração humano, querer, poder, se impor a outro. E se não pode fazer isso pelos meios apropriados o faz por meios impróprios. Existem situações limites. São aquelas em que os bispos têm que tomar posições, as quais desagradam algumas pessoas, que tem como objetivo principal o seu interesse próprio, a manutenção do seu poder, do seu domínio. Quando isso ocorre, estabelece situações próximas ao limite!
O senhor deixa transparecer que o poder é extremamente sedutor em qualquer esfera da sociedade?
Poder! Dinheiro! São fenômenos do humano que atingem profundamente a existência. A pessoa sente a necessidade de buscar o poder. Como o fará? Em que medida? Quais os meios para alcançar o objetivo? Elas podem descambar e se tornarem fatores que deturpam o ser humano, o relacionamento com os outros. Afeta o convívio da nossa sociedade, inclusive da sociedade eclesial.
Os pais estão descobrindo que educar implica em colocar limites determinados aos seus filhos?
Nós herdamos no pós-guerra uma mentalidade que diz o seguinte: “O ideal do ser humano é aquilo que ele é a partir da sua natureza espontânea”. Isso vale para todos os níveis de vida. Porém não têm sentido para o ser humano! Posso citar um exemplo banal. Casas em que as crianças rabiscaram todas as paredes e os pais não colocaram um limite! Era a ideologia pedagógica que dominou algumas décadas do pós-guerra. De um tempo para cá, percebeu-se que isso não forma o ser humano! Não dá a perspectiva saudável de condução de si! Agora de novo fala-se em colocar limites. Por quê? Porque o limite afirma um valor! A palavra limite sugere algo negativo, mas na realidade na sombra do limite existe um valor importante. Colocar limites significa afirmar valores. A criança ao conhecer esses valores, que deve ser explicitado, ela acaba colocando eixos referenciais, eixos de comportamento. Colocar limites é uma forma nobre de educar!
A assembléia aprovou novas declarações. Uma delas faz referências às eleições municipais deste ano. Qual é o papel da Igreja nessa área?
A Igreja não vive fora da sociedade! Se bem que existem alguns que gostariam de manter a Igreja restrita á sacristia! Os membros da Igreja são cidadãos, isso dá o direito á Igreja a ter suas posições, suas opiniões. Quando se fala em política, logo se fala em partido, e partido é referente à parte. A Igreja nunca fará uma opção partidária! A Igreja é acima de tudo católica, significa que ela é includente. Se for uma Igreja “de parte”, que toma partido, ela é excludente, exclui aqueles que não são da mesma opinião, não tem a mesma leitura das problemáticas sociais e políticas. Por isso a Igreja nunca fará uma opção partidária! É contra a sua natureza. Por outro lado, por também ser cidadã, por participar e pertencer ao convívio da sociedade ela busca desenvolver toda uma atenção que faça com que o exercício de eleições, o exercício da vida partidária, o exercício da vida de cidadãos, seja bom! Ela persiste em contribuir. Não pretende ser dona do desejo do indivíduo. Não pretende determinar a atitude a ser tomada por seus fiéis. A Igreja quer que haja um crescimento, um amadurecimento, uma capacitação política maior por parte do cidadão participante desta sociedade.
Existem empresas especializadas em marketing político que apresentam candidatos tão perfumados como um sabonete. O senhor acredita que a Igreja e as forças vivas da sociedade podem, desde que, munidas de documentos oficiais apresentar o currículo do candidato, facilitando a tarefa de análise do eleitor?
A Igreja, a OAB, juntamente com outras instituições, anteciparem para essa conscientização é um fator extremamente importante. Quando se trata de eleições de deputados e senadores por não termos o voto distrital, o conhecimento das pessoas é muito difícil e ficamos sujeitos á essa publicidade. Mas na política local normalmente os políticos são conhecidos do eleitor. Não se pode votar em pessoa desconhecida, a partir da propaganda! Deve ter todo um esforço para ter um conhecimento direto e pessoal. Nisso a Igreja pode participar convidando os candidatos a participarem de debates. Que o voto dado seja de fato o voto consciente! Uma das fragilidades do nosso sistema político é quando votamos em pessoas desconhecidas. Devemos ficar atentos e críticos diante da apresentação de políticos que na realidade são desconhecidos na sua atuação.
Um bom orador, sem ser bom administrador, pode superar em votos um administrador excelente com oratória inferior ao oponente?
Aqui que se trata da tal de conscientização! De ter faro para distinguir essas coisas! E ter a capacidade de entender que fulano tem uma vida cuja atuação política é de valor, ainda que não seja um grande falador! Por que senão ficamos muito sujeitos a esses populismos, os mais diversos, que são explorados por pessoas expertas, espertalhões, que de fato conseguem com isso manipular as pessoas e com isso induzirem a votarem neles. Sendo que depois não tem um substrato de história política, idéias, a força política do indivíduo não ajuda.
Uma questão muito delicada, a mídia constantemente traz notícias de desvios e verbas mal geridas. A Igreja e outras entidades representativas podem deixar essas questões mais transparentes?
Uma das piores coisas que pode acontecer á uma instituição, inclusive para a Igreja, é extrapolar suas atuações além da sua área específica. Ocupar espaços que não lhe pertencem. A Igreja junto com a OAB e outras entidades encabeçou a lei contra a corrupção eleitoral. Hoje muitos políticos de diversos graus, diversos níveis, foram cassados devido a essa lei! Como agora a CNBB estão participando desta campanha que através de uma proposta de lei popular impedir as pessoas condenadas em primeira instância de participar de candidatura á cargos públicos. Há um empenho da Igreja em conjunto com outras instancias para que haja uma moralização. Devemos lembrar que corrupção é endêmica no sistema político de todos os países. Não existe país que não tenha esse problema. Ás vezes nós pensamos que os países europeus são melhores. O que é dolorido para nós é a proporção da corrupção! O fenômeno em si é uma face do próprio embate político. Dos grandes volumes administrados. Tem que se ter muito realismo. A Igreja está participando nesse sentido, e quando fala de conscientização do voto, é uma forma de participação para que esses fenômenos, sobretudo quando macroscópicos sejam corrigidos na medida do possível sem grandes ilusões, que sejam reconduzidos a padrões toleráveis. Não devemos ser injustos com os políticos. Há pessoas bem intencionadas, que querem o bem do povo. Mas também há pessoas altamente problemáticas!
A Diocese de Piracicaba está programando para o dia 18 de maio a 2ª Concentração Diocesana. O que vem a ser esse acontecimento?
É um momento de comunhão. Nós temos uma igreja estruturada em paróquias. Esta concentração visa com que nós das paróquias nos sentirmos pertencentes a uma realidade maior. A Igreja Católica é a comunhão de igrejas.
Qual é a programação dessa concentração?
Ela tem fundamentalmente dois momentos: uma grande celebração eucarística é em torno da eucaristia que a Igreja acontece. E depois o momento de lazer, se assim podemos dizer. Deixamos vir á tona a nossa dimensão lúdica, de alegria, com a presença dos Cantores de Deus.
Quem pode participar dessa concentração?
Todos são bem vindos. Será realizada no Clube de Campo do Sindicato dos Metalúrgicos.
O senhor pratica algum esporte?
Faço caminhada. Uma hora por dia.
O prato preferido do senhor qual é?
Macarrão! Um bom risoto também é uma coisa boa!




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Aristides Costa

Entrevistado: ARISTIDES COSTA



Em uma das maiores empresas de alta tecnologia, sediada nos Estados Unidos, existe uma frase muito popular entre seu pessoal técnico. Ao concluir um novo produto dizem: “Ligou, funcionou, já está obsoleto”. Porque já deve existir algo mais avançado! A humanidade é insaciável na sua busca por novas tecnologias que devora e incorpora ao seu cotidiano. A história oral possibilita a organização de um acervo de relatos de história de vida que, no seu conjunto, levam à recuperação da identidade coletiva e da memória da comunidade. O nosso entrevistado é Aristides Costa, que aos 82 anos de idade conserva nítida as memórias de uma Piracicaba, desde quando a cidade estava em uma fase embrionária em diversos setores, até transformar-se apontando novas diretrizes, respeitada pela tecnologia adquirida em áreas vitais para a humanidade. Nascido em 3 de maio de 1926, Aristides Costa é filho de Antonio Costa e Alzilia Cansiglieri. Seus avós vieram da Itália: paternos Pedro Costa e Juliana Negreti e maternos Romano Cansiglieri e Teresa Roncato.
Em que bairro de Piracicaba o senhor nasceu?
Nasci no Bairro Verde, em uma casa que ficava na beira da linha do trem. Minha casa fazia parte de um conjunto de casas, que hoje não existem mais. Localizava-se aproximadamente a uns 500 metros acima da Avenida Dr. Paulo de Moraes, á direita da que é hoje a Avenida 31 de Março. Ali tinha a chamada Conserva, que era responsável pela conservação da linha de trem, depois passou a chamar-se Rancho Alegre. Abaixo existia uma nascente de água denominada: “Olho de Nhá Rita”. Era em um local situado entre a Avenida Independência e a Avenida Dr. Paulo de Moraes. Em frente ao Supermercado Big. A Avenida 31 de Março passa em cima da bica “Olho de Nhá Rita”.
Não era a nascente do Itapeva. Era uma água de boa qualidade, onde todos iam buscar água para beber. Na época eu era moleque, não saía de lá. Mais tarde a Indústria Morlet fez um poço artesiano, isso foi bem depois. O pessoal passou a ir buscar água lá.
O sobrenome do senhor, Costa, tem uma curiosidade?
Dizem, que quando meu avô veio para o Brasil, ele tinha como sobrenome Costalonga. E com o passar do tempo, aqui no Brasil, foi abreviado para Costa. Tanto que uma irmã dele, casada com Antonio Perin, assinava o nome de origem: Luiza Costalonga. Eu teria um grande orgulho em manter a tradição, houve uma época em que pensei em adotar legalmente o nome que de fato deveria ter: Aristides Costalonga!
O senhor tem algum cognome (apelido)?
Tenho sim! Alguns deles: Tide! Costa! Martinelli! Por ter trabalhado uns 15 anos com Hermínio Martinelli, muitos pensavam que eu era irmão dele! Ele tinha uma oficina mecânica de automóveis, na Rua Regente Feijó. Alguns ainda me chamavam de Tozzi, porque eu andava muito com o Tozzi! Ainda moleque, eu era metido a jogar futebol, uma aptidão que nunca foi o meu forte. No Corinthians existia um jogador chamado Rosalem, que também não tinha muita sorte, por associação de jogadas infelizes, acabei ganhando como apelido o sobrenome do famoso atleta!
O senhor estudou onde?
Estudei no Grupo Escolar Moraes Barros. Foi no ano de 1933 a 1938. Meu pai colocou-me para “aprender ofício”. Fui trabalhar em um salão de barbeiro, fiquei um pouquinho, mas não quis ficar na profissão. Fui trabalhar com o Adamoli, na Rua Benjamin Constant, esquina com a Rua Ipiranga. Um irmão do meu pai trabalhava lá, o Tio Luizinho, mas também não me adaptei. Eles faziam barcos, móveis. Dali, eu fui trabalhar no Martinelli. No início era na Rua Tiradentes, entre as Ruas Saldanha Marinho e Cristiano Cleopath. O Martinelli era sócio do Luizinho Marchiori que tinha ônibus que fazia a linha Piracicaba-Rio Claro. Era o tempo da jardineira. Para ir á Rio Claro a estrada era toda de terra, sem calçamento. Quando chovia tinha que colocar corrente nos pneus para poder andar. A jardineira na época já era fechada nas laterais. Eu cheguei a ver a jardineira que ia de Piracicaba á Saltinho aberta nas laterais, como um bonde. Quem fazia a linha era uma pessoa conhecida por Pepino. Eu devia ter uns 6 anos de idade. O trajeto era até o Postão (primeiro posto de gasolina, no sentido de quem vem á Piracicaba pela Rodovia Cornélio Pires), depois descia pelo Campestre, seguia até o Mato Alto e depois ia para Saltinho. Naquele tempo não existia ainda a Usina Santa Helena. Esse era o caminho de Saltinho á Piracicaba. Levavam de tudo dentro da jardineira!Galinha, eu acho que, até porco chegaram a levar.
Como se chama a esposa do senhor?
Sou casado com Lourdes Tozzi. Temos seis filhos: Aristides Costa Junior, Marly Antonia, Marise, Adilson Antonio, Marisete e Alberto José. Casamos e fomos morar na Rua Tiradentes, 399. De lá mudamos para a Rua Santa Cruz, próximo ao antigo Tiro de Guerra, na época, situado á Avenida Dr. Paulo de Moraes. De lá mudamos para a Avenida Rui Barbosa, onde permanecemos cerca de um ano. Mudamos para a Rua 13 de Maio, entre a Rua Tiradentes e a Rua do Rosário, em uma casa cujo proprietário era o Santos Bueloni.
O senhor na época exercia qual profissão?
Era mecânico de automóveis e caminhões. Trabalhava com todas as arcas e modelos. Como Chevrolet, Ford, Peugeot, Nash, Dodge, Fargo, De Soto.
Qual modelo de carro que o senhor colocava a mão na cabeça quando chegava à sua oficina?
Lincoln! Tinha 12 cilindros em linha. E tinha o modelo 12 cilindros em “V” também. Naquele tempo não existiam as ferramentas que existem hoje. A retífica do Antonio Romano estava no seu início. Tinha também a retífica do Rui Consentino. Eram pessoas amigas. Em 1953 mudei para a Rua do Rosário esquina com a Avenida João Conceição.
Quando comprei e existia um terreno cercado por arame e tinha uma carvoaria, eram dois irmãos, se não me engano de sobrenome Borges. Primeiro construí o barracão, e deixei um pedaço para construir o sobradinho ao lado. Em 1954 fiz o sobradinho.
O senhor nesse período teve perua de turismo?
Tive duas! Eram “carros de praça” (táxi), que levavam 8 passageiros, comigo dirigindo eram 9 pessoas. Era com carroceria de madeira envernizada, um trabalho muito bem feito, resistente á chuva. Uma foi uma Dodge e outra uma Chevrolet, ambas importadas. Naquele tempo só havia carro importado. Eu dirigia uma e meu tio Ângelo Costa guiava a outra. Fazíamos viagens á Aparecida do Norte, Bom Jesus de Pirapora, Rio de Janeiro, Sorocaba. A Dutra era um castigo! Uma pista só. Já tinha asfalto. Isso foi a partir de 1955. Quando comecei a trabalhar fui por duas vezes á Ribeirão Preto. Eu levava a equipe de basquete do XV de Novembro. O técnico era o João Francisco Braz. A equipe de basquete era composta por pessoas selecionadas. Eu tinha o crachá para acompanhar a equipe. Dormia nos hotéis em que o time ficava, fazíamos as refeições juntos.
Para Aparecida do Norte o senhor levava os romeiros?
Levava romeiros, iam 8 adultos, as vezes mais 2 ou 3 crianças. Nós saiamos daqui ás 11 horas da noite, ou meia-noite, para chegar lá ás 6 horas da manhã. Tinha que dar a volta por São Paulo. O perigo era muito grande. Hoje é que avalio o que eu passei na Dutra com neblina. Também não havia o movimento de carretas que existe hoje. Depois de algum tempo vendi as peruas, uma para o Ozires Canciglieri e outra para o José Passari.
O senhor fez outros tipos de transportes?
Nessa época meus filhos já passaram a dirigir. Entrei na AGA, transportando tubos de oxigênio, não existia elevador de carga no caminhão, colocava o cilindro “no braço”, tem cilindro que pesa até 90 quilos! Eram utilizados em indústrias e hospitais. Fiz transportes para a Dedini, um pouco na Indústria Tatuzinho também. Nessa época meus irmãos ajudavam, tinha empregados também.
Que modelo de caminhão o senhor utilizava na época?
No início F-600 e Chevrolet. Depois passamos a usar caminhões Mercedes-Benz. Começamos com o caminhão Mercedes “Cara-Chata”, surgiu em 1958. Antes existia o caminhão Mercedes-Bens “Bicudinho”, era o L 312.
Lembra-se dos postos de gasolina que existiam em Piracicaba?
Nós dávamos preferência para o Lú, que ficava na Rua Boa Morte esquina com a D.Pedro I (aonde hoje existe uma casa de sucos). No tempo da II Guerra usamos álcool, só que o abastecimento era feito nas usinas, não existiam bombas de álcool em postos. Havia também o gasogênio. Eram dois tambores grandes, um era utilizado como caldeira e o outro era o filtro onde filtrava o gás originário do carvão. Daí saia um cano que passava por dois ciclones, para retirar as cinzas. O gás saía limpo e entrava em uma adaptação onde estava o carburador, chamava-se misturador. Fazia a válvula, ligava no acelerador.
Era abastecido com qual combustível?
Carvão! Comprava-se o carvão na carvoaria. Lembro-me uma ocasião em que o caminhão do Del Nero saiu com muitos sacos de carvão. O Del Nero situava-se na Rua Boa Morte, 1946 a 1966, trabalhavam com aguardente, principalmente a marca “Caninha Velha 1921”, mais conhecida como “Caninha 21”.
O senhor lembra-se das padarias da época?
Lembro-me da “Padaria Aliança”, que ficava na Rua do Rosário, 438, esquina com a Regente Feijó. Era de propriedade da família Padovani. Na Avenida Dr. Paulo de Moraes existia a Padaria Cruzeiro. Era do Alberto Sachs o “Berto Padeiro”. Ficava do lado direito, em frente ao Toninho Lubrificantes. Ali era o ponto final do bonde da Paulista. Antes ele parava um pouco mais acima, depois esticaram mais um pedacinho o ponto de parada. Em frente ao ponto de táxi havia o moinho da Família Filetti. Eram três irmãos, faziam fubá, farinha e beneficiavam arroz. Na Avenida Dr. João Conceição tinha a família Ferrari, que inclusive fabricavam barcos. Havia o Galesi que tinha uma serraria, inclusive foi freguês meu na minha oficina.
Na Estação da Paulista havia a carga e descarga de gado?
Era a carregadeira de gado. Aonde depois veio a ser a Alvarco, existia a Amaral Machado, as pedras de calcário eram moídas e depois ensacadas.
As peças que o senhor utilizava eram adquiridas onde?
Eu ia geralmente comprar as peças em São Paulo. Pegava o trem aqui e ia até a Barão de Limeira, Barão de Campinas, próximas á Estação da Luz e São Paulo. Ás vezes tinha que ir até a Rua Piratininga, no Brás. As peças miúdas eu trazia na mão. As peças maiores eu despachava.




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quarta-feira, maio 28, 2008

UM HOMEM DE VISÃO

Centenário
Se vivo fosse, o folclórico Vicente Matheus - eterno presidente do Corinthians - completaria hoje 100 anos. E, se houvesse festa, certamente iria agradecer a Antarctica pelas Brahmas que mandou. Em outros tempos, seria zombado pela gafe, hoje, no entanto, estaria correto, pois são todas da AmBev. Dizem que quando falou aquilo já tinha idéia da fusão. Era, assim, um homem de visão.





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quinta-feira, maio 01, 2008

FNM FÁBRICA NACIONAL DE MOTORES


AS MARCHAS NÃO ERAM SINCRONIZADAS, PARA MUDAR DE MARCHA TINHA QUE ACELERAR E "DAR O TEMPO" CORRETO SENÃO A MARCHA NÃO ENTRAVA!

quarta-feira, abril 16, 2008

terça-feira, abril 15, 2008

A Vida

A vida
Eu sinto o sal da vida nos meus lábios
emergindo dos aros das artérias,
amargor de renúncias afrontadas
e agridoce sabor de horas perdidas.

Há uma vida oculta em nossas veias,
por nós intuída em sentimento obscuro
do passado encoberto no futuro
do presente furtado ao nosso amor.


A vida é uma balança cujos pratos
são, de um lado, a esperança e, de outro lado,
o poder da fortuna e da aventura,

e, ao se dobrar o cabo da esperança,
mal se vislumbra, ao longe, no nevoeiro,
a ilha camoniana da ventura.

Miguel Reale




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segunda-feira, abril 14, 2008

PORTAL

Foto by J.U.Nassif

O TEMPO

O TEMPO

Nada como analisar tudo através do tempo
Ontem era assim, hoje é assado.
No início era um jovem oportunista
Hoje, respeitável, da vida tem doutorado.

A linha da vida parece um livro aberto
Sábios, vultos históricos, gente do povo.
Todos acharam que a vida era eterna
Embora soubessem que a morte andava por perto.

Nascer, crescer, viver, morrer.
Pela lógica essa é a ordem das coisas.
Os anos são simples números no calendário.
Que dançam no espaço do tempo.

Embalados por uma música contagiante,
Somos tão pequenos que nos tornamos gigantes!
Poderosos, orgulhosos, vaidosos e pedantes.
Mas um dia o silêncio cessa esse alto falante.

R.Pedroza




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terça-feira, março 25, 2008

"L'éléphant se laisse caresser. Le pou, non."
(O elefante deixa-se acariciar. O piolho, não.)
Lautréamont (1846-1870)




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Expressões latinas
Faber est quisque suae fortunae - "Cada qual é obreiro da própria sorte" - Pseudo-Salústio
Facies Hippocratica - "Face hipocrática"
Faciendi plures libros nullus est finis - "De fazer muitos livros não há fim" - Eclesiastes
Facilis descensus Averni - "É fácil a descida do Inferno" - Virgílio
Facit indignatio versum - "A indignação faz o verso" - Fim de um verso de Juvenal
Fac simile - "Faze igual" - Aportuguesado em "fac-símile", que significa cópia exata de documento obtida por meio fotomecânico, eletrônico, etc
Fac totum - "Faze tudo" - Aportuguesado em "factótum", que significa indivíduo incumbido de todos os negócios de outrem, pessoa indispensável
Fas est ab hoste doceri - "É bom aprender mesmo com o inimigo" - Ovídio
Feci quod potui, faciant meliora potentes - "Fiz o que pude, façam melhor os que puderem"
Fecit - "Fez" - Usado em quadros, estátuas, seguido do nome do autor
Felix culpa - "Culpa feliz" - Palavras de uma homilia de Santo Agostinho
Felix qui potuit rerum cognoscere causas - "Feliz quem pôde conhecer as causas das coisas" - Virgílio





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quarta-feira, março 19, 2008

Expressões latinas

Ex imo corde - "Do fundo do coração"
Ex labore dulcedo - "O prazer provém do trabalho" - Divisa da cidade de Americana/SP
Ex libris - "Dos livros de" - Expressão utilizada antes do nome do dono de um livro para indicar que este lhe pertence
Ex nihilo nihil - "De nada, nada" - Adaptação de uma frase de Pérsio
Ex officio - "Em função do cargo"
Ex omnibus aliquid, ex toto nihil - "De tudo um pouco; do todo, nada"
Ex Oriente lux - "Do Oriente vem a luz" - Ditado
Experto crede - "Acredita no experimentado" - Virgílio
Expressis verbis - "Com palavras categóricas"
Ex professo - "Como quem conhece bem o assunto" - Experiência
Ex toto corde - "De todo o coração"
Extra Ecclesiam nulla salus - "Fora da Igreja, não há salvação" - São Cipriano
Extra muros - "Fora dos muros da cidade" - Fora do perímetro urbano
Extra petita - "Afora do solicitado"
Ex ungue leonem - "Pela unha podemos conhecer o leão" - Ditado
Ex vi - "Por força de"
Ex voto - "Em consequência de um voto" - Também é utilizado com hífen (ex-voto), que significa objeto exposto em uma igreja em comemoração de voto





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Maior é o ano que o mês

"Cal'-te, que poderá serQue 'ame a Páscoa vêm os Ramos'.
Não te apresses tu, Inês.'Maior é o ano que o mês':
Quando te não precatares,Virão maridos a pares,
E filhos de três em três."
Gil Vicente
Maior é o ano que o mês
Da "Farsa de Inês Pereira", a mãe volta da missa e, não encontrando Inês trabalhando, dá-lhe o conselho.

E Inês, sábia, deixa claro suas intenções : "Porém, não hei-de casar / Senão com homem avisado / Ainda que pobre e pelado, / Seja discreto em falar".



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quinta-feira, março 13, 2008

Reciclagem

"Quantas coisas atiramos ao solo, que, quando outros as recolhem, tornam-se pedras preciosas graças ao trabalho."
George Meredith



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O espírito de uma nação

"O gênio, a agudez e o espírito de uma nação são descritos pelos seus provérbios."
Francis Bacon



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terça-feira, março 04, 2008

Expressões latinas

• Et alii - "E outros" - Expressão utilizada em bibliografia para indicar que além do autor indicado existem co-autores
• Et caterva - "E o bando" - Pode ser usado como sinônimo de et cetera, mas com tom pejorativo.
• Et cetera - "E as demais coisas" - Também abreviado em etc.
• Etiam per me Brasilia magna - "O Brasil é grande por mim também" - Divisa de Jundiaí/SP
• Et nunc et semper - "Agora e sempre"
• Et reliqua - "E o restante" - Expressão utilizada para encerrar uma enumeração
• Et semel emissum volat irrevocabile verbum - "E a palavra, uma vez lançada, voa irrevogável" - Horácio
• Et tu, Brute fili! - "Também tu, meu filho Bruto!" - Expressão de César após ser apunhalado, entre outros conspiradores, por Bruto, a quem cumulara de benefícios


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sexta-feira, fevereiro 29, 2008

FLATULÊNCIA - TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO

Gases na Justiça
O TRT da 2a região teve de enfrentar, recentemente, o caso de um flatulento trabalhador demitido. O desembargador Ricardo Artur Costa e Trigueiros debruçou-se sobre o tema, aspirando cada um dos argumentos. Em sua decisão, que bem pode se considerar um tratado sobre o tema, ele explica que "expelir gases é algo absolutamente natural e, ainda por cima, ocorre mais vezes em pessoas que adotam dietas mais saudáveis". Segundo o magistrado, "estrepitosos ou sutis, os flatos nem sempre são indulgentes com as nossas pobres convenções sociais". Ademais, ele lembra que "disparos históricos têm esfumaçado as mais ilustres e insuspeitadas biografias".
Flatulência
Gases intestinais podem causar grande desconforto porque provocam distensão abdominal. Além disso, em determinadas circunstâncias, podem trazer constrangimento social.
O ar engolido ou os gases formados no aparelho digestivo podem ser expelidos por via oral (arroto) ou via anal (gases intestinais ou flatos). A maior parte deles, no entanto, é produzida no intestino por carboidratos que não são quebrados na passagem pelo estômago. Como o intestino não produz as enzimas necessárias para digeri-los, eles são fermentados por bactérias que normalmente ali residem. Esse processo é responsável pela maior produção e liberação de gases.
Em alguns casos, por fatores genéticos ou porque adotaram uma dieta saudável com pouca gordura, mas rica em fibras e em carboidratos, algumas pessoas podem produzir mais gases. No entanto, a maioria das queixas parte de pessoas que produzem uma quantidade que os gastrenterologistas considerariam normal. Estudos demonstram que, em média, um adulto pode expelir gases vinte vezes por dia"


Consoante explicações supra, depreende-se que expelir gases é algo absolutamente natural e, ainda por cima, ocorre mais vezes em pessoas que adotam dietas mais saudáveis. Desse modo a flatulência tanto pode estar associada à reação de organismos sadios, sendo sinal de saúde, como indicativa de alguma doença do sistema digestivo, como p. exemplo o meteorismo. De qualquer forma, trata-se de reação orgânica natural, sobre a qual as pessoas não possuem, necessariamente, o controle integral. O organismo tem que expelir os flatos, e é de experiência comum a todos que, nem sempre pode haver controle da pessoa sobre tais emanações. Não se justifica assim, aplicação de punição de advertência à reclamante pelo ato de expelir gases no ambiente de trabalho, sob a presunção do empregador de que tal ocorrência configura conduta social a ser reprimida, ou de alguma forma atentatória contra a disciplina contratual ou os bons costumes. Certamente agride a razoabilidade a pretensão de colocar o organismo humano sob a égide do jus variandi, punindo indiscretas manifestações da flora intestinal sobre as quais empregado e empregador não têm pleno domínio.

Estrepitosos ou sutis, os flatos nem sempre são indulgentes com as nossas pobres convenções sociais. Disparos históricos têm esfumaçado as mais ilustres e insuspeitadas biografias.

Verdade ou engenho literário, em "O Xangô de Baker Street" Jô Soares relata comprometedora ventosidade de D. Pedro II, prontamente assumida por Rodrigo Modesto Tavares, que por seu heroísmo veio a ser regalado pelo agradecido monarca com o pomposo título de Visconde de Ibituaçu (vento grande em tupi-guarani).

Apesar de as regras de boas maneiras e elevado convívio social pedirem um maior controle desses fogos interiores, sua propulsão só pode ser debitada aos responsáveis quando comprovadamente provocada, ultrapassando assim o limite do razoável. A imposição deliberada aos circunstantes, dos ardores da flora intestinal, pode configurar, no limite, incontinência de conduta, passível de punição pelo empregador. Já a eliminação involutária, conquanto possa gerar transtornos sociais, embaraços, constrangimentos e, até mesmo, piadas e brincadeiras, como ocorreu com a reclamante, não há de ter reflexo para a vida contratual. De qualquer forma, não se tem como presumir qualquer má-fé por parte da empregada, quanto ao ocorrido durante o expediente laboral, de modo a ensejar a aplicação de advertência, que por tais razões, revelando-se injusta e abusiva a penalidade pespegada à obreira.



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quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Curioso

"Curioso é verificar que quase todos os homens que valem muito têm modos simples e que, na maioria das vezes, os modos simples são considerados indícios de pouco valor"
Giacomo Leopardi


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segunda-feira, fevereiro 25, 2008

E O SAMBA DEU O TROCO ( by Jayme )

... E o samba deu o troco

Acusada de ser uma cópia do jazz, a bossa nova acabou salvando-o da extinção
por ROBERTO MUGGIATI*




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Antônio Nery/ Divulgação









“Santíssima Trindade”: Vinicius de Moraes, Tom Jobim e João Gilberto, no auge do movimento bossa-novístico


Um acentuado sentimento de inferioridade em relação aos Estados Unidos marcava a cultura brasileira em meados do século vinte. Na literatura, ainda éramos colonizados pela Europa, mas, de repente, com o rolo compressor das indústrias fonográfica e cinematográfica, passamos a viver sob a influência direta de sons e sonhos fabricados pelas gravadoras americanas e por Hollywood.

A “política da boa vizinhança” do governo Franklin Roosevelt nos deu uma caricatura do brasileiro por Walt Disney, o papagaio Zé Carioca, e a explosão de Carmen Miranda, a Brazilian Bombshell. Em troca, cedemos aos americanos a base aérea de Natal, o “Trampolim da Vitória”, e nossos pracinhas serviram de bucha de canhão para os Aliados na sangrenta frente italiana. Mas saímos da guerra com uma reserva monetária que daria para antecipar em uma década os “50 anos em 5” de JK. Nosso desenvolvimento perdeu-se na política econômica do governo Dutra, que privilegiou as empresas estrangeiras e facilitou a importação de quinquilharias. O Brasil entrou na Era do Plástico e viveu aqueles anos sob o signo cultural do ioiô.

A incômoda influência americana foi exorcizada através da música. Já em 1940, Carmen Miranda se defendia em “Disseram que Eu Voltei Americanizada” (Luís Peixoto-Vicente Paiva):

“E disseram que eu voltei
americanizada
Que não suporto mais o
breque de um pandeiro
E fico arrepiada ouvindo
uma cuíca
Que já não tenho molho,
ritmo, nem nada...”

Em 1948, numa letra mais bem humorada, “Adeus América” (Haroldo Barbosa, Geraldo Jacques, Janet de Almeida) batia na mesma tecla:

“Eu digo adeus ao
boogie-woogie, ao woogie-boogie
E ao swing também,
Chega de hot, fox-trotes e
pinotes
Que isso não me convém.
Eu vou voltar pra cuíca,
bater na barrica, tocar tamborim,
Chega de lights e all rights e
de fights, good nights,
Isso não dá mais pra mim.
Eu quero um samba feito
só pra mim.”

Quando surgiu a bossa nova, o grande debate foi determinar até que ponto os brasileiros estavam “copiando” a música americana. Para os críticos mais ferrenhos, tudo beirava o plágio. A precursora “Copacabana” lembrava a melodia de “I’ll Remember April”; “Este Seu Olhar” era calcado na frase inicial de “Love Walked In”, do álbum Chet Baker with Strings; uma frase de “A Ballad”, de Gerry Mulligan, fora enxertada no “Desafinado”; o “Samba de Uma Nota Só” nada mais era do que a introdução do “Night and Day” de Cole Porter; o próprio Carlos Lyra, em seu mea culpa famoso, brincava com duas conhecidas canções americanas: “Indian Love Call” (do musical Rose Marie) e “You Were Meant For Me” (do filme Cantando na Chuva).
A protofonia do Guarani
“Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim,” rezava a letra, mas o clima no estúdio era de “brigas sempre mais” que marcava a relação yin/ yang entre João e Tom. Foram várias sessões tumultuadas e a data que entrou para a História foi a do take definitivo de “Chega de Saudade/Bim-bom”, 10 de julho de 1958. Um dos focos da confusão foi a exigência de João de ter quatro homens na percussão: Milton Banana (bateria), Rubens Bassini (bongôs), Juquinha (triângulo) e Guarany (caixeta). Tudo isto para uma música que durava nada além de dois minutos. E usava ainda uma orquestra completa. A inclusão de Guarany Nogueira (1928 - 1980) na gravação seminal da bossa nova revela a grandeza do seu talento. Principalmente se levarmos em conta o fato de que o curitibano, vítima da paralisia infantil, usava aparelho e só tinha movimento numa perna, um handicap terrível para um baterista. Em sua temporada carioca, além de brilhar nos círculos da bossa nova, Guarany freqüentou o circuito clássico e o maestro Eleazar de Carvalho o queria preparar para timpanista da Sinfônica do Rio. Hélcio Milito, do Tamba Trio, disse dele: “É um grande percussionista, talvez um dos melhores do Brasil. Se assim não fosse, João Gilberto não teria exigido sua presença para gravar várias faixas do seu primeiro LP.” A pesquisadora musical Marília Giller, em trabalho de 2007, O Jazz Curitibano dos Anos 1950, cita o pianista Gebran Sabbag, com quem Guarany tocou muitos anos no Ludus Tertius, completado por Norton Morozowicz ao baixo: “O Guarany merece muita consideração. Apesar de não poder dispor do pé esquerdo, ele tocava a melhor bateria de jazz de todos os tempos nesta cidade, e até fora dela, com muito suingue, muito balanço.” (RM)
Na verdade, ninguém copiava nada: o velho samba e o samba-canção começavam a se inserir no irreversível processo de modernidade do pós-guerra. O próprio jazz se cansara da fórmula repetitiva do swing e fazia a revolução do bebop — a improvisação sobre os acordes modificados de conhecidos standards e do blues. Atenta para a novidade, a rapaziada da bossa introduziu no velho samba as blue notes e passou a criar seus temas sobre a grade harmônica de canções conhecidas, tornando-as irreconhecíveis.

O que Jobim fez com o samba, Piazzolla fez com o tango e Michel Legrand fez com a chanson francesa; e outros menos conhecidos fizeram o mesmo mundo afora — lembrando que Brasil e Estados Unidos contavam ainda com o reforço da consangüinidade afro-americana. Os detratores da bossa puxaram do fundo da cartola um último trunfo: a bossa nova fora fabricada num estúdio de Los Angeles em 1953, e lançada no álbum Brazilliance, com o violonista brasileiro Laurindo Almeida e o saxofonista americano Bud Shank. Aquele híbrido, alegavam, era o protótipo da bossa nova. Brazilliance – Laurindo e Shank gravaram um segundo volume em 1958 – era um crossover brasileiro-americano, mas não chegava a ser bossa nova. A diferença principal era de natureza rítmica: e aí é que entra a contribuição notável da bossa, a sua “batida”. Na bateria elástica de Milton Banana, no violão minimalista de João Gilberto, nas notas respingadas do piano de Jobim — aquela era a grande viagem do balanço que nenhum gringo conseguiria jamais copiar.

Começa aí a segunda parte da história e participei dela no melhor estilo Forrest Gump. Inicialmente em Curitiba, meados dos anos 1950, na redação da Gazeta do Povo, ponto de encontro das almas perdidas da cidade, saindo para noite com Raul de Souza — o Raulzinho da banda da Base Aérea do Bacacheri, com seu trombone de pisto, dando canja pelos dancings e boates; adorando o piano de Gebran Sabbag, com seus ecos de Tatum, Cole e Garner; ouvindo o vibrafonista e acordeonista gaúcho Breno Sauer no La Vie en Rose; e um estranho cantor de boleros de Itaiópolis (SC), chamado Airto Guimorvan Moreira. Raul, Breno e Airto em pouco tempo seriam jazzistas famosos nos EUA. Nas minhas incursões cariocas ouvi certa noite num apartamento de Copacabana um garoto de Niterói que era uma fera do piano: Sérgio Mendes em pouco tempo ficaria milionário nos EUA. Nas jam sessions dominicais na boate do Hotel Plaza, ouvia os irmãos Castro Neves. Em São Paulo, na boate do Hotel Comodoro, curtia o bop esperto dos irmãos Peixoto, Moacyr (piano) e Araken (trompete); na Baiúca, ficava colado ao piano de Dick Farney; havia ainda o João Sebastião Bar, sucursal paulista do Beco das Garrafas.

Pouco depois, em Londres, eu vivia a emoção de comprar em primeira mão os álbuns Quiet Nights, de 1962, com Miles Davis e a orquestra de Gil Evans, que incluía “Corcovado” e o velho samba-canção “Aos Pés da Cruz”; e Getz/Gilberto, de 1963 (que fez de “Garota da Ipanema” um hit internacional e de Astrud Gilberto uma nova diva do cool jazz). Eram tantos lançamentos que produzi um programa semanal no Serviço Brasileiro da BBC chamado Jazz-Samba, o nome que os americanos deram à sua apropriação da bossa. Na onda de discos, destacavam-se o do flautista Herbie Mann e o do veterano saxofonista Coleman Hawkins; ambos estiveram no Brasil em 1961, na temporada do American Jazz Festival, um grupo itinerante patrocinado pelo Departamento de Estado dos EUA, que viu no jazz um arma de propaganda anticomunista nos anos da Guerra Fria. Os brasileiros retribuíram com o concerto do Carnegie Hall de Nova Iorque em 1962, que, apesar das intrigas da oposição, ajudou a consolidar a penetração da bossa nos Estados Unidos.

Àquela altura, o jazz vivia uma crise de identidade e de mercado, por conta da explosão do rock e da beatlemania. Na bossa, muitos jazzistas encontraram uma nova linguagem e um novo filão comercial. Muitos daqueles que insistiram no discurso radical do free jazz ficaram sem ouvinte e sem emprego. Moral da história: a bossa nova salvou da extinção o jazz, de que era acusada de ser uma cópia. Caberia até uma paródia da letra de Carlos Lyra: “Pobre do meu jazz/ Volta pro Harlem e pede socorro onde nasceu (...) Vai ter que se virar pra poder se livrar/ Da influência do samba.”

* Curitibano, Roberto Muggiati começou na Gazeta do Povo em 1954, estudou Jornalismo em Paris, trabalhou na BBC de Londres, foi editor das revistas Manchete, Veja e Fatos e Fotos. É autor dos livros Mao e a China (1968) e Improvisando Soluções: o Jazz como Estratégia para o Sucesso (a sair em 2008), entre outros títulos.

domingo, fevereiro 17, 2008

Paredes de vidro

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Se os matadouros tivessem paredes de vidro todos seriam vegetarianos."
(Paul e Linda Mc Cartney) by Ivana Maria

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

"Há dois caminhos na vida : um é limitado e o outro imenso ; um morre onde o outro começa ; o primeiro é o da paciência e o outro da ambição."
A. de Musset

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

MATRÍCULA E RECEPÇÃO DE 390 INGRESSANTES NA ESALQ

MATRÍCULA E RECEPÇÃO DE 390 INGRESSANTES NA ESALQ

A Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) realiza, nos próximos dias 11 e 12, matrícula de 390 novos alunos, aprovados pelo vestibular da Fuvest 2007. Eles preencherão as vagas dos cursos de Engenharia Agronômica (200), Engenharia Florestal (40), Ciências Econômicas (40), Ciências dos Alimentos (40), Ciências Biológicas (30) e Gestão Ambiental (40).
Com o objetivo de promover uma boa interação, uma equipe especialmente preparada receberá pais e filhos no 1º andar do Edifício Central da Escola. Enquanto os filhos efetuam a matrícula na sala do CTA., os pais poderão se dirigir ao Salão Nobre, local onde encontrarão um atendimento personalizado que consta de informações e orientações sobre os serviços disponíveis na Escola, como alternativas de moradia, alimentação, além de atividades acadêmicas, esportivas e culturais.
No domingo anterior ao início das aulas, 24 de fevereiro os alunos serão recebidos pelo diretor, Antonio Roque Dechen, pelo prefeito do Campus, José Otávio Brito, pelo presidente da Comissão de Graduação, Quirino Augusto C. Carmello e pelos coordenadores de cursos, para uma apresentação da Escola e dos cursos existentes.

O TEMPO PASSA O TEMPO VOA E DONA LAURA CONTINUA NUMA BOA...

by F.Buelo



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quinta-feira, fevereiro 07, 2008

"(...) Cinco vezes
abriu a bolsa, e numerou a prata !
fez diversas porções, que num momento
tornou a confundir; não d'outra sorte.
o menino impaciente e cobiçoso,
quando alcança o que há muito lhe negavam,
repara, volta, move, ajunta, espalha,
e nesse giro o seu prazer sustenta. "
Silva Alvarenga
, in "O Desertor"

CARRO FORTE


terça-feira, fevereiro 05, 2008

S.FERRAZ ENTROU PARA A HISTÓRIA DE PIRACICABA

Foto by J.U.Nassif
Homenagem dos valorosos bombeiros á S.Ferraz
Faleceu no dia 01 de fevereiro o jornalista Sebastião Ferraz, que assinava S.Ferraz. Inovador, sempre buscou investir em tecnologia voltada ao benefício do homem. Nasceu em Araras a 7 de outubro de 1916, veio para Piracicaba na década de 50. Inovou o parque gráfico de “O Diário”. Homem de espírito inovador atuou em campanhas para modernizar a cidade. Uma das suas lutas mais aguerridas foi para trazer á Piracicaba o Corpo de Bombeiros, inexistente na cidade até então. Ferraz com seu inseparável cachimbo, tinha um porte britânico. Até atuou como ator em peça teatral! Possuía humor refinado, espírito arguto, foi um homem á frente do seu tempo. Se muitos o esqueceram, com certeza a Corporação dos Bombeiros de Piracicaba, soube reconhecer o seu valor. Por ordem do seu comandante fez a sua última homenagem no momento do sepultamento. Pode-se dizer que a velha e conhecida frase “Deixou a vida para entrar na história” é mais do que válida para S.Ferraz.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

REI MOMO "SARADO"

Após provocar a ira dos gordinhos e de ter o título de Rei Momo de Salvador/BA cassado pela Justiça, o comerciante Clarindo Silva, 65, de 1,70 m e 58 kg, deve voltar a reinar no Carnaval deste ano.
A escolha de Silva foi contestada por quatro candidatos de mais de 120 kg que haviam feito um regime de engorda. Para o Ministério Público, a eleição do comerciante quebrou "uma tradição secular".
O advogado da Federação das Entidades Carnavalescas da Bahia, Alano Frank, diz : "Essa história de que Rei Momo tem de ser gordo está no inconsciente coletivo. No Rio, por exemplo, esta tradição foi quebrada há seis anos."
Segundo ele, Silva vai trazer "notoriedade" ao Carnaval de Salvador. "Ele é muito conhecido porque representa o negro, o compositor, o sambista, o Pelourinho. As pessoas vão querer vê-lo como Rei Momo."

SANTA CEIA

Nosso presidente mais uma vez lançou mão de uma metáfora pra lá de exagerada ao comparar reunião ministerial com a Santa Ceia. O verdadeiro protagonista dessa história, ameaçador ou pouco compreendido, acabou do jeito que todo mundo já sabe. Martelos e pregos existem em abundância. Além de ter sentado-se á mesa o apóstolo Judas Iscariotes que o traiu por 30 moedas de prata. Segundo alguns estudiosos este seria não um traidor, e sim o apóstolo privilegiado que teria a missão de entregar o Mestre a fim de libertá-lo do corpo que o revestia e liberar a divindade que o habitava. (É melhor trocar a metáfora!!!)

domingo, janeiro 27, 2008

GUSTAVO JACQUES DIAS ALVIM

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz A Tribuna Piracicabana
Sábado das 10 ás 11 Horas da Manhã Publicada ás Terças-Feiras

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com

Entrevistado: Gustavo Jacques Dias Alvim




A primeira impressão que algumas pessoas têm ao conhecer o Dr. Gustavo Jacques Dias Alvim é de ser uma pessoa rígida, reservada, de poucas falas. Após algum tempo, descobre-se tratar-se de um daqueles seres humanos com raras qualidades, dos que nascem em pequeno número a cada século. A sua humildade, sua fé inabalável aos seus princípios religiosos, complementados pelo conhecimento acadêmico e experiência de vida, faz com que o piracicabano nascido em Vera Cruz, seja sempre muito respeitado, e estimado pelos que o conhecem. Graduado em Sociologia e Política, Direito, Administração e Jornalismo, além de Mestrado em Educação, Doutorado em Comunicação e Semiótica e Especialização em Administração Universitária. Advogado, jornalista, esportista, escritor. Ex-vereador e ex-presidente da Câmara de Vereadores de Piracicaba. Em maio de 1972, Gustavo Jacques Dias Alvim, assumiu a presidência do XV de Novembro de Piracicaba. Recebeu o título de Cidadão Piracicabano.Vice-presidente do Panathlon Clube de Piracicaba, Vice-diretor Geral do IEP de 1991 a 2006, Vice-reitor administrativo da Unimep de 1991 a 2002 Foi reitor da Universidade Metodista de Piracicaba de 2003 a 2006. É também membro da Academia Piracicabana de Letras, do Instituto Histórico Geográfico de Piracicaba e do Clube dos Escritores de Piracicaba.
Ao ouvir Dr. Gustavo cumprimentando o ouvinte foi impossível deixar de perguntar se ele tinha sido radialista.
Em um pequeno período da minha vida fiz comentários esportivos em jogos do XV de Novembro na Rádio Difusora de Piracicaba.
A sua aparência física é divergente da sua idade cronológica, o senhor não aparenta a idade que possui. Ao que o senhor atribui sua boa condição física?
Eu nasci em 27 de setembro de 1936, em uma querida e pequena cidade na Alta Paulista, próxima a Marília, chamada Vera Cruz. Meu pai Candido de Faria Alvim era médico e minha mãe Nair Dias Alvim foi professora. Acho muito difícil estabelecer uma fórmula única para que se tenha uma condição de vida saudável. Cada um tem a sua. A pessoa que tem uma vida regrada consegue controlar seu stress nas horas difíceis, mantém uma atividade física regular, e também entra como fator a questão genética que acaba influindo. É importante ter uma tranqüilidade de espírito.
Recentemente o senhor participou de um torneio de basquete?
Existe há mais de vinte anos no país um campeonato de veteranos! Reúne um grande número de equipes, nesta última tinha 89 equipes, mais de 800 atletas, que são divididos em faixas etárias: a partir de 35 a 40 anos, até os chamados “mais de setenta” que é a ultima categoria. Piracicaba tem uma forte tradição de basquete, existe um grupo que até hoje pratica o esporte apesar da idade. Tenho comparecido a esses torneios, em 2006 estivemos em Natal, jogando pelo Estado de São Paulo, na oportunidade voltamos campões! No ano passado o campeonato foi realizado em Caxias do Sul, dessa vez fomos classificados como terceiro colocado. Não conseguimos voltar com o bi-campeonato!
Seus estudos básicos foram feitos em Vera Cruz?
Foram realizados no Grupo Escolar Castro Alves. A minha primeira professora foi a minha mãe! A relação era de professora e aluno na sala de aula. E não de mãe e filho. Eu vim para Piracicaba para fazer o ginásio, Vera Cruz era uma cidade pequena, para prosseguir nos estudos ou viajava de trem para Marília, uma viagem que oferecia algum risco, de acordo com o pensamento dos pais. Colocaram-me no Colégio Piracicabano como aluno interno. Morei no internato que ficava no único prédio que restou de toda aquela área que pertencia ao Colégio Piracicabano. É um prédio que foi reformado recentemente e fica exatamente aonde termina Rua D.Pedro II, na Rua do Rosário. Ali naquele prédio ficavam os meninos mais novos. Na época eu tinha 11 anos de idade. Aquela área toda tinha sido um clube, era uma praça de esportes, tinha piscina, quadra de basquete, campo de futebol, havia locais para a prática de vários esportes. Eu sempre gostei de esporte, desde criança, portanto achei o local muito interessante. Permaneci morando no internato por um período de um semestre. Em julho de 1948 os meus pais realizaram a sua mudança para Piracicaba. Consolidou-se a realização de um sonho antigo da minha mãe, porque a família da minha mãe, meus avós maternos residiam em Piracicaba. Eu continuei estudando no Colégio Piracicabano, só que na condição de aluno externo. Ao final desse período, acabei transferindo-me para o “Sud Mennucci” aonde completei o ginásio e o curso científico. Eu precisava fazer uma faculdade. Na época Piracicaba oferecia como opção o curso de agronomia, uma carreira fora do meu interesse. Assim fui para São Paulo.
Em São Paulo o senhor foi morar aonde?
A denominação “república de estudantes” era muito comum em Piracicaba. Em São Paulo a denominação era pensão! Era muito parecida com uma república porque morávamos sem que o proprietário residisse no local. Fui buscar um local próximo onde estava estudando: a Escola de Sociologia e Política de São Paulo era uma fundação complementar á USP, criada na década de 30. Existe até hoje a Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) é uma escola de renome. Ela nasceu quando uma liderança paulista pensava em preparar pessoas com capacidade para administrar o país. Tive aulas com professores de renome. Destaco a oportunidade inesquecível de ter sido examinado por professores como Sérgio Buarque de Holanda e tantos outros expoentes da intelectualidade brasileira. Residi sempre na região. Em um período de tempo morei na Rua Nestor Pestana quando a Associação Cristã de Moços inaugurou o prédio e alugou apartamentos. Fui um dos primeiros a mudar para lá, eu tinha um interesse muito grande em esportes. Curiosamente, enquanto morei lá por alguns meses, nunca pratiquei esporte! Pouco depois comecei o curso de direito no Mackenzie. Nessa época eu era funcionário do Banco do Brasil na Lapa, em São Paulo.
Na agência da Lapa o senhor teve uma grande idéia?
Naquela época a indústria automobilística brasileira estava se desenvolvendo. O sonho de todo mundo era ter carro. Mas era difícil. Ninguém tinha dinheiro para comprar um carro a vista. Não havia as facilidades que existem hoje. Fui uma das pessoas que participou da criação dessa idéia e acabei sendo o primeiro gerente desse grupo formado, a primeira pessoa que liderou esse processo. Na hora do nosso intervalo de trabalho estávamos sempre discutindo idéias. Como será que a gente consegue comprar um carro? O que nos inspirou foi o sistema de cooperativas habitacionais que existiam em Rio Claro e em Santos. A partir daquilo é que começamos a trabalhar a idéia do consórcio. Em um determinado dia anunciamos a possibilidade de iniciarmos o consórcio. Quando anunciamos, um grande grupo se entusiasmou com a idéia, mas na hora efetiva, apenas 21 assinaram. Com isso não havia sorteio todo mês! Chamava-se Cooperativa Lapa. Quando começaram a aparecer os primeiros carros o pessoal se entusiasmou com a idéia e passou a querer formar novos grupos. Formamos outros grupos. Juntamo-nos com os funcionários da agência do Bairro Luz e formamos o Laluz. Na época havia fila para adquirir um carro popular. O primeiro grupo foi de Volkswagen. O segundo grupo foi de Gordini.
O senhor transferiu-se para Piracicaba como funcionário do Banco do Brasil?
Vim transferido para a agência do Banco do Brasil em Piracicaba. Eu tinha o objetivo de advogar. Não pensava em continuar trabalhando no banco. Em Piracicaba, já formado como advogado eu fiz uma espécie de estágio com o Dr. João Ribas Fleury, a quem devo uma gratidão muito grande, foi ele quem me deu uma mão nesse momento. Nessa época eu tinha uns 27 anos de idade, casei-me com Vera Baggio Dias Alvim. Na época o escritório do Dr. Fleury era um escritório muito conceituado. E ali as portas foram se abrindo para mim. O escritório trabalhava com o Grupo Dedini, e lá eu passei a me envolver também com questões administrativas, resolvi voltar á escola e fazer a graduação em administração.
O senhor a essa altura dos fatos ainda estava no Banco do Brasil?
Aqui em Piracicaba eu trabalhei por um curto período de tempo. Eu tinha um sonho e a determinação de chegar lá. Eu queria advogar! Ninguém concordava comigo. O pessoal achava que eu estava delirando, mas era isso que eu queria. Minha esposa me deu apoio, eu acreditei que ia dar certo. Nessa altura surge algo que me ajudou muito. A organização do primeiro curso superior em Piracicaba do que vem a ser hoje a Unimep. Fui convidado para lecionar sociologia. Quase concomitantemente passei a ser diretor da faculdade! Tive o privilégio de ser o primeiro diretor da primeira faculdade criada em Piracicaba pelo Instituto Educacional Piracicabano. Era um curso á noite, era uma atividade paralela, isso ao mesmo tempo em que me ajudava, também exigia um esforço muito grande. Trabalhava de manhã, á tarde, á noite, tinha que preparar as aulas, corrigir as provas.
O senhor permaneceu trabalhando como advogado por quanto tempo?
Na Dedini trabalhei por 17 anos, quando saí da Dedini montei escritório de advocacia. Depois disso fui trabalhar na Romi. Voltei depois a trabalhar mais 16 anos na universidade.
Como o senhor se envolveu com futebol?
Eu sempre gostei muito de esporte. E futebol é o esporte do brasileiro. Embora futebol eu jogue muito pouco, joguei mais vôlei e basquete. O cidadão tem que dar alguma coisa para as instituições da sua cidade, é necessário doar-se. Deve escolher a área que se julgue capaz, que se identifique mais, enfim tem que fazer uma escolha. Quando voltei á Piracicaba, fui parar no conselho do XV, na direção do conselho, e em uma crise muito forte que o XV teve, acabou deixando o time sem presidente. Ninguém queria ser presidente! Achei que deveria assumir a presidência do time, tendo como vice-presidente o professor Rubens Braga. A situação era calamitosa. Até os cabides do time estavam penhorados!
Mito, lenda, ou verdade, tinha um pessoal do time que gostava de assar papel?
(risos) Quando assumi a presidência, passado um pouco tempo, um dia um apareceu um rapaz no XV querendo falar comigo. Eu atendi. Ele me disse: “Vim aqui para perguntar se o senhor vai continuar usando o forno da padaria?” Eu perguntei: “O que o XV faz no forno da padaria?” Ele respondeu: “É que o pessoal costuma levar de tempo em tempo uns papéis para serem queimados no forno!”. Respondi que não teria necessidade. Na minha gestão os documentos foram preservados.
O senhor é uma pessoa de espírito irrequieto, deixando o cargo de Magnífico Reitor da Unimep, está se lançando em uma nova empreitada?
Depois de já maduro, fiz o bacharelado de jornalismo por prazer. Estabeleci uma empresa com impressão digital e uma editora. A grande novidade é que essa empresa tem a possibilidade de fazer pequenas edições. Uma pessoa que queira publicar um livro pode determinar a quantidade que desejar, nem que seja apenas um exemplar! A vantagem principal é que o escritor não imobiliza capital. A impressão digital é muito veloz, a máquina colorida faz 55 impressões por minuto, e a preto e branco, 110 impressões por minuto. É muito ágil.

sábado, janeiro 19, 2008

CERTIDÕES/INTERNET

CERTIDÕES/INTERNET Quem quiser tirar uma cópia da certidão de nascimento, ou de casamento, ou outras, com firmas reconhecidas, não precisa mais ir até um cartório, pegar senha e esperar um tempão na fila. O cartório eletrônico, já está no ar! Nele você resolve essas (e outras) burocracias, 24 horas por dia, on-line. Cópias de certidões de óbito, de imóveis, e protestos também podem ser solicitados pela Internet. Para pagar, é preciso imprimir um boleto bancário. Depois, o documento chega por Sedex. O endereço é: http://www.cartorio24horas.com.br

sexta-feira, janeiro 11, 2008

RANDALL JULIANO

F. Skilnik has left a new comment on your post "RANDALL JULIANO ": É a primeira vez que escrevo para um blog... decidi também deixar registrada a minha homenagem ao Sr. Randall Juliano. Entrei no Google e digitei "Quem sabe, sabe" no desejo (sem sucesso) de encontrar algum site saudosista sobre este programa, que foi (creio) um dos poucos entreterimentos televisivos realmente inteligentes da história da TV brasileira. (E imaginar quantas daquelas perguntas poderiam ser hoje respondidas pelos fãs do Big Brother é de deixar qualquer um revoltado...) Experimentei então "Randall Juliano" e cheguei aqui. Lamento pelo falecimento, lamento pelas informações tristes dadas pelo Sr. Nassif e sou solidário ao sentimento do astro lembrando a célebre frase de outro admirável professor e homem de inteligência incomum:"Only two things are infinite, the universe and human stupidity, and I'm not sure about the former." Albert Einstein (1879 - 1955)

CARO F. SKILNIK:
Agradeço sua visita ao blog.
Tive o privilégio de conviver com o Professor Randall Juliano por um período de tempo. Concordo plenamente com sua observação sobre "Quem sabe, sabe" O rádio foi criado com a função de educar.
Lee De Forest, foi o cientista que inventou o triodo, a válvula sem a qual o rádio não existiria e a televisão também não existiria! É considerado o “pai do rádio e avô da televisão”. Ele viveu de 1873 a 1961. Recebeu uma homenagem muito bonita em que literalmente todas as organizações de rádio, todas as empresas de televisão, resolveram fazer uma homenagem monumental para ele. Nesse dia De Forest disse: “O que vocês fizeram com meu filho? Criei um veículo eletrônico para uma forma superior de ensino e entretenimento, para tornar melhores, mais cultas, mais sensíveis e mais responsáveis as pessoas... E vocês, no entanto, o converteram nisso que aí esta, um instrumento degradante, nauseabundo, de envilecimento humano desde a mais tenra idade!”.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

FLAGRANTE

Foto by J.U.Nassif

OBS.: NINGUÉM SE FERIU NESSE ACIDENTE! DURMA TRANQUILO(A).
"Estamos condenados à civilização. Ou progredimos ou desaparecemos."
Euclides da Cunha (1868-1909),
"Os Sertões"

terça-feira, janeiro 01, 2008

O CORPO DO PRESIDENTE ESTÁ EM PIRACICABA

Fotos by João Umberto Nassif


ERROS ACONTECEM. GERALMENTE A TEMPERATURA DAS REDAÇÕES É ELEVADA.


"Almanaque http://almanaque.folha.uol.com.br/bairros.htm é o site do Banco de Dados da Folha de S.Paulo, empresa do Grupo Folha da Manhã". Ele informa:

" O Cemitério Público da Consolação começou a ser construído em 1854 e foi aberto no dia 3 de julho de 1858, por ocasião de uma epidemia de varíola que afligia a capital.Alguns anos depois, o cemitério se tornou símbolo de ostentação e acompanhou a falência de famílias tradicionais da região que crescia. Prova disso é a riqueza dos túmulos, com esculturas diversas, inclusive com obras de Victor Brecheret.Lá estão enterrados a marquesa de Santos, Domitila de Castro, a mais famosa amante do imperador Dom Pedro 1º, os ex-presidentes Prudente de Morais e Campos Sales, a família Matarazzo, e grandes escritores, como Mário de Andrade e Monteiro Lobato." ("Almanaque da Folha
Almanaque é o site do Banco de Dados da Folha de S.Paulo, empresa do Grupo Folha da Manhã. ... Confira o Especial dos 450 anos de São Paulo do Almanaque ...almanaque.folha.uol.com.br/").


A REALIDADE:
Prudente José de Morais Barros nasceu no dia 4 de outubro de 1841 em Itu (São Paulo) e era filho de um negociante de animais. Com dois anos de idade, perdeu o pai, que foi assassinado por um escravo. Ainda na infância, mudou-se com a família para a cidade de Constituição, atual Piracicaba, no interior de São Paulo. Em 1863 formou-se em direito na capital paulista, e voltou em seguida para Piracicaba, onde começou a carreira política. Foi eleito vereador em 1865 e presidiu a Câmara Municipal. Em 1868, foi eleito deputado provincial pelo Partido Liberal. Aderiu ao PRP (Partido Republicano Paulista) em 1876. Foi três vezes deputado da agremiação na Assembléia Provincial e uma vez na Assembléia-Geral do Império (1885-1886). Votou a favor da libertação dos escravos com mais de 65 anos. Retornou a Piracicaba, onde faleceu no dia 3 de dezembro de 1902.
Prudente de Moraes - terceiro presidente do Brasil e primeiro civil a assumir o poder, em 1894. O corpo está enterrado no Cemitério da Saudade em Piracicaba. Fotografei o mausoléu em granito marrom, ocupando uma área respeitável, e com a herma(busto) do presidente coroando o monumento. Profissionais que cuidam do tumulo, revelaram que o processo de conservação do corpo foi muito bem feito, e perdura até hoje.

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