PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 03 Janeiro de 2015.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 03 Janeiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: REVERENDO SÉRGIO PAULO MARTINS NASCIMENTO IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL – PIRACICAMIRIM
ENTREVISTADO: REVERENDO SÉRGIO PAULO MARTINS NASCIMENTO IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL – PIRACICAMIRIM
O Reverendo Sérgio Paulo Martins
Nascimento nasceu em Campinas a 4 de agosto de 1960, filho de Noêmia Martins
Nascimento, nascida em Avaí, interior de São Paulo, e Joel Silva Nascimento, sergipano da cidade
de Riachão dos Dantas, que veio para São Paulo ainda muito jovem. Os dois se
conheceram na Igreja em Campinas, no bairro Campos Elíseos. Seu avô paterno é
presbiteriano desde 1914. O casal Noêmia e Joel teve cinco filhos: Sérgio,
Raquel, Edson Fernando, Carlos Eduardo, Julia Maria além de uma irmã adotiva, a
Araceli.
Em que ano o pai do senhor veio para
Campinas?
Foi em 1956, veio para trabalhar
como carpinteiro em uma construtora, que depois veio a ser a famosa Lix da
Cunha. Ele desenvolveu a carreira até ser mestre de obras. Aposentou-se após trabalhar por mais de
quarenta anos na mesma empresa. É algo raro em um setor que tem grande
rotatividade de funcionários.
O senhor iniciou seus estudos em que escola?
Estudei no Colégio Padre José dos
Santos, no bairro Campos Elíseos, na mesma rua morava a hoje atriz consagrada
Regina Duarte, o Luiz Ceará, jornalista esportivo, eram
pré-adolescentes, era da nossa turma, estudou conosco, o jornalista da TV Globo Heraldo Pereira. Campinas
deu muitos artistas para a Globo: Claudia Raia, Luis Scamparini, Maitê Proença,
Faustão. Nessa escola fiz até o ginásio. Depois fui estudar o segundo grau no
Vitor Meirelles.
O senhor
trabalhava nessa época?
Sempre
trabalhei! Comecei a trabalhar desde os
oito anos. Meu avô materno, Sebastião, gostava de plantar alface eu colocava em
uma cestinha de vime e saía vendendo pela vizinhança. Vendia pipoca. Tinha uma
senhora negra que tínhamos um carinho muito grande por ela, ela fazia uma
paçoquinha de amendoim muito boa, eu vendia, ajudava-a e eu sempre tinha uns
trocadinhos, vendi picolé. Nunca tive problema com trabalhar. Tem até uma
coincidência interessante, aos 12 anos eu vendia pamonha de Piracicaba.
Como a pamonha de
Piracicaba chegava a Campinas?
No centro da
cidade, no Largo do Rosário, tinha um estacionamento, e um rapaz ia com uma
Kombi de Piracicaba à Campinas, isso todos os dias. Levava curau, pamonha e
bolo de milho. Ele então distribuía para alguns meninos que pegavam por
consignação, no final do dia fazia o acerto com ele. Na época eu vendia uma
média de cem pamonhas por dia! Saia às oito horas da manhã, caminhava a pé
pelos bairros, vendendo de porta em porta. A escola eu freqüentava a noite.
O fato de o senhor não
ter tido muito tempo para brincar quando era criança o prejudicou em alguma
coisa?
Não,
acredito que não me prejudicou em nada. Eu gostava de jogar bola, jogava muito,
mesmo com todas essas atividades eu tinha o sonho de ser jogador de futebol,
era o sonho de todo garoto daquela época. Dentro das possibilidades todo final
de semana jogava futebol.
Um jogo clássico de
Campinas é do Guarani Futebol Clube e Associação Atlética Ponte Preta, qual é o
time do seu coração?
Sou pontepretano!
Ia assistir aos jogos, participei das “peneiras” lá da Ponte Preta, comecei a
jogar, como centro-avante, era mais meio-direita. Fazia muito gol. Aos finais
de semana, as vezes durante a semana frequentávamos a Igreja Prebisteriana do
Brasil – Campos Elíseos.
A Igreja Presbiteriana mantém alguma ação social em Piracicaba?
Mantemos a
Associação Cristã de Filantropia que mantém o Projeto Crescer. Uma entidade que
tem repercussão no Brasil todo é a Universidade Presbiteriana Mackenzie. A
mantenedora do Mackenzie é a Igreja Presbiteriana do Brasil. Foi iniciada por
missionários presbiterianos, em uma época em que infelizmente havia muita
discriminação contra protestantes, judeus e negros então recém-libertos. Os
filhos dos missionários não tinham como estudar nas escolas, os missionários
que chegaram aqui abriram essa essa escola que era acessivel a negros, judeus e
protestantes. (O Instituto Presbiteriano Mackenzie iniciou
suas atividades em 1870. Fundado pelo casal de
missionários presbiterianos George e Mary Ann Annesley Chamberlain. Três crianças, sendo dois
meninos e uma menina, foram os primeiros alunos de um sistema educacional em
turmas mistas, sem os castigos físicos adotados na época. Em 1879, Dona
Maria Antônia da Silva Ramos, baronesa de Antonina, vendeu ao Reverendo
Chamberlain, por 800 mil réis, área de sua chácara em Higienópolis.
Em 1880, adquiriu-se uma área
de 27,7 mil metros quadrados no bairro de Higienópolis. Aceitando a proposta do
jornalista José Carlos
Rodrigues, adotou-se o nome de Escola Americana. A fama da Escola Americana não
se restringia ao Brasil, chegando aos ouvidos do advogado americano John Theron
Mackenzie que, sem nunca ter vindo ao Brasil, fez constar em seu testamento, em
1890, uma doação à Igreja Presbiteriana
americana para que se construísse no Brasil uma escola de Engenharia. Desta forma,
tem início o nome utilizado até hoje: Mackenzie.). Além do Mackenzie temos
escolas esplhadas pelo Brasil todo, hoje são mais de 80.000 alunos. Temos dois
grandes hospitais: um em Rio Verde (Goiás) e outro em Dourado (Mato Grosso do
Sul). São hospitais da igreja.
Com que idade o senhor definiu qual
seria a sua trajetória profissional?
Aos 18 anos
eu já tinha uma clareza do que deveria fazer em relação ao chamado ministerial.
Entendi a vocação, especialmente com o foco de povos não alcançados com o
evangelho. Eu era muito ligado ao meu avô materno, ele morava conosco, e todos
da família dizem que eu sou o mais parecido com ele, inclusive fisicamente. Eu
deveria ter de quatorze para quinze anos quando um dia ele convidou-me para ir
a uma reunião que haveria em uma casa naquela semana, acho que foi em uma
terça-feira. E para incitar a minha curiosidade ele disse-me que deveria
encontrar um grupo de indígenas naquele lugar. Eu nunca tinha visto um índio em
minha vida! A noção que a população tinha de índios era distorcida. A
curiosidade natural de adolescente me levou a ir com meu avô nessa reunião de
oração e estudo bíblico. Encontrei um grupo de cinco índios, guaranis e
terenas, vindos de Dourados, Mato Grosso do Sul, também protestantes.
Índios protestantes?
Exato! Eles
vieram, estavam dando testemunhos de Jesus, falando e cantando em suas próprias
línguas. Aquilo me chamou muito a atenção. A barreira que existia entre nós
caiu por terra. Comecei a me perguntar, se tem esses têm outros! Onde estão os
outros? Se tiver mais grupos, quem são esses grupos? Onde eles estão? Isso me
levou em minha curiosidade de adolescente a pesquisar, aí descobri que nós
tínhamos centenas de etnias no Brasil, todas diferentes, e que todas precisavam
ter a oportunidade que aqueles estavam tendo de também ouvir o evangelho de
Cristo. De uma forma genuína, clara. E lógico que a decisão seria deles. Mas
teria que ter essa apresentação do Cristo do Evangelho, para eles também. E não
só para eles, aí passei a verificar a partir de pesquisas que fiz naquela
época, na década de 70, que havia muitos outros grupos nas mesmas condições,
denominados grupos tribais, localizados na África, na Ásia, em várias partes do
mundo, que também tinham a mesma necessidade. Aí então passei a me especializar
nessa área. Entrei para fazer teologia, com foco na missiologia, para trabalhar
em prol da evangelização desses povos não alcançados no mundo. Fui para uma
escola específica de treinamento teológico, em Jacutinga, Minas Gerais, Instituto
de Treinamento Missiológico Peniel.
Qual é o significado de
Peniel?
É uma
palavra hebraica que significa face a face com Deus. Jacó deu o nome a esse
lugar, foi quando ele lutou com Deus e teve a sua vida transformada, e ai
passou a ser chamado Israel. Jacó significa usurpador. Israel quer dizer
“Príncipe de Deus”. Jacó lutou com Deus para o seu caráter ser mudado. Deus o
tocou na coxa e ele ficou manco a partir daí. Um sinal dessa luta com Deus que
lhe disse: “-A partir de agora serás chamado Israel”.
O senhor ficou por quanto
tempo freqüentando essa escola?
Todo o curso
são cinco anos de duração. São várias fases, tem a parte teológica, a parte
missiológica, o treinamento de selva, como íamos trabalhar em contexto de selva
com povos nativos, e até mesmo com povos não alcançados em contato com a
sociedade envolvente, tínhamos que ter um treinamento específico. Fui entender
o valor quando tive que colocar em prática. Além de aspectos como antropologia,
lingüística, fonética.
Quantos idiomas o senhor
domina?
Além do
português, o inglês, comunico-me bem em espanhol, e as línguas tribais, quando
você está com eles desenvolvemos, depois se acaba perdendo o domínio por falta
de uso. Para se ter uma idéia, tenho aqui umas dez línguas de bíblias já
traduzidas. Tenho uma do grupo que trabalhei quando tinha quatorze anos, e foi
entregue traduzida no ano passado. Outra é da Guiana Francesa, tem outra que é
dos nativos dos Andes, tanto no Peru como no Equador, são índios da região
andina. Outra é uma região de Goiás. Outra bíblia está traduzida para o idioma
dos índios do Paraná e Rio Grande do Sul. Outra é de índios do Maranhão. Cada
bíblia dessas está na língua falada pela tribo, e são totalmente distintas.
Quem traduz a bíblia para cada uma dessas línguas são missionários. É um
trabalho que consome praticamente uma vida inteira. A que levou menos tempo,
foi feita em oito anos. A Bíblia só está traduzida em 443 línguas, para um
universo de 6.600 línguas faladas no mundo. È feito um dicionário que antecede
a tradução da Bíblia. Um deles está aqui, estive com esse grupo, fui o diretor,
esse trabalho foi lá em São Gabriel da Cachoeira na divisa com a Colômbia, era
uma língua ágrafe (que não tinha grafia), até quatro anos passados. Em, suas
mãos está o dicionário que trabalhou a grafia da língua. È um grupo pequeno,
deve ter uns duzentos indivíduos, aqui temos o glossário semântico gramatical
desse povo, com tradução para o português. É o projeto inicial, que é quando
você trabalha a questão da grafia, a partir dos fonemas, e ai você vai
descobrindo os substantivos, os verbos, advérbios, pronomes. A partir disso é
formatada a grafia. Na formatação da grafia você vai partir para outro prisma
que é a tradução. É um trabalho longo, árduo, demorado. Normalmente isso leva
uns 20 anos. Só após definir a grafia é que se elabora a tradução. A tradução geralmente é feita dos originais,
grego, hebraico, para a língua então estudada. E não do português para a língua
recém codificada. Existem os colecionadores de Bíblia, Antonio Cabrera, que
inclusive foi Ministro da República, ele é presbiteriano, mora na região de São
José do Rio Preto, é o maior colecionador de Bíblias do Brasil senão do mundo.
As que eu apresentei a você tem uma participação direta ou indireta do meu
ministério. Algumas dessas eu estava lá, entregando o trabalho pronto.
BÍBLIAS TRADUZIDAS NOS MAIS DIVERSOS IDIOMAS INDÍGENAS BRASILEIROS, ALGUMAS DEMORARAM ATÉ 30 ANOS PARA SEREM TRADUZIDAS, UMA VEZ QUE TEM QUE PRIMEIRO SER ELABORADA A GRAMÁTICA INDÍGENA EXISTENTE APENAS DE FORMA ORAL.
Pode-se dizer que é
muito semelhante ao trabalho que os monges faziam nos mosteiros há alguns
séculos?
Exatamente! O
meu foco foi trabalhar com esses povos, fui para a Amazônia, mais
especificamente Santarém, no Pará, nessa ocasião era recém formado, tinha 22
anos, recém casado com a minha esposa Marlene Xavier Nascimento, temos dois
filhos, Felipe e Guilherme. A Marlene
tem a mesma formação, nos conhecemos na igreja, ela estava especializando-se
nessa área, casamos. Mais tarde ele veio a fazer mais outras faculdades,
inclusive formou-se em Direito. Eu sou formado na área de Missiologia e
Teologia. Fiz posteriormente o mestrado. Atualmente estou terminando o mestrado
em Antropologia Cultural. Tenho a intenção de voltar à academia.
Algumas pessoas chegam a
determinada idade e sentem-se já maduras demais para continuarem a estudar,
isso é uma lenda?
É uma lenda
e ao mesmo tempo preguiça! A pessoa nessa situação tem um sentimento de
inutilidade. Há pessoas que chegam a um determinado tempo da vida que não se
consideram mais úteis. Acredito que isso é um fator cultural, considera tudo
que é velho como imprestável, não serve para mais nada. Isso é também com
referência ao idoso. É diferente da cultura oriental, onde o idoso é venerado.
Nesse aspecto a cultura oriental é muito superior a nossa. Valorizam as pessoas
mais experientes. Como o país está a cada dia envelhecendo mais, acredito que
essas mudanças têm que ocorrer. Tem que haver uma conscientização. O Brasil
está envelhecendo, a média de vida hoje é de 74,2 anos. E isso tende a aumentar
cada vez mais. Está na hora de quebrar esse paradigma de que o idoso é inútil.
Atualmente, pela pressão social e cultural a pessoa considera que ao chegar a
determinada idade não tem mais o que fazer. Eu não creio nisso, enquanto
tivermos fôlego de vida estamos ai. Estando ai e temos muito que fazer. Se for
possível você fazer, atualizar-se, reciclar, conhecendo novos desafios. Eu vivo
de desafios, sempre fui assim.
A primeira missão que o
senhor realizou deu-se em que local?
Fui
trabalhar com um grupo que ainda estava em fase de reconhecimento da existência
ou não deles, fiz parte de uma equipe que tinha chegado antes de mim, fui fazer
parte desse grupo. O trabalho era o reconhecimento ou não desse grupo tribal,
havia vestígios em uma determinada área, próxima a cidade de Oriximiná, uma
cidade do Pará, quase chegando ao Amazonas, próxima ao sul de Roraima, junto a
um afluente do Rio Trombetas. Fui fazer contato com esse grupo, chamado de
grupo arredio, em contato com a sociedade envolvente. Eu ficava por três meses
na selva, minha esposa e meu filho recém-nascido ficavam na cidade de Santarém,
lá era a nossa base. Subíamos levando 14 horas de barco, até Oriximiná, e
depois andávamos cerca de 150 quilômetros na selva. A pé. Com a mochila nas
costas, cada um levando o necessário para passar dois a três meses.
Aí que entra a
importância do treinamento de sobrevivência na selva?
Exatamente!
É ai que sentimos a importância do treinamento. Hoje é tudo mais fácil, existe
o auxilio de GPS, roupas apropriadas. Naquela época entravamos uma selva usando
Kichute (calçado, misto
de tênis
e chuteira, produzido no Brasil desde a década de 1970 pela Alpargatas). Ele era um
calçado que não escorreva muito.
Como era feita a alimentação?
Alimentação encontrada na selva.
Caça, pesca, frutos. Nós estavamoe em uma fase de contato, que chamavamos de
“varação”, tinha que abrir uma picada na selva, não havia muito tempo para
parar. A gente comia na medida em que ia encontrando coisas pelo caminho. Muita
castanha do Pará, muito açaí, pupunha ou palmito do açai.
Os riscos eram enormes. Uma picada
de cobra como poderia ser curada?
Nós levávamos soros antiofídicos
eficazes contra o veneno de cobras conhecidas. Passamos por momentos dificeis,
mas Deus nos livrou de todos eles.
Você portavam armas?
Sim, mas para caçar para sobrevivência, era uma cartucheira
simples. Jamais para ataque humano. Tinhamos um slogam “ Morremos, mas o indio
não”. Estavamos prontos para morrer se necessário fosse, mas não iriamos reagir
em hipose alguma para tirar a vida de ninguém. Estávamos conscientes do preço
que iriamos pagar caso tivesse algum contato beligerante.
Como foi esse contato?
O contato foi interessante.
Descobrimos a existência deles, inicialmente por um sobrevoo que fizemos,
identificamos uma clareira na selva, conseguimos baixar com o avião que
haviamos alugado, quando nos aproximamos dessa clareira a percepção foi clara
de que era uma aldeia, ao baixarmos um pouco mais começou a vir flechadas em
nossa direção, percebemos então que tinhamos sido identificados e que havia ali
um grupo de seres humanos. A reação deles foi em ddcorrência de que nunca
tinham visto aquilo. Aí fomos fazer o contato pessoal por terra, quando mais ou
menos estabelecemos esse lugar, já tinhamos aberto uma clareira, tinhamos feito
uma espécie de uma cabana, para ficarmos ali até que fossemos entrando, para
não chegar imediatamente. Nas trilhas que percebemos, fomos colocando panos
vermelhos, espelhos, facão, machado, que faz parte do processo de atração. Um
dia os colegas tinham saido para caçar, tinham andado umas seis horas dentro da
mata, deram de encontro por acaso com homem, uma mulher, uma criança e um
idoso. Os colegas estavam voltando com a caça, tinham abatito um catitu, resolveram
repartir ali como sinal de amizade. Já havia a perceção de que eles já estavam
sabendo da nossa existência ali. Mais do que imaginávamos. Até porque a mulher
estava com um pano desses que haviamos deixado. A principio os dois homens o
mais novo e o mais idoso tentaram reagir para proteger a mulher e a criança,
sem agreção, porém protegendo-os. O colega que estava com o catititu, ou porco
do mato, nas costas, fez sinal de que ia repartir, Eles aceitaram e foram embora.
Ele fez um sinal e entenderam que três ou quatro dias desceriam todos para lá.
Nessa ocasião desceram os guerreiros mesmo, foi um momento muito tenso. O
contato foi sendo estabelecido aos poucos. Essse grupo chama-se Zoé, durante a
Copa do Mundo o Ronaldo e o Lucian Huck estiveram lá, entregaram bolas para
eles.
O inicio do contato era feito por
mímica?
A princípio era feita a comunicação
por mímica, Depois fomos descobrindo, aprendendo a lingua, descobrimos que o
tronco deles era Tupi-Guarani.
Quanto tempo o senhor permaneceu lá?
Fiquei dois anos e meio. Dormia em
rede. Claro que não fiquei o tempo todo lá, vinha para a cidade, passava um
tempo com a família. Quando estabelecemos contato abrimos uma pista para
aviões, até que contruíssemos as casas para as esposas virem com os filhos. De
lá fui para a Guiana Francesa, em São Jorge, divisa com o Oiapoque.
Qual era o idioma naquela região?
Qual era o idioma naquela região?
Era o
francês. Embora na divisa com o Brasil exista uma língua utilizada que é uma
mistura do créole, de influência africana, tinha o patuá, que é uma mistura do
creóle, francês e línguas tribais maiores que existiam ali. Era uma Torre de
Babel! Ouvíamos muitas línguas ao mesmo tempo.
Como é possível pregar
para essas pessoas?
É um grande
desafio! Primeiro tem que conhecer a língua. A língua que fala ao coração é a
língua dele, não é a minha. Nosso objetivo não é cristianizar. Evangelizar é
diferente de cristianizar. A evangelização parte do principio de que a pessoa
tem o conhecimento de Deus. Inerente a própria raça humana. Esse conhecimento
como Paulo diz, pelas coisas criadas os ensinamentos de Davi: “Os
céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas
mãos.” O ser humano, não importa em que condição ele esteja, ele tem o
conhecimento intrínseco de que existe um ser superior, de que existe um Deus. Por
mais que os ateus queiram questionar isso, essa é a minha verdade de vida, em
contexto até com os que não têm contato nenhum com a chamada civilização.
Cristianização nada mais é do que cristianizar as pessoas. A evangelização
parte do princípio de ele tem um conhecimento de Deus, desse Deus criador, por
exemplo, algumas tribos têm um Deus que é um dos muitos deuses, só que esse
Deus é um Deus bom, criador, que dá o sustento, nos cultos dentro do contexto
tribal, na sua liturgia cultica, era o único dos deuses nesse Panteão de deuses
que havia a participação da família nessa celebração: esposa, filhos, avós, de
todo o grupo. Os outros tinham só a participação dos homens onde geralmente
havia o consumo da bebida alcoólica feita através da mandioca, milho. Havia
muita briga entre eles. Embriagavam-se, drogavam-se.
Qual droga era a mais usada por
eles?
Eles retiravam de um cipó,
transformavam em uma espécie de pó, e inalavam. A semelhança de uma cocaína,
provocando um efeito alucinógeno. Nesses rituais pode ocorrer até morte. Nesse
ritual em que todos os membros da tribo participam, as famílias, isso já não
tem o risco de acontecer. Quando o
missionário na época chegou lá e foi morar com eles, fazer a grafia da língua,
convivendo durante 20 anos, e vendo esses cultos, ele identificou nesse Deus
bom, o mesmo Deus que nós cremos. O missionário disse-lhes: “ Esse Deus que
vocês cultuam, é um Deus bom, é um Deus que criou todas as coisas, é o Deus que
provê as nossas necessidades para a nossa subsistência, não é como os outros
deuses que vocês tem medo, por isso vocês constroem as casas altas com medo
desses deuses entrarem em suas casas e levarem seus filhos. Para eles ficou a
história desse Deus bom ter um filho e esse filho chama-se Jesus que veio para
redimir, ser a salvação. A evangelização parte desse principio. Isso não é
possível com todos, isso porque esse Deus bom é um Deus casado, que já teve
outros filhos. Nesse caso a comparação não dá para ser usada. Mas existem casos
em que o Deus é um Deus superior mesmo, que não teve filhos. A partir desse
principio que ele já conhece culturalmente, transmitido de forma oral, fica
mais fácil para introduzir Jesus como sendo filho desse Deus.
Essas tribos cultuavam alguma
imagem?
Todos eles tinham o culto
animismo. Tudo é Deus, todas as nossas etnias no Brasil são animistas. Cultuam
árvores, animais. O ser humano é animista na sua origem religiosa, intrínseca
da natureza humana, ele é um religioso animista. Quando ele vem ter a idéia de
um Deus trino: Pai, Filho e Espírito Santo, o animismo fica relegado a um
segundo plano.
Os missionários em atividade,
para integrar-se a um grupo, tem os mesmos hábitos desse grupo?
Não éramos obrigados e nem nós
obrigávamos eles a nada. Essa é a grande questão, eu nunca serei um índio e
eles nunca serão como os brancos. Às vezes somos bombardeados pelos antropólogos,
de uma forma geral, quando eles afirmam que nós estamos querendo mudar a
cultura desses povos. Nós não queremos mudar a cultura de ninguém.
A reserva Raposa do Sol tem qual
significado nesse contexto?
É muito complexo. Embora nós já
temos na reserva muitos protestantes. Ali tem uma complexidade de fronteira, a
Amazônia como um todo é muito complexa. Só que o nosso foco é o ser humano, não
importa se for trabalho com nativos na Índia, África, já estive em todos os
continentes.
Após permanecer na proximidade de
Oriximiná qual foi sua
próxima missão?
Após dois anos e meio em Oriximiná fui para a Guiana Francesa, onde permaneci um ano, trabalhava
no treinamento e capacitação de lideranças. É um território francês até hoje,
inclusive a moeda que circula é o Euro. É o único lugar nas Américas onde o
Euro é a moeda corrente..De lá vim para Anápolis, em Goiás, trabalhar no setor
de administração, treinamento. na sede da base missionária onde iria trabalhar.
Nunca perdi o foco, ia e vinha atuando nessa área. Em paralelo fiz consultoria
em várias áreas, com outras agências, inclusive com americanos, alemães,
ingleses, estrangeiros que vinham ao Brasil e queriam atuar com os povos
nativos. Atualmente a maior parte do trabalho da missão é feita por brasileiros.
A sede nacional da
Igreja Presbiteriana do Brasil situa-se em que localidade?
Fica em
Brasília. Tem um presidente que é eleito pela Assembléia Geral a cada quatro
anos, atualmente é o Reverendo Roberto Brasileiro.
O senhor viajou por
quantos países?
Já estive em
36 países. Sempre trabalhando. Em alguns atuo até hoje, sou diretor já faz 20
anos desse departamento da igreja: APMT Agencia Presbiteriana de Missões Transculturais, temos hoje missionários espalhados por 44 países, somos cerca de 140
famílias missionárias (marido, esposas, filhos). Casais que estão em Angola,
Moçambique, Guiné Bissau, Senegal, África do Sul, Europa: Portugal, Inglaterra,
Espanha, Itália, Romênia, Albânia, temos missionários brasileiros
presbiterianos presentes nesses países.
Qual país tem uma
presença presbiteriana maior?
Estados
Unidos e Coréia do Sul. A palavra “presbiteriano” significa um sistema de
governo. É a igreja governada por presbíteros. Presbíteros são os lideres
eleitos pela comunidade para ser a sua liderança.
Quantos presbiterianos
temos em Piracicaba atualmente?
Pouco mais
de mil fiéis. Estou calculando uma média de 200 por igreja, são cinco igrejas.
Existe algum cemitério
presbiteriano em Piracicaba?
Não temos. Os
reverendos Astrogildo de Oliveira Godoy e Ademar de
Oliveira Godoy que por muitos anos foram presbiterianos, ao falecerem foram
sepultados no Cemitério Parque da Ressurreição. A Igreja tem algum endereço
para contato via Facebook, que é: Igreja Presbiteriana do Piracicamirim. E
também tem o meu pessoal que é: Sergio
Paulo Martins Nascimento.
O que o trouxe à Piracicaba?
Eu vim para
Piracicaba em 1999, foi uma história interessante, eu estava em Casa Branca
nessa época, após cinco anos de permanência lá, dentro do contexto do que podia
fazer naquela localidade cheguei a um ponto de buscar novos desafios, temos
vários projetos em andamento, são trabalhos muito sérios, um deles é a
recuperação do dependente químico (alcool). Chama-se NECI (Núcleo Evangélico de Cura
Interior), esse tem um site. Trabalhamos a idéia de que o alcoolismo precisa de
uma cura interior. O foco é o alcoolismo, com a grande expansão de pessoas com
outras dependências químicas acabamos recebendo-as. Estamos lá ha 18 anos, Tem
uma equipe que trabalha lá, sou diretor fundador do projeto, atuo como diretor
conselheiro, continuo assessorando a equipe que permanece lá no dia a dia.
Há controvérsias sobre a urbanização de povos até então
vivendo em seus redutos?
Hoje a
grande questão tribal é que estamos vivendo um processo, cada vez mais
crescente, de aproximação dos indígenas dos grandes centros urbanos. Os
aldeados estão se tornando minoria. O
que mostra essa questão do ser humano de buscar a melhoria de vida. Por mais
que exista o desejo de afirmar que o indígena deveria ficar no seu contexto
eles não irão ficar. È da natureza do próprio ser humano. Sempre trabalho o
indígena, o nativo, por isso preservamos a língua através do Novo Testamento,
através da grafia, na preservação da língua é preservada a cultura também. Se
perder a língua perde a cultura. Se você for para uma região onde há uma
aproximação dos centros urbanos, principalmente os adolescentes resistem em
falar a língua da sua tribo. Querem falar a língua portuguesa. Quer acesso a
tecnologia, a mídia. Isso prova que são seres humanos. Temos uma organização
que tem a sede em Dourados, Mato Grosso do Sul, chama-se Missão Evangélica Caiuá, ligada à Igreja
Presbiteriana. Trabalha com os Caiuá e com os Guaranis,Terenas, vai fazer 80 anos
essa organização. Lá temos o hospital indígena, inclusive hospital para
crianças desnutridas que chegam das aldeias, e o hospital de atendimento à
população indígena. Essa organização acabou sendo convidada pelo Governo
Federal para assumir a questão da saúde indígena em quase todo Brasil. Eu
acabei de assumir a direção dessa entidade, Só o convenio que existe com o
Governo Federal são mais de 300 milhões de reais por ano. Mais de 800.000
atendimentos por ano, da população indígena. Temos médicos, enfermeiros, dentistas,
são equipes multidisciplinares. o atendimento é feito “in loco”. Vão às
aldeias.. Eu assumi, vou tomar posse agora como Diretor da Missão Caiuá. É um
grande desafio. Pelo que tenho analisado são mais de 7.000 funcionários
espalhados nesses convênios que são convênios anuais, renováveis. Fiquei
sabendo que ia assumir na Assembléia Geral que se realizou na igreja. Eu até
levei um susto. Com isso a gente tem muita atividade, cuida desde a saúde
indígena, cuida da evangelização, dos projetos educacionais, projetos sociais.
O senhor mencionou que os indígenas estão em contato a tecnologia, de
que forma?
Nas aldeias mais próximas das cidades a maioria dos jovens adolescentes
está com computadores e tablets. Em Dourados temos seis escolas grandes, em uma
delas a nossa igreja aqui de Piracicaba construiu uma sala ampla que se tornou
a biblioteca para eles. Isso foi em uma aldeia próxima da cidade de Amambai.
O que o senhor pode nos informar sobre a Associação Presbiteriana de
Filantropia de Piracicaba?
É uma atividade que é muito cara aos meus olhos e coração. Há oito anos
criamos esse projeto aqui. Sou o presidente dessa entidade, que tem o Projeto
Crescer como o seu projeto. O objetivo é cuidar das crianças, que as chamo de
minhas crianças, portadoras de Síndrome de Down, déficit intelectual.
São quantas crianças que estão freqüentando a Associação?
Hoje são 18 crianças. Nosso projeto é manter 20 crianças. Isso no espaço
que temos. Agora estamos com um desafio, ampliarmos fisicamente nossas instalações,
já temos o local, o projeto aprovado, estaremos iniciando nos próximos dias a
construção desse projeto. Fica no Jardim Califórnia, próximo ao Jornal de
Piracicaba. Esse é o nosso desafio, um desafio para nós e para a cidade. Esse
projeto é mantido por voluntários, os associados, hoje temos uma parceria com a
prefeitura através da Ação Social, temos o reconhecimento como entidade de
utilidade pública da cidade. O nosso alvo é nessa sede atender até 190 crianças
por dia, de manhã e a tarde. Ela irá ter essa capacidade para atender por dois
períodos até 190 crianças. Hoje nosso foco é trabalhar com adultos, portadores
da síndrome de Down, é a nossa principal meta. É um grupo que não tem muita
gente trabalhando com eles. Nosso desejo é construir essa sede nos próximos 18
meses. Já temos o apoio do Fórum local, que nos ajudou para dar um início.
Esse projeto originou-se como?
Na verdade veio de um sonho muito antigo, quando vi inclusive crianças
indígenas com síndrome de Down.
Lenda ou não, há uma noção divulgada de que as crianças indígenas com
síndrome de Down são sacrificadas.
Alguns são. Depende do grupo. É uma luta nossa, o articulador da lei é
um presbiteriano, o pastor Henrique Afonso, deputado federal, inclusive ele e a
esposa adotaram como filhos deles duas crianças indígenas que seriam
sacrificadas. Há uma corrente de antropólogos que defendem esse procedimento
praticado por alguns grupos, alegam que faz parte da cultura. Alguns classificam
os indígenas em um sub raça e outros em uma sobre raça, uma visão antropológica
equivocada onde colocam o indígena um patamar acima dos demais seres
humanos.
Aberrações dessa natureza, outras totalmente contestáveis nasce em uma
das mais conceituadas universidades do país. Isso é um esnobismo
pseudo-intelectual?
Não tenho como definir o porquê isso acontece. Uma das coisas que também
é verdade, na preservação desses grupos nativos “in natura” é que muitos
antropólogos irão perder suas fontes de pesquisas. Isso é esmurrar o vento. Vai
ter um fim.
Qual é o horário do culto na Igreja Presbiteriana do Brasil –
Piracicamirim?
Nossos cultos semanais é das 9:00 horas da manhã até as 10:00 horas,
depois temos a Escola Bíblica Dominical, que começas as 10:10 horas até as
11:00 horas, voltado para crianças, jovens e adultos. Só que dividimos em
faixas etárias para estudarmos a Bíblia em faixas etárias e a noite das 19:00
às 20:00 horas, com estacionamento próprio.
Que mensagem o senhor quer passar para o ano que se inicia?
Por natureza sou otimista, nasci com esse otimismo, tenho a fé em Deus
acima de tudo, o ser humano tem grandes possibilidades a partir do seu encontro
com Deus. Nesse encontro com Deus e com outro ser humano muitas coisas podem
ser mudadas e transformadas para melhor.
A minha fé em Deus é que nesse encontro dos homens com Ele as pessoas se
transformem e nessa transformação a sociedade ganhe pessoas melhores. Voltadas
mais para o todo do que para si mesma. Temos esse momento histórico denominado
pós-modernismo que levou as pessoas a uma individualização muito grande a olhar
só para si, para seus próprios interesses, esquecendo do interesse coletivo.
Esquecendo da esposa, do esposo, dos filhos, dos pais, esses valores
judaico-cristãos foram se perdendo, muitos são religiosos, hoje há uma profusão
de religiões, o que pregamos não é religião, pregamos vida com Deus, que é
diferente de religião. É comprometimento
com o Reino de Deus. A igreja é uma agência do Reino de Deus, o Reino de Deus não
é guerra, não é comida nem bebida, é justiça e paz. Sabemos que o futuro melhor
é no Eterno, embora saibamos que podemos ter aqui novos céus e nova terra.
Quero deixar a mensagem de que nunca devemos perder a esperança. A esperança
não está assentada no homem, quando está assentada no homem a própria Bíblia
diz “Maldito aquele que confia no homem”. Ela diz “Abençoado aquele que teme o Senhor,
ama o Senhor e espera pelo Senhor Deus”. Não significa que não devemos confiar
no homem, mas sim que quando a nossa confiança esta só no homem ai nos tornamos
amaldiçoados, por quê? Porque o homem é imperfeito. O homem é pecador,
corrupto. Quando vemos a corrupção nada mais é do que o ser humano. Ficamos
indignados, mas quando olhamos para nós mesmos percebemos que somos tão
corruptos quanto. Talvez Freud explique, recriminamos o espelho. De alguma
forma a gente se vê naquele espelho do corrupto que foi pego, mas poderia ter
sido qualquer um de nós. Por mais que a gente queira, esses não são os meus
valores, o ser humano é tendencioso a fazer isso. A única que faz a diferença
nos transforma para não sermos assim é a presença de Cristo entre nós. Ai os
seus valores passam a ser os nossos. Viver Cristo é diferente de viver a
religião. A religião tem normas, uma série de coisas, mas o cristianismo é a
Vida de Cristo. Ele não veio para vivermos os valores pregados por ele, Ele
veio para vivermos a vida Dele em nós. Sermos como Ele foi. Esse é um princípio
do cristão. A palavra cristão quer dizer isso, pequenos Cristos. Quando essa
palavra foi introduzida pela primeira vez na Antioquia foi exatamente nesse
sentido, antes eles eram chamados de “seguidores do caminho”. Eles passam a
serem chamados de cristãos porque eram identificados como pequenos Cristos.
Agiam como Cristo. Os que conheciam a vida de Cristo viam naqueles que passaram
a chamar de cristãos, as mesmas ações. Paulo disse:”- Você também pode, nós
podemos, lutarmos para sermos imitadores de Cristo”. Cristo buscou a paz entre
os homens, valorizar o homem, curar suas feridas, acolhe-los em amor,
arrepender do erro, quando for necessário. E Ele diz: “Vai e não peques mais!”
É o caminho do arrependimento, do reencontro que muda e transforma a vida.
Quando entendemos que o cristianismo é mais do que viver o que o Cristo pregou,
mas viver a sua vida, então ai há esperança. Porque a nossa vida será
semelhante a de Cristo. Nossas ações serão a semelhança Dele. Nosso falar,
nosso agir, nosso pensar. Paulo quando escreve aos Coríntios disque “Nós temos
a mente de Cristo”. É pensar como Cristo. O pensar como Cristo é olhar as
escrituras, a base são as escrituras sagradas. Paulo escreve aos Filipenses
quando ele diz “ – Esquecendo as coisas que para traz ficam, olho para as que
estão diante mim, sigo para o alvo, todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos.” Na medida e que ficamos
remoendo o passado, as vezes pensando que o passado foi melhor, ou pior, ai
ficamos vivendo no passado e do passado. Por outro lado não podemos ficar
vivendo dizendo que o futuro será melhor, e vivendo desse futuro que nunca
chega. Tenho que ter consciência de que o passado me ajuda a não cometer os
mesmos erros. E esse olhar no futuro se torna melhor na medida em que tomo
medidas acertadas no presente. Olhando as experiências passsadas para que eu
não cometa os mesmos erros. Meu futuro pode ser diferente! A partir das medidas
corretas que eu tome no presente. Preisamos sermos gratos por aquilo que já
temos, que já alcançamos, isso em todas as áreas da vida. As vezes a gente fica
mais preocupadp com o ter do que o ser, o ser é muito mais ter do que o ter.
Muitos esquecem de que a gente tem, sendo. E não tendo. Conhecemos casos de
pessoas da sociedade que tem muita coisa mas não são. São vazios, vivem nas
angustias, nas depressões, vivem a base de diazepans, de whiskys, encontram
nessa forma um refugio, um consolo, uma muleta. Mas porque não teve um encontro
transformador com esse Cristo, ainda. Tem coisas mas eles não são. Outros não
tem nada e são! São gente, seres humanos que nos ensinam verdades profundas.
Estão muitas vezes nas periferias da vida. Creio que precisamos voltar para
esses valores. A sociedade evaziou-se desses valores de um modo geral. Foram
introduzindo outros valores nessa sociedade pós-moderna. Não existem mais
valores absolutos, os valores absolutos são individualizados, é para você, isso
não tem influência em mim, eu tenho os meus valores. Precisamos cobrar o valor
comum que une um ser humano a outro ser humano a sociedade de uma forma geral
para vivermos o bem comum. Vejo isso a partir dessa vida em Cristo. A minha
mensagem é de esperança, olhando para um Deus que é, que em Cristo veio, que transforma
a nossa vida para que sejamos semelhante a ele. Nesse ser semelhante a Ele
teremos um olhar diferenciado para nós mesmos que foi o principal mandamento: “–
Amar a Deus sobre todas as coisas e o proximo como a si mesmo”. Isso fará
vermos como somos, seres dependentes de Deus. Dependentes uns dos outros. Nem
mem melhor nem maior do que o outro. Mas que esse olhar de amor para com o
outro seja esse amor que tenha essa reciprocidade que transforma para melhor,
sempre.
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