PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 31 janeiro de 2015.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 31 janeiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: OLIVIO NAZARENO ALLEONI
ENTREVISTADO: OLIVIO NAZARENO ALLEONI
Olívio Nazareno Alleoni nasceu em
Piracicaba a 15 de abril de 1947, na Avenida Rui Barbosa, quase em seu final,
no último quarteirão do lado esquerdo no sentido centro-bairro, isso no tempo
em que a maior parte das crianças nascia em sua própria casa. Filho de José
Santo Alleoni e Antonieta Busatto Alleoni que tiveram mais dois filhos José
Rossini e Maria Ruth. Olívio Nazareno Alleoni é médico, cirurgião vascular,
escritor, com vários livros e grande número de artigos publicados. Membro do
Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, da Academia Piracicabana de
Letras, do Clube do Escritor. Pesquisador realizou trabalhos inéditos junto a
fontes de tradições como o cururu, Festa do Divino. Com dedicação e inúmeras
horas de trabalho, viagens, noites não dormidas, conseguiu reunir farto
material envolvendo imagens e som nunca antes obtidos. Voluntário dedicado do
Lar dos Velhinhos tem dado sua incansável contribuição para a divulgação e
preservação do mesmo.
Qual era a atividade principal do
seu pai?
O meu pai era agricultor, sempre
foi agricultor. Minha mãe era professora primaria. Morei na Vila Rezende até
uns três anos, dos três aos seis morei na fazenda. Aos seis anos mudamos para a
casa situada na região central de Piracicaba, onde residimos até hoje.
Seus primeiros estudos foram
feitos em que escola?
Estudei no Grupo Escolar Dr.
Moraes Barros, distante algumas quadras de casa. Minha primeira professora foi
Dona Amélia, a segunda professora foi Dona Djanira Ribeiro Germano, mãe da Professora,
Doutora, Marly Therezinha Germano Perecin. O curso ginasial e o científico eu
estudei no Colégio Piracicabano. Fiz o cursinho preparatório em Campinas, na
Praça Carlos Gomes, para ingressar na faculdade.
A sua intenção era prestar vestibular em que área?
Já tinha definido que iria cursar medicina. Entrei
com 18 a 19 anos. Cursei medicina na Faculdade de Medicina de Taubaté, hoje Universidade de Taubaté – UNITAU foram seis anos de
curso. Durante todo esse tempo fui monitor de biofísica. Eu tinha a intenção de
fazer biofísica, um professor, Bonoldi, chefe da biofísica, me fez ver os
inconvenientes dessa escolha, pelo pouco ou quase nenhum incentivo que iria
encontrar como pesquisador, pelo menos naquela época. Biofísica é ciência pura,
é um trabalho onde o profissional torna-se um cientista. Algo que infelizmente
no Brasil é pouco estimulado. O Professor Bonoldi percebeu que eu gostava dessa
área, tinha aptidão, desenvolvia muito bem as aulas a que me propunha a
realizar, mas as perspectivas não eram promissoras. Foi um choque nas minhas
pretensões. Dediquei-me um ano trabalhando na área de psiquiatria.
Na época, a psiquiatria era ainda uma ciência que
exigia muito do profissional, sem muitos recursos hoje disponíveis?
Era uma área extremamente desgastante, utilizando
recursos disponíveis e conhecidos na época. Trabalhei no Hospital Psiquiátrico
de São José dos Campos que era um hospital particular. Por um bom tempo o Professor
Tarciso Ulhoa Cintra era diretor da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté.
Lá tive contato mais próximo com indivíduos com graves desvios de conduta,
inclusive psicopatas. Os hospitais psiquiátricos eram verdadeiros depósitos de
pacientes.
Esses locais não existem mais, as doenças não
existem mais ou os pacientes migraram para outras áreas?
Os casos mais graves vão para a Casa de Tratamento
e Custódia de Taubaté. Houve uma
evolução muito expressiva nos medicamentos, muitos pacientes permanecem junto a
sua própria família. Os estudos internacionais avançaram muito, os padrões eletros-fisiológicos
cerebrais são distintos em indivíduos com comportamentos diferenciados. A grande pergunta é até quando muitos
comportamentos podem ser rotulados de doenças, variações, ou de algo adquirido
durante a formação embrionária?
O funcionamento do cérebro humano ainda é um grande
universo a ser desvendado?
Temos conhecimentos superficiais. A fundo não o
conhecemos. Há muito sendo feito. Existem
muitos estudos, trabalhos, que revelam indícios na relação entre meio externo e
ondas cerebrais, seus efeitos, suas conseqüências.
Após esse período trabalhando com psiquiatria qual
foi seu próximo destino?
Fui para o Hospital das Clínicas, em São Paulo, na
Avenida Dr. Arnaldo. Resolvi fazer anestesia. Tornei-me médico-anestesista. A
primeira turma formada pela Faculdade de Medicina de Taubaté foi uma turma
privilegiada, os professores eram os mesmos que davam aulas na Escola Paulista
de Medicina. Fiquei uns seis meses
trabalhando como anestesista. Perguntei-me: “- Será que é isso realmente que eu
quero?”. Voltei para Taubaté, fiz um ano de cirurgia geral em Taubaté. Nesse
tempo conheci Ohannes
Kafejian, ele era cirurgião vascular, precisava de alguém que ficasse em
Taubaté acompanhando os pacientes vasculares. Comecei a fazer, fiquei um ano em
Taubaté, ai fui para São Paulo, comecei a ficar no Hospital Heliópolis e no
Hospital Santa Cruz. Isso foi por volta
de 1974. Fiquei com Ohannes Kafejian de 1974 a 1978. Uma vez por semana eu ia
para Taubaté. No Hospital Santa Cruz permaneci até 1979. Ao mesmo tempo comecei
a fazer Terapia Intensiva, comecei a fazer UTI também no Hospital A.C. Camargo,
Hospital do Cancer. Permaneci trabalhando em São Paulo de 1974 a 1979. Em 1979
meu pai teve infarto. Eu estava em São Paulo, quando Dr. Bicudo telefonou-me
comunicando que meu pai tinha tido um enfarte grande, com poucas
posssibilidades de sobrevivência. Deixei tudo e vim para Piracicaba, era um
enfarto que atingiu toda a parede anterior, não havia muito o que fazer a não ser medicar e orar. Milagrosamente meu
pai conseguiu superar isso. Ele era acima de tudo um atleta, andava no mínimo
uns 10 a 15 quilômetros por dia, no sítio, na cidade. Ele superou o enfarto. Só que apareceram outros probleminhas de
saúde. Na época ele tinha cerca de 70 anos. Nesse tempo ele teve um acidente
com o jipe, fez um hematoma extra-dural. Começou a juntar sangue entre o osso
do cranio e o cérebro, comprimindo o cérebro. Naquele tempo era um problema
extremamente sério. Fez uma cirurgia em Campinas. Com sucesso.
Isso fez com que você viesse a trabalhar em Piracicaba?
Montei meu consultório em Piracicaba, passei a fazer
parte da Unimed, do Hospital dos Fornecedores de Cana, no Hospital Piracicaba
do Dr. Adib Coury.
Você trabalhou também no INSS?
Trabalhei, o vinculo que eu tinha com a UTI no
Hospital Heliópolis era um vinculo com o INSS, naquele tempo era chamado INAMPS.
Passei em um concurso de cirurgia vascular e passei em um concurso de UTI.
Apesar de ter um ótimo relacionamento profissional em São Paulo, por razões
familiares decidi permanecer em Piracicaba. Na década de 2000 cessei minhas
atividades profissionais na área médica.
Foi com a disponibilidade maior de tempo que você
decidiu escrever um livro?
A história do primeiro livro surgiu a partir do
falecimento de uma tia, na década de 70, uma série de documentos que estavam
com ela veio parar em casa. Não era do agrado da minha mãe que mexesse nesses
documentos. Por volta de 2000 minha mãe autorizou que mexêssemos nesses
documentos, 30 anos depois. Comecei a revirar esses documentos, ai surgiu a
idéia de escrever a história da família, a história da comunidade italiana em
Piracicaba. Surgiram dois livros, o primeiro que embora pronto, considero que
não é o momento histórico de ser publicado. Escrevi um segundo livro, com base
nesses documentos e publiquei-o. Foi o primeiro livro que lancei: “Uma Fresta
Para o Passado”.
Como surgiu a inspiração para escrever esse livro?
Nessa época minha mãe estava muito doente, ela
reagia de maneira imprevisível, com isso fui obrigado a permanecer mais em
casa, a disposição dela, com toda a documentação que eu tinha nessa mala,
comecei a escrever. Abordei aspectos como o imigrante italiano era tratado,
quais eram os valores dele em substituição ao negro pela mão de obra italiana.
A escravidão branca, não deixava de ser uma escravidão.
A repercussão desse livro foi muito boa?
Acredito que teve uma boa repercussão. Alguns
outros livros se basearam nele, para serem escritos, como o livro de Samuel Pfromm Netto, muitos
detalhes citados pelo Pfromm em seu último livro que foram retirados de lá.
Recebi um elogio muito grande do Samuel Pfromm Netto que me orgulhou muito. O
livro foi distribuido pelo Estado de São Paulo e deve ter atravessado as
fronteiras de São Paulo. Nessa fase vim a perder minha mãe.
O seu segundo livro surgiu como?
Apareceu-me o Oscar Bueno, conhecido como
“Serrinha”, filho de Sebastião da Silva Bueno, o Nhô Serra, com o propósito de
escrever um livro sobre o pai dele. No fim saiu o livro “Cururu em Piracicaba”.
Escrever o livro foi um verdadeiro exercício de terapia.
Além do livro você um vasto material visual e de
áudio sobre o cururu?
Tenho. Tenho muito material sobre cururu.
Pode-se dizer que hoje você é a pessoa que mais
conhece sobre cururu em Piracicaba?
Acredito que essa avaliação deve ser feita por
outras pessoas, não por mim.
Podemos afirmar que em termos de documentação você
tem o maior volume de material sobre cururu?
Eu acho que sim. Entre filmagens, expressão,
conhecimento, gravação.
Você já foi procurado alguma vez para expor sobre o
assunto?
Já me procuraram algumas vezes para falar sobre o
material.
Ai surgiu o terceiro livro?
O terceiro livro foi “Trinta Anos do Teatro Municipal Dr. Losso Netto”. O quarto livro foi “Lar dos Velhinhos de
Piracicaba” Referente aos 100 anos de
existência do Lar dos Velhinhos de Piracicaba. Talvez tenha sido o livro mais
elaborado, capa dura. O livro “Uma Fresta Para o Passado” é um livro mais
analítico, mais pesquisa.
Agora você está lançando outra obra?
O Dr. Jairo Ribeiro de Mattos me procurou com
interesse em apresentar as obras de artes existentes no Lar dos Velhinhos de
Piracicaba. Existem muitas obras, são obras de valor estimativo que refletem
uma fase da pintura em Piracicaba. Tem obras que são manifestações espontâneas
do desenvolvimento pessoal cujo valor é a sua existência e pela força com que
foram feitas.
Que tipos de obras existem no Lar dos Velhinhos?
Temos os afrescos, pinturas a óleo, esculturas, e
alguns objetos não existentes mais. Totalizam aproximadamente 300 obras, é o
patrimônio artístico do Lar.
É do conhecimento de grande número de pessoas que o
Lar dos Velhinhos está sempre em busca de recursos, a venda dessas obras
poderia trazer esses recursos?
Eu diria que o valor monetário não é representativo
a ponto de cobrir compromissos financeiros. Considero que uma publicação desse
nível, eu não sei ainda se terá outra publicação mais elaborada, mas ela tem
algumas funções: 1-) Conscientizar Piracicaba das obras que existem lá, para
serem vistas, mostrando o desenvolvimento da pintura em Piracicaba. Com alguns
artistas mais simples e outros de renome. 2-) Serve para se fazer um inventário
mostrando quais obras estão no Lar, sedimentando esses valores como obras que
são do Lar. Se amanhã por algum motivo essas obras vierem a ser extraviadas
esta é uma prova cabal, pública, de que a obra não pertence a um terceiro.
Para o morador do Lar qual é a importância da
existência dessas obras?
Eu acho que significa muito, o idoso infelizmente
está meio jogado ao léu pela sociedade, o Lar tem sempre uma capacidade de
criar estímulos para atividades próprias à terceira idade. Nesse aspecto o Lar
constitui em um desenvolvimento e estimulo á terceira idade, há muitas pinturas
simplistas, mas dentro da simplicidade elas carreiam o estimulo que foi para os
abrigados pintarem aquilo. Estatutariamente nenhuma dessas obras está a
disposição para venda. Uma boa parte dessas obras foi doada pelo Dr. Jairo
Ribeiro de Mattos, outras foram feitas pelo Rodrigues (Baia), que retratou
muita coisa.
Essas obras acabam transformando o cotidiano do
abrigado?
Eu acho que se existisse uma pessoa que fosse uma
vez por semana, a cada duas semanas, e estimulasse os idosos, realizar uma
oficina de arte, poderia ter vários artistas estimulando os talentos mais
diversos possíveis. Todo mundo tem sua veia artística. Isso ajudaria na terapia
do idoso, ele teria um compromisso perante ele próprio, isso é importante para
o idoso, não teria o sentimento de inutilidade que muitas vezes domina a
terceira idade.
Esse trabalho que está sendo apresentado tem quais
características?
Foi feito um levantamento fotográfico, item a item,
as imagens foram tratadas.
Fotografar obra de arte exige algumas técnicas
específicas?
As disposições de algumas obras são em locais de
acesso mais difíceis, a iluminação influi muito, para remover todas as obras
para locais ideais é praticamente impossível. As obras foram fotografadas,
editadas, corrigidas as deformações. Saiu um caderno com aproximadamente 300
imagens, alguma coisa foi colocada na internet. Existe o interesse do Dr. Jairo
Ribeiro de Mattos em realizar uma exposição em nível internacional com os
artistas, algumas obras provavelmente serão adquiridas, outras talvez sejam
doadas ao Lar, e é também outra forma de motivar os idosos nesse aspecto. É uma
idéia interessante, um salão de artes internacional voltado ao idoso e ao Lar
dos Velhinhos.
Esse seu trabalho como autor tem algum custo para o
Lar?
É um trabalho voluntário, ao Lar não custa nada.
Dos trabalhos que realizei nunca foi cobrado nada do Lar. É uma forma que
encontrei em contribuir com a instituição.
Estará sendo realizada a Primeira Exposição
Internacional de Arte Voltada ao Idoso?
As obras a serem apresentadas estão dentro de um
tamanho padrão, a apresentação pode ser em óleo, crayon, grafite ou mesmo
escultura. O motivo é voltado ao idoso. Um artista jovem pode realizar sua
obra, desde que o tema seja o idoso.
É sabido que Piracicaba é muito rica em artistas
plásticos, muitos são desconhecidos do grande publico, esta será uma
oportunidade de exporem suas obras?
É uma oportunidade de se tornarem um pouco mais
conhecidos, estarão colaborando com o Lar, provavelmente será feito um catalogo
da exposição onde estará a obra de arte e o nome do artista.
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