quarta-feira, agosto 26, 2009

O Prédio do Banespa e sua torre
Neuza Guerreiro de Carvalho

Na década de 30 a rua João Brícola sofreu grandes alterações com a chegada do edifício sede do Banco do Estado de São Paulo S/A (Banespa, como é conhecido). O banco, em grande expansão na época procurava um edifício mais de acordo com sua situação de então. Adquiriu um terreno na Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal (onde foi o Mappin) e aí construiu seu edifício sede. Mas, longe do centro bancário que se concentrava no triângulo central, encontrou dificuldades e entrou em entendimentos com a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que era possuidora do de três edificios na rua João Brícola: o Edifício João Brícola que sediava a Companhia Brasileira de Seguros, a famosa Confeitaria Castelões desde 1893 e a Chapelaria Alberto. Feita a troca dos edificios da João Brícola com o edificio da Praça Ramos de Azevedo, e comprados mais prédios ao redor daqueles da rua João Brícola, começou-se a construção da nova sede do Banco do Estado de São Paulo nas proximidades da rua Boa Vista, 15 de Novembro, Praça Antonio Prado, dentro do coração financeiro da cidade.

O Prédio foi projetado por Plínio Botelho do Amaral e construído pela firma Camargo e Mesquita. Levou oito anos para se construído e foi inaugurado em junho de 1947. É todo em concreto armado, 17.951 metros quadrados constuido, tem 161,22 metros de altura, 35 andares, 14 elevadores, 900 degraus e 1119 janelas. Durante 20 anos foi o prédio mais alto da cidade. Recebeu o nome de Edifício Altino Arantes em homenagem ao primeiro presidente brasileiro do banco.

Depois da privatização em 2000 quando passou para o grupo Santander - Banespa, deixou de ser sede bancária. Ao seu lado hoje há o banco Santander em uma construção super moderna, toda em vidros pretos com heliporto dotado de sistemas de seguran

Agora é ponto turístico e instituição cultural.
Seu saguão principal tem quase 400 metros quadrados, paredes de mármore de 16 metros de altura e piso de granito decorado com brasões de bronze. Muito belo é o seu grande lustre de cristal nacional em estilo "decô-eclético" com 13 metros de altura, 2 metros de diâmetro e dez mil peças de cristal pesando uma tonelada e meia.
O edifício abriga ainda um Museu, que preserva a memória de instituição, uma Biblioteca.

Ponto turístico obrigatório é a visita à sua torre, de onde se pode observar grande parte da cidade. E identificar muitos dos lugares. Numa última visita à torre do Banespa neste 2004, pude observar esses pontos, fazendo uma "viagem" rotacional de 360 graus em sentido horário e identificando: logo à saída da porta, em direção Oeste, pode-se ver: a descida da Av. São João partindo da Praça Antonio Prado; os altos do Edifício Martinelli com a casa que pertenceu e onde morou o Comendador Martinelli; um pedacinho
do Vale do Anhangabaú com o chafariz decorativo; a Avenida São João e uma pequena parte do Correio.
Ainda para o lado direito vê-se o Viaduto Santa Ifigênia, com seu belíssimo piso decorado recentemente; a continuação do Vale do Anhangabaú com a passagem subterrânea (vulgo buraco do Ademar) em direção ao Norte.

Continuando à direita dá para ver o Mercado Central, o Edifício São Vito, o Parque Dom Pedro com os viadutos que compõe o sistema viário da região; o Palácio das Industrias que até o começo de 2004 abrigou a Prefeitura; a Casa das Retortas que no fim do século XIX pertencia à The São Paulo Gás Company e onde o carvão era queimado em altíssimas temperaturas para desprendimento de gás usado entre outras coisas na iluminação pública; o complexo para a Av. Rangel Pestana com a Secretaria da Fazenda, e mais longe a rua da Figueira (antiga chácara da Marquesa de Santos) com o antigo hospital Dom Pedro II

Continuando à direita vê-se o Páteo do Colégio, a rampa que leva a uma rua de ligação, as atuais Secretarias de Justiça, o Primeiro Tribunal de Alçada; toda a Praça da Sé, com o Palácio da Justiça à esquerda sobressaindo atrás dele o Fórum novo, já na Praça João Mendes; A bela Catedral em todo seu esplendor; o principal Corpo de Bombeiros da cidade.

Continuando à direita está o Edifício Joelma, em um ponto "fantasmagórico" da cidade: cenário de um crime famoso em 1948, anos depois quando no terreno já existia o prédio foi sede de um grande incêndio onde morreram mais de 300 pessoas. Na frente o "Banespinha" antigo Prédio dos Condes Matarazzo, depois sede do Banespa e atualmente sede da Prefeitura Municipal da cidade de São Paulo. No seu topo um jardim, em pleno centro que ocupa uma área aproximada de 300 metros quadrados com vegetação exuberante.
O edifício do Banco do Brasil, bastante alto, fecha o círculo.
Infelizmente não se vê o Teatro Municipal e só se vislumbra pare final do viaduto do Chá.

terça-feira, agosto 25, 2009

Tambor de Crioula e Grupo Gualajo animam hoje o aniversário da PalmaresMúsicos do Maranhão e da Colômbia encontram-se para celebrar a FCP
Hoje, quarta-feira, 19/08, a partir das 18h, a apresentação de Tambor de Crioula, grupo vindo do Estado do Maranhão, e do Gualajo, da Colômbia, abrilhantam a festa dos 21 anos da Fundação Cultural Palmares.
Manifestação cultural de raiz africana, o Tambor de Crioula é uma das mais fortes expressões culturais afro no Brasil. Praticada principalmente no Maranhão desde a época da escravidão, a manifestação foi inscrita pelo IPHAN como patrimônio imaterial da cultura brasileira, em novembro de 2007. Salvaguardar o Tambor de Crioula faz parte do projeto do governo federal de reconhecimento das formas de expressão que compõem o amplo e diversificado legado das tradições culturais de matriz africana no país.
Considerada uma das mais belas expressões culturais da dança dos descendentes de escravos, o Tambor de Crioula envolve dança circular, canto e percussão de três tambores e tem como seu santo padroeiro São Benedito - protetor dos negros.
Os tocadores e cantadores são conduzidos pelo ritmo dos tambores e das toadas, acompanhados da punga (ou umbigada): movimento coreográfico no qual as dançarinas, num gesto entendido como saudação e convite, tocam o ventre umas das outras. Cada cântico se inicia com um solista que canta toadas de improviso ou conhecidas, repetidas ou respondidas pelo coro, composto por homens que se substituem nos toques e por mulheres dançantes. Os cânticos possuem temas líricos relacionados ao trabalho, devoção, apresentação, desafio, recordações amorosas e outros. Para saber mais, só vindo até a sede da Fundação Cultural Palmares e assistir de perto a tradição do Tambor de Crioula.
O Grupo Gualajo traz da Colômbia ritmos da marimba.A marimba é um instrumento musical criado há séculos por tribos africanas e é fonte de inspiração de instrumentos de teclado, como o piano, o acordeon e o vibrafone.
O maestro José Antônio Torres Gualajo dedica-se à marimba há mais de 50 anos, estudando os mais variados ritmos que o instrumento pode ecoar. Conta a lenda, que ao nascer, a parteira de José Gualajo colocou-o em cima de uma marimba para cortar o cordão umbilical. Assim, ao ouvir a ressonância do instrumento logo ao nascer, somado à herança musical que seus pais lhe proporcionaram, Gualajo predestinou-se a ser um guardião da preservação de Marimba e de todos os ritmos que ela pode ressoar, como: currulos, aguabajos; jugas; andareles. Além de tocar, o maestro tornou-se um mestre no ofício de construir cada um dos componentes que constituem a marimba.
A iniciativa de trazer o grupo colombiano ao Brasil foi do Programa Regional de Apoio às Populações Rurais de Ascendência Africana da América Latina - ACUA.

“ESALQ realiza II Palestra e Prática sobre Poda”

A Casa do Produtor Rural, em parceria com o Grupo de Práticas em Fruticultura (GPF), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) promovem, no dia 29/08, das 08h00 às 17h00, a “II Palestra e Prática sobre Poda”. O evento, que será realizado no Anfiteatro Heitor Montenegro, tem o objetivo orientar o público sobre os conceitos básicos da poda e os procedimentos em plantas arbustivas e arbóreas, utilizando como exemplo árvores frutíferas.

A poda compreende um conjunto de operações que se efetuam na planta e que consistem na supressão parcial do sistema vegetativo lenhoso (sarmentos, cordões e, excepcionalmente, tronco) ou herbáceo (brotos, inflorescências, cachos, bagas, folhas, gavinhas). Os objetivos da poda são, entre outros, limitar o número de gemas para regularizar e harmonizar a produção e o vigor, uniformizar a distribuição da seiva elaborada para os diferentes órgãos da planta e proporcionar uma forma determinada que se mantenha por muito tempo e que facilite a execução dos tratos culturais. Na jardinagem, poda é o ato de se retirar parte das plantas, arbustos, árvores cortando-se folhas, ramos e galhos com o objetivo de modificar sua aparência estética, o que pode ser periódico e que favorece o seu crescimento, renovando a mesma.

Informações sobre inscrições pelos telefones (19) 3429-4433 e 3429-4178 (falar com Maria de Fátima ou Marcela) ou pelo e-mail cprural@esalq.usp.br .

Programação
08h00 – Inscrições
09h00- Palestra: Conceitos objetivos e época da Poda - professor João Alexio Scarpare Filho (USP/ESALQ)
10h30 – Café da manhã
11h00 – Palestra: Operações e tipos de Poda - professor João Alexio Scarpare Filho
12h00 – Almoço
14h00 – Prática: Poda em Uva, Goiaba, Caqui e Figo - professora Simone Rodrigues da Silva, GPF e Casa do Produtor Rural
17h00 - Encerramento

segunda-feira, agosto 24, 2009

PIRACICABANO BRILHA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Prof.Dr. Jayme Antonio Cardoso e sua esposa Profa.Dra.Suely

O piracicabano Prof.Dr. Jayme Antonio Cardoso brilha na Universidade Federal do Paraná.

A Universidade Federal do Paraná, criada em 1912, é sua casa há 51 anos; mesmo aposentado, voluntariamente ele continua dando cursos que são solicitados. Recebeu do Conselho Universitário o título de Professor Emérito. A sessão solene e pública foi realizada no dia 21 de agosto e nela também recebeu o título de Doutor Honoris Causa um americano amigo do Brasil , o importante cientista Doutor Stuart Schwartz. Além de colegas e amigos, sua família(Luiz Henrique, Walter e Quéia, e sua esposa Suely, sua filha Cristina, Antonio e Lucas, além de sua cunhada Rose) esteve lá, representando também os que moram fora: Clóvis; Ricardo que também é membro do Conselho Universitário enquanto diretor do Setor de Ciências Jurídicas.

sábado, agosto 22, 2009

NORIVAL TEDESCO
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de agosto de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/



ENTREVISTADO: NORIVAL TEDESCO

Norival Tedesco é uma pessoa muito conhecida em Piracicaba, tanto pela sua atividade profissional como pela sua atuação social. Acometido por uma doença crônica e progressiva, conseguiu com sucesso o domínio da mesma. Há muitos anos ele realiza o trabalho de auxílio na recuperação de pessoas que são dependentes químicos (álcool, drogas), uma atividade voluntária e sem nenhuma remuneração. É idealizador e o fundador da irmandade dos Narcóticos Anônimos em Piracicaba, que na época foi criado de forma intuitiva para atender a necessidade de tratamento de uma pessoa que Norival conhecia. Carismático, com uma franqueza própria daqueles que dizem aquilo que o coração manda, aos poucos ele envolve desde um ouvinte até uma enorme platéia, situações corriqueiras em sua vida. Defensor ferrenho do livre arbítrio, nunca critica qualquer ser humano. Sob o seu conceito, as pessoas é que devem escolher o que acham ser o melhor da vida. Norival é respeitado por todos que o conhecem. Por muitos até admirado. Nascido em Torrinha, no dia 15 de dezembro de 1931, é um dos doze filhos de João Tedesco e Maria Sapia Tedesco. Norival é casado com Da. Maria Lina dos Santos Tedesco.
Qual era a atividade do seu pai em Torrinha?
Ele tinha uma linha de ônibus, o percurso era feito com a então chamada jardineira. A princípio ele fazia o percurso Piracicaba a Torrinha. Resolveu vender parte da linha, que fazia o trecho de São Pedro até Piracicaba, ficando com a parte da linha que ia de São Pedro até Torrinha.
Antes dessa linha de ônibus de Piracicaba á Torrinha ele teve uma outra linha?
Meu pai e meu tio Miguel Tedesco foram sócios em um ônibus que ia de Piracicaba até Rio Claro. Havia uma outra pessoa que fazia a mesma linha. Houve um acordo entre eles para estabelecer um preço único da passagem, 15 unidades da moeda da época. Logo depois, o concorrente do meu pai abaixou a passagem para 13 unidades, pois um passageiro disse que pagou 14 unidades (afirmação incorreta), ao fazer o trajeto com o ônibus do meu pai. E assim ambos os ônibus foram abaixando as tarifas, a ponto de levarem o passageiro de graça e ainda pagavam o almoço para o então feliz passageiro! Chegaram ao extremo: a viagem era de graça e incluía gratuitamente um almoço e uma cerveja! Quando acabou o dinheiro, meu pai e meu tio pararam de fazer o transporte de passageiros. Só então ficaram sabendo que o concorrente tinha recursos para trabalhar mais uma semana e deveria parar. Esse concorrente tornou-se dono do Expresso de Prata. Muito tempo depois, meu pai estava em condições financeiras desfavoráveis, o dono dessa empresa ofereceu um ônibus de presente para o meu pai, que talvez por brio, não aceitou.
Qual era a marca do ônibus utilizado pelo seu pai nessa época?
Era um Ford, acredito que levava uns 15 passageiros, já era o modelo fechado. Ele teve um ônibus aberto, que fazia o percurso de São Pedro á Brotas, a estrada era muito ruim. Nós a chamávamos de “Gateada”, o motivo desse nome também não sei.
A viagem de São Pedro á Torrinha era feita diariamente?
Era feita uma viagem de ida e volta todos os dias, a estrada era de terra, na serra era bem apedregulhada.
Quando a sua família mudou-se para Piracicaba?
Acredito ser em 1937, eu tinha seis anos na época, viemos morar na Rua Regente Feijó, em frente ao campo do XV de Novembro. Sou quinzista daquele tempo, sempre arrumava um jeitinho de entrar, por ser menor, estando acompanhado eu não pagava e meu pai sempre assistia aos jogos.
Aconteceu uma fatalidade com seu pai em um desses jogos?
Meu pai morreu no campo do XV de Novembro. O jogo era XV de Piracicaba que fez 2 gols e Guarani que marcou 1 gol, o XV ganhou o jogo. Naquele ano, 1978, o Guarani foi campeão brasileiro, no domingo seguinte, dia 3 de setembro de 1978 veio jogar contra o XV em Piracicaba, no término do jogo, meu pai levantou e tornou a sentar-se, morreu naquele instante. Havia um médico presente, que fez tudo que pode, mas não tinha mais como devolver-lhe a vida. A primeira bandeira do XV, meu pai ajudou a comprar e seu caixão foi coberto com ela. Aquele dia eu não estava no campo.
Como quinzista, você guarda muitas lembranças daquela época?
Tenho uma grande saudade daqueles tempos. Lembro-me do goleiro do XV, Eduardo Farah, ficou na memória. Um time muito bom tinha em seu quadro o trio final: Índio, Raul e Renato.
O senhor estudou em que escola?
Estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, havia um respeito muito grande pelo professor. O mais importante, e que hoje acredito existirem bem poucos, eram os professores que nos ensinavam a aprender. Ensinaram que a leitura iria ser importante na minha vida. Sempre gostei de ler. O primeiro livro que li foi Idéias de Jeca Tatu de Monteiro Lobato. Fiquei tão entusiasmado com aquelas histórias, nesse tempo a biblioteca pública ficava na Rua Governador esquina com Rua Prudente de Moraes, onde hoje está o prédio do Cristóvão Colombo, ela passou a emprestar livros para crianças, eu ficava por dois dias com o livro emprestado.
Com quantos anos você começou a trabalhar em uma livraria?
Faltavam dois dias para que eu completasse onze anos. A Livraria Brasil ficava aonde mais tarde veio a ser o Banco do Estado de São Paulo, hoje Santander, quase em frente ao Jornal de Piracicaba. Um fato curioso aconteceu nesse prédio da livraria, eu já não trabalhava mais lá quando isso aconteceu. Durante a construção do prédio do Banco do Estado, o prédio da livraria, que ficava ao lado, caiu. Deu tempo de quem estava dentro da livraria sair correndo. A livraria passou para a Rua Governador. O Hotel Central ficava ao lado da Catedral de Piracicaba. Pegado ao Hotel Central existia o Bar Comercial, era um sobrado muito antigo, na parte superior foi sede da UDN. Tinha baile de carnaval. Naquela época dançávamos ali e no Teatro Santo Estevão, onde no tempo de carnaval havia a Boca do Diabo.
Muitos já falaram a respeito desse baile da Boca do Diabo, mas ninguém contou os detalhes.
As músicas eram executadas por uma orquestra. Quando ia começar o baile de carnaval, o responsável pelo baile dirigia-se ao público dizendo: “-Por favor, se tiver presente aqui alguma moça de família, pedimos que se retire, porque nós não nos responsabilizamos pelo que possa ocorrer.” A coisa era brava! Eu era “freguesão”! . Na verdade, as moças que permaneciam eram moças mais modernas para a época. Se o rapaz começasse com muita graça, tinha alguém que vinha adverti-lo. Era um baile avançado para aqueles tempos. Hoje seria encarado de forma diferente.
Onde hoje existe a Galeria Gianetti, era o que antes?
Era o quintal do Hotel Central. Ainda ao lado da Catedral, do lado esquerdo para quem a vê de frente, hoje existe um barzinho que vende pastel, foi a primeira sede da Viação Piracicabana, começou a trabalhar com os carros Ford 1929. A corrida de um carro de praça, hoje chamado táxi, era coisa de 5 cruzeiros, dentro da cidade. Atílio Gianetti colocou o Ford 1929 cobrando 3 cruzeiros. Foi assim que apareceram o Fordinho número 1, depois o número 2, o número 3. Em seguida ele colocou um carro melhor para levar as noivas ao casamento.
Existia uma fábrica de bebidas chamada Andrade, você a conheceu?
Quanto tempo que eu perdia nessa fábrica! Eu ia entregar encomendas da livraria, quando passava pelo Andrade, situada em frente ao Grupo Moraes Barros, eu ficava contando ás garrafas que estouravam, o sistema de pressão era muito forte, ao ser enchidas muitas das garrafas não agüentavam. E assim eu permanecia pensando: “-Vou esperar estourar mais uma!”.
Quem eram os proprietários da Livraria Brasil?
Eram Francisco Brasil, Paulo Brasil e Ary Brasil. Devo muito a eles, me ensinaram o valor da honestidade. Sempre diziam para mim: “-Se você caminhar pelo caminho da honestidade, ele será longo, mas você nunca irá chegar cansado”. Conheci Thales Castanho de Andrade, era um senhor baixinho, gordinho, muito simpático. Algumas vezes cheguei a atendê-lo na livraria. Um dia eles me deram 5 cruzeiros para abrir uma caderneta na Caixa Econômica. Tive orgulho em ver o meu nome na caderneta! Passei a economizar, juntar papel que a livraria descartava, era na época da guerra, papel dava um bom dinheirinho. Eu morava pegado onde hoje existe a Padaria Assagio. Eu vendia balas no Cinema São José, as balas eram feitas pela Dona Rosa do Amaral. Vendia também amendoim. Isso tudo em um tabuleiro que era dependurado no pescoço por uma correia de couro.
Com isso você aproveitava para ver os filmes?
Eu assistia vinte e poucos filmes por semana! Com os outros baleiros, apostávamos quem lia de trás para frente á legenda, de tanta prática que adquirimos em ver as legendas. Éramos quatro baleiros: Geraldo Pinto Pereira, Antonio de Barros, eu e mais outro, que no momento não me lembro do seu nome. Nós tínhamos o Cine São José voltado ao público popular e o Broadway, que era o cinema dos “granfinos”. Foi no Broadway que alguns estudantes da agronomia soltaram um urubu em plena sessão de cinema, causando grande alvoroço.
Você conheceu uma ex-escrava?
Conheci, era a Nhá Izabé, ela morava bem na esquina das Ruas do Rosário com a Rua XV de Novembro, ao lado do Dispensário dos Pobres. Ela era uma figura muito popular, conhecida na cidade inteira, todos gostavam muito dela. Se não me engano ela ganhou aquela esquina do pai ou do próprio Luiz Dias Gonzaga. Uma das filhas dela, a Conceição, foi empregada do meu avô.
Das muitas lembranças do centro de Piracicaba, algumas são muito marcantes?
A Leiteria Brasileira ficava embaixo do Clube Coronel Barbosa, bem na esquina. Eu passava para ir ali para ir até o correio que ficava na Rua Alferes José Caetano, esquina com a Rua Treze de Maio, onde hoje está instalada a Pizza do Bira. Um dia entrei na Leiteria Brasileira e pedi um café, que custava trinta centavos. Um senhor deve ter achado inusitado para aquela época, um menino tomando café. Disse-me: “-Deixe que eu pago para você!”. Eu gostei da idéia. Quando via o homem lá eu entrava para tomar um café. Ele pagava. Um dia iam servir o meu café quando ele chegou. Perguntei-lhe: “-O senhor quer tomar um café comigo?”. Ao que ele respondeu: “-Hoje vou aceitar o cafézinho seu”. Passei-lhe os 30 centavos e disse-lhe: “-Então o senhor toma o meu porque eu só tenho 30 centavos!”. Aí ele pagou tudo. Do outro lado, onde foi o prédio Comurba, da Rua São José para a Rua Prudente de Moraes, na esquina da Rua São José havia a Garaparia Seleta, logo em seguida era o Chalé do Losso, mais á frente era o depósito Maluf, não sei para qual dos membros da família Maluf pertencia. Era depósito de açúcar preto, o açúcar mascavo, nós pegávamos aquele açúcar de sacos que ás vezes estava furado. O que comíamos de açúcar mascavo! Mais a frente, havia a farmácia que mais tarde passou a chamar-se Farmácia São Paulo. Na Rua Prudente de Moraes esquina coma a Rua Alferes José Caetano havia a Loja da Lua. Em frente á mesma, havia a Farmácia Popular. Eu passava lá, ele me dava uma caixa de Cafiaspirina, que passava a ser a minha bolsa, onde punha meus caderninhos. Quando estava muito velha a caixa, eu pegava outra nova.
Há uma passagem marcante de um natal em sua família?
Eu tinha nove anos de idade. Era véspera de natal. Dois dos meus irmãos, já um pouco maiores do que os demais, já tinham conhecimento da existência de Papai Noel. Fui com eles até uma loja, era um irmão e uma irmã. A minha missão era induzi-los a gostar e querer ganhar o presente mais barato que pudesse encontrar. A nossa situação financeira era muito difícil. Minha mãe havia me incumbido de levá-los até lá, consegui convencer a minha irmãzinha a ganhar uma boneca de pano e para meu irmão um carrinho de madeira. Á noite, umas nove horas, os dois irmãozinhos foram dormir contentes porque iriam ganhar o presente de Papai Noel. Meu pai naquela época tinha caminhão de transportes, ele não havia chegado ainda. Quando ele não conseguia serviço, voltava bravo e sem dinheiro. Aquela noite, com certeza ele deveria chegar bem tarde e as crianças não teriam o presente de Papai Noel. Minha mãe começou a chorar. Ao vê-la assim, sai, fui até a loja, a dona era brava, disse-lhe que a minha mãe estava doente, se ela não poderia dar aquela boneca de pano e o caminhãozinho, para a minha mãe ver, se ela gostasse lhe traria o dinheiro. A loja estava com muitos clientes, preocupada com as vendas a dona embrulhou os dois presentes. Eu cheguei com ele na nossa casa. Minha mãe ficou admirada, perguntou de onde era. Eu disse-lhe que era da francesa. Era a Loja do Francez, ficava quase na esquina da Rua Alferes José Caetano com a Rua Prudente de Moraes, onde mais tarde funcionou o Fórum. Nós morávamos na esquina da Rua São José com a Rua do Rosário, no dia seguinte meu irmãozinho queria brincar com o caminhãozinho, a um quarteirão da loja. Ele ia à direção á loja, eu ficava o dia inteiro tomando conta dele com medo que a dona confiscasse o seu caminhãozinho. Para ir estudar no Moraes Barros eu ia pela Rua Tiradentes, para não passar próximo da loja. Meus coleguinhas me perguntavam por que eu dava aquela volta. Respondia: “É porque eu gosto de andar!”. Sempre me lembrava dessa dívida para com a loja, quando eu tive condições de pagar a loja não existia mais.
Você conheceu a Relojoaria Muller?
Tinha as portas de madeira! O Muller gostava muito de ler, ao entrar na relojoaria, com todas aquelas jóias, relógios expostos, precisava bater palmas para que ele viesse atender. Eu ia entregar encomendas, tinha que bater palmas. Naquela época o ladrão que existia era conhecido de todos, roubava galinhas, ele era conhecido como Peru. Na Paulista eu me lembro quando a partir de onde hoje é a Avenida do Café era plantação de Algodão. Na época do carnaval não era permitida a venda de bebida alcoólica. Um soldado prendeu um homem do sítio, porque ele estava bêbado em cima do cavalo. Isso foi na Rua do Rosário. O soldado vinha puxando o cavalo, para conduzir á cadeia na Rua São José, e o homem em cima do cavalo. Quando chegou à esquina da minha casa o homem tirou o freio do cavalo, o soldado ficou só com a rédea na mão e ele subiu a Rua do Rosário levantando uma poeira só! E a criançada dando vaia no soldado.
O senhor conheceu o Comendador Mário Dedini?
Conheci. Era um homem de uma simpatia muito grande. Na época em que casou a filha dele Dona Anita Dedini com o Ricciardi, fui entregar os convites de casamento que tinham sido feitos em São Paulo. Na Livraria Brasil eu ganhava 60 cruzeiros por mês. Quando entreguei o pacote com os convites, na residência do Comendador Mário Dedini, na Rua Santo Antonio, recebi 60 cruzeiros de gorjeta, quase morri de susto.
Na Livraria Brasil o senhor trabalho por quanto tempo?
Trabalhei por seis anos. Aos dezessete anos de idade pedi a conta, o Brasil me deu mais 500 contos de presente, passei a trabalhar com o meu irmão que já tinha conhecimento na área após 10 anos de trabalho no ramo relojoeiro e de confecções de peças sob encomenda. O dinheiro que nós tínhamos disponíveis era suficiente para comprar as ferramentas essenciais, ou adquiria o laminador, onde é colocado o metal para ser laminado. Compramos na Casa Camargo, que ficava na Rua Governador com a Rua XV de Novembro, mais tarde foi a Casa Siqueira. As primeiras peças que nós fizemos nós conversamos com o motorneiro do bonde para que ele passasse bem devagar, o peso do bonde sobre o trilho laminava o ouro. Um dia 4 gramas de ouro baixo (ouro mais barato) ficaram grudadas na roda do bonde! Ficamos subindo descendo, ia até o Assunção lá em baixo, procurando, Tinha sumido. Quase quebrou a firma naquele dia. Meu tio Miguel Tedesco soube do caso e nos chamou. Disse que comprássemos o laminador, ele emprestaria o dinheiro para nós e devagar nós iríamos pagá-lo.
Na Rua do Rosário, na altura do número 2547 havia uma bomba de gasolina da bandeira Texaco, o senhor lembra-se dela?
Lembro-me sim. Ficava junto á calçada. Lembro-me até da cor, era vermelha. Ficava bem na esquina com a Rua Edgar Conceição. Era de propriedade de José Nassif.
O senhor conheceu Frei Paulo?
Eu tinha de 9 a 10 anos de idade, e os meus coleguinhas iam aprender desenho e pintura, com Frei Paulo de Sorocaba. Pedi que eles conversassem com o frei se eu poderia ir. No outro dia, eles disseram que Frei Paulo tinha dito que eu poderia ir. Fiquei todo feliz porque iria aprender. Quando eles passaram para me chamar, estavam todos de sapato. Eu não tinha sapato, fiquei com vergonha de ir, se eu tivesse ido acho que o Frei Paulo iria cuidar mais de mim do que dos outros.


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