sábado, março 23, 2013

EDIRLEY RODRIGUES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 16 de março de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: EDIRLEY RODRIGUES

Edirley Tereziano Duarte Rodrigues é conhecido nos meios de comunicação de Piracicaba e região como Edirley Rodrigues. Nascido a 28 de maio de 1950 em Piracicaba na Rua XV de Novembro a um quarteirão e meio da Rua do Porto. Do lado direito no sentido do centro para a Rua do Porto. Filho primogênito de Teresiano (com “s”) Rodrigues Pereira e Margarida Maria Duarte Pereira que ainda tiveram os filhos Fátima, que por muitos anos trabalhou em “O Diário” e era carinhosamente chamada por “Fátinha”, Flávio e Hilda. O pai de Edirley era motorista, trabalhou com ônibus, foi funcionário do Frigorífico Piracicaba, ele se aposentou como motorista da linha de ônibus circular de Piracicaba. Edirley é casado com Rosa Maria Municelli Rodrigues, Depois que se casou foi morar na Vila Resende. Quando menor, estudava e foi gráfico. Naquela época existiam em Piracicaba muitas tipografias famosas e o profissional era muito requisitado e valorizado. Já adulto conciliou no início da sua vida como jornalista (Diário de Piracicaba) e o trabalho como bancário. Nos anos 70, foi levado pelo amigo, jornalista e quinzista Delphin Ferreira da Rocha Netto, para a A Gazeta Esportiva e Rádio Pan Americana (Jovem Pan). Fez teste como redator e produtor, foi aprovado. Na Gazeta foi correspondente credenciado durante quatro anos. Não quis naquela época residir em São Paulo por razões familiares. Sua dedicação era pelo Diário de Piracicaba e Difusora. Duarte Filho lhe abriu as portas da vida profissional (rádio e jornal) e Sebastião Ferraz (diretor do Diário de Piracicaba) aconselhado por Duarte Filho e lhe deu o primeiro emprego como jornalista.


Você se lembra de ainda menino ter acompanhando seu pai no trabalho com o ônibus ou com o caminhão frigorífico?


Nunca. Naquela época os procedimentos eram mais rígidos, o meu pai era extremamente profissional. Ele entregava carne nos açougues de Piracicaba e região, nunca ele me convidou para acompanhá-lo nas entregas. Era comum o filho querer estar com o pai na cabine do caminhão. Ele sempre me ensinou a separar a vida profissional da vida pessoal. Minha mãe sempre foi do lar, está viva até hoje, com 88 anos, em suas plenas faculdades. Ela lembra-se de todas as datas, quando surge alguma dúvida sobre aniversário de alguém, seja quem for, da família, vizinhos.


O curso primário você realizou onde?


Estudei ao lado de onde nasci no Grupo Escolar "Francisca de Castro". (O Decreto 36.183,de 27 de janeiro de 1960 dá o nome de "Francisca Elisa da Silva" ao Grupo Escolar "Francisca de Castro"). Minha primeira professora foi Da. Maria Rodrigues Alves, meu primeiro diretor foi o Professor Joaquim Mello de Lara, ele morava na Rua Ipiranga. Tive as ainda as professoras Da. Alice, Da. Zaira Jordão e no quarto ano a professora Da. Elza Romano, falecida recentemente, ela morava na Rua São José esquina com a Avenida Armando Salles de Oliveira. Eu tinha o habito de todo dia 15 de outubro, Dia do Professor, telefonar-lhe ou visitá-la. Ela frequentava a Catedral de Santo Antonio.


Em que escola você prosseguiu seus estudos?


Estudei no curso preparatório para exame de admissão situado no Largo Santa Cruz, ministrado pela Dona Falzoni. Cursava de manhã o quarto ano no Grupo Escolar Barão do Rio Branco com o professor Izar. A tarde estudava no curso preparatório. Enquanto morei com meus pais sempre residi na região da Rua do Porto, a minha infância foi na Rua do Porto, embora não saiba nadar, nunca entrei nas águas do Rio Piracicaba, foi no Rio Piracicaba, no Clube de Regatas de Piracicaba, no Jardim da Cadeia, também chamado de Praça do Gavião, onde se situa a Pinacoteca Municipal Depois fui morar na Rua Moraes Barros. Já mais adulto morei com os meus pais na Rua Madre Cecília, próximo a Igreja dos Frades. Fui estudar no Colégio Estadual Monsenhor Jerônimo Gallo quando ele foi inaugurado. O prédio do Jerônimo Gallo não estava pronto, por uns seis meses nós ficamos nas instalações do Grupo Escola José Romão. O professor Helly de Campos Melges era o nosso diretor, um amigo, educador, pai, era tudo isso para o aluno. Criou a famosa fanfarra do Jerônimo Gallo, fez questão que todos nós desfilássemos usando traje banco. Tivemos as famosas fanfarras do: Jerônimo Gallo, Dom Bosco e a do Colégio Industrial que se tornou um modelo e tinha o comando do professor Danilo Sancinetti. Fiz o curso colegial na Escola Industrial "Coronel Fernando Febeliano da Costa”. Um dos professores com quem me identifiquei muito foi o professor Faganello, assim como o professor Lineu Cardoso. A professora Joana Falanghe, de matemática. O sonho de muitos garotos era sair de um curso primário e ingressar em uma escola como Jerônimo Gallo, Sud Menucci, Dom Bosco. Era difícil, o ensino era de primeiríssima qualidade. Lembro-me que morava na Rua Madre Cecília e fui a pé até o Jerônimo Gallo para ver se o meu nome estava na lista dos aprovados. Não havia a publicação dos aprovados em jornais, rádio, internet.Quando vi que o meu nome constava da lista dos aprovados fui em um cantinho e chorei muito.


Você participa de alguma religião?


Sou católico, apostólico, romano, praticante, com muito orgulho. Apesar de não freqüentar muito a Igreja dos Frades, eu gostava de ir lá, havia as festas, o futebol de salão. Freqüentávamos as quadras do Colégio Piracicabano que ficava na Rua do Rosário com entrada em frente a Rua Dom.Pedro II. Aonde mais convivi, fiz a minha primeira comunhão onde segui a minha educação religiosa, foi na catedral, tempo do monsenhor Francisco Michele. Em minha vida sempre gostei de participar de tudo, era curioso. Gostava muito de jogar bola e ver jogo de futebol. Eu gostava muito de cinema, ia durante a semana, sábado, domingo. Na época havia os cinemas: Palácio (Mais tarde Rívoli, ficava entre a Rua XV de Novembro e a Rua Rangel Pestana, onde hoje há uma igreja, Colonial, na Rua Benjamin Constant quase esquina com a Rua Prudente de Moraes, onde atualmente funciona uma igreja, Politeama que ficava na Praça José Bonifácio, onde hoje é parte do estacionamento do Bradesco, o Broadway, na Rua São José entre a Rua Alferes José Caetano e Praça José Bonifácio, o São José situado na Rua São José entre a Praça José Bonifácio e Rua Governador Pedro de Toledo, no bairro da Paulista, na Rua Benjamin Constant havia o Paulistinha, em cujo prédio funciona uma oficina de freios de automóveis. Assisti filmes inclusive no Plaza que ficava no Comurba (Edifício Luiz de Queiroz) que desabou, era um cinema luxuoso, glamoroso.Até hoje gosto de assistir filmes, só que com a facilidade de assistir filmes em casa acaba se acomodando. Acho importante ir ao cinema, quebra-se a rotina.


A sua vocação pela área de comunicação quando se manifestou?


Desde criança, aos oito ou deis anos meu sonho era ser jornalista e radialista. Não passava em meus anseios nenhuma outra profissão. Duas tias, a Josefa, conhecida como Zezé, já falecida e a Benedita que está viva, ambas quando me encontravam diziam que eu iria ser radialista. Eu brincava de narrar futebol, achava bonita a magia do rádio. Eu admirava como aquela voz que saía do rádio na época usava válvulas para funcionar. Eu achava um encanto aquilo ali. Ser radialista era um sonho que eu tinha. O jornalismo era uma vocação que eu tinha. Aos 10 para 12 anos passei a entregar “O Diário de Piracicaba”, cujo diretor era Sebastião Ferraz. O chefe da seção de entrega era o Seu Antonio. Quem me trouxe ao “O Diário” foi um primo, o Moisés Aparecido Romano. Eu chegava às 4 horas da madrugada para iniciar a entrega do jornal, meu objetivo era estar junto ao jornal, começar, entregar jornal para mim era um detalhe. Eu estava junto com o pessoal que fazia o jornal, encontrava um pretexto para estar ali. Eu trabalhava no Diário, era um “faz de tudo”, tinha um determinado salário, aos 19 a 20 anos eu já estava dentro da redação. Um dia eu estava sozinho na redação do Diário, era o horário de transmissão do programa “A Voz do Brasil”, dás 19 ás 20 horas. Os que iam jantar já tinham ido embora, quem viria a noite iria chegar as 19:30 a 20 horas. Eu ficava sozinho, para receber anúncios, notícias, atender telefones. Um dia Pedro Natividade, que fazia seleção de funcionários para o Lélio Ferrari, entregou um anúncio, o Supermercados Brasil precisava de um gerente. Começamos a conversar, o Pedro disse-me que eu parecia ser um menino inteligente, vivo, se não queria me candidatar ao cargo. Quando ele me falou o salário no dia seguinte fui até o Supermercados Brasil, onde permaneci por uns bons anos. Comecei no Supermercados Brasil da Rua Governador, situado entre a Rua XV de Novembro e Rua Moraes Barros, fui gerente ali. Depois inauguramos a loja no bairro São Dimas, cheguei a ser gerente geral. Em minha passagem pela Rede de Supermercados Brasil, como gerente eu cresci pessoalmente e profissionalmente graças ao relacionamento com o público e funcionários. Aprendi o valor da palavra paciência e a administrar crises e egos. Foi na Rede de Supermercados Brasil que conheci Luiz Antonio Bandeira na época gerente geral, pai do vereador André Bandeira. Lélio Ferrari faleceu, em uma quarta feira de manhã eu deixei de trabalhar no Supermercados Brasil, disse para a minha mãe que iria descansar um pouco e ver o que iria fazer. Fui para Santos, me hospedei no Hotel Avenida, aprendi a ficar ali por ser o lugar onde o XV de Novembro concentrava. Fui para ficar uma semana. A noite tinha um recado, Ary Pedroso da Rádio Difusora, conseguiu saber com a minha mãe onde eu estava. Telefonei-lhe, foi quando ele me disse: “- Retorne que você irá trabalhar conosco na Rádio Difusora”. Fiquei mais uns dois ou três dias em Santos. Voltei, foi quando nasceu a minha vida no rádio.


Você conviveu e convive com profissionais de peso na mídia de Piracicaba.


Sempre tive o privilégio de trabalhar com grandes nomes do rádio e jornal piracicabanos. Pessoas que eram consideradas referências em suas atividades. Minha referência no comércio foi Lélio Ferrari. No esporte foi Romeu Ítalo Rípoli, de quem guardo uma frase: “Valorize sempre o lado positivo da pessoa”. No jornalismo Sebastião Ferraz que me ensinou o profissionalismo de um jornalista, Cecílio Elias Neto com quem aprendi muito. Lembro-me que Sebastião Ferraz alertou-me da importância da dedicação incondicional ao jornalismo. A notícia não tem hora. Quem me levou para a redação de “O Diário” foi Nadir Blumer Pereira que me apresentou à Miguel Célio Hipólito cujo pseudônimo era Duarte Filho, era chefe do departamento de esportes de ”O Diário”, trabalhava como radialista na Rádio A Voz Agrícola e era funcionário da ESALQ. Naquela época todos nós tínhamos dois ou três empregos. À noite dedicávamos ao rádio ou ao jornal. Trabalhei no comércio, fui bancário, trabalhei no Banco Auxiliar, funcionava ao lado da catedral, onde hoje é um restaurante. Prestei um concurso e entrei no Banco da América que ficava na Rua Governador esquina com a Rua Moraes Barros. Pouco depois o Banco Itaú comprou o Banco da América, ficou banco Itaú-América. O Duarte Filho deixou a redação para se candidatar a vereador e me indicou para assumir sua função em O Diário. Sebastião Ferraz a principio me achava muito jovem para ocupar a função, mas acabou aceitando. Permaneci no Diário por muitos anos, fazia toda a parte de esporte, de todas as modalidades de esportes. Os jornais de Piracicaba sempre deram destaque para o XV de Piracicaba, o basquete naquela época era fortíssimo, o futebol amador era muito forte, muito bom, competitivo. Eu gostava de entrevistar todo mundo. Queria saber para que time o Comendador Mário Dedini torcia, entrevistei o Comendador Antonio Romano, Comendador Humberto D’ Abronzo. Eu queria conhecer as pessoas que se destacavam em suas atividades. Com isso conheci muitas pessoas.


O que você começou fazendo na Rádio Difusora?


Na Difusora aprendi muito com muitos (como na redação do Diário de Piracicaba. Devo minha entrada na emissora a: José Roberto Soave, Luiz Gonzaga Hercoton e Ary de Camargo Pedroso. Posso dizer que lá fui muito feliz.


Você chegou a ter programas na Rádio Difusora?


Tive entre eles o “Prefixo Jovem” das 23 horas até a 1 hora da manhã. Era a época da Jovem Guarda, tinha uma grande audiência, até hoje encontro com casais que nem conheço, eles param perto de mim e começam a cantar musicas que foram prefixos do programa dizendo: “Naquela época namorávamos e ouvíamos o seu programa”. Era um tempo em que não havia rádio FM. Quando escolhi esse horário o José Roberto Soave e o Luiz Hercotom me questionaram. Disse-lhes que nesse horário os estudantes estavam saindo das aulas, iria fazer rádio para a jovem guarda.


Como você conheceu Roberto Morais?


Vi Roberto Morais iniciar carreira de radialista e depois político. Um radialista apaixonado pelo que faz. Pensávamos exatamente iguais, por isso deu certo. Um político consciente da sua responsabilidade. A sua seriedade com o trabalho e a lealdade com o eleitor, mais carisma e humildade o levou a sucessivos mandatos. Hoje, um político admirado e respeitado. Eu e o Roberto Morais trabalhos juntos há mais de 30 anos. Construímos uma amizade baseada em lealdade na Difusora e por isso encaramos o desafio da Onda Livre AM deixando a Difusora em 2008 depois de três décadas. Meu grande desafio profissional foi aceitar ir para a Rádio Onda Livre AM. Lourenço Tayar convidou Roberto Morais que me levou junto.


Como explicar o prestígio e a audiência da Rádio Onda Livre AM ?


Uma meta foi traçada. Um objetivo foi definido. Meta: uma empresa sólida alicerçada pela credibilidade. Objetivo: audiência indiscutível baseada na qualidade. Lourenço Tayar é um mestre. Basta observar o que ele fez com a Onda Livre FM e a Gazeta de Piracicaba colocando-os na liderança. Um empresário com habilidade diferenciada. Sabe selecionar gente, montar equipes e as deixa agir com absoluta independência. Tínhamos a certeza de que não seria diferente com a rádio AM.


Mas, o sucesso foi rápido


Observamos prioridades. Havia necessidade de deixar claro o nosso compromisso com o ouvinte, oferecendo-lhe muita informação e prestação de serviço. Priorizamos esporte e jornalismo. Precisávamos recuperar a imagem do rádio AM, desgastado por causa da sua estagnação. Terceira prioridade: valorização do produto. Você encontra camisa por vários preços, só que uma é completamente diferente da outra. A diferença está na qualidade. Nosso compromisso com o cliente é exatamente a relação de confiabilidade. Ele precisa acreditar que seu dinheiro é bem aplicado. Temos a obrigação de lhe dar retorno.
















sexta-feira, março 08, 2013

BRAHMA KUMARIS - JOANA D'ARC FILETTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 09 de maço de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADA: BRAHMA KUMARIS - JOANA D'ARC FILETTO
A Organização Brahma Kumaris desde o seu princípio trabalha na restauração dos valores humanos individuais e coletivos. Atualmente conta com 7000 escolas em 130 países. A sede principal fica na Índia, a sede em Londres representa o Ocidente, há uma sede em Nova Iorque para as Américas. No Brasil desenvolve suas atividades desde 1979, sendo a sede nacional em São Paulo. Em Piracicaba a coordenadora de um grupo de professores é Joana D`Arc Filetto, natural de Franca, onde nasceu a 25 de outubro de 1960. Seus pais são Plácido Filetto e Antonia de Oliveira Filetto, professores, tiveram os filhos: Joana, Isabel Cristina, Sandra e Plácido Henrique. Joana estudou até a oitava série no Colégio Jesus Maria José em Franca. A seguir fez o Curso Técnico em Enfermagem. Em 1980 iniciou o curso de Psicologia na PUC em Campinas, formando-se em 1984. Nesse período morou em um pensionato.
A senhora iniciou suas atividades como psicóloga em que localidade?
Foi em Campinas mesmo, atuando sempre na área clínica e educacional. Tinha meu consultório e trabalhava em uma instituição infantil na vizinha cidade de Valinhos. Permaneci trabalhando em Campinas até 2005. Hoje trabalho em Piracicaba em uma instituição infantil que abriga crianças em situação de risco e tenho meu consultório.


Como a senhora conheceu a Brahma Kumaris?


Foi algo bastante interessante, no início do ano de 1990 eu estava nessa busca para o entendimento mais profundo de quem eu sou, pesquisando, lendo, entrei em contato com o nome Raja Yoga. Em agosto de 1991 iniciei o curso de Meditação Raja Yoga em Campinas onde existe uma escola como a que hoje temos em Piracicaba.


O que é a Brahma Kumaris?


É uma organização não-governamental cuja sede mundial fica na Índia, no Estado do Rajastão, em um vilarejo chamado Monte Abu. A Brahma Kumaris iniciou os trabalhos no aspecto de resgatar os valores humanos em 1936. Na Índia ela é conhecida como Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris, seu fundador é Prajapita Brahma por isso o nome Brahma Kumaris, no início havia muitas mulheres que participavam das atividades eram conhecidas como Filhas de Brahma. A palavra Kumaris significa filhas. Desde 1937 a Brahma Kumaris desenvolve projetos, atividades, com o intuito de despertar essa consciência para os valores humanos que atualmente estão invertidos. A encontrar a paz, a felicidade, o amor. O curso que nós temos de meditação Raja Yoga visa essa consciência, o entendimento de quem eu sou como funciono, qual é a minha dinâmica interna, para resgatar esses aspectos positivos do ser. A meditação é a ferramenta que nós usamos para fortalecer esses aspectos, esses valores e qualidades do ser humano.


Qual era a formação do fundador Prajapita Brahma ?


Ele era um joalheiro. Na Índia quando as pessoas atingem a idade de 60 anos aposentam-se, vão viver em ashram, locais onde se dedicam à espiritualidade. Foi o que aconteceu com Prajapita Brahma, ele passou a visualizar um mundo melhor, uma visão de uma grande transformação que estaria acontecendo no mundo. Ele aprofundou-se querendo saber o que era isso. Faz parte da cultura indiana, ter alguém que representa essa espiritualidade, que são os gurus.


É uma religião?


A Brama Kumaris não é considerada uma religião, mas se eu pegar o sentido da palavra religião da mesma forma que digo “faço isso religiosamente”, ou seja, com uma regularidade, uma freqüência, ai poderá ser assim chamada. Temos aulas todos os dias, praticamos a meditação todos os dias em horários específicos. Não é considerada uma entidade religiosa no sentido de religiosidade praticada por templos e igrejas. O fundador não é um religioso, não é guru, é alguém que passou seus ensinamentos, nós desenvolvemos essa consciência, a palavra yoga significa lembrança, então é “eu me lembrar de quem eu sou para poder me conectar com uma fonte maior que podemos chamar de “Sol Espiritual”, “Ser Supremo”, “Deus”. Temos um quadro com um ponto de luz que é essa representação. Eu sou esse ponto de luz, esse ser consciente, e Deus, essa alma suprema também é. Só que nós somos seres separados, individuais.


A Instituição acredita em Deus?


Sim. O que nós entendemos é que eu, você, enquanto esse ser espiritual, esse ser é uma energia metafísica, que não conseguimos ver, mas podemos sentir, perceber. É essa energia que pensa, sente. Eu sou eterna. A alma, esse ser consciente que pode ser chamado de “self” (si mesmo), pode ser chamado de “eu interior”, é uma energia.


Qual é a diferença entre alma e espírito?


Não colocamos como diferentes, mas sim como sinônimos. Cada um de nós é essa energia viva, um ser espiritual, um ser consciente. Se não existisse esse ser em meu corpo não estaríamos conversando agora. O corpo é simplesmente um veículo através do qual posso me expressar, eu como sendo esse ser. Então vejo através dos olhos, ouço através dos ouvidos, uso minhas mãos para realizar alguma tarefa. Essa energia fora do corpo o torna sem vida.


Qual é a importância do olhar?


Os olhos são como a janela da alma. O que estou sentindo, experimentando internamente eu expresso através do olhar. Se tenho a consciência de que sou esse ser pacífico, amoroso, esse sentimento é transmitido principalmente através dos olhos. A meditação que fazemos é com os olhos abertos.


Há um fundamento científico?


Todo esse conhecimento e experiência que nós temos hoje são percebidos que há avanços na ciência e no estudo dessa questão do pensamento, do aspecto dessa energia, a física quântica está bem avançada nesse processo. No inicio, quando se começou a falar que não sou o corpo, mas esse ser espiritual foi muito pela fé. Mesmo quando entrei em contato com o Raja Yoga senti que foi muito mais pela fé. Eu queria entender quem eu era não conseguia aceitar que o ser humano é ao mesmo tempo bom e ruim, ao mesmo tempo positivo e negativo. A essência é positiva.


Isso significa que o indivíduo desenvolve seu lado ruim?


Pelo fato dele se distanciar dessa consciência, de quem ele é, esse individuo esquece que é paz, amor, verdade. Ele passa a buscar isso fora dele, desenvolvendo o que é chamado de negatividade. Pelo fato da paz ter sido enfraquecida é desenvolvida a raiva. Não é a raiva, o medo que existem. É a falta de base, do amor, que o leva a experimentar essas negatividades, mas ele não é essa fraqueza, essa negatividade. A ausência de luz é a escuridão. Ao acender a luz ela é dissipada. Se a essência de cada um for resgatada deixa-se de experimentar a violência, a tristeza. A essência é positiva, se eu for ao encontro do meu estado original as negatividades enfraquecem. Eu não estou a busca de tristeza, raiva, pelo contrário. E por que fazemos isso? Porque essa é a nossa natureza.


Em todas as camadas sociais a humanidade passa por muitas infelicidades, onde está a raiz da questão?


A palavra espiritualidade está vinculada ao espiritual, eu sou o espírito, sou a alma. Tudo que se refere a esse ser a alma é espiritual, ele é eterno, imortal, amoroso. A alma é eterna, é uma energia. Não é criada e nem destruída, sempre irá existir.


E quando ocorre o óbito de um ser humano?


O Ser espiritual deixa aquele corpo, aquele veículo, irá dar vida em outro corpo. Sempre na forma humana, pode dar vida à um corpo masculino ou feminino.


Nesse aspecto há alguma semelhança com o espiritismo?


Os espíritas também falam disso, essa questão de nascer e renascer.


Vocês têm algum embasamento para crer nesses fatos?


Entendemos que existe uma lei espiritual, que é a lei do karma. Às vezes pessoas ou crianças trazem uma bagagem, a pergunta é porque isso? Entendemos que vem de experiências e vivências anteriores que essa alma teve e que nesse nascimento expressa com mais facilidade. Pode ser facilidade com línguas, música, dança.


Um espírito que realiza o mal ao renascer irá sofrer as conseqüências da sua vida anterior?


A palavra karma significa ação. De acordo com a Lei de Newton A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade. As ações positivas que pratico trarão retorno positivo. As ações negativas trarão retorno negativo. Em sua essência toda alma é positiva. O entendimento dessa lei faz com que possamos entender os porquês. Por que estou aqui? Nada acontece por acaso e eu sou responsável. Não é o outro que é responsável pelo que estou sentindo. Essa lei nos coloca na situação: “Eu sou responsável pelo que estou experimentando hoje”. O que estou experimentando hoje é fruto do meu passado recente, passado mais remoto, passado de outras vidas. O que experimento hoje é fruto do nascimento atual assim como de nascimentos anteriores.


Isso explica a empatia ou antipatia imediata ao conhecer alguma pessoa?


Em algum momento da minha existência eu já tive contato com essa alma, em outro papel, outro corpo, isso ocorre também com lugares.


Quando foi fundada a Brahma Kumaris em Piracicaba?


Este ano está completando 32 anos, quem trouxe para Piracicaba foi Ida Meirelles, ela conheceu a Brahma Kumaris em São Paulo, iniciou em sua casa, formando grupos de pessoas interessadas.


O ciclo de nascimento e renascimento é infinito?


É eterno.


Qual é o objetivo?


Como ser eterno a alma originalmente não residia aqui no mundo físico, residia no que chamamos de mundo das almas que pode ser chamado de céu, nirvana, é o local de residência das almas, esses minúsculos pontos de luz. É um lugar de silêncio e paz. Não existe matéria para que o som aconteça. Ali a alma permanece em estado de latência, como uma semente que precisa ser plantada na terra para surgir a árvore e possa colher o fruto que você deseja. A alma, esse ser vivo, vem para o mundo físico e entra em um corpo. O mundo físico que conhecemos a Terra, todos os planetas, a natureza, é como se fosse um imenso palco onde cada um de nós somos os atores. Saímos desse lar e viemos para esse grande palco para desempenhar os nossos papéis. Estamos desempenhando-os nascimento após nascimento. Vamos criando contas positivas e negativas. Para voltar tenho que retornar da forma que vim, sem nenhuma negatividade. Imagine crianças brincando na rua, o pai está para chegar a mãe diz: “-Vamos tomar banho rápido, o pai está chegando e está na hora do jantar!”. As almas saíram do mundo das almas, saíram da companhia do pai e da mãe, que é a alma suprema, e vieram para cá. Tanto que a população cresce e as almas não retornam para o lar, permanecem no plano físico. Vai ter o momento da transformação no universo, no planeta e nos próprios seres humanos, já está ocorrendo essa transformação. As almas irão retornar para o mundo das almas. Se eu promover essa transformação interna de uma maneira consciente retorno sem experimentar sofrimento, estou consciente e me empenhando para me transformar. Sei que não sou um ser triste, irei me empenhar para resgatar a felicidade em mim. Esse é o nosso objetivo aqui, promover a autotransformação através do autoconhecimento.


Como é vista a afirmação de que nascemos com pecado original?


Entendemos que pecado são as nossas fraquezas, nossas negatividades. O nosso estado original são os aspectos positivos. O açúcar é doce, e será assim sempre. Se você fizer uma limonada ele irá agregar a doçura, o açúcar sempre será doce. O sal sempre é salgado. A alma é eternamente esse ser bom, generoso, pacífico, cooperativo. Isso é natural. A alma vem plena do mundo das almas, no contato com a matéria ela vai usando a sua energia, como uma bateria irá gastando energia, chega um momento em que ela enfraquece, é quando surgem as negatividades, as fraquezas. Fui usando a minha energia ao longo da minha existência desde quando estou no mundo físico, eu já existia como ponto de luz. À medida que a consciência de alma é enfraquecida passo a desenvolver a consciência corpórea. Identifico-me com os papéis que represento com o que faço o que tenho. Aí começo a desenvolver as negatividades como apego, ganância, arrogância, isso que nós entendemos como sendo pecado. Se experimento tristeza é um pecado. Se eu dou tristeza também é um pecado. A alma originalmente não é assim.


Nós temos que nos dar alegrias?


A minha natureza é essa, assim como o açúcar é doce, eu alma sou pacifica, amorosa, feliz, sou a verdade, sou humilde, pura. As negatividades foram adquiridas com o passar do tempo, nesse nosso processo de nascer e renascer. Imagine um diamante, com sua crosta que tem que ser removida para conhecer o diamante e seu valor. Esse ser espiritual, a alma, é o diamante, só que em volta dele tem toda essa crosta de negatividade. Com a ajuda do Pai Supremo é preciso remover essa crosta para o diamante aparecer, esse Ser de luz, essa consciência de que eu sou essa essência e não o que está ao meu redor, que fui acumulando, eu não sou aquela negatividade. Posso estar triste, estar com raiva, mas não sou isso.


No momento a depressão parecer acometer um número significativo de pessoas, como a senhora vê essa situação?


Entendo que a depressão vem de muitas perdas: de pessoas queridas, trabalho, da própria identidade. A primeira perda que a alma sofre é a identidade.


A senhora já esteve na Índia?


Já fui por várias vezes, geralmente permaneço de 20 a 25 dias. Lá temos uma rotina diária: pela manhã a meditação inicial, em seguida aulas. Participamos de workshops relacionados a aspectos do conhecimento espiritual. Participamos de reuniões relacionadas a aspectos da própria organização, principalmente por fazer parte do papel que tenho aqui em Piracicaba. Também participamos de atividades recreativas, programas culturais.


Qual é o idioma usado nessas ocasiões?


É o híndi, que é traduzido para o inglês e do inglês traduzido para outras nacionalidades das pessoas presentes.


Os homens ou as mulheres são predominantes no Brahma Kumaris?


Existem mais mulheres. Famílias, crianças, também freqüentam só que estas tem uma programação especial voltada para elas. A partir de seis a sete anos, se tiver uma noção de leitura a criança pode fazer o curso, idêntico ao dos adultos só que com outra didática.


Qual é a duração das atividades?


Pela manhã de uma hora e quinze minutos a uma hora e trinta minutos, a parir das seis horas da manhã. Para freqüentar essas aulas matinais é necessário fazer o curso introdutório, a meditação Raja Yoga, com duração de oito aulas. São duas aulas por semana à noite, ou então três sábados. Se a pessoa quiser continuar tem as aulas de espiritualidade prática, que tem o objetivo da pessoa ter a experiência da meditação. A meditação Raja Yoga significa criar pensamentos positivos, elevados, relacionados ao ser para conectar com a Alma Suprema. As aulas de espiritualidade prática são duas vezes por semana á noite na quarta feira, a partir das 19 horas e no sábado a tarde, às 16 horas com duração de uma hora e meia cada aula. Se a pessoa quiser continuar se aprofundando existe um curso intermediário que irá preparar o aluno para as aulas matinais ministradas todos os dias.


Esses cursos são pagos?


Não. A Brahma Kumaris é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos. As atividades são mantidas através das contribuições espontâneas dos alunos que a freqüentam.


São muitos os freqüentadores da Brahma Kumaris em Piracicaba?


Entendemos que não é todo mundo que talvez esteja em um processo de mudança. Posso gostar achar bom, experimentar o benefício de vir às palestras. Freqüentar um workshop, traz um conhecimento, um refrescamento. Empenhar em uma mudança profunda são poucos que o fazem. Implicam em mudanças de hábitos, padrões, pensamentos, crenças, é despojar de tudo que você acreditou que era e que de fato você não é. Envolve a questão de basear sua identidade em nome, status, cultura, nacionalidade. Estou desempenhando um papel, sou o ator, não sou o papel e nem dono do teatro. Terminou a peça volto para casa. É essa consciência que precisa não só ser experimentada, mas desenvolvida. Apesar da Brahma Kumaris estar em Piracicaba há mais de trinta anos muitas pessoas não a conhecem. No dia 30 de abril de 2013 iremos receber a visita de uma indiana que atualmente reside na África, será no período da noite, a entrada é franca. Quando foi a celebração dos 30 anos recebemos a visita da coordenadora da Brahma Kumaris na América com a presença de umas 1.300 pessoas.


A organização tem participação ativa junto a comunidade?


Além das atividades regulares, temos trabalhos feitos em presídio feminino e trabalhos na Fundação Casa. No ano passado iniciamos a campanha “Escolha a Calma”, eu faço as escolhas, posso escolher ficar irritado ou ser calmo, temos que usar a nossa capacidade de racionar para fazer as escolhas corretas com base nesse entendimento do meu estado original, só sabendo disso é que posso fazer a minha escolha. Houve uma participação muito grande em conjunto com outras entidades.


É interessante salientar que não é uma postura passiva ou amorfa.


Você não reprime nada. Se eu ficar com raiva não irei reprimi-la e sim ter o entendimento de quem eu sou. A doença não é natural, todo ser é saudável, poderá tornar-se doente por descuido, por uma questão karmica, o retorno de alguma coisa que não cuidei. O estado original do nosso corpo não é a doença, seu funcionamento é para ser saudável.


A senhora é vegetariana?


A dieta vegetariana é o principio da não violência, se eu entendo esse princípio não consumo nenhum tipo de carne animal.










sexta-feira, março 01, 2013

MILTON BUZETTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado, 02 de março de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: MILTON BUZETTO


Piracicaba é uma cidade que gerou e continua gerando grandes nomes em todos os campos de atuação: artistas, esportistas, políticos, empresários, cientistas, profissionais liberais. Alguns permanecem em nossa cidade, outros buscam novos horizontes. Com o passar do tempo muitos retornam à terra natal. Trazem consigo uma grande bagagem de experiências e deixam por onde passaram além de saudades o nome de Piracicaba. Milton Buzetto é um desses piracicabanos. Tornou-se estrela de primeira grandeza no futebol, conviveu com grandes nomes do esporte.
Nascido em Piracicaba a 14 de novembro de 1937, filho de Francisco Buzetto e Elídia Bovi Buzetto. Seu pai tinha uma lenhadora situada na Rua Treze de Maio entre a Rua Luiz de Queiroz e a Rua Vergueiro.
Essa lenhadora situava-se muito próxima ao centro da cidade.
Naquela época o fogão a gás não era tão difundido, o mais comum era usar o fogão a lenha. Meu pai mandava picar a lenha, também vendia carvão, e entregava. Era conhecida como Lenhadora do Francisco, a minha mãe também dava uma mãozinha.
Quantos filhos seus pais tiveram?
Éramos cinco: Milton, Alcides, Euclides (Já falecido, foi vereador em Piracicaba), Orides e Sonia Maria. Até o quarto ano estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, em frente, na Rua Alferes José Caetano havia a Fábrica de Bebidas Andrade que produzia os refrigerantes gengibirra e cotubaina. Meu primeiro professor se chamava Petan, era muito bravo. Na Escola Cristóvão Colombo, na Praça José Bonifácio estudei por três anos me formando como contabilista.
O senhor já gostava de esportes nessa época?
Gostava de futebol, só que aos 12 anos comecei a trabalhar na Farmácia Popular de propriedade do Dinho, situava-se na Rua Alferes José Caetano esquina com a Rua Prudente de Moraes ao lado da Câmara Municipal o local hoje é ocupado por um edifício. Onde é o prédio da Câmara Municipal, na esquina, era a casa de Santo Bueloni, na Rua Prudente de Moraes havia a Relojoaria Muller, a Casa Francêz. Na farmácia do Dinho trabalhei por uns dois ou três anos, fazia um pouquinho de tudo: entregava, varria, ajudava o Dinho a fazer as fórmulas. Depois a Farmácia São Paulo de propriedade de Carlos Kalil, situada atrás da Matriz de Santo Antonio, comprou o meu passe. Eu já aplicava injeção na veia, no músculo. Lá havia um grande farmacêutico chamado Maximiliano, um senhor na casa dos setenta anos, ele havia registrado um xarope de sua fabricação que era revendido na farmácia, mas totalmente legalizado e registrado. Chamava-se “Xarope de Cecrópia” (Cecropia planta de cujas folhas se faz um pó ou uma tintura com propriedades diuréticas e cardioestimulantes ). Maximiliano e sua esposa moravam na Rua Benjamin Constant, lá ele tinha um laboratório onde fabricava esse xarope. Um farmacêutico, Ismar Rufino de Oliveira, veio de São Paulo e arrendou uma filial da Farmácia São Paulo na Rua Treze de Maio em frente ao Correio que funcionava na esquina com a Rua Alferes José Caetano onde é atualmente a Pizza do Bira. O Ismar casou-se com uma piracicabana, cujo irmão era o Porunga, jogador profissional de futebol. Ele jogou em muitos times fora de Piracicaba, quando ele entrava de férias e vinha à Piracicaba eu saia com ele para treinar. Fui pegando o gosto, me entrosando. Isso foi por volta de 1953. Na Rua Luiz de Queiroz em frente a Fábrica Arethusina reuniam-se um grande número de meninos, todos com quase a mesma idade, fazíamos um campinho onde hoje é uma praça, quando dava uma folguinha íamos jogar. Jogávamos descalços. Foi montado um time, o “Estrela Dalva” não tinha campo, jogava no campo da Boyes. Eu acompanhava esse pessoal, fui treinando, jogando. O time “Unidos” era da Rua Benjamin Constant. Tinha ainda o Ipiranga, o MAF, Jaraguá entre outros. Com 16 anos apareceu a oportunidade de jogar no time principal do “Estrela”. Joguei seis meses, era lateral direito. Naquela época o futebol amador tinha mais projeção na mídia, os campos estavam sempre lotados. Hoje o Dinival Tibério é um dos grandes baluartes do futebol de várzea. Idílio Gianetti gostava do “Estrela”, ele era um dos sócios da Viação Piracicabana. Um dia ele me perguntou: “-Você quer ir para o juvenil do Palmeiras? Eu vou levar o Cuíca”. Cuíca era como o Mazzola também era conhecido. Respondi: “-Se o Cuíca for eu vou também”. Fomos ambos para o Palmeiras. José João Altafini é o nome do Cuíca. Após um amistoso contra o Benfica, de Portugal, Valentino Mazzola e todo o time do Torino, além de dirigentes e jornalistas, morreram quando o avião em que viajavam chocou-se contra uma igreja. José João Altafini é conhecido no Brasil como "Mazzola" devido à sua semelhança com Valentino Mazzola.
O senhor chegou a rever José João Altafini, o Mazzola, depois que ele foi morar na Itália?
Vi sim. Continua o amigo de sempre.
Junto com o Mazzola foram jogar no Palmeiras?
Mazzola e eu fomos jogar sem remuneração, morávamos dentro do Parque Antártica, tinha alimentação, alojamento. Era uma beleza ir de Piracicaba à São Paulo, não pagava a passagem de ônibus, era cortesia de Idílio Gianetti. O ônibus passava em frente ao Palmeiras. Lá no Palmeiras terminávamos de treinar na faixa juvenil íamos jantar em frente ao clube, voltávamos íamos treinar basquete. O Palmeiras tinha bons times de basquete, futebol de salão. Como passamos em todos os testes veio uma remuneração. Ganhava mais do que trabalhar em Piracicaba.
Qual foi a reação do senhor ao chegar a São Paulo para jogar pelo Palmeiras?
Eu só pensei em não voltar para Piracicaba, quem estava tomando conta do futebol da cidade não acreditava nos jogadores que saiam daqui. Quando eu telefonava para a minha mãe ela dizia: “Estão metendo o pau em você e no Mazzola, dizem que vocês não jogam nem no XV de Novembro vão querer jogar no Palmeiras?”. Jogamos e fomos campeões pelo juvenil, aspirante, isso em 1956. Daí, subimos para o profissional, o Palmeiras fez uma grande remodelação no time, permaneceram Valdemar Filme, Gérsio, Renatinho, Ivam. Os demais jogadores eram todos novinhos. Aymoré Moreira era o técnico, muito inteligente, usava muita tática. Depois veio o Gonzales, um argentino.
Quando o senhor vinha visitar seus familiares em Piracicaba era reconhecido como atleta do Palmeiras?
Muitos não acreditavam que eu estivesse jogando no Palmeiras, achavam aquilo impossível. Uma vez viemos jogar contra o XV de Novembro, foi assunto para a semana toda, diziam: “- O Palmeiras vem com Mazzola e com Milton, se o XV não ganhar de goleada é marmelada!”. Ficamos concentrados em Águas de São Pedro. Ao terminar o primeiro tempo estava 3 X 0 para nós. Mazzola tinha marcado dois gols. O jogo terminou com 4 X 1 Mazzola fez mais um gol. Isso foi no campo da Rua Regente Feijó, o “Roberto Gomes Pedrosa”. Daí para frente aqueles que duvidavam, passaram a acreditar que Piracicaba poderia dar bons jogadores. Continuei no Palmeiras por mais uns dois anos, foi quando chegou o treinador Osvaldo Brandão, que não trabalhava com jogador novo, ele pediu novas contratações para ser campeão isso em 1959. Ele me chamou, disse-me que desejava que eu permanecesse no time, só que não iria jogar porque ele estava contratando jogadores da seleção brasileira. Para não ficar parado ele me arrumou o Noroeste de Bauru para jogar nesse período. Foi no ano da Copa, em 1958. Fiquei um ano em Bauru, tinha me casado em 20 de setembro de 1958, na igreja da Avenida Pompéia. Estamos casados a 53 anos.
O senhor conheceu sua esposa em São Paulo?
Minha esposa, Maria Bárbara Aguiar era atleta da equipe de natação do Palmeiras.

Como foi a ida do senhor para o Juventus?
Em 1960 o Juventus comprou o meu passe do Palmeiras. O presidente do Juventus tinha uma loja na Rua 25 de Março, era também conselheiro do São Paulo Futebol Clube. O Juventus só tinha o campo na Rua Javari, mais nada. As coisas foram mudando, entrou o presidente Roberto Ugolini, italiano, dono de uma indústria de alumínio. Depois entrou o presidente José Ferreira Pinto que considero juntamente com Romeu Ítalo Rípoli dois gênios do futebol, inteligentíssimos.

Como jogador o senhor jogou no Palmeiras, Bragantino, Juventus, Noroeste.
Nabi Abi Chedid era um artista. Foi buscar no Palmeiras três jogadores para o Bragantino: eu, Valdemar Filme e o Liminha. Tem casos folclóricos com o Nabi. Ele era presidente do Bragantino, estávamos disputando com Barretos, Araçatuba, íamos disputar para ver quem ia subir. O nosso pagamento estava atrasado. Íamos concentrar em Atibaia. Alguém sugeriu em pressionar o Nabi que o pai dele forneceria recursos. O pai do Nabi era proprietário da empresa de ônibus de Bragança a Itatiba, de Bragança a Socorro, de ônibus urbano em Bragança. E ele gostava do Bragantino. O Waldemar Filme que era o capitão conversou com o Nabi, que lhe perguntou: “Fora esse problema, tem algum outro?” O Valdemar disse que não. Nabi disse: “-Então vamos jogar que isso não é problema!”. Ganhamos do Barretos. Quando chegamos a Bragança recebemos. O pai do Nabi dava “um chequinho” para cada jogador. Ele dizia: “Este chéquinio é para você!” Ia a equipe toda descontar os cheques.
Em que ano o senhor tornou-se técnico do Juventus?
Em 1971 passei a ser técnico do Juventus. Como técnico atuei entre outros times no Juventus, Corinthians, Guarani, Inter de Limeira, Atlético Paranaense, Goiás, Comercial Rib. Preto, Mixto (Cuiabá), Comercial (Campo Gde), Uberaba, Francana, Paulista (Jundiaí), XV de Piracicaba ( época do Rípoli), União Barbarense, Taquaritinga, União (Rondonópolis MT), Vocem (Assis SP ), Marcílio Dias, Secretaria de Esportes SP.
O senhor teve um período de convivência com o lendário Vicente Matheus.
Não tenho nenhuma queixa contra ele, era uma pessoa mal assessorada. Eles foram me buscar no Juventus, através do Monteiro que é pai de um dos atuais diretores do Corinthians. A reunião foi na casa do Vicente Matheus que me disse: “–Escuta mocinho, você sabe por que fui buscar você? Você tem um jeitinho de conversar com jogador, eu já vi, e nós não podemos gastar muito. Para falar a verdade o nosso ônibus está penhorado para o Vasco. Temos que fazer contenção de dívidas aqui. Acho que você no Juventus fez muito jogador e sabe como fazer. Então vamos ver se dá certo”. Vicente Matheus tinha uns assessores, ficavam um em cada canto do estádio com o objetivo de ver tudo que se passava. Eu não sabia disso, depois que descobri. O Matheus chegava e dizia: “-O negócio não está bom.” Eu dizia: “-Por que Seu Matheus?” Ele então respondia: “-Aconteceu isso, isso, isso”. Então lhe explicava o que de fato tinha ocorrido, dizia-lhe que eram coisas normais em treinamentos. Ele então dizia: “-Ah!Então tá tudo bem?” “-Está tudo bem!” respondia-lhe. O tempo foi passando, o time do Corinthians estava mal, não ganhava de ninguém. E tinha grandes jogadores. Disse-lhe que em três meses iria recuperar todos os jogadores para ele. Eu reunia os jogadores como Zé Maria, Vladimir, Vaguinho, Geraldão, Romeu, Tobias, Sérgio, Ademir Gonçalves, Basílio. Faltava treinamento. Fui moldando, devagar, com apoio do departamento médico. O time foi evoluindo, quatro rodadas antes o time já estava classificado no Campeonato Nacional. Um dia o Zé Maria me procurou e expôs a situação dos jogadores, estavam ganhando pouco, a Portuguesa estava pagando o dobro para seus jogadores. O Zé Maria perguntou-me se dava para falar com o Matheus, ele não atendia os jogadores. Através de um assessor mandei o recado ao Matheus, no dia seguinte ele apareceu com sua Mercedes conversível vermelha. Nem olhava para ninguém. Entrou em seu escritório e mandou-me chamar. Disse-me que não queria inflacionar o clube. Eu disse-lhe que os jogadores estavam reivindicando algo justo. Os jogadores da Portuguesa estavam ganhando oito mil cada um. Ele estava pagando três para jogador de seleção brasileira. Disse-lhe: “- O senhor está vendo a campanha, a renda está aumentando, o time já está classificado.”. Tinha um tesoureiro, Renê, era uma pessoa muito bacana. Eu disse-lhe que o Matheus estava difícil de concordar, mas que acabaria concordando. O Vicente Matheus foi chamando um a um cada jogador. Chamou o Zé Maria e disse-lhe: “Zé, eu admiro você Zé. Você é corinthiano de coração. Você está pedindo aumento. O Corinthians não pode pagar para todo mundo”. O Zé Maria respondeu-lhe: “- Seu Matheus, nós não podemos ganhar menos do que os jogadores da Portuguesa!”. O Vicente Matheus disse-lhe: “Ah! Oito mil eu não pago! Vou pagar sete mil e quinhentos!”. E assim foi com todos os jogadores. Eles diziam: “Se eu soubesse teria pedido dez mil!”.
Ele interferia na escalação do time?
Tinha um jogador que era meio relaxado, ele sabia jogar. Fomos fazer um jogo em Ribeirão Preto e eu não tinha ninguém para por na frente. Só restou esse jogador. Terminado o treino no Parque São Jorge um assessor do Matheus, o coronel, disse-me: “-O Matheus mandou o senhor tirar esse jogador do time.” Respondi-lhe: “ O senhor diga a ele que não vou tirar esse jogador do time, ele irá jogar!” Meia hora depois apareceu o Matheus com seu carro Mercedes vermelho. Chamou-me no escritório e disse-me: Fulano não pode jogar, não serve para jogar. Disse-lhe que não iria tirar o jogador da escalação. O Matheus bateu a gaveta da sua mesa e saiu como um raio. Imaginei: “- Estou fora do Corinthians!”. O Vicente Matheus viajava comigo, contando histórias, íamos com o ônibus do Corinthians. Dessa vez ele não foi. Ele apareceu no hotel na hora de sairmos para o estádio. Insistiu mais uma vez para tirar o jogador do time. Disse-lhe que não iria tirar. Falei: “- O senhor está enganado com o rapaz”. Ele respondeu: “- Eu nunca me enganei com jogador!”. Foi quando expliquei ao Matheus porque aquele jogador iria jogar, eu não tinha outro para por no lugar. Só tem ele de atacante. Entramos em campo. Esse jogador escalado a revelia do Matheus estava arrasando. Ele era habilidoso com a bola, chutava forte. No final do jogo ele acerta um petardo. Ganhamos de 1 a 0. Foi o melhor jogador em campo, recebeu premio. Na segunda feira a Marlene Matheus, esposa do Vicente me ligou para ir até o Parque São Jorge ele queria falar comigo. Disse a minha esposa: “- Pronto! Estou fora do Corinthians!”. Cheguei ao escritório do Matheus no Parque São Jorge, tinha um homem, moreno, forte, era diretor do Flamengo, tinha assistido ao jogo em Ribeirão Preto. Queria levar o jogador que tinha marcado o gol para o Flamengo. O Matheus dizia: “- Você tá vendo, ele quer levar o nosso melhor jogador! É jogador de seleção brasileira!. Como vou vender ou emprestar para você? Não!”. Eu pensando: “- Amanhã esse jogador irá sair para umas baladas, não vai jogar nada, o Matheus irá meter o pau nele, hoje ele não quer vender o passe”. O diretor do Flamengo falou para o Matheus abrir o preço, pedir o que quisesse. Ele dizia que não. “ Nem fale mais, ele irá para a seleção!”. O diretor foi embora, eu disse ao Matheus que ele estava perdendo uma grande chance de vender aquele jogador. Ele só jogou ontem, daqui para frente só irá fazer besteira. Escalei esse jogador nos próximos dois jogos, foi o pior jogador em campo. Matheus reconheceu o erro.
O Juventus teve uma fase muito boa?
Ele foi campeão do Paulistinha. Campeão do Rebolo. Foi campeão fora do país, viajamos duas vezes para a Europa e para a Ásia.
O senhor tem uma fama muito grande de jogar na retranca.
Jogando 12 anos no Juventus, encontrava muitas dificuldades em ganhar as partidas. O Juventus contratava jogador de prestígio, como Bauer, Noronha, Nogueira, é um pessoal que não gosta de perder o jogo. Jogávamos de igual para igual com o Palmeiras, Santos, Corinthians, Portuguesa, Guarani. Tomava gol pra caramba, não via “bicho”.
 

Sem querer denegrir a imagem do time, quando foi a maior goleada?
Foi na Vila Belmiro, perdemos para o Santos de 10 a 1. Parece que Pelé fez 4. Não adiantava marcar o Pelé, o Pepe iria fazer 8! Ou então Dorval, Mengaldo, Coutinho iriam fazer. Ali teve uma história que eu fiquei sabendo depois de 10 anos. O Santos ia viajar para a Europa após o jogo. Nós estávamos concentrados em um hotel na Ponta da Praia. Umas seis e meia, após o jantar, o diretor e o treinador pediram uma reunião. Disseram que iam fazer uma modificação técnica no time. Deram a escalação do time, eu não iria jogar. Após 10 anos estávamos em uma pizzaria, aquele diretor me chamou e disse-me: “Você lembra-se daquela história de 10 a 1 na Vila Belmiro e que você não jogou? Nós tivemos uma reunião com a diretoria do Santos, eles pediram para tirar você. Estavam com medo que você machucasse o Pelé. E o Pelé era a galinha dos ovos de ouro deles.Prometeram que quando estivesse cinco ou seis iriam parar de fazer gol. Eu me arrependo até hoje de ter tirado você.”.









domingo, fevereiro 24, 2013

MARIA RUTH BELLANGA DE OLIVEIRA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 23 de fevereiro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: MARIA RUTH BELLANGA DE OLIVEIRA
Mombuca limita-se com os municípios de Rafard, Capivari, Rio das Pedras e Tietê, uma localização estratégica com relação a vias de acesso. Para administrar a cidade foi eleita a prefeita Maria Ruth Bellanga de Oliveira. Muito popular a prefeita Ruth como é conhecida no município, terá quatro anos de desafios pela frente. Seja uma metrópole ou uma cidade de pequeno porte os problemas existem em qualquer localidade. Mombuca tem aspectos históricos interessantes, pontos turísticos a serem explorados. Crescer com qualidade de vida para seus habitantes ou trazer para o município empresas que possam gerar renda e também muitos problemas, são decisões que determinam o futuro de uma cidade. Cidades menores têm procurado atrair indústrias consideradas “limpas”, geralmente desenvolvendo tecnologia de ponta, no setor de informática, eletrônica. Para isso criam escolas, formam mão de obra qualificada, “importam” profissionais de alto nível. A placidez da cidade é favorável a esse tipo de iniciativa.
Prefeita Maria Ruth em que cidade a senhora nasceu?
Sou mombucana, nasci a 22 de agosto de 1958, filha do lavrador Rubens Bellanga e da dona de casa Iracema Doriguello Bellanga, que sempre ajudei meu pai na lavoura. Somos cinco filhos: Claudio, Solange, Ruth, Clarice e Rubens. Meus pais eram “meieiros” plantavam em terras de terceiros, mais tarde adquiriram um terreninho onde moram até hoje, na casinha construída por eles. Estudei o primário no Grupo Escolar Bispo Dom Mateus em Mombuca, até a oitava série estudei em Rio das Pedras no ginásio Barão de Serra Negra. Ia para lá de ônibus, perua, a condução que estivesse a disposição.
Com que idade a senhora começou a trabalhar?
Aos 11 anos comecei a trabalhar como empregada doméstica, foi um serviço onde aprendi muito, valeu a pena. Aos 15 anos fui trabalhar na lavoura ajudando o meu pai, plantava pimentão, feijão. Trabalhamos muito com pimentão na época. Era um trabalho difícil. Consegui um serviço em uma fábrica de costura, confecção de jeans, na cidade de Capivari onde permaneci por cinco anos, levantava às cinco horas da manhã, levava cerca de 20 minutos até chegar a Capivari. Entrei sem conhecer nada, quando saí trabalhava em qualquer uma das máquinas: reta, overloque, fechadeira, travete. Gosto muito de trabalhar, a vida tem mais sentido quando a pessoa trabalha. Prestei um concurso em Piracicaba, no Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes, entrei como faxineira. Houve a falta de inspetor de alunos, passei a exercer essa função. Permaneci por um ano, quando me casei.
Hoje a senhora é a prefeita de Mombuca, o fato de vir de origem humilde é motivo de satisfação?
Com absoluta certeza, embora nunca tenha esquecido minhas raízes. Mantenho amizade com todas as pessoas que conheço. Faço questão de receber a todos em minha casa.
Quando a senhora era jovem quais eram as formas de lazer em Mombuca?
Havia poucas opções. O meu pai sempre foi muito rígido em nossa educação, freqüentávamos festas religiosas como de São Pedro, Santo Antônio. Baile praticamente não freqüentava.
A senhora conheceu Dona Emília Benvenuto Ortolani?
Conheci muito a Dona Emília, era uma mulher que só praticava o bem. Quando ela sabia da necessidade de alguém, caso ela não tivesse como ajudar procurava alguém que pudesse fazê-lo. Um exemplo que permanece na memória da cidade.
A vocação de participação política tem origem familiar?
O meu pai foi vereador de 1993 a 1996. Quando conheci meu marido, Enio Niceas de Oliveira, eu tinha 14 anos e ele 24. Após 8 anos, em 3 de janeiro de 1981, nos casamos na Igreja Matriz de São Pedro, em Mombuca. Temos três filhos: Eugênio, Danilo e Miguel.
Como foi o ingresso do seu marido na política?
Ele é advogado, foi convidado por um amigo para ser candidato a vereador. Não foi eleito. Na eleição seguinte meu sogro Eugênio de Oliveira estava fazendo campanha política para ser eleito vereador, as eleições seriam no dia 15 de novembro, no dia 13 do mesmo mês meu sogro faleceu. Eu me envolvi na campanha eleitoral do meu marido, gostei desse contato com as pessoas, conhecer melhor suas necessidades. Meu marido foi o vereador mais votado, tornando-se presidente da câmara municipal., isso foi no final da década de 80. Assim que me casei tornei-me voluntária da Assistência Social. Fazia um pouco de tudo. A esposa do prefeito Antonio Guari, Clarice Guari me ensinou muito, tive uma grande participação na Assistência Social, gostava de ir lá, ajudar: pregar um botão, fazer um agasalho para uma criança. Até hoje cozinho na Festa de São Pedro, ajudo o pessoal.
Enio Niceas de Oliveira, seu marido, foi candidato a prefeito?
Foi uma disputa bem acirrada, o prefeito em exercício apoiaria o candidato indicado pelo PMDB. Houve uma convenção para ver quem saía nesse partido, nessa convenção quase o município todo se filiou e votou. Foi quase uma eleição total. Meu marido ganhou e tornou-se candidato com o apoio do prefeito. Isso foi em 1992, em 1993 ele assumiu como prefeito. Com isso passei a trabalhar muito mais, com gosto, participação. Fui muito ativa, a Assistência Social cresceu, desenvolvemos trabalhos com as pessoas carentes. Tivemos aulas de pintura, crochê, tricô, culinária. Quando uma mulher engravidava as mães vinham aprender a lidar com a criança, a fazer o próprio enxoval. Em 1996 meu marido terminou o mandato, a oposição ganhou as eleições. Permaneci trabalhando da mesma forma. A política passa, as amizades ficam. Temos que conservar as amizades conquistadas.
Há um mastro com a estampa de um santo em frente a matriz.
É alusivo a São Pedro, padroeiro da festa máxima de Mombuca. Permanece por um ano quando é substituído por outro semelhante.
Qual é a população de Mombuca?
Aproximadamente quatro mil habitantes.
A senhora assumiu a prefeitura em que dia?
Dia primeiro de janeiro foi a posse, dia 2 de janeiro de 2013 assumi a prefeitura. A responsabilidade é muito grande.
Como foi a reunião com a Presidente Dilma Roussef em Brasília?
Reuniram-se com a presidente 5.000 prefeitos, estou com muita fé de que teremos bons frutos desse encontro.
Qual é principal fonte de renda de Mombuca?
É a cana de açúcar, temos ainda pequenas empresas de prestação de serviços. No ano passado a Branyl Comercio e Indústria Textil Ltda. instalou-se em Mombuca. Pretendo incentivar a instalação de novas empresas inclusive com incentivos fiscais. Atualmente a oferta de emprego é muito baixa. Vamos dar total apoio às empresas que queiram se instalar em Mombuca. Pegamos a prefeitura com muitas dívidas, dia 2 de janeiro mal acabei de me instalar no gabinete quando recebi a visita do gerente da CPFL para fazer uma cobrança de fornecimento de energia, iam cortar a energia de todos os prédios públicos. Fizemos uma negociação, pagamos uma parcela e faremos o pagamento da dívida de forma planejada para não haver o desligamento de energia. Estou com uma equipe muito boa, estão me ajudando, tenho muita fé de que iremos sair dessa situação se Deus quiser.
Um dos grandes problemas que as administrações encontram é na área da saúde. Como a senhora vê a situação em Mombuca?
Estamos estudando uma parceria com uma cooperativa médica, com funcionamento das 7 horas da manhã as 7 horas da noite.
No caso de atendimento de alta complexidade há ambulâncias para a remoção para hospitais de referência?
Estamos sem nenhuma ambulância, as que existem estão sucateadas. Acredito que já conseguimos com o governo federal uma ambulância que deverá em breve estar servindo a população. A Guarda Municipal que tinha sido desativada deverá ser reativada, ganhamos três motocicletas para esse fim.
Mombuca é vinculada a qual comarca?
A Capivari.
A senhora têm a preocupação em trazer para Mombuca mão de obra com qualificação profissional?
Com certeza. Tenho essa preocupação.
Há mendigos em Mombuca?
Graças a Deus não.
A cidade tem potencial para explorar algum tipo de turismo?
Temos cachoeiras maravilhosas, são quatro ou cinco muito bonitas. O ideal seria o poder público fazer uma parceria com a iniciativa privada. Estamos trabalhando junto a Secretaria de Turismo Estadual para que nos ajude a divulgar essas riquezas naturais da nossa cidade. Poucos sabem que elas existem.
O Caminho do Sol passa por Mombuca?
Passa em dois locais no nosso município, no centro e no bairro rural Arapongas onde era uma escola que foi reformada e transformada em uma pousada para os caminhantes.
A Câmara Municipal é composta por quantos vereadores?
São nove vereadores. Pretendo ser prefeita do nosso município, as solicitações populares feitas através de seus representantes na Câmara Municipal, espero na medida do possível atender a todos.
Como está a educação básica na cidade?
A escola funciona no Sistema Anglo, pago pela prefeitura, temos em torno de 940 alunos matriculados na faixa etária de 4 até 15 anos. A prefeitura disponibiliza transporte para os alunos. Os estudantes que cursam faculdade fora do município, a prefeitura arca com 60 por cento das despesas de transportes aos que se dirigem à Piracicaba, Itu. A partir do mês que vem estamos iniciando a implantação de ensino superior em Mombuca: Administração de Empresas, Pedagogia e Ciências Contábeis em parceria com a Faculdade Uniararas. Será a primeira faculdade na cidade de Mombuca.
Qual é a sensação da senhora como mulher em conduzir os destinos de uma cidade?
Pretendo realizar uma administração participativa, quando se decide em conjunto a tendência é de errar menos. Temos um gabinete itinerante, é uma inovação que implantamos. É feito um agendamento, é feita a divulgação pública através da imprensa. Isso facilita o contato entre a prefeitura e a população, quando se faz com amor qualquer empreitada vai em frente.
Quantos afilhados a senhora têm?
São dezessete. Às vezes em que fui madrinha de casamento já perdi a conta. Lembro-me dos afilhados porque no Natal ou aniversário de cada um eu costumo cumprimentá-los.
A senhora mantêm contato com políticos de outras localidades, deputados?
Sim, com o deputado Roberto de Moraes, gosto muito dele, deputado Chico Sardelli, deputado André do Prado.
A captação de água em Mombuca como funciona?
É feita pela SABESP através de dois poços artesianos localizados no município, o tratamento de esgoto é feito pela mesma empresa. Consumimos a água encanada, no município não há a necessidade de se adquirir água em galões para beber, nem mesmo existe esse tipo de fornecimento na cidade.
Uma lenda diz que a porta da cadeia de Mombuca tem as dobradiças enferrujadas por falta de uso.
Não há cela em Mombuca, a que existia foi desativada. As pessoas se conhecem, há um cuidado de um cidadão para com o outro. Veículos, pessoas de fora da cidade assim que param na cidade são notados, por curiosidade, por cuidado. Em Mombuca todos se conhecem, é uma grande família. Se falecer alguém a cidade comparece ao velório. Casamentos também atraem um grande número de pessoas. É muito comum as pessoas terem um apelido. O vice-prefeito é conhecido como Palito, ninguém o chama pelo nome, Valdemir. Seu filho é conhecido como Palitinho.








sábado, fevereiro 16, 2013

CVV CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 16 de fevereiro de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/


ENTREVISTADOS: CVV CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA


DIRCEU ANDREOTTA GRANJA e ELIANE MARGARETE SOARES




A Sociedade de Apoio a Vida Dr. Nelson Meirelles é a entidade piracicabana que adota o programa CVV. Dirceu Andreotta Granja é um dos voluntários, nascido no bairro rural Monte Branco a 21 de setembro de 1955, filho de Alcides Zonetto Granja e Osvaldina Andreotta Granja, que tiveram mais três filhos: Luis, Jair, Agnaldo. Seu pai era agricultor, adquiriu um caminhão e passou a ser caminhoneiro. Em 1961 a família veio morar na cidade em uma casa situada a Avenida Dona Jane Conceição, uns 130 metros abaixo da Praça Takaki, no bairro da Paulista. Fiz a primeira comunhão na Igreja São José, o pároco era o cônego Luiz. Lembra-se do Cesac ainda cercado por bambu. Aquela região sempre foi muito rica em atividades, o Circo do Veneno instalado em frente a sua casa. O Carlão Ferreiro morava a uns 20 metros da sua casa, ele fabricava ferraduras , forjava ferros, dobradiças, na época era uma função importante. Conheceu Romeu Gomes de Oliveira, o Rodomeu, quando ele estava começando suas atividades com a transportadora, ele e seus filhos tinham alguns caminhões, não era uma transportadora ainda, prestavam serviços para a Klabin, sendo que também terceirizavam o serviço alugando caminhões de outras pessoas. Com isso foram crescendo. Quando garoto Dirceu foi cliente de Crispim Durrer, adquiriu muito papel de seda para fazer papagaios, hoje denominado de pipas. Lembro-se que ao lado havia o açougue do Scarpari onde seus dois filhos Toninho e Alcides também trabalhavam, em frente ao armazém do Fornazier ( Local onde hoje é o Supermercados Balan). A família Scarpari montou o primeiro supermercado daquela região, mais tarde passou à família Canale que permanece nessa atividade até hoje. Quando garoto jogou muito futebol onde atualmente funciona a Escola ETEC Escola Técnica Estadual. Jogou na várzea como quarto zagueiro, zagueiro central, jogava bem. Estudou o primário n Grupo Escolar Dr. João Conceição, o ginásio no Ginásio Estadual Prof. Dr. Alcides Guidetti Zagatto, o colegial no Colégio Dr. Jorge Coury.




O senhor tem algum hobby?


Não. Me dedico ao trabalho voluntário, no CVV já há 10 a 11 anos, realizo trabalho voluntário em uma outra entidade, isso consome o tempo disponível fora do trabalho. Sou casado há 29 anos.


Qual é a sua profissão?


Sou engenheiro agrônomo formado pela ESALQ na turma de 1982. Trabalho atualmente como funcionário público municipal no cargo de fiscal de construção civil.


Eliane Margarete Soares você é nascida em que cidade?


Nasci na cidade de Limeira a 16 de junho de 1972. Vim estudar Administração de Empresas na UNIMEP e acabei permanecendo em Piracicaba. Em Limeira fiz o curso primário na Escola Antonio de Queiroz, estudei contabilidade no Colégio Bandeirante.




Dirceu, quando o senhor conheceu o CVV?


Eu me lembro do CVV quando ele situava-s na Rua Regente Feijó, isso foi em 1982 ou 1983, ao passar em frente vi uma placa escrita “CVV Centro de Valorização da Vida. Venha conversar conosco”. Isso me chamou a atenção. Na época eu acabei saindo de Piracicaba fui trabalhar em Porto Seguro, Bahia, como engenheiro agrônomo, estava montando uma destilaria em Eunápolis. Após sete anos trabalhando fora de Piracicaba, em 1990 houve a quebra do Proálcool. Foi no período do Plano Collor, prestei concurso e ingressei na Prefeitura de Piracicaba. Dois meses depois de ingressar na prefeitura recebi um convite pra trabalhar em São Pedro do Turvo, em uma destilaria chamada Arcângelo, optei por ficar em Piracicaba.


                            Dr. Nelson Meirelles que doou a casa onde funciona o CVV


                            O radialista Luiz Copolli, o famoso Titio Luiz, que após utilizar a casa como posto de atendimento para distribuição gratuita de remédios, cedeu-a para o CVV.

 

Eliane, quando foi fundado o CVV em Piracicaba?


Foi fundado no dia 16 de junho de 1982 por: José Lutero Rodrigues, Antonio Agostino C. Souza, José Antonio Urbano, Wanderley Serrow Camy, Higino Carlos Trindade, João Luiz Lopes Pastorelli, Florisval dos Santos, Manoel Messias Lobo e Antonio Carlos da Costa.


Eliane como você conheceu o CVV?


Após concluir a faculdade senti a necessidade de fazer um trabalho voluntário, que não envolvesse a distribuição de bens materiais. Lembro-me que vi o anuncio do curso para novos voluntários do CVV e assim vim para cá.


Você já sabia quais eram as atividades do CVV?


Não muito bem. Quando eu era criança via o comercial veiculado pela televisão, do telefone preto do CVV. Diziam: “Ligue para nós, um amigo do outro lado da linha”. Eu achava essa frase muito bonita.


Eliane o que o CVV faz exatamente?


A função do CVV é facilitar o desabafo das pessoas. Estamos aqui como um amigo do outro lado da linha. Damos apoio emocional para a pessoa. Esse apoio emocional se dá através da conversa; além do atendimento por telefone temos também o chat. O endereço do chat é http://www.cvvweb.org.br/, funciona das 16 horas até as 23 horas. Atinge mais o público jovem, sem deixar de incluir um pouco do público adulto. O chat fica espalhado pelo Brasil, são voluntários treinados, passa por um curso, o atendimento pode ser feito de casa, não precisa vir ao posto CVV.


 

O CVV é uma ONG?


Legalmente não. Ela é denominada como Sociedade de Apoio a Vida Dr. Nelson Meirelles. Hoje tudo que é filantrópico é levado para uma ONG, muitos entendem que somos uma delas. Somos, isso sim uma sociedade de apoio. Uma sociedade civil sem fins lucrativos.


Quem criou o CVV?


No Brasil surgiu em 1962, com um grupo de jovens em São Paulo, o primeiro posto foi na Rua da Abolição. Eles eram de uma determinada religião, queriam desenvolver um serviço voluntário, não sabiam exatamente de que forma fariam isso, pelo fato de serem muito jovens. Foram aconselhados a irem aos hospitais e conversarem com os pacientes internados. Encontraram muitas pessoas que haviam tentado o suicídio, isso foi no Hospital das Clinicas. O tratamento dado à essas pessoas resumia-se no atendimento médico regular.


Diminuiu o número de pessoas que tentam o suicídio?


Não, ele está aumentando, ano após ano, tanto no Brasil como em outros países.


O que leva a pessoa a procurar o suicídio?


A pessoa tenta quando percebe que não tem uma solução para a sua vida, que aquela é a melhor saída. Ela irá sair dos problemas, seja material, emocional, existencial, moral, familiar. Quando a pessoa não consegue encontrar uma solução adequada ela acredita que o suicídio é a saída.


Qual é faixa etária em que há maior incidência?


Não há uma faixa etária determinada. Atendemos desde jovens até idosos.


Mais pessoas do sexo feminino ou masculino?


Todo mundo tem problemas hoje. Não há um público específico, toda pessoa que está passando por um momento difícil na vida ela se vê muitas vezes encurralada, sem saída. Tanto homem como mulher, casada ou solteira, idoso, adolescente que estão na fase de descoberta, não tem seu amor correspondido. Toda pessoa que está em um momento difícil para ela, procura o CVV. Nós não aconselhamos, fazemos que as pessoas ao falar conosco, percebam por si próprias as saídas para seus problemas. Acreditamos que todo ser humano tem condições de superar as suas dificuldades. Geralmente quando ligam para nós já conversaram com o vizinho, com a mãe, com o pai, com os amigos.


Qual é o tempo médio de duração de uma ligação por telefone entre o consulente e a pessoa do CVV que o atende?


Nós orientamos os voluntários para permanecer em torno de 50 minutos conversando com a pessoa. Já tivemos pessoas muito desesperadas onde a ligação durou 90 minutos. Muitas pessoas ligam chorando são pessoas normais. Quando estão alcoolizadas não choram tanto, falam de forma muito característica. Nesses casos procuramos cortar, a pessoa passa a ser muito repetitiva devido ao estado de alcoolismo eles não estão absorvendo nada da conversa. Nesses casos procuramos evitar em ficar um tempo muito grande. Não é uma coisa produtiva para ele. Quando as pessoas estão desequilibradas e em condições de perceberem pode acontecer da ligação se prolongar.


Dirceu, qual é o significado do suicídio?


Eu entendo que seja uma fuga após perder todas as esperanças, expectativas.


Eliana, a depressão é uma doença dos tempos atuais?


A depressão sempre existiu só que antes era denominada como melancolia. Principalmente as mulheres tinham melancolia, aquela tristeza, aquela coisa de ficar vivendo no passado, isso foi classificada como doença e passou a ter o nome de depressão. Com o avanço da medicina percebeu-se que uma boa parte da sociedade tinha depressão. A vida moderna contribui para que a depressão seja em maior escala. Diversos fatores induzem a isso: afastamento da família, competição, a concorrência pelo “ter material”, a sociedade dita que você é importante pelo que tem e não pelo que você é; Isso leva a pessoa a ter depressão.


Algumas pessoas ligam para o CVV para desabafarem que não tem aquilo que outra pessoa possui?


Em algumas conversas isso transparece. Seja um carro, uma roupa, o corpo bonito que apesar da pessoa estar malhando, fazer regime, não consegue ter. Se a pessoa tem um perfil biológico que nunca a fará magra, as características de um povo ocidental será diferente fisicamente as de um oriental. Esse modismo das pessoas terem o corpo magro as leva a ter muitas doenças.


Vocês andam no fio da navalha?


No caso de algumas ligações, às vezes andamos. Todos que são voluntários passam por um curso de 30 horas. A idade mínima do voluntário é 18 anos, não existe limite para a idade máxima. Após realizar o curso a pessoa passa a atender as ligações telefônicas, uma vez por mês temos a realização de reuniões de grupo. Temo também uma reunião geral dos voluntários para que possam ter um treinamento constante. Essas reuniões ocorrem em dias diversos, como terças feiras, domingos pela manhã. Se você tiver quatro horas disponíveis por semana e tiver tempo de vir nessas reuniões, no domingo ou terça feira, poderá participar.


Quantos voluntários existem no CVV de Piracicaba hoje?


São 19, o número ideal, como são quatro horas dedicadas por cada voluntário, seria de 42 voluntários, funcionando 24 horas por dia.


Esse déficit de voluntários se dá em função do que?


É difícil trabalhar com o emocional das pessoas. Se você passou por um câncer é mais fácil ir a uma ONG que trabalhe com pacientes de câncer do que ser simplesmente voluntário sem ter vivido essa situação. Da mesma forma pais que tem filhos com síndrome de Down é mais fácil de participarem de ações voluntárias. Nós trabalhamos com a parte emocional e nem todas as pessoas estão preparadas para isso. Há muito receio de trabalhar com pessoas em desequilíbrio.


Uma característica própria é que o CVV não consegue ter um retorno de um atendimento. Saber como a pessoa reagiu.


Algumas vezes recebemos a ligação de uma pessoa que foi atendida e conseguiu superar a fase difícil. Tivemos um caso em que a pessoa ligou durante dois anos até sentir-se equilibrada, ligou para nos agradecer. Nem sempre isso é comum, estamos preparados para isso também, não receber nenhum agradecimento. Não temos identificador de número do telefone que nos liga, o sigilo é total. O sigilo da pessoa é acima de qualquer coisa dentro da filosofia do CVV. Por mais desumano o ato que a pessoa tenha praticado o seu sigilo será sempre mantido. A emoção desiquilibrada faz com que tenha um ato desiquilibrado.


Qual é a gratificação que um voluntário do CVV recebe?


A gratificação é ao atender uma pessoa, no final da conversa a pessoa estar bem.


Como funciona o sigilo no CVV?


Eu posso me identificar pelo meu primeiro nome, desde que ela pergunte quem liga não necessita identificar-se.


A segurança que é passada a pessoa que telefona pode gerar algum tipo de envolvimento pessoal com o atendente?


Pode acontecer. Nós somos preparados para que o atendimento seja feito sem ocorrer envolvimento pessoal. Ao mínimo indício de que isso possa ocorrer temos técnicas próprias para barrar qualquer prosseguimento nesse sentido.


Eliane como sobrevive o CVV?


O CVV através dos cursos constantes de aperfeiçoamento, o estudo passa a ser parte da nossa vida. Com esse treinamento passo a lidar melhor com as nossas emoções, trabalhamos melhor com o sentimento de raiva, de frustração, principalmente com as emoções negativas, que mais desestabilizam, ao se tornar voluntário do CVV passa-se a lidar melhor com essas emoções. O que até então nos desestabilizavam não ocorre mais. Ai já tem uma grande vantagem em sermos voluntários do CVV.


Durante o atendimento vocês vivem emoções fortes?


Às vezes tem algumas ligações que são delicadas. Principalmente atendimentos de perdas de pai, mãe, em casos de falecimento de um ente querido, são sentimentos comuns a todos nós, só que algumas pessoas sofrem mais. São mais sensíveis. Graças aos treinamentos e a convivência ao telefone aprendemos a trabalhar melhor com isso.


O CVV segue alguma linha religiosa?


Cada voluntário tem a sua religião. O CVV é apolítico e sem qualquer ligação religiosa.


Como vocês conseguem levar adiante esse trabalho, há algum incentivo financeiro oficial?


Cada voluntário contribui financeiramente.


Isso significa que o voluntário paga para trabalhar?


O voluntário além de não receber nada ainda paga. Realizamos os eventos, o jantar italiano para 200 pessoas, realizado na Casa da Amizade do Rotary, que é feito todo mês de maio, sempre na sexta feira antes do dia das mães. O Rotary Paulista nos dá um apoio muito grande.


Outras entidades de serviços podem ajudar o CVV?


Com certeza podem, Nos desdobramos na realização de eventos para suprir as necessidades financeiras do nosso trabalho.


Quais são as maiores necessidades atuais do CVV de Piracicaba, voluntários, recursos financeiros?


Os dois. Mais voluntários possibilitariam dar um atendimento melhor à sociedade. Uma cidade do porte de Piracicaba, contar com apenas 19 voluntários é muito pouco. Há muitas pessoas que necessitam efetivamente do nosso trabalho. Precisamos de ajuda na parte material, financeira, para que possamos ter um espaço confortável para os voluntários.


O poder público ajuda em alguma coisa?


Não ajuda. Um dos entraves é que não temos como fazer a prestação de contas em decorrência do caráter sigiloso dos nossos atendimentos. Não temos como medir resultados em dados. O que de fato importa é que se salvarmos uma vida o nosso trabalho valeu a pena. Tudo que foi criado na lei prevê o lado material e não o lado emocional. Na hora de se fazer a lei esquece-se desse apoio emocional que as pessoas precisam. Enquanto existe uma infinidade de ONG que prestam outras assistências só o CVV é que presta esse serviço. Um grande entrave é que não podemos ter ligação com nenhuma facção política O Ministério da Saúde reconheceu o CVV como de utilidade pública.


É menos burocrático pessoas e entidades privadas fazerem contribuições espontâneas?


É mais fácil empresas privadas doarem, se alguma empresa colaborar financeiramente com o CVV pode ser divulgado que é um colaborador. O Café Real colocou uma etiqueta divulgando o CVV. Isso é uma grande ajuda. Muitos produtos de consumo poderiam levar o telefone do CVV. A Papoula tem entre os telefones úteis o número do telefone do CVV. Quanto mais se divulgar o trabalho, maior será o retorno para a cidade. Qualquer cidadão piracicabano poderá um dia estar precisando do nosso trabalho. Uma doença grave pode tirar a estabilidade de qualquer família.


Existe um evento programado para data próxima?


O CVV situa-se na Rua Ipiranga, 806. Dia 23 de fevereiro, sábado, iremos ter uma promoção de pizza, nesse mesmo dia realizaremos um brechó literário, das 9 horas da manhã até as 5 horas da tarde. São romances, livros de ficção científica, de história do Brasil ao preço a partir de R$ 2,00.





                              BRECHÓ LITERÁRIO QUE ACONTECERÁ NO DIA 23/02/2013











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