sexta-feira, novembro 10, 2017

ELZA DE CAMARGO EVANGELISTA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado 11 de novembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADA:ELZA DE CAMARGO EVANGELISTA


 

Elza de Camargo Evangelista, corpo ereto, varria a entrada da sua casa. As folhas e pequenos frutos estavam espalhados pelo caminho, diariamente esse é um dos seus afazeres. Ao me apresentar, disse-lhe o motivo da minha visita, uma entrevista para A Tribuna Piracicabana. De forma gentil, mas firme, disse-me que se considerava uma pessoa comum, não sabia como poderia contribuir, mas de forma hospitaleira convidou-me para entrar. Os seus 79 anos de existência pareciam constar apenas no calendário, tal a sua disposição.

A senhora nasceu em que cidade?

Nasci em Capivari, meu pai com a nossa família veio morar no Retiro, uma vilinha afastada, dentro do bairro Monte Alegre, época em que tinha outro lugar bem retirado conhecido por Viúva. Nasci a 23 de maio de 1938. Fiz o primeiro grau no Grupo Escolar Marquês de Monte Alegre. Sou filha de José de Camargo e Cecília Ricardo de Camargo. Tiverem treze filhos, sendo que três meninas faleceram com pouco tempo de vida. Os filhos que sobreviveram foram dez: Francisco, Manoel, Valdemar, Elza, Odete, Benedito, Maria Helena, Ana, Neusa Maria e Aparecida.

Com quantos anos a senhora foi morar no Monte Alegre?

Eu era bem pequena, naquela época comentavam que o Monte Alegre iria ser continuidade da cidade de Piracicaba. Não havia televisão, o meu pai tinha um rádio, no porta rádio fixado na parede, minha mãe dizia “venha escolher o feijão para mim” minha irmã e eu estávamos mexendo no rádio, disse:lhe “Dete, venha me ajudar a escolher feijão”, puxei-a com rádio e tudo. O rádio caiu no chão. Já imaginamos que quando meu pai chegasse do serviço iria bater em nós. Meu pai não bateu, pegou o rádio do chão, ele só tinha esfolado, era uma madeira tão boa que não quebrou. Colocou no lugar, ligou e funcionou!

Com que idade a senhora começou a trabalhar?

Aos catorze anos comecei a trabalhar na fábrica de papel da Usina Monte Alegre. Trabalhava na escolha, ia até a pilha de papel, uma pessoa ficava separando em  pilhas menores de papel, chamada de resma (500 folhas de papel) , separava, lembro-me de que tinha um banquinho para subir e alcançar o papel. Fazíamos os leques de papel sobre a mesa e escolhia. Verificava se havia alguma imperfeição, era o que denominamos hoje de controle de qualidade. O papel era branco, uma quantidade grande, era feita a exportação desse papel. O papel era produzido do bagaço da cana-de-açúcar.

A que horas era o inicio do trabalho?

Entrava às sete horas da manhã, parava para o almoço, alguém da família levava a marmita. Se fosse almoçar em casa tinha que caminhar pela estrada, e era um bom percurso. Permaneci uns três anos trabalhando na fábrica de papel.

Após sair desse trabalho, qual foi o próximo?

Vim para Piracicaba para ser empregada doméstica. Trabalhei na casa do Professor Alfredo Lineu Cardoso, pai do médico Dr. Lineu Antonio Cardoso. O profesor morava com a sua família a Rua Joaquim Andrè esquina com a Rua Boa Morte. A esposa dele é Dona Marina Capelato Cardoso. No período em que trabalhei lá eles tinham dois filhos: o Irineuzinho e o Augusto. O sobradinho onde eles moravam existe até hoje, eu sempre passo por lá. Trabalhei também na casa do Sr. Benedito Duarte Novaes. Ele trabalhava com pneus, a casa dele era anexa a sua empresa. Naquele tempo as ruas em sua maioria eram calçadas com paralelepípedo.

Era muito comum as casas terem um bom quintal naquela época.

Tinha, havia muitas frutas. A carência maior era de um bom banheiro. Eram raras as casas que tinham banheiro interno, eram em sua maioria no quintal, onde havia uma fossa séptica. Banho era de bacia! Como tudo mudou, hoje meu chuveiro é dos modelos mais modernos, uma ducha grande, Aqueles banhos de bacia eram um terror, uma vida muito difícil. Tempo do sabonete Eucalol. A roupa era lavada no tanque, a mão, esfregava sabão peça por peça, sabão Minerva, sabão Campeiro, “Sabão Rinso Lava Mais Branco”, vassoura de palha, escovão para passar no assoalho após ter encerado. Lenbro-me da Etubaina, Gengibirra,  Existiam umas enceradeirs que trepidavam, pareciam britadeiras. Naquele tempo trabalhava-se aos sábados também.

A senhora no período em que morava no Monte Alegre plantou cana-de-açucar?

Plantei, cortei. Naquela época já queimavam a cana. Havia o campeonato para disputar quem era o melhor cortador de cana-de-açúcar, quando eu era pequenina sempre havia os piqueniques no campinho de futebol. O meu pai nunca deixou eu ir, Fui bem pouco na Teixeirada, era um evento que tinha brinquedos para as crianças, havia uma escada que ia até a beira do Rio Piracicaba, Muitas pessoas andavam de barco.

No Monte Alegre havia os bailinhos também?

Havia o Salão de Bailes, próximo ao cinema, Algumas vezes fui às matinês dos domingo no cinema. Baile, carnaval meu pai não deixava irmos.

Havia missa toda semana?

Todos os domingos havia missa na Capela São Pedro que tem em suas paredes afrescos do pintor Alfredo Volpi.

A senhora casou-se?

Casei-me com Hélio Evangelista. Ele foi motorista de taxi em Piracicaba por 17 anos. Começou a trabalhar no centro, no final ele era taxista no ponto da Churrascaria Beira Rio. Ainda tem dois amigos dele que trabalham lá. Já são aposentados, mas continuam trabalhando.

Como a senhora vê essa nova tecnologia que está presente na vida de muitas pessoas?

Acho ótimo! Uso WhatsApp, tenho Facebook, Instagram, Messenger, não podemos ficar para trás!

Como a senhora aprendeu a trabalhar com essas ferramentas tecnológicas?

Tenho um sobrinho que me ensinou bastante coisa, mas tive que aprender muita coisa sozinha. Fui pesquisando por mim mesma, aprendi muita coisa.

O computador é uma janela para o mundo?

Sem dúvida!

A senhora tem excelente saúde física e mental, qual é o segredo para tanta saúde e disposição?

Não sei explicar. A minha infência, adolelescência foi muito difícil. Acredito que para superar muitas dificuldades que encontrei na vida foi só pela fé em Deus. No ano de 1980, fui até a Unicamp, tinham aberto inscrições para prestar um concurso. Eu já estava casada, meu marido nem queria que eu fosse, mas fiz o concurso. Passei. Fui chamada em 1984. Fui trabalhar em Campinas, no restaurante da Unicamp. Meu marido ficou em Piracicaba, trabalhando com o taxi, eu trabalhava a semana toda em Campinas, morava com a minha irmã, aos finais de semana vinha para Piracicaba, segunda feira cedinho meu marido me levava até Campinas para trabalhar. Teve um concurso para motorista da Unicamp. Meu marido fez o concurso e passou. Foi trabalhar lá. Por 10 anos ele trabalhou em Campinas. Vinhamos para Piracicaba, a nossa casa era aqui, as crianças das primeiras nupcias do Hélio, estavam aqui, sempre os considerei como filhos. Por 13 anos trabalhei no restaurante, dia 5 de novembro fez 20 anos que me aposentei.

No restaurante a senhora atendia a alunos, professores, funcionários?

Todos que frequentavam o restaurante da Unicamp passavam por ali. A Unicamp é uma cidade! Foi uma vitória! Meu marido vendeu o ponto de taxi que ele tinha em Piracicaba, por uns tempos ficou com o automóvel Corcel. Meu marido era muito querido na Unicamp. Há quem diga que tivemos sorte, mas também lutamos muito para vencer.

Qual era o prato preferido no restaurante da Unicamp?

Era quando tinha feijoada!

A senhora frequentava os cinemas de Piracicaba?

Frequenva o Politeama, Broadway, Colonial, São José. Hoje só temos cinemas no Shopping!

Existe uma cidade que conserva orgulhosamente como um monumento o seu tradicional cinema!

É o Cine Vera Cruz de Capivari! E funciona regularmente! Uma maravilha que preservaram! Quando viemos para Piracicaba o bairro Monte Alegre era circundado por mato. Na decada de 70 meu pai mudou-se para Piracicaba, foi morar no bairro Morumbi, também era mato. Para vir do Monte Alegre para a “cidade” de Piracicaba utilizavamos a estrada do Campo de Aviação, estrada de terra, vinhamos com a jardineira, enchia de poeira dentro dela. Hoje sinto-me milionária, porque tenho paz. Deito e durmo.

Ha quanto tempo a senhora reside no Lar dos Velhinhos?

Mudei qui em dezembro de 2013. Antes eu morava em um edifício a Rua Moraes Barros. Meu marido faleceu em 2008. Um dia vi Dr. Jairo Ribeiro de Mattos no centro, ele é muito conhecido na cidade, eu o conhecia, chamei: “-Seu Jairo!”. Ele virou na minha direção e perguntou-me se o conhecia. Disse-lhe: “Seu Jairo, quem não conhece o senhor nessa cidade?”. Disse-lhe que gostaria muito de morar no Lar dos Velhinhos. Expliquei-lhe minha condição, disse-lhe que não queria morar em outro lugar que não fosse o Lar dos Velhinhos. Ele anotou meus dados e disse-me: “-Em menos de 10 dias a senhora irá receber um chamado do Serviço Social do Lar”. Uma semana depois recebi uma ligação da Assistente Social. E pronto deu certo!

A senhora gosta de televisão?

Gosto ! Novela da Globo eu não assisto! Não gosto da Globo! Não vejo nada que tem na Rede Globo! Não dá para ver, é só mau exemplo, para os jovens isso é terrível! Mexe com a família, leva a discórdia entre casais. O canal da minha preferência é o SBT. Eu assisto as novelas escritas pela esposa do Silvio Santos. São novelas voltadas para a família.

E instrumento, a senhora toca algum?

Trabalhei em muitas casas em que a pessoa era professora de piano, passei a gostar de piano, meu marido comprou um teclado para mim. Até hoje eu tiro alguma coisinha.

Aqui na sua casa é a senhora mesmo que faz seu alimento?

Hoje eu comprei um marmitex, mas tenho meu fogão, faço feijão, arroz, salada, carne de panela de pressão, uma costela. Quando estou bem disposta, marco uma quitinete na praia, em maio fiz 79 anos, passei na praia. Vou para Santos, sozinha, pego o ônibus e vou. Fiquei uma semana.

Quando caiu o Edifício Luiz de Queiroz (COMURBA) a senhora lembra-se?

 Quando o COMURBA estava sendo construído, eu morava no Monte Alegre ainda,  tinha uma irmã que ia casar, vim com ela em Piracicaba, era assim que nos referíamos: “vou à Pircicaba”. Tinha uma sapataria a Rua do Rosário, chamada Casa Oliveira, viemos juntas para ela comprar o sapato do seu casamento. Nós duas passamos em frente ao COMURBA, era hora de almoço, aqueles jovens, pedreiros, estavam todos sentados descansando, minha irmã tinha 19 anos, eu era nova, bonita, ao passarmos percebemos que os moços nos olharam com atenção. Dali a uma semana ficamos sabendo que o COMURBA tinha caído, aqueles jovens todos possívelmente foram soterrados. Era dia 6 de novembro de 1964.
E o Rio Piracicaba? A senhora costuma ir passear as vezes?
Eu costumo pescar no Rio Piracicaba! A EPTV filmou meu marido e eu pescando, tenho a fita com o filme.
A senhora não conta histórias de pescador?

Conto! É história que aconteceu mesmo, não é invenção não!

De que tamanho era o peixe?

Não era o peixe! Era garça! A garça veio, pegou a vara e saiu voando com a vara de pesca dependurada! Era de um dos moços que estavam pescando próximos de mim. Quanto peixe eu peguei! Cascudo, tilápia, meu marido pegava tanta tilápia que nem ficava com elas, distribuía com os vizinhos. Lambari pegava em grande quantidade. Uma vez comecei a pegar lambari sem isca! Só pelo brilho do anzol.

Vocês pescavam de barranco ou de bote?

De barranco, lá embaixo perto da ponte do Morato. Pesco até hoje. Estava pescando no lago do Lar dos Velhinhos, um peixe bem grande, arrancou uma parte da minha vara de pesca, ela é vara que monta e desmonta. Fiquei só com um pedaço da vara na mão! Eu pescava também no lago da Rua do Porto.

Mas ali não tem muita piranha?

Peguei uma piranha enorme lá! Para tirar tem que tomar muito cuidado, ela tem dentes afiados.

Dá para comer piranha?

Serve para fazer caldo! Sopa! É muito bom! No lago da Rua do Porto jogaram muitos alevinos de tucunaré. Até teve um dia que peguei um. Era pequeno, soltei, com cuidado para não se machucar.

 

 

JOSÉ INÁCIO MUGÃO SLEIMANN


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de novembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO: JOSÉ INÁCIO MUGÃO SLEIMANN

José Inácio Mugão Sleimann nasceu a 31 de julho de 1947 em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Seu pai é Jabra Abdala Sleimann e sua mãe Zarife José Tannus, naturais de Bakto, Síria. Tiveram sete filhos: Abdala e Maria nascidos na Síria e Julia, Tereza, Marta, Janira e José Inácio nascidos no Brasil. Foi casado em primeiras núpcias com Eliana Marta Sabino Sleimann, já falecida, com quem teve quatro filhos: Ricardo, Milena, Carlos Eduardo e Leandro. José Inácio é casado em segundas núpcias com Nurair Cristina Fuzinelli Sleimann. José Inácio Mugão Sleimann formou-se em Direito na Faculdade de Direito de São Carlos, em 1973. 

Como se deu a imigração dos seus pais e irmãos?

Inicialmente meu pai veio para a Argentina trabalhar na colheita de trigo, ele tinha um irmão que morava na cidade de Lobos, localizada na província de Buenos Aires, localizada a 115 quilômetros da cidade de Buenos Aires. Após um ano decidiu vir para o Rio Grande do Sul, veio de trem. No Rio Grande do Sul mudaram o nome dele, Originariamente era Suliman ou Suleiman, colocaram Sleimann O nome significa "homem de paz" e corresponde ao nome inglês Solomon . Meu pai chegou ao Brasil na década de 10. Ele foi para Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Dez anos depois ele mandou buscar minha mãe e meus irmãos. Meu pai vendia frutas, depois virou mascate, abriu loja, isso em Passo Fundo. Comprou um sítio onde plantou 1.500 pés de azeitonas. Era um sítio que além das azeitonas produzia 90% da nossa alimentação.

Você estudou em Passo Fundo?

Estudei no Colégio Notre Dame, fiz o jardim de infância e primeiro ano, fui colega do Filipão (Luiz Felipe Scolari), gaúcho de Passo fundo, somos amigos de familia, ele fez um livro onde sou citado. Meu pai apesar de estrangeiro era um grande cabo eleitoral. Meu primo Daniel Dipp foi prefeito de Passo Fundo, deputado federal, sempre foi político. Meu pai era amigo de Leonel Brizola e de Getúlio Vargas. O Brizola se criou com meu irmão Abdala em Passo Fundo, o Brizola gostava muito de ir em casa para comer quibe. Quem criou ele na cidade foi Dr. Sabino Arias, Brizola era de Carazinho, criou-se em Passo Fundo, quem o encaminhou foi Dr. Sabino Arias. O irmão do Brizola foi Chefe da Estação de trem de Passo Fundo da VFRGS – Viação Férrea Rio Grande do Sul.

Seu interesse por política começou quando?

Desde pequenino sempre gostei! Participava dos comícios, época de Fernando Ferrari, o “Mãos Limpas”, participava com ele no Movimento Trabalhista Renovador. Eu era ligado ao PTB, sai do PTB fomos para o MTR, Uma turma da cidade foi para o Movimento, o prefeito, meu primo Daniel Dipp, depois disso vieram os partidos políticos: ARENA – Aliança Renovadora Naciona e MDB – Movimento Democrático Brasileiro. Por todo meu histórico aderi ao MDB. O Adhemar de Barros esteve com sua esposa Dona Leonor duas vezes em Passo Fundo, eu era criança, mas recordo que era um casal muito simpático, foram a missa das seis horas da manhã nas dua vezes ques estiveram na cidade, comungaram. A padroeira lá é Nossa Senhora Aparecida. O Jânio Quadros foi de trem, fez um comício na gare, em cima de um caminhão Alfa Romeu, esses comícios eram organizados sem a tecnologia atual, havia a necessidade de alguém segurar o microfofone, os políticos gesticulavam muito. Na ida desses dois candidatos eu estava cumprindo essa função ao lado deles. Essas passagens fui recordar com Adhemar de Barros, junto com o filho dele que é muito meu amigo, o Adhemarzinho. E junto cm o Jânio que eu estive com ele, em sua residência no Guarujá e eu era vereador aqui em Piracicaba. Participei também da “Revolução da Legalidade” no Rio Grande do Sul, um dos acontecimentos mais dramáticos da história do Rio Grande do Sul, iniciou em 25 de agosto de 1961, pelo governador do Estado, Leonel Brizola que, ao tomar conhecimento da renúncia de Jânio Quadros à presidência do país, resistiu bravamente para garantir a posse do vice-presidente João Goulart. Durante doze dias, Brizola manteve firme a “Cadeia da Legalidade”, de dentro do Palácio Piratini, tendo em volta uma multidão na Praça da Matriz, atingindo a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, que se estabeleceu em sessão permanente. Eu já morava aqui em São Paulo quando houve uma campanha para eleição de governadores: Zé Bonitinho (José Bonifácio Coutinho Nogueira); Adhemar de Barros; Jânio Quadros, eu ia aos comícios para agitar, gostava de agitar. Era contra a ditadura, e tinha um padrinho general, sogro do meu primo, general também.

Você continuou estudando em Passo Fundo?

Fui estudar na Escola Nossa Senhora da Conceição, dos Irmãos Maristas, depois passei para o Colégio Estadual Nicolau Araujo Vergueiro, quando estava com 14 a15 anos vim para São Paulo.Meus irmãos Abdala e Maria já moravam em São Paulo, no bairro Cambuci, a Rua Dona Ana Nery, 563, quase esquina com a Avenida do Estado. Eu convivi ali, ia jogar futebol na Vila Mariana. Estudei no Liceu Acadêmico São Paulo, na Rua Oriente, onde iniciei o Curso Técnico de Contabilidade. Meu irmão era csado com uma baiana e trabalhava com artigos religiosos. Fui para a Bahia, não me adaptei. No Mercado Modelo, o antigo, meu irmão comprou um posto de gasolina em Piracicaba. Sem conhecermos a cidade! Ele adquiriu o posto de um grego, amigo do meu irmão e do meu pai, ele tinha uma confecção em São Paulo seu nome era Jean Athanase Billis. Ele tinha esse posto em função do cunhado dele que morava aqui e trabalhava no Banco da Lavoura de Minas Gerais. Foi assim que em 1966 eu vim para Piracicaba, com 19 anos.

Você não conhecia a cidade?

Nem sabia que existia! A primeira vez eu vim de carro com o Jean Athanase Billis. A mudança veio de trem. Eu morava no posto, tinha dormitórios no Posto Canta Galo. Meu irmão trouxe o meu cunhado Angêlo Zancanaro, para Piracicaba, juntamente com a sua esposa, nossa irmã Maria. Eles tiveram os filhos Sérgio e Azize, nome da minha avó, Marcos e Carlinhos. O meu cunhado e minha irmã assumiram o Restaurante Canta-Galo que ficava anexo ao posto. Ele fazia um churrasco diferente dos outros. Era um hmem muito sério, enérgico, não admitia nada errado.

Você era responsável pelo posto?

Eu tomava conta do Posto Canta Galo.

Tinha um funcionário que lavava carros e era muito famoso?

Pedro Chiquito! Maior cantador de cururu de todos os tempos! Temos grandes lembranças dele.

Como foi seu ingresso na política de Piracicaba?

Eu gostava de política! O Dr. João Pacheco Chaves parou no posto, perguntei-lhe se era deputado. Ele disse-me que sim. Perguntou-me quem eu era, disse-lhe que era o Gaúcho, dono do posto. Mas que eu gostava de política. O Dr. Francisco Antonio Coelho, o ¨Coelhinho” eu não o conhecia, ele se apresentou, disse-me que tinha trazido o livro de filiação para que eu assinasse como membro do partido MDB. Assinei, minha ficha de filiação ao MDB de Piracicaba é de número 67. Em 1968 houve eleições para prefeito. Lembro-me de alguns candidatos: João Guidotti, João Fleury, e tinha outros. Apoiei João Guidotti que era do MDB.

Em 1970 Dr. João Pacheco Chaves comentou com Franco Montoro que conhecia um rapaz bom de discurso. Vieram me buscar no posto e me levaram na Chácara Nazareth, onde estava Franco Montoro, na época candidato a senador. Já fui fazendo comício, fui abrindo espaço para ele. Fui participando. Disse a ele que se ganhasse a eleição precisava conseguir o asfalto entre Piracicaba e Anhembi.

Você teve algum “convite” para ir até a unidade militar de Campinas?

Quando o presidente João Baptista Figueiredo fez uma alusão que considerei depreciativa aos gaúchos, disse que preferia o odor de cavalos, mesmo ele sendo filho de gaúchos, fui à tribuna da câmara, meti-lhe o pau. No dia seguinte veio o Capitão Alfredo Mansur, e disse-me: “-O senhor precisa ir para Campinas!” no 5º GCAM. Liguei para Brasília, falei com o meu padrinho, expliquei o ocorrido, não disse nada do Capitão Mansur. Fomos para Campinas. O general deixou que eu entrasse, Capitão Mansur aguardou fora. O General disse-me que o que eu estava fazendo não estava correto. Disse ao general, um gaúcho: “Está certo o que o general Figueiredo falou de nós?” O general imediatamente respondeu: “Servi no 8º Regimento de Cavalaria de Santana do Livramento!”. Fui dispensado na hora. Houve outra ocasião semelhante, por outro motivo, quando também fui acompanhado do Capitão Mansur.

Você continuou fazendo política?

Apareceu o Quércia como candidato a senador. O comício dele era em Rio das Pedras. Cheguei lá, tinha uma pessoa que tinha trabalhado com o Montoro, perguntaram-me se eu ia falar, disse que se me autorizassem iria. Subi no palanque, comecei a falar, o Quércia veio me abraçar, me agradecer, eu não o conhecia, comecei a amizade com ele ali. Em Piracicaba fiz o comício também para ele. Ele perguntou-me se queria apoiá-lo em sua campanha, eu fui. Fiquei muito amigo dele. Para mim podem falar o que for, foi um dos maiores amigos que tive dentro da política. Tenho-o dentro do meu coração. Quando ele foi governador do Estado fui diretor da antiga Banespa Mineração, era diretor de patrimônio, era para fazer a liquidação da Banespa Mineração.

E a política piracicabana?

Em 1972 Dr. Adilson Benedito Maluf foi candidato a prefeito, o Hidinho Maluf, irmão do Adilson e eu, sentados no banco da praça, ele disse: “Acho que o meu irmão vai ser candidato a prefeito!”. Perguntei de qual partido. Quando ele disse-me que era do MDB disse-lhe: “- Pode dizer à ele que tem um cabo eleitoral, que sou eu !” Eu estava no Posto Cantagalo, o Hidinho havia dito que ele tinha um corcel azul, quando o Adilson parou, perguntei-lhe se ele era o Dr. Adilson Maluf? Disse-lhe: “Sou o Gaúcho, sou seu cabo eleitoral!”.

Até então você era conhecido por Gaucho?

Era! Mas o Professor Helmeister do Colégio Piracicabano, onde continuei meus estudos de contabilidade, me apelidou de Mug, Mug da Sorte. O cantor Wilson Simonal havia lançado a música do Mug da Sorte. Quando entrei na classe ele dise-me: “Chegou o Mug da Sorte!”. Eu era magrinho, jogava polo aquatico no Palmeiras em São Paulo. Fizemos a campanha do Adilson, ganhamos, e houve a briga política com o Cecílio Elias Netto, hoje um grande amigo meu. O Cecílio foi cumprimentar o Adilson pela vitória, em uma reunião na casa da irmã do Adilson, eu impedi a sua entrada. No dia seguinte “O Diário” trazia referências a minha atitude, denominando-me por Mugão. Nunca mais me chamaram pelo nome José Inácio! Tanto que incorporei ao meu nome oficial o apelido Mugão. A cidade inteira me conhecia por Mugão! Em 1976 fui eleito vereador, ganhei a eleição por 3 votos do João Sachs e do Taquara. Estavamos empatados, até que tive 3 votos a mais. Fui eleito com 963 votos. O segundo mandato fui eleito em 1982, Piracicaba tinha 632 candidatos a vereador, fui eleito em primeiro lugar com 2523 votos na proporcionalidade fui o mais votado até hoje. Tinha 11 candidatos a prefeito. O mandato de vereador era de seis anos, fui vereador seis anos com o prefeito João Hermann Netto e seis anos com o prefeito Adilson Benedito Maluf.

Você sempre teve uma atuação expressiva.

Sempre batalhei apaixonadamente pela causa que defendia; em 1974, fui nomeado responsável pela limpeza pública do município, quando criei as famosas “margaridas” (como eram chamadas as mulheres que varrem as vias públicas). Incentivei ativamente a criação do Parque das Torres, no Capim Fino, possibilitando as retransmissões de televisão em Piracicaba. Atuei na criação do entreposto municipal de abastecimento de hortifrutigranjeiros, dando ao entorno do mercado municipal melhores condições de higiene. Participei de diversas conquistas junto ao Governo do Estado, como as passarelas em frente à empresa Dedini e do bairro Cecap, as escolas da Vila Industrial e Vila Monteiro, instalação da Regional da Cetesb, Distrito Policial de Santa Terezinha ( o único da cidade com sede própria)  na articulação para o asfaltamento das estradas Piracicaba-Anhumas e Piracicaba-Anhembi, autorizadas pelo então governador do Estado, Franco Montoro. trabalhei pela expansão da iluminação e telefonia nos bairros de Anhumas, Ibitiruna e Tanquã, sendo a maior extensão do Estado de São Paulo em iluminação e telefonia em bairros rurais na época. Lutei ainda pela instalação do Posto de Saúde de Ibitiruna, realizada com recursos próprios, atuei pela criação de centros comunitários, creches, postos de saúde, iluminação publica, extensão da rede de água e esgoto e expansão do asfalto. Fui diretor de patrimônio da Empresa Paulista de Turismo (Paulistur) no governo Orestes Quércia e na gestão Antonio Fleury Filho fui sub-diretor do interior da Cetesb. Ocupei ainda o cargo de membro da Executiva da União dos Vereadores do Estado de São Paulo e como conselheiro da Associação Paulista dos Municípios.

Você recebeu o título de cidadão piracicabano?

Por enquanto não! Tenho Piracicaba e o XV de Novembro em meu coração!


 

quinta-feira, outubro 26, 2017

ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de outubro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/




ENTREVISTADO: ARMANDO ALEXANDRE DOS SANTOS

Armando Alexandre dos Santos é jornalista profissional, historiador e professor universitário, licenciado em História e em Filosofia, com pós-graduação em Docência do Ensino Superior em História Militar. Atualmente leciona no programa de Pós-Graduação em História Militar, da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).

É membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e dos Institutos congêneres de São Paulo, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais e Santa Catarina, assim como da Academia Portuguesa de História, da Associação Nacional dos Professores Universitários de História-ANPUH e da Associação Brasileira de Estudos Medievais-ABREM. Autor de 64 livros nas áreas de História, da Ciência Política e da Religião, publicados no Brasil, em Portugal e diversos países. A tiragem total de suas obras já ultrapassou a cifra de 1,4 milhões de exemplares. Seu livro “Juro que é verdade” de 2017 é sua primeira publicação na área de literatura ficcional. Armando Alexandre dos Santos é filho de Antonio dos Santos, português de Trás-os-Montes, e Layr Alexandre dos Santos, nascida no Brasil filha de pai e mãe portuguêses.

Você tem origem legitimamente portuguesa.

Até a semana passada eu julgava que todo o meu sangue era português, foi quando fiquei sabendo por um exame específico de DNA, feito nos Estados Unidos, que tenho apenas 71,4% de sangue português, mais ou menos 7,5% de sangue italiano, que deve ter sido de italianos que foram para a Ilha da Madeira, lá pelo século XV ou XVI, tenho 8,4% de sangue árabe, me surpreendeu muito mas tenho quase 5% de sangue escandinavo e 1,2% de sangue negro de Serra Leoa. Esse exame de DNA atinge três focos, examina o lado masculino: pai,pai,pai,pai até o fim; o feminino: mãe,mãe,mãe,mãe. E um terceiro elemento que é o meu sangue, que é uma resultante da somatória desses dois e de todos os outros que estão no meio, esses dois quase desaparecem, pois temos quatro avós, oito bisavós, 16 trisavós, é uma progressão geométrica. Ao cabo de 500 anos já ha centenas de milhares de pessoas, se formos até os tempos de Jesus Cristo, portanto ha 2.000 anos, cada um de nós temos 4 quintilhões

(4 000 000 000 000 000 000) de antepassados linearmente. É uma quantia astronômica, eu fiz um calculo, se micro filmássemos essa lista, com os microfilmes mais reduzidos que existem, na ciência atual, se empilhássemos as caixinhas de micro filmes daria um cubo dentro do qual caberia o Himalaia inteirinho e ainda sobraria espaço. Isso significa que todo mundo é parente mais próximo ou menos próximo de todo mundo. A humanidade é uma coisa só. Entre um esquimó e um negro da África do Sul a proximidade é muito grande. Hoje se sabe que todo gênero humano descende de um único casal. Isso é sabido, independente de convicções religiosas, há um homem e uma mulher dos quais todos nós descendemos. É tido como certo de que essa mulher teria vivido na África. Se você pegar uma sociedade relativamente fechada, como por exemplo, a Inglaterra, que é uma ilha. Qual foi o último grande bloco imigratório para a Inglaterra? Foi na Idade Média quando chegaram os normandos, nunca mais a Inglaterra recebeu em quantidade significativa novos contributos étnicos. Isso faz com que todos os ingleses sejam parentes entre si, hoje se calcula por cálculos matemáticos avançadíssimos, que qualquer inglês, de qualquer classe social, é parente de qualquer outro inglês de qualquer ponto da Inglaterra, pelo menos em 14º grau. Isto significa que a Rainha da Inglaterra tem em 7ª geração um antepassado em comum com qualquer inglês. A 7ª geração é constituída em 200 e poucos anos! Posso dizer que nenhum nobre é só nobre e que nenhum plebeu é só plebeu! Na terra do meu pai, Trás-os-Montes, há um ditado que diz que: “Não há geração sem conde nem ladrão!” Isso é o gênero humano! Sou muito relacionado com genealogistas, acredito que eu seja talvez o único brasileiro com curso superior de genealogia, isso não existe no Brasil, existe em alguns países da Europa, um curso universitário de genealogia, o meu foi feito na Espanha.

Você nasceu em São Paulo em que dia?

Nasci a 30 de julho de 1954 entre os bairros Pari e Brás, fiz a minha primeira escola no Liceu Acadêmico de São Paulo, na Rua Oriente, travessa da Rua Rodrigues dos Santos. Fiz o ginasial e o colégio no Colégio Estadual de São Paulo, antigo Ginásio do Estado, foi o primeiro colégio público de nível secundário, do Estado. Foi fundado em 1894. A fundação desse colégio deve-se ao seguinte fator, durante o Império o Brasil tinha um regime Unionista. O governo todo era feito a partir da Corte no Rio de Janeiro. Os presidentes das províncias eram nomeados pelo governo central, não eram eleitos localmente, essa fase foi indispensável no Império, enquanto o Brasil se constituía e se firmava como uma nação unida. Havia um sério risco de acontecer com o Brasil o que aconteceu com a América Espanhola, uma fragmentação. Essa fase era necessária. Mas o próprio Império estava evoluindo para um sistema federativo, em que houvesse uma maior autonomia das várias províncias para que elas pudessem se gerir e se manterem por si próprias. Esse processo de evolução para federação foi cortado, pela proclamação da República. O Federalismo se transformou em uma bandeira republicana, quando na realidade já era do Império. Uma das primeiras medidas que o governo Republicano tomou para mostrar que representava o progresso, o futuro, foi fundar em todos os estados, colégios. Para dizer: o Império só tinha o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, nós levamos a cultura para o Brasil todo. Outra coisa: Institutos Históricos. No Império havia o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Rio de Janeiro, fundado em 1838, a República começou a fundar esses institutos. Do ponto de vista do exterior, diria quase cosmeticamente, para a visão pública, pareciam grandes avanços, em relação ao período do Império. Na realidade, de uma visão mais crítica, e de quem acompanhou as coisas, a Proclamação da República foi um desastre para o Brasil. A corrupção que entrou, o desvio da finalidade da própria nação, o aproveitamento da coisa pública, uma série de fatores sobre os quais poderíamos fazer outra entrevista, conversar sobre isso largamente. Esses acontecimentos de um modo muito rápido tomaram conta do Brasil. No tempo de D.Pedro II havia a chamada Ditadura da Moralidade, D.PedroII era exímio na administração pública, com ele ninguém brincava. Poderia contar aqui dezenas de episódios nessa linha. Ele era um homem do seu tempo, naquele tempo, a figura do chefe de família, do patriarca, era aquele modelo. Um homem sério, sisudo, com uma grande barba, impondo respeito, aos parentes, aos amigos, era o ar próprio do tempo. Era um grande erudito, ele tinha, no meu modo de entender, uma qualidade muito brasileira, algo que o brasileiro gosta de ver na autoridade, o brasileiro não gosta de autoridade frouxa! O brasileiro gosta de autoridade firme. Que sabe mandar. O brasileiro não tolera autoridade que manda fria e insensivelmente. O brasileiro obedece uma coisa difícil de fazer, mas ele gosta que quem mandou, dê a entender que está sofrendo junto com ele. É o lado afetivo do brasileiro. Essa relação de proximidade de quem manda e quem obedece, é algo que a psicologia do brasileiro exige. E D.Pedro II tinha! Outra pessoa, em outro contexto, também teve, foi Getulio Vargas. Era extremamente autoritário, mas era jeitoso. O brasileiro gosta de jeito! Autoridade que manda com firmeza, mas com jeito. E D.Pedro II era assim!

Você tem uma relação muito forte com Portugal.

Inclusive sanguínea! Morei na Cidade do Porto, Lisboa, Coimbra.

Qual é a correlação que você faz entre Portugal e Brasil?

Portugal e Brasil são continuidades, não vejo uma dissociação. É o mesmo povo, o mesmo país, sentimentos, a própria visão do universo, aquilo que os alemães chamam de cosmovisão (Weltanschauung, termo alemão que se pronuncia "vèltanxauung", cosmovisão ou mundividência) a portuguesa e brasileira são muito parecidas. A arquitetura tradicional brasileira foi muito influenciada pela portuguesa. A forma do brasileiro acolher pessoas que vem de todas as partes do mundo, os imigrantes de qualquer parte do mundo não se sentem um peixe fora da água aqui no Brasil. Sempre encontraram aqui uma receptividade que não encontram em outro lugar. Os italianos vieram para cá e se inseriram na sociedade. Os italianos da mesma época foram para os Estados Unidos, encontraram um ambiente bem diferente, hostil, fecharam-se entre si, uma das consequências foi a formação das máfias. Um meio de proteção dentro daquele contexto. Uma defesa que tomou um rumo que lamentamos, obviamente.

Você mudou-se para Piracicaba em que ano?

Vim para Piracicaba em 2006, eu morava em São Paulo na Avenida Angélica, a 50 metros da Avenida Paulista, era um barulho muito grande, e iniciaram a construção de uma estação do metrô, ao lado, dia e noite o som de bate estacas, foi quando decidi mudar de lá.

O seu ingresso no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo deu-se quando?

Foi em 1994. Atualmente sou emérito. Ingressei em 1994 embora tivesse livros publicados muito antes. Tínhamos uma administração no IHGSP que tinha decido fechar o ingresso de novos membros, por algum tempo, de fato tinha havido no passado uma abertura excessiva, tinha entrado muita gente com mérito, com menos mérito, a administração tinha sido muito boa, eu era muito amigo do presidente antigo, Dr. Licurgo de Castro dos Santos Filho, um grande médico, um grande historiador, enquanto foi presidente estabeleceu que: “Não entra ninguém, ou quase ninguém”, a partir do momento em que ele cedeu a presidência ao Dr. Hernani Donato, ele continou a fazer parte da diretoria, e chegaram a conclusão de que já estava na hora de receber novos membros. De posse da lista dos que já frequentavam e faziam parte da casa, mesmo sem serem membros, eu fui um dos primeiros a ser chamado. Entrei na última leva dos que entraram no primeiro século de existência do IHGSP, em agosto de 1994. Dois meses depois o Instituto completou 100 anos.

Onde é a sede do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo?

Na Rua Benjamin Constant, 158, centro de São Paulo.

Qual foi o primeiro livro que você publicou?

Foi “A legitimidade monárquica no Brasil”, um estudo publicado em 1988, sobre a Princesa Isabel, a família da Princesa Isabel, o ato de renuncia do seu filho D.Pedro de Alcântara, é um estudo muito específico para saber quem de acordo com o Direito era o Chefe da Casa Imperial do Brasil. Foram 7 anos de pesquisas, estremamente demorada, acurada.

Escrever é uma atividade rentável?

Depende do que se escreve! Rende imensamente em satisfação interior, o que dá grandes resultados finaceiros é escrever livros didáticos, só que existe um circulo restrito das grandes editoras.

Você trabalhou em editoras?

Trabalhei muitos anos em várias editoras, a editora recebe um grande número de originais, um grande editor não consegue dar conta de tudo que recebe, ele tem uma série de freelancers (profissionais autônomos) estudantes de letras, professores desempregados, pessoas que lêem os originais, fazem uma sinopse em 20 a 30 linhas, e dão um parecer favorável ou contrário à publicação, de cada 100 títulos recebidos, 7 ou 8 vão para o editor, esse editor, no final de semana vai para a casa de campo ou de praia dele, leva os sete ou oito livros com as sinopses. Irá ler as sinopses, se interessar ele terá acesso ao livro, irá escolher um ou dois livros para ser lançado. De 100 livros 7 ou 8 chegam as mãos dele, ele vai escolher, se escolher, 1 ou 2. Isso faz com que muita gente com obras excelentes não publique, porque caiu em determinado crítico que não gostou, ou torceu o nariz, ou estava de mau humor, levantou com o pé esquerdo. Recentemente houve um caso engraçado de uma pessoa mandou, para uma grande editora, alguns contos menos conhecidos de autoria de Machado de Assis, como ele tem contos psicológicos muito bons, que são atemporais, não há elementos que identifique que o conto foi escrito no século XIX, a pessoa pegou os contos de Machado de Assis que poderiam ter sido escritos hoje, fez uma coletânea e mandou para uma editora. Um professor X que foi analisar, leu e foi contrário a publicação porque não tinha nenhum valor literário. João Scortecci deu voz e vez a esse público. Há muitos prêmios Jabuti que começaram os passos com João Scortecci. Certa vez estávamos no escritório do João Scortecci em uma roda de pessoas, uma dela era psicólogo ou psicanalista, entrou em pauta o assunto Paulo Coelho, e surgiu a questão: Qual é o segredo do sucesso do Paulo Coelho? Que ele não tem mérito literário todo mundo concorda. Mas ele vende uma quantidade enorme, assombrosa, de livros no mundo todo. Algum segredo deve ter.

Qual é o segredo?

Chegamos às conclusões: primeiro lugar é a propaganda; há algo mais no Paulo Coelho que o torna tão atraente  universalmente. Na conversa, concluiu-se que os livros do Paulo Coelho são baseados na literatura clássica, contos de fada, folclore. Das mais variadas nações, ele reescreve isso. A característica dessa forma de literatura, é que fala para todas as épocas, todos os tempos, se dirige muito mais ao subconsciente da pessoa do que ao consciente. Isso aborda, trata de problemas muito profundos, que está no fundo da nossa cabeça, em todas as épocas, são problemas permanentes da espécie humana. O que o Paulo Coelho escreve corresponde a necessidades profundas de muitas pessoas, esse é o segredo!

Quem escreveu mais livros, você ou o Paulo Coelho?

Eu pergunto se o Paulo Coelho escreveu alguma coisa! O Paulo Coelho pega lendas, reescreve em mal português, não permite que se corrija uma vírgula, ele diz que o que escreve segue princípios da numerologia do livro. Uma vez eu estava em debate sobre esse autor na escola do João Scortecci que é um grande amigo, grande editor que revelou grandes nomes da literatura brasileira. João Scortecci é um rapaz modesto, de origem cearense que fez o curso universitário no Mackenzie pagou o curso dele, com outros colegas, faziam poesias e imprimiam em mimeografo a álcool e saiam vendendo pelos botecos de Higienópolis. Após formado, fundou uma editora, é a editora que lança o maior número de títulos do Brasil, a Editora Scortecci, dedica-se a fazer pequenas tiragens, de livros de autores iniciantes, que não conseguem vencer o bloqueio das grandes editoras. Ele publica de três a quatro livros por dia. Como ele muitos optaram por esse caminho, chama-se edições por demanda

Com relação a literatura brasileira, como estamos?

O brasileiro é um dos povos mais criativos do mundo, não só na literatura, mas em qualquer àrea, o brasileiro tem condições de se destacar e estar dentre os melhores do mundo todo.

Por que não há nenhum prêmio Nobel brasileiro?

Penso que entra muito a falta de método do brasileiro. O brasileiro é genial, mas é um pouquinho desordenado. Ele não tem disciplina. Nós somos brasileiros, sentimos isso na nossa pele. Um norte-americano, um alemão, um europeu, ele tem dentro da vida dele uma certa disciplina. Um exemplo ficticio: a pessoa trabalha em uma agência bancária, tem como hobby ficar na garagem da sua casa para brincar de fazer invenções. Ele tem um método, todos os dias, seja a época do ano que for, faça sol ou faça chuva, entre 19:00 e 21:00 horas ele se fecha naquele mundo dele. Não atende telefone, desliga rádio, desliga televisão, naquelas duas horas ele não pensa em outra coisa. Vai trabalhar naquele projeto. Ao cabo de algum tempo ele inventou alguma coisa, patentou, vai viver daquilo. Se for escritor, na hora de escrever, ele vai fechar a porta do quarto, proibir a mulher e os filhos de o incomodarem, desliga o telefone, desliga tudo, ele vai trabalhar duas horas naquilo. Quando marcar duas horas, ele pode estar no mais emocionante e culminante ponto de uma redação, ele para e irá continuar no dia seguinte. Essa disciplina faz com haja resultados concretos observáveis e palpaveis. O brasileiro não se desliga totalmente do mundo de fora, é hora de escrever, mas lembra-se que tem um e-mail para responder. Entra, dá uma “sapeada”, entra no Mercado Livre, ele nem se desligou completamente do mundo externo e nem se entregou completamente ao que está fazendo. Também quando chega uma inspiração ele faz qualquer negócio para não perder aquele fio. Ele é muito mais levado por esses impulsos. Quando o brasileiro tiver método, acho que nenhum povo da Terra nos supera!

Povos de outras culturas, cada um tem uma forma de pensamento proprio, o brasileiro tem uma forma de pensamento definida?  

O próprio do brasileiro é a improvisação! É um genial improvisador! Isso é uma riqueza fantástica. A capacidade de diante de uma situação difícil ter um jeitinho que resolve momentâneamente e rapidamente, situações complicadíssimas, é uma grande riqueza. Mas é uma riqueza que cobra um preço, ele confia demais no jeitinho e não prevê. Falta um pouco de equilíbrio, planejamento. Quando ele tiver essa capacidade de planejar e essa auto-disciplina estou convencido de que não ha nenhum povo no mundo que faça frente ao brasileiro.

Como vai nossa educação?

Esse é um outro capitulo que daria para conversarmos algumas horas. Por muito tempo fui professor no ensino fundamental, no ensino médio, atualmente estou só no universitário. O ensino no Brasil foi quebrado a pertir de 1963. Com a Primeira Lei de Diretrizes e Bases. Creio que foi Darcy Ribeiro um dos seus agentes, retirou o latim do ensino, mudou a Reforma Capanema que tinha vigorado por mais de 20 anos. Precisava realmente de um reajuste, uma atualização, mas que funcionava. Essa reforma previu para sete anos depois um segundo passo, estavamos em pleno regime militar, que aplicou o projeto que vinha do tempo de João Goulart, houve uma necessidade de adequar os curriculos para uma fragmentação de conhecimentos novos que surgiram, especificação técnica e tecnológica em várias áreas, por outro lado o desejo mal entendido de democratizar e levar o ensino à todos, produziu uma reforma que na realidade fez o ensino público cair vertiginosamente. De lá para cá tem vindo cada vez de mal a pior. O ensino público era difícil, respeitado, disputado, havia escolas particulares de muito bom nível, quase todas confessionais: católicas, protestantes. Eram escolas particulares de ótimo nível. Mas de um modo geral, a escola pública era melhor. Se costumava dizer que muitas vezes iam para escolas particulares pessoas que não tinham capacidade para estudar em uma escola pública. Isso mudou. Hoje estamos em uma situação iniqua, a escola particular é inacessivel para 90% das famílias, tem que ir para a escola pública. Na escola pública terão um sub-ensino e quando chega a hora de um curso superior, quem fez escola pública, se quizer fazer um curso superior terá que pagar para cursar uma faculdade de segunda, enquanto quem fez a escola particular consegue passar bem em uma universidade pública e sem pagar nada, irá ter uma formação muito melhor do que o outro. Essa distorção está em meu modo de ver na origem do problema educacional brasileiro. Era preciso pegar a escola pública de tempos anteriores, atualizá-la sem dúvida, ampliá-la, democratizá-la no sentido de transformar em algo acessivel, muito mais acessível ao Brasil todo, sem cair o nível. Ai entra um outro fator, que são as teorias pedagógicas novas. Que querem acabar com a linguagem culta. Querem ensinar: “Nóis pega o pexe”. Há uma porção de teóricos que querem dar os seus pitacos! Seus palpites. Querem fazer teorias novas para dizer que isto que está acontecendo, é muito bom que aconteça. E mais um outro fator: são autoridades que não entendem nada! Absolutamente nada! Não entendem nada de educação e põe leis, só atrapalham! Os próprios teóricos de pedagogia na maioria das vezes nunca entraram em uma sala de aula! Eles querem nos ensinar como controlar uma sala de aula quando eles mesmos nunca entraram! São livros teoricos que nos cursos de licenciatura e padagocia são “entronchados” na cabeça dos professores, no primeiro dia de aula o prefessor vê que não tem nada a ver com a realidade.

Como você vê a febre dos celulares nas salas de aula?

Essa semana eu vi uma noticia, que está sobre a mesa do Governador Alckmin para ser assinada por ele, uma lei já aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, que foi proposta pelo Secretário da Educação, José Renato Nalini, meu amigo, também do IHGSP, é um desembargador. Ele propos uma lei, essa lei foi aprovada pela Assembléia Legislativa, a lei que autoriza a livre utilização de celulares em escolas públicas do Estado de São Paulo! Fundamentação da Lei: “O celular se transformou em um instrumento de pesquisa, pode ser muito útil para o aluno e pode ser um poderoso fator de ajuda de pesquisa para o aluno e para o professor, logo pode ter”.

O celular vai ser usado para pesquisa em sala de aula?

Esse é o problema! Até agora qualquer professor sabe que a grande luta do professor é contra o celular, é uma praga na sala de aula! Atrapalha! Permite colar, distrai os alunos. Eu estava dando uma aula, em um colégio particular, tocou o celular de uma aluna. Ela atendeu, era a mãe dela querendo saber se ele queria batatas fritas na hora do almoço!

Os pais tem responsabilidade pela decadência do ensino?

É um fator global. Decadência é crise de valores, está claro que existe uma crise de valores que abrange toda a sociedade. Os pais obviamente tem uma responsabilidade nisso. A principal fonte da nossa formação é a família. Atualmente a própria influência e autoridade dos pais é muito limitada, influenciada por vários fatores, o poder da mídia, a própria legislação não permite que um pai tenha uma margem de liberdade como tinha em passado recente. Em fevereiro de 1961, quando fui ao Liceu Acadêmico São Paulo eu tinha de 6 para 7 anos, minha mãe me levou para o curso primário, a professora chamava-se Dona Lucila, apresentou-me à professora, e disse-lhe: “A senhora está autorizada a bater no meu filho quanto a senhora achar necessário para a formação dele!”. É claro que a professora nunca me bateu. Mas compreende como a mentalidade era outra? Hoje nem a mãe pode dar uma palmadinha no filho! Ela é capaz de ir presa! Isso significa o que?  

Que o Estado está interferindo dentro das casas, forçando os pais tomarem uma atitude e não outra. Hoje é muito reduzida a autonomia de um pai com relação a 50 ou 60 anos passados.

Qual é o objetivo dessa história toda? Criar um caos?

Pode ser! Eu tenho a impressão que o que aconteceu na humanidade nos últimos 100 anos, e de um modo mais específico, nos últimos 30 anos com essa imensa entrada da informática, foi uma tal transformação na vida humana, que isso não pode se manter por muito tempo.

Essas mudanças não foram ainda absorvidas pelo ser humano?

Não foram absorvidas, não sei se são absorvíveis e a prosseguir esse avanço nessa mesma cadência, acho que irá haver um enlouquecimento de toda humanidade! Hoje somos bombardeados por tantas informações, tantas solicitações, que o ser humano não tem capacidade de deglutir. Quem tratou muito disso foi Samuel Pfromm Netto nascido em Piracicaba a 3 de março de 1932, Formou-se pela USP em Pedagogia em 1959 e tem mestrado e doutorado em Psicologia pela mesma universidade. Fez estudos de pós-doutorado nos EUA, na Inglaterra, na França, na Alemanha e no Japão. Chefiou missões culturais a este último país e à China. Sua produção bibliográfica compreende mais de quarenta livros. O Samuel ao mesmo tempo era um homem extremamente tradicional, de uma cultura quase renascentista, lia latim, conhecia o alemão, um homem de uma cultura fantástica, mas era um homem muito aberto para as novidades, ele trabalhou na TV Cultura, tinha muita experiência televisiva, era um grande comunicador, era um entusiasta do ensino a distância. Viu o futuro do ensino universitário no Brasil no ensino a distância. Ele dizia que o problema geral dessas novas formas de comunicação é a velocidade com que elas são dadas. A intensidade e a velocidade dos dados que são colocados diante de nós a cada momento e que impedem um processamento natural do espírito humano. O espírito humano ensinava o Samuel, ele tem três fases: ver, julgar e agir. A pessoa em um primeiro momento vê, não significa só ver visualmente, ela prende a realidade pelo ouvido, pelo olfato, os sentidos dela apreendem alguma coisa. Num segundo momento ela julga: O que é? Isso é bom ou é mal? Verdade ou mentira? É belo ou é feio? Ela toma uma posição diante daquele estímulo externo. Num terceiro momento ela age. Ela decide: Isso é bom, vou guardar em minha memória. Isso é bom, vou fazer isso. Isso é mal, não vou fazer. Isso não tem importância, eu vou esquecer. Mas é um ato de vontade. Essa três etapas: ver, julgar e agir, desde que o mundo é mundo, desde quando existe o Homo sapiens sempre foram assim. Hoje em dia com a rapidez, a intensidade e a sucessão desenfreada dos estimulos, não há tempo mais para o ser humano desenvolver o processo inteiro. Uma pessoa diante de uma televisão vê uma cena horrível de sangue,  antes que o espírito dela possa explicitar uma recusa àquilo, muda a cena e ela tem uma paisagem maravilhosa que a embevece, e depois um estímulo comercial: compre tal coisa! Logo depois uma cena de sexo, depois uma outra cena de violência, a sucessão é tão rápida, contínua, prolongada, a pessoa perde o hábito de pensar!  Julgar! Para o ser humano, que é racional, mexe com muita profundidade! É antinatural! E por outro lado é muito perigoso, nós estamos em um regime democrático, um povo que está habituado a seguir estímulos, nunca irá racionalmente ser soberano!

Quem manda no país?

Quem tem o controle do estímulo! Está ocorrendo um fenômeno, por meio da internet uma imensa quantidade de pessoas que nunca tiveram voz nem vez, estão conseguindo falar. E muitas são pensantes! Há muita bobagem, mas também há comentários de uma sabedoria e capacidade de analise profunda. Aí esta a esperança do futuro. Na década de 30 veio ao Brasil um grande matemático italiano, convidado pelo governo, para dar sugestões para reforma do ensino. Quando ele viu o curriculo escolar ficou abismado: “Os brasileiros são geniais, estudam na terceira série do ginásio o que na Itália, na Europa é matéria de faculdade!”. Ao cabo de um ano ou dois, ele mandou um relatório, para o Ministério da Educação, dizendo que o sistema de ensino no Brasil estava inteiramente errado, vocês colocam para crianças principios de matemática que elas irão decorar sem entender. Elas não tem conhecimento básico, nem filosófico para entender o alcance disto. Quando chegam a faculdade vamos ter pessoas que não aprenderam a pensar. Ensinem a pensar no ginásio e deixem esses assuntos matemáticos profundos para ensinar no curso universitário.

O primeiro passo é fazer com que o ser humano pense?

É por isso que é humano e não simplesmente um animal ! Nossa definição é animal racional! Há pessoas em todos os níveis sociais capazes! Tenho um material escrito onde abordo entre outros aspectos que todo homem público deve educar seus filhos na escola mais próxima de onde ele mora, não escolher nichos de excelencia; nenhum homem público deverá ter planos privados de saúde; é Presidente da República? Trate da sua saúde no SUS! Ele, a mulher, os filhos, netos. Proibir segurança privada. Se o cidadão não pode ter uma arma para se defender por que um deputado tem quatro ou cinco seguranças armados para acompanha-lo?

Você tem uma coluna na A Tribuna Piracicabana?

Tenho,todos os sábados, chama-se “Educação e afins” o título foi sugestão do Erich Vallim Vicente.

 

domingo, outubro 22, 2017

LUIZ ANGELO MARCHINI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 21 outubro de  2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/                        


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: LUIZ ANGELO MARCHINI

 


Luiz Ângelo Marchini nasceu a 6 de março de 1945 no bairro Água Branca, Piracicaba. Filho de Luiz Marchini e Margarida Razera Marchini que tiveram 11 filhos: Luiz Ângelo, José Antonio, Maria Elisa, João José, Maria Inês, Sueli Margarida, Marcos Francisco, Pedro Roberto, Humberto Sávio, Roberto Sávio e Maria Regina. Sendo que Humberto e Roberto são gêmeos, assim como José Antonio e Maria Elisa são gêmeos também.
Qual era a atividade do seu pai?
Meu pai tinha olaria, plantava cana, tinha leiteria, uma fábrica de rapadura, fábrica de melado, onde a criançada estava empregada. O primeiro engenho ele adquiriu de José Nassif, era um engenho de tração animal, com três cilindros de ferro. Eu cheguei a tocar o burro que puxava o varal e movia as moendas. Na época eu tinha de 12 a 14 anos. O burro era mansinho, virava sozinho, às vezes ficava muito lerdo tinha que apressar o passo dele. A cana-de-açúcar era produzida no próprio sítio. Calculo que era moída uma tonelada de cana por dia. Havia um tacho muito grande, fazíamos muita rapadura, tinha o formato de um tijolo medindo 10 centímetros de largura por 20 centímetros de comprimento, uns 4 centímetros de espessura. Eram embrulhadas em papel celofane, uma a uma.
Quem fazia a rapadura?
Minha mãe era a técnica! Eu também aprendi e de vez em quando ainda faço, limpo a cana como se fosse fazer garapa, sai uma garapa clara, depois que passo a cana na escova, lavo a cana, coloco no engenho de inox, para não oxidar a garapa, depois em um tacho de inox, coloca-se no fogo por umas cinco horas. No sítio aproveitávamos o próprio bagaço da cana para fazer o fogo na fornalha. Antes eram colocados em uma cerca, como se fosse um varal, onde secavam. Depois meu pai adquiriu um engenho maior, já com o cilindro deitado, o de tração animal tinha o cilindro em pé. Esse segundo engenho era movido por um motor a gasolina de um Chevrolet 1928. O radiador era um tambor de 200 litros de água, saia a água fria embaixo e jogava a água quente em cima. Funcionava o dia inteiro. Depois veio a energia elétrica, ai o motor do Chevrolet foi substituído por um motor elétrico de 10 HP.
Como essa rapadura chegava a São Paulo?
No inicio a produção era menor, trazia com carrinho de tração animal até a Estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Despachava também latas de melado com capacidade para 20 litros. Meu pai comprava as latas vazias, daquelas que tem a tampa maior, igual às utilizadas para tintas, não havia rotulo, nada que identificasse. O nível de exigência era bem diferente.
Havia funcionários no engenho?
Sempre tinha algum. A maior parte eram pessoas da nossa família que trabalhavam no engenho. Na olaria que ficava paralela ao engenho tinha os funcionários, foram construídas casas para eles.
O sítio tinha quantos alqueires?
Eram nove alqueires, era uma área bem aproveitada, tinha pasto, vacas de leite. Faziamos até queijo, manteiga. Trabalhei mais na rapadura e na olaria. Na época fabricávamos só tijolos. No início a produção era de uns 3.000 tijolos por dia, tudo artesanal. Quando chegou a energia elétrica colocamos máquinas, que faziam 1.500 tijolos por hora.
Quem fazia as entregas?
Teve época em era só eu que fazia as entregas, com um caminhão F-6 ano 1951. Um Ford a gasolina, transportava 1.500 tijolos a cada viagem. O tijolo era grande. O tamanho padrão dos tijolos foi diminuindo, passei a levar 2.000 tijolos e cheguei a levar até 3.000 tijolos. O tijolo passou a ser metade do que era antes. E hoje está menor ainda!
Você lembra-se de alguns lugares onde entregou tijolos?
Tem muitos lugares! Às vezes estou passando em algum lugar e lembro-me de que aquele prédio foi construído com os tijolos que entreguei. Fiz muita entrega de tijolos na Cidade Jardim, quem construiu muito lá foi o João Fleury.
Você ia entregar com um ajudante?
Ia com ajudante, às vezes ia sozinho. Comecei a puxar tijolo muito novo ainda. Muitas vezes vinha entregar tijolos a noite, de madrugada, não dava tempo durante o dia. Às vezes deixava o caminhão carregado e vinha entregar bem cedo. Quando o pedreiro chegava às sete horas eu já tinha descarregado. O pedreiro assinava o “valinho”. Naquela época a Guarda Civil fazia blitz na curva do “S”.
Você trabalhou nesse sítio até que idade?
Estudei até o quarto ano, no bairro Pau Queimado, ia a pé, naquela época não havia escola no bairro Nova Suissa. A distância de casa até a escola era em torno de três quilômetros, ia descalço, era comum andarmos descalços naquele tempo. Minha primeira professora foi Dona Hilda e a última Dona Rute. Eu saí desse sítio quando tinha 22 anos. Com 22 anos, aluguei uma fazenda que tinha uma olaria grande, e fui tocar a fazenda, sozinho. Era a fazenda do Santo Bueloni. Conheci muito o Francisco (Chico) Bueloni. Lá moravam cinco famílias que trabalhavam na olaria, eu alugava um pedaço, era uma fazenda muito grande. Eu produzia tijolos, depois comecei a fabricar um pouco de telhas e um pouco de lajotas para pisos. O Santo queria fazer uma sociedade comigo para modernizarmos, adquirir máquinas, mas infelizmente ele logo faleceu. Pouco depois, minha família também estava passando por um processo de mudanças, foi quando decidi vir para a cidade e montei a Angemar. Lá se chamava cerâmica Angemar. Meu avô tinha falecido há pouco tempo, o nome dele era Ângelo Marchini, o nome Angemar era em sua homenagem.
Em que local você montou a Angemar?
Na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dona Jane Conceição havia dois lotes de terreno vazios, onde periodicamente montavam circos, parques. Esse dois lotes eram de dois donos distintos: o da esquina era de um membro da família Amstalden, e o outro era do José Valério. Acabei comprando primeiro o lote do Valério, já pensando em adquirir a esquina. Construí no primeiro lote.
No inicio eram só o lote com uma edícula no fundo?
No inicio aluguei o terreno da esquina, fiz uma cerca, uma edícula de taboa e a 1º de maio de 1969 comecei a trabalhar comercializando tijolo, areia, pedra, cimento, cal, um pouco de ferro, um pouco de manilha. Naquele tempo vendia-se muita manilha, não existia tubo PVC! A manilha era produzida em Rio Claro. Comprei um caminhãozinho, um Ford ano 1948, verde, funcionava bem, ficou por muitos anos trabalhando.
Era um tempo em que não havia os problemas de segurança existentes atualmente?
Não tinha!
No início você já tinha o caminhão para fazer entregas?
No inicio não, após um mês da abertura do depósito o meu tio vendeu o caminhão para mim, para que eu pagasse da forma que pudesse pagar. Em dezembro de 1969 acabei de pagar o caminhão. Foi um período muito bom para a construção civil, meu estoque aumentou e consegui pagar o caminhão. A carga tributária era menor. Quando comecei já contratei um funcionário: Paulo Polva. Era um senhor já maduro, uma pessoa muito útil. Honesto. Eu saia fazer entrega ele ficava no depósito, ele conhecia os preços, tinha a lista de preços feita a caneta, ele vendia, fazia o troco. Logo depois arrumei um motorista, Miguel Novelo conhecido como “Gué”, irmão do Zé Lambretta. Era um bom motorista, às vezes o Paulo saia com ele, dependendo da carga. O Gué nos ajudou muito, foi muito bom para nós.
Em seguida vocês construíram?
Compramos o lote vizinho, trabalhando no lote da esquina fui construindo no lote anexo. Após construir e mudar a empresa para lá consegui comprar o terreno da esquina, que ficou como depósito.
Você teve um funcionário que o mencionou com muito respeito e gratidão, trabalhava em uma das rádios da cidade.
Tarciso Chiarinelli !  Ele foi muito útil para a Angemar! Outro que foi muito bom, muito útil é José Ângelo Bonamin. Ele entrou menino, aposentou-se e continou trabalhando. Era o financeiro da empresa. Honestíssimo. Surgiu uma oportunidade para nós adquirirmos uma área com 1250 metros quadrados em um local privilegiado. Precisamos de um sócio para fazer a aquisição, na ocasião foi o Marcos Contarini, da Alvarco, que tornou-se nosso sócio. Èramos em três sócios, eu, o Antonio, e o Marcos. Depois o Marcos faleceu fizemos uma divisão, a esquina ficou com a viuva, e a àrea que tinhamos adquirido ficou conosco. Mudamos a loja. Foi um período no mínimo desagradável, houve a influência de terceiro que foi agregado a família do Marcos e que infelizmente trouxe prejuizo para todos nós. Mudamos a loja para a Avenida Madre Maria Teodora em 1992. Lá já morávamos na frente e tinhamos feito um barracão grande no fundo. A minha casa e do Toninho era na frente. Demolimos a casa do Toninho primeiro, depois demoli a minha casa. Expandimos a Angemar. Houve o interesse de terceiros em estabelecerem-se naquele local, alugamos e decidimos encerrar as atividades comerciais da Angemar. Ainda pór algum tempo emprestei o nome Angemar para um ex-funcionário. Hoje já não existe mais essa loja.
Você ainda lembra-se do número do telefone da Angemar?
Era um “telefone quente”, Eu tinha um telefone alugado! O número era 227174.
Nesse período voce casou-se?
Em 19 de outubro de 1968 eu casei com Maria Odete Valverde, na Igreja dos Frades, celebrado por Frei Augusto, tivemos duas filhas, Márcia e Débora. Tenho os netos Rafael, Isabela, Ana e Olívia. Meu genro Tiago mora em Cingapura, juntamente com minha filha e minhas netas. São 27 horas de vôo.  
                        Luiz Ângelo Marchini e sua esposa Maria Odete Valverde
Você chegou a entregr tijolos na Igreja São José quando ela estava em construção?
Entregamos sim, para o cônego Luiz. Meu pai fez doação. Também para o Lar dos Velhinhos, Igreja Imaculada Conceição do Monsenhor Jorge, levamos muito tijolo na Igreja da Paulicéia, Paróquia Imaculado Coração de Maria do padre João de Echevarria.
Você conheceu a Serraria do Galesi, situada na Avenida Dr. João Conceição?
Conheci! Ele fornecia algumas coisas para nós. Mais abaixo, ficava o Ferrari, que fornecia para nós a carriola para puxar tijolo dentro da olaria, era uma carriola manual, com dois varais e uma roda de madeira como de carroça. Carregava uns 50 tijolos por viagem. Levava o tijolo no forno para queimar e depois tirava do forno para por no caminhão. Depois eles criaram a carriola com duas rodas e pneu de Gordini, DKW. Ai foi outra história! Carregava mais e era mais suave.
Seu primeiro carro qual foi?
O meu primeiro carro, depois de casado, foi um DKW Fissore, cor vinho. Era um carrão! O Waldemar Fornazier, vizinho de frente, tinha um também. Conheci o Vittório Fornazier, proprietário de um armazém onde hoje funciona o Supermercado Balan. O José A.(Juca) Dionisio, pai do vereador Vanderlei Luiz Dionísio trabalhou a vida inteira com Vittório Fornazier. Na Praça Takaki tinha a sorveteria Bar da China de propriedade de João Beduscchi, um comerciante que atendia a todos com muita educação, de poucas palavras, mas muito prestativo. Só vendia sorvete. Na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Madre Maria Teodora havia o boche do Aliberti e na Avenida Madre Maria Teodoro, a uns 50 metros de distância havia o boche do Roque Bortoletto. Lembro-me da inauguração da Padaria Suissa, depois passou a chamar-se Padaria Takaki por razões de contrato comercial entre os envolvidos, Quem iniciou foi o Francisco (Chicão) Amstalden,filho de Thomaz (Bem-Te-Vi) Amstalden.
Você chegou a fazer um barco inusitado junto com Pedrinho Silveira?
Quem fez foi o Marco da Alvarco, com Pedrinho Silveira, Luiz Vargas e o Antonio (Gegé) Beneton. No início esse barco chamava-se “Barco Quatro Amigos”.


Esse barco existe até hoje?
Esse barco é meu! Eu adquiri a sucata dele, reformei inteirinho, ele tinha afundado, ficou só o teto fora, estava na ponte do Rio Tietê. Atualmente o barco tem dois quartos, doze camas, dois banheiros, cozinha com fogão de seis bocas, pia de granito com dois metros de comprimento, geladeira com trezentos e tantos litros, televisão, bar completo. Ele fica ancorado dentro da água, pesa 20.000 quilos, o casco é de chapa.




Inicialmente esse barco foi construído sobre tambores de 200 litros?
No início era um barco sobre tambores, eu acompanhei a história porque o Toninho trabalhava na Alvarco, quando começamos a Angemar, começamos juntos. Depois o Marco da Alvarco ficou meu sócio. Constantemente eu ia com o Marco até o barco. Esse barco foi sofrendo transformações, uma vez fizeram uma reforma, o Marco colocou dois tubos grandes de aço e um assoalho. O Pedrinho Silveira colocou uma carroceria de ônibus monobloco em cima. Funcionou assim por um bom tempo. O primeiro motor era um Dodge a gasolina, seis cilindros, depois mudou para um Mercedes-Benz 1111. Depois eu mudei para um MWM seis cilindros.


Qual percurso você faz?
Não ando muito não, subo até perto de Tanquã, tem um lugar bom ali para pescar umas trairas, pousar lá, é uma delícia, no dia seguinte voltamos. É mais pelo passeio.

Você é bom pescador?Não! Vou na retaguarda!



Você guarda recordações de moradores do bairro da Paulista?
No bairro da Paulista tinha figuras marcantes: o juiz de futebol José de Barros que trabalhava na Estação Paulista e aos finais de semana apitava jogos de várzea. Lembro-me do José Grella, Augusto Grella, João Sabino Barbosa, o José Grella era sogro do Hélio Saipp, que tinha os irmãos: José Saipp e Alcides Saipp. O José Saipp trabalhou para mim por muitos anos, era conhecido como “Tio Zé”. Todos gostavam muito dele, era vendedor de balcão. O Hélio tinha a Casa do Lavrador, onde atualmente é uma casa de calçados. Em determinada época ele montou uma serralheria, vendeu a Casa do Lavrador. Eu comprei. O José Saipp veio trabalhar conosco, tinha muitos medicamentos veterinários, e também para uso em plantas, quem entendia do assunto era o José. O estoque foi vendido e ele continuou trabalhando conosco. Ao lado do nosso depósito havia um açougue de propriedade de Mário Scarpari e seus filhos Antonio e Alcides. Depois eles montaram um supermercado na esquina da Avenida Madre Maria Teodora esquina com a Rua da Palma, foi possivelmente o primeiro supermercado da região, mais tarde esse supermercado foi vendido para Décio Canale, e passou a ser o Supermercado Canale.
Você usou muito o trem?
Eu ia para a escola de trem! Na época em que morava no bairro Água Branca ia até bairro Chicó de trem. Eu nasci na Àgua Branca e mudei para a Nova Suissa com onze anos. Comecei a escola no Chicó e terminei no bairro Pau Queimado.
Esse trem passava pela Água Branca e pelo Chicó?
A Estrada de Ferro Sorocabana tinha uma plataforma quase em frente a Igreja da Água Branca, eu morava ali perto. A criançada toda do bairro ia de trem. Tinha uma carteirinha anual, não pagava nada.
Você conheceu uma paineira muito grande que havia nas imediações de onde hoje há o terminal urbano?
Conheci! O João Maranhão morava ali perto.
Consta que essa paineira, por sua beleza e tamanho, recebeu uma proteção legal no terreno que a circundava, documento devidamente registrado em cartório público.
Naquela época havia o Mato do Pupin, não tinha o Postão ainda, a Estrada do Governo como era conhecida a hoje Rodovia Cornélio Pires, era uma estrada bonita, boa, bem apedregulhada. Onde é a Avenida Luciano Guidotti, Avenida 31 de Março, não havia nada. Era tudo pasto. Tinha hortas.
O caminho que você fazia para chegar até a cidade qual era?
O sítio em que morávamos, era do meu avô, saia ali no Postão. O sítio vinha até ali. Era estreito e comprido. Terminava onde hoje é uma fábrica de blocos de cimento. A cidade terminava no Posto São Jorge, na Avenida São Paulo que na época era uma estrada. Depois teve um progresso rápido. Nessa região havia leiteria do Emílio Razera, tio da minha mãe, irmão do meu avô pai da minha mãe. Luiz Razera. Ângelo Marchini era pai do meu pai. Este ano está sendo comemorado 130 anos da imigração dos meus bisavôs, vieram da Itália, da região da Sicília. Estamos organizando uma reunião dos descendentes.
Quando você era jovem qual era a diversão mais comum?
Havia pouca diversão e muito trabalho. Nunca joguei futebol. Não tinha dinheiro para ir ao cinema. Bailinho era pouco, lá pelo sítio às vezes algum. Já moço, os pais não deixavam ficar até tarde.
A família tinha o habito de ir aos domingos à missa?
Todos os domingos meu pai enchia o Fordinho, minha mãe e a criançada menor embaixo, os grandões em cima, na carroceria. Vinhamos para a Igreja dos Frades. Quando chegava a família na igreja, enchia dois bancos, eram treze pessoas! Meus avôs também freqüentavam a Igreja dos Frades, vinham de charrete, de trole. Onde é atualmente a pracinha em frente a Igreja dos Frades era o lugar onde guardavam os troles, os cavalos. A hoje praça, na época era um terreno com um cercadinho. Havia um bebedouro de água para os animais. Em frente o depósito de cargas da Estação da Paulista havia um bebedouro para animais, existia um cano que despejava água, era comum colocarem o dedo impedindo que a água saísse pelo cano, ela saia por um orifício superior tornando-se um bebedouro para as pessoas. Possivelmente deveria ter uma nascente, a água jorrava sem parar.
Você chegou a cortar cana-de-açúcar?
Cortava, carregava, entregava na usina. Naquele tempo não queimava a cana. Meu pai comprou um sítio no Pau DÀlho e encheu de cana, com isso eu tinha que puxar o tijolo, a lenha para queimar o tijolo e a cana na safra. O caminhãozinho trabalhava dia e noite. A lenha comprava cortada, mas tinha que ir buscar e carregar. As coisas mudaram muito, eu sou do tempo da Maria Fumaça, é só comparar com a tecnologia do Metro, para perceber o salto da tecnologia. Máquina de escrever é peça de museu.
Isso é bom para a humanidade?
É bom! Hoje se comunica muito pelo celular. Uso todos esses melhoramentos tecnológicos. Hoje pela manhã conversei com a minha filha em Singapura, ela estava dentro do Uber, estava indo para uma festa de aniversário. Às seis horas da manhã estava conversando com a minha criançada!
Antigamente fazer um interurbano para são Paulo era uma aventura!
Levava às vezes cinco horas para a telefonista completar a ligação! Outra vantagem é que você pode escrever e a pessoa recebe a mensagem imediatamente. A medicina evoluiu muito, lembro-me quando inaugurou o primeiro pronto-socorro de Piracicaba, ficava em cima da rodoviária. Foi inaugurado pelo Dr. Francisco Salgot Castillon. Não tinha nada, recorria-se a farmácia, o Lico tinha farmácia na Rua Benjamin Constant. Os dois médicos mais acessíveis ao povo eram Dr. Alfredo de Castro Neves e o Dr. Samuel de Castro Neves, filho e pai, ambos até hoje venerados pela população. Consultavam gratuitamente e se o paciente não pudesse adquirir os remédios eles davam gratuitamente. Atualmente é obrigação do Estado o fornecimento ao paciente carente dos medicamentos receitados. É vedado ao médico fornecer gratuitamente medicamentos de forma regular. Tenho uma passagem marcante com o Dr. Alfredo (Alfredinho) de Castro Neves. O motor Chevrolet que virava o engenho estava ruim de dar partida, eu estava acertando o platinado dele. Com doze anos fiz curso de mecânica para dar manutenção lá no sítio. Na Avenida Dona Jane Conceição, quase esquina com a Rua da Glória, tinha uma oficina de caminhão, fui lá ajudar e aprender. Com isso passei a trocar molas de caminhão, limpar carburador, regular o platinado. Eu estava regulando o platinado do motorzinho, o botão da partida ficava longe, eu tinha que apertar a partida para por o motor no ponto certo. Estava em desequilíbrio, segurei na correia do gerador, virou na polia, abriu a ponta do dedo da mão, meu pai me levou até o Dr. Alfredinho, já estava escuro, ele me atendeu a noite, na casa dele, na Rua Alferes José Caetano entre a Rua Prudente de Moraes e Rua 13 de Maio.
A alimentação no sítio era bem diferente?
Nós plantávamos arroz na várzea, feijão no meio da cana, tinha horta, leite a vontade, milho, tratava de porcos, naquele tempo não se usava óleo, minha mãe comprava óleo de algodão para colocar na salada. A comida era feita com banha, não existia geladeira, era utilizado um tambor de leite, cheio de banha e os pedaços de porco dentro. Dependurava lingüiça em cima do fogão a lenha, ia depurando. Eu comprei até uma máquina para moer carne, para fazer lingüiça. No sítio eu fazia, descascava alho, moia alho, usava pimenta do reino, ensacava lingüiça. Eu fazia de tudo em casa, dava a mamadeira para o irmão menorzinho, lavava louça, puxava tijolo,
O bairro da Paulista tinha tipos característicos.
Muitos permaneceram em nossa lembrança, como o Geep, do Bar do Geep, Milton Scarpari, um bom mecânico, o Ito que tinha banca no Mercado Municipal, Júlio Takaki, O José Martins seus irmãos Alexandre e Cristóvão tinham um depósito de material de construção a Rua Benjamin Constant quase esquina com a Avenida Dr. Edgar Conceição. Conheci Jayme Pereira, morava na esquina da Rua Sud Mennucci com a Avenida Dona Jane Conceição, foi vereador, era casado com uma das filhas de Vittório Fornazier. Conheci seu pai, Abel Pereira. Sou amigo do Rubens Zillio, o Valdir Zillio mora em Goiás, a família Zillio tinha um açougue na esquina da Avenida do Café com a Rua do Rosário. Eles tiveram um sítio vizinho ao sítio do meu pai, abatiam boi, distribuíam os miúdos com os vizinhos. Em frente tinha o estabelecimento do Francisco(Chico) Sabino que permanece funcionando até hoje com seu filho Giuseppe  administrando. É a Loja do Italiano. Tempo do Ciro Mendes Silveira e a Loja Lev Cred, Alcides Saipp, Manoel Castillho. Lembro-me do Jacinto Bonachella, tinha um posto de gasolina na Rua Benjamin Constant, esquina com a Avenida Dr. Edgard Conceição, onde atualmente funciona uma padaria. Lembro-me do tempo em que a Avenida Dr. Paulo de Moraes terminava na Rua do Rosário, dali para frente era a Chácara Nazareth. O Romeu Gomes de Oliveira, dono da Rodomeu, quando adquiria carrocerias Facchini era no mínimo um lote de 10, não adquiria uma carroceria apenas. Naquele tempo havia muito consórcio de caminhão, conforme ele ia recebendo o  caminhão já ia colocando a carroceria. Romeu tinha um Simca preto com estofamento vermelho. O Sr. João Ferrazzo (Joane Vassoureiro) subia quase todos os dias a Rua do Rosário, em um Simca Rally, vermelho, dirigido pela sua filha. O Joane tocava bem um violão, o Zico Novello com a sanfona e tinha mais alguém que batia alguma coisa formavam uma festa. Lembro-me do Sebastião Rocha, tinha um caminhão que transportava combustível, Osário Pantojo,trabalhou muito tempo na Companhia Paulista de Força e Luz. São pessoas que permanecem em nossa lembran



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