sábado, agosto 25, 2012

BENEDITO AUGUSTO DE MOURA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 11 de agosto de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: BENEDITO AUGUSTO DE MOURA
O professor e engenheiro agrônomo diplomado pela ESALQ- USP é uma entidade cultural. Fluente em diversos idiomas, leitor de obras em suas línguas de origem, obstinado, não se acanha em apenas ser colaborador com artigos, ele também publica seu próprio jornal desde 1991, a Gazeta Regional. Seu amor a cultura transcende valores mensuráveis. Têm inúmeros títulos, obtidos dentro e fora do país. Deu aulas de aperfeiçoamento de línguas para mestres de primeira grandeza. Benedito é possuidor de um currículo invejável, não só pela riqueza do seu conteúdo, mas pela sua diversidade de atuação. A amplitude do seu envolvimento em atividades das mais diversas possíveis, como voluntário em entidades filantrópicas, ativista cultural, a complexidade de suas atuações envolve ser professor acadêmico, Presidente da Liga das Escolas de Samba de Piracicaba, Diretor da Unidos Futebol Clube. Criou passeios de barcos, a PiraPesca, Já participou de filmes educativos. Membro fundador do Centro de Documentação, Cultura e Política Negra de Piracicaba. O seu extenso currículo é coroado pela qualidade dos sábios: a humildade. Nascido No município de Tietê na Fazenda Capuavinha a 18 de junho de 1942, sendo registrado em cartório como nascido a 18 de julho de 1942. Filho de Bento Augusto de Moura e Luiza da Silva Moura. Seu pai exerceu diversas atividades, foi lavrador, agrimensor. Grande parte das propriedades mais antigas da região foram medidas por ele. Ele trabalhava como empreiteiro, a pessoa adquiria uma propriedade no mato, ele limpava a área, construía umas casas e entregava pronto ao proprietário. Seu Bento participou de muitas comemorações de entrega de boiadas a fazendas, quando o fazendeiro roçava uma área e a diversão do pessoal era montar em burros xucros, cavalos, bois. O rodeio da época era uma diversão muito diferente dos existentes hoje. No Horto de Tupi, o pai de Benedito Moura realizou o plantio de muitas árvores. Uma importante contribuição do seu pai foi ajudar o Estado a descobrir a localização regional das minas de calcário na região de Piracicaba, Tietê, ele conhecia isso tudo. Acompanhou um engenheiro designado pelo Estado indicando as áreas mais ricas em calcário. Seu Bento chegou a ser convidado a explorar calcário para ser utilizado na construção de Brasília. Não aceitou por achar que era uma tarefa imprópria a sua idade que já tinha avançado através dos tempos, era um homem nascido em 1894. Sua esposa nasceu em 1910. Os pais de Benedito moraram muitos anos com a família no Bairrinho, onde seu pai cresceu, a sua mãe cresceu na região de Manduca Coelho.
Qual é descendência do seu pai?
Ele era descendente de índios, falava fluentemente tupi-guarani. Tinha dois primos da mesma descendência, eu ainda menino os escutava conversando em tupi-guarani, mas não entendia nada. Ele me dizia: “Se avô foi pego a laço!” A minha avó paterna, Maria Luiza de Jesus, era descendente de europeu com negro. Meu avô paterno chamava-se Augusto Basílio da Cruz. O meu bisavô Belarmino (nome adaptado ao português) veio do norte da Áustria, sul da Alemanha, foi um grande proprietário de terras na região de Cabriúva, próximo a Itu. Uma mostra da sua importância é que minha avó apesar de ser filha de europeu e negro foi aluna do colégio aristocrático de Itu. Isso significa que meu bisavô deveria ter muita importância e muito dinheiro.
Na sua formação genética há diversas origens?
Tenho ascendentes índios, negros e europeus.
Além do senhor quantos filhos o seu pai teve?
Meu pai contraiu núpcias duas vezes, com sua primeira esposa teve quase 10 filhos, dos quais estão vivas apenas duas filhas, após ficar viúvo casou-se com a minha mãe com quem teve mais quase 10 filhos dos quais restam 4 irmãos. Sou o antepenúltimo dos filhos, abaixo de mim tem uma irmã e um irmão. Sou o único filho nascido em Tietê, quando meu pai foi administrar a fazenda de um compadre seu. Voltamos à Piracicaba e fomos morar na esquina da Rua Dr. Edgar Conceição com Rua Benjamin Constant, onde hoje existe a Padaria Apolônio. Dois quarteirões acima havia uma área muito grande pertencente ao meu avô materno Jeremias Correia da Silva casado com Luiza Borba, ele foi um dos primeiros, senão o primeiro, a fabricar doces artesanais. Um pouco mais abaixo na época era em grande parte plantação de algodão, nas imediações mais tarde foi construído o Cine Paulistinha. Até hoje existem muitas pessoas em Piracicaba que eram fregueses do meu avô.
Quais tipos de doces ele produzia?
Eram doces caseiros: goiaba, mamão, marmelo, abacaxi. Eu devia ter uns 10 anos. Quando ele ia entregar os doces para as clientes dele no centro de Piracicaba, ele mandava minha mãe, minhas tias, a cortarem doces e pequenos pedaços e dizia: “ Põe tal quantidade desses pequenos doces, irei encontrar crianças que não tem como comprar doces”. Ele então dava um pedacinho de doce para a criança não passar vontade. Era conhecido no centro da cidade como padrinho. Ele andava o centro todo. Uma das suas freguesas era a família Rodella. Antonio Francisco Rodella estudou comigo na agronomia, sua mãe era cliente do meu avô.

O senhor reside em uma propriedade que foi adquirida pelo seu pai?
Meu avô materno vendeu a área de terras que possuía e doou a cada filho aquilo a que tinham direito. O meu pai com aquele dinheiro adquiriu o terreno onde construiu a casa onde moro atualmente. Cresci na Avenida São Paulo, quando ainda era uma estrada de terra. Passava boiada, era estrada de carroça, carro de boi, vi tudo isso aqui na atual Avenida São Paulo. Na frente da minha casa corria esgoto a céu aberto. Em frente a minha casa era a colônia de casas de uma fazenda, a Fazenda do Ditoca. Na esquina de cima, perto do Posto São Luiz, havia a caixa de água que fornecia água para a fazenda, brinquei dentro dessa caixa d água quando era criança, já não tinha mais água, ele estava vendendo a fazenda. Já não havia mais lavoura, estava uma área meio abandonada. Onde está o Posto São Luiz (em frente ao Bradesco da Avenida São Paulo), era um campinho de futebol, o Bortoleto adquiriu aquela área e construiu o posto. Assisti a abertura da Avenida 23 de Maio, quando os tratores iniciam os trabalhos. Foi uma contenda muito grande entre a família Furlan, proprietária da área, e o então prefeito Luciano Guidotti, lembram-me muito bem quando Luciano Guidotti veio conversar com o Orlando Furlan. Na Avenida São Paulo com a Avenida 23 de Maio era a Chácara do Furlan, ia até a Rua Benjamin Constant. Jardim Esplanada, toda essa área era do Furlan. Luciano Guidotti desapropriou dando origem ao Jardim Esplanada, ali havia um campo de futebol onde joguei bola.
Você era bom de bola?
Quem me conheceu dizia que eu era um bom jogador de futebol, jogava como meia direita. Inclusive treinei no XV de Novembro, não permaneci porque não queria ser profissional de futebol, naquela época não dava dinheiro. Joguei no “Leão da Montanha” na época de Coutinho. Conheci Coutinho antes de ele ir jogar no Santos Futebol Clube. Assim como assisti Waldemar Blatkauskas jogando basquete.
Onde o senhor reside, Avenida São Paulo é Paulista ou Paulicéia?
Nós que crescemos na Paulicéia a divisa entre Paulicéia e Paulista chama-se Rua Benjamin Constant. No sentido centro-bairro, do lado direito é Paulista. Lado esquerdo é Paulicéia.
O Supermercados Brasil divulgou sua loja número 3, ao lado do Posto São Luiz, onde hoje há uma fábrica de salgados, como sendo a unidade Paulista, isso consta em diversos anúncios veiculados na época.
Posso dizer que por onde ando e perguntam-me de onde sou respondo: “-Sou da Paulicéia!” faço questão de frisar. Quando vim morar aqui a cidade terminava na Rua Ingá. Daí para cima era mato. Tinha a igrejinha da Paulicéia. Eu ia à missa lá.
E o Bairro da Coréia onde era?
O nome Coréia apareceu aqui na Paulicéia. Exatamente onde moro. Aqui era a Coréia. O nome Paulicéia já existia há muito tempo antes. Em 1950 existia a Guerra da Coréia, e no bairro da Paulicéia havia muita briga, muita facada, muito crime, muitos tiros, era violentíssimo. Principalmente para quem não morava no bairro. Quem não era do bairro não passava do antigo pontilhão da Paulista, hoje nem tem mais esse pontilhão, foi retirado da Rua Benjamin Constant logo acima da Avenida Dr. Paulo de Moraes.
Por que a Coréia era violenta?
Veio muita gente de fora de Piracicaba para trabalhar na lavoura da cana de açúcar, naquela época trabalhavam cortando cana até as cinco horas da tarde. Eles vinham receber o pagamento após as seis horas da tarde do sábado. Embriagavam-se com aguardente nos botecos existentes no bairro e saia muitas brigas. Por motivos banais. Na Rua Dona Ilidia Bachi havia um arnmazém do Cassieri, já falecido, na esquina de cima havia o armazém da família Ercolin, na Rua Dona Hilda esquina com Rua Fernando Lopes. Eram os armazéns que forneciam alimentaçao para os cortadores de cana, ali é que acertavam as contas. Existiam duas famílias no bairro que deixo de mencionar seus nomes em respeito a seus descentes, mas ambas viviam brigando entre si. Sábado a tarde e no dimingo eram brigas constantes, com o uso de arma branca principalmente. A polícia não vinha na Paulicéia. Tanto que na Paulicéia existia uma pequena cadeia, ficava na esquina da Avenida São Paulo com a Rua Dona Hilda. A polícia vinha de caminhão com 10, 12 a 15 soldados. Um soldado ou dois não andavam na Paulicéia. Apanhavam. A autoridade policial aqui era João Marcelino, ele era o inspetor de quarteirão na época. Meu pai, Bentinho de Moura que era muito respeitado na Paulicéia. Foi assim que surgiu o nome Coréia, diziam: “A Paulicéia é uma Coréia”. Veio para cá o Cabo Trevisan, ele montou a cadeiinha, a polícia permaneceu aqui. Foi assim que a Paulicéia começou a ser apaziguada. Esses fatos aconteceram há mais de meio século.
O que aconteceu com o nome Coréia?
Denominaram Coréia um pedaço de bairro um pouco mais acima, cujos moradores não gostam de divulgar o bairro por essa denominação. É uma denominação pejorativa para quem mora ali. Se você perguntar onde é a Coréia irão dizer que é ali em cima. O povo quer que ali seja denomnado de Nova Paulicéia.
A estrada para Tietê era esse mesmo traçado?
Era. Quando você chega no antigo Posto Menegatti, à direite há a Avenida Laranjal, ela recebeu esse nome porque ali corria o ônibus que ia para a cidade de Laranjal Paulista. Existiam duas estradas, uma ia para Tietê e outra ia para Laranjal.
Você conheceu uma árvore enorme que havia logo na saída de Piracicaba?
Conheci. Era um jequitibá. Não vou dizer extamente onde ficava por não saber quem colocou fogo na árvore. Sei muito bem onde essa árvore estava. Estudei no Grupo João Conceição, ao lado da Igreja dos Frades. Fiz o curso primário lá, quando chegava o Dia da Àrvore, era feita uma caminhada até a Paulicèia para conhecer o jequitibá da Paulicéia. Lembro-me que a professora dizia: “- Essa àrvore tem a idade do descobrimento do Brasil”. Tinha mais de 400 anos, era uma àrvore monsturosa. Como essa árvore era reprsentativa, diz a história que quem doou essa àrea inclusive cercou o acesso a mesma. Um dia alguém colocou fogo nas raízes do jequbá.As especulações a respeito de quem cometeu o ato crimnoso são inumeras, porém nunca apuradas. Eu chgei a ver o jequitibá queimando. A Avenida São Paulo após a Rua Ingá já era estrada.
Aonde era o posto de gasolina mais próximo?
Era o posto de gasolina Cantagalo, na Rua do Rosário.Onde está o depósito de areia escritorios e garagem do Bonato, era prporpriedade da Compamnhia Paulista de Estada de Ferro, ocupado por essa empresa. Ali começava a carregadeira de boi da Cia. Paulista. Quando pequeno ia assistir o embarque e desembarque de boi, começava ali e vinha até a Rua do Rosáriio, onde hoje há um portão e de ferro e um muro impedindo o aceso ao local. Da Avenida Nove de Julho até a Rua do Rosário era para realizar carga e descarga de boi. A Avenida São Paulo era uma estrada de carroça. Como era a Avenida João Conceição.
Conheceu o Rancho Alegre?
Eu estive no lugar quando havia festa. Era um lugar muito bonito. Da Rua Antonio Bacchi já enxergava o Rancho Alegre, bonito. Era uma chácara muito bonita, lá tinha festas, batizados, casamentos. A Rua Ingá assim denominada por ter pés de ingá era a entrada para o Matão hoje Jardim São Paulo. O Itapuã não existia, foi o Pedro Habechian que loteou. Um história curiosa é que no final da Rua Ingá, denominado então Matão, ali morava um professor chamado João, ele descia a pé a Rua Ingá, a Avenida São Paulo e ia dar aulas. Na Paulicéia só havia um carro, que era do Seu Bento Batatinha. Ele tinha um carrinho que funcionava como taxi na Paulicéia, Onibus nem existia no bairro. Tinha muitas carroças. A Avenida São paulo era chamada de estrada de carroças. Onde hoje é a Femaq, toda aquela região era plantação de eucalipto. Orlando Furlan era de Rio das Pedras, onde tinha um engenho de pinga, na Fazenda Pinheirinho. Ele tinha uma visão comercial muito grande, viu aquele mundo de eucalipto e resolveu comprar. O povo admirou-se, imaginava o que aquele homem iria fazer com tanto eucalipto. Era a época em que não existia botijão de gás. Só ricos tinham fogão a gás. Os pobres tinham que sair para pegar lenha. Onde era a chacara em que ele morava, ele instlou uma máquina de cortar eucalipto e um machado mecânico para rachar a lenha, com isso ganharam muito dinheiro. A mulherada não precisava esperar os maridos buscarem paus no meio do mato. Havia um trânsito enorme de carroças que levavam as lenhas produzidas pelo Furlan. Depois que a Paulicéia se acalmou, começou a crescer. Perto do Posto São Jorge houve uma época um posto da Guarda Noturna. Nesses últimos sessenta anos só morei fora da Pulicéia quando trabalhei como agronomo no Paraná, Santa Catarina. A Rua do Rosário terminava na Estação da Paulista. Quem morava na Paulista, acima da estação, só tinha um jeito de ir para o centro, tinha que passar o pontlhão sob a Rua Benjamin, que tinha duas mãos de direção.
Quem subia a Madre Maria Teodoro, ou na época Estrada do Enxofre, como fazia para chegar a Rua do Comércio ou Rua Governador Pedro de Toledo?
Eu só conheço a existência da Rua Benjamin Constant para chegar na Rua do Comércio. conheço a passagem para quem vinha do Anhembi tinha que passar pela Rua Benjamin. Era a única rua que atravesava os trilhos. Os ônibus que iam para Anhembi, Botucatu tinham ponto no Largo São Benedito subiam pela Rua Benjamin Constant. Frequentávamos as missas na Igreja dos Frades, a Avenida São Paulo era barro, lavávamos os pés bem na entrada da Rua Benjamin Constant, onde havia um chafariz, ao lado havia um barbeiro chamado Colina. Calçavamos umas sandálias com sola de borracha de pneu, quem as fazia era um sapateiro chamado Pantaleão. Resolveram asfaltar a Avenida São paulo, como não podia haver transito nesse período, foi assim que nasceu a Avenida João Conceição , que está no Bairro Verde. Do lado do Morlet era a Chácara do Razera, fui buscar muito leite na Chacara do Razera. O bairro da Paulista sempre foi mais chique que o Bairro da Paulicéia. Quando acontecia um crime na Paulista publicavam como se tivesse ocorrido na Paulicéia. Eu tenho orgulho da Paulicéia.
Aqui tinha duas atividades muito conhecidas: futebol e escola de samba?
A escola de samba que ficou famosa aqui foi a que eu fui presidente: “A Imperatriz do Samba”. Fui o primeiro presidente da União das Escolas de Samba de Piracicaba, quando havia 11 escolas de samba em Piracicaba.
Você estudou no Grupo Escolar Dr. João Conceição
Exatamente funcionava ao lado da Igreja do Frades. Lembro-me das professoras Domitila e Verza Filetti. Quando terminei o curso primário fui trabalhar com meu pai na roça, no Bairrinho, plantar milho, feijão. Fiquei até aos 14 anos. Fui estudar no SENAI de onde sai como ajustador mecânico. Fui trabalhar na Mepir, na Rua Riachuelo. Após fazer o SENAI fiquei mais cinco anos trabalhando na Mepir. Sai de lá fui ser vendedor de passagens na rodoviária de Piracicaba. Fui o primeiro funcionário da Viação Monte Alegre, que fazia a linha Piracicaba a Rio das Pedras. Fui fazer o Curso Normal no Instituto Marta Watts. Quando estava terminando o curso, tinha uma moça cuja família me considerava bastante inteligente, a mãe dessa moça disse minha filha vai prestar vestibular, você não quer estudar junto com ela, eu pago o cursinho para você. Naquela época ou você fazia vestibular na agronomia ou odontologia. O exame era feito pela própria ESALQ. Isso foi em 1968. Passei. Entrei na agronomia, foi lá que descobri com o professor Arzola todos os pedidos feitos pelo meu pai, de analise das pedras do Bairrinho, que era calcário.Fui aluno de Guido Ranzani, do Moacir Camponês através de quem fui fazer estágio na Amazônia. Tive como professor Salvador de Toledo Pizza, do Malavolta, Salim Simão. Nakano. Em 1975 me formei. Sai da Esalq empregado. Fui trabalhar na Cooperativa Central Agropecuária do Paraná, em Curitiba. Por motivos familiares voltei para o Bairrinho, fui ser produtor de cana. Iniciei a plantação de soja na região. Passei a ser comerciante de soja. A minha esposa é agrônoma, fazia receitas aplicando soja. Fui criando um mercado.
Em que ano você se casou?
Sou casado com a engenheira agrônoma Ana Lúcia Bottosso de Moura em 18 de fevereiro de 1978 na Igreja Bom Jesus, nos conhecemos na ESALQ. Temos dois filhos e uma filha: Lucas, Bento, Carolina.
Como surgiu a Gazeta Regional?
Gosto muito de ler, leio de tudo Meu pai dizia “- Se você quer saber sobre alguma coisa tem que saber ler, porque alguém já escreveu sobre o que você quer aprender”. Fui diretor de imprensa do Calq. Em novembro de 1991 saiu a primeira edição de “O Regional”, havia um professor da Unimep, descobri que ele tinha inventado em fazer um jornal chamado Gazeta do Bairro Alto. Tirei Gazeta e deixei só Regional. Passou algum tempo encontrei-me com ele e fiquei sabendo que ele tinha abandonado a idéia. Com isso voltei ao nome original “Gazeta Regional”. Começamos semanalmente, fiz uma reestruturação, já cheguei a ter tiragem de 10.000 exemplares. Normalmente a tiragem é de 4.000 exemplares.






sábado, agosto 04, 2012

CELSO DONIZETI MELOTTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 4 de agosto de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: : CELSO DONIZETI MELOTTO
São inúmeros os casos veiculados pela mídia sobre atletas, artistas, políticos, pessoas públicas que deixamos de nominá-los para poupá-los, bem como a seus admiradores, de algum constrangimento ou decepção. Pessoas com alto prestígio, mas que entorpecidos pelo sucesso deixaram-se levar ao sabor dos ventos efêmeros da fama Manter o equilíbrio diante de situações adversas exige elevado grau de maturidade pessoal e profissional, o mesmo acontece quando o indivíduo alcança a fama e o sucesso Celso Melotto é radialista de sucesso, tanto pela qualidade da sua voz como pela simpatia natural que desperta onde passa e pela sua sensatez. Avesso a estrelismo e badalação, encontra no anonimato a paz de espírito que julga ideal. Celso Donizeti Melotto é nascido a 15 de janeiro de 1957 em Piracicaba, na Avenida Barão de Serra Negra, 202 a uma quadra da Praça Imaculada Conceição, a casa existe até hoje. É filho de Oriente Melotto e Guiomar (Zita) Piselli Meloto.
                                    


Qual era a atividade profissional do seu pai?


O meu pai era o que se denominava naquela época de Guarda-Livros, hoje seria chamado de contador. Ele trabalhou na Usina Costa Pinto, na Tatuzinho, quando era ali na Avenida Rui Barbosa, também trabalhei na Tatuzinho como office-boy, quando eu tinha 13 anos meu pai já me levou para trabalhar lá, em vez de ficar sem fazer nada na rua ia fazer alguma coisa de útil. Permaneci por quase sete anos na Tatuzinho.


Você tem irmãos?


Tenho, sou o caçula, acima de mim tem o Dirlei e a Regina. O meu irmão agora que se aposentou tem ajudado junto com o Juliano na parte técnica o Mário Luiz e sua equipe esportiva da Rádio Educadora de Piracicaba.


Você começou seus estudos em que escola?


Foi no Grupo Escolar José Romão. Minha primeira professora foi a Dona Mercedes. Teve também o Seu Regitano, que tinha uma lambreta. Em seguida fui estudar no Colegio Estadual e Escola Normal Monsenhor Jeronimo Gallo, embora o meu avô tenha sido o famoso sanfoneiro Nicola Piseli eu não fiz parte da fanfarra do Gallo. Nicola Piseli gravou vários discos, ele fez homenagem ao Comendador Luciano Guidotti, fez uma valsa chamada Lúcia Cristina. Acredito que trabalho em rádio e gosto dissso por que ele comprou um pequeno gravador e fazia com que eu operasse o gravador. Ele tocava a música, ouvia, procurava aperfeiçoar-se. Sua atividade era entregar bebidas com carrinho de tração animal, isso no tempo em que a Tatuzinho fabricava também refrigerantes.


Após o colégio qual outro curso você fez?


Estudei contabilidade no Colégio Imaculada Conceição, o famoso curso do “Carequinha” na Via Rezende.


Por quê era chamado de “Escola do Carequinha”?


O diretor daquela escola era o Guerino Trevisan, um homem importante na Vila Rezende, teve participação política, ele era bem calvo. Depois ele saiu da escola Dona Angelina assumiu.


Você conheceu o túnel existente sob a Avenida Rui Barbosa que unia os dois prédios da Tatuzinho?


Conheci, o objetivo desse túnel era através de diversos dutos transportar aguardente. Suas dimensões permitiam o acesso as pessoas que davam manutenção. Andei por esse túnel, o cheiro de pinga era muito forte. Na Tatuzinho trabalhei por uns sete anos. Uma curiosidade, na Tatuzinho como a quantidade de motoristas para carregar, pegar a nota fiscal, era muito grande foi instalado um seriço de alto falantes. Eles ficavam na Rui Barbosa, até o Jardim da Vila Resende, com seus caminhões estacionados. Quando ficava pronta a nota fiscal eu anunciava ao microfone: “Atenção senhor fulano de tal, favor retirar a nota fiscal.“ Eu tinha uns 13 anos, usava cabelo comprido, era a moda da época. Lá eu não tinha nenhum recio em falar ao microfone. No rádio era diferente.



Qual foi seu próximo emprego?


Por mais uns sete anos trabalhei na Siderurgica Dedini, na fundição mecanizada, eram peças mais leves, comecei trabalhando no contrôle de qualidade, fazendo anotações, depois passei como encarregado na moldação de peças, que era feito na areia, as peças eram moldadads depois passava para outro setor que fundia as peças. Era um ambiente hostil, com poeira fumaça. Havia uma mistura de areia, argila, betonita. No meu tempo os diretores eram Cinemar Cervellini, Ibrahim Chaim.


Da Dedini você foi trabalhar em rádio?


Sempre gostei de rádio. Ainda trabalhando na Tatuzinho, quando tinha um tempinho saia correndo, conhecia o pessoal da Rádio A Voz Agrícola do Brasil, situada na Rua Moraes Barros, pouco abaixo do Largo Santa Cruz, no tempo do Francisco da Silva Caldeira. Fazia um biquinho de áudio.


Você opera também?


Fiz um tempão a parte técnica, quabrando o galho a noite, fim de semana, sem ganhar nenhuma remuneração.


Rádio é cachaça?


Hoje não é tanto, mas era. Antigamente a pessoa tinha a fissura de trabalhar em rádio porque o radialista era uma pessoa famosa, tinha acesso livre aos artistas.


Você acha que a profissão perdeu muito do seu glamour?


O próprio radialista fez com que essa imagem fosse deteriorada. No meu ponto de vista muita gente deteriorou a imagem do radialista.


Suas incursões na Rádio A Voz Agricola do Brasil foi por volta de que ano?


Isso foi por volta de 1972.


Quando foi a primeira vez em que você falou ao microfone?


O Luiz Carlos Correia estava apresentando um jornal, eu trabalhava como operador, estava sentado ao seu lado, ele pegou uma lauda, me passou e disse-me: “-Vai!”. Eu não consegui falar.Tremi muito e não saia nada. Só que me empolguei, aos poucos fui perdendo o medo, com o tempo fazia uma gravaçãozinha, falava uma outra coisa.


Efetivamente quando você passou a falar ao microfone?


Oficialmente foi na Rádio Difusora de Piracicaba, em 1984, com o programa “Um Toque de Saudade”era apresentado no fim da tarde e início da noite. O programa era gravado na minha casa onde eu tinha equipamento, o Marcos Turola passava pegar o programa pela manhã e reproduzia a tarde. O programa ia pronto, com as músicas, locução, eu cuidava da programação. Basicamente era um programa de Flash Back, saudades.


Estamos falando de fatos ocorridos há mais de 30 anos, Flash Back já fazia sucesso naquela época?


Tanto que apresentei esse programa bastante tempo na Difusora, vim para a Educadora FM 103,1 , atual Jovem Pan, apresentando esse programa também. O Cunha Neto tinha um programana na Difusora, ele saiu eu passei a apresentar ao vivo. Era um programa de variedades, sucessos, atendia ao ouvinte. Era uma rotina gostosa, eu adorova radio, gosto até hoje, não saberia fazer outra coisa. Gosto da parte técnica, da locução, da produção. Não me contento só com a locução. A área de produção de comerciais hoje é toda feita pelo computador, já ensinei muita gente, aprendi sozinho a montar, editar. Acompanhei o desenvolvimento das tecnologias, comecei quando era acetato ainda o comercial, Dante e Américo Martani gravavam no estudio deles. Se mostrar para o pessoal de hoje não irão acreditar.


Hoje você trabalha com tecnologia de ponta?


Temos excelentes softwares, o resultado é surprendentemente superior.


Qual é o melhor software para um amador trabalhar?


O Sound Forge da Sony é um software bem completo, para vídeo uso o Vegas. Há duas décadas nem se pensava nisso, tenho até hoje o meu Akai, guardo com carinho.


Você chegou a pegar o tempo do rádio a válvulas?


Sim. Inclusive mesa de som com válvulas. Lembro-me de uma situação peculiar, na Rádio Avorada, a mesa de som parou de funcionar, o técnico veio para substituir a válvula, elas aquecem muito, ele foi até o banheiro, pegou o rolo de papel higiênico, o centro dele cabia certinho na válvula, ele pegava com o papel higiênico retirava a válvula defeituosa e substituia por outra e a mesa voltava a funcionar. Ele sabia quais eram as válvulas que davam mais problemas e deixava um estoque delas. Eu tive um amplificador a válvulas, até hoje eles são mais eficientes.As respostas tanto no grave como no agudo quem tem um equipamento valvulado valoriza muito. Tem certas frequências que o som digital esconde. Talvez o ouvido humano não perceba. Entre um gravador de rolo (fita) e um digital, no primeiro observa-se mais detalhes. Só que a prticidade do digital não se compara.


Você tem uma discoteca respeitável?


Hoje não tenho mais. Por falta de espaço me desfiz. Em um HD de 1 terabyte você guarda tudo. Até em carro usa-se pen drive, cartão de memória.


Qual sua opinião sobre o pessoal que está cultuando o vinil?


O vinil é a única forma de não ocorrer a pirataria. Depois que apareceu o CD acabou a graça do cantor que vendia o LP. Hoje fazem o show e já dão o CD, torneou-se um brinde, um material promocional do show, da música dele.


O seu nome é muito respeitado na cidade com relação ao trabalho com som, há uma pocura por parte de pessoas que desejam reproduzir algum material de família, obras mais antigas.


Desde quando apareceu o computador, que possibilitou trabalhar o audio, sempe procurei me apefeiçoar, saber das novidades, tecnologias, hoje é possível restaurar tanto audio como vídeo.


No caso de ter um CD riscado é possível recuperar?


No caso do CD depende da profundidade do risco, há um equipamento que é colocado em uma base, faz esse CD ser polido como se fosse uma cera de polir carro, irá eliminar o risco e o CD voltará a produzir normalmente. O reflexo de laser é que faz com que o decodificador interprete como música. Se ele atinge um risco o raio do laser não volta para o lugar certo.


Aualmente você apresenta programa em quais rádios?


Na rádio 92 FM, antiga FM Estância, das 8 horas as 11 horas da manhã apresento sertanejo universitário, e na Rádio Educadora apresento um programa de variedades. O perfil da rádio AM é um público mais adulto.


Você lê uma parábola todo dia?


Leio, começou com mensagens em papel, depois com a internet facilitou muito, e hoje tenho um grande arquivo de parábolas. Me envolvo muito com a mensagem delas. Choro as vezes no final. De tanto que me envolvo esqueço que estou passando a mensagem para o ouvinte.


Os ouvintes comentam a respeito?


Muitos agradecem, há pessoas que dizem que a sua vida mudou. Transformou o modo de pensar, de tratar, de conviver.


Você lançou algum CD dessas parábolas?


São 11 volumes, comercializados pela Lazer Express e A Músical XV. Eu divulgo pouco, mesmo assim teve uma época em que era o CD mais vendido na Laser Express. O primeiro CD gravei em 2001, faço um CD por ano apenas. (ALGUMAS DAS PARÁBOLAS NARRADAS POR CELSO MELOTTO ESTÃO NO: Celso Melotto - Mensagens e Parábolas.wmv You Tube) 



Você é casado?


Sou, com Rosangela Aparecida Martini Melotto. Temos três filhas: Laura, Olívia e Glória.


Existe voz padrão para rádio?


Não. Tem voz para cada estilo de programa. Não é só a voz que importa, mas a forma como é expressa. Não basta ter uma voz bonita, tem que saber usá-la.


O rádio faz com que o ouvinte trabalhe a imaginação?


O mais lindo do rádio é isso, é a magia do rádio. O fato da pessoa poder fechar o olho e imaginar quem está falando. Não acho interessante o ouvinte conhecer quem está falando, isso não é bom para nenhum dos dois. É bom o lucutor estar no estúdio e o ouvinte na casa dele.


O Zé Bettio não se deixava nem fotografar.


Isso é muito importante, para não estragar a magia.


Você tem facilidade de falar em público?


Não muito. Não gosto. Já fiz alguns eventos, mas não gostei da experiência. O Lombardi teria sido tão famoso se aparecesse todo dia na TV?


Você é tímido?


Tímido, tímido! Quando saio da radio torno-me um anônimo. Outra coisa que sempre busquei foi desatrelar a imagem do locutor com a imagem do vendedor de propaganda radiofônica.


Você transmitiu jogos de futebol?


É uma coisa que eu gostaria de ter feito mas nunca fiz. Não fiz reportagem de campo e nem fiz plantão esportivo.


Como você conheceu a sua esposa?


Foi quando entrei na Dedini, ela trabalhava lá também.


Qual seu hobby ?


Música! Gosto de sentar na barranca do rio, sentar e ficar olhando. Não de pescar. Na minha infância inteira pesquei, morava na Brão de Serra Negra, praticamente toda tarde descia no Mirante. Cheguei a andar de bonde. Na esquina da Barão de Serra Negra com a Avenida Rui Barbosa havia o Bar do Botuca, o sobrenome era Rosalem. A minha casa ficava a uns 15 metros da Praça Imaculada Conceição, eu andava descalço, o dia todo na praça. O Padre Luiz Juliani foi padre por um tempo lá. Lembro-me da igreja velha onde fiz minha primeira comunhão. Sábado a noite a praça ficava cheia. Onde é o Hospital dos Plantadores de Cana havia o campo do Central. Logo adiante era um brejo, quando foram construidas aquelas casas próximas onde é o Hospital da Cana o pessoal chamava de Sapolândia. Na Manoel Conceição havia o açougue do Corrente. Como a rua de casa era uma descida íngrime, com cabo de vassoura juntavamos na medida certa do piso feito antigamente, pegava sebo no açougue, pasava no trilho da calçada, o carrinho com cabo de vassoura, se soltava de cima da Barão de Serra Negra e ia até lá embaixo. Pregávamos certinho no vao entre um tipo de ladrilho um cabo de vassoura de cada lado e desciamos. Cheguei a nadar no Rio Piracicba. Pesquei no Rio Piracicaba quando criança, pegava lambari, piava, mandi, era pescador de barranco, não entrava no meio das águas do rio.


O seu programa conserva um alto astral, isso é fruto de alguma reflexão?


É automático! Eu sou de não carregar problemas. Todo mundo tem os seus problemas e por saber disso não vou ser uma pessoa diferente. Dá para conciliar com as horas que pemaneço nas rádios. Posso me isolar dos meus problemas.


Você é religioso?


Sou! Converso com Deus todos os dias. Todos os dias que venho para a rádio passo ao lado da catedral conversando com Deus. Falo com os meus pais que já não estão mais neste plano. Peço proteção. Sempre com o pensamento positivo, não se consegue prosperar na vida pensando negativamente. Pensando e pedindo coisas boas elas vem. Foi pensando assim que estou no lugar em que queria estar. Exatamente o que eu queria para a minha vida é o que tenho hoje.


Dia 1 de agosto é aniversário da Rádio Educadora, voce está aqui a quase 30 anos. Como é trabalhar na Rádio Educadora?


Aqui é a minha casa, conquistei e fui conquistado pela emissora. É dificil viver sem a Educadora hoje, é um lugar que a gente vem com prazer.


Você gravou comerciais veiculados no exterior?


Gravei o “off” de comerciais para a Globo Internacional. São comercias para brasileiros que estão no exterior verem.








FRANCISCO LEMMO NETO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 27 de Julho de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
                               Francisco Lemmo Netto e Francisco, um de seus filhos

ENTREVISTADO:FRANCISCO LEMMO NETO
Francisco Lemmo Neto nasceu em Rio das Pedras a 20 de outubro de 1952, filho de Gaetano Lemmo e Maria Capato Lemmo. Seu pai veio para o Brasil em 1925, do sul da Itália, de Maratea Porto província de Potenza.Veio para ficar junto ao seu tio-avô Horácio Limongi nascido em 1898, na mesma cidade de Maratea que chegou a Rio das Pedras em 1914, a Primeira Guerra Mundial estava para ser deflagrada quando ele decidiu vir para o Brasil. Veio com recursos fornecidos pela família. Em Rio das Pedras, na Rua Rangel Pestana havia um casal de italianos que residiam e tinham uma padaria onde ele permaneceu. Ao final de 1914 esse casal vendeu a padaria para Horácio Limongi e mudaram-se para São Paulo. Essa padaria funcionou até a década de 80. Era conhecida como Padaria Limongi ou Padaria do Seu Horácio. A 1 de julho de 1917 ele montou a Indústria de Refrigerantes Limongi situada na Rua Rangel Pestana, 336, a primeira indústria de Rio das Pedras, dia 1 de julho de 2012 a indústria completou 95 anos. No início fabricava gengibirra e itubaina, licores. As fórmulas ele trouxe da Itália. Desde 1917 foi depositário da Companhia Antártica Paulista permanecendo com a família até 1998, por 81 anos ininterruptos foram distribuidores, um dos mais antigos do Brasil. Horácio Limongi casou-se com Maria Cristina Vassalo Limongi, não tiveram filhos. Francisco Lemmo e Maria Limongi são avós de Francisco Lemmo Neto.

                                           Vistas panoramicas de Maratea (Itália)


Naquela época como ele conseguia o gás carbônico utilizado para gaseificar o refrigerante?


INDÚSTRIAS LIMONGI - Em seu início.
No início ele produzia de forma artesanal, em um processo muito lento e trabalhoso. Logo passou a adquirir da Usina Capuava, vinha em cilindros. Ele recebeu uma placa como primeiro cliente de gás carbônico da Usina Capuava. As garrafas eram lavadas manualmente com chumbinho para arma de pressão. O engarrafamento era feito uma a uma, com a pessoa trabalhando em pé. Essa indústria permaneceu com a nossa família até 2003. Em 1918 ele passou a produzir também macarrão, no rótulo vinha escrito: “Grande Fábrica de Macarrão Lucânia”, Lucânia era a região de onde ele veio da Itália. A fábrica de macarrão funcionou até a década de 80. Era produzido o macarrão cortadinho e o cortadão, tinha os números 1,2,3 e 4 que era o talharim.Era feito macarrão com ovos. Ele ainda montou um moinho de beneficiamento de arroz. No início da década de 20 passou a produzir sorvete e gelo, os motores vieram da Inglaterra, as máquinas em sua maioria eram importadas. As barras de gelo pesavam 15 e 30 quilos.


A linha de bebidas incluía diversos produtos?


Incluía cacau, aniz, fernet, quinado, capilé, groselha. O gengibre era amassado em um pilão de bronze para fazer o conhaque.


O senhor ajudava na fábrica?


Desde menino, com sete anos, ajudava a colocar selos nas tampas das garrafas.


Qual era a marca da pinga?


“Caninha Capuava”. Foi a primeira pinga de Rio das Pedras a ter registro no INPI Instituto Nacional de Propriedade Industrial na década de 40. Fazíamos vinagre de álcool. Eram produzidas as cervejas pretas “Maltina” e “Malvina”. A cerveja foi produzida nos anos 20 até a década de 50, não cheguei a experimentar por ser criança, mas quem a tomou disse que era muito boa. A distribuição de pães pela cidade era feita com carrinho de tração animal com um baú fechado. No período da Segunda Guerra Mundial meu avô conseguia farinha de trigo com o Moinho Santista, o pão era racionado, eram distribuídas duas bengalas por família, ficava um policial na porta da padaria para impedir qualquer tumulto.


As entregas com o tempo passaram a ser feitas com caminhão?


O primeiro caminhão com a placa estampando o nome “Rio das Pedras” foi de propriedade da nossa família. Era um Ford. Vinha muita mercadoria pelo trem. A Antártica mandava barris de madeira com cerveja, caixas de bebidas eram de madeira. As cervejas vinham em caixas de madeira com palha para não quebrar. Cada caixa comportava quatro dúzias de cerveja. Na época não tinha padaria em Saltinho, o Borsatto por muito tempo ia fazer as entregas de pães, bebidas tudo com carrinho de tração animal, isso na década de 20, 30. Saia de Rio das Pedras cedo e voltava a noite. Os tipos de pães eram a bengala, pão d água, pão de dedo, era um pão em formato de mão com os dedos. Cheguei a ajudar a fazer pão. Eu ia buscar cachaça na Fazenda do João Basilio e Miguel Saliba, com um caminhão Chevrolet, que tinha um tanque de madeira de 6.200 litros, chegava a fazer nove viagens por dia. Na fábrica de sorvetes as vezes faziam fila para tomar sorvete, o meu preferido era o de coco, que vinha com pedacinhos de coco.


Quem da família foi um dos fundadores da primeira usina de Rio das Pedras, a Usina Boa Jesus?


Gaetano Lemmo foi um dos acionistas fundadores, isso por volta de 1951. Foi um dos sócios fundadores do Clube de Campo de Rio das Pedras.


Horácio Limongi realizou obras sociais para a cidade de Rio das Pedras?


Foi um dos grandes financiadores para a construção do Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo onde foi presidente e diretor por muitos anos, como presidente ele doou o hospital para a Mitra Diocesana de Piracicaba, foi buscar as irmãs e o Padre Aloísio Beranger no Rio de Janeiro para assumirem o hospital, conservo até hoje uma cópia da escritura de doação na presença do bispo Dom Aniger Francisco Maria Melillo. Horácio Limongi foi membro da construção da igreja matriz, sempre trabalhou como voluntário, sem nenhuma remuneração.Ele foi sócio fundador da “Sociedade Italiana de Beneficência Pátria e Lavoro Rio das Pedras” fundada em 1924, no período da Segunda Guerra Mundial passou a denominar-se Sociedade Cultural Riopedrense. Nessa época os rádios que eles tinham foram apreendidos. Um fato curioso é que havia em Rio das Pedras pessoas que lutaram na Primeira Guerra e recebiam pensão do governo italiano, Horacio Limongi era membro da Rede Consular Honorária, era o agente consular, o cônsul italiano mandava o dinheiro vindo da Itália e ele fazia o pagamento das pensões em Rio das Pedras. Eu era menino quando por diversas vezes fui com ele entregar esses pagamentos. Ele chegou a receber do governo italiano o título de Cônsul Honorário. Foi Presidente da Irmandade do Santíssimo Sacramento, a mais antiga irmandade de Rio das Pedras, fundada em torno de 1905. Dom Aniger, Dom Ernesto de Paula, vinham com freqüência almoçar aos domingos na casa do meu avô. Fui coroinha, na época do Padre Ivo Vigorito, do Monsenhor Cecílio Coury. Era “matraqueiro”, tocava a matraca na Semana Santa, uma das paradas da Verônica era na fábrica, descendo a Rangel Pestana, bem na parte onde tem um vitrô grande, ali enfeitavam. Fui muitas vezes levar capilé, groselha, no Palácio Episcopal, que ficava em frente ao antigo Estádio do XV de Novembro. Era menino, ia com o motorista e o caminhão da empresa.


Horácio Limongi tocava algum instrumento?


Não, mas gostava muito de música, de bandas, nas festas religiosas ele trazia a Banda de Salto que era muito famosa, assim como a Banda de Itu. Era festeiro, trazia, dava o almoço para todos aqueles músicos. Ele ajudou bastante a Corporação Musical Santa Cecília, na época do Maestro Denizart. Era muito amigo de Antenor Cortelazzi. Nas suas voltas de idas a Europa o Seu Antenor fazia questão de ir com a banda tocar em frente a sua casa. Inclusive Antenor Cortelazzi esteve a passeio com ele em Maratea.


Por que Horácio Limongi decidiu morar em Rio das Pedras?


Já havia alguns parentes residindo na região. Ele gostou do lugar e aqui permaneceu. Um de seus irmãos, Aquilino Limongi fixou-se em Itu, outro irmão Brás Limongi fixou-se em Rafard. O Paschoal Limongi morava na Fazenda Lagoa, em Rio das Pedras. Horácio veio no último navio que saiu de Nápoles antes de iniciar a Primeira Guerra Mundial.


De Rio das Pedras a Piracicaba era estrada de terra?


Era sim, a melhor opção era ir a Piracicaba de trem. Fui muito à São Paulo pela Estrada de Ferro Sorocabana, em Mairinque havia a baldeação. De Rio das Pedras â São Paulo demorava umas cinco horas de viagem, se desse tudo certo, se atrasasse, a viagem poderia demorar sete ou oito horas. A linha do trem cruzava a cidade, onde foi a Padaria Cristal e hoje funciona uma escola, havia uma porteira para impedir o trânsito quando o trem passava. Tinha o bar da família Rodrigues, ao lado um açougue e depois a casa do Joca.
                                         Anéis de latão que eram trocados por alianças de ouro;
Lembro-me da campanha “Dei Ouro Para o Bem do Brasil”, onde muitos doaram alianças de ouro e recebiam um anel de latão com esses dizeres acima, isso foi na década de 60. A Rua Prudente de Moraes era calçada com paralelepípedo, existia a Rua Torta e a Rua das Cabras, onde hoje existe a Padaria Moinho Verde. Ainda menino pescava cascudo, cará, no Ribeirão Tijuco Preto, enfiava a mão na toca, era um ribeirão limpo. Às vezes saia com as pernas cheias de sanguessuga. Tinha que esconder essas travessuras do meu pai,


O senhor chegou a ir até a cidade natal de Horacio Limongi e Gaetano Lemmo?


Conheci Maratea, tem o segundo maior Cristo Redentor do mundo, o primeiro é o do Rio de Janeiro. São Brás está seputado em Maratea. Mantemos contato com os parentes que moram em Maratea.


Como era a relação entre Horácio e outros industriais italianos da região?


Ele tinha muita amizade com o Comendador Mário Dedini, inclusive a primeira caldeira que ele adquiriu para a fábrica foi fornecida pelo Mário Dedini.Era muito amigo de Babico Carmignani, assim como Primo Schincariol. Ele conheceu o Conde Matarazzo, conversavam muito, o Conde Matarazzo nasceu em Castellabate, perto de Maratea. Ele adquiria produtos do Matarazzo para vender na nossa região. Havia uma boa relação entre os italianos. Meu avô era assinante e correspondente do jornal Fanfulla que existe desde 1893. A casa era grande, era normal ter sempre alguns parentes visitando. Um fato interessante é que a padaria assava gratuitamente quitutes feitos no período das festas de fim de ano. Traziam 50 a 60 frangos, 10 a 12 leitoas, teve um ano em que foram assados 150 frangos e 25 leitoas. Entre todas as atividades o total de funcionários chegava a uns 50, o que para a época representava bastante em uma cidade que era bem menor. Alguns funcionários que trabalharam mais de 50 anos conosco ainda se lembram daquela época, o José Valdemar Sturion é um deles.


Em que anos faleceram Horácio e Gaetano?


Horácio faleceu em fevereiro de 1989 e Gaetano em novembro de 2002.


Como eles viam toda as transformações ocorridas?








Eles adoravam, tinham orgulho do que realizaram, na década de 60 Horácio Limongi recebeu o título de cidadão riopedrense. O prefeito na época era Alvaro João Bianchin, o presidente da câmara era Valério Silveira Martins. Um fato curioso e histórico é que Horácio Limongi foi convidado pela Diocese de Campinas, na época Piracicaba ainda não era diocese, para representar Rio das Pedras na inauguração do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, em 12 de outubro de 1931.


O senhor tem quantos filhos?


Sou casado com Vera Helena Aparecida Guion Lemmo, temos três filhos: Francisco, Horácio e Mário.


O senhor praticava esportes?


Fui integrante da equipe de atletismo de Piracicaba, o salto triplo era o meu forte. Fiz parte de uma equipe de mergulho que existia em Rio das Pedras, chamava-se MAR Mergulho Autonomo Riopedrense, isso nas decadas de 70 e 80, mergulhava em Angra dos Reis. Entre outros faziam parte do grupo Sérgio Abreu, Dinho Penatti. Por vários anos fui presidente do “Gremio Recreativo e Escola de Samba Opus 6” o mestre de bateria era o Carlos (Carlão) Pontes, ele era mestre de bateria da Zoom–Zoom de Piracicaba, na década de 70. Existiam outros blocos como o “Sortidão”, que era do pessoal dos Cortelazzi, Furlan, a minha esposa participava do bloco “Equichamego”, do Bonassa era o “Risoleta”. O nosso era bloco quando ia para o clube e escola de samba quando ia para a rua. Saía da fábrica as 5 horas da tarde, pegava o material e o pessoal e ia ensaiar no Clube de Campo ou ao lado do casarão do Marino. As famílias participavam. Só na bateria tinha mais de 100 elementos, no total tinhamos uns 200 integrantes, desfilavamos na Rua Prudente de Moraes. Era uma outra época, o povo era muito animado.


Primeira corrida oficial de Interlagos

Copersucar o primeiro carro Fórmula 1 fabricado no Brasil
Como o senhor vê Rio das Pedras hoje?


Quando saia conhecia todo mundo, parecia uma grande família, hoje o contato é com poucas pessoas, ficou uma coisa meio distante. O povo está mais fechado, retraido, se conversa menos, todo mundo correndo. Antes saíamos mais, todos eramos muito unidos. Na época de carnaval, assim como íamos assistir as corridas de Fórmula 1, desde a primeira em 1971, quando ainda não era oficial, assisti a mais de 20 corridas. Cheguei a ver o Coopersucar, primeiro carro de Fórmula 1 brasileiro. Íamos juntos, Sérgio Abreu, Dinho Penatti, Zuim, Luis Leite, Sérgio Caporalli. O narrador era Geraldo José de Almeida, que antecedeu Galvão Bueno.


O senhor costuma levantar-se a que horas?


As 4 horas e 23 minutos da manhã, levanto-me exatamente nesse horário ha mais de 30 anos.
















sexta-feira, julho 20, 2012

RONAN BATISTA BORGES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 21 de julho de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO:RONAN BATISTA BORGES
Do alto de seus quase 87 anos de vida Ronan Batista Borges comanda a administração da Pousada Nossa Senhora Aparecida em Águas de São Pedro. Extremamente ativo, vai às compras dos insumos necessários, está sempre atento ao mínimo detalhe. Seus hóspedes tornam-se seus amigos. Poucos imaginam sua trajetória de vida, a batalha que travou para conquistar seu lugar ao sol. Muitas pedras usadas para fazer a segunda pista do Aeroporto de Congonhas em São Paulo, foram transportadas por ele com seu caminhão, o fornecedor era o lendário Vicente Matheus que ficou muito conhecido como presidente do Corinthians. No então terreno em frente ao Aeroporto de Congonhas havia uma criação de suínos brancos. Não existia a Avenida 23 de Maio. Como taxista Ronan rodava 300 quilômetros por dia dentro de São Paulo, alimentava-se com sanduíches, ou às vezes ia comer no Gato Que Ri, um restaurante que saciou a fome de muita gente com comida boa e barata, hoje é um restaurante com clientela mais sofisticada. Ronan recorda-se do tempo em que existiam bondes em São Paulo. A malha viária da cidade era em boa parte chão de terra. Ronan Batista Borges nasceu a 24 de agosto de 1925 em Alterosa, foi registrado em Alfenas onde existia cartório. São seus pais João Olímpio e Ana Vitória dos Santos que tiveram 15 filhos. Seu sobrenome Borges foi herdado do seu avô paterno. Ronan casou-se com Julieta Alves Borges.

Qual era a atividade profissional do pai do senhor?

Ele era sitiante, procurava morar na cidade para que os filhos tivessem a oportunidade de estudar. Ele negociava creme de leite, despachava para a cidade de Casa Branca. Até 13 anos trabalhei na agricultura, estudei no Instituto Nossa Senhora Aparecida, de Campo do Meio e na Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas.
 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas
 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

                                     Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas.




Em Alfenas o senhor trabalhou?

Trabalhei no Clube XV de Alfenas, tinha 17 anos, lá permaneci por uns dois anos. Ao sair de lá montei um pequeno comércio em Monte Belo. Não satisfeito em 1945 decidi ir para São Paulo, hospedei-me na casa de uma prima na Penha, peguei o bonde na Rua Cantareira e desci na Penha, dirigi-me até a Rua Senador Godoi. Comecei a trabalhar na Nitroquímica Brasileira em São Miguel Paulista, era um serviço de muito risco para a saúde, trabalhava na produção, com sulfato de alumínio .Tinha que tomar muito leite para evitar intoxicação. Sai daquele emprego e fui trabalhar na Casa Casoy situada na Rua Barão de Duprat, onde costurava maletas escolares para uso infantil, lá mesmo aprendi a costurar com máquina indústrial. Em seguida com 21 para 22 anos trabalhei na Alves Azevedo Importadora e Exportadora, onde permaneci até casar com quase 23 anos. O forte da empresa era a Manteiga Viaduto, Àgua Prata e bebidas estrangeiras.

Como o senhor conheceu a sua futura esposa?

Eu a conheci em Minas Gerais, a família dela era conhecida da nossa família, fui passear em Minas, passamos a conversar, namorar e dentro de seis meses nos casamos. Aluguei uma casa no bairro da Penha em São Paulo onde fomos morar após casarmos. Por um período permaneci trabalhando na Alves Azevedo. Saí de lá e montei um bar em São Miguel Paulista. Após uns quatro anos com o bar resolvi mudar para Mato Grosso, na divisa próximo a Dracena. Por um ano e meio tive umaa pensão. Morei em Dracena, vim para São Paulo, voltei para Minas Gerais e acabei voltando para a Penha em São Paulo. Em Minas eu tinha um onibus Chevrolet fabricado em 1946 depois troquei por um outro ônibus Chevrolet 1950, conhecido como “Boca de Sapo”, fazia a linha de Areado para Alfenas, fazia uma viagem por dia, a distância era de uns quarenta quilometros entre uma cidade e outra, passava pelos sítios em estrada rural. Vendi o ônibus e vim para São Paulo onde comprei um caminhão Dodge 1951 transportava pédra da pedreira de propriedade de Vicente Matheus para a cidade de São Paulo. Transportei paralelepipedo para calçar a Rua do Grito, levei pedra britada para a segunda pista do Aeroporto de Congonhas, ainda não existia a Avenida 23 de Maio, para chegar lá era tudo estrada de terra. Saia de Guaianazes, passava pela Vila Formosa, tinha cerca de arame no Cemitério da Vila Formosa, passava pela Vila Carrão, Água Rasa, saia na Avenida do Estado perto do Ipiranga. Em frente ao Aeroporto de Congonhas, ao lado de onde hoje é a Avenida 23 de Maio havia um criame de porcos brancos, grandes. Fiquei com o caminhão uns três anos, vendi e fui trabalhar com um pequeno armazém na Penha. Como a renda era pequena, fui trabalhar como taxista.Quando cheguei em São Paulo tinha apenas dois viadutos: O Santa Ifigênia e o Viaduto do Chá. Depois fizeram o Viaduto do Gasômetro no Largo da Concórdia, antes existia uma porteira para barrar o trânsito e deixar o trem passar. Depois começou a ter viadutos. 
                         Elevado Presidente Costa e Silva, conhecido popularmente como "Minhocão".

 Paulo Maluf fez o Minhocão que é uma via elevada sobre a passando sobre a Rua Amaral Gurgel, a Avenida São João e a sua continuação a Avenida General Olímpio da Silveira. Na década de 50 a Rua da Consolação era estreita, com muitas casas, pouco comércio e algumas pensões no trajeto. Vi fazer a Avenida Rio Branco, plantarem as árvores. Eu trabalhava na Alves Azevedo que ficava na Rua Aurora, 60.
Localizado no número 100 da Rua Aurora passou a existir o Bar do Leo, famoso pelo seu chope, tinha um café muito bom, um dos atendentes era o Alarico.
                                          Caminhão Dodge 1951

Qual foi o seu primeiro carro, usado para trabalhar como taxista?

Comecei com um Chevrolet 1947 preto,

depois passei para um DKW “saia e blusa”, era assim chamado por ser verde claro com branco no teto,



trabalhei com Volks, com Corcel I, meu ponto de taxi era na Penha. Chegava a trabalhar até 16 horas por dia.

Quais as lembranças que o senhor guarda do DKW?

Por ser motor dois tempos as vezes era meio ruim de faze-lo funcionar. A porta dianteira abria no sentido contrario, era a chamada “porta assassina”. Era um bom carro. O Corcel I foi um carro muito bom, eu comprei um novo, zero quilometro.

Como era suas refeições?

Comia lanches, as vezes ia na Rua do Arouche, no Gato Que Ri, naquele tempo era muito frequentado por motoristas, era um lugar para matar a fome.

A classe dos motoristas de taxi era bem vista na época?

Não era não. Se fosse a uma oficina consertar o carro os mecanicos não gostavam muito, as vezes a pessoa não tinha dinheiro para pagar o conserto. Eu fui diferente ( Seu Ronan sorri satisfeito).

O senhor transportou pessoas famosas?

Devo ter transportado, eu não as conhecia. Eder Jofre pegou meu taxi, desceu na Rua Frei Caneca, ele estava com um menino, acho que tinha chegado do exterior, assim que ele desceu o próximo passageiro disse-me: “- O Eder Jofre veio no seu carro!” Disse-lhe: “Não sei.” Ao que ele afirmou: “É o Eder Jofre sim!”. As vezes pegava turistas estrangeiros, eles tinham o endereço de destino escrito, mostravam e eu os levava. Eu já morava em Águas de São Pedro quando fui para a Europa com a minha esposa. Ela ficou em Portugal, eu segui até Milão, de San Remo fui à Paris de trem, em seguida fui à Bruxelas. Fui sem guia, sem falar a lingua desses países. Em Bruxelas fiquei no seminário dos premonstratenses. O Cônego Márcio faleceu em nossa casa, nós cuidávamos dele, e eu disse-lhe que iria até Bruxelas, como de fato fui.

Como taxista o sehor foi sempre muito discreto.

Eu procurava fazer o meu trabalho, não conversava se o passageiro não se manifestasse, não ligava o rádio com passageiro dentro do carro, sempre procurei me comportar como civilizado. Teve um outro caso marcante, peqguei uma passageira na rodoviária, e levei ao Jardim Europa, na Rua Dinamarca,160. A passageira desceu, ela era de Ourinhos, prossegui no meu trabalho, apanhei um passageiro para o Tucuruvi, quando ele entrou disse-me: “ Tem uma mala aqui!”. Disse-lhe que era da minha irmã, guardei a mala no porta-malas do carro após o pasageiro descer. Voltei para a Rua Diamarca, não conseguia achar a rua, girei muito fiquei preocupado em ficar rondando o bairro a noite, a qualquer momento poderia ser abordado pela polícia se alguém achasse estranho. Fui embora. No dia seguinte a minha preocupação era procurar a dona da mala. Fui até a farmácia do Seu Nestor, disse-lhe que precisava telefonar com alguém na residência situada na Rua Dinamarca,160. Procuramos na lista telefônica, achamos e telefonamos. Falei pelo telefone com o dono da casa, Seu Brito. Ele era da Rádio Record. Ele disse-me que a mulher dona da mala estava hospitalizada, tinha passado mal por perder a mala onde estavam seus documentos e bastante dinheiro. Era uma maleta de cromo alemão. Levei a mala, ele ficou muito contente, queria que eu fosse contar a história na Rádio Record. Agradeci o convite mas disse-lhe que não achava conveniente. Perguntou-me se tinha filhos na escola, respondi-lhe que tinha três. Ele então deu-me 15 unidades monetárias (cruzeiros ou moeda da época), era um valor significativo para comprar material escolar para as crianças. Vivi momentos maravilhosos. Levei o escrivão do catório para o Silvio Santos assinar uns documentos. Ele não ria tanto como na televisão, mas é uma pessoa especial.

O senhor torce por algum time de futebol?

Torço para o São Paulo. Em 1946 fui assistir um jogo no Estádio Pacaembu, era novo, cobravam quinhentos réis na acústica e um mil réis na lateral, foi lá que vi Leonidas jogar.

Quantos filhos o senhor e sua esposa tiveram?

Tivemos nove filhos: José Roberto e Maria da Glória são gemeos, nasceram dia 10 de janeiro de 1950, nasceram aos sete meses de gestação, tanto eu como minha espôsa não tinhamos experiência, íamos ainda comprar o enxoval, com o auxilio da parteira nasceu o menino e 25 minutos depois nasceu uma menina. Nós não sabíamos que iriam nascer dois filhos, achavamos que era apenas uma criança. Naquela época os recursos eram escassos. Os dois estão vivos, com 62 anos, ele nasceu com um quilo e trezentos gramas e ela com um quilo e duzentos gramas, foram para a maternidade Leonor Mendes de Barros, no Belenzinho, era nova essa maternidade.
                                    Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros
 Dona Leonor nos deu muito apoio, foi quem solicitou uma estufa emprestada com a Cruz Azul. Conheci Dona Leonor assim como o Governador Adhemar de Barros. Depois nasceu a nossa filha Ana Lúcia, Edna Aparecida, Luiz Carlos (já falecido), Paulo Cesar, Fátima, Ronan de Alencar, e o Júlio Cesar. Tenho 23 netos e 8 bisnetos.

Quando o senhor chegou, havia algum plano de mudar-se para Águas de São Pedro?

Não tinha planos para nos estabelecermos aqui, foi por acaso. Viemos no dia 2 de novembro de 1972, eu, minha esposa e duas irmãs. Minha espôsa sofria muitas dores reumáticas, indicaram o médico Dr. Arlindo Genarri como especialista da doença. Ele recomendou que deveria vir para Águas de São Pedro, fazer um tratamento aqui que ficaria bem. Foi o que nós fizemos, de fato minha esposa sentiu-se melhor e queria ficar aqui. Tinha uma pensão à venda, minha irmã Francisca dos Reis estava junto, disse-me: “- Pode arrendar a pensão que eu trabalho para que sua esposa faça o tratamento”. Por cinco anos fui arrendatário. Em 1977 adquirimos a pensão. Passou a ser a Pousada Nossa Senhora Aparecida. Atualmente comporta 60 hóspedes.

Quanto tempo faz que a esposa do senhor faleceu?

Faz seis anos, um mês e um dia. Guardo a saudade e o respeito, lutamos juntos. Hoje administro a pousada, vejo se tem que fazer alguma manutenção, faço as compras. Pela idade e saúde que tenho só posso agradecer a Deus.

O filho do senhor é prefeito em Águas de São Pedro, como é ser pai de um prefeito?

É uma responsabilidade que você nem imagina. É bom, fico contente em ver que ele chegou a esse ponto. Os pais se preocupam se a administração é boa ou não. Me preocupo até em estacionar um carro na rua, não posso “queimar” a faixa senão irão dizer: “É pai do prefeito pode fazer isso”. Não pode. Tem as coisas maravilhosas, fui com o meu filho Paulo até o Palácio dos Bandeirantes, o governador Geraldo Alckmin disse-me: “Filho como esse é orgulho para o pai.” Os pais tem amor igual por todos os filhos, as vezes um não faz o que o pai deseja, talvez não o satisfaça muito, mas o amor a gente tem.

Como o senhor se sentiu em sair de uma cidade enorme como São Paulo e vir morar em uma cidade pacata?

Em Águas de São Pedro o povo procura viver em harmonia e tratar bem o turista. Naquele tempo era mais pacata ainda. Só tinha um médico na cidade, Dr. Ângelo Nogueira Vila. Mudei de cidade, mas mantive o ritmo de trabalho que levava em São Paulo, cheguei até a trabalhar como servente de pedreiro na construção da minha casa.

A cadeia tem algum preso?

Não existe, se alguém for preso é levado para a cidade de São Pedro.

Na opinião do senhor hoje o povo está melhor?

Está melhor, por exemplo, pelo número de veículos existentes são poucos acidentes que acontecem. O próprio veículo evoluiu muito, antes tinha carro que ficava sem freio, pneu que estourava com facilidade. O povo está entendendo como é que tem que ser.

O ser humano em suas relações de amizades mudou?

Mudou. O povo não tem tempo para conversar, se conhecerem.

Do que o senhor sente saudades?

Saudades de quando era criança, a vida de andar a cavalo, tinha um cavalo pampa vermelho e branco. Mamãe fazia gemada de ovo caipira, punha vinho Adriano Ramos Pinto que papai comprava de caixa e gostava de dar uma garrafa para as mulheres que tinham tido nenê. Dizia: “-Tome um calicezinho todo dia!”. Papai comprava caixa de bacalhau, era baratinho. Tenho saudades da reunião dos irmãos na casa dos meus pais que também se mudaram para São Paulo.

















































































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