terça-feira, agosto 25, 2009

Tambor de Crioula e Grupo Gualajo animam hoje o aniversário da PalmaresMúsicos do Maranhão e da Colômbia encontram-se para celebrar a FCP
Hoje, quarta-feira, 19/08, a partir das 18h, a apresentação de Tambor de Crioula, grupo vindo do Estado do Maranhão, e do Gualajo, da Colômbia, abrilhantam a festa dos 21 anos da Fundação Cultural Palmares.
Manifestação cultural de raiz africana, o Tambor de Crioula é uma das mais fortes expressões culturais afro no Brasil. Praticada principalmente no Maranhão desde a época da escravidão, a manifestação foi inscrita pelo IPHAN como patrimônio imaterial da cultura brasileira, em novembro de 2007. Salvaguardar o Tambor de Crioula faz parte do projeto do governo federal de reconhecimento das formas de expressão que compõem o amplo e diversificado legado das tradições culturais de matriz africana no país.
Considerada uma das mais belas expressões culturais da dança dos descendentes de escravos, o Tambor de Crioula envolve dança circular, canto e percussão de três tambores e tem como seu santo padroeiro São Benedito - protetor dos negros.
Os tocadores e cantadores são conduzidos pelo ritmo dos tambores e das toadas, acompanhados da punga (ou umbigada): movimento coreográfico no qual as dançarinas, num gesto entendido como saudação e convite, tocam o ventre umas das outras. Cada cântico se inicia com um solista que canta toadas de improviso ou conhecidas, repetidas ou respondidas pelo coro, composto por homens que se substituem nos toques e por mulheres dançantes. Os cânticos possuem temas líricos relacionados ao trabalho, devoção, apresentação, desafio, recordações amorosas e outros. Para saber mais, só vindo até a sede da Fundação Cultural Palmares e assistir de perto a tradição do Tambor de Crioula.
O Grupo Gualajo traz da Colômbia ritmos da marimba.A marimba é um instrumento musical criado há séculos por tribos africanas e é fonte de inspiração de instrumentos de teclado, como o piano, o acordeon e o vibrafone.
O maestro José Antônio Torres Gualajo dedica-se à marimba há mais de 50 anos, estudando os mais variados ritmos que o instrumento pode ecoar. Conta a lenda, que ao nascer, a parteira de José Gualajo colocou-o em cima de uma marimba para cortar o cordão umbilical. Assim, ao ouvir a ressonância do instrumento logo ao nascer, somado à herança musical que seus pais lhe proporcionaram, Gualajo predestinou-se a ser um guardião da preservação de Marimba e de todos os ritmos que ela pode ressoar, como: currulos, aguabajos; jugas; andareles. Além de tocar, o maestro tornou-se um mestre no ofício de construir cada um dos componentes que constituem a marimba.
A iniciativa de trazer o grupo colombiano ao Brasil foi do Programa Regional de Apoio às Populações Rurais de Ascendência Africana da América Latina - ACUA.

“ESALQ realiza II Palestra e Prática sobre Poda”

A Casa do Produtor Rural, em parceria com o Grupo de Práticas em Fruticultura (GPF), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) promovem, no dia 29/08, das 08h00 às 17h00, a “II Palestra e Prática sobre Poda”. O evento, que será realizado no Anfiteatro Heitor Montenegro, tem o objetivo orientar o público sobre os conceitos básicos da poda e os procedimentos em plantas arbustivas e arbóreas, utilizando como exemplo árvores frutíferas.

A poda compreende um conjunto de operações que se efetuam na planta e que consistem na supressão parcial do sistema vegetativo lenhoso (sarmentos, cordões e, excepcionalmente, tronco) ou herbáceo (brotos, inflorescências, cachos, bagas, folhas, gavinhas). Os objetivos da poda são, entre outros, limitar o número de gemas para regularizar e harmonizar a produção e o vigor, uniformizar a distribuição da seiva elaborada para os diferentes órgãos da planta e proporcionar uma forma determinada que se mantenha por muito tempo e que facilite a execução dos tratos culturais. Na jardinagem, poda é o ato de se retirar parte das plantas, arbustos, árvores cortando-se folhas, ramos e galhos com o objetivo de modificar sua aparência estética, o que pode ser periódico e que favorece o seu crescimento, renovando a mesma.

Informações sobre inscrições pelos telefones (19) 3429-4433 e 3429-4178 (falar com Maria de Fátima ou Marcela) ou pelo e-mail cprural@esalq.usp.br .

Programação
08h00 – Inscrições
09h00- Palestra: Conceitos objetivos e época da Poda - professor João Alexio Scarpare Filho (USP/ESALQ)
10h30 – Café da manhã
11h00 – Palestra: Operações e tipos de Poda - professor João Alexio Scarpare Filho
12h00 – Almoço
14h00 – Prática: Poda em Uva, Goiaba, Caqui e Figo - professora Simone Rodrigues da Silva, GPF e Casa do Produtor Rural
17h00 - Encerramento

segunda-feira, agosto 24, 2009

PIRACICABANO BRILHA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Prof.Dr. Jayme Antonio Cardoso e sua esposa Profa.Dra.Suely

O piracicabano Prof.Dr. Jayme Antonio Cardoso brilha na Universidade Federal do Paraná.

A Universidade Federal do Paraná, criada em 1912, é sua casa há 51 anos; mesmo aposentado, voluntariamente ele continua dando cursos que são solicitados. Recebeu do Conselho Universitário o título de Professor Emérito. A sessão solene e pública foi realizada no dia 21 de agosto e nela também recebeu o título de Doutor Honoris Causa um americano amigo do Brasil , o importante cientista Doutor Stuart Schwartz. Além de colegas e amigos, sua família(Luiz Henrique, Walter e Quéia, e sua esposa Suely, sua filha Cristina, Antonio e Lucas, além de sua cunhada Rose) esteve lá, representando também os que moram fora: Clóvis; Ricardo que também é membro do Conselho Universitário enquanto diretor do Setor de Ciências Jurídicas.

sábado, agosto 22, 2009

NORIVAL TEDESCO
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de agosto de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/



ENTREVISTADO: NORIVAL TEDESCO

Norival Tedesco é uma pessoa muito conhecida em Piracicaba, tanto pela sua atividade profissional como pela sua atuação social. Acometido por uma doença crônica e progressiva, conseguiu com sucesso o domínio da mesma. Há muitos anos ele realiza o trabalho de auxílio na recuperação de pessoas que são dependentes químicos (álcool, drogas), uma atividade voluntária e sem nenhuma remuneração. É idealizador e o fundador da irmandade dos Narcóticos Anônimos em Piracicaba, que na época foi criado de forma intuitiva para atender a necessidade de tratamento de uma pessoa que Norival conhecia. Carismático, com uma franqueza própria daqueles que dizem aquilo que o coração manda, aos poucos ele envolve desde um ouvinte até uma enorme platéia, situações corriqueiras em sua vida. Defensor ferrenho do livre arbítrio, nunca critica qualquer ser humano. Sob o seu conceito, as pessoas é que devem escolher o que acham ser o melhor da vida. Norival é respeitado por todos que o conhecem. Por muitos até admirado. Nascido em Torrinha, no dia 15 de dezembro de 1931, é um dos doze filhos de João Tedesco e Maria Sapia Tedesco. Norival é casado com Da. Maria Lina dos Santos Tedesco.
Qual era a atividade do seu pai em Torrinha?
Ele tinha uma linha de ônibus, o percurso era feito com a então chamada jardineira. A princípio ele fazia o percurso Piracicaba a Torrinha. Resolveu vender parte da linha, que fazia o trecho de São Pedro até Piracicaba, ficando com a parte da linha que ia de São Pedro até Torrinha.
Antes dessa linha de ônibus de Piracicaba á Torrinha ele teve uma outra linha?
Meu pai e meu tio Miguel Tedesco foram sócios em um ônibus que ia de Piracicaba até Rio Claro. Havia uma outra pessoa que fazia a mesma linha. Houve um acordo entre eles para estabelecer um preço único da passagem, 15 unidades da moeda da época. Logo depois, o concorrente do meu pai abaixou a passagem para 13 unidades, pois um passageiro disse que pagou 14 unidades (afirmação incorreta), ao fazer o trajeto com o ônibus do meu pai. E assim ambos os ônibus foram abaixando as tarifas, a ponto de levarem o passageiro de graça e ainda pagavam o almoço para o então feliz passageiro! Chegaram ao extremo: a viagem era de graça e incluía gratuitamente um almoço e uma cerveja! Quando acabou o dinheiro, meu pai e meu tio pararam de fazer o transporte de passageiros. Só então ficaram sabendo que o concorrente tinha recursos para trabalhar mais uma semana e deveria parar. Esse concorrente tornou-se dono do Expresso de Prata. Muito tempo depois, meu pai estava em condições financeiras desfavoráveis, o dono dessa empresa ofereceu um ônibus de presente para o meu pai, que talvez por brio, não aceitou.
Qual era a marca do ônibus utilizado pelo seu pai nessa época?
Era um Ford, acredito que levava uns 15 passageiros, já era o modelo fechado. Ele teve um ônibus aberto, que fazia o percurso de São Pedro á Brotas, a estrada era muito ruim. Nós a chamávamos de “Gateada”, o motivo desse nome também não sei.
A viagem de São Pedro á Torrinha era feita diariamente?
Era feita uma viagem de ida e volta todos os dias, a estrada era de terra, na serra era bem apedregulhada.
Quando a sua família mudou-se para Piracicaba?
Acredito ser em 1937, eu tinha seis anos na época, viemos morar na Rua Regente Feijó, em frente ao campo do XV de Novembro. Sou quinzista daquele tempo, sempre arrumava um jeitinho de entrar, por ser menor, estando acompanhado eu não pagava e meu pai sempre assistia aos jogos.
Aconteceu uma fatalidade com seu pai em um desses jogos?
Meu pai morreu no campo do XV de Novembro. O jogo era XV de Piracicaba que fez 2 gols e Guarani que marcou 1 gol, o XV ganhou o jogo. Naquele ano, 1978, o Guarani foi campeão brasileiro, no domingo seguinte, dia 3 de setembro de 1978 veio jogar contra o XV em Piracicaba, no término do jogo, meu pai levantou e tornou a sentar-se, morreu naquele instante. Havia um médico presente, que fez tudo que pode, mas não tinha mais como devolver-lhe a vida. A primeira bandeira do XV, meu pai ajudou a comprar e seu caixão foi coberto com ela. Aquele dia eu não estava no campo.
Como quinzista, você guarda muitas lembranças daquela época?
Tenho uma grande saudade daqueles tempos. Lembro-me do goleiro do XV, Eduardo Farah, ficou na memória. Um time muito bom tinha em seu quadro o trio final: Índio, Raul e Renato.
O senhor estudou em que escola?
Estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, havia um respeito muito grande pelo professor. O mais importante, e que hoje acredito existirem bem poucos, eram os professores que nos ensinavam a aprender. Ensinaram que a leitura iria ser importante na minha vida. Sempre gostei de ler. O primeiro livro que li foi Idéias de Jeca Tatu de Monteiro Lobato. Fiquei tão entusiasmado com aquelas histórias, nesse tempo a biblioteca pública ficava na Rua Governador esquina com Rua Prudente de Moraes, onde hoje está o prédio do Cristóvão Colombo, ela passou a emprestar livros para crianças, eu ficava por dois dias com o livro emprestado.
Com quantos anos você começou a trabalhar em uma livraria?
Faltavam dois dias para que eu completasse onze anos. A Livraria Brasil ficava aonde mais tarde veio a ser o Banco do Estado de São Paulo, hoje Santander, quase em frente ao Jornal de Piracicaba. Um fato curioso aconteceu nesse prédio da livraria, eu já não trabalhava mais lá quando isso aconteceu. Durante a construção do prédio do Banco do Estado, o prédio da livraria, que ficava ao lado, caiu. Deu tempo de quem estava dentro da livraria sair correndo. A livraria passou para a Rua Governador. O Hotel Central ficava ao lado da Catedral de Piracicaba. Pegado ao Hotel Central existia o Bar Comercial, era um sobrado muito antigo, na parte superior foi sede da UDN. Tinha baile de carnaval. Naquela época dançávamos ali e no Teatro Santo Estevão, onde no tempo de carnaval havia a Boca do Diabo.
Muitos já falaram a respeito desse baile da Boca do Diabo, mas ninguém contou os detalhes.
As músicas eram executadas por uma orquestra. Quando ia começar o baile de carnaval, o responsável pelo baile dirigia-se ao público dizendo: “-Por favor, se tiver presente aqui alguma moça de família, pedimos que se retire, porque nós não nos responsabilizamos pelo que possa ocorrer.” A coisa era brava! Eu era “freguesão”! . Na verdade, as moças que permaneciam eram moças mais modernas para a época. Se o rapaz começasse com muita graça, tinha alguém que vinha adverti-lo. Era um baile avançado para aqueles tempos. Hoje seria encarado de forma diferente.
Onde hoje existe a Galeria Gianetti, era o que antes?
Era o quintal do Hotel Central. Ainda ao lado da Catedral, do lado esquerdo para quem a vê de frente, hoje existe um barzinho que vende pastel, foi a primeira sede da Viação Piracicabana, começou a trabalhar com os carros Ford 1929. A corrida de um carro de praça, hoje chamado táxi, era coisa de 5 cruzeiros, dentro da cidade. Atílio Gianetti colocou o Ford 1929 cobrando 3 cruzeiros. Foi assim que apareceram o Fordinho número 1, depois o número 2, o número 3. Em seguida ele colocou um carro melhor para levar as noivas ao casamento.
Existia uma fábrica de bebidas chamada Andrade, você a conheceu?
Quanto tempo que eu perdia nessa fábrica! Eu ia entregar encomendas da livraria, quando passava pelo Andrade, situada em frente ao Grupo Moraes Barros, eu ficava contando ás garrafas que estouravam, o sistema de pressão era muito forte, ao ser enchidas muitas das garrafas não agüentavam. E assim eu permanecia pensando: “-Vou esperar estourar mais uma!”.
Quem eram os proprietários da Livraria Brasil?
Eram Francisco Brasil, Paulo Brasil e Ary Brasil. Devo muito a eles, me ensinaram o valor da honestidade. Sempre diziam para mim: “-Se você caminhar pelo caminho da honestidade, ele será longo, mas você nunca irá chegar cansado”. Conheci Thales Castanho de Andrade, era um senhor baixinho, gordinho, muito simpático. Algumas vezes cheguei a atendê-lo na livraria. Um dia eles me deram 5 cruzeiros para abrir uma caderneta na Caixa Econômica. Tive orgulho em ver o meu nome na caderneta! Passei a economizar, juntar papel que a livraria descartava, era na época da guerra, papel dava um bom dinheirinho. Eu morava pegado onde hoje existe a Padaria Assagio. Eu vendia balas no Cinema São José, as balas eram feitas pela Dona Rosa do Amaral. Vendia também amendoim. Isso tudo em um tabuleiro que era dependurado no pescoço por uma correia de couro.
Com isso você aproveitava para ver os filmes?
Eu assistia vinte e poucos filmes por semana! Com os outros baleiros, apostávamos quem lia de trás para frente á legenda, de tanta prática que adquirimos em ver as legendas. Éramos quatro baleiros: Geraldo Pinto Pereira, Antonio de Barros, eu e mais outro, que no momento não me lembro do seu nome. Nós tínhamos o Cine São José voltado ao público popular e o Broadway, que era o cinema dos “granfinos”. Foi no Broadway que alguns estudantes da agronomia soltaram um urubu em plena sessão de cinema, causando grande alvoroço.
Você conheceu uma ex-escrava?
Conheci, era a Nhá Izabé, ela morava bem na esquina das Ruas do Rosário com a Rua XV de Novembro, ao lado do Dispensário dos Pobres. Ela era uma figura muito popular, conhecida na cidade inteira, todos gostavam muito dela. Se não me engano ela ganhou aquela esquina do pai ou do próprio Luiz Dias Gonzaga. Uma das filhas dela, a Conceição, foi empregada do meu avô.
Das muitas lembranças do centro de Piracicaba, algumas são muito marcantes?
A Leiteria Brasileira ficava embaixo do Clube Coronel Barbosa, bem na esquina. Eu passava para ir ali para ir até o correio que ficava na Rua Alferes José Caetano, esquina com a Rua Treze de Maio, onde hoje está instalada a Pizza do Bira. Um dia entrei na Leiteria Brasileira e pedi um café, que custava trinta centavos. Um senhor deve ter achado inusitado para aquela época, um menino tomando café. Disse-me: “-Deixe que eu pago para você!”. Eu gostei da idéia. Quando via o homem lá eu entrava para tomar um café. Ele pagava. Um dia iam servir o meu café quando ele chegou. Perguntei-lhe: “-O senhor quer tomar um café comigo?”. Ao que ele respondeu: “-Hoje vou aceitar o cafézinho seu”. Passei-lhe os 30 centavos e disse-lhe: “-Então o senhor toma o meu porque eu só tenho 30 centavos!”. Aí ele pagou tudo. Do outro lado, onde foi o prédio Comurba, da Rua São José para a Rua Prudente de Moraes, na esquina da Rua São José havia a Garaparia Seleta, logo em seguida era o Chalé do Losso, mais á frente era o depósito Maluf, não sei para qual dos membros da família Maluf pertencia. Era depósito de açúcar preto, o açúcar mascavo, nós pegávamos aquele açúcar de sacos que ás vezes estava furado. O que comíamos de açúcar mascavo! Mais a frente, havia a farmácia que mais tarde passou a chamar-se Farmácia São Paulo. Na Rua Prudente de Moraes esquina coma a Rua Alferes José Caetano havia a Loja da Lua. Em frente á mesma, havia a Farmácia Popular. Eu passava lá, ele me dava uma caixa de Cafiaspirina, que passava a ser a minha bolsa, onde punha meus caderninhos. Quando estava muito velha a caixa, eu pegava outra nova.
Há uma passagem marcante de um natal em sua família?
Eu tinha nove anos de idade. Era véspera de natal. Dois dos meus irmãos, já um pouco maiores do que os demais, já tinham conhecimento da existência de Papai Noel. Fui com eles até uma loja, era um irmão e uma irmã. A minha missão era induzi-los a gostar e querer ganhar o presente mais barato que pudesse encontrar. A nossa situação financeira era muito difícil. Minha mãe havia me incumbido de levá-los até lá, consegui convencer a minha irmãzinha a ganhar uma boneca de pano e para meu irmão um carrinho de madeira. Á noite, umas nove horas, os dois irmãozinhos foram dormir contentes porque iriam ganhar o presente de Papai Noel. Meu pai naquela época tinha caminhão de transportes, ele não havia chegado ainda. Quando ele não conseguia serviço, voltava bravo e sem dinheiro. Aquela noite, com certeza ele deveria chegar bem tarde e as crianças não teriam o presente de Papai Noel. Minha mãe começou a chorar. Ao vê-la assim, sai, fui até a loja, a dona era brava, disse-lhe que a minha mãe estava doente, se ela não poderia dar aquela boneca de pano e o caminhãozinho, para a minha mãe ver, se ela gostasse lhe traria o dinheiro. A loja estava com muitos clientes, preocupada com as vendas a dona embrulhou os dois presentes. Eu cheguei com ele na nossa casa. Minha mãe ficou admirada, perguntou de onde era. Eu disse-lhe que era da francesa. Era a Loja do Francez, ficava quase na esquina da Rua Alferes José Caetano com a Rua Prudente de Moraes, onde mais tarde funcionou o Fórum. Nós morávamos na esquina da Rua São José com a Rua do Rosário, no dia seguinte meu irmãozinho queria brincar com o caminhãozinho, a um quarteirão da loja. Ele ia à direção á loja, eu ficava o dia inteiro tomando conta dele com medo que a dona confiscasse o seu caminhãozinho. Para ir estudar no Moraes Barros eu ia pela Rua Tiradentes, para não passar próximo da loja. Meus coleguinhas me perguntavam por que eu dava aquela volta. Respondia: “É porque eu gosto de andar!”. Sempre me lembrava dessa dívida para com a loja, quando eu tive condições de pagar a loja não existia mais.
Você conheceu a Relojoaria Muller?
Tinha as portas de madeira! O Muller gostava muito de ler, ao entrar na relojoaria, com todas aquelas jóias, relógios expostos, precisava bater palmas para que ele viesse atender. Eu ia entregar encomendas, tinha que bater palmas. Naquela época o ladrão que existia era conhecido de todos, roubava galinhas, ele era conhecido como Peru. Na Paulista eu me lembro quando a partir de onde hoje é a Avenida do Café era plantação de Algodão. Na época do carnaval não era permitida a venda de bebida alcoólica. Um soldado prendeu um homem do sítio, porque ele estava bêbado em cima do cavalo. Isso foi na Rua do Rosário. O soldado vinha puxando o cavalo, para conduzir á cadeia na Rua São José, e o homem em cima do cavalo. Quando chegou à esquina da minha casa o homem tirou o freio do cavalo, o soldado ficou só com a rédea na mão e ele subiu a Rua do Rosário levantando uma poeira só! E a criançada dando vaia no soldado.
O senhor conheceu o Comendador Mário Dedini?
Conheci. Era um homem de uma simpatia muito grande. Na época em que casou a filha dele Dona Anita Dedini com o Ricciardi, fui entregar os convites de casamento que tinham sido feitos em São Paulo. Na Livraria Brasil eu ganhava 60 cruzeiros por mês. Quando entreguei o pacote com os convites, na residência do Comendador Mário Dedini, na Rua Santo Antonio, recebi 60 cruzeiros de gorjeta, quase morri de susto.
Na Livraria Brasil o senhor trabalho por quanto tempo?
Trabalhei por seis anos. Aos dezessete anos de idade pedi a conta, o Brasil me deu mais 500 contos de presente, passei a trabalhar com o meu irmão que já tinha conhecimento na área após 10 anos de trabalho no ramo relojoeiro e de confecções de peças sob encomenda. O dinheiro que nós tínhamos disponíveis era suficiente para comprar as ferramentas essenciais, ou adquiria o laminador, onde é colocado o metal para ser laminado. Compramos na Casa Camargo, que ficava na Rua Governador com a Rua XV de Novembro, mais tarde foi a Casa Siqueira. As primeiras peças que nós fizemos nós conversamos com o motorneiro do bonde para que ele passasse bem devagar, o peso do bonde sobre o trilho laminava o ouro. Um dia 4 gramas de ouro baixo (ouro mais barato) ficaram grudadas na roda do bonde! Ficamos subindo descendo, ia até o Assunção lá em baixo, procurando, Tinha sumido. Quase quebrou a firma naquele dia. Meu tio Miguel Tedesco soube do caso e nos chamou. Disse que comprássemos o laminador, ele emprestaria o dinheiro para nós e devagar nós iríamos pagá-lo.
Na Rua do Rosário, na altura do número 2547 havia uma bomba de gasolina da bandeira Texaco, o senhor lembra-se dela?
Lembro-me sim. Ficava junto á calçada. Lembro-me até da cor, era vermelha. Ficava bem na esquina com a Rua Edgar Conceição. Era de propriedade de José Nassif.
O senhor conheceu Frei Paulo?
Eu tinha de 9 a 10 anos de idade, e os meus coleguinhas iam aprender desenho e pintura, com Frei Paulo de Sorocaba. Pedi que eles conversassem com o frei se eu poderia ir. No outro dia, eles disseram que Frei Paulo tinha dito que eu poderia ir. Fiquei todo feliz porque iria aprender. Quando eles passaram para me chamar, estavam todos de sapato. Eu não tinha sapato, fiquei com vergonha de ir, se eu tivesse ido acho que o Frei Paulo iria cuidar mais de mim do que dos outros.


domingo, agosto 16, 2009

RECORTES DE JORNAIS DE PIRACICABA- 1960/1970







MUSEU PRUDENTE DE MORAES - FACHADA












PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de agosto de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADA: RENATA GAVA

Em 9 de novembro de 1.869, bem antes de tornar-se o primeiro presidente civil do Brasil, Prudente José de Moraes Barros, decidiu morar com a família na casa da rua Santo Antonio, esquina com a rua Treze de Maio. Durante 32 anos a casa pertenceu ao presidente, morto em 1902. Nesse endereço, o republicano promoveu inúmeras reuniões de onde saíram diretrizes políticas que fizeram à história do País. A planta original do prédio tombado é delineada em "L", contemplando duas casas em só corpo e um chalé que era utilizado por Prudente de Moraes como escritório de advocacia. A construção, em estilo colonial e imperial, é típica das residências urbanas da segunda metade do século 19. Antes de pertencer ao ilustre republicano, o imóvel pertenceu a José Lobo Albertini e foi adquirido por 10 mil réis. Dezessete anos após a morte do republicano, a casa tornou-se sede da antiga Faculdade de Odontologia "Washington Luiz", que teve seu nome mudado em 1932 para "Prudente de Moraes". Foi também escola de Farmácia. Em 1935, a faculdade encerrou suas atividades. Cedida pela família ao governo do Estado, o imóvel foi sede do Grupo Escolar Prudente de Moraes e da Delegacia de Ensino. Somente em 13 de agosto de 1956, seria fundado o Museu Histórico e Pedagógico, que, até 1968, ocupava somente uma sala do prédio. Em 35 anos de atuação, a Sampm (Sociedade Amigos do Museu Prudente de Moraes) empenhou-se pela restauração do prédio da Casa do Presidente e pela conservação do acervo, e para recuperar elementos originais da casa do primeiro presidente civil, tendo á frente a incansável Maria da Glória Silveira Mello, bisneta de Prudente de Moraes. A Secretaria Estadual de Cultura, o Prefeito Barjas Negri, a Secretária de Cultura Rosângela Camolesi além do restauro do prédio e acervo, trazem um conceito inovador para os mais diversos segmentos da população que devem visitar o Museu Prudente de Moraes.
Renata Gava é especialista em Patrimônio Histórico e atualmente Coordenadora Geral do Museu Prudente de Moraes. Renata nasceu em Piracicaba, em 29 de maio de 1978, realizou o curso de História na Unimep, trabalhou no acervo de João Chiarini, no acervo do Museu Profª. Jair Araújo. O Museu Prudente de Moraes é administrado por uma OS (Organização Social), a Candido Portinari, que é um novo sistema do governo estadual na abordagem da cultura. Estruturado em duas áreas distintas e complementares: a administrativa e financeira e a área técnica. Estabelece uma visão atualizada e dinâmica para tratar a cultura, com a participação efetiva dos mais diversos setores da sociedade.
Renata, o acervo do Museu Prudente de Moraes estará á disposição para consultas?
Vamos disponibilizar o nosso acervo para consultas, sob um controle efetivo, que será mais rigoroso se assim for necessário, visando a preservação do mesmo. O acesso é voltado para áreas afins. Através do nosso banco de dados, o interessado a irá escolher o objeto da consulta, realizará a sua pesquisa da maneira adequada, tratando a obra com os cuidados técnicos necessários (uso de luvas, máscaras), haverá uma supervisão técnica presente para ajudá-lo. É interessante observar que os procedimentos para essas consultas são diferentes daqueles adotados em uma biblioteca comum.
Alguns livros do acervo pertenceram a pessoas ilustres?
Alguns livros da área de direito pertenceram ao Dr. João Sampaio, genro de Prudente de Moraes. O Dr. João Sampaio iniciou sua atuação, como advogado, por intermédio de Prudente de Moraes, trabalharam juntos.
Durante o período da reforma do prédio o acervo permaneceu no prédio?
O acervo foi levado para um local permanentemente monitorado e que oferecia segurança para preservar a integridade do mesmo. Houve um grande trabalho de catalogação, organizado por tipologia, envolvendo uma equipe especializada de restauradores, museólogos, fizemos o arvoramento do nosso acervo, a higienização e a pesquisa histórica. Foram cinco frentes de trabalho que estavam coordenando, com grandes profissionais da área. A Organização e Higienização dirigida pela restauradora e conservadora Daisy Stra, na equipe de Catalogação e Arrolamento, tivemos grandes museólogos na supervisão. A Museografia, que implica no espaço expositivo, na cenografia, iluminação, como o acervo será tratado, como será exposto, na contextualização do objeto junto com o texto, nas ilustrações, tudo é feito para pensar no conjunto. Ambiente por ambiente é projetado. A forma de exposição, iluminação, qual o propósito. Foi feito o aforamento, conferida peça por peça, o Estado tem a listagem. Essa relação está em um banco de dados. Sou a coordenadora do Museu Prudente de Moraes, mas é importante destacar que a museóloga Angélica Fabri é a responsável pela direção de todo esse trabalho.
Atualmente qual é o horário de funcionamento do Museu Prudente de Moraes?
Funciona de terça-feira a domingo, no horário das 9:00 ás 17:00 horas, seguindo padrão internacional. A visitação é fechada ao público ás segundas feiras. É quando nós realizamos os trabalhos necessários para a reabertura na terça-feira.
Quanto custa o ingresso para visitar o Museu?
Nada! É curioso, mas algumas pessoas fazem essa mesma pergunta.
O Museu Prudente de Moraes tem projetos voltados á comunidade?
São projetos que vamos desenvolver com a sociedade. São vários níveis de atuação, abrangendo diversas faixas etárias.
Renata, como é “morar” durante o seu período de trabalho na casa em que Prudente de Moraes morou?
Fiz parte da equipe de elaboração do projeto museográfico, coordenado pela Cecília Machado, o Moacir Corsi que tratou a museografia (cenografia, iluminação), e três pesquisadores: Marcelo Cachioni, que tratou a evolução urbana de Piracicaba, a Maira Grigoleto cuidou do lado político de Prudente, e eu cuidei do aspecto político e privado de Prudente. Sou defensora nata de Prudente, a gente sente a energia, há um envolvimento pessoal. Aqui trabalho como coordenadora, participando de tudo, mas na minha casa, no meu final de semana, é estritamente direcionado á pesquisa. Você se envolve, vive ás 24 horas do dia isso tudo.
O que a impressionou em Prudente de Moraes?
O que direcionou o meu foco de pesquisa foi a sua fala dita ao ser eleito presidente da república: “Sou Prudente no nome, Prudente por princípios e Prudente por hábito, sou também Prudente procurando evitar questões pessoais odiosas.” Isso me chamou bastante a atenção, ele mesmo se auto-definia. O seu perfil como pessoa, pai de família e como político. Ele foi sempre muito meticuloso e articulado. Foi um grande propagandista. Sair de um sistema monárquico e passar para um sistema republicano, pode-se imaginar o que isso significou e como foi trabalhar toda uma nação. Teve que ser construída uma imagem, uma identidade. O sentimento de nação teve que ser construído. Essa gigantesca obra não foi só de Prudente, mas ele foi um dos principais articuladores dessa construção, da propaganda do ideal republicano.
A pesquisa sobre Prudente de Moraes foi realizada em que locais?
Ela foi realizada em nível nacional, foi feito um levantamento histórico! Encontramos no Rio de Janeiro muitas informações, em São Paulo, Itu, Presidente Prudente.
Quais são as diferenças de atuação do museu antes e depois da reforma e reestruturação?
Hoje é mais interativo. Ao mesmo tempo em que a pessoa está lendo um texto ela está vendo o objeto exposto, e a tecnologia (vídeo) interage. São informações oferecidas por várias maneiras. Era esse o nosso propósito. Hoje os museus trabalham com essa metodologia.
Qual foi a reação dos visitantes ao encontrarem o museu em sua nova fase?
As pessoas nos procuram para fazer elogios. Procuramos trabalhar com várias frentes de informações, isso não está explicito. Só que as pessoas percebem, elas não fazem uma análise técnica como nós, mas elogiaram muito o trabalho em si. Isso é muito gratificante.
Qual é a importância do Museu Prudente de Moraes para Piracicaba e para o Brasil?
Prudente de Moraes foi o primeiro presidente civil eleito pelo povo. Essa é uma grande importância. No contexto em que vivemos hoje, a República, existe graças também a ele. Temos que passar essa conscientização para a população. Se hoje somos cidadãos com direitos é uma conseqüência da própria República.
Como era Prudente de Moraes como pessoa?
Em relatos, cartas pessoais o que se nota é que era muito amável com os seus filhos. A sua preocupação era de ser uma pessoa correta, uma pessoa exemplar para seus filhos. Isso eu pude perceber nas suas cartas. Sem contestação, era uma pessoa regrada. Temos expostos cadernos de anotações dele. Ele era muito sistemático. Ao mesmo tempo era amável, procurava ajudar as pessoas, ele era uma pessoa justa. Honestíssimo, e não era rico. Eu o considero um grande propagandista da República. Ele acreditou, sonhou e lutou por isso.
Prudente de Moraes faleceu acometido por qual doença?
Pela tuberculose. Ele era uma pessoa sistemática, tinha um autocontrole de saúde imenso. No seu caderno de anotações marcava o seu peso, o peso da sua esposa. Era um homem alto e magro. Afastou-se por um período da vida publica para fazer uma cirurgia de extração de calculo renal. Isso em uma época em que o risco de morrer em uma operação dessa natureza era bastante alto.
Ele tinha alguma fruta preferida?
A jabuticaba! Ele tinha verdadeira paixão por jabuticaba. Nós plantamos simbolicamente, aqui no museu dois pés de jabuticaba, nossa idéia é usá-los para trabalharmos nas ações educativas a serem realizadas pelo museu.
O foco de trabalho do Museu é voltado para quais faixas etárias?
Vamos trabalhar com alunos do curso primário, do ensino médio, pessoas da terceira idade. Dentro de cada projeto iremos desenvolver as atividades pertinentes.
Qual são as reações das diversas faixas etárias em visita ao museu?
As reações mais engraçadas sempre são das crianças. Quando entram no museu elas vêm tudo diferente, observam de forma diferente, tanto os objetos, os textos como as imagens. Ao mesmo tempo em que falam da barba usada por Prudente de Moraes, hoje não é habito o uso de barba. Para uma pessoa de meia idade era usual!
Prudente de Moraes era uma pessoa reservada?
Era bem reservado. Mesmo sendo um homem que foi vereador, deputado provincial, deputado geral, governador, senador e presidente da república. Um dos seus apelidos era “Caipira de Piracicaba”, e isso é que traz admiração, como ele conseguiu chegar a tão grande nível. Deve se considerar que na época Piracicaba era uma cidade com bastante expressão no cenário nacional. Havia um grande número de escravos, isso significava que também havia um grupo maior de pessoas de elite, e a elite era política.
A reestruturação e reforma física do Museu Prudente de Moraes deve despertar maior interesse do público com relação à importância histórica de Prudente de Moraes?
O museu foi feito para a sociedade. Queremos trazê-la para dentro do museu. Estaremos desenvolvendo projetos e programas para que isso ocorra.
Como historiadora, para você, qual é a importância dessa nova fase do Museu Prudente de Moraes?
Eu cursei história focando a minha profissionalização na área da preservação, a minha especialização é em patrimônio histórico. Isso me faz muito feliz em poder estar trabalhando no Museu Prudente de Moraes. E acreditar nessas frentes de trabalho que serão desenvolvidas. Como coordenadora não fico restrita a cuidar apenas do museu, o museu é uma interação, não é apenas uma informação. Ao mesmo tempo em que há uma exposição, existe uma equipe cuidando da preservação. Isso é também uma frente de trabalho. Quando trazemos as crianças ao museu, é outra frente de trabalho, são ações educativas. A criança tem uma visão diferente do adulto. A pessoa de mais idade está focada no objeto, algo que a remete a um tempo que ela viveu. Ela não se atenta á informação. A criança tem o objeto, as ilustrações e faz a ligação desse todo com o texto.
A reserva técnica do museu já está organizada?
Quando falo em reserva técnica, me refiro a guarda de objetos. Ela já está montada, seguindo padrões internacionais.

Museu Prudente de Moraes. Entrada gratuita ao público. Rua Santo Antônio, 641. Informações: 3422-3069.

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