PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 4 de abril de 2015.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 4 de abril de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: JACOB PIRES DE TOLEDO
(JACOB DAS ARTES)
ENTREVISTADO: JACOB PIRES DE TOLEDO
(JACOB DAS ARTES)
Jacob Pires de Toledo, mais
conhecido como Jacob das Artes, nascido a 23 de junho de 1977 em Piracicaba, é
filho de Jonas de Toledo e Iraci da Conceição Pires de Toledo, seu pai era
pedreiro, até falecer ele trabalhou muito tempo na Esalq. Seu avô Jacob Gil de
Oliveira foi funcionário do Engenho Central até o mesmo encerrar as atividades.
No inicio sua mãe trabalhou em casas de família, depois passou a trabalhar
apenas em sua casa. Jacob tem dois irmãos: Eliane e Claudio. Casado com Eliana
Correr, com quem tem um filho, Marchello.
Em que escola você estudou?
Até os 16 anos morei no Jardim Caxambu, estudei no APAF- Escola Estadual "Dr. Antonio Pinto de Almeida Ferraz", lá fiz desde o pré-escola até a oitava série. Depois mudei para o Tatuapé, no Jardim Itapuã, estudei na Escola Estadual Professor Jethro Vaz de Toledo onde fiz o primeiro e segundo colegial, depois fui estudar na Escola Estadual Sud Mennucci.
Nessa época você já trabalhava?
Até os 16 anos morei no Jardim Caxambu, estudei no APAF- Escola Estadual "Dr. Antonio Pinto de Almeida Ferraz", lá fiz desde o pré-escola até a oitava série. Depois mudei para o Tatuapé, no Jardim Itapuã, estudei na Escola Estadual Professor Jethro Vaz de Toledo onde fiz o primeiro e segundo colegial, depois fui estudar na Escola Estadual Sud Mennucci.
Nessa época você já trabalhava?
Trabalhava em loja de decoração. Aos finais de semana
ajudava meu pai a construir nossa casa. Meu primeiro trabalho foi em um sítio,
sempre gostei de animais, ajudava a tratar dos cavalos. Esse sítio era
localizado entre o Parque Primeiro de Maio e o Jardim Caxambu. Era onde
terminava a cidade. O proprietário explorava a venda de leite.
Como a arte entrou na sua vida?
Eu sempre vivia na beira do Rio Piracicaba, meu pai tinha
bote, pescava. Ele mesmo tinha feito um bote de madeira, semelhante aos de
alumínio. Lembro-me que ele fez uma impermeabilização muito bem feita. Ele e
meu tio desceram o rio até Ártemis, levaram umas duas horas no percurso, sem
motor. Em uma área deserta, a beira do rio, ele fez um ranchinho de madeira e
deixou o barco lá. Ele ia até Ártemis de ônibus, eu o acompanhava, descíamos do
ônibus e íamos a pé. Passávamos ali o final de semana. Nunca tive muitos
brinquedos industrializados. Tinha que fabricar meu próprio brinquedo. Pegava
as ferramentas do meu avô, fabricava coisas. Fiz muitos carrinhos para correr
na rua. Não gostava de carrinho de rolemã porque fazia muito barulho. Pegava na
época o que era chamado de Velotrol, geralmente a roda dianteira estava
danificada enquanto as rodas traseiras estavam boas, eu as usava para fazer
meus carrinhos. Minha diversão era subir até a esquina e descer a rua com esses
carrinhos. Com isso fui desenvolvendo o espírito de criar.
Atualmente você está com um veículo que originalmente é
uma Kombi, só que totalmente personalizada, inclusive com quatro rodas na parte
traseira. Acho que nem a Volkswagen sabe que existe isso!
Adquiri essa Kombi para poder fazer as coletas, não só
por ser uma Kombi, um veiculo que muita gente gosta, quando a adquiri há uns
seis ou sete anos, não existia essa febre pela Kombi. Eu a adquiri pela sua
mecânica simples, facilitava meu trabalho com meu artesanato. Até então eu
estava em um segmento mais comercial, que era fazer móveis, eu fabrico móveis
artesanais. A Kombi foi muito útil nessa época.
Depois, para poder chamar a atenção, fazer as pessoas olharem para os
meus móveis, meu trabalho de arte, pintei a Kombi toda.
A sua Kombi é uma ferramenta de marketing?
È uma ferramenta de marketing! Toda essa logística para
que eu possa sobreviver da arte, eu não tenho a segurança de um salário, não
sou funcionário de uma empresa, tenho que sobreviver dos meus meios. A Kombi é
um atrativo, as pessoas vêm junto à perua para serem fotografadas junto a ela,
é uma forma de estabelecer um contato.
Foi você mesmo que desenvolveu e realizou as mudanças
feitas nela?
Na realidade é uma coisa simples. Ela estava com o chassi
comprometido, o ano de fabricação dela é de 1969, um veículo com mais de
quarenta anos! Eu não conseguia soldar com o equipamento que eu tenho uma
máquina de solda elétrica comum. Tirei toda a lataria, isso eu mesmo que fiz,
deixei só a estrutura dela. Sem a lataria eu tinha acesso ao chassi. A parte de
baixo é o chassi original, coloquei um reforço em cima, outra chapa que ajuda, ela liga onde vai a
suspensão dianteira até passar a suspensão traseira. Foi feito um reforço sobre
o chassi. A ferragem eu adquiri onde vende material reciclado.
E a história da Kombi “trucada”, ou seja, com quatro
rodas na parte traseira?
A questão do “truck” nada mais é do que quatro parafusos,
soldados no final do chassi, nesses parafusos, posicionados de forma correta,
eu encaixo o estepe. Ela não tem estepe no local original, que era atrás do
banco dianteiro. É interessante porque desperta a imaginação de quem olha: será
que essas rodas traseiras rodam? Elas abaixam? Elas são fixas, eu poderia fazer
com que movimentassem, mas não teriam utilidade para mim. Na realidade são dois
estepes, que estimulam a imaginação de quem olha. Abaixa? Não abaixa? Ela é
útil para mim assim.
É movida a álcool ou a gasolina?
Funciona com gasolina.
Como a fiscalização vê essa Kombi tão diferente da
original?
Tive que fazer algumas alterações na sua documentação,
uma delas é a cor, ela não tem uma cor definida. Consta como “Fantasia”. Gosto
muito de viajar com ela, atravessei São Paulo, marginal Tietê, já percorri o
litoral paulista até a divisa do estado com ela, fui até Paraty, até Carrancas,
Minas Gerais. Viajei pelo sul de Minas com ela.
Apesar de serem decorativas as rodas traseiras pagam
pedágio?
Quando não existiam quatro rodas na traseira, era cobrado
o pedágio normal. Por praticidade já peço que a pessoa da cabine de pedágio arrecade
por três eixos, evita a dúvida, perda de tempo, elimina qualquer
questionamento.
Bem na frente, logo acima do para brisas, você colocou o
nome Jesus. Alguma razão especial?
Eu sou cristão, acredito que Cristo veio para ensinar a
seguir a bíblia, procuro viver a minha vida em cima dos mandamentos que Ele
deixou, o principal é “Amar ao seu próximo como a ti mesmo”.
Você fez uma decoração muito interessante em um estabelecimento
situado na Rua do Rosário esquina com a Rua Monsenhor Francisco Rosa?
É um restaurante, chama-se “Porto do Norte”, um dos
sócios é dono de outro restaurante situado na badalada Avenida Carlos Botelho,
o “Manga Rosa”. Tenho obras de decoração interna em diversos estabelecimentos
comerciais na área central de Piracicaba.
Como você foi descoberto?
Comecei a espalhar a minha arte, a fazer algumas
exposições, eu tinha uma banquinha na Praça da Boyes, permaneci ali por dois
anos.
Você tem obras de sua autoria que estão fora de
Piracicaba?
Nessas minhas viagens sempre acabo realizando algum tipo
de negociação com o meu artesanato. Gosto muito de Ubatuba, tenho muitos
trabalhos realizados lá. Uma prima levou uns trabalhos meus para a Espanha,
portugueses, canadenses, já adquiriram trabalhos meus em Ilhabela. Atualmente
tudo que faço é para poder viajar com a minha esposa, com meu filho. Sinto que
a cada dia as pessoas distanciam mais das suas raízes.
Você pensa em conhecer locais fora do país?
Eu gostaria de conhecer alguns lugares dentro do meu
país: Amazônia, algumas aldeias indígenas. Sou voltado a essa questão indígena.
Tenho o desejo de conhecer o Nordeste do país, sua cultura. Enriquecer meus
conhecimentos através da arte. Sempre que vou a alguma cidade de Minas Gerais,
procuro conhecer o que aquela determinada região oferece de cultura.
Com qual material que você mais gosta de trabalhar?
O material que eu mais trabalho é a madeira. Para mim o
ideal é a madeira que está em condições de uso e encontra-se jogada em alguma
caçamba, ontem mesmo encontrei uma janela de peroba. Estava em uma caçamba de
entulho. Às vezes o progresso se dá em prejuízo ao meio ambiente, infelizmente
uma madeira nobre pode ter como destino servir como lenha para ser queimada. Se
parar para pensar na história dessa madeira, ela não pode ser tratada dessa
forma. Uma peroba, para ser cortada passou dezenas de anos se desenvolvendo. É
diferente de um eucalipto, um pinus, que são madeiras de crescimento rápido,
cujo objetivo é atender ao mercado de imediato. A meu ver, o ser humano está
tomando um rumo diferente do que deveria ter, parece estar adormecido.
Você realiza trabalhos em casas particulares?
Já fiz em casas situadas em condomínios. Muitas vezes por
mais elevado que seja o padrão de vida de uma família, há aqueles que se sentem
atraídos pelo rústico. Basta você ver pessoas que residem em apartamento de
alto luxo, quando saem passear muitos procuram a praia mais deserta possível,
onde há areia, o mar e a mata. Por maior que seja seu poder aquisitivo, dentro
dele sentirá uma atração por um local pouco explorado pelo homem. É o
contraste. Tenho feito trabalhos que muitos arquitetos gostam. Procuro fugir do padrão normal, fazer da minha
forma. Não tenho medo de fazer uma ousadia.
Um trabalho de Jacob das Artes é caro?
Não sei afirmar se é caro ou barato. Coloco um valor que
acho justo. O mais importante para mim é que o futuro proprietário de uma obra
minha tenha gostado da mesma. Posso estipular um valor que não agrade ao
interessado, essa obra então não será adquirida. Faço isso de forma consciente.
Assim como posso estipular um valor bastante razoável pelo prazer que essa obra
despertou na pessoa que a vê. É uma luta
diária dos meus pensamentos como artista conflitando com os pensamentos de uma
sociedade capitalista que não mede esforços para conseguir suas metas. Se o rio
ficar mais ou menos poluído para ela não importa, às vezes para ela ganhar
dinheiro implica em poluir.
Quantas exposições individuais você já realizou?
Acredito que foram em torno de uma dezena.
Você tem comunicação com o público através de meios
eletrônicos?
Tenho o meu Facebook “Jacob das Artes”. Acredito que o
progresso é necessário, só que penso que o caminho que está sendo tomado
provoca poluição, destruição da natureza, esse desrespeito provoca
conseqüências graves. Já estamos vivendo uma delas, que é essa escassez de
água. O planeta está em desequilíbrio.
É muito comum as pessoas procurarem atingir um objetivo
financeiro, após um imenso esforço, conseguem e ai usa boa parte dessa
conquista para sanear os problemas que provocou nessa corrida pelo seu
objetivo.
É aquela velha teoria! Muitas vezes quando estou
conversando com uma pessoa ela diz que encontram em mim coisas boas, que traz
paz à elas. Sou muito transparente em tudo que faço. Prefiro assumir algum tipo
de prejuízo a provocar prejuízo para alguém. Isso reflete através da emoção, é
passada a pessoa com quem tenho algum diálogo. Isso exala para o próximo.
Você lê a bíblia?
Pela manhã, quando acordo,procuro buscar a palavra na
bíblia. Ando sempre com a bíblia, ela me dá muitas respostas. É onde você
consegue ver a mão de Deus trabalhar.
Jacob, a primeira vista, é difícil imaginá-lo lendo a
bíblia!
É interessante, às vezes leio algumas passagens pela
manhã e vejo que aquilo se concretizou até o final do dia! Faço sempre essa
busca e as respostas chegam!
Como artista quais são as técnicas que você usa em seu
trabalho?
Uso qualquer coisa, o que tiver ao alcance da mão. Já fiz
esculturas com facão. Trabalho com solda, às vezes crio alguma coisa com solda.
Trabalho com cimento, mosaico. Faço esculturas em paredes, com detalhes.
Quanto tempo você leva para fazer um trabalho como o que
fez no restaurante Porto do Norte?
Lá foi um trabalho de meses. Pode acontecer de ter que
mudar uma porta de lugar. Isso envolve o serviço de um pedreiro. Há diversas
alterações internas que são às vezes necessárias para se realizar um trabalho
de decoração interna.
O que a sua esposa pensa a respeito da sua arte?
Ela participa ativamente. É muito companheira. Meu filho
também, ele está com 15 anos. Ele tem como objetivo estudar teologia. Esta seguindo outro caminho. A orientação que
eu dou-lhe é não entrar nessa vida maluca que muitos levam a busca da
satisfação material.
Sob o seu ponto de vista falta a humanidade procurar
desfrutar mais da vida?
Acho que falta esse espírito. Falta voltar as suas raízes
principalmente com relação a questão alimentar. Hoje a máquina planta a semente
na terra, a máquina colhe, a máquina processa o alimento, industrializa e
embala. A máquina apita no supermercado, avisa que é seu aquele produto. O ser
humano perdeu o contato da semente na palma da mão, a cova no chão, o pé no
chão amassando a terra que cobre a semente. Às vezes quem planta faz uma oração
junto aquele saco de semente pedindo a Deus que venha a chuva. Pedindo à
natureza a proteção a lavoura. Quando é feita a colheita ela é celebrada com
uma festa. Atualmente as festas tem o sentido comercial, a origem era as festas
de agradecimento. Hoje vem alguém, analisa a terra, determina a deficiência de
tal elemento, ele não irá fazer uma oração em benefício àquela terra, através
de um processo químico ele irá jogar algum nutriente no solo. Planta-se a
qualquer custo. O Brasil é um dos países onde mais se usa agrotóxicos e
fertilizantes. Não há um estudo conclusivo sobre o que um alimento transgênico
pode causar ao ser humano em longo prazo.
Foi estudado e chegou-se a conclusão de que terá uma produção maior, mas
a conseqüência que poderá causar ao homem está muito distante de ser definida.
Pode ser que alguns pensem que estou ficando louco, mas basta raciocinar e verá
que todos com quem converso me dão razão. Poucos pensam em levar uma vida mais
saudável.
Qual é a sua visão dos jovens atualmente?
A juventude está descontente com o mundo que ela tem
hoje. A internet, a tecnologia, a medicina, tudo isso é bom. Só que estão
tomando um rumo que estão se esquecendo das suas raízes. Você já viu uma árvore
ficar em pé sem a sua raiz? Atualmente o ser humano abandonou suas raízes, como
irá ficar em pé? Dia 19 de abril será o Dia do Índio. Aqui em Piracicaba você
não vê um jornal anunciado: “Hoje é Dia do Índio, haverá uma comemoração na
margem do Rio Piracicaba ao povo que deu origem ao nome da cidade!”. Todo dia
19 de abril vou para uma aldeia em Bertioga, onde nesse dia há uma comemoração.
É a aldeia Rio Silveiras, fica em uma reserva indígena, formada por índios
guaranis. Eles fizeram uma pintura em mim, de um camaleão, eu gostei tanto que
mandei fazer uma tatuagem desse desenho.
Essa aldeia fica em uma reserva de terra determinada pela Funai, nessa
aldeia, o cacique, Adolfo, líder da Funai no Estado de São Paulo, promove o
festival indígena, onde cada ano traz etnias de regiões variadas do Brasil. É
feita uma concentração, são realizados rituais, gosto de ficar ali.
Você gostaria de deixar uma mensagem aos leitores?
Penso que o ser humano terá que fazer uma reviravolta na
sua forma de vida, o tipo de vida que está sendo levado está longe de ser o
modelo ideal Esse modelo não existe pronto, tem que ser construído, um modelo
correto de vida. O modelo que está aí irá levar a humanidade a sua própria
destruição.
Você acredita que o ser humano morre e tudo acaba?
Não consigo ver um final, acho que uma essência
permanece. Sigo o que diz a bíblia: a carne vai, seu espírito permanece, e aqui
realmente é uma passagem. O que você fez de bom ou ruim terá um resultado.
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