PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 01 de março de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 01 de março de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados
na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADA: MARIA CRISTINA DE CARVALHO E SILVA FRANCO
Maria Cristina de Carvalho e
Silva Franco é filha de Nelson Silva de Souza e Maria Martha de Carvalho.
Nascida a 23 de janeiro de 1965, em Alfenas, Sul de Minas Gerais.
Quais eram as
atividades dos seus pais?
Quando nasci meu pai era
estudante de odontologia e minha mãe trabalhava em um estúdio de fotografia
como retoquista, era colorista, tenho fotografias minhas coloridas pela minha
mãe. Usava-se anilina Bayer para dar cor as fotografias que até então eram
feitas originalmente em branco e preto.
Seus estudos foram feitos em que escolas?
Estudei até a quarta série na
escola Escola Estadual Madre Maria Luiza Hartzer situada a Rua 13 de Maio, 350, no centro, em Alfenas. Da quita até a oitava
série estudei no Coégio Polivalente, foi uma fase em que as escolas de Minas Gerais
eram excelentes.
Você se lembra do nome da sua
primeira professra?
Nunca irei esquecer! Era a Dona Carminha, tenho até hoje
de forma muito nítida a sua fisionomia. Sempre gostei muito de estudar,
lembro-me perfeitamente das minhas professoras, doas fatos que ocorriam na
escola. O ginásio estudei no Colégio Polivalente, era uma escola de vanguarda,
não me lembro no momento o nome do governado da época, mas ele instituiu um
ensino que além das aulas teóricas ministravam aulas práticas. Nas 5ª, 6ª, 7ª e
8ª séries em um ano fiz artes industriais, outro estudei técnicas agrícolas, no
ano seguinte escola de comércio e finalmente educação para o lar. Tantos os
meninos como as meninas estudavam as mesmas matérias. Os meninos aprendiam a
fazer barras de calças, bainhas, pregar botões, dar banho em bebe. Eu aprendi a
fazer caixinhas, tipografia, aprendi a fazer canteiros, sementeiras. Foi uma
escola fantástica!
Havia muito respeito para com os professores?
Havia e muito. Da mesma forma que sempre fui muito considerada
pelos professores, pelo fato de ser uma aluna muito aplicada. Quando alguém ia
visitar a escola e tinha que apresentar uma aluna padrão eu era apresentada
como tal. Sempre fui perfeccionista, se tirasse nota 9,50 eu já chorava! Ficava
u mês pensando naquilo.
Essa sua vocação para o perfeccionismo foi influência de
alguém?
Que eu tenha consciência não. A meu ver é algo da minha
própria natureza. Não tinha a referência de ser “igual a tal pessoa”.
O colégio você estudou em que escola?
Foi em uma época em que estava começando a era dos
cursinhos pré-vestibular, Alfenas é uma cidade universitária, prestei um exame
e consegui bolsa de estudo no colégio integrado, ligado ao Colégio Promove de
Belo Horizonte, agregava o 1°, 2° e 3° colegial. Era um colegial normal com aulas dadas pelo
professores do cursinho. Esse curso era
voltado para o vestibular da EFOA- Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas. Este ano, 2014 ela completa
100 anos de existência. Recentemente o governo federal mudou o nome da escola
para UNIFAL- Universidade
Federal de Alfenas.
Você deu aulas particulares?
Foi o que mais fiz no tempo em que
estudei. O fato de estar sempre entre os melhores alunos me credenciva para
exercer essa atividade. Eu era secretária do meu tio Dalmo, que era dentist,
ele fez a inscrição para que eu cursasse medicina na UFMG- Univervidade Federal
de Minas Gerais. Enquanto mepreparava para prestar o vestibular, tomei
consciência de que se fosse para Belo Horizonte teria sérias dificuldades para
me manter. Acabei não indo fazer o vestibular. Me inscrevi no vestibular de
odontologia, um curso mais próximo ao de medicina. Passei em primeiro lugar,
isso foi em 1982, eu tinha 17 anos. Pelo tanto que eu tinha estudado encarei
essa condição como consequência natural. Eu tinha passado em primeiro lugar com
a maior nota de todos os cursos, odontologia, fármácia, enfermagem. Lembro-me
até hoje do tema da redação: “ Em terra de sapo, eu de cócoras como ele”. Fiz a
redação, dissetei que queria ser diferente do sapo, não queria ficar de cócoras
como ele. Em terra de sapo eu queria ficar em pé. Tirei a nota máxima em
redação. Fiz a matricula. No primeiro
dia de faculdade, o Reitor da Faculdade, Hélio de Souza, entrou na classse,
queria me conhecer. O Professr José Ronaldo que lecionava anatomia tem como
hobby o estud de árvore genealógica. Ele tinha sido colega de faculdade de
odontologia do meu pai.
Por quantos anos você estudou
odontologia?
Foram quatro anos, eu continuei
sendo a melhor aluna da faculdade. Eu estava na clinica quando chegou oReitor
da faculdade, Afrânio Caiafa. Ele disse-me que haveria um congresso de
odontologia da Academia Mineira, em Caxambu, onde serão premiados os sete
melhores alunos de odontologia do Estado de Minas Gerais. Disse-me; “Você será
a nossa indicada!’. O presidente da Academia Mineira de Odontologia era formado
na EFOA. A ida a esse congresso envolvia a hospedagem por cinco dias em um
hotel cinco estrelaso Hotel Glória. Quem me fez companhia nessa viagem foi uma
amiga, a Angélica. No dia da entrega da medalha o professor Afrânio Caiafa foi
até Caxambu só para eme entregar a medalha. Isso me emocionou muito.
A montagem de um consultório
dentario envolve altos custos, como você fez?
Eu meformei devendo, literalmente, a
roupa da formatura. Me formei em 13 de dezembro de 1986. Dia 2 de janeiro
comecei a trabalhar em Franca, em uma clinica. Era uma clinica que tinha muitos
convenios com as fábricas de calçados, isso foi na époa em a cada semana falia
uma fábrica de calçado. Permaneci nessa clinica de janeiro a setembro. Fiquei
sabendo que tnha um curso de especialização aqui em Piracicaba, foi através da
minha tia Eliana de Carvalho Silva,, veterinária do Centro de Controle de Zoonoses.
Abriu um curso de Especialização em Saúde Pública, voltadoà qualquer
profissional de saúde. Esse curso foi dado na Santa Casa de Piracicaba pelo
pesssoal da Universidade São Camilo, foram dois anos de curso. Eu morava em
Franca, na própria clinica, quando a clínica fechava a noite eu punha um
colchão no chão.
Em quais condições você veio
morar em Piracicaba?
Minha
tia morava em uma pensão, resolvi ficar com ela na pensão. Eu pedi para a Dona
Mercedes , que era a proprietária da pensaão, se eu podia colocar um colchão no
chão. Fiquei ali uns seis ou sete meses.
Você não trabalhava?
O
Professor Miguel Morano Júnior me conhecia. Minha tia trabalhava em uma equipe
multidisciplinar da prefeitura. O Professsor Miguel Morano Júnior soube do meu
desejo de fazer a especialização e da necessidade de um trabalho para custear
minha sobrevivência e arcar com os custos do curso. O profesor Miguel ficou
sabendo que Charqueda precisava de uma dentista com esse perfil, na época eu
tinha 22 anos. O Prfessor Miguel me indicou. Fui trabalhar coo coordenadora de
odontologia na prefeitura de Charqueada.
No primeiro mês o salário que eu ganhava dava para pagar o meu curso e o
apartamento que alugamos, eu, minha tia e mais uma moça a Heloisa,
fisioterapeuta. Isso em Piracicaba. Eu ia todos os dias para Charqueada.
Permaneci assim por dois anos. Eu ia até as escolas e trazia até 15 crianças
para o consultorio, onde as examinava, orientava quanto a saúde bucal. O número
de extrações de dentes entre adulto era muito elevada.
Como você conheceu seu
marido?
Foi
em uma viagem em que eu estava indo de Alfenas para Campina e Jeremias Batista
Franco estava indo de Alfenas para São Paulo que nos conhecemos, na ocasião ele
estudava Administração de Empresas na Universidade Mackenzie, hoje ele é
gerente geral de uma grande instituição financeira. Em 1987 nos conhecemos.
Casamos em Alfenas a 17 de fevereiro de 1990 na Igreja Nossa Senhora Aparecida.
Temos dois flhos: Gabriela e Pedro Henrique..
Em que local você montou seu
primeiro consultório?
Eu
cnclui o curso de Especialização em Saúde Pública, terminei a TCC - Tese de
Conclusão de Curso fui para São Paulo e montei um consultório na Vila Matilde,
na Avenida Melchert, próximo
ao cartório o Jeremias morava na Penha. Montei
o consultório em uma sala que ficava em cima de uma pizzaria. Não coloquei
placa de propaganda do consultório. O equipamento ganhei um usado que havia
pertencido ao meu pai. Aprendi a fazer manutenções básicas no meu consultório.
Em um mês de trabalho eu já estava com o consultório lotado.
Você reputa isso à que?
Não sei explicar.
O que você mais atendia?
Tudo! Clínica Geral. Fazia muita
prótese. Eu era casada, morava em uma casinha de três comodos em Guarulhos,
tomava dois onibus para ir trabalhar. Permaneci em São Paulo por uns dois anos.
Aos 27 anos fiquei grávida, o meu filho Pedro nasceu, ele ficava em um
cercadinho em um anexo ao consultório. Criei um nivel de relacionamento tão
positivo que as vezes algumas pacientes cuidavam por algum tempo do Pedro. Infelizmente
começou uma onda de violência especificamente contra consltórios dentários, com
assaltos e barbáries. Isso foi por volta
de 1993 a 1994. O compresor do consultório ficava em cima de uma marquise,
embaixo era uma pizzaria. Eu estava atendendo um paciente, quando o compressor
fez um barulho e começou a sair fogo. Corri, desliguei. Tinha uns 3 ou 4
pacientes na sala de espera, pedi desculpas e fui atrás de um técnico de
compressores. Na esquina do meu consultório tinha uma unidade da White Martins,
fui me informar se conheciam algum técnico de compressor. Eles disseram que não
conheciam. Eu estava com o Pedro, gastei uns 10 munutos entre sair e voltar
para o consultório, ao me aproximar vi um aglomerado de pessoas próximas ao
consultório, no prédio onde aluguei, no final do corredor tinha um
representante da Cozinha Todeschini, fui avisar a Edna, que trabalhava lá, ia
dizer que ia embora, o meu compressor tinha estragado. Uma outra funcionária me
disse: “- A Edna acabou de pular a janela!”. Estavamos no segundo andar. Ela
quebrou a perna. Foi quando amoça me disse: “ Veio um individuo assaltar você,
como não estava no consultório sacou uma arma e apontou para a Edna que
assustada pulou a janela.
Como elas sabiam que o individuo
queria assaltá-la?
Ele perguntou a elas aonde estava a
dentista, elas disseram que eu tinha saído! O mais espantoso é que liguei o
compressor e ele funcionou normalmente sem problema nenhum. Continuei com esse
compressor até mudar para cá. O Jeremias tinha concluido seu curso, eu conhecia
muitas pessoas em Charqueda, decidimos mudar. Eu tinha trabalhado nas
administrações do Dito Viviani e do Guido Zanatta. Vim com a cara e a coragem,
em um mês o meu consultório estava lotado, a ponto de trabalhar sábado e domingo.
Sem placa . Em uma chacara no Bairro Recreio.
O seu consultório funcionava em uma
chacara?
Coloquei o consultório no fundo da
chacara. O Dr. Waldemar Romano era conselheiro do CRO - Conselho Regional de
Odontologia, ele foi designado para fazer a vistoria oficial, na época eu tinha
29 anos. O Dr. Waldemar Romano disse-me: “ –Cristina, você tem certeza do que
você está fazendo? Colocar um consultório em uma chacara e sem placa?”. “-Vai
dar certo seu consultório?”. Disse-lhe que iria tentar, principalmente por ter custos
reduzidos. Nunca mais encontrei o Dr. Waldemar, acho que ele gostaria de saber
que eu fazia atendimento de domingo a domingo. Eu queria que ele se lembrasse
de mim.
Em média quantas pessoas você
atendia por dia?
Atendia 30, 40 pessoas. Na época da
safra, a noite eu atendia 20 safristas. Tudo particular. Aquele pessoal do
Norte de Minhas iam ao consultório de onibus. Alugavam van para ir ao
consultório, um ficava esperando outro ser atendido para ele receber
atendimento. Por uns dois anos, eu fazia todo mês duas próteses para pacientes
do Hospital Espírita Dr. Cesário Motta Júnior, atendia o pessoal com um enfermeiro
acompanhando. Eu fazia trabalho voluntário para eles. Em Alfenas eu fazia
trabalho voluntário no Hospital Psiquiátrico e na cadeia.
Como era a relação do dentista com o
detento?
Era complicada, isso porque não havia equipamentos, nem
consultório, o paciente-detento sentava em uma cadeira comum, o único
procedimento realizado era a extração. Os equipamentos mínimos necessários já
iam esterilizados. Tinha que encontrar uma posição melhor para extrair, é jeito
e não força que permite a extração. Os detentos morriam de medo dos dentistas.
Teve um caso em que o preso tinha cometido um crime com requintes de crueldade,
ele ficou com dor de dente, ele tinha um pavor de mim porque era dentista. Eles
permaneciam algemados e estavam sempre escoltados.
Até que ano você manteve o consultório no Bairro Recreio?
Em 2006 o meu marido Jeremias já estava trabalhando em
uma grande instituição financeira. Eu estava muito cansada, trabalhava de
domingo a domingo. Um fato muito comum com dentistas é que o relacionamento
interpessoal é quase inexistente, por questões técnicas o paciente não pode
manter diálogo, o dentista pode falar a vontade, ao paciente resta ouvir.
Cria-se um relacionamento de monologo. Embora muitas vezes haja um forte
vinculo de amizade entre dentista e paciente.
Como seu deu uma grande mudança profissional na sua vida?
Estávamos em um pequeno grupo de amigos, entre eles uma amiga
que trabalhava na mesma instituição em que o Jeremias trabalha. Ela disse-me
que havia uma excelente oportunidade, me incentivou a prestar um concurso.
Passei em sexto lugar. Assumi em 6 de agosto. Eu já tinha feito dois cursos de
especialização, um deles em ortodontia.
Passei a trabalhar de manhã no consultório na chácara, como clica geral
e ortodontista. Das 11:00 as 17:00 trabalhava nessa instituição financeira, na
época era proibido fazer hora extra nessa empresa. Eu voltava para casa e
trabalhava no consultório até tarde da noite. Em uma dessas ocasiões um
individuo armado com arma de fogo e arma branca colocou em risco a integridade
da família. Decidimos mudar para Piracicaba, deixamos a nossa chácara que era
enorme e fomos morar em um apartamento. Nesse meio tempo conheci um movimento
denominado “Simplicidade Voluntária”, mostra que a pessoas podem viverem com
menos, podem mudar. Estudei o assunto, mostrando exemplos de grandes
executivos. Pensei exatamente isso: “-Posso viver com menos!”. O consultório é uma vida de frustração, você trabalha tanto, você não
tem uma relação interpessoal, acaba gastando com bens que nem precisa. As vezes pode estar com dinheiro no bolso sem
saber com o que gastar. Para mim isso não faz sentido. Eu não era feliz. Hoje
trabalho em uma importante instituição financeira nacional, tenho uma função
que me dá muita satisfação, uso muito da psicologia que pratiquei no meu
consultório.
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