domingo, setembro 09, 2018

ALICE DAS DORES DIAS CARMO ( 100 anos de vida)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de agosto de 2018 

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ALICE DAS DORES DIAS CARMO 
                                 ( 100 anos de vida)

 

No sábado, dia 14 de julho, Alice das Dores Dias do Carmo, recebeu em sua casa mais de 60 pessoas, familiares amigos. Muitos percorreram centenas de quilômetros só para prestar uma homenagem à Alice. Moradora de um chalé, no Lar dos Velhinhos de Piracicaba, Primeira Cidade Geriátrica do Brasil, Alice ganhou uma bela fotografia com moldura do Presidente do Lar dos Velhinhos, Dr. Jairo Ribeiro de Mattos. O seu quarto parecia quarto de noiva tal o número de presentes que recebeu.  O que causa admiração em Da. Alice é a sua saúde física e mental. Atualizada, sempre disposta, falante, ainda faz crochê, tricô, meias de tricô, sem emendas, usa duas ou quatro agulhas de crochê simultaneamente, faz para seus familiares. E ainda consegue ter tempo para fazer peças que doa a quem necessita. Tem o seu filho Alberto, que está sempre ao seu lado. Isso não a impede de utilizar o fogão fazendo quitutes.
A senhora nasceu em qual cidade?
Nasci em São Paulo, no Bairro Bela Vista, a Rua Manoel Dutra esquina com a Praça 14 Bis. O Bairro era chamado também de Bexiga.  Filha de José Pedro Dias e Tereza de Jesus Dias Ambos eram nascidos em Portugal, só que se conheceram no Brasil. Meu pai veio muito jovem de Portugal, calculo que veio com vinte e poucos anos. Ele casou-se com vinte e quatro anos. Ambos eram da província de Trás-os-Montes. Ela nasceu em Bolsendi e ele nasceu em Bagueixe.
Quando a senhora era criança já havia túnel na Avenida Nove de Julho?
O Túnel da Avenida Nove de Julho foi inaugurado em 1938. Foi o início da migração do nordestino para São Paulo, estava sobrando emprego. O túnel foi feito com homens cavando com água até o joelho. Havia uns quinze a vinte burrinhos tracionando umas caçambas, os burrinhos vinham um encostadinho no outro, saiam do túnel, os meninos de 14 a 15 anos recolhiam a terra e enchiam a caçambinha, os burrinhos circulavam onde hoje é a Faculdade Getúlio Vargas, iam até a esquina onde hoje é a Rua Manoel Dutra com a hoje Praça 14 Bis. A praça era muito baixa, ali eles descarregavam a terra. Os burrinhos voltavam novamente até o túnel, e assim foi. Eu morava na Rua São Vicente quando assisti a inauguração do túnel. Foi uma festa muito bonita. Do lado da Faculdade Getúlio Vargas existem duas fontes luminosas, ali os trabalhadores faziam umas barraquinhas de madeira, eles mesmos cozinhavam, lavavam a sua roupa, e ainda mandavam dinheiro para o norte. Quase nenhum sabia ler, e meu pai tinha um salão de barbeiro na Rua Manoel Dutra, quase na esquina da Praça 14 Bis. Ali o meu pai lia as cartas deles e orientava, naquela época tudo que eles viam os camelôs vendendo achavam que era feito com ouro. Eles diziam “Seu Zé isso aqui é ouro?”. Meu pai dizia: “Não compre!”. Eles perguntavam: “Por que, mareia?”. (Mareia no caso é oxida, escurece). Meu pai dizia para não comprarem esses relógios. Meu pai aprendeu a consertar relógios com quarenta anos. Trabalhava durante o dia no salão de barbeiro, a noite vinha para casa e consertava relógios. Conservo até hoje a sua lente de relojoeiro.
Quantos filhos seus pais tiveram?
Eu e meu irmão Alberto que faleceu com 30 anos.
A senhora estudou inicialmente em qual escola?
Estudei em um colégio muito bonito, na Avenida Rangel Pestana bem em frente à Rua do Hipódromo. Inicialmente, foi chamado de Primeiro Grupo Escolar do Brás passando depois a receber o nome de Grupo Escolar Romão Puiggari. Não pude continuar os estudos, em 1932 veio uma crise, meu pai perdeu tudo! Tínhamos casa de móveis na Avenida Celso Garcia, 56, em frente a Rua Joli, entre a Rua Bresser e a Rua Progresso. Èramos vizinhos ao Cine Braz-Polyteama, em frente estava o Cine Progresso. Foi no período da Revolução de 1932, não havia emprego, não havia nada. Morávamos em uma casa grnde, boa, fomos morar em uma casa composta por um quarto e a cozinha. Os móveis que tinhamos foram guardados nas casas de amigos, cada um levou um pouco. Dali fomos morar na Avenida Nove de Julho do lado de lá do túnel, não havia ainda o Túnel Nove de Julho. Do lado de lá chamava-se Rua Salvador Pires, entre a Alameda Jaú e Alameda Lorena. Do lado esquerdo da Avenida Nove de Julho no sentido de quem vai do centro para o bairro, havia chacaras de flores. Até ha pouco tempo entre a Alameda Lorena e a Rua José Maria Lisboa havia casas no estilo germânico. Eu trabalhei lá! Meu irmão com 1 ano e 8 meses sofreu paralisia (poliomelite). Ele era um moço muito bonito, a parte do tronco não desenvolveu. Eu disse ao meu pai: “Vou trabalhar, e o Alberto, como tem esse problema físico precisa de um serviço mais leve”. O Alberto acabou de estudar no Grupo Escolar Rodrigues Alves, na Avenida Paulista, essa escola existe até hoje.
A senhora foi trabalhar em que lugar?
Fui trabalhar na Rua Íris, com um casal que veio da Holanda, trouxeram uns fogõezinhos chamados “Jacarézinhos” funcionavam com querosene. Depois minha mãe comprou um. Como eu era uma menina muito comportada, naquele tempo já havia as “periguetes”, fui admitida. Na Avenida Nove de Julho tomava o bonde Jardim Paulista que tinha o número 45. Bonde aberto. Mais tarde é que veio o “Cara-Dura” que era o que carregava verdura dos verdureiros. A passagem custava um tostão ou seja 100 réis. O outro bonde era 200 réis. O “Cara–Dura” dos verdureiros ia da Praça da Sé até a Penha, Belém, Belenzinho, era o reduto dos verdureiros. Os verdureiros punham um saco de verdura e pagavam um tostão. Antes de ir trabalhar com os holandeses na Alameda Lorena tinha um casal que tinha dois filhos uma menininha e um menininho, fui tomar conta deles.
Que idade a senhora tinha? 
De 13 a 14 anos. Depois é que fui trabalhar com os holandeses, pegava o bonde e ia até o ponto final do bonde Jardim Paulista que era próximo a casa do Dr.Philippe Aché, proprietário dos Laboratórios Aché. Uma amiga nossa foi trabalhar na casa do Dr. Aché, era revestida de pedra, uma casa muito bonita. Em Portugal minha mãe pegou reumatismo nas mãos. Em dezembro lá cai neve e é tempo de colher castanhas, eram colhidas a mão. Hoje as máquinas fazem esse trabalho. Essa moça, nossa amiga, falou com o Dr. Aché sobre o reumatismo da minha mãe. Ele disse para ir ao seu laboratório que ficava na Liberdade. Eles arrumaram remédios para a minha mãe.
Que tipo de trabalho a senhora fazia na empresa do casal holandês?
Meu serviço era sentar com uma tabuinha no colo, em cima da tábua um papel celofane, tinha torradas holandesas dos dois lados, eu pegava cinco de cada lado, colocava sobre o papel e passava cola. Meu serviço era esse, enrolar as bolachas. Tinha uns biscoitinhos chamados switchback. Eles viam que eu levava lanche, mas eu não era costumada a comer lanche. O holandês disse a sua mulher para fazer um pouco mais de comida e me dar um prato. Meu pai descia de bicicleta para economizar 400 réis das passagens de bonde. Uma vez estava chovendo e o meu pai foi até o ponto final do bonde, tirou o seu paletó e colocou nos meus ombros, subi no bonde. Veio o condutor (Era o nome dado ao cobrador de bonde). Disse ao meu pai: “- O senhor não pode tomar o bonde sem paletó”. Meu pai explicou que tinha oferecido o seu paletó para sua filha, para proteja-la da chuva. Meu pai teve que descer do bonde!
A seguir qual foi a atividade profissional do seu pai?
Um português, natural de Trás-os-Montes que tinha vindo ao Brasil junto com o meu pai cada um tinha seguido um caminho, agora se encontraram, o reduto onde os portugueses se encontravam era na Avenida Tiradentes esquina com o quartel atualmente da Rota- Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar. Esse amigo disse: “Olha Zé Pedro, eu tenho um bar e o armazém é muito grande, eu vou dividir com madeira, você põe uma cadeira de barbeiro para começar a trabalhar”. Meu pai cobrava, como se fosse hoje, 50 centavos para fazer uma barba, para cortar o cabelo, 1,00 real, em dinheiro da época eram 10 tostões! Ali o meu pai ficou uma temporada. Meu tio morava na Bela Vista, na Rua Manoel Dutra. Lá faleceu o proprietário de um salão de barbeiro, que por acaso era amigo do meu pai. Meu pai falou com a viúva, a Rosinha e disse-lhe: “Olha Rosinha, eu não tenho dinheiro agora, soube que seu marido faleceu, eu queria comprar o salão”. Ela disse-lhe: “Você fica com o salão e conforme for ganhando vai me pagando!”. E assim foi, ele já abriu um salão melhor. Passamos a morar na Rua Manoel Dutra. Ali moravam umas moças que trabalhavam em uma esquina na Rua Frei Caneca,92. Quase na esquina da Rua Caio Prado. Era uma fábrica de toalhas chamada Define Frasca, eram dois sócios e cunhados. Fui trabalhar lá, me colocaram para trabalhar em uma sala onde vinham rolos de toalhas. Um rapaz apanhava o rolo e colocava sobre uma mesa enorme, meu serviço era dobrar as pontas das toalhas, eram largas, toalhas de banho, a cada 2 metros eu apertava um pedal que marcava na toalha “Indústria Brasileira”. Um outro rapaz ia enrolando as peças marcadas. Permaneci nessa empresa por quatro anos. Seu Vicente Defini via que eu levava café em uma garrafinha de Magnésia Bisurada, eram uns vidros azul marinho. Na fábrica havia uma caldeira onde esquentavam a água para tingir as peças de pano, colocávamos o café sobre aquilo, esquentava como se fosse em banho-maria. O Seu Vicente sempre pedia um pouco do meu café. Após quatro anos a fábrica mudou-se para Mogi das Cruzes. Meu pai não deixava trabalhar longe. Éramos três amigas, nossos pais portugueses, barbeiros! Elas eram portuguesas, nasceram lá e vieram para cá.
Conseguiram arrumar outro emprego?
Arrumamos na Rua Augusta, quase na Rua Costa, era como se fosse um barracão, só tinha seis teares. Ali trabalhei por quatro anos, quando ele faliu. Aonde tinha sido a fábrica de toalhas, abriu uma fábrica chamada Santa Terezinha, acho que ainda existe na Vila Formosa. O chefe era muito exigente, não aceitavam moças que iam pedir emprego na porta da fábrica. No Morro dos Ingleses tinha uma série de casas de árabes, a família Maluf tinha uma casa enorme. Um amigo nosso trabalhava em uma vidraçaria e ele foi lá na casa do Maluf, os banheiros eram inteirinhos de espelhos! Como ele era uma pessoa bem vista nessa casa ele pediu para o Sr. Maluf se me arrumava serviço. O Sr. Maluf disse: “-Mas eu não conheço essa moça!”. Esse nosso amigo disse que se responsabilizava. O Sr. Maluf deu um cartão, disse para levar na Fábrica Santa Terezinha. O porteiro quando viu o cartão chamou a chefe. Eles me aceitaram na hora. Trabalhei um ano e meio lá e eles mudaram para Vila Formosa.
O que aconteceu?
Como o prédio era muito grande, uma parte foi vendida para João (Jean) Nicolau. Ele era mocinho ainda, solteiro, subia em cima dos teares, com a azeiteira na mão, azeitando os teares, quando aquele serviço deveria ser feito por um mecânico. Trabalhei lá por dez anos. Lá que conheci meu marido Roque Pedroso do Carmo, natural de Cotia, tivemos dois filhos: Alberto Dias Pedroso do Carmo e José Antônio Dias Pedroso do Carmo. Quando ele entrou eu já trabalhava lá, ele entrou como ajudante de contramestre.
Como vocês começaram a namorar?
Foi muito interessante! As grandes fábricas tinham uma área de iluminação com vidros na cumeeira (Parte mais alta do telhado no encontro de duas águas). Um dia estávamos trabalhando, de repente começou a escurecer demais. Parecia noite. Começou a trovoar, veio um temporal tão grande, aqueles vidros quebraram-se todos. Embaixo eram rolos enormes, 200 quilos cada um, eram rolos de ferro com seda enrolada. Quebrou tudo. Cada um corria sem saber para onde. Sei que quando acabou a chuva o meu marido estava perto de mim, me abraçando, tinha moça ajoelhada, dali em diante começamos a namorar. Isso foi no dia de São Judas Tadeu, dia 28 de outubro de 1949, namoramos por três anos e casamos dia 14 de fevereiro de 1952 no civil e dia 16 de fevereiro de 1952 na Igreja Imaculada Conceição quase na esquina da Avenida Paulista com a Avenida Brigadeiro Luiz Antônio. Meu filho Alberto estudou dez anos naquele colégio. Quando nasci fui batizada na Igreja do Divino Espirito Santo, na Rua Frei Caneca.
O Bexiga tinha muitas personalidades da música, esporte.
Um deles é o Ministrinho! Nunca se ouve falar dele! Era como são hoje Maradona, Neymar. O nome dele era Pedro Sernagiotto nasceu em São Paulo a 17 de novembro de 1908  faleceu em São Paulo a 05 de abril de 1965, conhecido como "Ministrinho", foi um futebolista ítalo-brasileiro e um dos mais importantes jogadores da história do Palmeiras no período em que a equipe se chamava Palestra Itália. Ponta-direita, em 1929, foi considerado o jogador mais popular da cidade de São Paulo, por meio de uma votação promovida por um jornal da época. Ministrinho foi descoberto pela diretoria do Palestra Itália jogando futebol nas proximidades da Rua Augusta, onde nasceu e passou a infância. O Ministrinho era “sapateiro-remendão”tinha sua loja de consertos de sapatos na Rua Augusta esquina com a Rua Antonia de Queiroz. O Ministrinho carregava as bolas, quando iam jogar de um lado para outro, punha as bolas em um saco e levava de bonde, pagava 400 réis de bonde. A família dele morava na Rua Frei Caneca esquina com a Rua Penaforte Mendes. Ele depois de ganhar nome no Palmeiras , era querido. Acho que ele deveria ser mais lembrado. Depois que ele encerrou a carreira como profissional é que passou a trabalhar como sapateiro-remendão, bem em frente onde meus filhos estudaram, eles mantém amizades até hoje, muitos vieram aqui no dia do meu aniversário. Tenho o número do telefone de todos eles.
Após casarem  a senhora e seu marido foram trabalhar onde?
Meu marido quando solteiro morava na Rua Voluntários da Pátria, em frente a fábrica Klabin dali ele tomava um bonde até a cidade, depois tomava outro bonde até a Penha, Lá tomava outro bonde até a fábrica onde trabalhava. A Jean Nicolau mudou-se adiante da Penha. Meu marido foi trabalhar lá, eu não fui. Na Bela Vista não tinha mais fábrica. Eu tinha uma amiga que morava em Moema em frente a Igreja Nossa Senhora Aparecida, o seu marido disse que ali nas proximidades havia uma fábrica. Decidimos ir até lá. Tomava-se o bonde Santo Amaro, amarelo, fechado. Quando chegava de um ponto ao outro apitava. Eles falavam de uma estação à outra. Parecia trem. O bonde passava no meio da rua. Dos lados da rua tinha como se fosse uma cerca de arame, até com plantas. Só nas ruas em que podia se travessar havia uma catraca. Carros só atravessavam em determinadas ruas. O condutor andava pelo meio do bonde cobrando dos passageiros.
Como foi a recepção na fábrica?
Chegamos, era um prédio muito bonito, com a bandeira brasileira, o porteiro fez o mesmo discurso “Aqui não aceitamos funcionários que vem pedir emprego, quem é bom funcionário quando sai de uma empresa já está empregado em outra.”
Nós dissemos que conhecíamos os Sr. Armando Crema.
O Armando Crema era amigo da fábrica que trabalhamos na Rua Augusta. O porteiro o chamou, quando ele me viu disse-me Bimba! Porque sempre fui magrela. Eu disse-lhe: “Seu Armando, estamos vindo lá do Seu Pedro Saboldi. Ele disse: “Ce finito”. Disse-lhe que queríamos trabalhar, ele perguntou quantas éramos. Disse-lhe: “Por enquanto somos três!” Isso foi no dia 30 de abril. Ele disse: “Dopo domani (depois de amanhã) não pode porque é Primeiro de Maio, mas depois pega a tesourinha e vem”. E assim foi. Eu já namorava com o meu marido. Ele foi trabalhar lá nos cafundecos! No primeiro ano as minhas amigas foram para a Argentina, passar as férias lá. A mestra de lá tinha família na Argentina. Mas antes de irem o Seu Armando falou para uma delas: “Onde vocês trabalharam não tem um ajudante de contramestre bom?” A Helena Levolo disse que tinha sim, só que elas estavam indo para a Argentina. Ele disse para quando elas voltassem falassem com ele. Passados uns 15 dias ele me disse: “Bimba, a Helena me falou que tinha um ajudante, ele é bom?”. Disse que era, se quisesse eu o levava no dia seguinte. Meu marido foi jantar em casa, eu disse-lhe: “Amanhã você não vai trabalhar, vai encontrar comigo lá”. Meu marido tinha 1,64 metros de altura. Depois de um mês que o meu marido estava lá, o mestre geral chamado Antônio Capellordi,  disse: “Seu Armando, o fulano não é ajudante, ele já é contramestre!”. Na mecânica meu marido era maravilhoso. A meninada me torricou a vida, porque eu era mais velha do que ele 7  anos. Todas meninas novas, ficamos 56 anos casados! Depois de um mês já era contramestre, Quando me casei eu ganhava 2.500,00 e meu marido 2.000,00 no dinheiro da época. Acabamos levando para a empresa de 10 a 15 amigas que trabalharam conosco anteriormente. Meu marido além de eficiente não era brincalhão, as meninas diziam: “Alice! Seu marido é antipático!”. Ele me dizia: “Se eu der risada das brincadeiras delas, elas não me respeitam”. Essas fábricas trabalham com produção. Continuei trabalhando mais uns quatro ou cinco anos. Quando meu filho Alberto tinha um ano e dois meses, nasceu o José Antônio, meu marido falou: “Alice, agora você não vai trabalhar mais”. Meu marido ficou lá 22 anos. Em frente era a fábrica de garrafas térmicas Termolar.
Havia uma certa disputa entre funcionários?
Nós que trabalhamos com o Nicolau, um patrão muito exigente, tínhamos adquirido hábitos muito profissionais. A mão sempre muito limpa, quando entrei fui fabricar cetim para forrar sapato de madame. Fazíamos com seda vinda do Japão e da China, tecido de seda para fabricar paraquedas. Quando entrei perguntaram-me se eu transpirava nas mãos. Eu disse que não. “É que a senhora vai trabalhar com uma fazenda que não pode ser lavada. Conforme a senhora faz o tear automaticamente vai para a loja”.
Recebia em dinheiro o salário?
No dia em que recebíamos, meu marido e eu tomávamos um taxi! Nós descíamos do bonde na Igreja de Moema, tinha que andar quatro quarteirões até chegar na fábrica. Naquela época o ônibus passava pela Avenida Nove de Julho, passava atrás da Igreja de Moema e ia para o Aeroporto de Congonhas. Eram ruas todas de barro. As vezes o Sr. Manoel nos dava uma carona por quatro quarteirões. O Seu Armando morava um quarteirão adiante da fábrica. Antigamente na Padaria Palestra na Rua Treze de Maio, todos os dias íamos comprar um quilo de pão, eles davam um cartão, juntávamos 60 cartões eles davam um saco de farinha vazio, eram sacos de material bom, o pessoal fazia lençol, toalhas. Eu pegava aquele saco, minha mãe lavava, alvejava, engomávamos para não ficar mole, aquilo eu amarrava ao lado dos teares, o fio era tão fino que as vezes a gente precisava deitar sobre os teares. Com a unha dava nó de tecelã. Os sacos impediam que encostássemos na seda. Durante o horário de serviço não saiamos de jeito nenhum. Entrávamos as sete horas, sete horas já estávamos lá. Se tocasse o apito das sete horas e o funcionário estivesse do lado de fora, já perdia o dia. Seu Armando dizia: “Vocês antes das sete horas já estão aqui, essas moças que moram em volta da fábrica, as sete e dez é que vem vindo”. Umas moças moravam no Belém, na Penha, em frente ao Cemitério Quarta Parada, iam trabalhar lá. A Fiação Indiana era um indústria muito grande, ia da Avenida Ibirapuera até a rua de trás. Quem quisesse trabalhar lá tinha aluguel bem baratinho. Algumas moças vinham de lá. O Seu Armando disse que ia pagar o ônibus para nós que morávamos distante da fábrica. Chegamos a pegar taxi para chegar no horário. O porteiro viu, ele ficava no meio da rua que era reta, íamos correndo, fazíamos sinal ele já marcava o cartão. O Seu Armando chegou a pagar taxi para mim e meu marido. Havia as invejosas. Naquele tempo o pagamento era em dinheiro, dentro de um envelope. Quem fazia o pagamento era a Flora Montanaro. Ela vinha com uma bandeja, ao invés de chamar o funcionário em seu escritório. Os envelopes que ele dava para o nosso ônibus, ao invés de ela dar junto, ela separava, depois de distribuir os pagamentos, ela balançava os envelopes, todo o pessoal no salão ficava olhando. Perguntaram por que o pessoal da Jean Nicolau tinha um envelope extra. Ela disse: “Ele paga a condução para elas!”. Algumas moças disseram que iam nos agredir no caminho. Tinha uma que era muito minha amiga, avisou-me. Contei ao Seu Armando, ele disse: “Olhe bem o rosto de cada uma, quem fizer alguma coisa contra vocês estará despedida”. Eu disse a Dona Clara, que tinha falado com o Seu Armando. A Dona Clara falou para elas, dali em diante fomos bem tratadas por todas. Quando ele queria mudar alguma coisa na fábrica que envolvesse o pessoal convidava todos para ir até a sua casa. Hoje, onde era a fábrica, funciona o Shopping Ibirapuera.
Quando a senhora deixou a fábrica aonde ficava a sua residência?
Na Rua Rocha, 293, morei 25 anos nessa casa. As vezes íamos ao Teatro Maria Della Costa.
Já tinha a Escola de samba Vai-Vai?
A Vai-Vai era em uma casa em que morei na Rua Rocha, no fim da Rua Rocha era um riozinho que vinha lá de cima da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, agora é uma rua.
Eles ensaiavam ali?
Em outubro começam os ensaios, ninguém dormia! Meu marido levantava cedo, morando ali ele entrava as sete horas, ele dormia com um travesseiro colado em cada ouvido. Eles ensaiavam ali e iam desfilar na cidade. Uma vez o pessoal da Bela Vista reuniu-se e disseram: “Quem aguenta o barulho e a bagunça de vocês é o bairro, quando é para desfilar vocês vão desfilar na cidade?”. A partir desse dia eles davam uma volta na Rua Treze de Maio e depois iam para a cidade.
Vocês nunca desfilaram?
Não! Meu marido quando era solteiro tocava cavaquinho em um conjunto de cinco rapazes. Se fantasiavam, fantasia de pobre é todos usarem roupas iguais, juntavam casais, íamos primeiro no Brás, ali era o forte do carnaval, também na cidade e no Largo da Concórdia. Até a Rua Bresser. Nós morávamos ali com a casa de móveis, o meu pai acolhia os amigos que iam ver o corso, ele colocava um tábua encostada na parede, ali sentavam e ficavam vendo a folia. As serpentinas eram tantas nos carros, eles tinham rodas raiadas (como as bicicletas) os carros paravam porque as rodas não viravam mais. Encostavam, já naquele tempo vinha o pessoal tirar aquilo para vender, como papel.
Lembro-me quando meu pai tinha casa de móveis e vendia também armas.
As armas ficavam fechadas em uma vitrine. Meu pai vendia também máquinas de costura. Ele pegava uma máquina que estivesse bem maltratada, consertava, colocava os adesivos da Singer, a máquina saia da mão dele novinha. Nunca se dava a arma na mão do comprador. Meu pai estava doente, ele disse a um moço que o ajudava: “Seu Antônio, você fica na loja”. E eu ficava lá também. Chegou um senhor e queria um revólver, Seu Antônio como não era acostumado a servir freguês, pegou o revolver e deu na mão dele. A nossa casa era nos fundos da loja. Seu Antônio se descuidou por uns instantes, o freguês entrou, meu irmão e a minha mãe estavam no quintal, ele pediu licença e entrou no banheiro, quando ele saiu de lá meu irmão disse: “-O homem se matou!”. Minha mãe não acreditou. Meu irmão disse ter visto a camisa dele suja de sangue. Minha mãe foi lá na frente, perguntou ao Seu Antônio o que tinha acontecido. Ele disse: “O homem disse que deu um tiro, devolveu o revolver, disse que o mesmo não presta. Só que eu vi que ele estava com a camisa com sangue. Perguntei-lhe aonde ele iria com a roupa daquele jeito”. O candidato a suicida disse: “Se a arma fosse boa me deixava no lugar”. Seu Antônio disse-lhe: “Você não vai chegar nem na esquina vai ser preso”. Ali perto tinha batalhão. Não demorou muito chegou a polícia com ele. O meu pai foi chamado, o policial disse ao candidato a suicida: “-Você sabe que poderia prejudicar essa família?” Ele respondeu: “Não! Eu tenho uma carta aqui dizendo porque eu estava me matando”. O resultado foi uma dor de cabeça bem grande para todos que viram. O revolver foi apreendido, era uma arma pequena, o cano dobrava sobre o cabo, próprio para pôr no bolsinho que os homens usavam na calça.
A senhora conheceu Gino Amleto Meneghetti?
Meneghetti eu conheci! Minha amiga trabalhava na loja “A Exposição” na Praça Patriarca esquina com a Rua São Bento. O pessoal que trabalhava lá, de vez em quando podiam visitar tecelagens, abrigos, cadeias. Ela me convidou, fomos todos fazer uma visita à penitenciária. Tomamos café da manhã, almoçamos, visitamos as dependências, o Meneghetti ninguém chegava perto, ele cuspia na gente, xingava. Fui ao cinema deles, as cadeiras não tem encosto. Lá atrás ficava um guarda, na frente outro. Fui onde faziam colchões, onde faziam bolas. Tinham oficinas de tudo.
A senhora viu o Zeppelin?
Vi! O Zeppelin parou bem na direção do “Escadão” O Jean Nicolau deu ordem para fechar a firma e todo mundo saiu, dava a impressão de que o Zeppelin estava bem em cima da gente.
Era grande?
Enorme! Parecia ter sido feito de alumínio. O sol batia ele até brilhava. Ficamos uns quinze minutos olhando, tiramos fotografia.
Dava para ver se tinha alguém dentro?
Isso não dava para ver, nem sabíamos se tinha passageiros. Nós estamos conversando, parece que estou vendo-o. Foi uma cena marcante.  
A senhora morou na Europa?
Fiquei quase três anos morando em uma aldeia próxima a Macedo de Cavaleiros, uma das lembranças é quando falecia algum parente os homens ficavam sem fazer a barba até a missa de sétimo dia. Minha mãe tinha dois ou três anos quando o pai dela morreu, minha avó Maria Clara, criou dez filhos, sem marido, que se chamava Manoel. Ela morava em uma casa boa, naquele lugar era a segunda melhor casa. Essa casa ainda existe. Quando alguém vai para lá forneço o endereço para que visitem. Entrando na aldeia aonde a minha mãe nasceu, a última casa da rua, lá se chama eira, onde se bate o feijão, aqui é terreiro. No fim da eira a casa da minha avó é a última casa do lado direito, do lado esquerdo é a igreja.
Que idade a senhora tinha quando morou em Portugal?
Tinha uns 14 anos. Quando estávamos lá houve uma crise financeira, meu ai disse à minha mãe: “Vamos embora senão aqui vamos perder tudo”. Quando chegamos em Lisboa para vir para cá, dois navios faziam muitas viagens: Astúrias e Netuno. Chegando ao Brasil, a loja onde o meu era o proprietário, ele foi trabalhar como empregado. Trabalhou uns quatro ou cinco anos, aí que ele abriu a segunda casa de móveis.
Quando a senhora veio morar no Lar dos Velhinhos de Piracicaba?
Dia 20 de agosto de 2018 completo três anos de moradia no Lar. Minha neta já morava aqui, estudou na Esalq, conheceu o marido na Esalq, ela falava que achava aqui muito bonito, Nós queríamos ver. Gosto daqui, só que morei 97 anos em São Paulo! Morava perto do centro da cidade. Se eu visse no jornal: “Ensina-se isso aqui grátis”. Amanhã eu já estava lá. Sempre fui muito ativa. Na Rua Rocha, quando mudei de lá, só em um quarteirão tinha treze prédios. O prédio Edifício Henrique Cunha Bueno é um prédio muito bonito, foi feito em um morro, não sei como fizeram. Batiam estacas, nem dormíamos a noite. A Rua Rocha era plana, atrás tinha um morro quase esquina com a Manoel Dutra. Ali havia um riozinho, encheram aquele morro, plainaram o terreno. Batendo estacas dia e noite. De um lado da Rua Rocha havia muitas mulheres que eram lavadeiras, muitas mulheres criaram os filhos lavando roupas para gente rica. Do lado de lá era o Clube Lusitana.
E a Igreja Nossa Senhora Achiropita?
Um grande artista iniciou uma pintura da imagem de Maria. Ocorria, no entanto, que tudo o que pintava durante o dia, desaparecia durante a noite. Assim, colocaram um vigilante para impedir a entrada de intrusos, que estivessem danificando a pintura. Numa certa noite, uma formosa mulher, com uma criança no colo, pediu para entrar e rezar. Após insistir, obteve a permissão. Passaram longos minutos e a mulher nada de sair da igreja. Quando o vigilante entrou na igreja, viu a imagem da mulher e do menino estampada no lugar da pintura. Assim, Maria Achiropita: a-kirós-pita (não pintada por mãos humanas). O vigilante saiu gritando pelas ruas: Nossa Senhora Achiropita! No Brasil, só existe uma igreja dedicada a Nossa Senhora Achiropita que se encontra no bairro da Bela Vista. Dia 15 de agosto é dia de Nossa Senhora Achiropita, na Rua Conselheiro Carrão o mês de agosto inteiro aquelas senhoras italianas se vestem com traje regional, o mês inteiro o serviço delas é fazer comida, bolo, salgadinhos. É uma quermesse, quem fica nas barraquinhas são voluntários. Ali a minha mãe deixava ir, os padres faziam cinema lá. Era bem organizado. Na Imaculada eu ia por causa dos filhos, o Alberto já tocava, era muito querido.
A senhora tem muito bom humor!
Eu não sou daquelas velhas ranzinzas, posso não gostar de uma coisa, não brigo com ninguém, aceito tudo.
Como é completar 100 anos, lúcida, com a saúde perfeita?
Me sinto normal! Faço crochê com duas e com quatro agulhas, esta peça que estou fazendo é dos velhinhos em tricô. Manta que faço de resto de lã. Faço fisioterapia, levanto a perna formando 90 graus.
E a alimentação da senhora como é?
Como de tudo, menos duas coisas: carne seca e miolo. Seja doce ou salgado, não sou de comer prato de pedreiro. Todos os dias como frutas, levanto tomo café, quem levanta primeiro faz o café, ou eu ou o Alberto, como um pãozinho com manteiga ou queijo, uma xicara de café com leite, entre o café da manhã e o almoço gosto de comer uma fruta. Almoço, as vezes vou deitar um pouco. Entre o almoço e o jantar geralmente eu como alguma coisa. Senão as seis ou sete horas tomo um café com leite, o Alberto prepara umas torradas. Tenho até uma tábua muito bem feita, meu neto me comprou, é uma almofada, em cima da almofada é uma mesa. As vezes o Alberto vai buscar um prato de sopa no refeitório do Lar. Deito as onze horas, meia-noite. Não tomo absolutamente nada além de muita água, estou sempre tomando um golinho de água, com isso bebo bastante água. Gosto de sopa, não sou gulosa, posso até gostar de alguma coisa, mas se achar que não irá me fazer bem, eu não como. Minha mãe me ensinou: nunca sair da mesa desabotoando o cinto. Saia da mesa que se precisar comer mais, cabe.
E a que horas a senhora acorda?
Ai são outros quinhentos! Nem eu nem ele temos horário para acordar. Já acordamos cedo por muito tempo! Trabalhei quatro anos em uma firma na Rua Augusta, eu entrava as seis horas da manhã. Nessa ocasião minha mãe estava doente, estava em Santos, é um lugar maravilhoso para quem tem reumatismo, por causa da água que contém iodo. Ela sofria muito com o reumatismo, ia sempre para Santos, inclusive tínhamos família lá. Eu entrava as seis horas, meu pai com o salão de barbeiro, meu irmão era relojoeiro no Largo do Tesouro. As 5:40 eu já saia de casa. Não tinha hora de almoço, saia as duas horas da tarde, eram oito horas corridas, a gente levava um lanche, trabalhando e comendo um lanche. As duas horas da tarde saía, vinha, meu pai pegava comida na pensão, quando eu chegava as duas e meia em casa a primeira coisa que eu fazia era esquentar aquela comida que o meu pai deixava. Almoçava e já começava a passar roupa, o salão do meu pai era muito conhecido porque lavávamos todas as toalhas com sabão e passava. Meu pai usava uma vez só a toalha, já ia para lavar. Eu já começava a lavar as toalhas. Começava a fazer o jantar para mim e para o meu pai, o meu irmão jantava na cidade. Meu pai vinha do salão com aquele monte de toalhas, naquela época não havia sabão em pó, só tínhamos o sabão Lux, que usávamos para lavar lingerie. Fervíamos água com sabão, colocava as toalhas naquela água quente, deixava. De manhã levantava as cinco horas, meu pai também levantava, ia perto do tanque, ele era muito carinhoso, eu lavava as toalhas, ele estendia. Quando chegava as duas horas da tarde estava tudo sequinho. Todos os dias fazia isso, Eu devia ter dezessete anos nessa época. As vezes ia ao Cine Rex, situado na Rua Rui Barbosa com Conselheiro Carrão. As vezes a indústria pedia para fazermos hora extra. Quando chegava à noite meu pai dizia: “Alice, vocês trabalharam o dia inteiro, vai chamar a Sofia, vão ao cinema!” O cinema acabava as 9 horas às 10 horas da noite você não via nenhuma moça na rua. A moça que frequentasse salão de baile naquele tempo era falada. Eu gostava de dançar valsa, bolero. Minha amiga que morava em frente ao Lusitana, esquina da Rua Treze de Maio com a Rua Manoel Dutra, era um salão de baile. Minha mãe ia comigo na casa da minha amiga. Minha mãe ficava lá dentro conversando, eu e a minha amiga ficávamos na janela, olhando os outros do outro lado da ria dançando! Meu irmão tocava todos instrumentos de corda e o meu pai tocava bandolim. Quando não tinha freguês no salão o meu pai tocava bandolim e meu irmão violão. A rua ficava animada, o pessoal ia descendo e parando ali para escutar.
Quantos netos a senhora tem?
Tenho dois filhos, cinco netos e duas bisnetas.
A senhora é religiosa?
Sou católica, rezo o meu terço, ganhei terço do Vaticano. Rezo, de manhã quando levanto: “Vamos agradecer o sono que Deus nos deu, não só a mim, mas a todos da minha família e a todos que me cercam”. Vamos deitar? Agradeça tudo que Deus te deu durante o dia. Está nervosa? Fica calma! Rezar faz bem para a alma! Aquele terço, uma Ave Maria, uma prece, acalma. Não sou raivosa, não tenho raiva de ninguém, se me fazem um mal qualquer, eu sinto, mas não sou vingativa. Seja carinhoso com as pessoas. Meu pai quando ia ao centro sempre me trazia alguma coisa: um livro, um presente. Ele fazia isso mesmo depois que eu estava casada. Ele nunca se esqueceu de mim.

 

GABRIEL FERRATO DOS SANTOS


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 21 de julho de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO: GABRIEL FERRATO DOS SANTOS
Gabriel Ferrato dos Santos foi professor do Instituto de Economia (IE) da Unicamp desde 1988. Pós-doutorado em Economia da Saúde na University of York (setembro/2007-janeiro/2008) e na Universidad Pompeu Fabra (fevereiro/2008-julho/2008). Doutor em Economia (Unicamp, 1996), Mestre em Administração de Empresas na área de Economia de Empresas (FGV-SP, 1982), Mestrado Profissional em Gestão de Sistemas de Saúde (UFBa, 2003) e graduado em Ciências Econômicas (Unimep, 1973). Em 2007 assumiu a coordenação do Núcleo de Economia Social Urbana e Regional do IE . Atuou, também, como pesquisador do NEPP- Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp. Na área de pesquisa, dedicou grande parte dos trabalhos ao tema políticas públicas e, mais recentemente, aos temas relacionados à Economia da Saúde. De 1995 a 2002 foi cedido pela Unicamp para ocupar cargos públicos como o de Secretário de Planejamento do Município de Piracicaba (1995/junho1997) e o de Coordenador-Geral do Projeto Reforsus do Ministério da Saúde (julho1997/dez2002), cargo este que acumulou com o de Secretário de Gestão de Investimentos desse Ministério (março2002/dez2002). Foi eleito prefeito de Piracicaba em 2012 terminando seu mandato em 2016. Casado cm a Sra. Selma.
Gabriel Ferrato dos Santos conhecido na vida pública como Gabriel Ferrato, nasceu em Piracicaba em 31 de outubro de 1951, na Rua Alferes José Caetano entre a Rua XV de Novembro e a Rua Rangel Pestana, na casa da sua avó.  Era muito comum dar a luz com o auxilio de uma parteira, Dona Mariinha era uma das mais experientes e solicitadas, foi quem fez o parto de Gabriel. Seus pais são Donato Correia Santos natural de Brotas, e Maria Diniz Ferrato dos Santos, nascida em Guaraci, cidade próxima a Andradina. Tiveram sete filhos: Bernadete, Raquel, Maria Angélica, Judite, Gabriel, Márcia Cristina e Alexandre.
Seus pais se conheceram em qual cidade?
Meu pai foi trabalhar em Andradina e lá conheceu a minha mãe. Somos parentes da família Moura Andrade, meu avô paterno é primo do Moura Andrade, eles que fundaram a cidade de Andradina, que leva esse nome por ter origem no nome Andrade. Meu pai trabalhou com os Moura Andrade. Trabalhou também aqui em Águas de São Pedro. Também foram os Moura Andrade que fundaram Águas de São Pedro.
Qual era a atividade profissional do seu pai?
Meu pai foi durante muito tempo contador, na época chamavam guarda-livros. Ele decidiu sair dessa área e passou a ser comerciante. Ele veio para Piracicaba, lembro-me que eu era menino e ele tinha um armazém na Rua Marechal Deodoro esquina com a Rua São João.
Em qual escola você iniciou seus estudos?
O primeiro ano estudei no Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes, minha primeira professora foi a Dona Dolores. O segundo ano estudei no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Meu pai foi trabalhar na PAMEC, Patrulha de Mecanização Agrícola, fornecendo serviço de preparação de terra para os agricultores locais.Hoje é a PAINCO. Em Rio das Pedras, onde morei um ano, o terceiro ano estudei no Grupo Escolar Barão de Serra Negra. Em seguida vim para o Sud Mennucci em Piracicaba onde estudei até concluir o curso científico. Tive aulas com Benedito de Andrade, Demóstenes, Ceccarelli, Arquimedes Dutra, Prof. Costinha, José Salles,Prof. Otávio de matemática, Profa. Mariinha de história, Dona Zelinda, Profa. Nilda de geografia, Prof. Evaristo. Tinha que saber gramática, ler e fazer o resumo de um livro por mês, foi quando li  os clássicos Machado de Assis, José de Alencar, Lembro-me da figura de cada um dos meus professores. Você vê como foram importantes. Meu pai sempre dizia: “- Meus filhos têm que estudar!”. Só que passávamos por uma crise econômica sem precedentes, minhas irmãs mais velhas, eu com 15 anos fomos trabalhar. Naquela época era permitido trabalhar com essa idade. Aos 15 anos tive minha carteira registrada como contínuo do Bradesco situado à Rua XV de Novembro, 831, em Piracicaba,  Entregava avisos. Saia de bicicleta pelas ruas. Conheci a cidade inteira.
Que marca era a bicicleta com a qual trabalhava?
Era uma Monark. Eu trabalhava o dia todo, fui fazer o científico a noite. Progredi no trabalho, aos 18 anos era caixa executivo do banco. Caixa executivo fazia tudo, tinha que entender tudo do banco. Terminado o curso científico decidi entrar na “Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração de Empresas Piracicabana”, conhecida por ECA. Os professores davam aulas na USP, UNICAMP , FGV,e vinham lecionar aqui. Como eu trabalhava no banco, a economia tinha alguma coisa a ver comigo: Aplicações Financeiras, Títulos, Duplicatas. Promissórias. Pensei que poderia fazer uma carreira no banco, estudando Economia. As próprias aulas, a Economia, ajuda a pensar o Brasil. Foi quando descobri que queria ser professor. Para ensinar Economia e ajudar as pessoas a pensarem nisso tudo. Para quem se dedica à Economia como me dediquei  por 40 anos, é apaixonante. Estimulado pelo Copato que era o diretor da faculdade na época, ele tinha estudado na Getúlio Vargas na área de administração, fui, prestei exame, passei em um dos primeiros lugares,no mestrado, a faculdade era paga, só que a FGV tinha uma bolsa, que tinha sido criada pelo Delfim Neto, era o “Programa Nacional de Formação de Executivos”. Eu tinha essa bolsa que pagava o meu curso, só que teria que reembolsar após o término do curso. Consegui também uma bolsa auxilio da GV, simultaneamente um ex-professor aqui da ECA convidou-me para dar aulas na hoje Universidade Ibirapuera. Na época eu estava fazendo mestrado na GV eram poucos alunos que tinham essa oportunidade. Com 22 anos passei a lecionar introdução à economia para 150 alunos! A maioria mais velha do que eu. Foi um teste magnífico para a minha vida! Depois continuei dando aulas lá de Economia Brasileira.
Qual foi a sua sensação quando entrou pela primeira vez para dar aulas? Como eu estava fazendo um curso de alta reputação, na GV, entrei com certa segurança. E, se eu mostrasse fraqueza para 150 alunos ia ser consumido!
Você preparava as aulas que ia ministrar?
Nossa! Preparava muito as aulas. O segredo do bom professor é estudar muito e preparar uma boa aula. Economia é muito complexa, sempre que você está estudando aparece uma dúvida para você mesmo,  ai você tem que buscar aquela resposta para aquela questão, ler aquela teoria, por incrível que pareça é exatamente o que o aluno irá perguntar! Na GV, como aluno no mestrado,  tive bons professores: Bresser Pereira; Eduardo Suplicy foi meu professor  em dois cursos; Luis Antonio de Oliveira; Yoshiaki Nakano.
Como era o Eduardo Suplicy dando aula?
O Eduardo foi meu padrinho na GV, depois me tornei professor lá. Como fui um bom aluno nos dois cursos que fiz com ele, tive a indicação dele para der professor na GV.
Uma manhã ele chegou na sala de aula, ele gostava de escrever na lousa, de repente ele parou. A Teoria Microeconômica, era a matéria, mas de uma forma diferente. Era uma novidade até para ele. Por 15 minutos de aula ele parou, ficou olhando, da forma que conhecemos, após esse tempo disse: “-Não estou preparado para dar essa aula, vocês me desculpem, mas não estou preparado!”. Para ele também era uma abordagem nova que ele estava adotando.
O Eduardo Suplicy já surpreendeu algumas vezes cantando em locais inusitados ?
Ele canta até hoje "Blowin in the wind", ele gosta de cantar essa música, ele cantou em Piracicaba, em um evento nosso aqui. Ele terminou um curso de Macro economia, tinha acabado de vir do exterior, ele reproduziu o curso que teve lá, para nós. Foi um curso excelente de macroeconomia. Aprendi macroeconomia com ele. Ele terminou o curso dele com uma apostila “O Socialismo na China”. Isso em 1975. Todos os chineses usavam roupas identicas, todos andavam de bicicleta, Ele defendia isso com a gente. Por que nós aqui em São Paulo não andamos com a mesma roupa, mesmo sapato e de bicicleta? Ele defendia isso. Tentou mostrar que a partir dessa visão que ele tinha, de comunismo, em sua forma mais natural, onde é tudo igual para todo mundo. Que não era na verdade, as elites dirigentes não tem o padrão da massa. Aquilo também desperta-nos para alguma coisa.Você pode até concordar que dificilmente o mundo será aquilo.
Você teve aulas com mais  nomes conhecidos no cenário nacinal?
Tive,um deles foi Afonso Celso Pastore, isso na parte da economia, em administração tive aulas com os papas da administração no Brasil. Na GV fiz Economia de Empresas, tinha administração e Economia. Foi o primeiro do país nesses moldes. Em 1975 comecei a dar aulas também na UNIMEP onde permaneci até 1985.  Em 1976 passei a dar aulas também na GV onde dei aulas até 1989. Ai ingressei na UNICAMP onde me aposentei antes de ser prefeito.
Quando você entrou na política?
Eu ingressei na época do Francisco Antonio Coelho o “Coelhinho”. Eu estava na GV  e na UNIMEP dando aulas. Uma amiga, que tinha sido aluna na GV, foi trabalhar no UNIBANCO, mais precisamente no Banco de Investimentos do Unibanco. Ela disse que o UNIBANCO estava precisando de economista. Se eu não queria ver. Fiz um teste e passei. Fui trabalhar como Analista de Investimento do Unibanco, na Praça Patriarca vigésimo terceiro andar. Continuei dando aulas na GV, mas a noite. E sábado aqui em Piracicaba na UNIMEP. Alguém apareceu na GV e me convidou para ir para a Universidade Federal de Lavras. Era para dar aula de uma disciplina só, por um ano, “Você termina sua tese de mestrado, e nós o mandamos para os Estados Unidos para fazer PhD (Philosophiæ Doctor ou Doutor da Filosofia)”. Conversando com alguns amigos em Piracicaba, acharam que eu deveria permanecer aqui em Piracicaba e colaborar com o prefeito João Herrmann Neto que passava por uma fase desfavorável. Só não deixei a GV, onde dava aula a noite. Vim trabalhar com o prefeito. Poucos ou talvez ninguém saiba, mas criei o primeiro Varejão de Piracicaba.
Em que local?
Eu era Gerente do Programa Municipal de Abastecimento do governo João Hermann. Estudava os preços dos alimentos, o custo de vida de Piracicaba, junto com um colega, estudante da ESALQ começamos a estudar sobre o abastecimento de alimentos na cidade. Concluímos que para manter em um nível adequado teríamos que criar um varejão. O Prefeito João Herrmann Neto tinha como meta política, eleger-se deputado federal em 1982. Na vice-prefeitura estava José Aparecido Borghesi que assumiu a prefeitura. Eu e o Nelson de Oliveira Matheus Júnior, que é o engenheiro agrônomo achamos que o Largo da Sorocabana, onde hoje é o terminal central, na época, a noite era um local pouco aconselhável para freqüentar. A Estação da Estrada de Ferro Sorocabana estava abandonada. Disse que ali seria um bom local para fazermos um varejão. Fizemos uma limpeza do prédio, com o pessoal da SEMA, e fizemos o primeiro varejão de Piracicaba ali. Tínhamos contato com os atacadistas que estavam instalados no prédio do Matadouro Municipal. Fizemos o convite para participarem. Inauguramos com dois pontos de venda: o Mori que foi vender peixe e outro que não me lembro no momento. Lotou de gente! A cidade foi para lá! Não durou uma hora acabou tudo. Depois disso não conseguíamos atender a demanda de gente que queria colocar banca lá. Que era por preço  controlado por nós, Fazíamos uma pesquisa e no final da semana fixávamos o preço de tudo. O varejão continua existindo ao lado do terminal, não é mais na Sorocabana. O varejão trouxe benefício à população e ocupamos um espaço que estava deteriorado. Logo depois terminou o mandato do prefeito em exercício. O João Hermann foi eleito deputado federal, o Montoro ganhou as eleições, o Borghesi foi trabalhar no DAE e me levou, eu trabalhava no DAE, dava aulas na GV e aos fins de semana dava aulas na UNIMEP. Estava no DAE e fui para o Planejamento do Estado, antes passei um período na Secretaria de Saúde do Estado. Estava fazendo um grande programa chamado Programa Metropolitano de Saúde, que era para construir unidade de saúde na Grande São Paulo e fazer isso funcionar com financiamento do Banco Mundial. Isso foi em 1985, fiquei um ano na Secretaria da Saúde. O Secretário era o João Yunes. Após um ano fui para o Palácio dos Bandeirantes, trabalhar no planejamento do Estado. Peguei a área Social, olhar orçamento, para onde ia o dinheiro, Permaneci até ingressar na UNICAMP em 1989. Portanto fiquei no Estado de 1983 a 1989. Em 1995 o Barjas foi para Brasília para a Educação, com o Paulo Renato que era o reitor da UNICAMP, além de professor eu era assessor do Paulo Renato. Abriu o Planejamento aqui em Piracicaba, o Thame convidou-me para ser o Secretário do Planejamento. Em 1995 voltei para a vida pública. Antonio Carlos de Mendes Thame, estimulado por Ludovico Trevisan foi o primeiro prefeito no Brasil a fazer um negócio chamado Desafetação.
O que é Desafetação?
Você entra em uma favela, geralmente é área verde ou área particular, essa área é desapropriada, se for pública é uma área verde, é uma área comum à toda população da cidade, cede aquela área à população, cede vendendo, urbaniza, simultaneamente compra outra área em outro local da cidade. Semelhante àquela área. Nas mesmas dimensões e cria uma área verde em outro espaço. Começamos pelo Algodoal, tanto que hoje é um bairro. Para fazer a Desafetação precisa ter dinheiro para adquirir outra área, e fazer a infra-estruturar da favela já instalada. Essa idéia foi incorporada na Legislação Federal. Ai entrou como prefeito Humberto de Campos e eu continuei como Secretário do Planejamento. Eu tinha trabalhado na Secretaria da Saúde em São Paulo, fui Conselheiro e Presidente da Fundação Para o Remédio Popular, Minha tese de doutorado foi sobre Política de Assistência Farmacêutica. E fazia pesquisa na área de saúde da UNICAMP. Virei Coordenador Nacional desse projeto Reforço à Reorganização do Sistema Único de Saúde – Reforsus. Aplicava dinheiro em hospitais, equipamentos, unidades de saúde, no país inteiro. Eu tinha uma equipe de fiscalização. Além do Tribunal de Contas que iam em determinados locais verificar os resultados. Na época precisava de muito investimento, hoje você precisa de menos investimento e mais custeio. Inaugurei hospitais no Brasil Inteiro. Em locais que não tinha nada. Inaugurei Prontos Socorros enormes. Todos com equipamentos de primeira linha.  Eu tinha um grupo técnico muito bom: engenheiros, arquitetos, enfermeiras, era mais e 100 pessoas. Pessoal qualificadíssimo. Em 2002 terminou o governo, voltei para a Unicamp. Em 2008 fui convidado a ser Secretário da Educação em Piracicaba. Com pós-doutorado, anos de ensino superior, deparei-me com uma situação nova, tratar com crianças de 0 a 10 anos. Fui estudar. Até mesmo para falar a mesma língua das pedagogas. Passei quatro anos estudando educação. Tomei algumas decisões de mudar o padrão arquitetônico das creches, para que o ambiente em que as crianças fossem estar os deixassem satisfeitos, onde os profissionais fossem estar, seria o mais adequado possível. Criamos materiais novos, para despertar essa fase que chamamos de Primeira Infância. A fase mais importante da criança é essa. Ai tem a alfabetização, que é outra história. Também fui estudar esse assunto. Coloquei o currículo comum, não é cada escola dar o que quiser. Copiei do programa do Estado chamado “Ler e Escrever”. Pedi para eles mandarem os materiais. Fiz aqui e exigi que as nossas escolas adotassem esse método. O menino faz o primeiro ano em uma escola, o segundo ano vai para outra escola, tem que haver uma seqüência. Se der liberdade para para as escolas não haverá seqüência nunca! Eu sempre disse que não pode errar nessa fase de alfabetização! Como prefeito com a Secretária Ângela Corrêa, avançamos na formação dos professores.
Prefeito sofre?
Prefeito sofre! Todo prefeito quer resolver todas as coisas. Os recursos não permitem! Por mais que você tente não consegue. Além das criticas que recebe por algum motivo. O prefeito tem que eleger um conjunto de coisas e ter ciência de que essas são as mais importantes. O prefeito está sempre aprendendo, só que tem que eleger prioridades para quatro anos. Escolhi algumas: saúde foi a primeira; educação já estava como prioritária; importância ao meio ambiente. Tinha um plano pré-aprovado na cidade de corredores de ônibus. Quando deu a crise de 2013, a Presidente Dilma resolveu distribuir dinheiro para a mobilidade urbana. Arrumamos aquele pré-plano, um projeto maior. O governo do PT nunca deu dinheiro nenhum para Piracicaba. Fui para Brasília, quase não era recebido. O PT não nos recebia por ser do PSDB. Piracicaba foi discriminada, era um PSDB muito forte. Nesse caso em particular, quem tinha projeto? Piracicaba tinha! Recebeu a verba. A Avenida Renato Wagner ficamos discutindo um ano sobre as modificações, modelo a ser adotado, cada detalhe foi discutido. Foi uma recuperação fantástica, era um horror. Você não pode deixar nada fora, assistência social, o que esporte movimenta a cidade é impressionante. Cultura eu reestruturei, reergui a orquestra. Por sorte o Maestro Jamil Maluf apareceu. A orquestra se apresentava três vezes ao ano, colocamos mais dinheiro, a orquestra realiza uma apresentação mensal. Foi para Campos do Jordão pela terceira vez. As reformas feitas na Rua do Porto. A ponte pênsil antiga estava destruída embaixo. Ficou por um ano fechada. Reconstruí para durar mais 20 ou 30 anos. Terminei o Hospital Regional. Está funcionando com 25% da sua capacidade, a UNICAMP assumiu com verba do Estado.
Piracicaba é uma cidade de porte médio com crescimento acelerado, alguém já pensou em transporte de massa sobre trilhos?
Pensamos! Junto com o Lauro Pinotti que era diretor do IPLAP, há muita resistência de setores conservadores, além de que a implantação envolve muito dinheiro. O Lauro tinha boas idéias sobre veículo leve sobre trilhos (VLT). Entre pequenas, médias e grandes fiz 800 obras. Foram quase 200 quilômetros de recapeamento de ruas. Troquei todas as gramas das avenidas por grama esmeralda. É muito diferente a realização burocrática de uma obra do setor privado e do setor público. A primeira iluminação a led em Piracicaba foi eu que fiz, na Avenida Centenário. na Avenida Independência, na Avenida Renato Wagner. Dura dez anos aquela lâmpada. Em licitação às vezes entra uma empresa sem qualquer qualificação, abandona a obra, para recomeçar a obra é um cipoal burocrático. Há licitações em que não há nenhum participante. O Tribunal de Contas às vezes questiona por uma minúcia sem qualquer fundamento. A obra fica paralisada. A Prefeitura de São Paulo até hoje não saiu a licitação de ônibus, isso na quinta prorrogação. As pessoas em grande parte não sabem disso, imaginam que o prefeito faz tudo que desejar. O prefeito cumpre leis, burocracia, é obrigado a aceitar as críticas da sociedade, há uma série de constrangimentos. Eu levava serviço para fazer fim de semana em casa. São muitas reuniões, muitos eventos. Chega uma hora que é quase impossível estar presente em todos os lugares.
Algumas pessoas não entenderam porque em cada parada de ônibus foi retirado o asfalto e colocado concreto.
Permanentemente tinha que ser dada manutenção no asfalto, a partir do momento em que o piso onde o ônibus concentra seu esforço e peso sobre o concreto há mais resistência do piso. Os abrigos de ônibus, eram repletos de cartazes anunciando de tudo, coloquei uma plaquinha amarela avisando que incorre em multa de R$ 700,00 quem afixar qualquer tipo de propaganda. Criei novos abrigos, as pessoas em sua maioria não sabem, mas há muita insegurança nesses abrigos cujas costas são fechadas, não permitem a visão de quem pode estar atrás. Primeira observação: “Eu quero de vidro”. Todo mundo enxerga quem está ali. Segunda observação: “Arquitetonicamente bonito”. Terceira: “Eu queria vidro dos dois lados”. Para proteção da chuva e vento de ambos os lados. Não sei por que, eu já não estava mais na prefeitura, colocaram vidros de um lado só. Eu participava de todos os detalhes.
 
 

PEDRO MOTOITIRO KAWAI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 14 de julho de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO:  PEDRO MOTOITIRO KAWAI
Pedro Motoitiro Kawai nasceu em Piracicaba a 5 de março de 1971. Filho de Naoki Kawai (Pedro Fuji) e Inês Terezinha Furlani Kawai que tiveram ainda os  filhos: Cássia Kishino Kawai e David.Naoki Kawai sendo que este mora no Canadá. Pedro iniciou seus estudos no pré-primário do Colégio Dom Bosco, fez o curso primário no Grupo Escolar Dr. João Conceição onde a sua primeira professora foi Dona Abla. Estudou o ensino médio no Colégio  Estadual Dr. Jorge Coury, concluído fui para o Japão. Cursou Administração de Empresas.
O que o levou a morar no Japão?
Em 1992 tudo começou com o convite do pai do meu amigo André Nishimura que residia a uma quadra da Igreja Nossa Senhora dos Prazeres. Após termos estudado juntos no Grupo Escolar Dr. João Conceição, por um período de tempo fomos para escolas diferentes e nos reencontramos no Tiro de Guerra de Piracicaba. O meu sargento era o Celso. O sargento dele era o Rizatto. Logo após terminar o Tiro de Guerra o André foi para o Japão. O seu irmão mais novo, o Fábio também foi. De tanto o pai dele insistir acabei aceitando o convite.
Você falava japonês?
Nada! Cheguei sem saber falar nem “Bom dia!”. Na época tinha o professor de basebol muito atuante, o Sr. Chiriki Yoshii incentivou-me a estudar japonês aqui no Brasil, antes de ir para o Japão. Lá estudei japonês, para nós brasileiros é um idioma muito diferente. Eu também queria conhecer as minhas raízes. Quem acendeu essa luz foi o Sr. Chiriki. Por mais que eu freqüentasse a colônia japonesa em Piracicaba, desde criança, não é a mesma coisa. Os costumes japoneses aqui são muito abrasileirados. Já no Japão comecei a pesquisar, saber onde era a terra onde meus avôs nasceram meu tio Paulo tinha mais relacionamento com nossos parentes japoneses. Interessante que após  minha ida ao Japão muitos familiares também foram, minha irmã, duas primas, dois primos, meus tios Paulo, Kenji.
Você foi trabalhar em que setor?
Chegando lá fui trabalhar em uma fábrica de carros, a Subaru. A fábrica chama-se Fuji Juco. Trabalhei durante seis anos nessa fábrica. Fui para lá com 21 anos e solteiro. Lá conheci a minha esposa, Graciane Moreira Kawai.nascida em Bauru, a mãe dela é descendente de japoneses. Eu trabalha na montagem dos carros IMPREZA, ela também trabalhava na Subaru em Fuji Juco. Só que na montagem de motores, câmbios, em um galpão vizinho. Os brasileiros reuniam-se muito. Após alguns anos ela estava esperando nossa filha Luana Ayumi Moreira Kawai, e ela manifestou a vontade de dar a luz aqui no Brasil.
Aqui você passou a trabalhar em que área?
Fomos morar em Bauru. Fui trabalhar com copiadoras Xerox. Vendia máquinas, suprimentos, percorria toda a região de Bauru, São Manoel, Jau. Meu pai pedindo para voltar para Piracicaba. Ele tem uma vidraçaria na Paulista há 43 anos. Em meados de 2003 voltei para Piracicaba. Fui trabalhar com o meu pai na vidraçaria, que é o lugar onde comecei a trabalhar desde os 10 anos.
É um serviço perigoso para criança?
Extremamente! Na época meu pai era presidente da Casa do Bom Menino, e lá tinha oficinas de aprendizado: serralheiro, marceneiro, eletricista. Recentemente teve a comemoração de 50 anos da Casa do Bom Menino, fizeram uma exposição de fotos antigas, algumas fotos dessas oficinas, imagine um menino de 12, 14 anos trabalhando com uma serra circular, sem luvas, sem óculos. Na época era um procedimento considerado normal. Muitos amigos são hoje excelentes profissionais, graças ao aprendizado que receberam. A meu ver o perigo não está na profissão e sim em deixar a exploração acontecer. Na vidraçaria do meu pai eu não tinha tanto contato com vidro aos 10, 12 anos. Meu serviço era varrer a vidraçaria, atender ao telefone, quando mexia com vidro estava sempre monitorado. Na época havia quatro funcionários, sempre estavam por perto, nunca eu estava sozinho. Para cortar o vidro passava o diamante e tinha que bater na mesa para separar, isso eu já fazia. Infelizmente inúmeros casos, de exploração infantil, aconteceram no Brasil. Meu pai ensinou-me uma profissão.
Nossas legislações ou não existem ou quando são elaboradas são extremamente radicais?
Exatamente! Nós sabemos que temos que dar estudos, educação, saúde para a criança. Será que todos conseguem? Há aquele garoto com DNA que não quer saber de estudar! Nesse caso nem estuda e nem trabalha.
Os jogos eletrônicos hipnotizam crianças, jovens e até mesmo adultos.
Mas isso pode tornar-se uma profissão! Vejo de outra maneira, são novos tempos. Será uma profissão para alguns, para outros não. O mercado atualmente é muito dinâmico. Algumas das nossas leis têm que ser revistas. Estou com 47 anos, há 16 anos, quando voltei ao Brasil não havia essa enormidade de celulares, ainda compravam-se linhas convencionais, alugava-se. Quando iríamos imaginar que iríamos conversar com vídeo em qualquer canto do mundo, como se faz hoje? Há 20 anos internamente o Japão dava os primeiro passos nessa direção. A Copa está acontecendo na Rússia é como ali na esquina de casa! O mundo ficou pequeno, a dinâmica mudou!
Você chegou a brincar rodando pneu de automóvel pelas ruas?
Quando eu era criança era uma brincadeira normal, assim como o “arquinho”, uma pequena roda de borracha direcionada por uma haste de ferro.
Imagino que se um garoto hoje rodar pneu, arquinho, como brincávamos irá ser encaminhado ao psicólogo!
Exatamente! Eu era um “zero à esquerda” com esse arquinho! A meu ver temos que modernizar a legislação. Para a nossa realidade. Hoje não posso mais imaginar que o Estado tem que defender com unhas e dentes. Seria o papel do Estado, só que ele não tem condições! A família terceiriza a educação dos seus filhos através dos professores. Estamos com leis avançadíssimas, próprias de uma Dinamarca, para uma realidade completamente diferente, para um país continental, uma desigualdade social gigantesca. Temos o exemplo da lei de Diretrizes Para a Educação Básica, fizeram um escopo, para o Brasil inteiro se não houver a regionalização, que é o que está acontecendo, cada região ter o seu critério local, não irá funcionar. Um presidiário atualmente custa R$ 28.000,00 por ano e um aluno R$ 2.000,00 por ano. O único caminho para melhorar uma nação é a educação! Veja os países orientais: o Japão foi destruído por duas guerras, ressurgiu das cinzas através da educação. Um país que compra tudo: petróleo, comida, bebida, vem tudo de fora. Coréia é a mesma coisa. China é a mesma coisa. Quando eu trabalhava no Japão, a China mandava trabalhadores para o Japão, o governo chinês subsidiava uma parte do pagamento deles, o salário de um brasileiro pagava quatro chineses. Eles ficavam um ano na Subaru, voltavam para a China para aplicar o que tinham aprendido no Japão. Isso não era só na fábrica de carro. Aonde você andava tinha chinês: fábrica de computador, eles estavam em todos os lugares.
A relação Japão e China era meio antagônica?
Acho que não. O Japão aprendeu que não adianta ficar em conflito. O povo japonês é muito pacato, conciliador.
Ao regressar ao Brasil você trouxe experiências culturais vividas no Japão?
Esse renascer da cultura japonesa que se deu comigo, fez com passasse a participar ativamente das atividades do Clube Nipo Brasileiro (Clube Cultural e Recreativo Nipo Brasileiro de Piracicaba CCRNP), em um dos eventos o Deputado Mendes Thame disse: “Precisamos ter um candidato da colônia japonesa”. Disse-lhe “Imagine Thame! Nem pensar!”. Ele ficou 2003 martelando, martelando, até que aceitei. Em 2004 saí candidato, pelo PSB, fiz 543 votos. Meu pai pegou no meu pé: “Dos 543 votos que você teve, 250 são meus, estão achando que sou eu o candidato!”. Não fui eleito, na nossa chapa foi eleito o saudoso Chico D`Água. Uma das bandeiras dessa campanha era a revitalização da Estação da Paulista. Ela estava totalmente abandonada ha mais de 20 anos, tornando-se um local inapropriado para ser freqüentado. Combinei com Barjas Negri, se você for eleito vamos restaurar aquele espaço. Após a eleição dele, muitos projetos, a Estação da Paulista é o que é hoje: Três centros culturais, uma pista de caminhada,  ‎playground, é um cartão postal da cidade. Assim que ele começou a reforma ele me chamou para ser um dos diretores de lá. No começo de 2006 foi inaugurado o primeiro espaço que é a “Estação Idoso José Nassif”, acompanhei a construção da pista de caminhada, restauro do Pacheco, restauro do Maria Dirce, que é o Pólo Musical, em 2008 sai candidato de novo. Pulei de 543 para 1200 votos. Também não fui eleito. Já estava no PSDB. Graças a Deus em 2012 fui eleito com 2243 votos.
Quando você entrou na Câmara Municipal, no primeiro dia, após ter sido eleito, qual foi a sua sensação?
Teve a diplomação no Tetro Municipal, depois foi a posse, a eleição da mesa no Salão Nobre, foi tudo tranqüilo. A primeira vez que sentei naquela cadeira de vereador, na segunda fileira, terceira cadeira da direita para a esquerda, onde hoje está o Johnson, quando eu sentei-me ali, veio um arrepio, virei para a platéia, estava lotada, 23 vereadores tomando posse, família de todos, até então estávamos olhando o telão, de costas para o publico, quando virei a primeira pessoa que vi foi a minha filha, na porta com a minha esposa. Pensei: “Nossa e agora? Agora sou um homem público!”. Cheguei onde pensava em chegar. A responsabilidade é muito grande. Por dois motivos: a primeira grande responsabilidade é o nome que eu carrego, muito forte, meu pai com a questão do Bom Menino, a APAC Associação de Proteção e Assistência aos Condenados, o envolvimento social do meu pai é impressionante, sua honestidade. E minha  mãe com sua fé e  participação religiosa. O segundo motivo muito forte é o fato de ser o primeiro descendente de japoneses a ser eleito como vereador em Piracicaba. Isso tudo me ocorreu quando sentei naquela cadeira pela primeira vez. “Que peso!” pensei. Confesso que até hoje é muito pesado.
Diz a lenda, que em algumas casas de leis, há composições entre os representantes para aprovações de projetos. Isso ocorre? 
Nesses dois mandatos que exerço, a grande virtude dessa Casa, foi que não precisei em nenhum momento articular para ter algum benefício, ou alguém veio articular comigo para que não fosse em benefício da comunidade. Recebi propostas indecentes de fora para dentro. De pessoas que conhecem minha articulação política.
Você e a vereadora Márcia Pacheco foram destaques em um momento histórico que a Câmara viveu recentemente.
Sou muito autêntico. A Márcia Pacheco e eu fomos a favor da revogação do Título de Cidadão Piracicabano dado ao ex-presidente Lula. (O ex-presidente tomou conhecimento das discussões que ocorreram, na Câmara de Vereadores, a respeito do Título de Cidadão Piracicabano que foi outorgado a ele em 2013 e não entregue.). Há umas tramitações para tirar o título dado a José Serra, eu acho que tirar título não é o caminho, se foi aprovado pela Casa é um demérito. Porque vou quebrar uma coisa que a Casa aprovou? Quando foi proposto o título para o Lula fui contra, não me convenceu de que ele merecia o título. O que tem que ser muito claro é que o Título de Cidadão Piracicabano tem que ser dado para a pessoa que de fato mereça. Às vezes o vereador até erra em conceder um título.
O vereador deve ser informado sobre pequenos problemas que incomodam a população?
Eu preciso desse tipo de informação, o vereador precisa disso, não é trabalho do vereador tapar buraco, cuidar do corte de árvore, semáforo, mas é serviço público, cabe ao vereador contatar o secretário do respectivo setor. Por exemplo: “O meu tio está internado na UPA da Vila Cristina e precisa de uma vaga no hospital X”, ai não é papel do vereador. Quem tem que fazer isso é o médico. O que o vereador faz é acompanhar. Ligar para a central de vagas, saber se está sendo bem atendido na UPA. O nosso papel é cobrar o bom atendimento do serviço público.
Como você vê o Rio Piracicaba antes do mirante?
É uma visão maravilhosa! È a região da Avenida Renato Wagner. Sempre passava pela Avenida Renato Wagner, quando trabalhava com meu pai na instalação de vidros, toda vez que trabalhávamos na Vila Rezende, Santa Rosa, voltamos pela Renato Wagner ou pela Rua do Porto. Sempre margeando o Rio Piracicaba, sou apaixonado pelo nosso rio. Eu não imaginava a visão do Rio Piracicaba que a Avenida Renato Wagner tinha. Maravilhosa! Com os recentes melhoramentos paisagísticos ali realizados ficou digno das grandes e belas cidades do mundo. Piracicaba é linda e está sendo bem administrada, nos últimos 20 anos ela foi bem administrada sim. Três mandatos do Barjas e um mandato do Gabriel são quatro mandatos de economistas. Que entendem de recursos. Piracicaba é o pólo da região. Quem não tem atendimento em Americana, Santa Bárbara D`Óeste, Saltinho, Rio das Pedras, Rafard, vem para cá. Indiretamente Piracicaba atende a 56 municípios.
Piracicaba pode ser considerada Região Metropolitana?
Já comporta. Não sei como está na Assembléia, mas está sendo transformada de Aglomerado Urbano em Região Metropolitana. De 2014 pra cá foram mais de 30.000 pessoas que saíram do plano privado de saúde e vieram para o público. Provavelmente esse mesmo número deve ocorrer na educação. Esses números são de Piracicaba, não estamos considerando a região. Piracicaba tem aproximadamente de 400 a 450 mil habitantes, isso representa que quase 10% da população estão migrando para o atendimento público. Piracicaba é muito bem administrada, consegue pagar seus salários em dia, paga seus fornecedores em dia, consegue investir um pouco, tem um trabalho de articulação política dos vereadores e do prefeito com os deputados que tiveram votos aqui na última eleição, para vir recursos. Tanto é que só agora no final do primeiro semestre nós aprovamos projetos por volta de 25 milhões, sendo 90% da Saúde Pública.  
O que faz um vereador?
Oficialmente o vereador faz leis e fiscaliza o Executivo. Esses são os dois principais papéis do vereador.
Essa fiscalização do Executivo é feita de que forma?
Atua no dia a dia, acompanhando obras, execução, orçamentos. O Prefeito para realizar alguma coisa tem que atender a três leis orçamentárias: Lei Orçamentária Anual; Diretrizes Orçamentárias e Plano Plurianual. Se o Prefeito propõe na Lei Plurianual construir uma creche por ano, tem que cumprir. O grande problema do poder público? É que ele trabalha com perspectiva de orçamento. O Executivo trabalha com perspectiva de orçamento: “Eu acho que vou ter R$ 1.600.000,00 em 2018.”. Se acontecer algum fator inesperado a arrecadação prevista cai para R$ 1.200.000,00. E daí onde irá ser cortado o orçamento? Daí entra na Lei Anual, tem que mudar as leis.
Há diferença de tratamento por parte da União com relação a pequenas cidades e cidades maiores?
O bom de cidade pequena, se pode ser chamado de bom, é que consegue um recurso maior do Governo Federal do fundo de participações de municípios. Brasília arrecada 60% de todos os recursos. Cidades que teoricamente se sustentam recebem menos recursos do que cidades menores.
Quanto ao voto distrital é uma boa medida?
Acho interessante quando se trata de nível estadual e federal. Sem citar nomes, temos um candidato que veio à Piracicaba, teve 6.000 votos e nunca mais voltou. E não trouxe um centavo para Piracicaba. Na realidade foram dois deputados federais. Fizemos projetos, emendas, o prefeito mandou os projetos, não veio nenhum centavo. Piracicaba e região têm que votar em candidato daqui, ele irá defender Piracicaba e cidades vizinhas. Acho que deve haver troca, toda troca tem seus prós e contras. Não adianta trocar sem qualidade. Tem que filtrar, ver o que é bom e o que é ruim. Hoje o Brasil passa por um momento em que necessita separar o joio do trigo. Muitos desacertos que estamos assistindo é por causa do comodismo e dos acordos que se faz durante anos. A mais importante reforma que tem que ser feita é a política. Temos deputados eleitos com um milhão de votos e outro eleito com quinhentos votos.
Há muitos dinossauros ocupando cargos políticos?
Há e muitos. Eles já amarraram muitas pessoas. O Brasil precisa ter urgentemente uma revisão dos cargos comissionados. Não pode se pagar uma fortuna para alguém que não tem nenhum conhecimento para ocupar o cargo.
Falta educação política, sem partidarismo, na própria escola?
Falta! O espírito de cidadania. Conhecer seus direitos e também seus deveres. Uma coisa básica, veja o público,  existe a lei de que quando é tocado o hino nacional, todos que possam devem levantarem. Quantas vezes vimos isso acontecer nos jogos da Copa na execução do Hino Brasileiro? Quando eu tive Educação Moral e Cívica, e veja, não estou falando de educação partidária, aprendíamos conceitos de cidadania. Hoje temos de forma velada em algumas universidades uma educação partidária, seja A ou B. O Brasil não pode ser levado ao radicalismo, ele tem que ter uma educação neutra. Tem que saber que existem a esquerda, a direita e centro. Você escolhe lá na frente.
Como estão nossos jovens?
Pergunte a um jovem se ele sabe por que é feriado nacional? Isso serve para qualquer data. Temos que começar a trabalhar a ética, o comprometimento desde a infância, assim como os escoteiros trabalham. Tem que estar enraizado, acabar com o “jeitinho” brasileiro. Extinguir a “Lei de Gerson”.
Há uma afirmação filosófica de que “O corrupto não se conserta, ele aprimora seus métodos”
Infelizmente é verdade.
Hoje você participa de alguma entidade?
Sou Diretor Social do Clube Nipo Brasileiro, Diretor Social do Lions Cruzeiro do Sul.
O seu pai trabalhou muito para a comunidade.
Eu cresci vendo isso, portanto acho natural a participação nas mais diversas comunidades. Uma das imagens marcantes da minha infância, meu pai trabalhou na fundação da APAC- Associação de Proteção e Assistência ao Condenado uma imagem corriqueira era ele entrando na então cadeia existente na Rua São José, tinha uma porta de aço, com um visor aberto, eu via aqueles braços, com as mãos para fora das grades, cumprimentando meu pai. Ele ia lá no fundo do corredor e lia o Evangelho para os detentos.
Temos que mudar o sistema carcerário do Brasil, verdadeiras masmorras medievais.
Urgente! O ser humano tem que trabalhar produzir, sentir-se útil. Por exemplo, há carência de restauradores. Eles têm enormes condições de concentração! Restaurar uma obra. Hoje o grande problema enfrentado pelo sistema carcerário é o aumento da população feminina, aumentou em 60%.  População masculina aumentou 25%. Se é a população feminina que está aumentando é focado nela que temos que iniciar o trabalho.
E os sistemas preventivos como câmeras em locais estratégicos?
A exemplo de Limeira, onde denominam de “Muralha Inteligente”, Piracicaba instalou câmaras em locais previamente estudados. São câmeras de última geração, chamadas de Câmeras Inteligentes.
Está ocorrendo que uma série de serviços inerentes a União e ao Estado estão sendo passados ao município?
A União arrecada verbas, distribui ao governo estadual e aos municípios. Só que serviços que antes eram prestados pelo governo estadual ou pelo governo federal foram repassados ao município, com o importante e essencial detalhe, sem a verba correspondente. O município que se vire! Muito se discute sobre a vaga integral. A obrigação para as crianças a partir de quatro anos não é a vaga integral, é dar a vaga. A mãe precisa trabalhar. Só que não conseguimos dar 6.000 vagas em período integral. Nascem 6.000 crianças por ano, daqui a quatro anos vou ter que ter vagas para aquela criança nascida há quatro anos e mais 18.000 crianças nascidas nos três anos seguintes. É humanamente impossível o Estado atender tudo sozinho. O fato de trabalhar com Previsão de Orçamento já é um fator variável. Há previsão, mas não a certeza de que haverá verba.
Qual é a saída?
Acatando o pensamento de um sábio e ponderado amigo, o que temos a fazer no Brasil é potencializar o que temos de melhor. O que está errado nós já sabemos. Está a vista. Tirar da frente o que está ruim e potencializar o bom. Fortalecer o bom. O mundo inteiro tem problemas, não ocorre só no Brasil. Porém também temos políticos bons, médicos bons, bons professores, chegou a hora do limão fazermos a limonada. Precisamos potencializar o bem! Temos que fortalecer a gratidão!
Você participa de carnaval?
Já participei muito. Eu era da Caxangá como diretor de harmonia e diretor de barracão. Comecei a participar do carnaval de Piracicaba quando o Massao era diretor , construía carro alegórico, tem uma passagem que nunca vou esquecer, o enredo da Escola Caxangá falava das lendas brasileiras, e falava do boto, construímos um carro alegórico em forma de boto. O Massao é perfeccionista, nós já estávamos no finalmente, colocando os espelhinhos, era sábado, as seis horas da tarde, nós íamos desfilar no domingo, ele chegou e disse: “Esse carro não vai para a rua!”. Pegou um martelo e quebrou o boto inteiro. Disse: “Ou vocês refazem esse boto ou agora não vai mesmo!”. De bravo pegamos e refizemos, começamos as nove horas da noite do sábado quando foi sete horas do dia seguinte estava pronto. Ele disse: Agora está com cara de boto!” Teve muita gente boa que passou pela Caxanga: Breda Paulistinha, Luiz Previatti. Na bateria tinha Beto Aversa, Gilson ABC, Carlão ABC foi figurinista por muitos anos. O Gilson toca muito, conhece muito de música.   

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