PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 14 de março de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços
eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: MARGARETE
ZENERO
(CASA DO POVOADOR)
Margarete
Zenero é a diretora da Casa do Povoador, situada em Piracicaba. Nascida em
Piracicaba, a 29 de maio de 1960, filha de Pascoal Zenero e Nilva Tedesco
Zenero que tiveram também os filhos Tânia e Paulo.
Você iniciou seus estudos em
qual escola?
O pré-primário
fiz ainda muito nova, em função dos meus desenhos, estudei com a Terezinha
Moraes. Estudei no Instituto Sud Mennucci até a quarta série primária. Depois
fui estudar no Colégio Dr. Jorge Coury, uma das minhas professoras foi
Clemência Pizzigatti. Como não havia o curso colegial no Jorge Coury, voltei
para o Instituto Sud Mennucci. Em seguida fiz um ano de cursinho preparatório
no Curso Luiz de Queiroz – CLQ fiz o vestibular e passei a cursar Psicologia na
Unimep. Fomos a primeira turma do Campus Taquaral. Em torno da universidade era
um deserto, não existia nada. Íamos de ônibus fretado pela faculdade. Era uma
área considerada fora da cidade, hoje está inserida no meio da cidade.
Em que ano você formou-se em
psicologia?
Foi em 1983.
A arte faz parte da sua
vida?
Sempre tive
uma ligação forte com a arte. Do lado da família do meu pai há o Rudnei Zenero, engenheiro, que gosta de
desenho, tem essa veia artística. O irmão da minha mãe, Norival Tedesco, é um
artista reconhecido pelo seu talento e perfeição nas peças que realiza como
ourives. Posso afirmar que tenho a influência dos desenhos do Rudnei e a
influência da arte, cor, beleza por parte do Norival.
Quando você se deu conta de
que podia fazer arte?
Sempre tive
uma amizade muito próxima com a Leda Cançado, ela e minha mãe sempre me
incentivaram muito. Eu trabalhei na arte com cerâmica por muito tempo. Posso
afirmar que em minha vida sempre tive atividades que tinha a arte em paralelo.
A arte é uma atividade que pratico para mim.
Atuo, tenho
clinica há mais de 30 anos. Mantenho meu ateliê, onde desenvolvo a minha arte.
Por que geralmente quem
trabalha na área de psicologia gosta de fazer poesias?
Porque o
psicólogo é sensível! Se não for sensível não entra na alma da outra pessoa. Se
não puder entrar na vida da pessoa não poderá fazer nada por ele. A arte tem
esse ponto em comum, a sensibilidade.
A psicóloga consegue entrar
no universo interior do paciente?
Se ele
permitir, sim. Caso ele não permita é uma intromissão.
Atualmente somos um dos
países que consome antidepressivos em toneladas. A arte pode ajudar a suprir
essa ansiedade?
Tudo que cria:
arte culinária, violão, dança, jardinagem, joga seu lixo emocional. A arte não
resolve a depressão, mas ajuda muito. Troque seu antidepressivo pela arte. Isso
funciona em todas as áreas que envolvem criatividade. A atividade física como
correr, dançar, fazer teatro, cantar, tudo isso ajuda e muito.
Qual é a técnica que você
mais utiliza?
Comecei
trabalhando com pintura a óleo. Ganhei medalhas de ouro, prata, em vários
salões, em Piracicaba. Tornei-me
presidente da APAP – Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos, foi um
período em que tinha pouco tempo para pintar, e a tinta a óleo se deixar aberta
ela resseca. A aquarela era mais poética, eu podia deixar montada, quando
voltava era só molhar. Assim já faz uns seis anos que estou na aquarela. Com
aquarela já ganhei medalha de ouro, prata. Fiz muita cerâmica com a Lúcia
Portela, a minha professora ainda é a Denise Storer, que é fantástica, como
professora, como amiga, como ser humano. Tive bons anjos da guarda, boas almas
do meu lado na arte, se fosse pelo que eu faço para trabalhar, não daria para continuar.
A área de psicologia a cada
dia tem uma demanda maior por profissionais?
A psicologia
antigamente não atuava na área jurídica, hoje temos psicólogos dentro da área
jurídica, como profissão.
Você atua nessa área?
Qual é o fator mais
trabalhoso nessa função?
São os pais!
Quando você trabalha com crianças, há um fator muito relevante que são os pais.
No mundo contemporâneo é difícil julgar. Tem mãe que é mãe, pai, tem que dar conta de tudo
e como ela vai ter tempo?
Os pais procuram compensar
suas falhas com concessões em excesso para os filhos?
Acho que a
culpa é da falta de tempo, isso faz com que aumentem os limites, tenham algumas
tolerâncias, por compreenderem não estabelecem regras e aí se perdem. Nesse
sentido acho que os pais estão fazendo o que podem. Talvez precisássemos de uma
política em que as mães pudessem ficar mais com seus filhos.
O pai ficar mais tempo com
os filhos é mais difícil do que a mãe?
Se você pensar
que hoje não é necessariamente o homem o provedor, acho que as coisas funcionam
para ambos.
Em especial o homem latino
não se preza muito a essa função?
Eu não
concordo com o Dia da Mulher, trocaria por Direito da Mulher. Quero direitos iguais.
Eu trabalho igual a um homem mereço ganhar igual a ele. A mulher tem
conquistado seu espaço, há mulheres dirigindo ônibus, exercendo uma série de
atividades até então realizadas exclusivamente pelo homem.
Arte e psicologia têm um
elo?
Têm! Através da
arte consigo trabalhar a parte psicológica, principalmente com a criança. A
criança não tem a elaboração do adulto às vezes através de um desenho você vê o
que ela está sentindo. Quando você trabalha com a arte, você trabalha com a sua
sensibilidade. Já fui júri, quando você analisa uma obra, você analisa o que
está por trás daquelas cores, daqueles traços, o que foi transmitido. Na arte
muitas vezes o desenho que é feito, a cor que é colocada, a posição em que é
posta, não no sentido da beleza, mas no sentido do sentimento, a arte ajuda
muito você conseguir ver a outra pessoa.
Como psicóloga qual é a sua
opinião sobre o controle da natalidade?
Lamentavelmente
há um percentual relativamente alto de mulheres que desejam ter um filho para
criar vínculos, não só afetivos, mas principalmente financeiros. Algumas não se
limitam a um único relacionamento com esse objetivo, tem filhos de vários pais,
é uma fonte de renda! Percebo também que temos que trabalhar mais a dignidade.
Porque uma mãe tem que trabalhar tanto e não pode criar seu filho? Acho
fantástico que ninguém fique com fome porque se alimentou na escola, mas acho
terrível não ter a autonomia de colocar a sua comida na mesa sem ter que ter
bolsa família, bolsa isso, bolsa aquilo. Aumente o salário! Dá dignidade ao ser
humano! Dá realização do que ele faz! Dá valor para ele! Sou mais da linha do Presidente
Fernando Henrique Cardoso, que dá a vara e não o peixe pronto. Não acho que
seja dado muito, quero deixar claro que a filosofia deveria ser a favor do ser
humano. Enquanto indivíduo capaz, de uma profissão digna. Um salário digno. Se
der uma bolsa família controlo o povo em cima daquilo que eu dou. Eu não sou a
favor disso. Independente de partido político. Sou a favor de vamos pagar muito
bem, porque você trabalha, tem uma família. Vamos fazer redução de horário para
quem fica com as crianças, a família necessita disso. Quantos países têm onde a
mãe fica cinco anos sem trabalhar porque olha os filhos até eles terem uma
independência. Eu amo a vida. Tenho um filho de 21 anos, o Caio.
Mudando o foco do assunto,
estamos no interior da Casa do Povoador, afinal o que foi essa edificação?
Para mim a
Casa do Povoador é cheia de luz. A primeira exposição que fiz foi nessa casa. O
primeiro “não”, “você não é artista”, recebi nesta casa, foi quando vim com uns
painéis de mosaico, me disseram que era muito bonito, mas que não era arte.
Fiquei muito brava, fui ver o que era arte!
Então para mim esta casa sempre foi um lugar de luz, um lugar de arte,
de artista. Para mim a Casa do Povoador é o meu segundo coração. É aonde os
artistas podem mostrar quem eles são. Temos aqui os bonecos do Elias, que é o
guardião do nosso Rio Piracicaba. Temos a Rute o Laudir que defendem essa casa
com a raiz deles. Vejo na Casa do Povoador o ponto de partida da cidade. Ponto
de partida do amor, da arte. De dentro da Casa ouvimos o cantar das águas do
Rio Piracicaba.
Essa é a sua visão de
artista, e a sua visão histórica dela?
Já escutamos
as mais diversas versões. Já escutamos que foi Casa de Sal, outras versões
diziam que era um ponto de travessia do Rio Piracicaba. A única certeza que
temos é de que hoje ela é comunitária. (Acredita-se que a
construção do que é hoje conhecida como Casa do Povoador tenha sido feita entre
1850 e 1860. Terá sido a Casa do
Povoador residência da família do Capitão Antonio Corrêa Barbosa? É a polêmica
que existe entre os historiadores).
Você
tem idéia do número de pessoas que visitam a Casa do Povoador?
Passam de 800 a 1600 pessoas.
Qual
é a reação das pessoas que visitam a Casa?
Tenho a sensação de que eles acham que a casa é deles. Entram com a maior
intimidade, sentem-se em casa, perguntam, às vezes temos que por certos
limites, porque a Casa tem regras.
Há
quanto tempo você é diretora da Casa do Povoador?
Faz um ano e meio, entrei em setembro de 2014. Realizamos uma exposição
por mês.
Qual
é o critério para convidar o artista?
Procuramos o coletâneo, dar oportunidade a todos. Algumas são com datas
fixas, como as do Fórum, trazemos obras de advogados, assim como alguns
funcionários. Sempre convidam um artista como a Carminha do origami, a Carmela
Pereira do naif,
Como
surgiu a exposição da caixinha de fósforo?
Começou assim: olhei na internet, vi o trabalho que Oswaldo Pullen, de
Brasília, estava fazendo, pensei: “Isso dá uma exposição!”. Entrei em contato, articulei, tanto que o
primeiro cartaz que nós fizemos tem a fotografia dele. Ai veio a G1, pessoal de
fora do país, gente de quase todo o Brasil participou o ano passado. Neste ano
teremos a 2º Exposição Nacional “Arte Sobre Caixa De Fósforos” coma curadoria
de Odfair Jorge Demarchi e Margarete Zenero. A abertura será dia 20 de março de
2015, sexta-feira, às 20 horas, visitação de 21 de março a 26 de abril de 2015,
de segunda a sexta-feira das 08 horas às 17:00 horas sábados, domingos e
feriados das 8:00 horas às 18:00 horas. Na Casa do Povoador- Galeria “Alberto
Thomazi”. Este ano há uma diversidade muito grande. No ano passado tivemos 86
inscrições, este ano são 141 inscritos. Cada inscrito pode participar com até
cinco peças. Temos tido muito apoio como da Prefeitura Municipal, da Ação
Cultural, Unimed, Grupo Bom Jesus, Simespi,Drogal, Acipi, essa participação
valoriza o evento.
Quais
são as técnicas utilizadas nessas caixinhas de fósforos?
Temos entalhe em madeira, mosaico, aquarela, acrílica, óleo, patchwork (trabalho com retalho),
origami, fuxico. Tem peças incríveis.
Esses trabalhos são
enviados de quais localidades?
Recebemos trabalhos de artistas do Rio de Janeiro,
Califórnia (Estados Unidos), Curitiba, Itanhaém, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia.
Tem
premiação?
Daremos um certificado de participação.
Há alguma
exposição similar a esta no Brasil?
Teve uma em Campinas, inclusive eu participei, com Álvaro, Robson,
Paulo Branco, só que é com caixas de qualquer tamanho. Era um trabalho de
auto-imagem, você colocava uma imagem sua dentro da caixa, foi feito dentro da
Estação Cultural em Campinas, no interior de um vagão de trem. Ficou muito
lindo, parece que vão repetir.
Piracicaba é
uma cidade rica em artistas?
A meu ver é a melhor do país! Se eu pensar em criação penso em
Nordeste. Se pensar em organização, penso no Sul. Dependendo do ângulo em que
vejo a arte posso dizer que determinada região é melhor.
Qual é a
relação do cidadão piracicabano comum, com relação a arte?
Eu tenho a sensação que em Piracicaba todo mundo tem uma “veiazinha”
artística! Temos artistas fantásticos, que com recicláveis fazem arte
fantástica!
Na área
externa a Casa do Povoador existe uma arena, ali também são realizados eventos?
Fizemos toda festa do XV, da camiseta, a Festa do
Divino foi feita lá, temos feito oficinas de origami. Recentemente fizemos uma
manifestação do humor que não provoque o ódio e sim o riso, no ano passado
tivemos bandas tocando o ano inteiro. São realizadas na arena apresentações de
teatro por grupos da cidade. A Casa do Povoador é um dos pólos de irradiação de
arte em Piracicaba. Tivemos o lançamento de dois livros aqui dos autores Irineu
Volpato e outro de Nelson Rodrigues.
Margarete, você como diretora da Casa do Povoador tem
alguma mensagem ao leitor?
Convido a todos para que venham para a Casa do
Povoador, é isso que nos estimula.
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