PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de março de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de março de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados
na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: LUIZ ALBERTO MAZZERO
(CEMITÉRIO DA SAUDADE)
No Cemitério da Saudade encontramos
o Jazigo das Irmãs Franciscanas, o jazigo com as devidas homenagens aos Heróis
Constitucionalistas de 1932, entre eles:
Natal Meira Barros, Sylvio Cervellini, José Homero Roxo, Ennes Silveira Mello,
Francisco H. de Souza. Em sepulcro da família Italo Galesi como Herói de 1932.
Tumulo do Dr. Alfredo José Cardoso, Luiz Diaz Gonzaga, Luciano Guidotti, Bento
Dias Gonzaga, Salgot Castillon, Manoel de Moraes Barros Junior, Primeiro
Presidente Civil do Brasil, Prudente José de Moraes Barros, Barão de Rezende,
Jazigo das Irmãs de São José, Família Thame, Mário Dedini e Família, José Romão
Leite Prestes, Almeida Junior, Frades Capuchinhos, além de muitos outros
jazigos de famílias tradicionais e conhecidas.
O portão principal é uma verdadeira obra de arte, projetado pelo
arquiteto Serafino Corso e executado pelo engenheiro Carlos Zanotta. É notável
a arte com que foram feitas cada escultura. A pedra pelas mãos dos artistas
tomaram forma própria.
Luiz Alberto Mazzero nasceu em
Piracicaba a 2 de dezembro de 1970. Em 1984, ao completar 14 anos, ingressou na
Guarda Mirim de Piracicaba, a sede era na Rua Boa Morte em frente a Unimep,
tempo do Comandante Ciappina. Hoje pelo ECA Estatuto da Criança e Adolescente
isso seria impossível. Muitos jovens, entre os quais se inclue, se não tivessem
tido a oportunidade de freqüentar a Guarda Mirim possivelmente estaríam em
condições lamentáveis. Salvou muitas crianças da marginalidade. Muitos tinham
boa índole, berço, mas muitos que hoje são pessoas importantes na sociedade ou
mesmo pessoas de sucesso devem isso a Guarda Mirim de Piracicaba. O vereador,
sindicalista e bancário José
Antonio Fernandes Paiva foi da Guarda Mirim. Luiz Alberto
Mazzero é Chefe do Setor de Cemitérios: Cemitério da
Saudade, Cemitério da Vila Rezende e Cemitério de Ibitiruna. O primeiro livro
de registro de sepultamento data do ano de 1872, o primeiro sepultamento foi
realizado em cova comum, no dia 2 de dezembro de 1872, foi de uma mulher de
nome Gertrudes, negra, escrava, cozinheira, viúva,.seu proprietário era Antonio
José da Conceição Júnior, Mausoléu de Prudente de Moraes tendo ao fundo Luiz Alberto Mazzero
Quantos corpos temos sepultados no Cemitério
da Saudade?
Em torno de 155.000 corpos. O
Cemitério da Saudade foi fundado em 1872está entre os quatro cemitérios
paulistas mais antigos. Pode ser considerado um museu a céu aberto.
O Cemitério da Saudade envolve
uma série de características que lhe são próprias?
Temos sepultados os restos
mortais de grandes personalidades. Estamos em frente ao tumulo do Dr. Alfredo
Cardoso.
Sepulcro do Dr. Alfredo Cardoso com dezenas de placas de agradecimento à graças alcançadas por seu intermédio.
Há cerca de duas dezenas de
placas em metal, todas com frases de agradecimento por graças alcançadas, qual
é o motivo?
Muitas pessoas que vem até o
tumulo do DR. Alfredo Cardoso acreditam que ele realize milagres de curas. Ele
foi um médico muito caridoso, atendia até mesmo pessoas que não tinham nenhuma
condição financeira. Ele nasceu a 6 de julho de 1887 e faleceu a 30de maio
de 1910 em Charqueada. Há também um
velário, local próprio para as pessoas acederem velas em sua devoção.
Temos um túmulo que é muito
imponente a quem pertence?
È de Manoel de Moraes Barros Júnior nascido a
28de novembro de 1862 e falecido a 19 de dezembro de 18877. Ao lado temos o tumulo de uma
personalidade histórica que significa muito para Piracicaba, para o nosso país.
É o do terceiro presidente da república, sendo o primeiro presidente civil,
sucessor de Marechal Deodoro da Fonseca e do Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca (Sobrinho do primeiro presidente da República, Marechal
Deodoro da Fonseca). É o tumulo de Prudente José de Morais Barros nasceu no dia
4 de outubro de 1841 em Itu, falecido em Piracicaba a 3 de dezembro de 1902.
É o
tumulo mais visitado?
Acredito
que não. Penso que nem todos os piracicabanos sabem que o terceiro presidente
da República do Brasil está sepultado no Cemitério da Saudade.
Administrar
um cemitério envolve particularidades únicas?
Com
certeza! É uma função muito diferenciada. Muitas vezes temos que usar a
psicologia para tratar com as famílias que perdem um ente querido. As reações
são as mais diversas imagináveis. Temos que administrar as emoções.
Quantos
funcionários trabalham no Cemitério da Saudade?
Atualmente
são em torno de nove funcionários.
Vista parcial do monumento dos Heróis Constitucionalistas de 1932
Estar
convivendo com a morte de outras pessoas, dia após dia, trás conseqüências
emocionais?
No
inicio há certa reserva com o fato de estar trabalhando dentro de um cemitério.
Causa impacto. Cada falecimento é um fato diferente. Um grande choque é quando
falece uma criança. Vitimas de acidentes de trânsito. Cada um desses óbitos
trazem uma carga emocional diferenciada. Há outro fator que influi muito,
embora sejamos profissionais, os sentimento da família do falecido acaba por
nos contagiar. Com relação aos funcionários, há os mais sensíveis e há também
os que de tanto vivenciar essas situações incorporou a sua rotina. Tratam a
morte como uma conseqüência natural da vida. Há funcionários que se comovem a
ponto de deixar correr as lagrimas. Cada falecimento tem uma forma peculiar de
refletir em todos os presentes, inclusive no profissional que está a
serviço.
Há
sepultamentos com grande afluxo de pessoas acompanhando em função do grau de
relação social do falecido. Existem enterros quase solitários?
Já
cheguei a presenciar aqui no cemitério sepultamento onde havia apenas o pai e a
mãe, mais ninguém. Tivemos que ajudar a conduzir o corpo até seu destino. Isso
desperta uma sensação de total abandono por parte de familiares.
Como
fica o cemitério em dia de finados?
É uma
data em que muitos deixam para fazerem suas visitas aos seus familiares aqui
sepultados. Já na semana que antecede a data de finados o volume de visitantes
é bem maior.
Temos
túmulos muito bem cuidados, percebe-se que há uma manutenção muito cuidadosa,
outros se encontram em estado menos conservados. Isso é em decorrência das
posses da família?
Os
sepulcros mais bem conservados decorrem em função do cuidado e das posses da
família. Há também aqueles que seguem o pensamento de que após o falecimento os
restos mortais não têm a menor importância.
Observamos
duas caixas feitas em granito, uma ao lado da outra, isso é encomenda da
família ou é feito pelo cemitério?
Nós que
fazemos, para evitar a exposição dos restos mortais. São dois túmulos de
crianças. Não tem nenhum tipo de decoração.
Onde
são sepultados os indigentes?
Temos
lugar apropriado junto ao ossário. O número de indigentes é pequeno.
Um dos
funcionários informou de que pessoas ainda em vida colocam sua própria
fotografia no porta retrato situado no tumulo, talvez prevendo que aquela é a
sua melhor foto. Isso é normal?
Não
questiono esse tipo de atitude, imagino que esse funcionário por estar a mais
tempo trabalhando no cemitério tenha presenciado esse tipo de comportamento.
Estamos
diante do famoso caixão que parou e não saiu do lugar?
É o que
dizem. É do famoso Frei Galvão. Diz a lenda que o seu corpo estava sendo
conduzido para o sepultamento, o caixão caiu no chão, acharam por bem
sepultá-lo aqui mesmo. ( Há outra versão, em que no remodelamento de cemitério
decidiram deixar o tumulo do frade no lugar, ocupando o espaço central de uma das
vias).
Observamos
que há uma série de objetos sobre o tumulo do Frei Galvão, alguma razão
especial?
As
pessoas fazem seus pedidos na esperança de alcançarem algum tipo de graça.
Esses objetos são oferendas. Algumas peças a própria ação do tempo quebra.
Temos crucifixo, Jesus Menino, Nossa Senhora Aparecida, terços, há uma profusão
de oferendas.
As
flores artificiais dominaram a decoração das sepulturas?
Ainda
não.
Percebemos
inúmeras obras de arte, cada monumento desses tem um significado próprio?
Cada
obra de arquitetura dessas tem seu significado, cabem aos artistas, arquitetos,
estudarem e transmitirem ao publico. É um cemitério rico em termos
arquitetônicos.
Por um
período foi muito comum colocarem grades de ferro em torno do tumulo, qual é o sentido
disso?
Atualmente
não vejo sentido nisso.
A
região mais antiga do cemitério é junto a entrada existente na Avenida
Independência?
Exatamente,
não havia o portal majestoso ainda. Temos uma capela onde são celebradas as
missas, geralmente na época de finados. Se a família quiser pode realizar missa
de corpo presente, a administração não cobra nada pela utilização da capela com
essa finalidade.
A
pessoa pode ser sepultada no Cemitério da Saudade independente da sua crença
religiosa?
Exatamente!
Uma característica curiosa é que temos o velário ( um grande e apropriado
espaço, com instalações apropriadas para se acenderem velas), aqui existem
pessoas que realizam suas práticas religiosas específicas, onde são feitas
diversos tipos de oferendas conforme determina suas crenças. Por ser uma crença
religiosa há o devido respeito por parte da administração.
Encontramos
MariaBenedita de Moraes a Dona Pequitita, nasida em Piracicaba a 2 de fevereiro
de 1942 é uma das zeladoras mais popular do cemitério, trabalha na função há 11
anos. Quinzista e Corintiana. Ela diz:
MariaBenedita de Moraes a Dona Pequitita
Além de
Piracicaba morei em Campinas, São Paulo, Tietê.
Qual é
a sua sensação em trabalhar no cemitério?
É de
calma, paz.
Você
teme os mortos?
Já tive
medo sim. Minha bisavó Amélia Vitalina morou no Clube Treze de Maio por muitos
anos.
Seu
astral é de quem é muito alegre. Já desfilou em escola de samba?
Já
desfilei na Unidos da Cidade Alta, na Vila Bacchi,
Conheceu
o folião Zego?
O Zego
foi meu Sargentelli! Sou do tempo do Vassourinha, Xanxão, Ananias, Otávio.
Como
você veio trabalhar no cemitério?
Era
casada com um descendente de francês e português, ele era marmorista, fazia
trabalhos aqui.A principio eu tinha medo, até que um dia decidi vir. Sou
católica, devota de São Benedito.
Estamos
vendo túmulos altamente luxuosos, qual é sua opinião?
O que
adianta isso? Entra pelo mesmo portão e vai para a mesma terra.
Em sua
opinião quem tem a consciência pesada com relação ao falecido ou falecida age
como?
Acho
que nem aparece no cemitério. Quem cuida do sepulcro geralmente é porque
estimava a pessoa em vida.
A
senhora já leu alguma frase em algum tumulo que a marcou muito?
Fazia
um mês e pouco que eu tinha perdido a minha mãe, na época eu usava um
guarda pó branco. Eu estava chorando de cabeça baixa, apareceu uma moça branca,
linda, ela contou-me que sua filha havia cometido suicídio por paixão. Andamos juntas pelo cemitério, foi quando vi
escrita em um tumulo a frase: “Devolvemos a Deus a jóia que nos emprestou.” Quantas
vezes eu tinha passado por ali e nunca tinha observado aquela frase!. Eu cheguei a
pesar 40 quilos. Vai fazer oito anos que ela faleceu, O Roberto de Moraes foi quem ofereceu o bolo de 80 anos dela.
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