domingo, setembro 09, 2018

ALICE DAS DORES DIAS CARMO ( 100 anos de vida)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de agosto de 2018 

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ALICE DAS DORES DIAS CARMO 
                                 ( 100 anos de vida)

 

No sábado, dia 14 de julho, Alice das Dores Dias do Carmo, recebeu em sua casa mais de 60 pessoas, familiares amigos. Muitos percorreram centenas de quilômetros só para prestar uma homenagem à Alice. Moradora de um chalé, no Lar dos Velhinhos de Piracicaba, Primeira Cidade Geriátrica do Brasil, Alice ganhou uma bela fotografia com moldura do Presidente do Lar dos Velhinhos, Dr. Jairo Ribeiro de Mattos. O seu quarto parecia quarto de noiva tal o número de presentes que recebeu.  O que causa admiração em Da. Alice é a sua saúde física e mental. Atualizada, sempre disposta, falante, ainda faz crochê, tricô, meias de tricô, sem emendas, usa duas ou quatro agulhas de crochê simultaneamente, faz para seus familiares. E ainda consegue ter tempo para fazer peças que doa a quem necessita. Tem o seu filho Alberto, que está sempre ao seu lado. Isso não a impede de utilizar o fogão fazendo quitutes.
A senhora nasceu em qual cidade?
Nasci em São Paulo, no Bairro Bela Vista, a Rua Manoel Dutra esquina com a Praça 14 Bis. O Bairro era chamado também de Bexiga.  Filha de José Pedro Dias e Tereza de Jesus Dias Ambos eram nascidos em Portugal, só que se conheceram no Brasil. Meu pai veio muito jovem de Portugal, calculo que veio com vinte e poucos anos. Ele casou-se com vinte e quatro anos. Ambos eram da província de Trás-os-Montes. Ela nasceu em Bolsendi e ele nasceu em Bagueixe.
Quando a senhora era criança já havia túnel na Avenida Nove de Julho?
O Túnel da Avenida Nove de Julho foi inaugurado em 1938. Foi o início da migração do nordestino para São Paulo, estava sobrando emprego. O túnel foi feito com homens cavando com água até o joelho. Havia uns quinze a vinte burrinhos tracionando umas caçambas, os burrinhos vinham um encostadinho no outro, saiam do túnel, os meninos de 14 a 15 anos recolhiam a terra e enchiam a caçambinha, os burrinhos circulavam onde hoje é a Faculdade Getúlio Vargas, iam até a esquina onde hoje é a Rua Manoel Dutra com a hoje Praça 14 Bis. A praça era muito baixa, ali eles descarregavam a terra. Os burrinhos voltavam novamente até o túnel, e assim foi. Eu morava na Rua São Vicente quando assisti a inauguração do túnel. Foi uma festa muito bonita. Do lado da Faculdade Getúlio Vargas existem duas fontes luminosas, ali os trabalhadores faziam umas barraquinhas de madeira, eles mesmos cozinhavam, lavavam a sua roupa, e ainda mandavam dinheiro para o norte. Quase nenhum sabia ler, e meu pai tinha um salão de barbeiro na Rua Manoel Dutra, quase na esquina da Praça 14 Bis. Ali o meu pai lia as cartas deles e orientava, naquela época tudo que eles viam os camelôs vendendo achavam que era feito com ouro. Eles diziam “Seu Zé isso aqui é ouro?”. Meu pai dizia: “Não compre!”. Eles perguntavam: “Por que, mareia?”. (Mareia no caso é oxida, escurece). Meu pai dizia para não comprarem esses relógios. Meu pai aprendeu a consertar relógios com quarenta anos. Trabalhava durante o dia no salão de barbeiro, a noite vinha para casa e consertava relógios. Conservo até hoje a sua lente de relojoeiro.
Quantos filhos seus pais tiveram?
Eu e meu irmão Alberto que faleceu com 30 anos.
A senhora estudou inicialmente em qual escola?
Estudei em um colégio muito bonito, na Avenida Rangel Pestana bem em frente à Rua do Hipódromo. Inicialmente, foi chamado de Primeiro Grupo Escolar do Brás passando depois a receber o nome de Grupo Escolar Romão Puiggari. Não pude continuar os estudos, em 1932 veio uma crise, meu pai perdeu tudo! Tínhamos casa de móveis na Avenida Celso Garcia, 56, em frente a Rua Joli, entre a Rua Bresser e a Rua Progresso. Èramos vizinhos ao Cine Braz-Polyteama, em frente estava o Cine Progresso. Foi no período da Revolução de 1932, não havia emprego, não havia nada. Morávamos em uma casa grnde, boa, fomos morar em uma casa composta por um quarto e a cozinha. Os móveis que tinhamos foram guardados nas casas de amigos, cada um levou um pouco. Dali fomos morar na Avenida Nove de Julho do lado de lá do túnel, não havia ainda o Túnel Nove de Julho. Do lado de lá chamava-se Rua Salvador Pires, entre a Alameda Jaú e Alameda Lorena. Do lado esquerdo da Avenida Nove de Julho no sentido de quem vai do centro para o bairro, havia chacaras de flores. Até ha pouco tempo entre a Alameda Lorena e a Rua José Maria Lisboa havia casas no estilo germânico. Eu trabalhei lá! Meu irmão com 1 ano e 8 meses sofreu paralisia (poliomelite). Ele era um moço muito bonito, a parte do tronco não desenvolveu. Eu disse ao meu pai: “Vou trabalhar, e o Alberto, como tem esse problema físico precisa de um serviço mais leve”. O Alberto acabou de estudar no Grupo Escolar Rodrigues Alves, na Avenida Paulista, essa escola existe até hoje.
A senhora foi trabalhar em que lugar?
Fui trabalhar na Rua Íris, com um casal que veio da Holanda, trouxeram uns fogõezinhos chamados “Jacarézinhos” funcionavam com querosene. Depois minha mãe comprou um. Como eu era uma menina muito comportada, naquele tempo já havia as “periguetes”, fui admitida. Na Avenida Nove de Julho tomava o bonde Jardim Paulista que tinha o número 45. Bonde aberto. Mais tarde é que veio o “Cara-Dura” que era o que carregava verdura dos verdureiros. A passagem custava um tostão ou seja 100 réis. O outro bonde era 200 réis. O “Cara–Dura” dos verdureiros ia da Praça da Sé até a Penha, Belém, Belenzinho, era o reduto dos verdureiros. Os verdureiros punham um saco de verdura e pagavam um tostão. Antes de ir trabalhar com os holandeses na Alameda Lorena tinha um casal que tinha dois filhos uma menininha e um menininho, fui tomar conta deles.
Que idade a senhora tinha? 
De 13 a 14 anos. Depois é que fui trabalhar com os holandeses, pegava o bonde e ia até o ponto final do bonde Jardim Paulista que era próximo a casa do Dr.Philippe Aché, proprietário dos Laboratórios Aché. Uma amiga nossa foi trabalhar na casa do Dr. Aché, era revestida de pedra, uma casa muito bonita. Em Portugal minha mãe pegou reumatismo nas mãos. Em dezembro lá cai neve e é tempo de colher castanhas, eram colhidas a mão. Hoje as máquinas fazem esse trabalho. Essa moça, nossa amiga, falou com o Dr. Aché sobre o reumatismo da minha mãe. Ele disse para ir ao seu laboratório que ficava na Liberdade. Eles arrumaram remédios para a minha mãe.
Que tipo de trabalho a senhora fazia na empresa do casal holandês?
Meu serviço era sentar com uma tabuinha no colo, em cima da tábua um papel celofane, tinha torradas holandesas dos dois lados, eu pegava cinco de cada lado, colocava sobre o papel e passava cola. Meu serviço era esse, enrolar as bolachas. Tinha uns biscoitinhos chamados switchback. Eles viam que eu levava lanche, mas eu não era costumada a comer lanche. O holandês disse a sua mulher para fazer um pouco mais de comida e me dar um prato. Meu pai descia de bicicleta para economizar 400 réis das passagens de bonde. Uma vez estava chovendo e o meu pai foi até o ponto final do bonde, tirou o seu paletó e colocou nos meus ombros, subi no bonde. Veio o condutor (Era o nome dado ao cobrador de bonde). Disse ao meu pai: “- O senhor não pode tomar o bonde sem paletó”. Meu pai explicou que tinha oferecido o seu paletó para sua filha, para proteja-la da chuva. Meu pai teve que descer do bonde!
A seguir qual foi a atividade profissional do seu pai?
Um português, natural de Trás-os-Montes que tinha vindo ao Brasil junto com o meu pai cada um tinha seguido um caminho, agora se encontraram, o reduto onde os portugueses se encontravam era na Avenida Tiradentes esquina com o quartel atualmente da Rota- Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar. Esse amigo disse: “Olha Zé Pedro, eu tenho um bar e o armazém é muito grande, eu vou dividir com madeira, você põe uma cadeira de barbeiro para começar a trabalhar”. Meu pai cobrava, como se fosse hoje, 50 centavos para fazer uma barba, para cortar o cabelo, 1,00 real, em dinheiro da época eram 10 tostões! Ali o meu pai ficou uma temporada. Meu tio morava na Bela Vista, na Rua Manoel Dutra. Lá faleceu o proprietário de um salão de barbeiro, que por acaso era amigo do meu pai. Meu pai falou com a viúva, a Rosinha e disse-lhe: “Olha Rosinha, eu não tenho dinheiro agora, soube que seu marido faleceu, eu queria comprar o salão”. Ela disse-lhe: “Você fica com o salão e conforme for ganhando vai me pagando!”. E assim foi, ele já abriu um salão melhor. Passamos a morar na Rua Manoel Dutra. Ali moravam umas moças que trabalhavam em uma esquina na Rua Frei Caneca,92. Quase na esquina da Rua Caio Prado. Era uma fábrica de toalhas chamada Define Frasca, eram dois sócios e cunhados. Fui trabalhar lá, me colocaram para trabalhar em uma sala onde vinham rolos de toalhas. Um rapaz apanhava o rolo e colocava sobre uma mesa enorme, meu serviço era dobrar as pontas das toalhas, eram largas, toalhas de banho, a cada 2 metros eu apertava um pedal que marcava na toalha “Indústria Brasileira”. Um outro rapaz ia enrolando as peças marcadas. Permaneci nessa empresa por quatro anos. Seu Vicente Defini via que eu levava café em uma garrafinha de Magnésia Bisurada, eram uns vidros azul marinho. Na fábrica havia uma caldeira onde esquentavam a água para tingir as peças de pano, colocávamos o café sobre aquilo, esquentava como se fosse em banho-maria. O Seu Vicente sempre pedia um pouco do meu café. Após quatro anos a fábrica mudou-se para Mogi das Cruzes. Meu pai não deixava trabalhar longe. Éramos três amigas, nossos pais portugueses, barbeiros! Elas eram portuguesas, nasceram lá e vieram para cá.
Conseguiram arrumar outro emprego?
Arrumamos na Rua Augusta, quase na Rua Costa, era como se fosse um barracão, só tinha seis teares. Ali trabalhei por quatro anos, quando ele faliu. Aonde tinha sido a fábrica de toalhas, abriu uma fábrica chamada Santa Terezinha, acho que ainda existe na Vila Formosa. O chefe era muito exigente, não aceitavam moças que iam pedir emprego na porta da fábrica. No Morro dos Ingleses tinha uma série de casas de árabes, a família Maluf tinha uma casa enorme. Um amigo nosso trabalhava em uma vidraçaria e ele foi lá na casa do Maluf, os banheiros eram inteirinhos de espelhos! Como ele era uma pessoa bem vista nessa casa ele pediu para o Sr. Maluf se me arrumava serviço. O Sr. Maluf disse: “-Mas eu não conheço essa moça!”. Esse nosso amigo disse que se responsabilizava. O Sr. Maluf deu um cartão, disse para levar na Fábrica Santa Terezinha. O porteiro quando viu o cartão chamou a chefe. Eles me aceitaram na hora. Trabalhei um ano e meio lá e eles mudaram para Vila Formosa.
O que aconteceu?
Como o prédio era muito grande, uma parte foi vendida para João (Jean) Nicolau. Ele era mocinho ainda, solteiro, subia em cima dos teares, com a azeiteira na mão, azeitando os teares, quando aquele serviço deveria ser feito por um mecânico. Trabalhei lá por dez anos. Lá que conheci meu marido Roque Pedroso do Carmo, natural de Cotia, tivemos dois filhos: Alberto Dias Pedroso do Carmo e José Antônio Dias Pedroso do Carmo. Quando ele entrou eu já trabalhava lá, ele entrou como ajudante de contramestre.
Como vocês começaram a namorar?
Foi muito interessante! As grandes fábricas tinham uma área de iluminação com vidros na cumeeira (Parte mais alta do telhado no encontro de duas águas). Um dia estávamos trabalhando, de repente começou a escurecer demais. Parecia noite. Começou a trovoar, veio um temporal tão grande, aqueles vidros quebraram-se todos. Embaixo eram rolos enormes, 200 quilos cada um, eram rolos de ferro com seda enrolada. Quebrou tudo. Cada um corria sem saber para onde. Sei que quando acabou a chuva o meu marido estava perto de mim, me abraçando, tinha moça ajoelhada, dali em diante começamos a namorar. Isso foi no dia de São Judas Tadeu, dia 28 de outubro de 1949, namoramos por três anos e casamos dia 14 de fevereiro de 1952 no civil e dia 16 de fevereiro de 1952 na Igreja Imaculada Conceição quase na esquina da Avenida Paulista com a Avenida Brigadeiro Luiz Antônio. Meu filho Alberto estudou dez anos naquele colégio. Quando nasci fui batizada na Igreja do Divino Espirito Santo, na Rua Frei Caneca.
O Bexiga tinha muitas personalidades da música, esporte.
Um deles é o Ministrinho! Nunca se ouve falar dele! Era como são hoje Maradona, Neymar. O nome dele era Pedro Sernagiotto nasceu em São Paulo a 17 de novembro de 1908  faleceu em São Paulo a 05 de abril de 1965, conhecido como "Ministrinho", foi um futebolista ítalo-brasileiro e um dos mais importantes jogadores da história do Palmeiras no período em que a equipe se chamava Palestra Itália. Ponta-direita, em 1929, foi considerado o jogador mais popular da cidade de São Paulo, por meio de uma votação promovida por um jornal da época. Ministrinho foi descoberto pela diretoria do Palestra Itália jogando futebol nas proximidades da Rua Augusta, onde nasceu e passou a infância. O Ministrinho era “sapateiro-remendão”tinha sua loja de consertos de sapatos na Rua Augusta esquina com a Rua Antonia de Queiroz. O Ministrinho carregava as bolas, quando iam jogar de um lado para outro, punha as bolas em um saco e levava de bonde, pagava 400 réis de bonde. A família dele morava na Rua Frei Caneca esquina com a Rua Penaforte Mendes. Ele depois de ganhar nome no Palmeiras , era querido. Acho que ele deveria ser mais lembrado. Depois que ele encerrou a carreira como profissional é que passou a trabalhar como sapateiro-remendão, bem em frente onde meus filhos estudaram, eles mantém amizades até hoje, muitos vieram aqui no dia do meu aniversário. Tenho o número do telefone de todos eles.
Após casarem  a senhora e seu marido foram trabalhar onde?
Meu marido quando solteiro morava na Rua Voluntários da Pátria, em frente a fábrica Klabin dali ele tomava um bonde até a cidade, depois tomava outro bonde até a Penha, Lá tomava outro bonde até a fábrica onde trabalhava. A Jean Nicolau mudou-se adiante da Penha. Meu marido foi trabalhar lá, eu não fui. Na Bela Vista não tinha mais fábrica. Eu tinha uma amiga que morava em Moema em frente a Igreja Nossa Senhora Aparecida, o seu marido disse que ali nas proximidades havia uma fábrica. Decidimos ir até lá. Tomava-se o bonde Santo Amaro, amarelo, fechado. Quando chegava de um ponto ao outro apitava. Eles falavam de uma estação à outra. Parecia trem. O bonde passava no meio da rua. Dos lados da rua tinha como se fosse uma cerca de arame, até com plantas. Só nas ruas em que podia se travessar havia uma catraca. Carros só atravessavam em determinadas ruas. O condutor andava pelo meio do bonde cobrando dos passageiros.
Como foi a recepção na fábrica?
Chegamos, era um prédio muito bonito, com a bandeira brasileira, o porteiro fez o mesmo discurso “Aqui não aceitamos funcionários que vem pedir emprego, quem é bom funcionário quando sai de uma empresa já está empregado em outra.”
Nós dissemos que conhecíamos os Sr. Armando Crema.
O Armando Crema era amigo da fábrica que trabalhamos na Rua Augusta. O porteiro o chamou, quando ele me viu disse-me Bimba! Porque sempre fui magrela. Eu disse-lhe: “Seu Armando, estamos vindo lá do Seu Pedro Saboldi. Ele disse: “Ce finito”. Disse-lhe que queríamos trabalhar, ele perguntou quantas éramos. Disse-lhe: “Por enquanto somos três!” Isso foi no dia 30 de abril. Ele disse: “Dopo domani (depois de amanhã) não pode porque é Primeiro de Maio, mas depois pega a tesourinha e vem”. E assim foi. Eu já namorava com o meu marido. Ele foi trabalhar lá nos cafundecos! No primeiro ano as minhas amigas foram para a Argentina, passar as férias lá. A mestra de lá tinha família na Argentina. Mas antes de irem o Seu Armando falou para uma delas: “Onde vocês trabalharam não tem um ajudante de contramestre bom?” A Helena Levolo disse que tinha sim, só que elas estavam indo para a Argentina. Ele disse para quando elas voltassem falassem com ele. Passados uns 15 dias ele me disse: “Bimba, a Helena me falou que tinha um ajudante, ele é bom?”. Disse que era, se quisesse eu o levava no dia seguinte. Meu marido foi jantar em casa, eu disse-lhe: “Amanhã você não vai trabalhar, vai encontrar comigo lá”. Meu marido tinha 1,64 metros de altura. Depois de um mês que o meu marido estava lá, o mestre geral chamado Antônio Capellordi,  disse: “Seu Armando, o fulano não é ajudante, ele já é contramestre!”. Na mecânica meu marido era maravilhoso. A meninada me torricou a vida, porque eu era mais velha do que ele 7  anos. Todas meninas novas, ficamos 56 anos casados! Depois de um mês já era contramestre, Quando me casei eu ganhava 2.500,00 e meu marido 2.000,00 no dinheiro da época. Acabamos levando para a empresa de 10 a 15 amigas que trabalharam conosco anteriormente. Meu marido além de eficiente não era brincalhão, as meninas diziam: “Alice! Seu marido é antipático!”. Ele me dizia: “Se eu der risada das brincadeiras delas, elas não me respeitam”. Essas fábricas trabalham com produção. Continuei trabalhando mais uns quatro ou cinco anos. Quando meu filho Alberto tinha um ano e dois meses, nasceu o José Antônio, meu marido falou: “Alice, agora você não vai trabalhar mais”. Meu marido ficou lá 22 anos. Em frente era a fábrica de garrafas térmicas Termolar.
Havia uma certa disputa entre funcionários?
Nós que trabalhamos com o Nicolau, um patrão muito exigente, tínhamos adquirido hábitos muito profissionais. A mão sempre muito limpa, quando entrei fui fabricar cetim para forrar sapato de madame. Fazíamos com seda vinda do Japão e da China, tecido de seda para fabricar paraquedas. Quando entrei perguntaram-me se eu transpirava nas mãos. Eu disse que não. “É que a senhora vai trabalhar com uma fazenda que não pode ser lavada. Conforme a senhora faz o tear automaticamente vai para a loja”.
Recebia em dinheiro o salário?
No dia em que recebíamos, meu marido e eu tomávamos um taxi! Nós descíamos do bonde na Igreja de Moema, tinha que andar quatro quarteirões até chegar na fábrica. Naquela época o ônibus passava pela Avenida Nove de Julho, passava atrás da Igreja de Moema e ia para o Aeroporto de Congonhas. Eram ruas todas de barro. As vezes o Sr. Manoel nos dava uma carona por quatro quarteirões. O Seu Armando morava um quarteirão adiante da fábrica. Antigamente na Padaria Palestra na Rua Treze de Maio, todos os dias íamos comprar um quilo de pão, eles davam um cartão, juntávamos 60 cartões eles davam um saco de farinha vazio, eram sacos de material bom, o pessoal fazia lençol, toalhas. Eu pegava aquele saco, minha mãe lavava, alvejava, engomávamos para não ficar mole, aquilo eu amarrava ao lado dos teares, o fio era tão fino que as vezes a gente precisava deitar sobre os teares. Com a unha dava nó de tecelã. Os sacos impediam que encostássemos na seda. Durante o horário de serviço não saiamos de jeito nenhum. Entrávamos as sete horas, sete horas já estávamos lá. Se tocasse o apito das sete horas e o funcionário estivesse do lado de fora, já perdia o dia. Seu Armando dizia: “Vocês antes das sete horas já estão aqui, essas moças que moram em volta da fábrica, as sete e dez é que vem vindo”. Umas moças moravam no Belém, na Penha, em frente ao Cemitério Quarta Parada, iam trabalhar lá. A Fiação Indiana era um indústria muito grande, ia da Avenida Ibirapuera até a rua de trás. Quem quisesse trabalhar lá tinha aluguel bem baratinho. Algumas moças vinham de lá. O Seu Armando disse que ia pagar o ônibus para nós que morávamos distante da fábrica. Chegamos a pegar taxi para chegar no horário. O porteiro viu, ele ficava no meio da rua que era reta, íamos correndo, fazíamos sinal ele já marcava o cartão. O Seu Armando chegou a pagar taxi para mim e meu marido. Havia as invejosas. Naquele tempo o pagamento era em dinheiro, dentro de um envelope. Quem fazia o pagamento era a Flora Montanaro. Ela vinha com uma bandeja, ao invés de chamar o funcionário em seu escritório. Os envelopes que ele dava para o nosso ônibus, ao invés de ela dar junto, ela separava, depois de distribuir os pagamentos, ela balançava os envelopes, todo o pessoal no salão ficava olhando. Perguntaram por que o pessoal da Jean Nicolau tinha um envelope extra. Ela disse: “Ele paga a condução para elas!”. Algumas moças disseram que iam nos agredir no caminho. Tinha uma que era muito minha amiga, avisou-me. Contei ao Seu Armando, ele disse: “Olhe bem o rosto de cada uma, quem fizer alguma coisa contra vocês estará despedida”. Eu disse a Dona Clara, que tinha falado com o Seu Armando. A Dona Clara falou para elas, dali em diante fomos bem tratadas por todas. Quando ele queria mudar alguma coisa na fábrica que envolvesse o pessoal convidava todos para ir até a sua casa. Hoje, onde era a fábrica, funciona o Shopping Ibirapuera.
Quando a senhora deixou a fábrica aonde ficava a sua residência?
Na Rua Rocha, 293, morei 25 anos nessa casa. As vezes íamos ao Teatro Maria Della Costa.
Já tinha a Escola de samba Vai-Vai?
A Vai-Vai era em uma casa em que morei na Rua Rocha, no fim da Rua Rocha era um riozinho que vinha lá de cima da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, agora é uma rua.
Eles ensaiavam ali?
Em outubro começam os ensaios, ninguém dormia! Meu marido levantava cedo, morando ali ele entrava as sete horas, ele dormia com um travesseiro colado em cada ouvido. Eles ensaiavam ali e iam desfilar na cidade. Uma vez o pessoal da Bela Vista reuniu-se e disseram: “Quem aguenta o barulho e a bagunça de vocês é o bairro, quando é para desfilar vocês vão desfilar na cidade?”. A partir desse dia eles davam uma volta na Rua Treze de Maio e depois iam para a cidade.
Vocês nunca desfilaram?
Não! Meu marido quando era solteiro tocava cavaquinho em um conjunto de cinco rapazes. Se fantasiavam, fantasia de pobre é todos usarem roupas iguais, juntavam casais, íamos primeiro no Brás, ali era o forte do carnaval, também na cidade e no Largo da Concórdia. Até a Rua Bresser. Nós morávamos ali com a casa de móveis, o meu pai acolhia os amigos que iam ver o corso, ele colocava um tábua encostada na parede, ali sentavam e ficavam vendo a folia. As serpentinas eram tantas nos carros, eles tinham rodas raiadas (como as bicicletas) os carros paravam porque as rodas não viravam mais. Encostavam, já naquele tempo vinha o pessoal tirar aquilo para vender, como papel.
Lembro-me quando meu pai tinha casa de móveis e vendia também armas.
As armas ficavam fechadas em uma vitrine. Meu pai vendia também máquinas de costura. Ele pegava uma máquina que estivesse bem maltratada, consertava, colocava os adesivos da Singer, a máquina saia da mão dele novinha. Nunca se dava a arma na mão do comprador. Meu pai estava doente, ele disse a um moço que o ajudava: “Seu Antônio, você fica na loja”. E eu ficava lá também. Chegou um senhor e queria um revólver, Seu Antônio como não era acostumado a servir freguês, pegou o revolver e deu na mão dele. A nossa casa era nos fundos da loja. Seu Antônio se descuidou por uns instantes, o freguês entrou, meu irmão e a minha mãe estavam no quintal, ele pediu licença e entrou no banheiro, quando ele saiu de lá meu irmão disse: “-O homem se matou!”. Minha mãe não acreditou. Meu irmão disse ter visto a camisa dele suja de sangue. Minha mãe foi lá na frente, perguntou ao Seu Antônio o que tinha acontecido. Ele disse: “O homem disse que deu um tiro, devolveu o revolver, disse que o mesmo não presta. Só que eu vi que ele estava com a camisa com sangue. Perguntei-lhe aonde ele iria com a roupa daquele jeito”. O candidato a suicida disse: “Se a arma fosse boa me deixava no lugar”. Seu Antônio disse-lhe: “Você não vai chegar nem na esquina vai ser preso”. Ali perto tinha batalhão. Não demorou muito chegou a polícia com ele. O meu pai foi chamado, o policial disse ao candidato a suicida: “-Você sabe que poderia prejudicar essa família?” Ele respondeu: “Não! Eu tenho uma carta aqui dizendo porque eu estava me matando”. O resultado foi uma dor de cabeça bem grande para todos que viram. O revolver foi apreendido, era uma arma pequena, o cano dobrava sobre o cabo, próprio para pôr no bolsinho que os homens usavam na calça.
A senhora conheceu Gino Amleto Meneghetti?
Meneghetti eu conheci! Minha amiga trabalhava na loja “A Exposição” na Praça Patriarca esquina com a Rua São Bento. O pessoal que trabalhava lá, de vez em quando podiam visitar tecelagens, abrigos, cadeias. Ela me convidou, fomos todos fazer uma visita à penitenciária. Tomamos café da manhã, almoçamos, visitamos as dependências, o Meneghetti ninguém chegava perto, ele cuspia na gente, xingava. Fui ao cinema deles, as cadeiras não tem encosto. Lá atrás ficava um guarda, na frente outro. Fui onde faziam colchões, onde faziam bolas. Tinham oficinas de tudo.
A senhora viu o Zeppelin?
Vi! O Zeppelin parou bem na direção do “Escadão” O Jean Nicolau deu ordem para fechar a firma e todo mundo saiu, dava a impressão de que o Zeppelin estava bem em cima da gente.
Era grande?
Enorme! Parecia ter sido feito de alumínio. O sol batia ele até brilhava. Ficamos uns quinze minutos olhando, tiramos fotografia.
Dava para ver se tinha alguém dentro?
Isso não dava para ver, nem sabíamos se tinha passageiros. Nós estamos conversando, parece que estou vendo-o. Foi uma cena marcante.  
A senhora morou na Europa?
Fiquei quase três anos morando em uma aldeia próxima a Macedo de Cavaleiros, uma das lembranças é quando falecia algum parente os homens ficavam sem fazer a barba até a missa de sétimo dia. Minha mãe tinha dois ou três anos quando o pai dela morreu, minha avó Maria Clara, criou dez filhos, sem marido, que se chamava Manoel. Ela morava em uma casa boa, naquele lugar era a segunda melhor casa. Essa casa ainda existe. Quando alguém vai para lá forneço o endereço para que visitem. Entrando na aldeia aonde a minha mãe nasceu, a última casa da rua, lá se chama eira, onde se bate o feijão, aqui é terreiro. No fim da eira a casa da minha avó é a última casa do lado direito, do lado esquerdo é a igreja.
Que idade a senhora tinha quando morou em Portugal?
Tinha uns 14 anos. Quando estávamos lá houve uma crise financeira, meu ai disse à minha mãe: “Vamos embora senão aqui vamos perder tudo”. Quando chegamos em Lisboa para vir para cá, dois navios faziam muitas viagens: Astúrias e Netuno. Chegando ao Brasil, a loja onde o meu era o proprietário, ele foi trabalhar como empregado. Trabalhou uns quatro ou cinco anos, aí que ele abriu a segunda casa de móveis.
Quando a senhora veio morar no Lar dos Velhinhos de Piracicaba?
Dia 20 de agosto de 2018 completo três anos de moradia no Lar. Minha neta já morava aqui, estudou na Esalq, conheceu o marido na Esalq, ela falava que achava aqui muito bonito, Nós queríamos ver. Gosto daqui, só que morei 97 anos em São Paulo! Morava perto do centro da cidade. Se eu visse no jornal: “Ensina-se isso aqui grátis”. Amanhã eu já estava lá. Sempre fui muito ativa. Na Rua Rocha, quando mudei de lá, só em um quarteirão tinha treze prédios. O prédio Edifício Henrique Cunha Bueno é um prédio muito bonito, foi feito em um morro, não sei como fizeram. Batiam estacas, nem dormíamos a noite. A Rua Rocha era plana, atrás tinha um morro quase esquina com a Manoel Dutra. Ali havia um riozinho, encheram aquele morro, plainaram o terreno. Batendo estacas dia e noite. De um lado da Rua Rocha havia muitas mulheres que eram lavadeiras, muitas mulheres criaram os filhos lavando roupas para gente rica. Do lado de lá era o Clube Lusitana.
E a Igreja Nossa Senhora Achiropita?
Um grande artista iniciou uma pintura da imagem de Maria. Ocorria, no entanto, que tudo o que pintava durante o dia, desaparecia durante a noite. Assim, colocaram um vigilante para impedir a entrada de intrusos, que estivessem danificando a pintura. Numa certa noite, uma formosa mulher, com uma criança no colo, pediu para entrar e rezar. Após insistir, obteve a permissão. Passaram longos minutos e a mulher nada de sair da igreja. Quando o vigilante entrou na igreja, viu a imagem da mulher e do menino estampada no lugar da pintura. Assim, Maria Achiropita: a-kirós-pita (não pintada por mãos humanas). O vigilante saiu gritando pelas ruas: Nossa Senhora Achiropita! No Brasil, só existe uma igreja dedicada a Nossa Senhora Achiropita que se encontra no bairro da Bela Vista. Dia 15 de agosto é dia de Nossa Senhora Achiropita, na Rua Conselheiro Carrão o mês de agosto inteiro aquelas senhoras italianas se vestem com traje regional, o mês inteiro o serviço delas é fazer comida, bolo, salgadinhos. É uma quermesse, quem fica nas barraquinhas são voluntários. Ali a minha mãe deixava ir, os padres faziam cinema lá. Era bem organizado. Na Imaculada eu ia por causa dos filhos, o Alberto já tocava, era muito querido.
A senhora tem muito bom humor!
Eu não sou daquelas velhas ranzinzas, posso não gostar de uma coisa, não brigo com ninguém, aceito tudo.
Como é completar 100 anos, lúcida, com a saúde perfeita?
Me sinto normal! Faço crochê com duas e com quatro agulhas, esta peça que estou fazendo é dos velhinhos em tricô. Manta que faço de resto de lã. Faço fisioterapia, levanto a perna formando 90 graus.
E a alimentação da senhora como é?
Como de tudo, menos duas coisas: carne seca e miolo. Seja doce ou salgado, não sou de comer prato de pedreiro. Todos os dias como frutas, levanto tomo café, quem levanta primeiro faz o café, ou eu ou o Alberto, como um pãozinho com manteiga ou queijo, uma xicara de café com leite, entre o café da manhã e o almoço gosto de comer uma fruta. Almoço, as vezes vou deitar um pouco. Entre o almoço e o jantar geralmente eu como alguma coisa. Senão as seis ou sete horas tomo um café com leite, o Alberto prepara umas torradas. Tenho até uma tábua muito bem feita, meu neto me comprou, é uma almofada, em cima da almofada é uma mesa. As vezes o Alberto vai buscar um prato de sopa no refeitório do Lar. Deito as onze horas, meia-noite. Não tomo absolutamente nada além de muita água, estou sempre tomando um golinho de água, com isso bebo bastante água. Gosto de sopa, não sou gulosa, posso até gostar de alguma coisa, mas se achar que não irá me fazer bem, eu não como. Minha mãe me ensinou: nunca sair da mesa desabotoando o cinto. Saia da mesa que se precisar comer mais, cabe.
E a que horas a senhora acorda?
Ai são outros quinhentos! Nem eu nem ele temos horário para acordar. Já acordamos cedo por muito tempo! Trabalhei quatro anos em uma firma na Rua Augusta, eu entrava as seis horas da manhã. Nessa ocasião minha mãe estava doente, estava em Santos, é um lugar maravilhoso para quem tem reumatismo, por causa da água que contém iodo. Ela sofria muito com o reumatismo, ia sempre para Santos, inclusive tínhamos família lá. Eu entrava as seis horas, meu pai com o salão de barbeiro, meu irmão era relojoeiro no Largo do Tesouro. As 5:40 eu já saia de casa. Não tinha hora de almoço, saia as duas horas da tarde, eram oito horas corridas, a gente levava um lanche, trabalhando e comendo um lanche. As duas horas da tarde saía, vinha, meu pai pegava comida na pensão, quando eu chegava as duas e meia em casa a primeira coisa que eu fazia era esquentar aquela comida que o meu pai deixava. Almoçava e já começava a passar roupa, o salão do meu pai era muito conhecido porque lavávamos todas as toalhas com sabão e passava. Meu pai usava uma vez só a toalha, já ia para lavar. Eu já começava a lavar as toalhas. Começava a fazer o jantar para mim e para o meu pai, o meu irmão jantava na cidade. Meu pai vinha do salão com aquele monte de toalhas, naquela época não havia sabão em pó, só tínhamos o sabão Lux, que usávamos para lavar lingerie. Fervíamos água com sabão, colocava as toalhas naquela água quente, deixava. De manhã levantava as cinco horas, meu pai também levantava, ia perto do tanque, ele era muito carinhoso, eu lavava as toalhas, ele estendia. Quando chegava as duas horas da tarde estava tudo sequinho. Todos os dias fazia isso, Eu devia ter dezessete anos nessa época. As vezes ia ao Cine Rex, situado na Rua Rui Barbosa com Conselheiro Carrão. As vezes a indústria pedia para fazermos hora extra. Quando chegava à noite meu pai dizia: “Alice, vocês trabalharam o dia inteiro, vai chamar a Sofia, vão ao cinema!” O cinema acabava as 9 horas às 10 horas da noite você não via nenhuma moça na rua. A moça que frequentasse salão de baile naquele tempo era falada. Eu gostava de dançar valsa, bolero. Minha amiga que morava em frente ao Lusitana, esquina da Rua Treze de Maio com a Rua Manoel Dutra, era um salão de baile. Minha mãe ia comigo na casa da minha amiga. Minha mãe ficava lá dentro conversando, eu e a minha amiga ficávamos na janela, olhando os outros do outro lado da ria dançando! Meu irmão tocava todos instrumentos de corda e o meu pai tocava bandolim. Quando não tinha freguês no salão o meu pai tocava bandolim e meu irmão violão. A rua ficava animada, o pessoal ia descendo e parando ali para escutar.
Quantos netos a senhora tem?
Tenho dois filhos, cinco netos e duas bisnetas.
A senhora é religiosa?
Sou católica, rezo o meu terço, ganhei terço do Vaticano. Rezo, de manhã quando levanto: “Vamos agradecer o sono que Deus nos deu, não só a mim, mas a todos da minha família e a todos que me cercam”. Vamos deitar? Agradeça tudo que Deus te deu durante o dia. Está nervosa? Fica calma! Rezar faz bem para a alma! Aquele terço, uma Ave Maria, uma prece, acalma. Não sou raivosa, não tenho raiva de ninguém, se me fazem um mal qualquer, eu sinto, mas não sou vingativa. Seja carinhoso com as pessoas. Meu pai quando ia ao centro sempre me trazia alguma coisa: um livro, um presente. Ele fazia isso mesmo depois que eu estava casada. Ele nunca se esqueceu de mim.

 

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