domingo, fevereiro 05, 2017

ROSÉLYS SEGHESE ALLEONI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de fevereiro de 2017.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ROSÉLYS SEGHESE ALLEONI


Uma verdadeira revolução no ensino da música, crianças realizando apresentações musicais aos cinco, seis anos. Graças ao interesse e ao esforço de Rosélys Seghese Alleoni que se deslocou até os centros onde essa nova técnica de ensino é estudada e ministrada, Piracicaba dispõem desse método criado por um gênio, o japonês Shinichi Suzuki, que faleceu no Japão em 26 janeiro de 1998, com quase 100 anos de vida. Com uma sólida formação musical Rosélys aprofundou-se no estudo desse método e hoje oferece aos alunos da Escola de Musica de Piracicaba “Ernst Mahle” a formação musical a partir dos cinco anos de vida. Uma grande descoberta para a humanidade e uma grande conquista para Piracicaba.



                                                                         2 years old

Rosélys Seghese Alleoni nasceu em Piracicaba a 9 de fevereiro de 1946.  É filha de Iracema Seghese Alleoni e Antonio Francisco Alleoni que tiveram cinco filhos: Rosélys, Carlos Alberto, Elisete, Elizabete e Silvana.
Você nasceu em que bairro de Piracicaba?
Nasci na Vila Rezende, na Avenida Rui Barbosa, no primeiro quarteirão, logo após da ponte sobre o Rio Piracicaba. Nossa casa era do lado esquerdo. Sou rezendina, com orgulho!
Os seus estudos foram iniciados em que escola?
Foi no Instituto Baroneza de Rezende, fiz o pré-primário, o primário, comecei a tocar piano com uma das irmãs, a Irmã Clemência.
O que fez com que você se interessasse em tocar piano, sendo tão jovem ainda?
Vários fatores contribuíram, um deles foi a indicação de um dos meus médicos, o pediatra Dr. Tito Gomes de Moraes, em uma das suas conversas com a mamãe ele disse que seria ótimo que eu tocasse piano, iria me proporcionar um bem estar maior. Na época eu tinha algumas limitações para locomoção sem auxilio de alguém. Minha mãe atendendo a indicação do Dr. Tito colocou-me no curso de piano. A minha madrinha, Inês Seghese, irmã da mamãe, deu-me de presente um piano, que conservo até hoje. Nessa época eu tinha entre seis a sete anos. Isso foi me incentivando.
Quando você viu o piano que tinha recebido como presente, qual foi o impacto que ele lhe causou?
Ele chegou todo encaixotado, a minha casa tinha uma escada, foi uma emoção muito grande. Foi um presente que eu nem esperava em ganhar. Até então eu não tinha piano em casa, tinha as aulas no colégio e estudava lá. Sempre gostei bastante de tocar piano.
Qual era a atividade profissional do seu pai?
Ele começou com uma fábrica de vassouras, iniciou com seu irmão, Irineu Alleoni, a vassoura chamava-se “Marabá”.  (O grande artista plástico, Marco Antonio Cavallari reconhecido mundialmente, por suas inúmeras obras expostas em muitos países sendo talvez uma das mais conhecidas pela mídia a reconstituição a partir do crânio da cabeça de Josef Mengele componente do primeiro escalão nazista, Cavallari tem seu nome como escultor no laudo oficial da polícia brasileira, alemã, israelense e americana. Em entrevista dada para esta coluna afirmou que muito jovem começou a trabalhar, conforme suas palavras: “Sei fazer vassoura de piaçava, fazia quarenta dúzias por dia, isso na Fabrica de Vassouras Marabá”.) Depois ele teve um sócio, o Ferreti. A fábrica começou com o meu avô, Antonio Alleoni. A nossa casa era na Avenida Rui Barbosa e eles tinham a indústria em um barracão na Avenida Maria Elisa. Permaneceram por alguns anos, depois se mudaram, meu pai construiu a nossa casa na Rua Dona Eugênia, e ao lado um barracão onde atualmente tem casas e prédio construídos no local. Quando mudei para essa casa eu tinha uns 10 anos.  
Você formou-se como pianista?
Sou formada em Piano pelo Conservatório Dramático e Musical de Piracicaba. Também sou formada como professora primária, antigo Magistério ou Normal no Colégio Piracicabano. Posteriormente estudei com a pianista Maria Dirce Rodrigues de Almeida, com quem aprendi toda a parte pedagógica do ensino do Piano. Sou graduada em Educação Artística pela Universidade Metodista de Piracicaba- UNIMEP.
Você lecionou piano?
Fui professora de Piano no Conservatório Dramático e Musical de Piracicaba por 25 anos. Em 1982 passei a lecionar na Escola de Música de Piracicaba, hoje Escola de Música de Piracicaba “Maestro Ernst Mahle”.
Você sempre buscou aprimorar sua técnica participando de diversos cursos.
Fiz o curso de Visão Científica da Pedagogia da Técnica Pianística com o Professor Luis Carlos de Moura Castro – Texas USA. Princípios de Técnica Pianística com o Professor Alfeu Araujo. Freqüentei Cursos de Técnica Pianística com Dirce A. Camargo, Olga Normanha, Beatriz Balzi, Maria Helena Pacheco Ferraz, Fernando Lopes e Professor Alfeu Araujo, M.Helena P. Ferraz, Fernando Lopes, Alfeu Araujo. Participei dos Master Classes com os pianistas Luis Carlos Moura Castro (USA), Estela Caldi, Daisy de Luca. Estudei harmonia e flauta doce com o maestro Ernst Mahle. Participei de inúmeros cursos referentes a Iniciação Musical e Pedagogia Pianística. Como professora do Iº e IIº Graus (Curso Técnico, reconhecido pelo MEC) tive vários alunos que conquistaram prêmios em Concursos Nacionais e Estaduais como Concurso Jovem Instrumentistas do Brasil, Magda Tagliaferro, Souza Lima e Art Livre Em 2005 obtive da Suzuki Association Of The Americas em curso realizado em Lima, Peru o Certificado de Capacitação para Ensino do Método Suzuki para Piano, com crianças a partir de 4 anos. Recebi a Capacitação em Filosofia e Leitura Musical, com a Professora Caroline Fraser, em Lima, Peru. Em 2009 participei do curso “Toda Criança é Capaz”, ministrado pela Associação Suzuki das Américas com a professora Shinobu Saito, teacher tainer da Associação Suzuki Americana (SAA). Em setembro de 2009 participei do curso “Lectura Musical Com El Metodo Del Lingua Materna” com a professora Caroline Fraser, do Peru reconhecida pela Associação Suzuki das Américas (ASA), como professora de capacitação do Método Suzuki para piano e coordenadora de piano pela Associação Suzuki do Peru. Em 2011 participei do Curso de Rítmica Dalcroze, ministrado pelo Professor Iramar Rodrigues (Suiça). Em 2013, com Caroline Fraser, Peru, Curso Sobre Método Suzuki. Em junho de 2014 tive a participação no 1º Encontro Internacional de Pianistas de Piracicaba, assistindo a palestras e masterclasses com as pianistas e professores João Paulo Casarotti e Leslie Spotz (USA).




        Shinichi Suzuki A beautiful heart = a beautiful tone

Além desses cursos todos, você tem realizado ações culturais em Piracicaba? 
Criei o Recital Mirim, para dar oportunidade aos musicistas mirins de 5 a 11 anos se apresentarem. Criei o Concerto para a Juventude, onde jovens tenham a oportunidade de mostrar o seu trabalho em todos os instrumentos e voz. Fui por 5 anos secretária da Sociedade de Cultura Artística de Piracicaba.
O que é o Método Suzuki?
Esse método foi criado por um filósofo, educador, músico. Ele viveu na época da Segunda Guerra Mundial, ele percebeu que as crianças estavam ficando muito tristes nesse período, ele queria fazer alguma coisa para que elas tivessem um pouco mais de alegria. Começou a estudar como a criança aprende a falar. De que forma ela aprendia. A criança aprende a falar antes de ler e escrever: ouvindo e repetindo. Ele percebeu que a criança tinha muita facilidade independente da língua: japonesa se morasse no Japão, alemão se morasse na Alemanha. As crianças aprendiam com muita naturalidade a língua do local onde morasse. Ele passou a estudar de que forma ela aprendia e passou a aplicar isso no sentido de que forma ele iria ensinar a música. Dessa forma toda criança é capaz: ouvindo e repetindo. Shinichi Suzuki criou um método fantástico, as crianças aprendem com muita facilidade, é muito lindo ver esse desenvolvimento.

     Suzuki Violin Book 4 Graduation Recital, 5 years old.   

      

                        First concert - 2 year old violinist   



                 Violin graduation concert, Gossec Gavotte


Você tem alunos com que idade?
Começo a lecionar para alunos a partir dos cinco anos. Já até realizaram recitais!
A seu ver qual é a importância da música para o ser humano?
É incalculável.
Como você descobriu o Método Suzuki?
Através da leitura, pesquisas, internet. Busquei o máximo que consegui. No Brasil esse método começou no violino, no Sul do Brasil. No piano encontrei em São Paulo algumas professoras que tinham ido buscar o método, mas não eram habilitadas a ministrarem aulas sobre o método para professores. Para ser training (O processo ou a rotina de quem treina) são necesários muitos anos de estudos além de uma série de pré- requisitos para ensinar professores do Método Suzuki. Nem é a minha pretensão. Eu quero é trabalhar mesmo com alunos, com as crianças. Depois de muita procura fiquei sabendo que no Peru tinha o Método Suzuki para piano. Fui para o Peru, juntamente com a professora Luciane Penati.Prmanecemnos por 10 dias fazendo toda a filosofia. O método é uma filosofia. O método não envolve apenas o aluno e o professor, trabalham os pais, aluno e professor. Shinichi Suzuki afirma que o método é uma mesa de três perninhas, se uma das pernas não existir o método já não funciona.
Esse método de aprendizado pode ser aplicado para outras matérias além da música?
O Kumon acho que é meio parecido. Fiquei até com vontade de fazer o Kumon para ver se tinha alguma relação (Kumon é um método que visa desenvolver o autodidatismo nos alunos de forma individualizada, A palavra designa além do nome do fundador  Toru Kumon o método de estudo. Acredito que haja alguma relação, mas não sei definir qual seria essa relação. Há semelhanças, é diário, no piano é dito que “você tem que praticar todos os dias que você come” o tempo não é tão importante, no começo a criança tem pouco material, se ela ficar cinco minutinhos no piano é maravilhoso. A criança vai criando esse hábito, os pais têm que estar muito presentes, eles assistem a aula com a criança, ela não fica sozinha.
Isso não é meio complicado?
No Brasil é muito complicado quando envolve essa parte familiar. Tenho aluno em que os pais estão sempre presente, não importa se são 10 ou 15 minutos. Com isso o menino deslancha, vai muito rápido. Outros aluninhos vão para a aula e ninguém toma conhecimento. Torna-se mais complicado.
Caso a criança esteja sob os cuidados de uma pessoa da família, avó, por exemplo, ela pode participar?
Já tive casos em que a avó participava. Frequentava a aula e depois trabalhava com a criança em casa. Criança de cinco anos não irá lembrar tudo que eu disse à ela. Os pais têm essa missão, de ser o professor em casa. Orientar a criança. Isso é importante porque o professor fica pouco tempo com a criança. No inicio damos só meia hora de aula. A concentração dela é ainda muito pequena. Com o passar do tempo percebemos que a concentração da criança vai aumentando de uma forma visível.
É um trabalho que não se limita a música, abrange a mente humana?
Trabalhamos com o ser humano, com o indivíduo. Ele irá aprender muita coisa: raciocínio, memorização, concentração, disciplina, postura, coordenação motora, percepção auditiva, sensibilidade, musicalidade, socialização, ritmo, afinação, auto-estima. Há um leque muito grande de benefícios, não é o simples fato de estar tocando piano. A criança que estuda música é centrada, tem um objetivo a alcançar. No ensino ele tem várias metas, ela vai alcançando essas metas. Ela irá aprender a trabalhar em sua vida.
Algumas famílias ainda têm algum preconceito, de que o filho torne-se um músico, e em decorrência das distorções, principalmente na música popular, isso pode comprometer o futuro profissional do jovem.
Na verdade nunca ouvi nada a respeito. Os meus alunos eu não tenho como objetivo em torná-los profissionais. Irá tornar-se um musico profissional se for a vontade dele. Estou fazendo o meu papel de pedagoga para ele adquirir conhecimentos, ter uma apreciação musical, saber ouvir uma música, alguns escolhem essa carreira. Tive dois alunos que seguiram e hoje são bem sucedidos, um está nos Estados Unidos e a outra viajou para o exterior, atualmente está na Escola de Musica de Piracicaba fazendo doutorado. Escolher uma carreira é uma iniciativa muito pessoal. Posso até falar que a pessoa tem talento. Mas a iniciativa e decisão são da pessoa. Tive alunas ótimas, hoje uma é médica e outra é advogada, a música serviu para a vida delas, enfrentar platéia. Cada vez que você sobe no palco é um enfrentamento, você está “dando a cara para bater”.


                  Pânico de Palco ou "Stage Fright", por Luiz Carlos de Moura Castro   

                    RECITAL POR LUIZ CARLOS DE MOURA CASTRO

Você tem um grande número de apresentações?
Identifico-me mais com a área de pedagogia, gosto de ensinar. É o meu ponto forte.
Quando um aluno vai se apresentar o seu coração bate forte?
Nesse instante estou junto, com certeza! Temos que estar sempre incentivando, motivando.
Existe o inverso também, aquele aluno que não progride de forma alguma?
Eu nunca falo nada. As mudanças são muito grandes. Já tive alunas ótimas que desistiram e péssimas que se tornaram pianistas maravilhosas. Por isso não podemos falar nada. É uma coisa que às vezes vai fluindo, então tem que deixar. Vou até o ponto em que a pessoa diz que não quer mais.
Ou seja, é praticamente impossível definir o ser humano?
Nunca se pode dizer: “Você não tem capacidade para isso, então não pode fazer!”. A vida dá tantas reviravoltas, que as vezes a pessoa tem um estalo, uma luz.
Somos 200 milhões de habitantes, porém não temos a mesma proporção de interessados em musica clássica.
São poucas famílias que ouvem música clássica.
A tão decantada musicalidade brasileira tem atingido alguns limites abaixo de qualquer comentário, isso é a força da mídia?
É a mídia. Os veículos que atingem a massa popular não transmitem musica erudita, basta olhar o que é transmitido pela televisão. São raríssimas as apresentações, e mesmo as vezes assistimos na TV Cultura alguma coisa. A música é assim: “Se você não ouve você não gosta”. Se você ouvir cinco vezes uma peça de Villa Lobos irá amar. Agora nunca ouve, ou ouve uma única vez, não vai gostar. Não vai gostar nunca! Tem que ouvir, a gente precisa ouvir! Tem que degustar a música.
A diferença do teclado para o piano é muito grande?
É bem grande! Desde a parte técnica, o teclado é baseado em um sistema eletrônico, ele não tem peso e também você não pode mostrar o seu sentimento. Já está gravado, não dá para transmitir. Quando alguém está tocando piano há pessoas que não transmitem nada e outras estão tocando musicas tão simples e conseguem passar isso para você. É  aonde está a beleza. O João Pedro Carlini Garcia é um menino de 10 anos que ganhou o premio de musicalidade, para mim foi o maior premio. Ele conseguiu sensibilizar o júri. 
Música e saúde estão interligadas?


Muito. Todo ser humano não pode viver sem música. Seria muito triste se vivêssemos em um mundo sem música, ela está presente em todos os momentos, felizes, tristes, a musica influencia muito no nosso interior. Existe a musicoterapia, não é a minha área, mas deve ser muito linda também. 


NOTAS



·         SOCIEDADES MÉDICAS DE PIRACICABA, ANTECESSORAS DA (APM) ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA SEÇÃO REGIONAL DE PIRACICABA 19/01/1950 RESUMO HISTÓRICO


Diversas entidades médicas foram fundadas em Piracicaba antes da fundação da Regional da APM de Piracicaba, porém, todas tiveram vida efêmera. Segundo o relato do Dr. Oswaldo Cambiaghi em seu livro "MEDICINA EM PIRACICABA" (contribuição à sua história) - 1984 - foram as seguintes:
CENTRO MÉDICO - fundado em 13 de maio de 1913, por iniciativa do Dr. José Rodrigues de Almeida, teve como presidente o Dr. Torquato da Silva Leitão e secretário o Dr. José Rodrigues de Almeida.
SOCIEDADE MÉDICA DE PIRACICABA - fundada em 2 de julho de 1924, tendo à frente o Dr. José Rodrigues de Almeida, a primeira diretoria foi constituída pelos profissionais: Presidente, Dr. Coriolano Ferraz do Amaral; Vice presidente, Dr. Orestes Pentagna e Secretário, Dr. Francisco Simões da Costa Torres.
SINDICATO MÉDICO DE PIRACICABA - 13 de setembro de 1931 por iniciativa do Dr. Rosalvo Salles, iniciaram-se os trabalhos para a fundação do sindicato e elaboração do seu estatuto. Finalmente, no dia 3 de outubro de 1931, foi fundado o Sindicato Médico de Piracicaba com a presença Prof. Dr. Franklin de Moura Campos. Sua primeira diretoria ficou assim constituída: Presidente, Dr. Galdino Ferreira de Carvalho; Secretário, Dr. José Rodrigues de Almeida; Tesoureiro, Dr. Francisco Alves Corrêa de Toledo; Membros do Conselho Deliberativo: Dr. Coriolano Ferraz do Amaral; Dr. Júlio César de Mattos; Dr. Fernando da Rocha Paes de Barros e Dr. Francisco de Assis Jorge Monteiro.
SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA - em 25 de janeiro de 1947, fundava-se a sociedade dos médicos da Santa Casa de Piracicaba, com a finalidade de promover reuniões mensais de caráter médico científico e a Mesa Administrativa sorteava Bolsas de Estudos aos Membros do Corpo Clínico e ao mesmo tempo o Corpo Clínico proporcionava Bolsas para o comparecimento em congressos e cursos de aperfeiçoamento no país e no exterior. Na primeira reunião ordinária estiveram presentes os seguintes médicos: Dr. José da Cunha e Oliveira Júnior, Dr. Caio Ferreira Carneiro, Dr. Samuel de Castro Neves, Dr. Tito Gomes de Moraes, Dr. Irineu Bacchi, Dr. José Pessoa de Aguiar, Dr. Raul Machado Filho, Dr. Zeferino Bacchi, Dr. Bernardo Dias de Aguiar, Dr. Fortunato Losso Neto e Dr. João José Corrêa. As diretorias eleitas foram assim constituídas (1947): Presidente, Dr. Raul Machado Filho; Secretário, Dr. Bernardo Dias Aguiar - (1948): Presidente, Dr. João José Corrêa; Secretário, Dr. Wanderley Fonseca.
Em 1950 a Associação Paulista de Medicina que abrigava aos médicos da capital, graças aos trabalhos dos professores Dr. Jairo de Almeida Ramos e Alípio Corrêa Neto decidiram estender seu âmbito de ação também para o interior, criando as seções regionais e filiadas. Em Piracicaba, o grande batalhador para a instalação da regional foi o Dr. Luiz Gonzaga de Campos Toledo (Dr. Lula) e, sendo na época o Presidente de Sociedade de Medicina e Cirurgia o Dr. Nelson Meirelles, que reconhecendo a importância desse acontecimento, decidiu, em conjunto com outros colegas, paralisarem temporariamente as atividades da Sociedade para dar apoio a fundação da Regional da APM de Piracicaba.
ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA - SEÇÃO REGIONAL DE PIRACICABA - A Associação Paulista de Medicina (APM) fundada em 29 de novembro de 1930, abrangia os médicos da Capital de São Paulo, porém com a reforma do Estatuto em 1948, todos os médicos do Estado passaram a integrá-la, incorporando-se a ela as várias sociedades já existentes.
A partir dessa data, o Dr. Lula, que era Delegado do Departamento de Previdência não mediu esforços e após três reuniões de Intercâmbio Científico e Cultural com Diretores da APM, decidiram fundar a Regional de Piracicaba e depois de mais outras tantas reuniões preparatórias, no dia 19 de janeiro de 1950, na sede da Legião Brasileira de Assistência (Società Italiana de Mutuo Socorso), instalou-se a Assembléia Geral de Fundação com a presença de 38 médicos (fundadores), foi eleita por voto secreto, a primeira.
Diretoria que ficou assim constituída:

Presidente - Dr. Tito Gomes de Moraes
Vice presidente - Dr. Bernardo Dias de Aguiar
1º Secretário - Dr. Plínio Alves de Moraes
2º Secretário - Dr. Ben-Hur Carvalhais de Paiva
Tesoureiro - Dr. José Cunha e Oliveira Júnior
1º Orador - Dr. Fortunato Losso Netto
2º Orador - Dr. José Wenceslau Júnior

Entretanto, o Dr. Tito, presidente eleito, renunciou ao cargo alegando que por justiça o presidente deveria ser o Dr. Lula. O Vice presidente, Dr. Bernardo convocou a Assembléia Extraordinária, quando compareceram 29 sócios e o Dr. Lula recebeu 27 votos válidos, tendo ainda 01 em branco e 01 destinado a outro colega. A primeira sede foi instalada no Edifício Leitão, na Rua Alferes José Caetano, esquina com a Rua São José. Posteriormente passou a funcionar na Santa Casa, onde todos os membros do Corpo Clínico eram associados. Nessa época a Regional de Piracicaba estava integrada pelas seguintes cidades: Capivarí, Santa Bárbara D`Oeste, São Pedro, Águas de São Pedro, Tietê, Laranjal Paulista, Cerquilho, Rio das Pedras, Pereiras, Charqueada, Rafard e Santa Maria da Serra.
A IDÉIA DA SEDE PRÓPRIA - Em 1959, sob a presidência do Dr. Alcides Aldrovandi, realizou-se em Águas de São Pedro o VII Congresso Médico da APM. Foi aí que sedimentou a idéia de que a Regional necessitava da sua sede própria e assim os companheiros da diretoria se puseram em luta. Esse sonho já vinha sendo alimentado pelo Dr. Lula há muito tempo e não estava morto.
PRIMEIRA CASA DO MÉDICO DE PIRACICABA - inaugurada no dia 11 de agosto de 1962, no 12º andar do Edifício Lúcia Cristina, Rua XV de Novembro, 802. A Regional de Piracicaba comprou um apartamento e o Departamento de Previdência da APM o outro, assim a Casa do Médico ficou com a cobertura do prédio. Esse mérito é do Dr. Alcides Aldrovandi, sua Diretoria e aos Diretores da APM nas pessoas do Dr. Edson de Oliveira, Dr. Henrique Melega e Dr. Nicolau Oppido Sobrinho.
SEGUNDA CASA DO MÉDICO DE PIRACICABA - a cidade foi crescendo e aumentando o número de médicos. A sede ficou pequena e já não comportava para as atividades científicas, culturais e sociais, pois quando se construiu a primeira sede éramos 50 médicos, 12 anos após passou a ser cerca de 200. Desta vez, coube ao Dr. Legardeth Consolmagno, iniciar os trabalhos para a construção da nova Casa do Médico. Sob a presidência do Dr. Legardeth foi nomeada uma comissão pró construção da "Nova Casa do Médico", que ficou assim constituída: Dr. João José Corrêa, Dr. Arthur Campanhã Affonso, Dr. João Carlos Sajovic Forastieri, Dr. Benito Filippini e Dr. Geraldo Ferreira Borges. Adquirido o terreno de 1.000 metros quadrados e doado ao Departamento de Previdência por escritura lavrada no dia 25 de julho de 1975, sendo presidente da APM o Dr. Henrique Arouche de Toledo. Contratou-se a firma L M P K - Engenharia Projetos e Obras Ltda., para elaborar os projetos e orçamentos. No dia 15 de agosto de 1976, foi lançada solenemente a Pedra Fundamental e em 27 de agosto de 1977, foi inaugurada a Nova Casa do Médico de Piracicaba na Avenida Centenário, 546, com seus 640 metros quadrados de construção, tudo muito simples, o máximo que foi possivel com as dificuldades da época e sem nenhuma ostentação, empregando sempre o material mais econômico.
UTILIDADE PÚBLICA - A Associação Paulista de Medicina - Seção Regional de Piracicaba é reconhecida de UTILIDADE PÚBLICA pela Lei Municipal nº 361, de 6 de junho de 1953, quando era prefeito o Dr. Samuel de Castro Neves.
Dr. Legardeth Consolmagno
Piracicaba, 10 de julho de 2003

        ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
apresenta
MÚSICA DE CÂMARA
Luiz Carlos de Moura Castro,
piano
Sexta-feira, 29 de agosto de 2008, às 17h30min.
Direção Artística
André Oliveira e Guilherme Bernstein
Produção Artística
Nikolai Brucher
Realização

Patrocínio Petrobrás


Sobre o Artista

Luiz Carlos de Moura Castro 
Natural do Rio de Janeiro, Luiz Carlos
de Moura Castro graduou-se em piano pela Escola de Música da UFRJ e pela
Academia Lorenzo Fernandez. Posteriormente, realizou ainda estudos de
aprofundamento na Academia Franz Liszt, em Budapest. Em 1968, a convite
de Lili Kraus, tornou-se professor da Texas Christian University e atualmente
integra o corpo docente da Hartt School of Music em West Hartford,
Connecticut. Além disso, Moura Castro leciona na Catholic University, em
Washington D.C., na Escola de Música Juan Pedro Carero, em Barcelona e
retorna anualmente ao Brasil para lecionar Master Classes nos Seminários de
Música Pro-Arte, no Rio de Janeiro.
Nos anos recentes, Moura Castro atuou em diversos festivais
internacionais no Brasil, na Argentina, na Bélgica, na Itália, em Portugal, na
Espanha, no Japão, no Canadá, na Venezuela e nos Estados Unidos. Além
disso, realizou palestras e concertos em Ekaterinenburg, na Rússia; em
Rovello, na Itália e em Praga, na República Tcheca. Como membro da
American Liszt Society ele organiza anualmente o Festival Liszt do Rio de
Janeiro.
Como concertista, o pianista já se apresentou com diversas orquestras,
incluindo a Orquestra de Câmara de Lausanne; a Orquestra da Rádio de Lisboa;
a Filarmônica de Turim; a Sinfônica de Yaroslav, na Rússia; e as orquestras de
Dallas, Fort Worth, Hartford e Syracuse, nos EUA, além de todas as grandes
orquestras brasileiras. Sua carreira solo inclui recitais no Piccolo Scala, em
Milão; no Teatro Ghione, em Roma; na Sale Gaveau, em Paris; no Palau de la
Musica, em Barcelona; no Rubinstein Hall, em S.Petersburgo e no Merkin Hall
do Metropolitan Museum de Nova York.
Sua discografia inclui mais de 30 CDs para os selos Ensayo (Espanha),
Euterpe (Suiça), L’Art (Brasil) e Musical Heritage (EUA). Entre suas gravações
mais recentes estão o 2º e 3º concertos e as Variações Paganini de
Rachmaninov, a Rhapsody in Blue de Gershwin, o Momoprecoce de Villa-Lobos,
os dois concertos de Liszt, canções brasileiras com Maria José Montiel, o
quinteto com piano de Henrique Oswald, obras de Schubert, a 2ª Suite para
piano a 4 mãos de Rachmaninov com Bridget de Moura Castro, obras brasileiras
para violoncelo com Guerra-Vicente, Noturnos de Chopin e os cinco concertos
para piano de Beethoven com a Orquestra Sinfônica da Venezuela.
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
Avenida Presidente Wilson 203, Castelo
Rio de Janeiro – RJ, CEP: 20030-021
Tel.: (21) 3974-2500
www.academia.org.br

academia@academia.org.br


A Música que Machado ouvia

(Clube Beethoven)
Joaquim Antônio Callado Flor Amorosa
(1848-1880)
Alexandre Levy Tango Brasileiro
(1864-1892)
Ernesto Nazareth Odeon
(1863-1934) Batuque
Francisco Mignone Valsa de Esquina No3
(1897-1986)
Frederic Chopin Noturno op.15, No2, em Fá# menor
(1810-1849) 4 Mazurcas
3 Valsas
Heitor Villa-Lobos 3 Peças do Carnaval das Crianças
(1887-1959) Manhã da Pierrete
A gaita de um precoce fantasiado
O ginete do Pierrozinho
Robert Schumann Carnaval, op.9

(1810-1856)


Ao longo do séc.XIX, a ascensão da classe burguesa no Rio de Janeiro levou a

um crescente interesse pelo piano, que representava valor agregado e ostentação nas casas das famílias de classe média e fazia parte da educação das meninas. Surgiu assim uma demanda que estimulou o desenvolvimento de um comércio musical de pianos,edições, composições, arranjos e sobretudo do ensino de música.
Joaquim Antonio Callado foi um dos primeiros chorões cariocas e seu
trabalho contribuiu significativamente para o desenvolvimento e estabelecimento do gênero. O chôro “Flor Amorosa” de 1880, com letra de Catulo da Paixão Cearense, éconsiderado a sua derradeira composição.
Alexandre Levy foi um dos primeiros compositores eruditos brasileiros a
tentar estabelecer uma identidade nacionalista em sua música. O Tango Brasileiro de1890, apesar da evidente influência da habanera espanhola, apresenta ao mesmo tempo uma sonoridade com características bem brasileiras.
Ernesto Nazareth iniciou seus estudos ao piano com sua mãe, passando em seguida por outros mestres. Na composição foi um autodidata, aprendendo com as obras de outros compositores, sobretudo Chopin, cuja escrita pianística tanto influênciou seu estilo. Atuou como pianista em casas de música e no cinema mudo e compôs mais de uma centena de polcas, maxixes, tangos e valsas. Nelas, revelam-se aspectos marcantes da musica brasileira, em especial do cenário musical carioca do final do séc.XIX.
Francisco Mignone entrou para a história da música brasileira como autor de grandes obras sinfônicas como “Festa nas Igrejas”. Porém, com o pseudônimo de Chico Bororó, produziu também um grande número de obras em linguagem popular, e estas
duas vertentes viriam a se fundir nas valsas de esquina, onde a linguagem popular aparece com uma roupagem formal erudita.
A música para piano representa quase a totalidade da produção musical do compositor polonês Frédéric Chopin e sua importância para o desenvolvimento da escrita pianística no séc.XIX é única. Afastando-se gradualmente das grandes formas, como a sonata, Chopin optou por também dedicar-se à elaboração das pequenas formas, contribuindo para o estabelecimento de sua importância dentro do repertório romântico.
Como resultado, deixou-nos uma grande quantidade de valsas, mazurcas, noturnos, scherzos, prelúdios e outras pequenas peças que ajudaram a moldar a música para piano do romantismo brasileiro.
O pianismo brasileiro indubitavelmente atingiu um ápice na obra de Heitor Villa-Lobos, que, mesmo não sendo um grande pianista, desenvolveu uma escrita extremamente individual. O Carnaval das Crianças é um ciclo de 8 peças com temática carnavalesca composto em 1920. Posteriormente, em 1929, o compositor transformou esta suite em uma fantasia para piano e orquestra intitulada “Momoprecoce”.
Ao lado dos mais de 250 lieds, as obras para piano representam a maior parte da produção de Robert Schumann, um dos mais emblemáticos compositores do Romantismo alemão. O Carnaval op.9, uma de suas obras mais conhecidas, foi composto em 1835. Trata-se de um ciclo de 22 pequenas peças para piano que são unificadas através do emprego de um motivo recorrente representado pelas notas Lá –
Mib – Dó – Si, na nomenclatura musical alemã A – S (soa como Es) – C – H, que seriam as letras musicais no nome do compositor (SCHumAnn

ARY WERNECK

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 21 de janeiro de 2017
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ARY WERNECK
(ARISTIDES DE OLIVEIRA CAMPOS)




Aristides de Oliveira Campos é o nome civil do artista Ary Werneck nome sugerido em 1976 por uma diretora de teatro que admirava e quis homenagear Nelson Werneck Sodré (Pesquisador e escritor sobre a história do Brasil publicou dezenas de livros que se tornaram obras de referência para os historiadores e estudiosos do país.).
Você nasceu em qual cidade?
Nasci a 30 de agosto de 1934, em Jardinópolis, uma pequena cidade próxima a Ribeirão Preto. Meu pai era mineiro, seu nome é Abílio de Oliveira Campos e minha mãe Catharina Balbina do Nascimento, da região de Ribeirão Preto, com ascendência paulista de 400 anos. Tiveram quatro filhos: Alderico, Aristides, Irineu e Ivone de Lourdes.
Você estudou inicialmente em qual cidade?
O meu pai era encanador, no tempo em que era um ofício que exigia do profissional uma série de atribuições técnicas, os canos tinham que serem trabalhados com tarrachas, faziam-se as roscas, ele era contratado para fazer encanamentos nas cidades próximas. Fomos morar onde na época era chamado de distrito Sales de Oliveira. (Atualmente Sales Oliveira é um município  Estado de São Paulo, que faz parte da Região Metropolitana de Ribeirão Preto). Entrei na escola com sete anos, meu pai aos 36 anos faleceu. Estudei na Escola Capitão Getulio Lima em Sales de Oliveira. Lembro-me da minha escola até hoje. Fiz os quatro primeiros anos lá, quando conclui não havia outro curso a seguir em Sales de Oliveira. Após o falecimento do meu pai, minha mãe e nós, seus quatro filhos, mudamos para Ribeirão Preto. Quando meu pai faleceu minha mãe tinha 34 anos. Ela teve que trabalhar muito para nos criar. Ela lavava roupa para outras pessoas, lembro-me de que eu ajudava quando ela ia passar roupa. Era utilizado ferro a carvão, ela passava roupas para pessoas grã-finas: camisas, saias. Trabalhava com dois ferros, enquanto usava um o outro já era preenchido com brasa do fogão a lenha. Isso foi no período da Segunda Guerra Mundial. Lembro de que tudo era racionado, havia o cartão de racionamento. Lembro de que meu tio Alberico resolveu fazer gasogênio, para um ônibus que circulava pelo local. Ele cortava a lenha, fazia o carvão e vendíamos em um posto de gasolina. Na época a gasolina era importada, vinha em tambores era colocada em bombas de gasolina. Essa gasolina era bombeada manualmente, abasteciam os veículos.  Os ônibus denominados de jardineiras, utilizavam muito o gasogênio, era comum pararem na estrada, dar todo tipo de problema, mas acabavam chegando ao seu destino. O Brasil produzia muito pouca coisa, Importávamos o trigo que era consumido. Lembro-me com muita saudade da estrada de ferro.  A Companhia Mogiana de Estradas de Ferro passava bem no meio da cidade. Todos os dormentes que eram cortados para a Mogiana, cortados na Alto Sorocabana, envelheciam ali, no pátio, era cortadas com quatro faces, chanfradas, tinha acredito que uns dois metros e vinte sentimetros de comprimento, eram colocados ali para secarem em pilhas com dormentes sobrepostos dois a dois. Minha mãe descobriu que em cada dormente daquele tinham umas lascas que ficavam como cascas. Ela pediu licença para o chefe da estação ela, meus irmãos, eu, íamos tirar aquelas cascas enormes, juntavamos tudo em um quartinho no fundo de casa. Cozinhamos com aquelas cascas durante muito tempo. Outra coisa que ela fazia também, aos domingos após a missa, íamos até a beira da estrada de ferro, que era pertinho. Tinha a linha de trem, logo depois acompanhando os trilhos era plantada erva cidreira, Ao lado havia um pasto e em seguida a cerca, ali ela plantava abobora, pepino, buxa, antes de roçarem o pasto íamos lá e trazíamos, aboboras, pepinos. Havia uma fruta silvestre chamada marolo. Agora estão cultivando, na época era uma fruta silvestre que não se plantava. Tem um perfume que se sente a distância. Tenho muita saudade daquele perfume e da doçura da fruta.
Você permaneceu em Sales de Oliveira até quando?
Eu calculo que permanecemos lá até uns três anos após ter terminado a escola. De lá fomos à Ribeirão Preto aonde conhecíamos uma senhora amiga da família. Ribeirão Preto é uma cidade muito importante, eu me lembro de Ribeirão Preto com 70.000 habitantes. Com quatro jornais diários. Quatro estações de rádio. Com uma biblioteca chamada Padre Euclides. O que sobrou do Cassino Antárctica e transformou-se em um auditório. No passado a Antarctica tinha nontado esse cassino e patrocinava tudo. O Bar Pinguim já existia. Lembro-me do Edifício Antônio Diederichsen, um prédio de seis andares, mas muito alto para a época. Tinha uma parte residencial e outra de escritórios. Embaixo lojas. Na esquina da Rua São Sebastião tem a Cafeteria A Unica, eu acho que é o mellhor café do mundo. Próximo havia uma loja que vendia produtos importados: pera, maçã. Até hoje lembro-me do aroma da maçã. Minha mãe era uma escavadora. Quando a maçã estava um pouquinho amassadinha eles nos davam. Bem como outras frutas finas importadas. Essa loja chamava-se “ A Deliciosa”. Tinha as lojas Caprichosa que tinha artigos para senhoras, Caprichosinha com artigos para crianças e Caprichoso que era uma alfaiataria. Em frente tinha uma casa chamada “Arca de Noé”, o proprietário era um português, vendia todo tipo de frios importados: salame, presunto. Na Praça XV, que é a praça principal da cidade, tinha o Teatro D. Pedro II, a Companhia Cervejaria Paulista, produzia uma cerveja preta chamada Niger. A Cervejaria Paulista foi adquirida pela Antarctica. Na esquina havia o Palace Hotel, onde ficavam os grandes artistas.  Na Praça XV tínhamos três café, entre eles o Café Pinho, famosíssimo e o Café Triangulo. Ainda na praça tínhamos uma loja de pianos, que tem uma ligação com Piracicaba. Ribeirão Preto tem dois times gloriosos de futebol: Botafogo e Comercial. O Comercial foi muito famoso nas décadas de 20,30, foi jogar na Europa, quando voltou fizeram uma campanha gloriosa pelo Norte do Brasil, sendo chamado “Leão do Norte” por causa disso. Atualmente não existe mais o Comercial, só o Botafogo. Belmácio Pousa Godinho  nascido em Piracicaba, foi jogar no Comercial contratado a peso de ouro.  Belmacio foi um importante futebolista, músico e comerciante. A família tem a loja “A Musical” em Piracicaba até hoje.
Você concluiu o ginásio em Ribeirão Preto?
Quando vim para Ribeirão Preto já tinha passado alguns anos, fui trabalhar. Trabalhei no comércio, na Cervejaria Paulista, por parte de mãe eu tinha um tio, ele possuía um Chevrolet ano 1944. Era representante comercial, viajava pelo Sul de Minas Gerais: Muzambinho, Sacramento, Guaxupé, eu ia com ele só para abrir as malas com mostruário de roupas, depois guardar e fechar. Naquela época não havia a quantidade de escolas que temos agora. A maioria era de escolas particulares. Quando tive a oportunidade fiz os chamados exames de madureza.
Como se deu a sua entrada para o teatro?
Em Ribeirão Preto havia um teatro chamado “Teatro Escola Ribeirão Preto”.
O que o levou a entrar para o teatro?
A fascinação pelo teatro. Quando a minha mãe foi para Ribeirão Preto ela foi trabalhar em uma pensão, como cozinheira, isso facilitava também porque morávamos no porão da pensão. Na época Ribeirão Preto estava no roteiro feito pelas grandes companhias de teatro. Os artistas famosos ficavam no Palace Hotel, Grande Hotel, Hotel Brasil, Hotel Aurora, e os técnicos, chamados maquinistas naquela época, ficavam na pensão aonde a minha mãe trabalhava. Eu ajudava a distribuir filipetas, às vezes tinha que conseguir algum móvel, às vezes ganhava ingresso para ir assistir ao espetáculo. Com isso vi grandes artistas que trabalhavam naquela época: vi muitas vezes Procópio Ferreira, Itália Fausto, Jaime Costa, Dulcina de Moraes e seu marido Odilon, ela era filha de Conchita de Moraes, eram atores de grande importância. Ribeirão Preto tinha um teatro amador muito forte também. Lá foi fundada uma escola de teatro chamada Teatro Escola de Ribeirão Preto, a fundadora, segundo consta, era chamada de Dona Pequena é tia do ator Lima Duarte.



Isso foi motivando a sua vontade de ingressar no teatro, qual foi a primeira peça em você participou?
Foi “Casa de Orates”, uma peça de Aluisio Azevedo. Casa de Orates é um asilo de malucos. (Casa de Orates palavra de origem espanhola que quer dizer loucos, doidos). Para mim isso foi importantíssimo, eu estava trabalhando com os bons atores da cidade. Em Ribeirão Preto recebemos o Teatro da Universidade de Coimbra. Fizeram apresentações no Rio de Janeiro, São Paulo e Ribeirão Preto. Apresentaram “O Auto da Barca do Inferno” uma complexa alegoria dramática de Gil Vicente. Ribeirão Preto tinha uma Orquestra Sinfônica altamente conceituada, que infelizmente encerrou suas atividades. Durante a Segunda Guerra tínhamos um maestro idoso, chamado Inácio Stabile, quando ele faleceu trouxeram um maestro da Itália chamava-se Enrico Ziffer, na época tínhamos dois corais, eu participava, fazia a voz de tenor. Ele ficou tão animado que quis montar uma ópera. Ele conseguiu patrocínio e trouxe os artistas principais de fora. Escolheu as óperas mais conhecida como; “La Traviata”, onde participei; “La Bohème”, o pessoal do coro entrava, era uma maravilha! Foi uma vivência cultural muito grande. Naquele tempo tínhamos o chamado “Teatro de Lona”. Também denominado de “Circo Teatro”. Tivemos grandes espetáculos de Circo Teatro que viajava. Apresentávamos peças como: A Mulher Que Veio de Longe; Amar Foi a Minha Ruína, O Mundo Não Me Quis, eram sucessos garantidos.
Quando você mudou-se para São Paulo?
Fui em 1956, tinha 22 anos. Meu tio José Mário convidou-me para ir trabalhar Trabalhei em uma loja chamada Casa José Silva que vendia roupas masculinas. Eu era auxiliar, os vendedores eram muito bem pagos, bem vestidos. Trabalhavam com gravata, paletó. Diga-se de passagem, que naquela época todo mundo usava paletó, gravata e chapéu No Cine Ipiranga não entrava quem não estivesse usando paletó e gravata. Havia grandes lojas, lembro-me da “  Exposição” cujo slogan era: “ Basta ser um rapaz direito para ter crédito na Exposição”.
O teatro continuava em sua vida?
Fazia os espetáculos nos fins de semana, foi uma época em que o pessoal da musica raiz quis entrar no circo, eles já cantavam, eram fortes, além de nós que nos apresentávamos tinham os violeiros que cantavam. Lembro-me que Cascatinha & Inhana fizeram uma turnê grande conosco. Nos anos 50, 55, após a Segunda Guerra, começaram a vir para o Brasil as grandes cabeças do Teatro, inclusive o fundador da  Companhia Cinematográfica Vera Cruz Franco Zampari. Todo mundo juntou-se no TBC – Teatro Brasileiro de Comédia, na Rua Major Diogo, era a elite, embora ninguém fosse profissional ainda. Até que em 1952 tornaram-se artistas atuando como profissionais, com alto nível. Só fomos ter a nossa categoria reconhecida como profissional em 1972 pelo Ministério do Trabalho. De 1964 a 1972 tínhamos nossa carteira funcional emitida pelo Departamento de Diversões Públicas, ligado ao Ministério da Justiça, maldosamente também chamada de “carteirinha de prostituta”, isso porque essas profissionais para se safarem da policia se registravam como atrizes sendo que eram de fato prostitutas. Jamais pisaram em um palco.ndo o TBC  Trabalharam muito pela categoria de ator e artista Lélia Abramo, Cacilda Becker, Juca de Oliveira. O pessoal da categoria era muito unido naquele tempo. Quaganhou importância e as companhias se dividiram, tinha uma crítica que acompanhava o teatro, começou com Décio de Almeida Prado, Sabato Magaldi veio depois. O Professor Alfredo Mesquita organizou em sua casa a EAD- Escola de Arte Dramática. Fiz um concurso, fui aprovado, mas não pude dar continuidade. Tinha que sobreviver, naquele tempo saia vendendo liquidificador, enceradeira, não havia lojas que vendessem esses produtos. Ninguém queria vender em loja esse tipo de produto. A Arno foi a primeira empresa que organizou esse tipo de venda de porta em porta para esses produtos.
Com raríssimas exceções o ator não é valorizado financeiramente?
Até hoje é uma profissão muito difícil. Em alguns países, há uma organização muito bem feita, e as coisas funcionam a contento. Aqui há o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão de São Paulo que é o mesmo tanto para o funcionário como para o patrão.
De quantas peças você participou?
Foram muitas peças, fazíamos muito Teatro Popular. Fundamos um grupo de teatro chamado PETECA – Pequeno Teatro da Capital. Fazíamos muitos entretenimentos, esquetes, peças curtas, variedades, canto, musica.
É mais difícil fazer o público rir ou chorar?
Acho mais difícil fazer rir. A comédia tem um “time” que o drama às vezes você está contando alguma coisa e leva a emoção, o riso tem o tempo certo, para ser engraçado tem que ter aquele momento, aquele instante. Fazíamos muitas comédias de costumes, eram originarias do teatro francês. Eu acho que tudo começou mesmo quando importamos grandes diretores: Gianni Ratto, Ruggero Jacobbi, Zbigniew Marian Ziembinski, Maurice Vaneau, o TBC era a grande estrela do teatro, o TBC não parava. Era uma peça atrás da outra.
Como o ator sente o público?
Cada lugar tem um publico diferente. Há localidades ou regiões, onde o publico vai ao teatro porque acha chique. Outros lugares o publico freqüenta porque gosta de fato. Enfim há inúmeras formas de manifestação do publico com relação ao espetáculo apresentado.
Você conheceu Plínio Marcos?
Conheci muito, do Teatro de Arena, do Redondo. (Bar Redondo tradicional ponto de encontro de artistas nas décadas 60,70,80 é vizinho do Teatro de Arena, na Rua Rego Freitas, ganhou esse nome pelo formato circular do prédio) Hoje também tem um pessoal novo na Praça Roosevelt. Mas o Redondo continua sendo ponto de encontro de artistas..
Quantas peças você escreveu?
Registradas na SBAT - Sociedade Brasileira de Autores Teatrais tenho quatro peças.Duas políticas e duas infantis. Uma política chama-se”O Diabo Mostra o Rabo”. Uma peça infantil é “Alma das Coisas”. Quero apresentar a peça “ O Diabo Mostra o Rabo”.  A nossa vida é curta, mas a arte é para sempre.
Ha quanto tempo você está em Piracicaba?
Já faz muito tempo, meu irmão mais velho veio para Piracicaba no inicio da década de 60. Ele faleceu, recebeu em homenagem uma rua com seu nome Alderico de Oliveira Campos, o Tenente Campos.
Quantos filhos você tem?
Tenho um, chama-se Paulo, tem 54 anos, já é avô também, ou seja, eu sou bisavô!
Você atuou em diversas ações culturais em São Paulo, sob patrocínio?
Tinha uma empresa que trabalhava basicamente com cultura, tive o patrocínio de diversas empresas de grande porte. Até que decidi morar em Piracicaba. Aqui realizei ações culturais, produzi um espetáculo que financeiramente foi oneroso para minhas economias. No inicio sentia muito a falta do ambiente teatral que eu vivia em São Paulo.
Ari tem um poema que você gosta muito e o acompanha em seus pensamentos?
Tem sim. É de Vinicius de Moraes. Chama-se Soneto da Fidelidade.

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



DIRCE CASSANHA GONÇALVES PINTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de janeiro de 2017
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/



ENTREVISTADA:  DIRCE CASSANHA GONÇALVES PINTO
Dirce Cassanha Gonçalves Pinto nasceu a 8 de agosto de 1930, a Rua William Speers no bairro da Lapa, em São Paulo, filha de Raul Cassanha e Josefina Carrera Cassanha que tiveram quatro filhos: João , Geraldo, Laís e Dirce. Raul Cassanha era funcionário do escritório da estrada de ferro SPR - The São Paulo Railway Company Ltd. que fazia a ligação entre Santos e Jundiaí, utilizava o sistema “locobreque” O "locobreque" tinha a função de frear a composição na descida da serra, que simultaneamente puxava outra que subia. O cabo entre as duas máquinas passava por uma grande roda volante, chamada de "máquina-fixa" que ficava em cada um dos cinco patamares.
A senhora lembra-se da descida da serra?
Andei tanto naquele trem, com o meu pai, com a nossa família. Saíamos de São Paulo e íamos até Santos, lembro-me das rodas dentadas e cordas de aço, que tracionavam o trem. A  minha meninice foi muito boa, joguei barra-bool, um joga a bola para outro, com uma risca onde não pode ser ultrapassada. Barra-manteiga é a jogada em que a bola bate e não pode atingir o jogador ou ele ficará de lado. Acusado era outra bricadeira onde a agilidade era colocada em prática. São brincadeiras inocentes e da minha época de menina.Eram brincadeiras em que meninas e meninos participavam. Hoje desde pequena a criança quer tablet, celular. Eu cheguei a jogar bolinha de vidro, rodar pião. Fui meio moleequinha. Fui sócia do Clube de Regatas Tiete, andava com meu futuro marido e uma amiga, de catraia pele Rio Tietê, dentro de São Paulo. Tinha algumas pessoas que até nadavam no Rio Tietê.
A mãe da senhora tinha alguma outra atividade além de cuidar do lar?
Ela foi professora de bordados, fazia crivo, filet, antigamente usava-se muito cortinas de crivo, filet. Ela tinha uns bastidores enormes de pé, no chão. Aprendi a fazer muitos tipos de bordados, mas esses com bastidores eu não quiz aprender.
A senhora estudou em qual escola?
Estudei na Academia Comercial São Paulo. Morávamos na Lapa, meu pai acredito que foi promovido, fomos morar em Campos Eliseos, quando ele ficou Chefe do Movimento, mudamos para o Bairro da Luz, isso porque ele tinha um horário diversificado.
A família foi morar em que rua?
Fomos residir a Rua São Lázaro, uma travessa da Rua São Caetano, hoje tradicional pelas lojas especializadas em vestidos de noivas.Naquela época era um bairro uito tranquilo, muito bom, tinhamos uma boa casa, depois fui estudar o curso primário no Grupo Professor Pedro Voss. Após eu terminar o curso primário, meu pai mudou-se para a Vila Clementino, a Rua Botucatu, bem em frente a Escola Paulista de Medicina. Fui estudar em uma escola na Vila Mariana, era o Colégio Campos Salles, minha irmã e eu pegávamos o bonde, as vezes o bonde aberto, outras vezes o bonde fechado, que por sua cor vermelha era conhecido popularmente como “camarão”. Naquela época não se pensava em um curso superior como engenharia, advocacia. Geralmente as opções para a mulher era ser professora ou secretária. Fiz tres anos de secretariado. Eu gostava muito da Vila Mariana, as vezes ia a pé até a Vila Mariana.
Após formar-se como secretária a senhora foi trabalhar em qual empresa?
Fui trabalhar na empresa Itaú Transportes Aéreos. Eu trabalhava na Rua Asdrubal do Nscimento. Era uma empresa aérea que só transportava carga. Tinha que usar saia azul marinho e blusa branca, tinha algumas mulheres que usavam gravata, eu nunca usei.
Qual foi o próxima empresa em que a senhora foi trabalhar?
Fui para o frigorífico Anglo (do Grupo Vestey) de capital britânico. O escritório ficava no décimo e décimo primeiro andar de um edifício situado a Rua Anchieta, logo após a Praça da Sé, primeira travessa da Rua XV de Novembro. Eu trabalhava no Departamento de Vendas, havia uma secretária que tinha fluência em inglês, tínhamos três chefes, ingleses. Eles produziam enlatados, apresuntados, charques, derivados de carne vindos de Barretos, Pelotas. Trabalhava da 8:30 às 11:30 e das 13:30 às 17:30 . No Anglo as roupas eram a vontade, cada um vestia-se como gostava.
Tinha restaurante no local?
Não tínhamos, nós íamos almoçar em casa, ninguém comia na cidade. Eu senti em sair de lá, mas saí porque tinha casado. Os primeiros móveis que comprei quando casei foi no Mappin, na Praça Ramos de Azevedo esquina com a Rua Xavier de Toledo. Os produtos comercializados pelo Mappin eram muito bons, eu gostava muito. Eu ia muito ao Restaurante Itamarati, que existe desde 1940, fica na Rua José Bonifácio.
Como secretária a senhora fazia o serviço de rotina?
As vezes chegava um telegrama, conforme o lugar eu tinha que datilografar em 8 vias, 12 vias para entregar à todos os chefes. No caso de doze vias usavam-se onze carbonos! A máquina que eu utilizava era uma da marca Olivetti. Eu gostava do meu trabalho.
A senhora era boa datilógrafa?
Acho que era! Eles gostavam. Tinha feito o curso de datilografia em uma escola particular.
Quanto tempo a senhora permaneceu na empresa Anglo?
Acho que fiquei uns três anos. Comecei a trabalhar em uma empresa pequena, de lá fui para a Itaú, onde permaneci por um ano, sai e fui trabalhar no Anglo. Saí para casar, aos 23 anos.
Como a senhora conheceu seu futuro marido?
Eu tinha um primo que fazia ginástica na Associação de Cultura Física, ficava na Rua Augusta, quase esquina com a Rua Santo Antonio. Decidi também fazer. Eu tinha uma tia que também gostava de fazer ginástica. Antigamente era muito praticada a chamada Ginástica Sueca. Em competições nos encontrávamos grupos de moças e rapazes, vinham grupos do Rio de Janeiro. Não era a ginástica como é feita hoje, eu fazia todos os aparelhos da época: paralelas, trave, solo,cavalo, ginástica olímpica. Naquela época era uma atleta. Eu pesava 42 quilos. Foi lá que conheci o meu marido Henrique Gonçalves Pinto, ele tinha cinco anos a mais do que eu. Era contador-auditor. Tivemos três filhos: Roberto, Marta e Fábio. Permanecemos casados por quarenta e seis anos e meio, a 3 de agosto de 1999 ele faleceu.
Em qual igreja vocês casaram-se?
Casamos na Igreja da Consolação, no dia 16 de abril de 1953. Sempre tivemos um ótimo relacionamento, se um dos dois ia sair, saiamos juntos. Não havia essa história de se você não vai então eu vou sozinho. Íamos muito a bailes da Associação Cultura Física. Depois mudamos para Bebedouro.
O que os levou a mudar para Bebedouro?
Um amigo do meu marido tinha uma fazenda, eles foram criar frangos. Galinhas poedeiras e frangos de corte. Na época meu marido já estava cansado de ficar em São Paulo. Após um ano adquirimos uma propriedade rural, ele fez uma granja, e uma particularidade curiosa, pouco conhecida, o que mais vendia e dava mais lucro era o esterco das galinhas. Naquela época Bebedouro era muito forte na cultura de café, e o esterco era utilizado como adubo para o pé de café. Depois Bebedouro dedicou-se a cultura de laranja. Permanecemos em Bebedouro por uns quatro anos, eu sempre gostei de morar no interior em chácara, sítio, fazenda. Eu tinha dois cavalos, um era o Gaucho, um cavalo castanho escuro. Outro cavalo era meio marrom. Em função da família, com o objetivo de ficarmos mais próximos, viemos morar no Jardim da Glória, no Cambuci. Cerca de um ano depois, fomos para perto de Miracatu, nas proximidades de Registro. Praticamente a cultura praticada é de banana. Tudo que tinha que se fazer havia a necessidade de deslocar-se até Registro pela BR-116. Meu marido tinha bananal e ele quis colocar gado de leite. Na época do frio, a banana tem seu preço mais alto, só que tem pouca banana, ela demora para engordar. Quando a banana está bonita, o valor dela é muito baixo. Eu me desiludi completamente com a agricultura. Quando tínhamos a granja em Bebedouro meu marido plantou algodão. Deu um algodão maravilhoso. Quando chegou o atravessador, disse: “-Tem muito algodão por ai, dou tanto pelo algodão do senhor!”. Se o agricultor segurar o algodão perde peso, quem ganha é o atravessador. Quando morávamos em Miracatu não havia energia elétrica, meu marido adquiriu um rádio de pilha, um dia ouvimos Alziro Zarur transmitindo suas mensagens. Fomos a São Paulo e visitamos a Legião da Boa Vontade, a LBV. Conhecemos, conversamos, gostamos.
A senhora permaneceu por muito tempo em Miracatu?
Logo que as crianças passaram a freqüentar a escola mudamos para Peruíbe. Meu marido ia para o sítio e eu ficava em Peruíbe. O colegial eles tinham que estudar em Itanhaém. Uma perua da prefeitura levava e trazia. Em Peruíbe morávamos em um prédio bem na beira da praia. Um lugar bonito, gostoso. Gosto de Peruíbe até hoje. Nesse meio tempo, meu filho tinha se formado e trabalhava na Caterpillar em São Paulo. Quando a Caterpillar mudou-se para Piracicaba, meu filho veio para trabalhar na empresa. Foi quando eu conheci Piracicaba. Morávamos em Peruíbe, meu marido adoeceu, as consultas médicas eram feitas em Santos. Por insistência do meu filho que estava em Piracicaba, viemos para cá. Fomos atendidos por um médico de Piracicaba que constatou a gravidade da doença do meu marido e tomou as devidas providências. Com isso ele viveu mais uns cinco anos e pouco.
A senhora acompanha noticiários, vê televisão?
Acompanho, só deixo de acompanhar quando o tema passa a envolver violência, noticias que transmitem pessimismo, levanto, vou tomar uma água. De uma forma geral, se posso fazer determinada coisa eu faço. Tenho opinião própria formada.
Continua com a prática de esportes?
Faço ginástica aqui na quadra, a chinesa, e faço de alongamento com outra professora.
Algum hobby?
Gosto de ler.
A seu ver, as mudanças ocorridas no decorrer dos anos tornaram a vida melhor?
No aspecto de evolução tecnológica melhorou. Em contrapartida as relações humanas pioraram.
Atualmente a senhora reside sozinha há momentos em que a solidão se faz presente?
De uma forma geral não me sinto só, sinto sim que aos sábados a tarde há uma quietude, natural do próprio dia. Nessas horas recorro ao computador, onde tenho meu facebook, e-mail, faço minhas pesquisas no Google, e para me distrair também as vezes utilizo algum jogo como paciência e caça palavras.
Qual é a sugestão que a senhora dá para a pessoa ter a longevidade com  plena saúde física e raciocínio rápido que a senhora possui?


A meu ver a pessoa deve procurar ter atividade, para não ficar pensando de forma negativa. Uma das coisas importantes em nossa vida é não guardar ressentimentos Não limitar-se a ver televisão exclusivamente, buscar uma atividade manual, enfrentar novos desafios como por exemplo  aprender novos comandos de computador, o computador não cria dependência, é a cabeça da pessoa que determina o quanto ela deve permanecer em frente ao equipamento. Se a pessoa tiver condições de sair, deve passear. Mesmo que seja uma voltinha, conversa com alguém, jamais se isolar. Tenho cinco netas, um neto e uma bisneta de três anos.  Tenho três filhos maravilhosos, com famílias maravilhosas, mas julgo ser importante ter a minha vida própria, ter autonomia. Sinto permanentemente o carinho que meus filhos têm por mim e eles sabem o quanto amo a minha família. Há uma grande diferença entre vida própria e abandono. 

WALDIR ANTONIO JURGENSEN

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de dezembro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/



ENTREVISTADO:  WALDIR ANTONIO  JURGENSEN

Waldir Antonio Jurgensen nasceu a 26 de junho de 1953 na cidade de Americana, é filho de Waldemar Bernardo Jurgensen e Nair Roque Jurgensen que tiveram ainda os filhos Wagner e Waldemar. Seu pai foi industrial do ramo têxtil, da então Indústria Irmãos Jurgensen, atualmente tem a denominação de Indústria Têxtil Irmãos Jurgensen Ltda. Foi fundada em 1946. Seu pai tinha 21 anos, ele tinha um irmão mais velho Enzo Jurgensen. Foi a época em que a cidade de Americana recebeu todo apoio para que qualquer pessoa tivesse a chance de ser um pequeno empresário. Essas empresas começavam em fundos de quintais. Essa situação deve-se muito a colonização italiana e alemã que teve a cidade de Americana.

Qual é a origem do sobrenome Jurgensen?
Meu avô nasceu no Bairro dos Pires, em Limeira, o bisavô tinha vindo da Alemanha ou da Dinamarca, até hoje não sei. Fui diversas vezes no Bairro dos Pires, na entrada há um cemitério, um dia percorri todos os túmulos e contei 22 túmulos com o sobrenome Jurgensen. As datas giravam em torno de 1870, 1880. Imagino que vieram para a região antes da chegada dos italianos. (Eram alemães, contratados como parceiros na Fazenda Ibicaba, ainda em 1846 que pertencia ao senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro. Eles tocavam as roças bem antes da legião de italianos que tomou os cafezais paulistas nas décadas seguintes). É interessante observar que as primeiras levas de imigrantes alemães foram enviadas para o bairro rural de Parelheiros, em São Paulo, conforme descreve um jornalista que pesquisou o assunto. A segunda leva de imigrantes alemães parou em Vinhedo ou Valinhos. E a terceira no Bairro dos Pires.  Esses imigrantes tinham um bom domínio do cultivo, conseguiam produzir de forma satisfatória aos patrões. Uma característica muito particular, é que sabiam cuidar dos animais. Ninguém entendia melhor de cavalo e de cães do que os alemães. A minha avó materna era de Mantova, italiana, dizia que eles vinham para “Fazer a América”, não tinham noção de localização geográfica, os que aportaram na América do Norte, a noticia de que era um continente alastrou, só que muitos vieram para a América do Sul, pelo que imagino, não sabiam nem onde ficariam. Eram decisões políticas, o governo decidia. Os proprietários de terra tinham a propriedade de áreas inimagináveis. Nós a chamávamos de “Vó Eurides”, depois de muito tempo descobri que seu nome em italiano deveria ser Euridice. Seu marido, meu avô materno chamava-se Joaquim,de origem portuguesa. Também era agricultor, plantava café na região de Jaú. Veio a crise do café em 1929, alguém soube que haveria empregos nas tecelagens, primeiro veio o irmão mais velho da minha mãe, depois outro irmão, veio a minha mãe e meu avô após vender o sítio em Mineiros do Tietê.  Minha mãe era operaria, não concluiu o quarto ano primário. No tempo deles, quem residisse em Americana e quisesse ter um diploma tinha que estudar em Campinas. Tinha a enorme facilidade de pegar o trem da Companhia Paulista em Americana e em quarenta minutos chegar em Campinas. Muitos americanenses estudaram no Colégio São Luiz de Campinas. Formavam-se contadores, homens iam serem contadores. As mulheres iam ser professoras. Meu tio Enzo não quis estudar, meu pai foi. Minha tia Julia estudou no Colégio São José em Limeira. Como meu pai estudou,ele foi trabalhar na Nardini
Os norte-americanos, imigrantes, foram também importantes no desenvolvimento de Americana?
Sem dúvida, os sulistas norte-americanos vieram refugiados para cá, imigraram por questão política. Tinham tradição no cultivo do algodão e haviam perdido uma guerra interna, há uma curiosidade, eles ocuparam Americana, Santa Bárbara D`Oeste, Capivari, basicamente esse núcleo. Sob a minha ótica toda a região tem influência deles. Estamos falando por volta de 1870. Eles trouxeram a semente do algodão e ferramentas agrícolas como, por exemplo, o arado. Em 1860, a Guerra da Secessão nos Estados Unidos, paralisou em parte a exportação da fibra deste país à Europa. Este fato desencadeou um novo impulso algodoeiro no Brasil, que durou pouco mais de 10 anos. No Brasil se cultivava o algodão arbóreo, de ciclo perene. No século XIX, foi introduzido o algodão herbáceo, de ciclo anual e fibra curta. Imigrantes norte-americanos que se estabeleceram em Santa Bárbara, orientaram os agricultores brasileiros que não tinham experiência com a nova planta. Com isso ajudaram muito Americana, a primeira indústria metalúrgica em Americana, foi a Indústrias Nardini, fundada em 1908, fazia implementos agrícolas, quem falava em máquinas operatrizes? A fábrica da Nardini era atrás da Igreja Matriz de Santo Antonio, ocupava um quarteirão todo, os arados produzidos como não cabiam na fábrica, muitas vezes ficavam na calçada. Disso eu me lembro. Teve uma época em que eles passaram a fabricar teares, a vocação de Americana passou a ser a de ter muitas indústrias têxteis. Havia outras fábricas de teares como a Teares Andrighetti, a Rebelo a Alva. Eram excelentes máquinas na época. A Nardini passou a fazer teares, só que eles não evoluíram, o maquinário ficou obsoleto. Eles já estavam na área de máquinas operatrizes, torno, fresa, estavam começando a abrirem as escolas SENAI no Brasil e a indústria automobilística. Eles forneciam muito.
Você conheceu alguém da família Nardini?
Conheci o Sr. Afredo Nardini, que foi da segunda geração dos Nardini, até onde sei o fundador foi o Sr. Fortunato Nardini que teve vários filhos, o mais velho era Bruno Nardini, conforme a tradição italiana, o filho mais velho tinha que ser um padre, e foi o Monsenhor Bruno. Quem conduzia a empresa era o Seu Alfredo e o Seu Fortunato, irmão dele. O seu Alfredo viajava o Brasil inteiro vendendo as máquinas.
Americana já tinha a linha de trem?
Tinha, era da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, era uma linha eletrificada, um espetáculo. O Trem Azul que era o trem de luxo fazia toda a região de Araraquara, Alta Paulista, tinha outro ramal que ia até Jales, esse trem tinha vagão restaurante, dormitório, era o que a Europa tem hoje. Ele saia da Estação da Luz, passava em Jundiaí, Campinas onde tinha uma derivação para a Mogiana, depois seguia até a primeira parada grande que era em Rio Claro, onde passava por uma inspeção completa, nos compressores, material rodante, olhavam tudo. Lembro-me que de Itirapina saia um ramal que ia até Barretos, e outro que seguia em frente e passava por Brotas, Torrinha, Dois Córregos, Jaú, Bauru e ia embora. O Trem Azul era o chamado trem de luxo, os funcionários uniformizados, com gravata, quepe, muito formal. Assentos almofadados, Os passageiros também viajavam com roupas sociais, os homens usavam terno. Havia o carro de passageiros de primeira classe e de segunda classe, ambos almofadados, os carros de segunda classe tinham os bancos em um material semelhante ao plástico, mais simples. Os de primeira classe eram de tecido apropriado, lembrava muito banco de avião. Alguns horários, em algumas composições, havia o carro Pullman. Era uma composição de passageiros, com cinco a seis carros de segunda classe, três de primeira classe e um carro Pullman, nesse carro havia uma pequena mesa, em torno dela sentavam quatro pessoas, as cadeiras giravam, havia o vagão restaurante e algumas composições tinham o carro dormitório também. O restaurante não era com glamour, mas era feito com cuidados especiais. Havia o Trem de Aço, que era um trem marrom, feito com chapas pintadas de marrom. Havia os trens com vagões de madeira. Eram trens mais simples. Todos os carros possuiam lustres. Não havia banco rasgado, vidro quebrado. As peças eram todas em bronze.
O ensino primário você estudou em qual escola?
Estudei na escola mais tradicional de Americana: Grupo Escolar Dr. Heitor Penteado, onde atualmente funciona a Biblioteca Púbica Municipal. É onde faço trabalho voluntário mais de uma vez por semana estou lá. Subo as escadas e penso: aqui estudei o terceiro ano, aqui o primeiro. Onde fiz o Jardim de Infância não existe mais porque derrubaram. Ao lado existe até hoje a Igreja Matriz de Santo Antonio. Fui descobrir que o Apfelstrudel (folhado de maçã) era feito de maçã quando eu já tinha uns 15 anos. Isso porque naquele tempo onde morávamos não existia maçã. A minha avó fazia strudel de banana!
Você lembra-se da FIDAM ?
Lembro-me da 1ª. FIDAM. Em uma área total que estimo ser de uns 10.000 metros quadrados, no centro dessa área a igreja em formato de cruz estava em construção, ao lado existiam dois terrenos vazios, usado como canteiro de obras. Alguém teve a idéia de organizar a 1ª. FIDAM – Feira Industrial de Americana. Ela começou no salão sob a igreja, com espaços delimitados por divisórias de Duratex, e cada empresa ia lá e colocava o seu nome, as peças de tecidos dependuradas, nessa época já tínhamos a indústria, só que da primeira FIDAM não participamos.
Como foi o ingresso da família na produção têxtil?
No período pós-guerra existia uma empresa de origem norte americana, Tecelagem de Fitas Dr. Hans Schwartz, até hoje existe o prédio em Carioba. Meu tio Enzo começou trabalhando lá. Através do tio do meu tio Enzo ele passou a trabalhar em um quartinho, era muito comum na época, colocava-se dois teares e tinha-se uma tecelagem! Tio Enzo e papai tomaram gosto pela coisa, a fábrica começou em 1946, a primeira folha, do primeiro livro de empregados da Indústria Irmãos Jurgensen tem o Dr.Jessir Bianco foi o primeiro contra-mestre, em uma analogia a construção civil é o mestre de obras.
Que tipo de tecido era produzido nessa indústria?
O mais simples possível! Muito forro, muito algodãozinho que ia ganhar estampinha, desse algodãozinho fazia camisa, vestido, toalha. Um tear mecânico da época conseguia fabricar no máximo 800 metros por mês. Antigamente não se vendia um caminhão de tecido, vendia-se uma peça. Vender cortes era uma coisa habitual. Cresci com a minha mãe guardando em casa, pontinhas de peças, quando precisava de uma camisa levava na costureira e fazia com aquele corte. Ou então fazia em casa, a maioria sabia costurar em casa. Tecelagem, confecção e malharia são coisas distintas. Americana não tinha vocação para malharia, as confecções em grande parte concentravam-se no Bairro Bom Retiro, em São Paulo. A Rua 25 de Março em São Paulo era em sua maioria lojas de tecidos.
O seu pai estudava a noite em Campinas?
Ele estudava contabilidade a noite, em Campinas, voltava no trem que acho que chegava a meia noite em Americana, ele não tinha como abrir a fábrica de manhã. Quem abria a fábrica era o Dr. Jessir. Quando meu pai concluiu os três anos de Escola São Luiz, o Dr. Jessir prestou vestibular na primeira turma da PUC para Direito. Em 1952 Dr. Jessir e Diógenes Gobbo, juntos com o Mantovani, fundaram o jornal “O Liberal”. É até hoje o jornal mais importante da cidade. De contramestre o Dr. Jessire passou a ser o advogado da empresa. Os acertos de demissão de empregado eram acertados no escritório. Tinha que haver um motivo muito forte pêra o funcionário sair da empresa. Era uma relação muito equilibrada entre a empresa e o funcionário. Americana prosperou muito, todo mundo ganhou dinheiro. Ruas asfaltadas com toda infra-estrutura. Para instalar uma empresa, entrava na prefeitura com um papel e saia com a empresa autorizada a funcionar. Meu pai começou a construir um prédio, onde hoje funciona uma delegacia de policia, na região central, na Rua Dr. Candido Cruz, eu morava com a minha avó, meu pai não tinha casa para morar. Ele construiu o prédio da fábrica para poder por os teares. Meu pai construiu a cozinha, o quartinho, do lado do escritório, no meio da fábrica, para você sair do escritório e ir para a sala de panos passava pelo meio da casa. Vendedores, clientes que vinham de fora, almoçavam em casa. Não sei como a minha mãe fazia ela tinha que se virar. Minha mãe era operária. Ela começou a trabalhar na tecelagem, foi a sorte do meu pai. Ela aprendeu a ser urditriz, que fazia os rolos de urdume, A máquina que realiza esse processo chama-se urdideira. Urdume são os fios no comprimento do tecido. Um grande carretel, até hoje chamados de rolos. Com diversos comprimentos: 500, 600, 1000 metros. A trama é feita com os fios da largura, que é feita com a lançadeira.
Você tem em sua casa muitas peças feitas com tecidos  fabricadas pela sua empresa, qual é a sensação de estar utilizando algo feito por você desde o inicio?
Eu sou também Técnico Têxtil formado pelo SENAI juntamente com a minha esposa Valdeci Borsato Jurgensen, o pai dela trabalhou na empresa Dierberger no setor de frutas do Mercado Municipal de São Paulo. O meu sogro veio para Limeira com a função de construir um viveiro de mudas para o Dierberger, a Fazenda Moinho Azul era de propriedade de um senhor chamado Fisher, cliente do Dierberger, um dia ele convidou o meu sogro para tomar conta da sua fazenda. A distância da fazenda até Americana era de 12 quilômetros, estudamos Valdeci e eu, na mesma escola, Instituto de Educação Presidente Kennedy, a Valdeci formou-se e passou a trabalhar na própria escola como professora. O meu sogro permaneceu na fazenda, mas não por muito tempo. Veio uma pessoa chamada Dr. Waldemar Clemente com sua esposa Lita Clemente. O Waldemar juntou com a Lita e constituíram a Walita. O Dr. Waldemar era filho de um fazendeiro de Monte Mor, ele estudou engenharia no Mackenzie em São Paulo e especialização na Alemanha, onde conheceu Dona Lita, casaram-se e vieram para o Brasil. Na época todo industrial tinha que ter uma fazenda, ele adquiriu a fazenda do Fischer, uma área de 540 alqueires as margens da Rodovia Anhanguera.  A Walita começou na Vila Mariana, em São Paulo, conheci pessoas que trabalharam lá. O Dr. Waldemar criou dentro da Walita uma divisão fabricando alternadores de carros, a Wapsa. O crescimento da Wapsa incomodou a Bosch, que adquiriu a Wapsa.
Voltando para a tecelagem Indústria Irmãos Jurgensen, qual foi a próxima etapa?
Meu pai foi àquela pessoa que gostava de aproveitar todos os cursos que surgiam, logo depois que ele formou-se em Campinas, em Americana surgiu a primeira escola para formar professores, a Escola Normal. Quem veio para dirigir a escola foi a  Professora Aparecida Paioli. Era uma senhora solteira, advogada, que sabia dirigir uma escola como ninguém. Ele formou-se na primeira turma, como professor, lecionou por um período como professor do Estado.
Como era a fábrica?
Ainda criança eu andava pela fábrica toda, mexia na espuladeira, fazia os tubetes de trama, espula é o tubete com fio.
Quantos cones cabem em um tear?
Depende do tamanho da gaiola da urdideira. Gaiola é uma armação de ferro com pinos, tinha uma metalúrgica,a Denadai, que construía, faziam de tudo, vários equipamentos de teares, tudo era feito em Americana. O cliente encomendava: “- Preciso de uma gaiola com 800 fusos”. Fusos são os pinos onde são colocados os cones com a linha para ser tecida.
Os motores funcionavam com energia elétrica?
A transmissão era feita por um sistema de correias, a energia elétrica tinha a vontade em Americana, já havia a Usina do Salto Grande. Foi um período em que tudo favoreceu, os tecidos eram despachados pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro. A primeira transportadora rodoviária “Americana” começou com um caminhãozinho.
A AVA já existia?
A AVA- Auto Viação Americana era um modelo de transporte urbano. A linha mais longa dela era Campinas, Santa Bárbara D`Oeste, Piracicaba. Era uma epopéia sair de Campinas e vir até Piracicaba. A AVA foi incorporada pela Viação Piracicabana. Estudei na Escola de Engenharia de Piracicaba, onde me formei, vinha pela AVA, descia em frente a ESALQ, ali conseguia uma carona até a Escola de Engenharia. Isso no tempo da “Estrada Velha”, vinha por Tupy, Caiuby, a SP-304 não estava pronta ainda. De Americana à Piracicaba era uma hora de viagem.
Em que ano você entrou para a Escola de Engenharia de Piracicaba?
Fiz ginásio e colégio do Estado em Americana, depois um ano de cursinho no Anglo Latino em São Paulo, situado a Rua Tamandaré. Fui para São Paulo com 17 anos, pelo fato de ter jogado basquete pelo Rio Branco e praticado natação para o mesmo, já tinha a carteira de identidade..

Waldir você foi fazer o curso preparatório no Anglo Latino, em São Paulo, para ingressar na Escola de Engenharia.
Fui fazer a matrícula no cursinho, situado a Rua Tamandaré, com meu tio Enzo e minha mãe, fomos de Kombi, ele ia fazer uma entrega em São Paulo. O terceiro ano do Curso Científico fiz no Colégio Metodista de São Paulo, na Liberdade, a entrada era pela Rua Fagundes. O meu pai tinha uma tia, Corina Durante, que morava na Rua Barão de Iguape, juntamente com uma filha e um filho, o Roberto, com quem passei a dividir o quarto. Posso afirmar que a tia Corina foi a minha mãe por um ano. Ia a pé para o cursinho, as aulas começam às sete horas da manhã, quando fechavam o portão, eu andava um pouquinho mais de meia hora até chegar. As aulas do cursinho terminavam, a uma hora da tarde chegava em casa e passava a tarde estudando. Os exames simulados eram domingo pela manhã, só restava o domingo a tarde para descansar. Vinha à Piracicaba uma ou duas vezes ao mês. Isso era no tempo do MAPOFEI - foi um vestibular criado em 1969 para a área de Exatas nas universidades Instituto Mauá de Tecnologia (MA), Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (PO) e Faculdade de Engenharia Industrial (FEI). Ao fazer o vestibular tinha que colocar a ordem da escola que você queria. Entrei em Barretos, onde morei por dois anos, fiz o Tiro de Guerra lá, morava em república. O Tiro de Guerra ficava ao lado da faculdade. Às cinco horas da manhã estava no Tiro de Guerra, recebia as instruções, voltava para casa, trocava a farda e ia para a faculdade. Estava no segundo ano da faculdade, insatisfeito, pela distância, eram 300 quilômetros, eu desconhecia a existência de uma faculdade de engenharia em Piracicaba, encontrei um amigo, o Marton, que disse estar estudando na Escola de Engenharia de Piracicaba. Um dos professores que dava aula em Barretos, também lecionava em Piracicaba, o professor de Calculo I, Justino Castilho.  Fui falar com o secretário da escola, Luiz Romanelli. O Professor Justino morava em Limeira, meu pai conseguiu entrar em contato com ele. O Professor Justino de uma atenção muito grande. Coincidiu de no próximo sábado haver uma prova de seleção para alunos que desejavam a transferência. A prova foi aplicada pelo Professor Sady Previtalli, em um sábado a tarde, no período de férias escolares. Deu uma questão só, teve gente que pegou, olhou, devolveu. Fiquei lá, acredito que fui o último a entregar. No dia marcado, fui até a secretaria o Luiz Romanelli mandou trazer uma relação de documentos. Fui buscar a documentação em Barretos. A primeira aula de estatística que fui assistir na Escola de Engenharia de Piracicaba já era prova, o tramite dos documentos me impediram de ingressar antes. Tinha perdido três semanas de aulas. Em 1977 me formei em engenharia civil.
Você teve aula com o professor João Chaddad?
Tive. Na época ele estava construindo o Edifício Orsini. Ele construiu 18 edifícios em Piracicaba. Vivi três anos para a escola, não fiz outra coisa a não ser estudar.
Depois de formado você foi trabalhar em qual empresa?
Fiz algumas prospecções e acabei indo para o Rio de Janeiro. Em uma das maiores construtoras do país recebi a proposta para ir trabalhar em Tucurui, no Pará. Na época era uma localização inóspita. Sei que mandei muitos currículos, montei meu escritório, fazia pequenos projetos, acompanhava obras. Tinha outros dois sócios. Um deles prestou concurso e entrou em uma autarquia. Outro sócio decidiu ir acompanhar a empresa que a família tinha em outro ramo. A essa altura, meu tio Enzo já tinha se aposentado, meu pai ainda não. Foi quando fui convidado por ele para ir trabalhar na fábrica de tecidos. Quando percebi já estava envolvido no processo. Meu tio Enzo e meu pai fizeram um acerto financeiro, e a fábrica passou a ser propriedade do meu pai. Foi um período bom, final dos anos 70, começo dos anos 80, Americana estava muito bem. A nossa situação era difícil, isso porque não éramos pequenos, em contrapartida havia as grandes indústrias, a melhor época para a tecelagem em Americana foi em 1985, época em que o Sarney era o Presidente da República. Ele criou uma coisa na economia, que até hoje ninguém sabe o que aconteceu, a prefeitura de Americana tinha dinheiro sobrando, contratou a empresa Camargo Correia para fazer um canal no centro da cidade, foi construída a Rodoviária, o Teatro Municipal. Lembro-me que o Mario, nosso contador, no inicio do ano seguinte disse: “Waldir ! Esse foi o ano em que vocês mais pagaram imposto!”. Todo mundo ganhava dinheiro, você via o empregado contente, o contramestre nosso, que era a pessoa que tocava a fábrica, compramos uma casa em frente a fábrica e demos para ele morar, para não ter nem a preocupação de vir para a fábrica.
Vocês tinham clientes no Brasil todo?
Tínhamos. Quando alguém ia começar uma tecelagem, fazia o pano mais simples que existia que era o forro. Os famosos “forros de manga”, feitos com fio de acetato, a pessoa enfia o braço ele desliza; O meu pai passou a fazer forros para alfaiataria, os vestidos eram forrados, tudo era forrado. Em todas as indústrias sobravam restos de fios, eram juntados e vendidos como sucata, meu pai descobriu que se criasse uma linha inferior de forro com os restos dos fios, dava para vender forros para funerárias, não tinha quem quisesse fazer isso, meu pai com restos de fio ia fazendo, as funerárias do Brasil inteiro compravam. Uma, duas, pecinhas, mandávamos. Da Du Pont nós só comprávamos um tipo de fio chamado nylon cordura. Era um fio grosso, da chamada linha industrial, essa foi a linha mais evoluída que nós tivemos em termos de tecnologia. Tecido industrial vai na lona de pneus, lona de correia, tênis, mochilas. Vendemos muito para a MAGGION PNEUS e CORREIAS. A CINASA usava também para impermeabilização de viga-calha, tínhamos que cortar tudo em rolos estreitinhos para mandar para eles. A Correias Universal de Várzea Paulista comprou muito conosco. Houve um período em que fornecemos muito para Franca, para sapatos de lona. O grosso dessa linha industrial era para Curitiba e Rio Grande do Sul. Você não imagina a quantidade de fábrica de malas que havia em Curitiba. Americana era sinônimo de prosperidade, não pelos metros que eram feitos, mas sim pelo quanto de estoque existia, Isso em todos os segmentos, havia uma marcenaria pequena, mas o estoque de madeira que ela possuía era imenso.
Vocês só tinham a tecelagem?
Basicamente sim, tínhamos algumas máquinas para fazer preparação com fios, não tínhamos a parte de tingimento e estamparia. O nosso sonho era ter uma tinturaria. As vezes colocávamos um tecido em uma tinturaria ficava dois meses para ser tingido. Imagine o estoque que você tinha que ter. Era antieconômico. Não existe teoria de economia que explique ficar com um giro desse parado. Além disso, a anilina utilizada, conforme a qualidade influencia na qualidade do tecido, quando ele chega da tinturaria é praticamente impossível saber qual a qualidade da anilina utilizada, só com o uso é que o consumidor ficará sabendo. As ramas eram todas iguais, a água, fixadores, muitas vezes pagava-se por um serviço que não havia certeza da qualidade. Decidimos montar uma tinturaria, Fiz o projeto, com todas as especificações técnicas. A prefeitura não aprovou. Americana não tinha mais condições de oferecer água para novas indústrias. Quando aconteceu esse fato fui até a Associação das Indústrias, por um período de tempo ela tinha cotas de água destinadas à industria, na época não adquirimos nenhuma, não pensávamos ainda em colocar a tinturaria. As cotas tinham acabado apenas o prefeito poderia liberar. Fomos falar com o prefeito, um médico, Dr. Waldemar Tebaldi, tinha aversão a empresários, ele que expandiu a parte iurbana de Americana, até ele entrar não se construia em terreno com cinco metros de frente, Dr. Tebaldi liberou a construção em terrenos de cinco metros de frente. Acabou todo urbanismo da cidade. A partir do memomento que ele liberou os terrenos as ruas passaram a ter 12 metros e não mais 14 metros, esses bairros não tem qualidade de vida. O morador faz a garagem, as guias são todas rebaixadas, se você chegar de carro vai parar aonde? Se tiver um evento, um aniversário como é que faz?Vai parar aonde? Há bairros inteiros assim. Fui contra isso. Diseram-me que na Europa tem. Só que a realidade é outra. Americana não precisava disso. Imagine a rede de água para atender aquela quantidade de casas? O sonho dele era fazer um hospital. De fato existe um hospital que leva o nome dele, só que hoje vejo que é uma das razões que afundou Americana, não tem orçamento que consegue bancar um hospital. O diretor clinico do hospital era o Dr. Helio, que foi prefeito de Campinas. O sonho do Dr. Tebaldi era fazer um hospital para atender gratuitamente. Infelizmente perderam o controle, o hospital passou a atender pacientes de cidades vizinhas, e Americana arcando com os custos. Na minha visão hospital tem que estar sob a responsabilidade do Estado ou da União.
E vocês como resolveram o problema da água?
Adquirimos um terreno no municipio vizinho de Nova Odessa, ao lado da represa, com água a vontade. A tinturaria foi para lá. A Toyobo de Americana fazia o melhor fio de algodão do mundo. Era a perfeição. Não sobrava, era muito dificil conseguir uma cota para comprar deles, exportavam tudo. A Toyobo começou com a fiação, depois no Alto de São Domingos montou uma tecelagem grande, alta produção. Ao lado da tecelagem montaram uma confecção a Grand Smash, o resto de algodão, o que sobrava eles montaram uma fábrica de meias, faziam nylon, como nós fazíamos, faziam malharia, tudo que era da área espoprtiva.
Existe ainda a Toyobo?
Infelizmente fiquei sabendo que a empresa está fechando, foi no dia em o nosso presidente estava no Japão convidando as empresas japonesas a investirem no Brasil. A fibra acabou, a Polienka multinacional holandesa acabou, faliu.
Voce ainda mantém a empresa?
Não, fui sócio com os meus irmãos por 16 a 17 anos, de 1978 até o dia do Plano Real, em 1994. Nesse dia comecei a minha empresa, parei  agora em 2011. Esperei o ultimo empregado conseguir um emprego.
Como a música entrou em sua vida?
Meu pai na sua juventude tocou na primeira orquestra que teve em Americana. O Colégio Piracicabano tinha um orfeão o regente chamava-se Germano Benencase. Italiano, nascido a Vietri-sul Mare a 9 de abril de 1897, morava em Americana e era sogro do meu tio Enzo. Lembro-me até hoje quando Villa Lobos esteve no Colégio Piracicabano. O maestro Benencase era compositor, professor de violino, regente auto didata. Fez músicas conhecidas, editadas. Não tinha ainda  a Escola de Música  Piracicaba. O Maestro Benencase dava aulas também no Educandário Divino Salvador de Americana. Era um professor de música que ensinava solfejo, canto e instrumento. Meu pai tinha aulas de violino com ele. O filho dele era violinista e regente, montou uma orquestra em Americana, meu pai tocou nessa orquestra. Que eu sei foi a primeira orquestra de Americana: “Orquestra de Cordas de Americana” tenho as partituras guardadas até hoje.
Você perguntou como eu entrei na música
O violino ficava em cima do guarda-roupa em casa, eu nem me atrevia a chegar perto dele porque tocar violino era coisa de gênio. O maestro italiano, o músico italiano, só ele tinha o conhecimento, não podia se falar em frente a ele. Música era Verdi ! No máximo um Villa Lobos! O clima era esse. Eu estudava piano, nunca toquei nada para ele. Não me atrevia a chegar lá e tocar.
Quem dava aulas de piano para você?
As professoras da cidade, entre elas Elisete de Camargo Neves. Comecei a tocar com cinco a seis anos, entrei no Jardim da Infancia não sabia escrever o nome mas já tinha o caderninho de música. Era moda: toda casa tinha um piano!  Mulheres praticamente só tocavam piano. Não eram vistas com bons olhos as que tocavam violão. Violino não era um instrumento, era um troféu! Eu fiz uns 4 ou 5 anos de piano, eu sabia ler do meu jeito: clave de sol; clave de fá; tirava a música mas demorava. O Jardim da Infancia era uma coisa em que contava-se uma historia para o aluno desenvolver, não ia direto na fórmula, na lousa. As aulas de piano eram assim. A Elisete puxava a partitura e mandava tocar essa frase. A segunda vez eu não olhava a partitura isso é aprender a tocar de ouvido. É valido? Sim!O compositor parte dai para escrever. Resultado: anos 60, você ligava unm rádio, ouvia Jovem Guarda.
E Bossa Nova?
Lembro-me de que as primeiras coisas que ouvi de Bossa Nova questionei-me: “-Espere um pouco. Essa música é diferente!”. Lembro-me da primeira vez que ouvi “Garota de Ipanema”. Eu era garoto, sentava ao piano e tocava.  Ouvia-se muito rádio. Em Americana só tinha uma: Rádio Clube de Americana,AM, o gerente era Geraldo Pianhanelli, a rádio era dos irmãos Duarte. Saiu um disco dos Beatles, alguém tinha, nós não tinhamos dinheiro para comprar, eu estava em uma calçada de um barzinho, conversando, quando chegou de São Paulo o Castro dizendo: “-Gente, olha o que eu comprei!”. Era um disco de vinil, compacto, não me lembro se era uma ou duas musicas de cada lado do disco do Sgt. Pepper's. Beatles. não tocava na rádio, demorava para chegar. Iamos a casa de algum colega para escutar. Fazíamos a festinha americana, cada um levava um prato com alguma coisa, colocavamos a música tocando e nos reuniamos, garotos e garotas. Toda casa tinha piano, nas festas de aniversário, sobrava para mim a tarefa de tocar. Foi inaugurada a piscina, a quadra de futebol de salão, a quadra de basquete, a quadra de hoquei,  do Clube Rio Branco, na decada de 60, e tinha o Salão de Baile que todos os sábados tinha soirée, com 14 anos podia ir. O Clube Rio Branco fez o maior sucesso, pegou uma diretoria espetacular. Com o ginásio do Rio Branco , larguei o piano, minha mãe não gostou quando troquei o piano pelo esporte. Passava o dia inteiro no Rio Branco. O Ginásio Estadual Presidente Kennedy ficava ao lado do Clube Rio Branco, a tarde quando terminava as aulas ia pegar uma piscina. Naquela época quem estudava no Kennedy usava paletó e gravata, trocava de roupa, punha o “calção” saia da piscina, colocava o uniforme de novo e ia embora. Foram anos assim. A parte de esportes do Rio Branco desenvolveu-se muito,  Americana teve um time de Hoquei de Patins que era excelente, vinha a Portuguesa de Desportes jogar em Americana.
O hoquei é um esporte de elite?
O equipamento era caro. É um esporte violento porém bonito de se ver.
Como você tornou-se um violinista?
Um dia eu estava na fábrica, apareceu uma pessoa o Sr.Agostinho Campaner Paparotti, eu o conhecia, ele tinha uma marcenaria, queria falar com o meu pai. Eu ouvi de longe os dois conversarem, o Agostinho dizendo ao meu pai “- Porque você não volta?” Passaram-se uns dias, tocou o telefone novamente, a fábrica tinha só um telefone, o número era 1871, ficava na minha mesa, não tinha ramal. Era o Seu Agostinho procurando pelo meu pai. Meu pai não gostava de dirigir, ele disse-me: “- Você precisa me levar na marcenaria do Agostinho”. Quando cheguei encontrei um local com um grande número de peças de violino, arco de violino, violoncelo,tinha até uma harpa. O homem era um luthier! Do outro lado havia uma banca com um senhor italiano, já idoso, trabalhando, escavando as madeiras. O Seu Agostinho era um músico amador, que nunca tinha abandonado a profissão. Era um músico amador que depois passou a ser profissional integrante da Orquestra Sinfonica de Americana, tocava junto com o musico de renome internacional, Paulo Celso Guimarães de Souza. Eu freqüentava os concertos, gostava muito de ir também para os concertos da Orquestra Sinfônica de Campinas.
O seu pai teve uma atuação marcante junto a comunidade em Americana?
Ele trabalhou por mais de 30 anos para a Igreja Santo Antonio, era da comissão das festas do mês de junho, a Igreja Católica fundou uma orquestra em uma creche em Americana, a “Creche Irmã Doracina Saraiva”.
Como era o Seu Agostinho?
Era muito hospitaleiro, tinha tempo para tudo, dizia: “- Venha aí na hora em que você quiser!”. Lembro-me que voltei um dia, ele tinha umas ferramentas que eu nunca tinha visto na vida, goivas, entalhamento de madeira, consertava uma harpa, aqueles chaveamentos, aquilo encanta. Um sábado fui até lá, Seu Agostinho disse-me que estava cansado de convidar o meu pai para voltar a tocar, perguntou-me se eu não tocava nenhum instrumento, disse-lhe que tocava piano. Ele disse-me: “Vem ai! Eu te ensino alguma coisa de violino!” Resultado: comecei a fazer aulas com ele, do zero! O tempinho que sobrava aos sábados, lá pelas três horas da tarde eu ia para lá. Um sábado o Agostinho disse-me: “-Waldir! Eu preciso ir para Salto tocar! Vai ter um concerto! Você quer ir comigo?” Ele não falou com todas as letras, mas era para que eu fosse dirigindo o automóvel. Teve um domingo que ele me disse: “- Waldir, eu preciso ir para São Paulo, preciso fazer aula com Altea Alimonda”. Uma noite Seu Agostinho disse-me: “ Esta começando uma orquestra em Piracicaba, você não quer me levar?”. Viemos, foi na casa do Seu Waldir Belluco, estava presente Justo Moretti Filho. Foi ele quem nos orientou em um episódio em que a carteira do CREA veio incompleta, Ele era professor da ESALQ e Conselheiro do CREA. Ele me convidou para participar da orquestra. Lembro-me da primeira vez em que pisei em um palco, no Teatro Dr.. Losso Netto. Eu pisei no palco tremendo. Tudo é experiência na vida.  Seu Justo Moretti me incentivou a ter aulas com o Seu Waldir Belluco. Fiz aulas com ele por seis ou sete anos, tivemos um regente que um dia disse: “-O Lar dos Velhinhos vai fazer 95 anos, vou levar o coral para lá e preciso levar a orquestra também”. Domingo de manhã, quando entrei, vi aquela igreja, o lago, pensei: “-Mas que lugar!” Piracicaba tem um lugar desses!”. Depois de um mês meu sogro estava morando no Lar dos Velhinhos  de Piracicaba. Ele saiu bem mal de Americana, a Irmã Hilda que cuidava dele, ela não é uma Irmã, é uma Santa. Ele sarou, tivemos que comprar roupas novas, ele engordou, nada mais servia. Passou a ter qualidade de vida, andava para todos os lugares. Cheguei um dia no Lar, perguntei pelo meu sogro: “ Cadê Seu Alcides?”.Responderam-me que ele tinha saído. Retruquei: “ –Mas não está autorizada a saída dele sozinho!” . A pessoa  disse-me: “ Ele saiu com o Dr. Jairo Ribeiro de Mattos!” então presidente do Lar dos Velhinhos.  Dali a pouco apareceram os dois, Dr. Jairo descobriu que ele tinha trabalhado a vida toda na Fazenda Dierberger, ficaram grandes amigos.



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