sábado, março 08, 2014

MARIA CRISTINA DE CARVALHO E SILVA FRANCO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 01 de março de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: MARIA CRISTINA DE CARVALHO E SILVA FRANCO

 
 



Maria Cristina de Carvalho e Silva Franco é filha de Nelson Silva de Souza e Maria Martha de Carvalho. Nascida a 23 de janeiro de 1965, em Alfenas, Sul de Minas Gerais.
 
 Quais eram as atividades dos seus pais?

Quando nasci meu pai era estudante de odontologia e minha mãe trabalhava em um estúdio de fotografia como retoquista, era colorista, tenho fotografias minhas coloridas pela minha mãe. Usava-se anilina Bayer para dar cor as fotografias que até então eram feitas originalmente em branco e preto.

Seus estudos foram feitos em que escolas?

Estudei até a quarta série na escola Escola Estadual Madre Maria Luiza Hartzer situada a Rua 13 de Maio, 350, no centro, em Alfenas. Da quita até a oitava série estudei no Coégio Polivalente, foi uma fase em que as escolas de Minas Gerais eram excelentes.

Você se lembra do nome da sua primeira professra?

Nunca irei esquecer! Era a Dona Carminha, tenho até hoje de forma muito nítida a sua fisionomia. Sempre gostei muito de estudar, lembro-me perfeitamente das minhas professoras, doas fatos que ocorriam na escola. O ginásio estudei no Colégio Polivalente, era uma escola de vanguarda, não me lembro no momento o nome do governado da época, mas ele instituiu um ensino que além das aulas teóricas ministravam aulas práticas. Nas 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries em um ano fiz artes industriais, outro estudei técnicas agrícolas, no ano seguinte escola de comércio e finalmente educação para o lar. Tantos os meninos como as meninas estudavam as mesmas matérias. Os meninos aprendiam a fazer barras de calças, bainhas, pregar botões, dar banho em bebe. Eu aprendi a fazer caixinhas, tipografia, aprendi a fazer canteiros, sementeiras. Foi uma escola fantástica!

Havia muito respeito para com os professores?

Havia e muito. Da mesma forma que sempre fui muito considerada pelos professores, pelo fato de ser uma aluna muito aplicada. Quando alguém ia visitar a escola e tinha que apresentar uma aluna padrão eu era apresentada como tal. Sempre fui perfeccionista, se tirasse nota 9,50 eu já chorava! Ficava u mês pensando naquilo.

Essa sua vocação para o perfeccionismo foi influência de alguém?

Que eu tenha consciência não. A meu ver é algo da minha própria natureza. Não tinha a referência de ser “igual a tal pessoa”.

O colégio você estudou em que escola?

Foi em uma época em que estava começando a era dos cursinhos pré-vestibular, Alfenas é uma cidade universitária, prestei um exame e consegui bolsa de estudo no colégio integrado, ligado ao Colégio Promove de Belo Horizonte, agregava o 1°, 2° e 3° colegial.  Era um colegial normal com aulas dadas pelo professores do cursinho.  Esse curso era voltado para o vestibular da EFOA- Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas. Este ano, 2014 ela completa 100 anos de existência. Recentemente o governo federal mudou o nome da escola para UNIFAL- Universidade Federal de Alfenas.

Você deu aulas particulares?

Foi o que mais fiz no tempo em que estudei. O fato de estar sempre entre os melhores alunos me credenciva para exercer essa atividade. Eu era secretária do meu tio Dalmo, que era dentist, ele fez a inscrição para que eu cursasse medicina na UFMG- Univervidade Federal de Minas Gerais. Enquanto mepreparava para prestar o vestibular, tomei consciência de que se fosse para Belo Horizonte teria sérias dificuldades para me manter. Acabei não indo fazer o vestibular. Me inscrevi no vestibular de odontologia, um curso mais próximo ao de medicina. Passei em primeiro lugar, isso foi em 1982, eu tinha 17 anos. Pelo tanto que eu tinha estudado encarei essa condição como consequência natural. Eu tinha passado em primeiro lugar com a maior nota de todos os cursos, odontologia, fármácia, enfermagem. Lembro-me até hoje do tema da redação: “ Em terra de sapo, eu de cócoras como ele”. Fiz a redação, dissetei que queria ser diferente do sapo, não queria ficar de cócoras como ele. Em terra de sapo eu queria ficar em pé. Tirei a nota máxima em redação.  Fiz a matricula. No primeiro dia de faculdade, o Reitor da Faculdade, Hélio de Souza, entrou na classse, queria me conhecer. O Professr José Ronaldo que lecionava anatomia tem como hobby o estud de árvore genealógica. Ele tinha sido colega de faculdade de odontologia do meu pai.

Por quantos anos você estudou odontologia?

Foram quatro anos, eu continuei sendo a melhor aluna da faculdade. Eu estava na clinica quando chegou oReitor da faculdade, Afrânio Caiafa. Ele disse-me que haveria um congresso de odontologia da Academia Mineira, em Caxambu, onde serão premiados os sete melhores alunos de odontologia do Estado de Minas Gerais. Disse-me; “Você será a nossa indicada!’. O presidente da Academia Mineira de Odontologia era formado na EFOA. A ida a esse congresso envolvia a hospedagem por cinco dias em um hotel cinco estrelaso Hotel Glória. Quem me fez companhia nessa viagem foi uma amiga, a Angélica. No dia da entrega da medalha o professor Afrânio Caiafa foi até Caxambu só para eme entregar a medalha. Isso me emocionou muito.

A montagem de um consultório dentario envolve altos custos, como você fez?

Eu meformei devendo, literalmente, a roupa da formatura. Me formei em 13 de dezembro de 1986. Dia 2 de janeiro comecei a trabalhar em Franca, em uma clinica. Era uma clinica que tinha muitos convenios com as fábricas de calçados, isso foi na époa em a cada semana falia uma fábrica de calçado. Permaneci nessa clinica de janeiro a setembro. Fiquei sabendo que tnha um curso de especialização aqui em Piracicaba, foi através da minha tia Eliana de Carvalho Silva,, veterinária do Centro de Controle de Zoonoses. Abriu um curso de Especialização em Saúde Pública, voltadoà qualquer profissional de saúde. Esse curso foi dado na Santa Casa de Piracicaba pelo pesssoal da Universidade São Camilo, foram dois anos de curso. Eu morava em Franca, na própria clinica, quando a clínica fechava a noite eu punha um colchão no chão.

Em quais condições você veio morar em Piracicaba?

Minha tia morava em uma pensão, resolvi ficar com ela na pensão. Eu pedi para a Dona Mercedes , que era a proprietária da pensaão, se eu podia colocar um colchão no chão. Fiquei ali uns seis ou sete meses.

Você não trabalhava?

O Professor Miguel Morano Júnior me conhecia. Minha tia trabalhava em uma equipe multidisciplinar da prefeitura. O Professsor Miguel Morano Júnior soube do meu desejo de fazer a especialização e da necessidade de um trabalho para custear minha sobrevivência e arcar com os custos do curso. O profesor Miguel ficou sabendo que Charqueda precisava de uma dentista com esse perfil, na época eu tinha 22 anos. O Prfessor Miguel me indicou. Fui trabalhar coo coordenadora de odontologia na prefeitura de Charqueada.  No primeiro mês o salário que eu ganhava dava para pagar o meu curso e o apartamento que alugamos, eu, minha tia e mais uma moça a Heloisa, fisioterapeuta. Isso em Piracicaba. Eu ia todos os dias para Charqueada. Permaneci assim por dois anos. Eu ia até as escolas e trazia até 15 crianças para o consultorio, onde as examinava, orientava quanto a saúde bucal. O número de extrações de dentes entre adulto era muito elevada.

Como você conheceu seu marido?

Foi em uma viagem em que eu estava indo de Alfenas para Campina e Jeremias Batista Franco estava indo de Alfenas para São Paulo que nos conhecemos, na ocasião ele estudava Administração de Empresas na Universidade Mackenzie, hoje ele é gerente geral de uma grande instituição financeira. Em 1987 nos conhecemos. Casamos em Alfenas a 17 de fevereiro de 1990 na Igreja Nossa Senhora Aparecida. Temos dois flhos: Gabriela e Pedro Henrique..

Em que local você montou seu primeiro consultório?

Eu cnclui o curso de Especialização em Saúde Pública, terminei a TCC - Tese de Conclusão de Curso fui para São Paulo e montei um consultório na Vila Matilde, na Avenida Melchert, próximo ao cartório o  Jeremias morava na Penha. Montei o consultório em uma sala que ficava em cima de uma pizzaria. Não coloquei placa de propaganda do consultório. O equipamento ganhei um usado que havia pertencido ao meu pai. Aprendi a fazer manutenções básicas no meu consultório. Em um mês de trabalho eu já estava com o consultório lotado.

Você reputa isso à que?

Não sei explicar.

O que você mais atendia?

Tudo! Clínica Geral. Fazia muita prótese. Eu era casada, morava em uma casinha de três comodos em Guarulhos, tomava dois onibus para ir trabalhar. Permaneci em São Paulo por uns dois anos. Aos 27 anos fiquei grávida, o meu filho Pedro nasceu, ele ficava em um cercadinho em um anexo ao consultório. Criei um nivel de relacionamento tão positivo que as vezes algumas pacientes cuidavam por algum tempo do Pedro. Infelizmente começou uma onda de violência especificamente contra consltórios dentários, com assaltos e  barbáries. Isso foi por volta de 1993 a 1994. O compresor do consultório ficava em cima de uma marquise, embaixo era uma pizzaria. Eu estava atendendo um paciente, quando o compressor fez um barulho e começou a sair fogo. Corri, desliguei. Tinha uns 3 ou 4 pacientes na sala de espera, pedi desculpas e fui atrás de um técnico de compressores. Na esquina do meu consultório tinha uma unidade da White Martins, fui me informar se conheciam algum técnico de compressor. Eles disseram que não conheciam. Eu estava com o Pedro, gastei uns 10 munutos entre sair e voltar para o consultório, ao me aproximar vi um aglomerado de pessoas próximas ao consultório, no prédio onde aluguei, no final do corredor tinha um representante da Cozinha Todeschini, fui avisar a Edna, que trabalhava lá, ia dizer que ia embora, o meu compressor tinha estragado. Uma outra funcionária me disse: “- A Edna acabou de pular a janela!”. Estavamos no segundo andar. Ela quebrou a perna. Foi quando amoça me disse: “ Veio um individuo assaltar você, como não estava no consultório sacou uma arma e apontou para a Edna que assustada pulou a janela.

Como elas sabiam que o individuo queria assaltá-la?

Ele perguntou a elas aonde estava a dentista, elas disseram que eu tinha saído! O mais espantoso é que liguei o compressor e ele funcionou normalmente sem problema nenhum. Continuei com esse compressor até mudar para cá. O Jeremias tinha concluido seu curso, eu conhecia muitas pessoas em Charqueda, decidimos mudar. Eu tinha trabalhado nas administrações do Dito Viviani e do Guido Zanatta. Vim com a cara e a coragem, em um mês o meu consultório estava lotado, a ponto de trabalhar sábado e domingo. Sem placa . Em uma chacara no Bairro Recreio.  





O seu consultório funcionava em uma chacara?

Coloquei o consultório no fundo da chacara. O Dr. Waldemar Romano era conselheiro do CRO - Conselho Regional de Odontologia, ele foi designado para fazer a vistoria oficial, na época eu tinha 29 anos. O Dr. Waldemar Romano disse-me: “ –Cristina, você tem certeza do que você está fazendo? Colocar um consultório em uma chacara e sem placa?”. “-Vai dar certo seu consultório?”. Disse-lhe que iria tentar, principalmente por ter custos reduzidos. Nunca mais encontrei o Dr. Waldemar, acho que ele gostaria de saber que eu fazia atendimento de domingo a domingo. Eu queria que ele se lembrasse de mim.

Em média quantas pessoas você atendia por dia?

Atendia 30, 40 pessoas. Na época da safra, a noite eu atendia 20 safristas. Tudo particular. Aquele pessoal do Norte de Minhas iam ao consultório de onibus. Alugavam van para ir ao consultório, um ficava esperando outro ser atendido para ele receber atendimento. Por uns dois anos, eu fazia todo mês duas próteses para pacientes do Hospital Espírita Dr. Cesário Motta Júnior, atendia o pessoal com um enfermeiro acompanhando. Eu fazia trabalho voluntário para eles. Em Alfenas eu fazia trabalho voluntário no Hospital Psiquiátrico e na cadeia.

Como era a relação do dentista com o detento?

Era complicada, isso porque não havia equipamentos, nem consultório, o paciente-detento sentava em uma cadeira comum, o único procedimento realizado era a extração. Os equipamentos mínimos necessários já iam esterilizados. Tinha que encontrar uma posição melhor para extrair, é jeito e não força que permite a extração. Os detentos morriam de medo dos dentistas. Teve um caso em que o preso tinha cometido um crime com requintes de crueldade, ele ficou com dor de dente, ele tinha um pavor de mim porque era dentista. Eles permaneciam algemados e estavam sempre escoltados.

Até que ano você manteve o consultório no Bairro Recreio?

Em 2006 o meu marido Jeremias já estava trabalhando em uma grande instituição financeira. Eu estava muito cansada, trabalhava de domingo a domingo. Um fato muito comum com dentistas é que o relacionamento interpessoal é quase inexistente, por questões técnicas o paciente não pode manter diálogo, o dentista pode falar a vontade, ao paciente resta ouvir. Cria-se um relacionamento de monologo. Embora muitas vezes haja um forte vinculo de amizade entre dentista e paciente.

Como seu deu uma grande mudança profissional na sua vida?

Estávamos em um pequeno grupo de amigos, entre eles uma amiga que trabalhava na mesma instituição em que o Jeremias trabalha. Ela disse-me que havia uma excelente oportunidade, me incentivou a prestar um concurso. Passei em sexto lugar. Assumi em 6 de agosto. Eu já tinha feito dois cursos de especialização, um deles em ortodontia.  Passei a trabalhar de manhã no consultório na chácara, como clica geral e ortodontista. Das 11:00 as 17:00 trabalhava nessa instituição financeira, na época era proibido fazer hora extra nessa empresa. Eu voltava para casa e trabalhava no consultório até tarde da noite. Em uma dessas ocasiões um individuo armado com arma de fogo e arma branca colocou em risco a integridade da família. Decidimos mudar para Piracicaba, deixamos a nossa chácara que era enorme e fomos morar em um apartamento. Nesse meio tempo conheci um movimento denominado “Simplicidade Voluntária”, mostra que a pessoas podem viverem com menos, podem mudar. Estudei o assunto, mostrando exemplos de grandes executivos. Pensei exatamente isso: “-Posso viver com menos!”. O consultório é uma vida de frustração, você trabalha tanto, você não tem uma relação interpessoal, acaba gastando com bens que nem precisa.  As vezes pode estar com dinheiro no bolso sem saber com o que gastar. Para mim isso não faz sentido. Eu não era feliz. Hoje trabalho em uma importante instituição financeira nacional, tenho uma função que me dá muita satisfação, uso muito da psicologia que pratiquei no meu consultório.

ALFREDO LINEU CARDOSO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de fevereiro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: ALFREDO LINEU CARDOSO
 

O professor Lineu Cardoso após aproximadamente “54 anos de giz na mão” formou milhares de alunos nos mais diversos cursos e escolas. Tornou-se uma figura quase lendária para os que foram seus alunos. Sempre foi muito bem quisto pelos seus alunos, assim como pelos seus pais que se manifestavam nas reuniões entre pais e mestres. Um cronista já escreveu: “O professor Lineu Cardoso é um livro de uma biblioteca, caso um dia esse livro deixe a biblioteca a mesma perderá sua consistência”. Alfredo Lineu Cardoso nasceu em Rio Claro, a 3 de março de 1937, filho de Alfredo Cardoso e Alice Campos Cardoso que tiveram também as filhas Aparecida e Carmem Silvia. 
Qual era a atividade do seu pai?
Meu pai dedicou a sua vida toda à Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Minha esposa, Marina Capelato Cardoso, natural de Rio Claro, também é filha de ferroviário. Um fato interessante é que quando vim removido de Rio Claro para Piracicaba não tinha nenhum parente residente em Piracicaba, fato que só mudou com o nascimento dos nossos filhos: Lineu Antonio, Augusto, Paulo Afonso e Murilo José. Os professores, colegas, alunos, admiram quando falo que morava em Rio Claro, quando fui com meu pai, de madrugada, ver a volta dos expedicionários da Segunda Guerra Mundial. Eles chegaram em Rio Claro em 1945, de trem, desceram a avenida principal, eu estava lá. Para mim é uma glória.Dei aula nas faculdades de Amparo,  Americana, Limeira onde fui vice-diretor durante muitos anos, dei aula na Faculdade de Serviço Social de Piracicaba. Tenho graças a Deus uma formação moral da minha família de ferroviário, de vida sofrida, de levar minha marmitinha no trem, de levar marmita para o meu pai, em Rio Claro, eles colocavam em cima do motor para manter aquecida, meu pai era substituto em Valinhos, Vinhedo ( Na época conhecida como Rocinha), Louveira, cada dia ia para um lugar que ele substituía o chefe. Essa formação, graças a Deus vem até hoje e eu consegui passar de pai para filho.
Onde você realizou seus primeiros estudos?
Foi no Grupo Escolar Joaquim Salles, Ginásio Estadual Joaquim Ribeiro, Ginásio Koelle. Em Rio Claro embora meu pai fosse ferroviário, Chefe da Estação, moramos sempre em casa particular. Quando meu pai em suas andanças como ferroviario orou entre Leme e Pirassununga, em Souza Queiroz, estudei em Pirassununga, fui aluno do professor Manoel Godoi que foi um dos maiores piscicultores do Brasil, voltei a concluir o colegial no Ginásio Estadual Joaquim Ribeiro, em Rio Claro. Dali fui para a USP, na Faculdade de Fiosofia Ciencias e Letras, cursar Geografia. Ficava na Rua Maria Antonia, em frente ao Makenzie, em São Paulo. Isso foi em 1957.
Você morava em que local em São Paulo?
Eu e alguns colegas de Rio Claro tínhamos um apartamento, na Rua Brigadeiro Tobias. No começo da semana eu ia de Rio Claro à São Paulo de trem, voltava no final de semana. Por ser filho de ferroviário tinha algum privilégio, cheguei a ter a Caderneta Quilométrica. Na USP tive aulas com Fernando de Azevedo, Haroldo de Azevedo, Sérgio Buarque de Holanda, pai do Chico Buarque,
Você trabalhava nesse período?
Trabalhava, quando sai de Rio Claro já sai engajado no Banco Mercantil de São Paulo,  situado na Rua Álvares Penteado. Era a matriz. Eu era operador de uma máquina de lançamentos contábeis Burroughs. Era usada para preencher uma ficha enorme, tinha um carro muito grande, fazia um barulho enorme. Trabalhava durante o dia e estudava a noite. Eu tomava um onibus em frente a Biblioteca MunicipalMário de Andrade, para ir à Cidade Universitária. Quando comecei, Geografia tinha umas matérias junto com a Geologia, situada na Alameda Glete, tivemos algumas aulas em pavilhões alugados situados na Avenida Angélica, depois onde hoje funciona o prédio da reitoria, foi adaptado as pressas para funcionar o curso de geografia. O plano iniial era funcionar de um lado o curso de história e do outro lado geografia. Quando fomos ocupar precariamente o prédio destinado a geografia as paredes estavam inacabadas, a cantina parecia o armazém do Rolando Boldrim, com os engradados de cerveja. Havia uma banda de sapo naquele varjão da cidade universitária. Era um descampado. Na USP tive um curriculo muito diversificado, estudei tupi-guarani com o Professor Airosa Galvão. Etnografia com o professor Drumond, tive aula de botanica com o Professor Mario Guimarães Ferri que veio a ser reitor da USP. Após tres anos, passei no concurso de ingresso, como professor normalista, entre 200 candidatos passaram 53. Escolhi minha cadeira, fui lecionar em Adamantina, iterrompi a faculdade, que vim a concluir em 1973 na Faculdade de Filosofia de Rio Claro, hoje Unesp. Eu viajava com o meu professor João Dias da Silveira que estava instalando a faculdade de filosofia em Rio Claro.
Em São Paulo você trabalhou em alguma outra empresa?
Trabalhei na Folha da Manhã, do grupo Folha de São Paulo, no balcão do DRH, Departamento de Relações Humanas, eteve comigo uma moço moreninho, baixinho, ambos na expectativa de sermos chamados. Fui para o departamento de arquivo e estatística com o professessor Mayer. Para o meu colega de espera, disseram-lhe para ir ao departamento de artes gráficas. Esse moço era Mauricio de Souza. Isso foi em 1957. Tres ou quatro meses depois saiu o resultado de um concurso que eu tinha feito para escriturário da Caixa Economica do Estado de São Paulo. Sai do jornal e fui trabalhar na matriz da Caixa Economica na Rua XV de Novembro. Por obra do acaso, eu e outra pessoa acabamos sendo assistente de compras de toda a rede da Caixa Economica do Estado de São Paulo. Atraves de concorrência pública compravamos desde clips até jipe. Só não faziamos concorrências públicas para adquirir terrenos ou erguer edifícios. Veio o concurso de ingresso, fui para o magistério que na ocasião remunerava melhor. Tive muitos convites de delegados regionais para ser gerente de agência da Caixa Econômica.
Voce foi lecionar em Adamantina?
Fui, tinha uns 22 anos, meu pai era Chefe da Estação de Adamantina, morava na casa de propriedade da Cia. Paulista. Casei-me em Adamantina. Completei dois anos em Adamantina e vim por remoção para Piracicaba leciona na Escola Estadual Monsenhor Jeronymo Gallo. Assumi aqui em 1962. Na época o Jeronymo Gallo funcionava junto com o Grupo Escolar José Romão. Logo em seguida começaram a construir o prédio próprio. Permanecemos uns dois anos juntos com o Romão. Permaneci no Jeronymo Gallo até 1991. Muitos dos nossos alunos entraram para as faculdades sem fazerem curso prepratório.
Voce é do tempo em que o aluno se levantava quando o professor entrava na sala de aula?
Levantavam. Eu então dizia que podiam sentar. Exigia-se uniforme. O aluno tinha que estar trajado dentro das normas, senão não entrava. Um cinto fora do padrão já era motivo para o aluno não entrar em aula.

 


 
Você usava gravata para lecionar?
Usava! Eu ia dar aula de gravata e jaleco, paletó. Cheguei a dispensar de aula um aluno que estava sem cinto. Ele saiu da sala eu sai, fui atrás dele, chamei-o pelo nome: “- Schievano!” Tirei o meu cinto, dei a ele, eu estava de jaleco não aparecia. Dissse-lhe: “ -Daqui a cinco minutos você se apresenta na classe e diz que completou o seu uniforme.”. Esse aluno hoje é piloto comercial.
Como era a dedicação dos alunos?
Bem melhor que a de hoje. Um dia na semana era entoado o hino nacional com hasteamento da bandeira nacional.
E a famosa “cola” era muito disseminada?
Eu era da linha dura, assim como os professores Maria Cecília Zagatto, Professor Marques, Angelo Di Lello. No início o Jeronymo Gallo era a somatória de alunos de todas as partes, até sentirem o prazer de atravessar uma cidade de ônibus ou de bonde para assistir aula no Gallo.
A fanfarra do Gallo foi muito famosa?
O Mestre Dick alternava, ensaiava um pouco no Colégio Industrial, com o Danilo Sancinetti e um pouco no Jeronymo Gallo. Havia uma grande rivalidade entre as fanfarras das escolas Gallo, Industrial, Dom Bosco e Jorge Coury. Fui um dos comparadores de instrumentos na Werril. Participamos de concursos de fanfarras em São Paulo. Quem comprava os instrumentos era a associação de pais e mestres. Tínhamos uma brilhante equipe de basquete feminino.
Quando você chegou a Piracicaba foi morar em que local?
Fui morar na Rua Vergueiro em uma casa alugada de Angelo Padula, o Gilão, dali comprei uma casa na Rua Treze de Maio, comprei o sobrado situado na Rua Boa Morte com Rua Joaquim André, ali morei de 20 a 30 anos.
Além do Gallo você deu aulas em outros locais?
Dei aulas no cursinho CLQ, fiquei lá até 1977. Sai de lá por ter sido chamado pelo prefeito João Hermann Neto para ser Secretário da Educação. Quando ele assumiu era Secretaria da Educação, Saúde e Promoção Social. Alguns meses depois ele desmembrou. Por oito anos fui vice-presidente da ADPM- Associação Desportiva da Policia Militar. Quem me levou para a ADPM foi o Coronel Tércio Sendim. Depois fui vice presidente junto com o Capitão Veronezzi, hoje tenente-coronel. Conseguimos fazer grandes eventos ali. Na gestão do prefeito Humberto de Campos fui secretário do SEDEMA.
Você trabalhou com a Cida Abe?
A Cida foi minha aluna. Ela foi Secretária da Cultura e eu fui diretor do Engenho Central. Quando a Cida Abe se afastou para concorrer a vereadora eu a substitui na secretaria.
Qual é a receita para estar tão bem disposto após tantos anos de trabalho?
Eu me sinto bem. Fisicamente. Mentalmente. Socialmente. Vou fazer 77 anos. Trabalho bastante na minha chácara. Plantar, carpir, passar maquina de cortar grama, rastelar. Sempre fui muito curioso. As melhorias acrescentadas na chácara, a parte hidráulica eu que fiz. Com caixas de inspeção, quedas. Na parte elétrica só não fiz a rede primária.
Qual é a diferença do ensino de geografia no seu tempo e a que é ensinada hoje?
Hoje a geografia tem uma linha muito mais sociológica. Tanto que alguns dos grandes autores de livros fizeram ciências sociais. Geografia no estilo de Haroldo de Azevedo, Celso Antunes, é feita por poucas pessoas. Sempre fiz questão de ressaltar os fundamentos científicos. Conduzi a geografia como um preparo para a vida, levar muito do que aprendeu em geografia para a sua vida.
Qual é a importância de um geógrafo para um país?
O geógrafo, nessa linha cientifica, ele deveria ter como em outros países, cargos efetivos dentro da administração publica. Ele tem uma visão muito ampla. Acho que não deveria faltar um geógrafo na administração, ele enriquece o administrador com informações e conhecimentos.
Temos um fenômeno que se repete todos os anos, são as famosas enchentes, é tido e sabido que o rio já existia quando o homem chegou naquele local. A culpa dos prejuízos cabe as condições climáticas ou ao homem?
A maior parcela de responsabilidade cabe ao homem. Claroque ocorreram uma série de mudanças físicas, meteorológicas. Não podemos afirmar que o rio perdeu todo seu manancial só por uma intervenção humana.
O Rio Piracicaba está sem água, isso é um fator normal para o período?
Diante do que foi acontecendo, a situação foi se agravando, os mananciais de cabeceira foram sendo captados, a água que chega para Piracicaba não é a mesma, há muita demanda, houve um grande aumento da população.
Você bebe água de torneira ou água fornecida em galões?
Já faz uns dois ou três anos bebo água de galão. Digo aos meus alunos que a água da torneira é muito melhor do que a água de poço. Para beber água de poço basta um cuidado, passa no centro de saúde pega o hiposulfito, põem umas gotinhas, dá aquela carência, e pode tomar a água do poço. A água da torneira já vem tratada, o gosto pode não ser o melhor, carregada em flúor. Mas é melhor.
 

quinta-feira, março 06, 2014

PLINIO MONTAGNER


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de fevereiro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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                                                            Plínio e sua esposa Nazareth

ENTREVISTADO: PLINIO MONTAGNER
 
Plinio Montagner nasceu a 9 de novembro de 1937 na cidade de Porto Ferreira, filho de Pedro Montanheiro e Anunciata Muccillo  ambos naturais de Pirassununga. O casal teve ainda uma filha primogênita Hilda, que reside em São Paulo. Pedro Montanheiro ( Que mais tarde passou a se chamar Montagner) era desde os 21 anos de idade ferroviário da Companhia Paulista de Estradas de Ferro., trabalhava na via permanente, que era a manutenção da via férrea. A família sempre residiu em casas de propriedade da Cia. Paulista de Estradas de Ferro, situadas ao lado das respectivas estações ferroviárias de cada localidade. A cada promoção que Pedro recebia mudava para outras localidades, residindo em casas sempre junto ao leito da ferrovia.
Residir por tantos anos convivendo com os trens deixou muitas lembranças?
Até hoje não consigo deixar de assistir a algum filme em que tenha algum episódio envolvendo um trem. Gosto muito de trem. É uma paixão. Na minha infância, adolescência sempre esteve presente a locomotiva a vapor, a chamada “Maria Fumaça”. Eu viajava das estações onde minha família residia até as cidades onde fiz o curso primário e ginasial.
Em que estabelecimento de ensino o senhor fez o curso primário?
Fiz no Instituto de Educação Pirassununga, minha primeira professora foi Dona Maria Antonia. em uma localidade próxima a Santa Cruz das Palmeiras, chamada de Santa Viridiana. Lá fiz o primeiro ano, depois fomos para um lugarejo chamado Baguaçu, foi onde passei a minha infância e adolescência, conservo fotografias da época, e sempre que posso visito esse local. A estação de trem ainda está lá, abandonada.
O pai do senhor trabalhava na conservação da via permanente, o que significa via permanente?       
É a conservação dos trilhos, dormentes, curvas, onde o trem balançava mais ele sinalizava, o trecho onde meu pai trabalhava as rodas pareciam deslizar por processo de magnetismo, de tão perfeito que era. Meu pai era perfeccionista.
Todos que trabalharam na Companhia Paulista de Estradas de Ferro sentiam um imenso orgulho da empresa?
Tinham sim. O salário era compensador, a alimentação e assistência médica eram feita por vagões apropriados que paravam em frente a casa dos ferroviários. Vinham quatro vagões, um com tecido, outro com perfumarias, material de limpeza, como se fosse um shopping dobre rodas. Por um período de duas a três horas as famílias faziam suas compras, era feita a nota fiscal e depois descontava no holerite.
Como era feita a assistência médica?
Quando alguém ficava doente o chefe da estação telegrafava à cidade mais próxima, vinha uma locomotiva com um vagão, trazendo um médico e um enfermeiro. Atendia no local ou levava o paciente à cidade para tratamento. A ferrovia Sorocabana também era assim. Em Santa Viridiana existia a Companhia Paulista e o tronco da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.
O ginásio o senhor estudou em Pirassununga?
Fiz o ginásio no Instituto de Educação de Pirassununga, lembro-me dos professores Osvaldo Fonseca, Orlando dos Santos, Arcídio Giacomelli, Maria Criado, Cenira Novaes Braga, José Romano, Antonio Lodi, Gaspar Fiori, Edirez Perez, isso foi de 1949 a 1954. Meu pai foi removido para Araras, fiz parte do curso científico, decidi optar em fazer o Curso Normal na Escola Dr. Cesário Coimbra, que era o curso de formação de professores primários. Tive aulas com Lourdes Chaibb, Professor Pimenta. Em 1956 me formei. Nesse ano também fiz o Tiro de Guerra no TG 187, tenho muitas saudades do sargento Odair Monteiro dos Santos, com quem mantenho contato por telefone regularmente.
Após a formatura onde o senhor foi trabalhar?
Meu primeiro emprego foi em Araras em um escritório de contabilidade de propriedade do Sr. Wilson Finardi. Em seguida fui trabalhar no escritório da Usina de Açúcar e Álcool Palmeiras, cujos proprietários na época era Francisco Graziano. Em seguida voltei à Pirassununga, para fazer um curso de aperfeiçoamento de professores de ensino primário. Uando eu estava residindo em Loreto, uma cidade próxima a Araras, um colega, Pedro Pessoto Filho, em uma aula de sociologia, ele perguntou-me se em Loreto havia curso de alfabetização de adultos? Por que você não abre um curso para dar aulas lá? Com isso você irá ganhar pontos. Foi o que fiz, meu pai e uns fazendeiros me ajudaram a preparar a escolinha, que era uma sala composta por duas janelas e uma porta. O prefeito ajudou a colocar energia elétrica. Durante três anos dei aulas lá. Das sete às nove horas da noite. Muitos japoneses tiveram aulas lá. Era um ano de curso. Lecionei dos 16 aos 18 anos. 
Quantos alunos existiam nessa escola?
De 25 a 30 alunos. Alfabetizei quase uma centena de pessoas, foi uma coisa boa da minha vida. Era trabalho voluntário, não remunerado. Acumulei um grande número de pontos, que me colocaram bem a frete de muitos concorrentes ao concurso de ingresso ao magistério primário. Escolhi uma escola na cidade de Tupi Paulista. Lá dei aula no Grupo Escolar do Bairro de São Bento, era na zona rural, íamos de bicicleta, alugávamos automóvel era terra de areia, distante uns oito quilômetros. Lá permaneci por quatro anos. Fui removido para a cidade de Tupi Paulista, para a Escola de Vila Camargo. Lá fui convidado por um supervisor de ensino, na época era denominado inspetor escolar, para trabalhar na Delegacia Elementar de Ensino que ficava em Adamantina. Permaneci por dois anos lá. Por concurso de remoção fui removido para São Paulo.
Em que local de São Paulo o senhor foi lecionar?
Fiquei dois anos e meio em São Paulo dando aulas em uma escola na Vila Nilo. Eu morava em Santana, na Rua Voluntários da Pátria, 120. Fiquei hospedado na casa da minha irmã. Ia lecionar de ônibus. Era na época em que ainda se distribuía leite na porta das casas. Uma colega que também lecionava na Vila Nilo me convidou para fazer um cursinho na USP, para prestar vestibular no curso de pedagogia. A USP já era na Cidade Universitária. O cursinho foi na Rua Albuquerque Lins. Fiz um semestre de cursinho. Não fui aprovado. Voltei para a casa da minha irmã, lá encontrei a filha de uns amigos de meus pais, lá de Porto Ferreira. Ela me disse que também não havia sido aprovada, mas que no dia seguinte seria encerrada em Rio Claro as inscrições para a segunda chamada de pedagogia. Fui até Rio Claro, fui aprovado, e lá que conheci minha esposa Nazareth.
Em que ano o senhor chegou em Rio Claro?
Foi em abril de 1964. Entrei na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Rio Claro, mais tarde passou a pertencer a Unicamp e em seguida a Unesp. Passei a prestar serviço a universidade e ao mesmo tempo estudava, era o chamado comissionamento. Após quatro anos pedi exoneração do magistério primário. Comecei a dar aulas nas matérias pedagógicas em Pirassununga, onde voltei.
Como o senhor conheceu sua esposa?
Foi em uma brincadeirinha, em um teatrinho. Uma festinha promovida pelo Diretório Acadêmico. Era na época das famosas gincanas. Foi assim que conheci minha esposa Maria Nazareth Stolf Montagner que entre outros estabelecimentos de ensino lecionou na Escola de Engenharia de Piracicaba e na Unimep. Temos duas filhas, Renata e Ana Paula. Tres netos: Luiz Henrique, Rafael e Pedro.
O senhor continuou lecionando?
Dei aulas no Curso Normal em Pirassununga, formava professores. Dei aulas também no curso colegial em Pirassununga. Eu não era mais professor efetivo. Houve uma revolução no ensino, muitas mudanças, o ensino normal deixou de existir. Não havendo mais alunos ninguém se interessava em ser professor. O salário era muito baixo. Eu já era casado, vim a Piracicaba e observei que havia muita falta de professores na área de matemática, de letras. Comecei a estudar Letras na Unimep. Como eu tinha especialização, com registro no MEC em matemática e desenho, comecei a dar aulas nessas matérias na Escola Olivia Bianco onde permaneci por sete anos. A professora Janete Stolf assumiu a direção da escola, passei a ser assistente de direção. Houve uma época em que fiquei como diretor designado por cinco anos na Escola Olivia Bianco. Eu me formei em letras, fui dar aulas como professor efetivo de português na Usina Costa Pinto. O diretor era Valter Vitti. Depois me removi para as escolas Benedito Ferreira da Costa, Alcides Guidetti Zagatto, Moraes Barros e ultimamente me removi para a Escola Estadual Dr. Jorge Coury, onde me aposentei há uns 15 anos.
O senhor atuou em outra área além do ensino?
Nunca dei aula durante os três períodos, em um dos períodos eu não lecionava. Eu abri um escritório imobiliário para reforçar o orçamento. Nessa atividade no ramo imobiliário tive um bom aprendizado. Trabalhei por 25 anos nessa área. Montei um escritório na Rua Moraes Barros, passamos para a Rua Benjamin Constant fui para a Rua Ipiranga próximo ao SESC e depois na Rua Madre Cecília.
A expectativa de fechamento de uma transação imobiliária eleva o nível de tensão?
No inicio isso pode ocorrer. Com o passar do tempo passa a ser um fato rotineiro. Como corretor de imóveis sempre estive a disposição do cliente, em qualquer horário, inclusive fins de semanas. O corretor não pode perder o foco do seu negócio, é importante cuidar das condições em que o pretenso comprador irá ser recebido.
O senhor é formado em Direito também?
Sou formado em Pedagogia na Unesp em Rio Claro, Letras na Unimep, Direito na Unimep e faltou um mês para concluir o curso de Educação Física.
Qual é a visão do senhor sobre Piracicaba?
Acredito que é uma excelente cidade para se viver. Temos muitos recursos em todas as áreas. Temos muitas escolas, há muitos empregos disponíveis, só não trabalha quem não tem nenhuma qualificação.
O senhor tem noção de quantos artigos de sua autoria já foram publicados em jornais?
Creio que foram mais de seiscentos artigos. Publico inclusive toda semana em Araras.
O tópico dos seus artigos qual é?
Filosofia, o cotidiano. Um fato. Comportamento.
O senhor tem algum livro publicado?
O primeiro passo é mais do que a metade de todos os caminhos a serem percorridos.
O senhor pratica algum esporte?
Joguei futebol, como lateral direito. Joguei no Loreto Futebol Clube de Araras. Em Piracicaba só joguei no clube dos professores, o CPP.
Como o senhor vê a profissão de professor?
Professor universitário é uma coisa, professor de ensino público é outra.
Há uma diferenciação?
Claro! Quando me perguntam se sou professor logo querem saber se dou aula na Esalq, na Unicamp, na Unimep. Ninguém se lembra de perguntar se sou professor primário, em que escola dou aulas. Quando você diz que é professor primário, que ganha R$ 10,00 por aula. Minha cunhada mandou fazer um pequeno conserto na sua casa, coisa de minutos, pagou R$ 80,00.  Um professor precisa dar três aulas para ganhar o mesmo que uma manicure ganha em menos de uma hora. O professor que leciona hoje ou é por ser rico ou por necessidade, por não ter o que fazer. Há ainda uns poucos que lecionam por vocação, exercem um sacerdócio. As escolas privadas ainda dão mais suporte ao professor.
Como é a relação do aluno com o professor?
O professor tem que ser artista, meio gênio. Se você entrar em uma sala de aula sem competência, sem didática básica, o professor tem que saber muito bem a metodologia da disciplina que irá ensinar. Tem que ter paciência, calma, tolerância ao máximo. Ser divertido, brincar com os alunos.
O que o senhor acha do uso de telefone celular em sala de aula?
Isso é uma aberração! Se eu fosse lecionar nos dias atuais não posso medir as conseqüências diante de fatos como esse.
Muitos pais incentivam os filhos a usarem o celular, isso é fruto de uma geração que no passado foi muito reprimida, com a contracultura dos Beatniks, Woodstock, criou uma liberação sem limites?
Isso foi o maior desastre que ocorreu com a juventude. A anarquia passou a ser o correto. Isso reflete nas próprias casas, os filhos é que dão as ordens aos pais. Uma completa inversão de valores. Isso ocorre inclusive com crianças, elas são donas da situação. Exploram a fraqueza dos pais.
O consumismo gerou a necessidade de maior renda familiar, isso propicia a ausência dos pais, criando um vazio que é preenchido em troca de bens materiais?
Além de dar bens materiais para preencher a falta de carinho, cria-se um grave problema, propicia a possibilidade de que um filho se envolva em más companhias.
É o caso de ter um padrão de vida mais modesto, mas garantir um futuro melhor para os filhos?
Infelizmente há falta de educação na acepção da palavra.
Em 1970 o Brasil tinha 90 milhões de habitantes, em 2013 segundo o IBGE a população ultrapassa 200 milhões de habitantes. Houve uma explosão demográfica.
Sem acompanhamento educacional. Outros países também cresceram, os Estados Unidos cresceu só que a educação acompanhou o crescimento. O serviço público evoluiu conforme o crescimento da população. A mídia tem uma grande participação nesse processo.

terça-feira, março 04, 2014

LUIZ CLAUDIO MORATO DO CANTO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 01 de fevereiro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

 
 


ENTREVISTADO: LUIZ CLAUDIO MORATO DO CANTO
 
Pianista no refinadíssimo Grande Hotel Senac Aguas de S Pedro, no Restaurante Engenho, a mais de uma decada, é também organista da Catedral de Piracicaba, onde atua em eventos especiais como casamentos, missas. Luiz Claudio transmite segurança e tranquilidade. Além de musico é também professor de química. ( O célebre músico Erotides de Campos, autor de Ave Maria também era professor de quimica no Instituto Sud Mennucci). Nascido em Piracicaba a 19 de outubro de 1959 é filho de Luiz Gonzaga do Canto e Gertrudes Mendes da Silva Canto. Sua mãe era do lar, seu pai era protético, tiveram nove filhos: Antonio, João Batista, Elizabete, Conceição, Apolonia, Francisco, Luiz Cláudio, Luicio Celso e Marta. Quando Luiz Claudio nasceu a família morava na àgua Branca, proximo a Indústrias Marrucci.
Seu pai trabalhava onde?
Ele fazia em casa as dentaduras, também conhecidas como “chapas”. Como protético prático, só no final da sua vida é que obteve diploma com as notas máximas. Ele trabalhava muito junto aos sítios da região, cidades vizinhas, não havia tantos dentistas como hoje. O meu pai criou os nove filhos fazendo dentaduras. Ele moldava, cozinhava, preparava tudo. Ele não era cirurgião, só fazia prótese. Ele tinha todo equipamento em casa, eram equipamentos bem antigos, não tinha motor, era movido pisando no pedal. Tinha as muflas (tipo de estufa para altas temperaturas). Até hoje existem pessoas que usam dentaduras feitas por ele que faleceu há 27 anos. Ele era muito perfeccionista, um excelente profissional. Muito honesto, não cobrava caro.
Ele mudou-se da Água Branca para que bairro?
Em 1964 ele mudou-se para a Rua Brasilio Machado, 2868, bem em frente a Igreja São José, ao lado do bar. Ele cantava no coral da igreja, acredito que foi ai que surgiu a minha vocação pela musica. Nessa época a cidade terminava logo ali, na Rua Nova. Dali para baixo era o chamado “Risca Faca”. Adiante do “Risca Faca” era só mato, sítio.
Onde você realizou seus estudos?
Os dois primeiros anos eu estudei no Grupo Escolar Dr. João Conceição, já funcionava no prédio novo, na Rua Marquês de Monte Alegre.  comecei a estudar em 1970. Até o terceiro colegial estudei em Rio das Pedras, eu morava com a minha tia. O terceiro e quarto ano primário estudei no Grupo Escolar Barão de Serra Negra em Rio das Pedras e o ginásio e colegial fiz no Ginásio Manoel da Costa Neves, mais conhecido como “Macone”. Minha tia morava em uma fazenda bem na entrada de Rio das Pedras, chamava-se Fazenda Fortaleza, em frente onde hoje há a imagem de São Cristóvão. Ali havia muitos casarões antigos, em um desses casarões morava minha tia. Morei oito anos lá. Em 1978 entrei no Banespa, situado na Rua Moraes Barros 848, Piracicaba, eu tinha 18 anos.
Em que ano você começou a se interessar por música?
Foi por volta de 1974, eu morava em Rio das Pedras, minha avó Guiomar Elizabete Morato do Canto gostava de piano e poesia. Havia piano em sua casa, estudou no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, em Piracicaba. Eu morei uma época com ela, todas as noites após rezar para dormir ela ficava fazendo as escalas musicais no travesseiro, como se fosse um teclado. Ela faleceu em 1975, logo depois eu comecei a estudar música, estudei harmônio.  (instrumento musical de teclas, cujo funcionamento é muito similar ao de um órgão). Órgão é um instrumento muito caro, as igrejas tinham harmônio. Em 1977 descobri o piano, na casa de um amigo em Rio das Pedras. Eu achava que sabia muito sobre musica, com o piano descobri que não conhecia nada. Foi um desastre na frente dos amigos. Aquilo se tornou um desafio para mim. A partir dessa época passei a estudar. Em 1978 vim morar em Piracicaba, na Rua Conselheiro Costa Pinto, 907. Nessa época eu já estava tocando órgão durante as missas, casamentos. As músicas mais tocadas era a Marcha Nupcial, Jesus Alegria dos Homens, Tema de Lara, Dr, Jivago, Love Story. Em julho de 1978 entrei no banco, fui trabalhar no horário da uma hora da tarde até as sete horas da noite. Por 17 anos trabalhei no Banespa, como caixa. O banco me ajudou muito, trabalhava seis horas por dia, dava tempo de estudar musica. A minha vida sempre foi uma batalha, só que lenta, me formei em piano aos 29 anos. Aos 53 anos me formei em biotecnologia. O ginásio conclui em 1975. O curso de pianista conclui em 1989 no Conservatório Dramático e Musical que ficava na Rua Prudente de Moraes, era das irmãs da Vila Rezende. Os diplomas eram reconhecidos pelo MEC. Esse diploma foi muito útil quando sai do Banespa em 1996, o Banespa foi vendido para outra instituição, houve um PDV ( Plano de Demissão Voluntária) eu participei dele. tinha uma sorveteria em frente ao Ginásio Dr. João Conceição, ali ficamos de 1990 a 1995. Fui organista da Igreja São José por 18 anos, de 1978 a 1996, quando me tornei um dos organistas da Catedral de Santo Antonio. Abri duas escolas de música, uma delas se chamava Centro Musical Souza Lima. Em 2000 eu e minha família fomos vitimas de um assalto dentro da nossa própria casa. Isso nos trouxe muitos problemas, uma das conseqüências foi o encerramento da minha escola de musica. Passei a dar aulas particulares de musica.
Organista de igreja ganha dinheiro?
Apenas celebrações de casamento nós cobrávamos. Devo ter tocado em milhares de casamento desde 1976. Em 1998 marquei o número de casamentos em que toquei: foram 72 casamentos, só na catedral.
O órgão da catedral tem uma história?
Tem sim. Ele foi fabricado no Rio de Janeiro, feito pelos alemães, Guilherme Berner, e Carlos Möhrle isso em 1930, que também fez o órgão da Igreja dos Frades. Temos em Piracicaba dois grandes exemplares de Möhrle e Berner. Esse órgão da catedral foi construído para uma igreja de Santos, houve uma explosão de um gasoduto que afetou a estrutura da igreja de Santos, esse órgão foi vendido para Piracicaba que em 1967 estava fazendo 200 anos. O Comendador Mario Dedini adquiriu por um valor bastante significativo e deu de presente para a catedral. Foi montado pelo Rigatto, em 2003 foi reformado, inclusive participei da reforma pelo Frei Lauro Both. Tenho três vídeos que fiz na catedral, quem quiser acessar basta entrar no YouTube colocar “pianista Luiz” e irá acessar meus vídeos. Da Igreja dos Frades também fiz dois videos.
O orgão da Igreja dos Frades tem uma história também?
Esse orgão é da decada de 40. Se não me engano foi inaugurado em 1945. Foi o Möhrle quem construiu. Os tubos dele foram feitos no quintal da Igreja dos Frades. Os foles, registros, e outros componentes foram importados.
Além desses dois órgãos em Piracicaba há mais algum?
Tem da Escola de Música de Piracicaba, veio da Alemanha, trazido pelo Maestro Ernst Mahle. E tem um outro feito por uma pessoa do Rio Grande do Sul, que fica na capela da UNIMEP, é um excelente órgão. Portanto na cidade temos quatro órgãos de tubo.
Além de órgão você toca outro instrumento?
Na realidade sou pianista, embora seja um dos poucos que sabem tocar o órgão da catedral. A rigor todo pianista pode tocar órgão, mas tocar da forma correta são poucos. Desde 2006 sou pianista do Grande Hotel em Águas de São Pedro, me apresento todas as sextas e sábados das 7 às 11 horas da noite. Na Catedral de Santo Antonio toco na última missa dos domingos, às 19 horas, com exceção de cada terceiro domingo do mês, pelo fato de ser missa maronita.
Qual é o repertório?
Ali toco de tudo. Desde musicas do final do século XIX como Chiquinha Gonzaga, músicas mais antigas de filmes do século XX, o pessoal pede muito musicas de filmes antigos.
A faixa etária é elevada?
É alta. Têm jovens também. O pessoal gosta muito de mim porque toco musicas de todas as épocas. É um repertório bem refinado.
Uma pessoa com faixa etária mais elevada, que nunca executou nenhum instrumento musical, consegue estudar musica e executar em algum instrumento?
Consegue sim. Não digo que irá se transformar em um virtuoso, mas para o seu deleite poderá tocar suas musicas. Tive milhares de alunos, principalmente em órgão eletrônico, que até hoje tocam. Tive uma aluna de 80 anos! Para você ter idéia ela dava aula junto com Erotides de Campos! Ela começou a dar aula o Erotides ainda era vivo, ele dava aula de química e ela dava aula de português. Ela tinha predileção por uma música: E O Destino Desfolhou”, suspirava quando essa musica era tocada. A minha felicidade foi quando consegui com que ela tocasse essa música.
O que significa a musica para o ser humano?
A música é sublime, é a musica que torna o ser humano bom. Isso com relação à pessoa que executa a musica. Dificilmente você ira encontrar um musico que seja mau caráter. Podem existir exceções. O musico quando é fiel a musica, se dá inteiramente a musica, ele viaja. Transcende.
Você é casado?
Sou casado com Raquel Brancati, tenho dois filhos um rapaz e uma moça. Já sou avô.
Qual piano tem melhor som, o de cauda ou o armário?
Existem pianos tipo armário que são excelentes. E existem pianos de cauda que são um desastre. O piano de cauda tem um som mais potente. O piano de parede é uma harpa em pé. Para tocar não sinto muita diferença.
A afinação do piano é uma arte?
É uma questão complicada. Quando vou tocar normalmente o piano já está afinado. Quando é necessário afinar avisamos o responsável e ele providencia a afinação.
Você deve ter muitas histórias pitorescas.
Em casamentos aconteceram muitas coisas. Em Rio das Pedras em um casamento, eu estava bem próximo dos padrinhos e do noivo, o calor era intenso, durante a celebração, de repente o noivo desmaiou. Outra cena marcante foi quando acabou o casamento e o noivo saiu sozinho, correndo. Isso foi na Igreja São José, na década de 80. Eu sai também, fui correndo saber o que tinha acontecido. Perguntei ao noivo o que tinha ocorrido. Ele calmamente respondeu: “-É que eu não estava mais agüentando a vontade de fumar!” Voltei, toquei, e a noiva saiu sozinha, toda feliz, sorrindo.
Você já tocou com algum musico ou instrumentista famoso?
Toquei com alguns músicos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo em um casamento na catedral. Acompanhei uma cantora lírica muito famosa. Conheço nmuitos artistas famosos que se hospedam no hotel: Jair Rodrigues, Ana Paula Padrão, grandes empresários.
Você já tocou fora de Piracicaba?
Toquei mais em cidades da região como Rio Claro, Charqueada, Santa Bárbara D Oeste, São Paulo. Em Bertioga dentro da capela do SESC tem um piano, eu estava sozinho comecei a tocar, começou a chegar gente, no fim encheu a capela, passei a fazer uma explicação da musica que estava tocando, foi uma coisa muito legal, gostaram tanto que pediram para fazer de novo no dia seguinte. Cada musica que eu tocava explicava a história.
Você conheceu Pedrinho Mattar?
Não conheci pessoalmente. Sempre admirei muito o seu trabalho. Ele era um virtuoso. Assim como eu ele era um grande improvisador, a arte de improvisar não existe mais. Os grandes compositores do século XVII, XVIII, XIX, improvisavam muito. Desses improvisos surgiram peças maravilhosas. Pedrinho Mattar era um grande improvisador, tinha uma técnica estonteante, mirabolante. Ele levou a musica clássica para um meio mais popular.
Você tem algum CD gravado?
Não. Ainda não apareceu nenhuma oportunidade. Tenho certeza de iria vender muito, meu estilo é bem romântico, a pessoa percebe logo qual é a musica, existem músicos que para saber qual musica estão tocando só é conhecida após executar metade da musica. Minha musica é bem quadradinha. Toco baixo, não faço barulho. O piano é como uma mulher, tem que tratar o piano com bastante delicadeza, com carinho. Se você tratar o piano com violência, no tapa, será um desastre. Dizem que o piano na minha mão ele canta, chora. Há uma integração muito forte entre o pianista e o piano. Aprendi isso com os grandes pianistas do século passado, ouvi muito Guiomar Novaes, Madalena Tagliaferro, Arthur Rubinstein. Eram os gênios do toque. Piano é toque. A ponta do dedo.
Você tem musicas inéditas no you tube?
Se você procurar por “pianistaluiz” no you tube terá a oportunidade de me ver executando o Hino Nacional Brasileiro no órgão de tubo. Acredito que seja um fato inédito.

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