sexta-feira, abril 03, 2015

JURANDIR BEZERRA MACHADO (DIDI)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 07 de fevereiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: JURANDIR BEZERRA MACHADO
O relato de Jurandir Bezerrra Machado, o Didi, filho de humilde família brasileira do Estado da Bahia. Sua trajetória bem marcada no campo profissional sua dedicação e lealdade para com a empresa onde galgou seu sucesso profissional. Um dos primeiros funcionários contratados quando a empresa ainda apenas trazia algumas peças do exterior até tornar-se diretor de uma das maiores indústrias do Brasil, instalada em Piracicaba. Um relato vibrante de uma vida de fé, honestidade e muito trabalho.
Jurandir Bezerra Machado nasceu a 28 de agosto de 1935, nasceu em Formosa do Rio Preto, próxima a Barreiras, na região oeste da Bahia. Jurandir após 75 anos de ter deixado Formosa do Rio Preto esteve em visita a sua terra natal. Filho de Eurípedes Rogério Machado e Clotildes Bezerra Machado, que tiveram nove filhos: Eulina, Eunice, Evani, Antonio, Ivo, Jurandir (Didi), Vidal, Maria e Noêmia.
Com que idade o senhor veio da Bahia para o Estado de São Paulo?
O meu avô e seus cinco filhos fugindo da seca, estavam sempre a procura de um local menos árido.
O pai do senhor decidiu deixar a atividade rural e arriscar uma vida nova?
Tínhamos alguns parentes em Andradina, cortavam cana, apanhavam algodão, convenceram meu pai a vir para cá. Nessa época eu tinha uns quatro anos. Quando chegamos nosso destino era Andradina, mas como a maioria dos migrantes do Norte fomos recebidos na Casa da Migração, que ficava na Rua Dr. Almeida Lima, mantida, ao que consta, pelo Governo do Estado de São Paulo. Na Rua Visconde de Parnaíba ficava a Casa do Imigrante, para os que vinham da Europa. Permanecemos lá uns três dias , com cama e mesa por conta do governo. Pela primeira vez na vida comemos batatinha. Passamos por exames médicos , sendo muito bem tratados.Os fazendeiros da região, querendo mão de obra, iam para a Estação da Luz, na Casa da Migração, era uma espécie de salão onde as pessoas ficavam hospedadas, Naquela época mão de obra era muito procurada. Isso foi por volta de 1940.
Essa viagem da Bahia até São Paulo foi uma verdadeira aventura?
A uns 25 quilômetros adiante de Formosa de Rio Preto, meu avô conseguiu encontrar umas terras onde se desenvolveu. Para chegar até lá usávamos cavalo, jegue. Andando no mato, não havia estradas. Meu pai e os filhos se organizaram, quando ele decidiu sair de lá ele não tinha dinheiro para viajar para São Paulo, o filho mais velho tinha 13 anos e a filha mais nova dois meses. Só muitos anos depois é que pudemos avaliar como meu pai foi organizado. Ele não tinha a intenção de deixar a família e vir sozinho para São Paulo. Ele conversou com meu avô, pai dele, plantou milho, mandioca, cana, tudo que pudesse plantar colher e estocar. Fez rapadura, colheu arroz, feijão, usando carro de boi ele transportou por esses 25 quilômetros até a cidadezinha. Foi deixando na beira do Rio Preto, na casa de um amigo. Quando acabou a colheita, e ele tinha toda a mercadoria, com meu irmão ele foi aos buritizais, cortar buriti. Cortaram mais de mil peças de buriti, é uma espécie de coqueiro. Com esses buritis ele foram montando uma balsa. Para descer o Rio Preto. O caminho normalmente feito pelos baianos era ir a cidade da Barra, embarcar em um vapor do Rio São Francisco, ir até Minas Gerais e depois chegar em São Paulo. Com mais dois ajudantes, meu pai construiu a balsa, colocou toda a mercadoria que tinha produzido e estocado, fez uma na balsa uma pequena casinha para a minha mãe e para a criança mais nova, carregou com saco de arroz, saco de alimentos, e deixaram a balsa descer o rio, foram uns 10 dias de viagem, percorrendo uns 400 quilômetros aproximadamente. Desceu o Rio Preto, que deságua no Rio Grande, até chegar no Rio São Francisco. Quando chegamos no Rio São Francisco estávamos Próximos a cidade da Barra. Portanto viajamos de carro de boi, na balsa fabricada pelo meu pai, na Barra meu pai vendeu o resto da mercadoria, até a balsa, gostaram tanto que compraram também. Meu guardou um pouco de mantimento para se sustentar na viagem. Com esse dinheiro ele pagou a passagem do vapor, indo até Minas Gerais. Em Minas conhecemos algo estranho: o trem de ferro! Dormíamos no próprio pátio das estações, para passar a noite e pegar outro trem pela manhã. Meu pai colocava as esteiras no chão e dormíamos sobre elas. Assim chegamos a São Paulo.
Após permanecer em São Paulo por alguns dias qual foi o destino que a família seguiu?
No terceiro ou quarto dia , fomos até a Estação do Brás, tomamos o trem de subúrbio da SPR ( São Paulo Railway) desembarcamos na Estação da Luz, saímos pela Rua Mauá e chegamos a estação Sorocabana, atual Julio Prestes, um fazendeiro inglês, Seu Lex, que tinha uma fazenda em Assis,  ele viu meu pai, que era um baiano forte, sacudido, ele gostou do jeito do meu pai, convidou para ir trabalhar em sua fazenda. Quando meu pai apresentou a nossa família, o inglês pos a mão na cabeça, disse: “-Tudo isso?”. Assim fomos para Assis. Quando chegamos lá, deram ao meu pai uma área plantada com café, que ficaria sob sua responsabilidade, e deram u pedaço de terra para meu plantar para seu próprio consumo. Meu pai querendo sempre o melhor para nós, embora soubesse apenas fazer as quatro operações somar, subtrair, diminuir e multiplicar. Ele sempre dizia que tinha ido para São atrás de: trabalho, saúde e educação. Após permanecer dois anos em Assis nossa família mudou-se para Andradina, onde tinha dois primos que residiam lá. Em Andradina ele trabalhou na lavoura de algodão. O sonho de meu pai era vir para a capital, São Paulo.
Ele acabou vindo para a cidade de São Paulo?
Quando eu tinha uns seis para sete anos mudamos para São Paulo. Desembarcamos na estação Sorocabana, na Vila Anastácio, Rua Alvarenga Peixoto. Eu com seis anos, meus irmãos com 7, 9 e 13 anos, para ajudar, havia uma fundição grande, a Sofunge, junto aos detritos, areia, vinha uma borra de ferro, aquilo tinha valor, nós estávamos no período da Segunda Guerra Mundial. Naquela época havia muito estrangeiro. Encontramos um grupo de hungareses naquela região. Estavam na escola conosco.
O senhor estudava em que escola?
Grupo Escolar Dr. Reinaldo Ribeiro da
Silva, minha primeira professora foi Dona Gioconda. Estudava a tarde e na parte da manhã ia procurar de sucatas. Quando morávamos na Bahia meu pai fazia de tudo, consertava, fazia sapatos, ele que fazia os sapatos que usávamos. Era uma pessoa muito habilidosa. Em São Paulo começou a trabalhar como ajudante de caminhão em uma grande serraria que existia nas proximidades da estação Sorocabana. Meu avô materno, chamado Miguel Bezerra, ( O avô paterno era o Rogério Machado), veio nos visitar em São Paulo, e viu no que o meu pai estava trabalhando. Ele então disse: “- Eurípedes, você não pessoa para trabalhar como empregado dos outros, lá você fazia de tudo! Aqui você está em uma capital tão grande, porque você não compra e revende mercadorias?” Naquela época a Rua 25 de Março já era muito famosa. Isso por volta de 1943.  Compraram umas coisinhas, pronto, meu pai virou mascate. A maior parte da vida dele trabalhou como mascate. Ele comprava roupas na Rua 25 de Março, na Rua José Paulino, saia vendendo de casa em casa. A pé ele ia pela Vila Anastácio, Presidente Altino, Osasco, Toda aquela região. Com isso as coisas foram melhorando. Minhas irmãs todas trabalharam como empregadas doméstica. Meu pai e eu pegamos o bonde na Lapa, fomos até o Mercadão (Mercado Municipal de São Paulo), lembro-me que era o bonde aberto. Eu ia, por exemplo, em uma banca de bananas, pegava em consignação umas bananas colocava em uma cesta e ia de casa em casa vendendo banana. Nessa época devia ter sete a oito anos. Vendi caixinhas de uva passa. Meu pai comprava, eu vendia, ficava com o lucro e devolvia o capital que ele havia investido.  Uma noite eu estava dormindo, morávamos todos em um quarto só, meu pai havia dividido com panos, era um cortiço onde havia sete famílias, morávamos bem mal mesmo. Estava chovendo, olhei quem estava mexendo em nossa porta, era um jornaleiro que passava a noite entregando jornal nas casas.  Estava tomando chuva. Pediu para ficar ali encostado. Comecei a conversar com ele, quanto ganhava, quanto entregava, logo perguntei se não tinha vaga para mim. Ele então me propôs, tinha que fazer a rua inteirinha, eu deixo os jornais aqui, você entrega para mim e ganha tanto para fazer isso. Avisei minha mãe, meu pai, todo dia ele chegava com os jornais, batia, eu ia e entregava. Eu não via nenhum dos leitores dos jornais, eles ainda estavam dormindo. A única pessoa que via era o padre, ele acordava cedo, quando eu chegava lá ele já me chamava: “Oi baianinho! Boas notícias?”. Era o úco que me dava uma gorjeta, ele me dava um passe de ônibus. Era o Padre Arnaldo. Ele me dava café. Até que um dia ele me chamou e perguntou-me em que local eu morava. Disse-lhe que morava na Rua Alvarenga Peixoto,166. Ele então me disse: “Menino, nunca vi você na missa!”. Respondi-lhe: “É seu padre, eu sou protestante!”. Vi que ele não gostou. Em conseqüência da minha confissão, perdi o único dinheirinho que ganhava como gorjeta. O padre não abriu mais a porta, não me deu café e nem o dinheiro! Essa foi a primeira discriminação que passei! Tive outras mais tarde: por ser baiano, pela minha baixa estatura, por ser briguento.
Fazia muito frio nas madrugadas paulistanas?
Tinha madrugadas muito frias, minha mãe adquiriu um casacão, cumprido, usado, lá pelos lados da José Paulino ou 25 de Março. Quando eu usava diziam que era o Duque de Caxias, davam muita risada.  Quando eu chegava o pessoal já dizia: “-Olha o Didi com o Duque de Caxias!”. Com isso meu casacão ganhou o apelido de Duque de Caxias. Um dia tomei uma chuva danada, pendurei o “Duque de Caxias” para secar, lá fora. Eram sete famílias que moravam naquele cortiço, roubaram meu “Duque de Caxias”. Minha mãe era muito caridosa, tinha um deficiente físico que usava uma cadeira de rodas, não tinha ninguém que o empurrasse para pedir esmolas nas casas. Um dia ela me chamou e disse-me: “-Didi, você vai fazer um favor para aquela pessoa. Umas duas vezes por semana você ajuda-o empurrando a cadeira de rodas”. Passei a empurrar esse homem, era uma rua de terra, ia a uma casa, pedia uma esmola para fulano de tal, davam. Atravessava a rua, a mesma coisa. Ele não deixava passar uma casa. Quando eu o deixava na sua casa ele só me dizia: “Obrigado! Deus te pague!”. Eu ficava esperando alguma coisa, mas nunca peguei um tostão dele. Os meus colegas da escola achavam que eu estava ganhando para fazer aquilo. Tinha um que me dizia: ”- Não precisa de ajudante?”. Até que um dia eu não quis mais, falei com o deficiente, ele ficou triste, pediu que eu indicasse alguém. Indiquei aquele colega de escola que tinha se oferecido. Percebi que ele começou a gastar, ter dinheiro, um mês depois o deficiente queria que eu voltasse a ajudá-lo o outro que eu tinha indicado só tinha lhe dado prejuízo. Na minha vida sempre eu dei. Não recebia nada.Chegou um ponto em que chorei com a minha mãe, eu faço as coisa para todo mundo e eles me falam: “Deus lhe pague!”. “-Mãe só Deus é que tem que me pagar?”  Minha mãe dizia-me: “ Meu filho, na vida espere somente de Deus! As lute e continue sendo honesto! Deus estará ao seu lado!”. Meu pai era ateu, minha mãe era presbiteriana. Ma minha vida nunca consegui as coisas de forma fácil.
O senhor foi fazer o ginásio?
Eu tirei o diploma do curso primário, meus irmãos eram muito bem considerados na escola, nota máxima em tudo, eu só passava raspando. Nunca repeti na escola. Minha mãe para me compensar um pouco, mandou-me para passar uns meses com meu tio Napoleão, que era tropeiro em Andradina, Ao chegar ele perguntou-me: “-Já andou a cavalo?” Disse-lhe que não. No primeiro dia ele me deu uma égua brava, chamada Grã-Fina. Na primeira montada que eu dei já fui para o chão, machuquei o joelho.Meus outros tios acharam aquilo errado, ele então disse que eu tinha que aprender com as coisas difíceis, não com a coisas fáceis, era a filosofia dele. Se eu der um cavalo molenga, vai andar AM passo manso, o menino vai acostumar assim, por isso dei um cavalo bravo para ele, ele vai lutar com esse cavalo, vai dominar, vai ser bom.Meu tio detestava o medo, foi com ele que aprendi a não ter medo.   Eu tinha 11 anos. Ele disse-me: “-Você vai ser tropeiro comigo!” Comprou-me roupas apropriadas. Como tropeiro, fiquei seis meses com ele, viajava para Andradina, Mato Grosso, Três Lagoas. Dormindo no mato.
Após seis meses o senhor voltou para a casa dos seus pais, mas já não era mais um menino como antes?
Voltei bem mais maduro, muito corajoso. Um amigo do meu pai arrumou um emprego na empresa Western‎, minha função era entregar telegramas, ela ficava bem no centro de São Paulo, no Largo do Café. Usava uniforme, amarelinho com bonezinho, falavam eu o salário era baixo mas ganhava-se muita gorjeta. O prédio Martinelli eu subia inúmeras vezes ao dia. Nunca ganhei uma gorjeta, eu dizia, “-Pai, deve ter alguma coisa errada comigo!”. Meu cunhado trabalhava em uma fábrica, e me levou para trabalhar lá. Fui trabalhar como office-boy em um escritório de engenharia. Era a fábrica Codiq. Um dos diretores da companhia era Dr. Purm, de aproximadamente 60 anos. Ele tinha certas manias, uma era  que diariamente limpava os bolsos e jogava moedas sobre a sua mesa. Eu arrumava sua mesa todos os dias eu arrumei uma caixinha na qual punha as moedas e coloquei-a no fundo da última gaveta da mesa dele. Todo dia era assim, uma moeda hoje duas ou três amanhã e eu ia guardando. O pessoal gostava muito de mim, porque eu era esperto, ajudava todos e trabalhava em algumas copiadoras, tirando cópias de desenhos. Um dia ouvimos os Dr. Purm falar bem alto:
“-Estou rico! Estou rico!”. Fui até a mesa dele onde já estava o vice-diretor,. Alguns projetistas, todos curiosos em saber o que tinha acontecido. O alemão mostrou a caixa cheia de dinheiro e disse: “- Puxa! Estou rico! Encontrei na minha gaveta. Como é que esse dinheiro veio parar aqui?.A responsabilidade da mesa e das coisas dele era minha. Eu disse-lhe: “-Esse dinheiro é do senhor!. Todos os dias quando vou limpar a sua escrivaninha encontro algumas moedas. Então fui pondo na caixinha!”Uma hora depois ele me chamou: “-Menino, venha aqui!” Olha gostei muito, você é um menino honesto, trabalhador, você precisa estudar”.  Respondi-lhe que pelo fato de ser de família pobre não tinha dinheiro. Ao que ele me disse: “-Por que não entra no Senai? Eu já tinha ouvido falar nessa escola. Naquela época o regime de estudo era o de dias alternados, ou seja um dia , aprendendo no Senai e outro dia , trabalhando na fábrica. O Dr. Purm insistiu: “-Vá procurar a seção de pessoal e fale que eu quero que você vá estudar!”.. Orientado pelo Dr. Purm fui estudar mecânica., iria ser torneiro mecânico. Ele perguntou-me o que dia da semana era aquele. Respondi-lhe que era sexta-feira. Perguntou-me se não ia ao cinema? Disse-lhe que não. Foi quando ele disse-me que já sabia, eu não tinha dinheiro. Ele enfiava a mão na caixinha e dizia: Isso dá para o cinema e comprar sorvetes e doces. O Dr. Purm foi fazendo isso toda as sexta-feira. Você está com o cabelo muito grande, precisa cortar, e dava dinheiro da caixinha. Fui então estudar no Senai, até que chegou o momento em que tive que ir para a fábrica. Esse homem me fez justiça. Tinha sido a primeira vez que meu trabalho tinha sido reconhecido. Certa vez ao perguntar sobre a minha família ele me propôs: “-Menino, você quer morar comigo? Eu não tenho filhos. Você vai ser meu herdeiro. Somos apenas eu e minha mulher e já estamos velhos. Não temos ninguém aqui nem na Alemanha. “- Quero conversar com seus pais”. Chegando a minha casa falei com meus pais sobre a proposta do Dr. Purm. O alemão iria me colocar em faculdade de primeira linha, além de estudar estaria rico, seria seu herdeiro entre outras coisas de um palacete da City Lapa. Minha mãe não concordou. Disse-me “ –Meu filho não! Quero meus oito filhos comigo! Somos pobres mas felizes, trabalhadores. Então por mim não! A não ser que você queira... Porque é o seu futuro...sua vida...” Respondi-lhe:  “-Não mamãe, . prefiro estar coma a senhora, papai e meus irmãos. Quando dei a resposta ao Dr. Purm , vi bem que saíram lágrimas dos seus olhos. Isso marcou muito a minha vida. Tive a oportunidade de ser rico e não a aceitei. Porém minha satisfação foi, pela primeira vez , até aquela idade de 13 anos , ter sido reconhecido. Era a primeira vez que havia recebido em troca o que tinha feito de bom para as pessoas.  
Após o senhor ter recebido a proposta de ser adotado por um casal de alemães, sem filhos ou herdeiros, que queriam ajudá-lo como filho, com recursos financeiros e possibilidades de estudos, qual foi a próxima etapa na vida do senhor?
A proposta era tentadora, não só pelo aspecto material, mas por sentir que Dr, Purm e sua esposa tinham um carinho sincero por mim. Eu os estimava muito. Logo em seguida meu avô paterno vendeu seus bens e mudou-se para Goiânia, convidando meu pai para ajud´-lo nos negócios em Goiânia. Meu pai foi com parte da família e eu fui junto. Com isso perdi o contato com Dr. Purm e sua esposa. Quando fui para Goiânia faltava seis meses para receber o diploma do SENAI. Na minha vida só tive quatro anos de escola e dois anos e meio de SENAI. Em Goiânia permaneci algum tempo, até que voltei para São Paulo e fui trabalhar como torneiro mecânico. Em u ano passei por diversas empresas. Até que cai na Caterpillar.
Como senhor ingressou na Caterpillar?
Foi através de um amigo de infância, o João.  Um dia o encontrei na rua, ele tinha feito o curso de desenho mecânico, ele disse-me: Está abrindo uma firma americana, eles vão construir uma grande fábrica, vão construir tratores. Já começaram a contratar pessoal, os primeiros que estão contratando são os projetistas, logo terá a fábrica, eles irão contratar funcionários.
Em que ano foi isso?
Foi em novembro de 1957. Na época ela situava-se na Vila Leopoldina. Era mais um depósito, as peças de reposição eram importadas. Não fabricava nada. Compraram um torno,uma frezadora e outras cinco máquinas, para começara fabricar alguma coisa. Fui o primeiro torneiro mecânico a ser contratado pela Caterpillar no Brasil, foram contratados no mesmo dia cinco funcionários: Um na fresa, outro na furadeira,  cada um em uma função.
A fábrica situada em Santo Amaro já estava em projeto?
Já estava no término a construção da fábrica de Santo Amaro, antes de terminar a construção nos mandaram para ajudar, a montar, desmontar.
A primeira máquina fabricada no Brasil pela Caterpillar o senhor lembra-se qual foi?
A primeira máquina foi a D12-E. Era uma moto niveladora.Eram fabricadas dez máquinas dessas por mês. Era u grupo pequeno de funcionários, uns quarenta a cinqüenta
O índice de nacionalização era pequeno?.
Era mais a parte de peso, não de tecnologia. Na época a política de estímulo do governo era sobre o peso da máquina. Eu fazia de tudo, e comecei a aprender. Comecei a divergir de alguns procedimentos que eram mandados que fossem feitos. Eu achava a minha maneira de fazer e eles iam mudando. Até que eles começaram a depositar cada vez mais credibilidade em mim, eu fui crescendo. Se olhar na minha carteira profissional está clara a minha ascensão na empresa.  Tive um problema de saúde, fiquei um ano afastado, a empresa sempre me apoiou muito.
O senhor chegou a que cargo máximo na Caterpillar do Brasil?
Entrei como ajudante, fui encarregado, supervisor, supervisor geral, a fábrica aumentando, após a minha doença, retornei e fui trabalhar no departamento de engenharia de fábrica, com os engenheiros. Eu tinha uma grande vantagem: a pratica.Após seis meses me deram  cargo de supervisor na engenharia. Um ano depois passei a ser supervisor geral na engenharia. Era chefe dos engenheiros. Depois passei a superintendente. Fiquei mais seis meses afastado por motivo de saúde. Fu trabalhar de muletas. Meu chefe dizia para que eu ficasse em casa, eu queria trabalhar. A recomendação foi de permanecer apenas no escritório. Nessa época começo a construção da fábrica da Caterpillar em Piracicaba. Um alto executivo da empresa,me chamou, disse-me: “-Estou fazendo uma alteração no topo tenho uma posição que é gerente de estudos de viabilidade técnico econômica da empresa, é o planejamento avançado. É um departamento no mesmo nível de diretor só que reporta-se ao vice-presidente. Quero que você ocupe esse cargo. A principio disse-lhe que não achava muito interessante, eu era forte onde tinha atuado até o momento, agora fazer plano para o futuro, plano para dez anos! Ele argumentou que eu teria uma equipe muito boa. Você pode montar a sua equipe. O projeto envolvia unir as duas fábricas, mudar toda a fábrica de São Paulo, esse era o meu plano principal. Sem perder um trator, sem perder um tostão. Com toda logística.
Em que ano o senhor deixou de trabalhar na Caterpillar?
Eu procurei meu superior e disse-lhe:”- Vocês não precisam mais de mim, o planejamento avançado que eu fazia hoje é realizado nos Estados Unidos.  Simplesmente me deram toda a engenharia de fábrica! Sai do planejamento avançado e fui para a engenharia de fábrica. Tudo que estava relacionado a engenharia estava sob a minha responsabilidade. Inclusive construções. Eu tinha que construir aqui, fazer a mudança e fazer o planejamento futuro de outras ações. Disse ao meu chefe que achava que eu estava na hora de deixar a empresa. Ele respondeu que no dia em que eu lhe entregasse a chave da fábrica de Santo Amaro ele me mandaria embora. Quando fechei a fábrica de Santo Amaro, disse-lhe: pronto, pode me dispensar! Sua resposta foi de que eu iria, mas antes ia trabalhar com ele ainda. Terceirizei toda a engenharia da Caterpillar, com isso fiquei mais 12 anos trabalhando lá. Tinha mais de uma centena de funcionários só da parte de engenharia. Todo suporte de fabricação. Construção, reformas. Em 2003 já estava cansado. No total fiquei uns 46 anos trabalhando na Caterpillar.
O senhor fala inglês?
Falo fluentemente. Aprendi estudando muito, sozinho e em escola. O inglês me ajudou muito.  Fui aos Estados Unidos várias vezes. Estive nas diversas fábricas da Caterpillar nos Estados Unidos.
Hoje o senhor realiza palestras?
Como ombudsman (ouvidor) empresarial, tenho como função estar dentro das empresas, é o ouvido e os olhos do presidente da empresa. Quando eu comecei a trabalhar nessa atividade, lembrei-me do passado, quando queria as respostas e não as tinha.
O senhor tem vários livros escritos, quais são os temas e objetivos?
Não são livros de auto-ajuda, mas cujo objetivo é encaminhar as pessoas e suas vidas. Narro um fato acontecido comigo e depois digo o porquê de contar aquela história. Mostro mundos diferentes. Quando você é um estudante é um estudante, está aprendendo. Quando estiver com o diploma e for para o mercado, você estará indo para a guerra. O livro, um amigou leu e fiz-lhe um comentário: Você notou uma coisa? Não falei nenhuma vez sobre ética. Foi quando ele respondeu-me: “-Tudo que você escreveu aqui é uma lição de ética!”. Quando via coisas erradas ou sem sentido deixava evidente minha opinião.
O senhor é casado?
Sou casado com Dirce Rodrigues Machado, temos três filhos: Robson, Raquel e Regina.
Quantos livros o senhor já escreveu?

O primeiro foi “Desbravando Fronteiras”. Foi traduzido para o inglês. Fiz mais dois volumes, alternando a narrativa. A Dra. Antonietta da Cunha Losso Pedroso, foi uma grande incentivadora. Eu e minha esposa nos tornamos amigos de Antonietta e ela sempre dizia: “- Didi, você precisa publicar um livro com suas histórias! É uma melhor do que a outra! Você pode ajudar muitas pessoas e, principalmente, os jovens estudantes e empresários”. 

PAULO DE TARSO PORRELLI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 janeiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: PAULO DE TARSO PORRELLI

Paulo de Tarso Porrelli nasceu a 7 de maço de 1961 em Piracicaba, na Santa Casa de Misericórdia. Filho de Arcanjo Porrelli e Maria José Moroni Porrelli, que tiveram os filhos: Vera Lúcia, Maria de Fátima, Marcos Paulo Vinicius e Paulo de Tarso. Seu pai foi Assistente Social, Professor de Latim e Português do Senai. Ele faleceu no dia 2 de março de 1969, aos 48 anos. Paulo de Tarso Porrelli é casado em segundas núpcias com a advogada Maria Esperança Marianno.
Em que bairro a família residia?
Morávamos a Rua Prudente de Moraes, em um daqueles sobradinhos entre a Rua Bom Jesus e Rua São João. Depois moramos um bom tempo na Rua Bom Jesus. Em 1969, quando meu pai faleceu mudamos para a Rua Ipiranga onde permanecemos até 1975, quando mudamos para o Edifício Prudente de Moraes esquina com a Avenida Armando de Sales Oliveira. Eu fui trabalhar em São Paulo e a minha mãe permaneceu nesse local até oito anos atrás, quando passou a morar com a minha irmã Vera Lúcia.
Você freqüentava igreja?
Freqüentei a Igreja Bom Jesus, depois a Catedral de Santo Antonio onde fiz a minha primeira comunhão. Participei do Movimento Jovem no Colégio Dom Bosco. A Rua Ipiranga marcou muito a minha adolescência, foi um grande carrossel, uma escola. Morávamos no número 360. Não existia nem o SESC ainda. Era amigo de infância da família Negri, do grande fotógrafo Davi, do seu pai Paulo, das famílias Guerrini,  Bortoletto.
Quais escolas você freqüentou?
O primeiro ano estudei no Instituto Marta Watts. Eu ia e voltava com a minha professora Márcia, já falecida. Foi a minha primeira professora.  A Unimep Centro estava sendo construída. Após o falecimento do meu pai fui para a Escola Prudente de Moraes onde estudei por seis meses. Era no tempo ainda em que as carteiras eram ocupadas por dois alunos, lembro-me que a filha do Dr. Odair Bortolazzo dividia assento comigo. Não peguei o tempo da caneta tinteiro, mas tinha na carteira o buraco onde era encaixado o vidro de tinta. De lá fui estudar no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, estudei com o Francisco Roberto Cabrini com quem eu trabalhei mais tarde, ele me ensinou a fazer televisão, trabalhei com ele 5 anos na TV Bandeirantes. Quando conclui o curso primário no Barão do Rio Branco fui para o Sud Mennucci e terminei o colegial no Colégio Dom Bosco. Tanto no Sud como no Dom Bosco toquei nafanfarra, sempre gostei. Participei de competições de fanfarras. O meu instrutor de fanfarras no Sud Mennucci era o Helinho, hoje é colega da Ana Boatafogo Nascido em Piracicaba, Hélio Bejani mora no Rio de Janeiro há 26 anos. Atualmente é o diretor do corpo de balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde já foi primeiro bailarino. O Hélio foi Guarda-Mirim, era trompetista. Ele é um exemplo de sucesso do trabalho da Guarda-Mirim de Piracicaba, que está sendo resgatada agora. O Maestro Isaac Karabtchevsky em uma de suas palestras falava da importância da preservação de coretos, de bandas marciais, de fanfarras, de bandas como é a União Operária aqui em Piracicaba, são preciosidades que as cidades do interior têm. Eu costumo dizer que vivemos em um universo multimídia que atropelou a humanidade, as pessoas não estão sabendo o que fazer com tanta informação, com tantas opções de escolha. Como diz muito bem Washington Olivetto as redes sociais já existiam nas cadeiras nas calçadas com as nossas tias e vovós tricotando, conversando. Só que olhos nos olhos.
Piracicaba é privelegiada em muitos aspectos com relação a cultura.
A Secretária Rosangela Camolesi está criando o Museu da Imagem e do Som, para guardar acervos preciosos, Piracicaba tem grandes talentos, grandes cabeças. Salão Internacional do Humor. Salão de Belas Artes. A Rádio Educativa é um tesouro.
Voltando a nossa linha do tempo, quando jovem, em Piracicaba, você trabalhava?
Sempre trabalhei! O primeiro emprego com registro em carteira foi no Hospital Cesário Mota, como auxiliar de pratice terapia, uma terapia de práticas manuais. Nessa época eu tinha de 16 para 17 anos. Eu tinha de cinco a seis chaves na mão para chegar ao setor, era perigoso, havia ferramentas, alguns pacientes gostavam de ficar ali. Era um barril de pólvora. Funcionava na Rua do Trabalho. Para a minha idade era uma experiência muito pesada. Até hoje tenho recordações de coisas inaceitáveis. Era uma unidade exclusivamente masculina. De lá fui trabalhar com o Chico na Libral. Uma grande pessoa. A Libral situava-se em frente a Rádio Educadora. Após uns seis ou sete meses fui trabalhar no Banco Nacional, situado na Rua Prudente de Moraes esquina com a Praça José Bonifácio.  Até que aparece o radio em minha vida, eu vivia na loja Som-6 situada na Galeria Lucia Cristina, a Silvana, esposa do Christiano Diehl era a gerente. Como eu não tinha dinheiro para adquirir discos, mas como sempre fui apaixonado por musica, estudei na Escola de Musica uma época, fui bolsista lá, sempre gostei de percurssão. Eu ia na Som-6, colocava um disco e ficava escutando, a Silvana sabia que eu gostava, deixava. O Marcos Turolla da Rádio Difusora sempre ia lá. Começamos a trocar idéias musicais até que ele me perguntou: “-Você já entrou em uma rádio?” Ele então disse que quando quizesse poderia ir até a Difusora para conhecê-la. Era tudo que eu precisava! Apareceu a oportunidade, virei 'disc-jockey'!  (Profissional que seleciona e "toca" as mais diferentes composições, previamente gravadas ou produzidas). O primeiro programa de FM ao vivo em Piracicaba foi o Lair Braga e eu que fizemos quando o Lair saiu da Joven Pan, chamava-se “Roller Skating Music”. Roberto de Moraes já era reporter. Isso foi nos finais dos anos 70. Já escrevia algumas coisas para a Tribuna, tinha um link com o Evaldo Vicente, o Mestre. Esse é o Mestre mesmo! Eu tinha uns 18 a 19 anos. Dentro da Difusora estava conversando sobre a minha indignação de uma conta de luz que eu considerava injusta. O nosso querido Jaime Luiz da Silva disse-me: “-Vamos lá no ar! Vamos falar!”. Foi quando me disse: “Você tem que ser repórter menino! Tem eloquencia! Fluência!”. Comecei a pegar o gosto, fui reporter de jornalismo,  era o “Jornal da Difusora”, levado ao ar na hora do almoço e a tarde também. Trabalhei com Edirley Rodrigues. Meu nome é Paulo de Tarso, meu apelido é Lo. O pai de um amigo, Seu Lastória começou a brincar comigo e a me chamar de Lo. Acabei usando o nome “Lo Porrelli”, como nome artístico. Na Difusora fiquei de 79 até 84, uns cinco anos mais ou menos, conheci Dona Maria Conceição Figueiredo, José Soave, Waldemar Bília, Atinilo José, Garcia Neto, Orlando Murillo, Ary Pedroso, Benedito Hilário, Tarcisio Chiarinelli. Até que a vida andou, o Jamil Netto fundou a Rádio Educativa,  trabalhei com o Benedito Hilário na Rádio Educativa quando o Jamil montou a Rádio Educativa, que na época funcionava junto ao SEMAE. Lembro-me que o Jamil disse-me que “Lo Porrelli” não era um bom nome, parecia mais nome de boutique. “-Seu nome é Paulo de Tarso Porrelli!”.
Que instrumento você tocava na Escola de Musica?
Estudei um ano e meio, fagote, com o Paulo Giusti.
Você foi para São Paulo em que ano?
Fui para São Paulo no final de 1989. Fui trabalhar na Jovem Pan, na Avenida Paulista, 807, 24 andar, Edifício Winston Churchill. Lembro-me que tinha um sapato e uma calça. No primeiro momento fiquei na casa de amigos, aluguei um quarto, fui me virando, conheci o Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o “Tuta”, seu filho, o “Tutinha”. Eu escrevi para o Fernando Vieira de Mello que introduziu no Brasil o estiloAll news”de rádio termo usado para designar uma emissora, seja de rádio, seja de televisão, cuja programação é composta apenas de notícias ou reportagens, ou seja, de cunho apenas jornalístico. Nessa carta que escrevi disse-lhe que estava insatisfeito no interior, queria aprender, trabalhar em uma grande rádio, a Jovem Pan é a minha paixão, eu tinha TRANSGLOBE, um receptor de rádio multibanda fabricado pela Philco Brasileira. Ouvia na Rádio Mundial do Rio de Janeiro “Big Boy Show” e “Ritmos de Boite”.Trabalhei com produções teatrais, trabalhei com o Roberto Diehl no Teatro Municipal, fiz contra-regragem, cenotécnica, fiz backstage que em um show vai desde a preparação e montagem de palco até a execução do mesmo, do som e iluminação. Fazia a  divulgação. Apresentação. Fazia de tudo, tocava percussão em uma banda chamada “Casa Nova”
Financeiramente compensava?
Teve uma época em que vivemos de música. Tinha bailes todos os finais de semana, domingueiras. Fiz divulgação de discos. Toquei em festivais. Inclusive toquei no Festival da Musica Independente, em São Paulo, na Fundação Padre Anchieta, no Teatro Sesc Anchieta da Rua Doutor Vila Nova, 245 - Vila Buarque. Fiz teatro com a Berenice Danelon, participei de produções da Caterpillar, junto com o Studio 415. Sempre estive envolvido com arte, poesia. Sempre escrevi poesia.
Você tem quantos livros publicados?
Tenho um: “Nós de Nada. Uma Belezura de Figura e Palavreado”, ilustrado pelo Palmiro Romani. O segundo livro está saindo agora: “O Som da Pétala Ágata”. Ele é ilustrado pela Carla Durante uma artista gráfica, editora de arte, com quem eu trabalhei na Rede Globo. O prefácio é do Dr. Ivan Amaral Guerrini que é físico quântico pela Unesp e a apresentação do Pasquale Cipro Neto, professor de lingua portuguesa. A Editora é a Palavra Impressa, situada em São Paulo, de propriedade do Julio, um grande parceiro.
Você recebeu alguma resposta da Jovem Pan quando mandou a carta à Fernando Vieira de Mello?
Um dia cheguei no SEMAE na Rádio Educativa, que era FM Municipal, recebi uma ligação do Fernando Vieira de Mello dizendo para que eu fosse até a Jovem Pan em São Paulo. Cheguei lá, ele me disse”-Gostei de você! Vamos para a reunião de pauta!” Fui, estavam lá Maria Elisa Porchat, que escreveu o livro “Radio e Jornalismo na Jovem Pan”, Drauzio Varella, Helvio Borelli, Valmir Salaro, Pedro Bassan, pessoas com condições mais privilegiadas do que a minha que estava começando.  Nos primeiros seis meses viajei de São Paulo à Piracicaba quase todos os dias. Se eu fosse fazer o trânsito já tinha um carro esperando, passava as informações sobre o trânsito, depois ia para a redação, fazia a reunião de pauta, e da-lhe telefone, checagem, reportagem. Marcelo Parada foi meu chefe de redação na Jovem Pan e hoje é diretor nacional de jornalismo no SBT.
Quanto tempo você ficou na Jovem Pan?
Fiquei uns sete anos. Conheci o Seu Brim (Alberto Brim D´ Araújo Filho), era natural da Bahia, locutor, trabalhava no comercial da Pan, era uma pessoa sempre de bom humor, com seu vozeirão ele sempre me dizia: “-Oi Piracicaba! Tudo Manteiga!”. Para ele a vida era tudo manteiga. A Jovem Pan foi uma grande escola, fiz bons amigos. Ai fui fazer assessoria de imprensa, dentro de agências de assessoria de imprensa, escritórios de comunicação, que tem seus clientes, são empresas que contratam essas assessorias de imprensa. Trabalhei com a Câmara de Comércio Suiço-Brasileira, Redes de Hotéis de Santa Catarina, várias editorias na área de alimentos, turismo, política, economia, negócios, finanças, atendia a Zurich Financial que é uma seguradora suiça muito famosa.
Para o profissional de comunicação financeiramente a asssessoria de imprensa é interessante?
Financeiramente é o melhor caminho. Se tiver bons clientes, os resultados são interessantes. Ocorre que assessoria de imprensa é uma cultura pouco difundida. Quem contrata imagina que o assessor de imprensa é aquele que irá dar visibilidade para você desde a hora em que você acorda até a hora em que você irá dormir. A atividade do assesssor de imprensa é administrar fluxos de informação. Tornar a relação entre a fonte e as redações a mais expontânea e produtiva possível para que isso se traduza em algo de interesse público. O que o assessor de imprensa tem que fazer? Detectar no status da empresa e nos seus produtos aquilo que é realmente jornalístico para que se transforme em notas, matérias, entrevistas, artigos, crônicas. Para se ter o melhor aproveitamento de comunicação jornalística.
Paulo, você demonstra ter um conhecimento prático muito expressivo.
Sou autodidata, intuitivo, do batente mesmo. Aprendi conforme a água ia subindo eu saia nadando. Na Bandeirantes trabalhei com Fernando Mitre, José Ochiuso Júnior, piracicabano, Carlos Colonnese um dos maiores produtores de TV, piracicabano, eu era da equipe do Cabrini, produtor e editor. O Cabrini que me levou para a Bandeirantes e me ensinou na prática a trabalhar na televisão. Eu já fazia produção independente para ele, fizemos aquele Globo Repórter com a Jorgina Maria de Freitas (Jorgina Maria de Freitas Fernandes é uma ex-advogada brasileira e ex-procuradora previdenciária. Organizou um esquema de desvio de verbas de aposentadoria).
Como reporter investigativo o Cabrini é um exemplo a ser seguido?
Sob o meu ponto de vista o Cabrini é um dos maiores reporteres da televisão brasileira. Ele é intrépido, não  sossega, é essenciamente investigativo. É um Sherlock Holmes, um 007 do jornalismo. Ele não desiste enquanto não esgota todas possibilidades de uma checagem de uma fonte, de uma pesquisa, um levantamento, uma apuração, ele vai fundo. Nem precisava, ele tem um nome muito respeitado, não precisa provar mais nada para ninguém. Cobriu como jornalista correspondente  sete guerras, muitas olimpíadas, Formula 1, Copas do Mundo, ele iniciou na televisão com 17 anos. Não tem o que ele não faça na televisão.
Depois de sair da Jovem Pan você foi fazer assessoria de imprensa, foi em um único local ou em várias empresas?
Ai eu rodei bastante. Sempre com a base em São Paulo, mas rodando bastante.
Você trabalhou com Washington Olivetto?
Atualmente estou em contato com ele por algumas questões profissionais. Ele está recebendo um prêmio em Nova Iorque. Não tive a felicidade de trabalhar com ele. Conheci o Washington na época da Democracia Corinthiana, com o Magrão (Dr. Sócrates) que me chamava de Geninho. O Casagrande me chamava de Ruminigh.
Você morou fora do Brasil?
Morei um período em Portugal, em 1992, permanecilá por uns seis meses. Foi uma oportunidade de fazer rádio em Portugal.
Qual é a reação dos portugueses ao ouvir um locutor brasileiro, com sotaque brasileiro?
Eles são apaixonados pela nossa eloquencia, pelo nosso ritmo, pela nossa fala. Naquela época estava uma efeverscência em Portugal, por um lado os dentistas, por outro lado os radialistas. Fiquei em Faro, colonizada pelos mouros, depois subi para Lisboa e em seguida fui para Figueira da Foz. Era contrato com prazo determinado. Na época eu não tinha a cidadnia italiana, só tornei-me um cidadão italiano em 1994. Hoje tenho dupla cidania, brasileira e italiana. Na Inglaterra tenho o National Insurance Number. Equivale a receita e ao seguro social brasileiro.
De Portugal para qual pais você dirigiu-se?
Voltei ao Brasil, continuei com meus trabalhos de Jovem Pan, cobrindo estâncias, fazia projetos de inverno e verão com eles,.
Você é um agitador cultural?
Já fui! Até a Rua do Porto, em Piracicaba, em parte tem pouco do meu suor ali. Lembro-me que o Aldano Benneton era da COOTUR enquanto o Alceu Marozzi Righetto era da Ação Cultural. Eu dizia: “- Aldano, me dá um palanque , um som, eu vou lá fazer uns happiness (alegrar). Fazer um varal literário. Artes plásticas. Chamo umas bandas para tocar. Lembro-me que o Faganello ia. A Rua do Porrto era muito diferente do que é hoje, além do Arapuca tinha um ou outro barzinho. Eu fazia uma movimentação enorme já preconizando a idéia do calçadão, aquela movimentação toda, deslumbrando um complexo turístico. Sonho com a volta do bonde em Piracicaba, eu andei de bonde! Em 2004 fui para a TV Bandeirantes com o Cabrini, fiquei no Jornal da Band, só tenho a agradecer a família Saad, a Band é uma excelente empresa. Trabalhei com a Eleonora Paschoal no Jornal da Band, uma profissional fantástica. Aprendi muito, fui muito bem tratado. O Cabrini é um profissional excepcional. Grande companheiro, homem de uma generosidade muito grande. Só tenho boas lembranças da Rede Bandeirantes de Televisão. Permaneci lá por cinco anos. Dai o Cabrini foi para a Record, e eu fui para a Globo, ela já estava instalada na Avenida Doutor Chucri Zaidan, cubri as férias de uma colega que trabalhava no Jornal Hoje, com a Tereza Garcia. O Mariano Boni de Mathis hoje diretor executivo de jornalismo da Rede Globo de Televisão é para mim é um dos mais competentes homens da televisão brasileira. Está lá ha quase 30 anos já ocupou inumeros cargos.
Qual era a sua função na Globo?
Era editor de texto, Primeiro no Bom Dia São Paulo, depois fiz um pouco de Bom Dia Brasil, SPTV1, SPTV2, trabalhei com Sandra  Annenberg, Evaristo Costa, Cesar Tralli, Carlos Tramontina. Ai fiquei locado no Jornal da Noite com William Waack e Christiane Pelajo. Permaneci por 3 anos na Globo. O meu contrato era um contrato de prazo determinado, eu pleiteava uma vaga, é muito dificil porque quem está não quer sair. A Rede Globo é indiscutivelmente uma das melhores empresas do mundo para se trabalhar. Não é o salário. É o conjunto da obra. É o trato humano, como o RH cuida de você, são os benefícios que você tem, é uma grande empresa. O Dr. Roberto Marinho ensinou uma coisa muito importante, e que fique esse legado, as empresas precisam de gente que sabe lidar com gente.
Após deixar a Globo qual foi seu próximo destino?
Fui para a Inglaterrra onde permaneci por dois anos. Aluguei um quarto, em uma casa de uma inglesa, fazia meus trabalhos como free-lancer (profissional autônomo) mandei uns artigos para a Tribuna. Foi um período de calma e reflexão. A essa altura da vida posso dizer que de rádio eu entendo, de TV eu entendo, de jornalismo eu entendo, de assessoria de imprensa eu entendo. Permeiei por campos que me deram condições de saber onde hoje eu ponho ordem na casa. Ergo o telhado, sei onde está a bagunça e rapidamente eu ponho ordem na casa. Sei lidar com as pessoas, gosto do ser humano, porque eu gosto de mim. Tive bons mestres, aqui o Evaldo Vicente, o Fernando Vieira de Mello na Jovem Pan, Augusto Mario Ferreira, já falecido, me ensinou tudo sobre assessoria de comunicação, um dos maiores reporteres que o Globo já teve, o glorioso JB Jornal do Brasil já teve, foi asessor de imprensa do Banco de Tokio, da COSIPA, um dos maiores textos que já vi. Trabalhei com Aureliano Biancarelli da Folha de São Paulo. Eu me sinto contemplado por Deus, agradeço muito, e isso não é um ato político, falo o que meu coração sente, o Ferrato é um homem sensivel, viu em mim um potencial, sabe que desde o dia 5 de janeiro de 2015 eu estou aqui das sete horas da manhã até as sete horas da noite. As coisas foram acontecendo naturalmente, sem atropelo sem ninguém forçar a natureza dos acontecimentos. Entendo muito bem como é a malha social piracicabana. A nossa área é muito dificil. O mercado é restrito. Eu sempre peço a Deus, não quero ocupar o lugar de ninguém, quero apenas o meu lugar. Acho que Deus me ouviu, o Ferrato foi sensível a isso, o Miromar também. Tenho o Evaldo como um irmão mais velho, nem sei dizer como ele me conduziu em muita coisa. Sou um piracicabano que voltei para casa literalmente. O Evaldo fala que foi por amor e pelo amor. Estou perto da minha mãe que está com 94 anos e muito feliz por eu estar aqui. O que peço à Deus? Que me dê saude para ter a maior aplicabilidade do conhecimento que trago lá de fora, técnico, humanístico, profissional à Piracicaba.
Ha quanto tempo você assumiu a direção da Rádio Educativa?
Estou aqui ha duas semanas, acho que já produzi sensíveis mudanças. Tenho o proposito de suprapartidariamente, apartidariamente de prestar o melhor serviço à comunidade piracicabana, aos piracicabanos, a cidade e região, para deixar esta rádio melhor ainda em todos os sentido: técnicamente, jornalisticamente, musicalmente, artisticamente, educacionalmente, a função dela é educativa, deixar essa rádio com uma grade de programação estratificada, junto ao publico de forma equanime, sutil, elegante, gostosa, contemplando as músicas de todas as nações, uma rádio além fronteiras. É uma rádio que vai respeitar muito produções locais, musicos locais, a Pá Moreno já está no ar, vamos tentar radiografar as necessidades com a equipe que temos, e em um curto espaço de tempo promover e despertar os profissionais que estão aqui dentro. É uma equipe maravilhosa, dedicada, temos aqui, Xilmar Ulisses que é um dos radialistas mais experientes que nós temos na cidade, com um programa estratificado que é o “Bom Dia Cidade”, das 7:30 as 9:30. Já estamos fazendo das 9:30 às 12:00 horas só MPB. “Educativa MPB – Os Clássicos da Música Popular Brasileira” Na hora do almoço, herança do Jamil , inteligenmtemente, o  programa “A La Carte” vamos engordá-lo com musicas instrumentais que vão além de Ray Connif, com outros grandes maestros, musicos, Big Bands, anos 30,40. Buscar equilibrio entre música, informação, entretenimento, prestação de serviços. Tudo isso 24 horas no ar. Em breve vou conversar com a tecnologia de informática da prefeitura, logo estarei conversando com a secretária Angela que está voltando de férias, tenho estado diariamente com o Miromar, ele tem um dominio muito grande da comunicação como um todo, ele é o diretor do Centro de Comunicação Social da Prefeitura, um profissional muito experiente, sensível, está me dando toda retaguarda. Tiramos a programação do ar até o inicio de fevereiro, justamente para repaginar, revigorar, voltar com força, alguns programas realocados. Deixar uma grade equilibrada, desengessar. A Rádio Educativa não pode ser oficialesca. Por isso quero pegar o site dela e transformar em um portal com Podcast (nome dado ao arquivo de áudio digital). João Umberto Nassif deu uma entrevista boa para a rádio, pego uma foto sua, aspas, e ponho lá: “-Ouça a reportagem!”. Pego um depoimento seu, isso desdobra no facebook, nas outras mídias, videos com depoimentos, eu quero que o piracicabano se veja e se ouça através da Educativa.
O profissional de comunicação tem que estar sempre atento as minúcias?
Samuel Pfromm Netto dizia: “Infeliz é o jornalista que não sabe da importância de um telefone que está tocando!” Isso na época em que existia “furo”, hoje com o advento da internet muitas coisas mudaram.
Posso afirmar que estou diante de um “monstro sagrado da comunicação”.
De forma alguma! Apenas passei por inúmeras dificuldades e situações onde fui lapidando minhas dificuldades. Eu estava na Inglaterrra e por insistência de uma pessoa muito próxima decidi voltar para Piracicaba, minha terra natal. É a celebre frase de Leon Tolstoi : “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. É um aspecto curioso, algumas pessoas que conhecem a minha trajetória por veículos de expressão nacional, ficam intrigadas ao me verem aqui em Piracicaba, o que para alguns pode a principio aparentar um retrocesso, na verdade é uma opção de vida pessoal, de foro intimo, que eu escolhi, foi uma decisão minha.
Você tem uma passagem muito interessante logo no início da sua carreira.
No vigésimo quarto andar do prédio onde fica a Jovem Pan, você vê toda a zona sul de São Paulo. Estavamos em uma reunião de pauta, com o time de jornalistas completo. A Saldiva Associados Propaganda Ltda. Tinha feito uma campanha para descobrir a cara de São Paulo. A Folha de São Paulo ia noticiar na segunda feira. O Fernando Vieira de Mello ficou sabendo. Estavamos eu e o grande roteirista Valmir Salaro, que hoje é do programa Fantástico, de plantão naquele fim de semana. Seu Fernando ligou agitado na rádio Jovem Pan, pedindo que achasse o telefone da Rose Saldiva. O caipirão aqui foi como um cão perdigueiro procurando. Até que consegui convencer uma telefonista da Telesp a dar o número de telefone de algum Saldiva. A Rose Saldiva era “blindada”. Consegui o telefone de uma pessoa próxima a Rose Saldiva, após muito conversar, e sob a condição de não revelar a ninguém que tinha sido ela que tinha fornecido o número, consegui o número do telefone da Rose Saldiva. As duas e meia da tarde, olhei para o Claudio Mauricio, chefe de reportagem que estava logo atrás de mim. Liguei para a Rose Saldiva, identifiquei-me e a convenci a falar com o Fernando Vieira de Mello. Quando disse que a Rose  Saldiva estava na linha, ninguém na redação acreditou. Era no tempo da máquina de escrever ainda, todos se levantaram, vieram próximos ao telefone. Gravamos com ela, “furamos” a Folha de São Paulo. Na segunda feira eu estava viajando de onibus de Piracicaba à São Paulo, a rádio pagava minha passagem. Fui tirar carteira de motorista aos 27 anos. Durante uma semana a Jovem Pan divulgou o trabalho da Saldiva , mostrando a cara de São Paulo.  O Fernando Vieira de Mello um dia me chamou, no meio da reunião de pauta, tinha umas 20 pessoas mais ou menos, e disse: “Isso é lição para todos nós, moramos aqui, temos empregada, carro, vida estável, e esse menino está dando tanto quanto nós, conta do recado. Ele viaja de onibus todo dia daqui para lá e de lá para cá. São 170 quilometros de vinda e 170 quilômetros de volta, mais as estações de metrô. Esse menino é um exemplo de ética”. Na Rede Globo eu cobri as férias no Jornal Hoje, e a Teresa Garcia me ensinou um termo que eu nem conhecia.  Quando cumpri aquelas férias e voltei para a Bandeirantes, antes de voltar a ser contratado pela Rede Globo, ela disse-me: “ Paulo, muito obrigado, sobretudo pelo seu trato humano com a minha equipe”. Eu estava trabalhando com pessoas traquejadas: Sandra Annenberg, editores de noticias internacionais, de alto nível, repórteres com muito tempo de vídeo, Ernesto Paglia, gente que passa noventa por cento da vida dele dentro da televisão.  Posso afirmar que Pedro Bassan é um dos integrantes mais brilhantes da televisão brasileira. Trabalhei com ele na Jovem Pan, estive com ele em Lisboa quando ele foi correspondente lá.
A exigência de uma formação acadêmica para a profissão de jornalista está sempre criando polemica. Com toda sua experiência, qual é o seu ponto de vista a respeito?
Clovis Rossi faz uma reflexão magnifica: “Jornalismo é um exercício basicamente simples, que depende da boa execução de apenas quatro verbos: saber ler, ouvir, ver e contar. Se alguém acha que ao menos um desses verbos (o ideal seria que fossem todos) pode ser ensinado em uma faculdade de jornalismo, deve mesmo ser a favor do diploma específico. Quem, como eu, duvida dessa possibilidade só pode ser contra. Eu sou. Pegue-se o verbo ler, em ambos os sentidos, o mais primário, de alfabetização para compreender palavras escritas, e o mais nobre, o de gosto pela leitura. No primeiro caso, ou se aprende a ler na escola primária ou nunca mais, salvo raros casos de autodidatas. No segundo, tampouco a faculdade pode ensinar o gosto pela leitura. Ou vem do berço ou se adquire nos primeiros tempos pós-alfabetização. Como não creio que se possa escrever bem sem ler bastante, depender da faculdade de jornalismo para desenvolver esse gosto só fará o profissional chegar ao mercado de trabalho com um deficit talvez irreparável. Alguma faculdade pode ensinar a ver? Ou a ouvir? Duvido. Pode, sim, desenvolver o talento, de todo modo natural, para contar histórias. Mas qualquer faculdade pode fazê-lo, acho. Pulemos da teoria para os fatos concretos. Ricardo Kotscho não fez faculdade de jornalismo. Nem qualquer outra, a não ser depois que já estava solidamente instalado na profissão. Nada disso o impediu de se tornar um dos melhores repórteres de todos os tempos no jornalismo brasileiro. Se, quando eu lhe dei o primeiro emprego na chamada grande imprensa (no "Estadão"), já vigorasse a exigência do diploma, o jornalismo brasileiro teria perdido um imenso talento. Se a obrigatoriedade do diploma valesse nos anos 1960, o jornalismo brasileiro teria ficado sem o gênio de Cláudio Abramo (1923-1987), que foi co-responsável pelas reformas que tornaram o "Estadão", primeiro, e a Folha, depois, os grandes jornais que são. Abramo não tinha diploma algum. Não obstante, foi convidado pela USP para ministrar curso de aperfeiçoamento para estudantes de pós-graduação. Irônico, não? Desconfio que boa parte das equipes com as quais Cláudio trabalhou tampouco tinha diploma de jornalista, o que não impediu que fizessem grandes jornais. Esclareço, antes que alguém suspeite que estou advogando em causa própria, que eu, ao contrário de Kotscho e Abramo, tenho, sim, diploma específico, aliás o único. Mas garanto que aprendi mais, na prática, com gente como Kotscho, Abramo e tantos outros sem diploma do que na faculdade. Um segundo ponto que me leva a ser contra o diploma específico é a evidência de que nem a mais perfeita faculdade de jornalismo do mundo pode ter um currículo que ensine a seus alunos todos os temas que, um dia ou outro, podem lhes cair sobre a cabeça. Não dá para ensinar agricultura e transportes, tênis e política, legislação e teatro e por aí vai. Não dá. Quem pensa em entrar para o jornalismo com um objetivo definido (jornalismo econômico, digamos) deve fazer economia e não jornalismo. Se tiver desenvolvido os quatro verbos-pilares (ver, ouvir, ler e contar), estará mais pronto para a profissão, na área específica, do que se fizer jornalismo. Último ponto: não entro na discussão sobre a diferença entre profissões (medicina, engenharia, por exemplo) que, mal exercidas, podem matar, e aquelas (jornalismo) que não podem e, portanto, não precisam de diploma específico. Jornalismo pode matar, sim, mesmo que seja moralmente. Mas é de uma presunção absurda supor que só faculdades de jornalismo ensinam ética.”
Em Assessoria de Imprensa cada detalhe passa a ter uma importância que pode fazer a diferença?
Em Assessoria de Imprensa eu atendi a um Cluster (concentração de empresas) de pousadas em uma praia catarinense. Lá tem a APA Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, são 130 quilômetros de Florianópoilis para baixo, onde de julho a novembro elas vão procriar e amamentar filhotes ali. Fiz muita coisa lá, cadernos de turismo, Estadão, Folha. Levei um grande número de jornalistas para lá, inclusive jornalistas de outros países. Fiz o Globo Ecologia lá. 
Quantos idiomas você fala?
O inglês, o italiano mais em função da origem da minha família, como sou filho temporão meu bisavo Arcanjo Porrelli e minha bisavó Maria Lucafó, se radicaram e ajudaram a fundar Mombuca. Meu pai é natural de Mombuca. Minha mãe nasceu em Capivari. Minha avó materna, Angelina Perini e o pai da minha mãe Paschoal Moroni, falavam italiano. A minha mãe acabou falando o italiano abrasileirado. Meu pai sempre dizia: “- Uma única palavra pode custar vidas”. Mal sabia ele que eu iria fazer da palavra a minha ferramenta principal.  







OLIVIO NAZARENO ALLEONI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 31 janeiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO:  OLIVIO NAZARENO ALLEONI

Olívio Nazareno Alleoni nasceu em Piracicaba a 15 de abril de 1947, na Avenida Rui Barbosa, quase em seu final, no último quarteirão do lado esquerdo no sentido centro-bairro, isso no tempo em que a maior parte das crianças nascia em sua própria casa. Filho de José Santo Alleoni e Antonieta Busatto Alleoni que tiveram mais dois filhos José Rossini e Maria Ruth. Olívio Nazareno Alleoni é médico, cirurgião vascular, escritor, com vários livros e grande número de artigos publicados. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, da Academia Piracicabana de Letras, do Clube do Escritor. Pesquisador realizou trabalhos inéditos junto a fontes de tradições como o cururu, Festa do Divino. Com dedicação e inúmeras horas de trabalho, viagens, noites não dormidas, conseguiu reunir farto material envolvendo imagens e som nunca antes obtidos. Voluntário dedicado do Lar dos Velhinhos tem dado sua incansável contribuição para a divulgação e preservação do mesmo.
Qual era a atividade principal do seu pai?
O meu pai era agricultor, sempre foi agricultor. Minha mãe era professora primaria. Morei na Vila Rezende até uns três anos, dos três aos seis morei na fazenda. Aos seis anos mudamos para a casa situada na região central de Piracicaba, onde residimos até hoje.
Seus primeiros estudos foram feitos em que escola?
Estudei no Grupo Escolar Dr. Moraes Barros, distante algumas quadras de casa. Minha primeira professora foi Dona Amélia, a segunda professora foi Dona Djanira Ribeiro Germano, mãe da Professora, Doutora, Marly Therezinha Germano Perecin. O curso ginasial e o científico eu estudei no Colégio Piracicabano. Fiz o cursinho preparatório em Campinas, na Praça Carlos Gomes, para ingressar na faculdade.
A sua intenção era prestar vestibular em que área?
Já tinha definido que iria cursar medicina. Entrei com 18 a 19 anos. Cursei medicina na Faculdade de Medicina de Taubaté, hoje Universidade de Taubaté – UNITAU foram seis anos de curso. Durante todo esse tempo fui monitor de biofísica. Eu tinha a intenção de fazer biofísica, um professor, Bonoldi, chefe da biofísica, me fez ver os inconvenientes dessa escolha, pelo pouco ou quase nenhum incentivo que iria encontrar como pesquisador, pelo menos naquela época. Biofísica é ciência pura, é um trabalho onde o profissional torna-se um cientista. Algo que infelizmente no Brasil é pouco estimulado. O Professor Bonoldi percebeu que eu gostava dessa área, tinha aptidão, desenvolvia muito bem as aulas a que me propunha a realizar, mas as perspectivas não eram promissoras. Foi um choque nas minhas pretensões. Dediquei-me um ano trabalhando na área de psiquiatria.
Na época, a psiquiatria era ainda uma ciência que exigia muito do profissional, sem muitos recursos hoje disponíveis?  
Era uma área extremamente desgastante, utilizando recursos disponíveis e conhecidos na época. Trabalhei no Hospital Psiquiátrico de São José dos Campos que era um hospital particular. Por um bom tempo o Professor Tarciso Ulhoa Cintra era diretor da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté. Lá tive contato mais próximo com indivíduos com graves desvios de conduta, inclusive psicopatas. Os hospitais psiquiátricos eram verdadeiros depósitos de pacientes.
Esses locais não existem mais, as doenças não existem mais ou os pacientes migraram para outras áreas?
Os casos mais graves vão para a Casa de Tratamento e Custódia de Taubaté.  Houve uma evolução muito expressiva nos medicamentos, muitos pacientes permanecem junto a sua própria família. Os estudos internacionais avançaram muito, os padrões eletros-fisiológicos cerebrais são distintos em indivíduos com comportamentos diferenciados.  A grande pergunta é até quando muitos comportamentos podem ser rotulados de doenças, variações, ou de algo adquirido durante a formação embrionária?
O funcionamento do cérebro humano ainda é um grande universo a ser desvendado?
Temos conhecimentos superficiais. A fundo não o conhecemos. Há muito sendo feito.  Existem muitos estudos, trabalhos, que revelam indícios na relação entre meio externo e ondas cerebrais, seus efeitos, suas conseqüências.
Após esse período trabalhando com psiquiatria qual foi seu próximo destino?
Fui para o Hospital das Clínicas, em São Paulo, na Avenida Dr. Arnaldo. Resolvi fazer anestesia. Tornei-me médico-anestesista. A primeira turma formada pela Faculdade de Medicina de Taubaté foi uma turma privilegiada, os professores eram os mesmos que davam aulas na Escola Paulista de Medicina.  Fiquei uns seis meses trabalhando como anestesista. Perguntei-me: “- Será que é isso realmente que eu quero?”. Voltei para Taubaté, fiz um ano de cirurgia geral em Taubaté. Nesse tempo conheci Ohannes Kafejian, ele era cirurgião vascular, precisava de alguém que ficasse em Taubaté acompanhando os pacientes vasculares. Comecei a fazer, fiquei um ano em Taubaté, ai fui para São Paulo, comecei a ficar no Hospital Heliópolis e no Hospital Santa Cruz.  Isso foi por volta de 1974. Fiquei com Ohannes Kafejian de 1974 a 1978. Uma vez por semana eu ia para Taubaté. No Hospital Santa Cruz permaneci até 1979. Ao mesmo tempo comecei a fazer Terapia Intensiva, comecei a fazer UTI também no Hospital A.C. Camargo, Hospital do Cancer. Permaneci trabalhando em São Paulo de 1974 a 1979. Em 1979 meu pai teve infarto. Eu estava em São Paulo, quando Dr. Bicudo telefonou-me comunicando que meu pai tinha tido um enfarte grande, com poucas posssibilidades de sobrevivência. Deixei tudo e vim para Piracicaba, era um enfarto que atingiu toda a parede anterior, não havia muito o que fazer  a não ser medicar e orar. Milagrosamente meu pai conseguiu superar isso. Ele era acima de tudo um atleta, andava no mínimo uns 10 a 15 quilômetros por dia, no sítio, na cidade. Ele superou o enfarto.  Só que apareceram outros probleminhas de saúde. Na época ele tinha cerca de 70 anos. Nesse tempo ele teve um acidente com o jipe, fez um hematoma extra-dural. Começou a juntar sangue entre o osso do cranio e o cérebro, comprimindo o cérebro. Naquele tempo era um problema extremamente sério. Fez uma cirurgia em Campinas. Com sucesso.
Isso fez com que você viesse a trabalhar em Piracicaba?
Montei meu consultório em Piracicaba, passei a fazer parte da Unimed, do Hospital dos Fornecedores de Cana, no Hospital Piracicaba do Dr. Adib Coury.
Você trabalhou também no INSS?
Trabalhei, o vinculo que eu tinha com a UTI no Hospital Heliópolis era um vinculo com o INSS, naquele tempo era chamado INAMPS. Passei em um concurso de cirurgia vascular e passei em um concurso de UTI. Apesar de ter um ótimo relacionamento profissional em São Paulo, por razões familiares decidi permanecer em Piracicaba. Na década de 2000 cessei minhas atividades profissionais na área médica.
Foi com a disponibilidade maior de tempo que você decidiu escrever um livro?
A história do primeiro livro surgiu a partir do falecimento de uma tia, na década de 70, uma série de documentos que estavam com ela veio parar em casa. Não era do agrado da minha mãe que mexesse nesses documentos. Por volta de 2000 minha mãe autorizou que mexêssemos nesses documentos, 30 anos depois. Comecei a revirar esses documentos, ai surgiu a idéia de escrever a história da família, a história da comunidade italiana em Piracicaba. Surgiram dois livros, o primeiro que embora pronto, considero que não é o momento histórico de ser publicado. Escrevi um segundo livro, com base nesses documentos e publiquei-o. Foi o primeiro livro que lancei: “Uma Fresta Para o Passado”.
Como surgiu a inspiração para escrever esse livro?
Nessa época minha mãe estava muito doente, ela reagia de maneira imprevisível, com isso fui obrigado a permanecer mais em casa, a disposição dela, com toda a documentação que eu tinha nessa mala, comecei a escrever. Abordei aspectos como o imigrante italiano era tratado, quais eram os valores dele em substituição ao negro pela mão de obra italiana. A escravidão branca, não deixava de ser uma escravidão.
A repercussão desse livro foi muito boa?
Acredito que teve uma boa repercussão. Alguns outros livros se basearam nele, para serem escritos, como o livro de Samuel Pfromm Netto, muitos detalhes citados pelo Pfromm em seu último livro que foram retirados de lá. Recebi um elogio muito grande do Samuel Pfromm Netto que me orgulhou muito. O livro foi distribuido pelo Estado de São Paulo e deve ter atravessado as fronteiras de São Paulo. Nessa fase vim a perder minha mãe.
O seu segundo livro surgiu como?
Apareceu-me o Oscar Bueno, conhecido como “Serrinha”, filho de Sebastião da Silva Bueno, o Nhô Serra, com o propósito de escrever um livro sobre o pai dele. No fim saiu o livro “Cururu em Piracicaba”. Escrever o livro foi um verdadeiro exercício de terapia.
Além do livro você um vasto material visual e de áudio sobre o cururu?
Tenho. Tenho muito material sobre cururu.
Pode-se dizer que hoje você é a pessoa que mais conhece sobre cururu em Piracicaba?
Acredito que essa avaliação deve ser feita por outras pessoas, não por mim.
Podemos afirmar que em termos de documentação você tem o maior volume de material sobre cururu?
Eu acho que sim. Entre filmagens, expressão, conhecimento, gravação.
Você já foi procurado alguma vez para expor sobre o assunto?
Já me procuraram algumas vezes para falar sobre o material.
Ai surgiu o terceiro livro?
O terceiro livro foi “Trinta Anos do Teatro Municipal Dr. Losso Netto”.  O quarto livro foi “Lar dos Velhinhos de Piracicaba”  Referente aos 100 anos de existência do Lar dos Velhinhos de Piracicaba. Talvez tenha sido o livro mais elaborado, capa dura. O livro “Uma Fresta Para o Passado” é um livro mais analítico, mais pesquisa.
Agora você está lançando outra obra?
O Dr. Jairo Ribeiro de Mattos me procurou com interesse em apresentar as obras de artes existentes no Lar dos Velhinhos de Piracicaba. Existem muitas obras, são obras de valor estimativo que refletem uma fase da pintura em Piracicaba. Tem obras que são manifestações espontâneas do desenvolvimento pessoal cujo valor é a sua existência e pela força com que foram feitas.
Que tipos de obras existem no Lar dos Velhinhos?
Temos os afrescos, pinturas a óleo, esculturas, e alguns objetos não existentes mais. Totalizam aproximadamente 300 obras, é o patrimônio artístico do Lar.
É do conhecimento de grande número de pessoas que o Lar dos Velhinhos está sempre em busca de recursos, a venda dessas obras poderia trazer esses recursos?
Eu diria que o valor monetário não é representativo a ponto de cobrir compromissos financeiros. Considero que uma publicação desse nível, eu não sei ainda se terá outra publicação mais elaborada, mas ela tem algumas funções: 1-) Conscientizar Piracicaba das obras que existem lá, para serem vistas, mostrando o desenvolvimento da pintura em Piracicaba. Com alguns artistas mais simples e outros de renome. 2-) Serve para se fazer um inventário mostrando quais obras estão no Lar, sedimentando esses valores como obras que são do Lar. Se amanhã por algum motivo essas obras vierem a ser extraviadas esta é uma prova cabal, pública, de que a obra não pertence a um terceiro.
Para o morador do Lar qual é a importância da existência dessas obras?
Eu acho que significa muito, o idoso infelizmente está meio jogado ao léu pela sociedade, o Lar tem sempre uma capacidade de criar estímulos para atividades próprias à terceira idade. Nesse aspecto o Lar constitui em um desenvolvimento e estimulo á terceira idade, há muitas pinturas simplistas, mas dentro da simplicidade elas carreiam o estimulo que foi para os abrigados pintarem aquilo. Estatutariamente nenhuma dessas obras está a disposição para venda. Uma boa parte dessas obras foi doada pelo Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, outras foram feitas pelo Rodrigues (Baia), que retratou muita coisa.
Essas obras acabam transformando o cotidiano do abrigado?
Eu acho que se existisse uma pessoa que fosse uma vez por semana, a cada duas semanas, e estimulasse os idosos, realizar uma oficina de arte, poderia ter vários artistas estimulando os talentos mais diversos possíveis. Todo mundo tem sua veia artística. Isso ajudaria na terapia do idoso, ele teria um compromisso perante ele próprio, isso é importante para o idoso, não teria o sentimento de inutilidade que muitas vezes domina a terceira idade.
Esse trabalho que está sendo apresentado tem quais características?
Foi feito um levantamento fotográfico, item a item, as imagens foram tratadas.
Fotografar obra de arte exige algumas técnicas específicas?
As disposições de algumas obras são em locais de acesso mais difíceis, a iluminação influi muito, para remover todas as obras para locais ideais é praticamente impossível. As obras foram fotografadas, editadas, corrigidas as deformações. Saiu um caderno com aproximadamente 300 imagens, alguma coisa foi colocada na internet. Existe o interesse do Dr. Jairo Ribeiro de Mattos em realizar uma exposição em nível internacional com os artistas, algumas obras provavelmente serão adquiridas, outras talvez sejam doadas ao Lar, e é também outra forma de motivar os idosos nesse aspecto. É uma idéia interessante, um salão de artes internacional voltado ao idoso e ao Lar dos Velhinhos.
Esse seu trabalho como autor tem algum custo para o Lar?       
É um trabalho voluntário, ao Lar não custa nada. Dos trabalhos que realizei nunca foi cobrado nada do Lar. É uma forma que encontrei em contribuir com a instituição.
Estará sendo realizada a Primeira Exposição Internacional de Arte Voltada ao Idoso?
As obras a serem apresentadas estão dentro de um tamanho padrão, a apresentação pode ser em óleo, crayon, grafite ou mesmo escultura. O motivo é voltado ao idoso. Um artista jovem pode realizar sua obra, desde que o tema seja o idoso.
É sabido que Piracicaba é muito rica em artistas plásticos, muitos são desconhecidos do grande publico, esta será uma oportunidade de exporem suas obras?
É uma oportunidade de se tornarem um pouco mais conhecidos, estarão colaborando com o Lar, provavelmente será feito um catalogo da exposição onde estará a obra de arte e o nome do artista.




ADILSON BATISTA DE OLIVEIRA

ENTREVISTA REALIZADA NO DIA 24 DE DEZEMBRO DE 2014 ESTÁDIO BARÃO DE SERRA NEGRA 
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 janeiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ADILSON BATISTA DE OLIVEIRA

Adilson Batista de Oliveira é advogado. Também é formado no ano de 1986 em educação física pela Unimep Universidade Metodista de Piracicaba. Como advogado atua em diversas especialidades da área. Nascido em Piracicaba a 22 de outubro de 1968. Filho de Mário Batista de Oliveira e Malvina Jorge de Oliveira que ainda tiveram os filhos Jurandir, Maria Julia, Jacira e Joseane. Adilson é casado com Geisiane Patricia Costa de Oliveira, pai de três filhos.
Qual era a atividade principal do seu pai?
Meu pai foi encarregado de montagem da Dedini, onde trabalhou por 35 anos. Ele chegou a trabalhar diretamente com O Comendador Mário Dedini nos anos 50. Minha mãe era do lar, mas tinha como atividade secundária a costura. Fazia toalhas, vestidos, roupas.
Em que escola você iniciou seus primeiros estudos?
Inicialmente estudei no SESI 165, no Jardim Primavera, localizava-se em frente a minha casa. O curso colegial eu estudei no COTIP – Colégio Técnico de Piracicaba, na época fiz o curso colegial técnico em metalurgia. A Faculdade de Direito fiz em São Carlos, tendo concluído em 1991.
O que o motivou a fazer dois cursos tão distintos entre si?
Eu já estava inserido na área de esportes, já havia jogado futebol em algumas equipes, percebi a necessidade de ter um curso superior nessa área, para ter maior estabilidade no futuro. Com o passar do tempo, por influência do meu tio Pedro, advogado, acabei ingressando na área de direito, onde tive a oportunidade de me destacar.
Isso significa que você era até então um atleta?
Joguei futebol em algumas categorias de base, no Rio Claro, na Ferroviária de Araraquara, com o Bazani, maior ídolo da Ferroviária. Na ocasião Bazani estava como treinador, supervisor e coordenador das categorias de base. Treinava lá no campinho da Fonte Luminosa, no campinho de areia. Joguei no Independente Futebol Clube, o Galo de Limeira, disputei o Paulista de Junior para eles. Disputei o Campeonato Paulista para a Ferroviária. No Rio Claro participei de algumas partidas no time profissional. Depois fui jogar em um time que hoje não existe mais, Estrela da Bela Vista Esporte Clube conhecido como Estrela da Bela Vista ou Estrela de São Carlos, o fundador foi João Ratti.
Você jogava em que posição?
Minha posição sempre foi quarto zagueiro e volante. Cheguei a jogar de lateral direito com o Bazani. Tive também uma passagem pela Portuguesa de Desportos com o Ivair Ferreira, o "Príncipe do Parque", ex-ponta-de-lança da Portuguesa. Joguei no Paulista Infantil  na Portuguesa.
Quanto tempo você ficou no futebol?
Como jogador foi pouco, uns dez anos. Como dirigente faz uns trinta anos.
A seu ver, o atleta torna-se “estrela” por quais razões?
Hoje, um atleta de futebol já nasce com as condições de ser um grande jogador. O que ele necessita é de incentivo. Quantos jogadores de Piracicaba que o Dinival Tibério conheceu e que acompanha há anos os jogadores de várzea, presenciou isso. O menino tem todos os pré-requisitos, mas não tem incentivo, ele tem que trabalhar para ajudar no orçamento familiar. É necessário incentivo financeiro, apoio, orientação. Quantos meninos apareceram na várzea como talentos, mas não tiveram como dar seqüência porque no cotidiano não tinham condições na família ou um patrocinador sustentar esse atleta.
Como advogado militante, esportista, a seu ver o esporte em todas as suas modalidades pode ser uma das formas mais eficazes e ao menor tempo possível, diminuir a criminalidade?
Acredito que sim. Se a pessoa tiver o incentivo para se dedicar ao esporte e sentir-se apoiado, com certeza ela não desviará sua atenção para outras atitudes.
O que está faltando para isso aconteça?       
Mais incentivo! Sinto que no passado recente tínhamos mais campos na várzea, mais situações em que o atleta podia praticar o esporte. Hoje há carência de atletas! Infelizmente caiu muito a prática de esportes. Nos anos 60,70 e 80 dava para formar três times de futebol amador para disputar o Campeonato Paulista. Hoje está difícil encontrar dois ou três jogadores de nível semelhante aos que existiam. Se for procurar na várzea quem é bom, conseguiremos até uns cinco jogadores há uns 15 ou 20 anos com certa facilidade encontrávamos até trinta bons jogadores na várzea.
O que mudou? Hoje o esportista bem sucedido tem uma receita financeira muito além do que a maioria das profissões. Antigamente jogava-se apenas pelo amor a camisa.
Um dos incentivos que faltam, principalmente no primeiro semestre, em Piracicaba, são as ligas soltarem os campeonatos que existiam antes: dentinho, dente de leite, infantil, juvenil. Hoje só tem o “Rocha Neto” que é de agosto a dezembro. Isso diminuiu as competições que existiam. A nossa cidade tem que ter mais iniciativas. Todos os campeonatos que estamos disputando, que estou vendo, as outras cidades estão sobressaindo mais. Inclusive o XV de Novembro as suas duas categorias perderam para Americana e Santa Bárbara D`Oeste no final da Copa Graal. Isso porque nessas localidades é bem maior o numero de atletas e também de times. 
De quem é a responsabilidade por ser criada essa situação em nossa cidade?
Sob o meu ponto de vista a própria comunidade, isso incluí as grandes empresas, indústrias, apóiam de forma muito tímida, inclusive a própria Liga deveria incentivar mais campeonatos no primeiro semestre isso em todas as categorias.
Infelizmente temos atletas de outros esportes que são campões muitas vezes até disputando em nome de cidades de outros estados que os patrocinam. Deixando bem claro que isso acontece já há décadas. Isso é deixar de olhar a educação como um todo para concentrar-se apenas na educação formal, de bancos escolares?
Concordo plenamente, a cidade deve investir. O que tem ocorrido hoje é que tendo como objetivo máximo fortalecer a categoria, com isso algumas cidades vão buscar atletas em outras localidades. Piracicaba ficou em segundo lugar nos Jogos Abertos, mas temos procurado investir nos valores locais.
Profissionalmente hoje o senhor exerce quais atividades?
Sou advogado, tenho escritório ao lado do Fórum local, sou diretor do Jardim Primavera Esporte Clube, sou diretor Esporte Clube XV de Novembro, onde sou diretor adjunto das categorias de base.
Qual é a função do Diretor das Categorias de Base que o senhor exerce?
É coordenar as categorias menores, no sentido de coordenar jogos, trazer patrocínio, trazer jogadores. Coordenar os técnicos, os preparadores, sempre acompanhando os trabalhos para ver se está fluindo, se está rendendo.
Quantas vezes por semana o senhor vem até o XV de Novembro?
Venho todos os dias, acompanho os jogos de categoria de base, ontem teve um jogo do Sub-20 em Hortolândia, eu estava lá.
A Categoria de Base abrange quais idades?
O Sub-20 é a categoria com idade máxima das categorias que disputam o Campeonato Paulista e a Copa São Paulo, é para atletas nascidos nos anos 1995,1996 e 1997. O Sub-17 é outra categoria de base para atletas nascidos em 1998 e 1999 e o Sub-15 que é para atletas nascidos em 2000 e 2001. São essas três categorias que o XV de Novembro tem atualmente. Futuramente vão fazer o Sub-13 e Sub-11.
Esses jogadores têm alguma remuneração?
No XV os juniores todos ganham uma ajuda de custo na faixa de R$ 200,00 a R$ 300,00. A grande meta é ir para o time profissional. Caso eu não esteja enganado este ano seis atletas saíram da categoria de base e foram para o quadro principal.
Há quanto tempo você participa do XV de Novembro?
Faz dois meses que retornei. No passado, tempo em que a TAM era parceira do XV fiquei por quatro anos, de 1993 a 1997 na gestão do time.
Porque a TAM deixou o XV de Novembro?
Foi uma parceria que deixou a desejar, por parte de ambos os lados.
O XV de Novembro de Piracicaba é um dos times mais antigos do Brasil, em sua opinião, não passou da hora dele estar ao lado dos times tidos como grandes?
Concordo, pela própria tradição do time, em minha opinião está caminhando para isso. O XV deve participar do Campeonato Brasileiro da série D. É o primeiro degrau para ele futuramente disputar o Campeonato Brasileiro da Série A. São quatro divisões: A,B,C e D. Com essa subida há um ganho, uma projeção,  em que ele consegue manter um elenco durante todo o ano. É importante para o XV e para Piracicaba que o clube esteja na série D.
Sob sua visão o XV de Novembro tem condições para ir para a série A, que é a principal?
O XV de Novembro já disputou as séries D, C, B e a série A também. Nossa cidade hoje tem em torno de 380.000 habitantes, tem estrutura para isso. É uma cidade que participa, vai ao estádio, e a partir do momento em que o XV começa a colher bons resultados, já temos visto isso, o campo fica cheio de torcedores.
Está sendo feita uma campanha bastante motivadora para que o torcedor associe-se ao XV de Piracicaba?  
A pessoa pode associar-se pagando os valores de R$ 25,00, R$ 40,00 e R$ 70,00 além de poder freqüentar aos jogos o associado tem uma série de benefícios diretos, como descontos em estabelecimentos comerciais, agora além dos descontos nos ingressos há também os descontos de todos os conveniados do XV. O associado que paga R$ 25,00 paga meio ingresso na geral, o associado que contribui com R$ 40,00 pagará meio ingresso no Campeonato Paulista em Piracicaba e o contribuinte com R$ 70,00 entra de graça em qualquer parte do campo. A Ponte Preta tem 8.000 associados. O Guarani tem 4.000 associados. O XV de Novembro tem 736. Se Campinas tem 1.900.000 habitantes, em contrapartida tem dois times rivais entre si. Piracicaba tem só o XV de Novembro.
Ninguém pode negar o carisma que o XV de Novembro exerce em qualquer parte do Brasil. Basta o piracicabano ser reconhecido como tal, uma das primeiras perguntas que lhe é feita é: Como está o XV de Novembro?
Dinival Tibério presente a entrevista dá seu testemunho: “Fui a praia, estava com minha neta, brincando na praia, com a camisa do XV, duas moças pararam e ficaram olhando minha neta e eu brincando na praia, até que uma delas aproximou-se e disse-me que morava no Rio de Janeiro, onde há uma torcida organizada do XV de Novembro no Rio de Janeiro, já tinham estado no Estádio Barão de Serra Negra em Piracicaba, assistindo ao jogo do XV de Novembro, queriam a todo custo adquirir a camisa do XV que eu estava usando, sorteei entre as duas e dei a uma delas”. Quando transmitimos jogos do XV de Novembro recebemos e-mail de muitos países querendo adquirir a camisa do XV de Novembro.  É possível associar-se ao XV pela internet, basta entrar no site www.nacaoxv.com.br, você recebe a sua carteirinha de associado em casa, pode pagar as mensalidades pela internet ou por boleto. Quem ficar sócio do XV ganha o livro dos 100 anos do XV.
Em que local o piracicabano pode adquirir a camisa do XV de Novembro?
Um dos locais é a própria loja do XV, sendo que o associado tem desconto.
Qual é a visão da imprensa piracicabana com relação ao XV de Novembro?
A imprensa dá muito apoio.
Quantos diretores integram a direção do XV?
Hoje eu, Adilson, e o Ivan Oriani fazemos parte da diretoria do XV na categoria amador. O presidente do XV é o Rodrigo Boaventura e o Vice-presidente de futebol é o Renato Bonfiglio.
O uniforme do time amador e do quadro principal são iguais?
São idênticos.
Qual é o tempo de treinamento que o atleta tem que se dedicar ao XV?
No Sub-20 o tempo de treinamento é o período integral.
O candidato acha que reúne condições ideais para ser um bom jogador, qual é o procedimento que ele deve ter para ingressar no time?
Primeiro passo é passar por uma avaliação médica. A seguir procurar o supervisor da base, que atualmente é o ex-jogador Carlos Quirino, o Carlão, ele fica no próprio XV, no Departamento Amador. Será preenchida uma ficha, o candidato passará a fazer um treinamento.
Como são vistos os campos de propriedade particular que existem na cidade?
São campos que preservam o gramado, não são cedidos com facilidade. Os times de base já usou muito os campos da Esalq, da Usina Costa Pinto, hoje o que está sendo mais utilizado é o da Usina Modelo e o Monte Alegre, o campo do Tiro de Guerra, e o campo da Área de Lazer. Estamos para fazer uma parceria com o Clube Atlético Piracicabano para o Sub-15, Sub-17 e alguns jogos do Sub-20. Possivelmente no final de janeiro de 2015 deveremos passar a usar esse campo também.
Uma interação com cidades vizinhas pode dar uma dinâmica maior aos treinamentos das categorias de base?
Sem dúvida alguma! Hoje posso salientar que estamos trabalhando exclusivamente com jogadores da cidade. Acho que podemos através do poder público oferecer um lanchinho frugal, composto por uma fruta e algum alimento energético, como pão, suco. Coisas simples. Vejo como necessidade durante as partidas a disponibilidade de uma ambulância que possa atender a necessidade em qualquer partida que esteja em andamento, não há a  necessidade de uma ambulância em cada campo. Isso nos jogos de categoria de base, algumas cidades da região disponibilizam esses recursos.
Há uma imagem de que quando o time de base descobre algum valor expressivo, ele transfere esse jogador a algum time interessado, o motivo principal é angariar fundos para subsistência do time. Isso é fato?
Sem duvida. É o caso do Paulinho, se ele vingar no Flamengo financeiramente para o XV será muito bom o retorno. Principalmente os quatro times grandes, em especial o Santos, trabalham muito as categorias de base. O Santos atualmente está recebendo bons dividendos das categorias de base, ele está revelando grandes atletas.
Piracicaba tem como fazer isso?
Estamos voltados para isso. Estou com essa função dentro do XV. Evitar a evasão de valores em potencial. Valorizar outros da região e trazê-los para o XV.
O atleta permanece no XV ou em suas casas?
Tem alguns juniores que são de outras localidades, uns quatro ou cinco jogadores, que tem o próprio alojamento.
Como é a alimentação dos atletas?
Muito boa. Eu estranhei quando vim ao XV. Tem nutricionista acompanhando. Uma estrutura excelente.
A camisa que neste momento você está usando tem uma história?
É da Seleção Brasileira de Futebol. Ganhei do Gabriel Silva que jogou comigo, fui técnico dele. Ele jogou no Sub-15 e deu a camisa para mim na época. Hoje ele está no Palmeiras e foi para o Lazio (Società Sportiva Lazio) em Roma

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