domingo, setembro 09, 2018

DIRCEU ALVES DA SILVA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 18 de agosto de 2018
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADO: DIRCEU ALVES DA SILVA

 

Dirceu Alves da Silva nasceu a 16 de setembro de 1960 em Ibaiti, Estado do Paraná, situada a 150 quilômetros de Londrina. Filho de Manoel Alves da Silva e Zulmira Helena Bruno da Silva que tiveram os filhos: João, Dirceu, Eni, José Carlos, Leoní e Laércio.

O senhor realizou seus primeiros estudos em que escola?

Eu nasci e me criei no sítio, onde permaneci até os meus19 anos. A distância do sítio até Ibaiti é de aproximadamente 10 quilômetros, em estrada de terra. Até a escola, para fazer o curso primário eu andava 6 quilômetros a pé. É uma localidade onde o período de frio é bem acentuado. As vezes ia até mesmo descalço, o normal era um chinelinho de dedo, Alpargatas Rodas, calçado popular feito de lona (pano parecido com os "jeans" atuais) e sola de corda (cizal). O ginásio fiz na cidade de Ibaiti. Minha primeira professora era Dona Eulália.

Qual era a profissão dos seus pais?

Lavradores. Aos sete anos eu ajudava o meu pai na roça. Tinha dois burros no arado: O Gaúcho e o Formoso. Parelha de burros bons. Deixa saudade. (Discretamente, Dirceu emociona-se). O tempo do qual tenho mais recordação é o tempo do sítio. Desde que vim para Piracicaba consigo manter essa raiz, sempre tenho um cavalo, uma criaçãozinha.

Você tem Um cavalo? Como ele se chama?

Tenho! É o Xisto! No recesso da Câmara fomos em 19 pessoas para Aparecida do Norte, a cavalo.

Qual era o produto cultivado?

O ouro do Paraná era o café. Cultivávamos de tudo: arroz, feijão, milho, o forte era o café, que em decorrência da neve que caiu em 1975 foi a causa de dispersarmos, saímos do sítio. (No dia 18 de julho de 1975, uma forte geada dizimou todas as plantações de café do Paraná, o que provocou o êxodo de cerca de 2,6 milhões de pessoas.). Aos 18 anos acabei vindo para São Paulo, sozinho, um nosso vizinho de sítio, morava em São Paulo, foram lá no sítio passear, imagine uma pessoa que nasceu e criou-se no sítio ir direto para São Paulo. Meus pais ficaram muito abalados. Só que permanecer ali era ficar em um local arrasado. Graças a Deus cheguei em São Paulo, na mesma semana já comecei a trabalhar.

Em que bairro de São Paulo o senhor foi morar?

 Na Vila Alpina. Meu local de trabalho era em São Caetano do Sul, fui trabalhar nas Indústrias Químicas Anhembi S.A. O senhor que foi fazer a visita em nosso sítio junto com a sua família, tralhava nessa empresa, foi ele quem me arrumou esse emprego.

A mudança de serviço causou-lhe impacto?

Eu sempre tinha trabalhado no sítio, é uma rotina de muito trabalho e não se vê dinheiro, o café só tinha colheita uma vez por ano, trabalhava com os meus pais, quando a safra era vendida, o dinheiro era para passar o ano inteiro seguinte. Em São Paulo, no primeiro mês em que recebi um salário foi muito significativo. Eu fui para São Paulo em dezembro, no carnaval eu fui ver a minha família, pais, irmãos. A minha mãe queria de todo jeito que eu voltasse, meu pai acabou vindo para São Paulo para ver como eu estava lá, acabou deixando uma casa alugada em São `Paulo, já conseguiu emprego, voltou a Ibaiti para buscar a família e a mudança. Com exceção dos irmãos muito pequenos, todos conseguiram emprego, até mesmo um irmão de 12 anos arrumou serviço. Todos passaram a ganhar um salário mensal.

Como o senhor veio à Piracicaba?

Um cunhado do meu irmão veio à Piracicaba. Um irmão veio fazer-lhe uma visita, gostou da cidade, e já deixou um emprego arrumado na Dedini. Voltou a São Paulo e trouxe a sua mudança. O meu pai não gostava de São Paulo, tanto que nós queríamos que ele vendesse o sítio e adquirisse uma casa em São Paulo, ele não queria. Um dia meu pai e eu viemos visitar o meu irmão que já morava aqui. Meu gostou da cidade, adquiriu um terreno, no dia 9 de janeiro de 1981 viemos residir em Piracicaba.

Em que bairro a família veio morar?

Fomos morar no Bairro Santa Terezinha. Bairro em que moramos até hoje, na Vila Sônia, em Santa Terezinha, em frente à Igreja São Lucas.

Aqui em Piracicaba o senhor passou a trabalhar em que área?

Eu tinha feito até o ensino médio em Ibaiti (Na época ginásio e científico), quando fui para São Paulo fiz o Curso Técnico de Inspetor de Qualidade. Eu precisava trabalhar. Para fazer esse curso técnico foi muito difícil, eu morava na Vila Ema, trabalhava em Santo André, levantava as quatro horas da manhã e vinha dormir a uma hora da manhã, todos os dias. Eu tinha saído da Industria Química e fui trabalhar na General Eletric (GE) saia do serviço as cinco horas da tarde e ia para o curso onde entrava as seis e meia da noite e saía as onze horas da noite. Foram dois anos nessa situação.

Mas aprendeu muito também!

Sempre foi uma lição de vida!

Como foi conseguir emprego em Piracicaba?

Em 1981 aqui em Piracicaba era muito rara a empresa que tinha esse profissional de inspeção de qualidade. Fiquei por seis meses sem emprego. Fui fazer um curso de cabelereiro na Escola Técnica e Profissional Para Cabelereiros Calazans, do Professor Gilson Calazans. Acabei montando o primeiro salão lá na Vila Sonia: “Dirceu Cabelereiro”. 

Corte masculino e feminino?

No início só masculino, depois passei a fazer corte feminino, corte e escova. Trabalhei por 12 anos cortando cabelo.

Isso no tempo em que os jovens usavam cabelos longos?

A moda é cíclica, ela aparece, some, volta. No período em que cortei, os cabelos eram longos, mas mais aparados do que antes. Na década de 70 é que havia os “cabeludos”.

Nesse período em que o senhor trabalhou na Vila Sônia deve ter feito muitas amizades?

Fiz muitas amizades, desde o início em que montei o salão assinava o “Jornal de Piracicaba”, todos os dias, no tempo vago eu estava folheando o jornal. Quando tinha cliente eu estava trabalhando, mas no intervalo, as vezes ficava ali parado, isso para quem estava acostumado a trabalhar muito no sítio, era um pesadelo. Um dia li no jornal “Vende-se uma fábrica de laje”. Eu tinha conhecimento, inclusive em São Paulo meu pai trabalhou em uma fábrica de laje. Acabei comprando essa fábrica de laje. Comecei trabalhando lá em cima, na Vila Sônia. Com isso eu tinha dois serviços: cortava cabelo e fazia lajes. Quando eu senti que a fabricação de lajes era suficiente para manter a minha família, eu já tinha me casado, tinha um filho. Assim passei apenas a dedicar-me à fábrica “Lajes Santa Terezinha”. Tenho três filhos: Emerson, Everton Bruno e Giovana.

Tem que ter uma flexibilidade muito grande, para trabalhar em um serviço delicado, como cortar cabelos, fazer barbas e um trabalho pesado que é fabricar lajes. Trabalhar no sítio é um serviço pesado: plantar café, carpir café, colher café, plantar arroz, colher arroz, carpir milho, feijão.

Quanto tempo o senhor permaneceu com a fábrica de lajes?

Fiquei 11anos com a fábrica de lajes. Foi um bom negócio. Passei a trabalhar com terraplanagem, a “Dirceu Terraplanagem” é a empresa que tenho até hoje. Faço o arroz com feijão do setor. Nesse país ou você cresce ou permanece na rotina do dia-a-dia.

Além dos funcionários o senhor trabalha se for necessário?

Se for fora do horário do meu expediente, trabalho. Na pá carregadeira tenho muita habilidade, na retro escavadeira nem tanto.

Como surgiu esse desejo de entrar para a política?

A política foi uma coisa que acabou surgindo até de uma forma natural, sempre procurei participar da comunidade, do bairro, do Centro Comunitário. Não diretamente, mas estando sempre presente. Uma vez participei de uma eleição no Centro Comunitário onde fui eleito primeiro secretário. A seguir teve pessoas que achavam que eu deveria ser presidente do Centro Comunitário na próxima eleição. Declinei da possibilidade, o presidente tem que ter um tempo disponível, dentro das minhas atividades profissionais não tinha essa possibilidade. Em 2000 o Vanderlei Dionísio (Vandão como o chamamos carinhosamente) saiu como candidato à prefeito, ele é meu vizinho até hoje, estávamos em uma reunião no Centro Comunitário do Parque Piracicaba, na Balbo, ele me convidou para ajudá-lo na campanha. Disse-lhe que o ajudava, para nós é uma honra ter um prefeito do nosso bairro. O Vanderlei disse-me que queria que eu saísse como candidato à vereador, teria que me filiar ao partido. No último dia para a filiação ele mandou o Reginaldo (Que trabalha hoje no escritório do Deputado Estadual Roberto Morais), ir atrás de mim que era para filiar-me. Acabei filiando-me ao PTN (Partido Trabalhista Nacional) e saindo como candidato. Na verdade foi uma surpresa, tive 1329 votos. Só não fui eleito por faltar poucos votos para atingir o quociente e eleger alguém do nosso partido. O Vanderlei acabou não ganhando a eleição, o Machado foi eleito. Em 2004 fui candidato novamente. Mudei para o Partido Popular Socialista – PPS. Partido do Vanderlei e do Deputado Roberto de Morais. Tive 1769 votos. Não fui eleito. Três vereadores foram eleitos com votação muito próxima a minha, o quociente eleitoral impediu do meu partido me eleger. Em 2008 fui candidato novamente, tive 2064 votos, não fui eleito de novo, ai que fiquei como primeiro suplente. Infelizmente em 2011 o vereador Walter Ferreira da Silva, o “Pira” afastou-se por 15 dias para tratamento de saúde, infelizmente após 14 dias ele acabou falecendo. Eu tinha assumido a vaga dele por 30 dias, acabei assumindo em definitivo. De uma forma que eu não queria, mas que faz parte da circunstância da vida. Em 2012 veio a eleição, acabei me reelegendo.

Como o senhor vê a situação do vereador em Piracicaba?

Infelizmente as ações do vereador é limitada. Temos uma cultura política que tem muito à aprender. De forma geral as pessoas desconhecem a função do vereador: Fiscalizar o poder executivo e legislar. Atualmente não podemos apresentar um projeto que venha acarretar ônus ao município. Ao eleger um representante há uma expectativa de que todos os seus problemas serão resolvidos. Nem sempre o interesse individual contempla o interesse de uma coletividade.

Ao seu ver a sociedade, o cidadão, deve ser mais participativo em ações públicas?

A sociedade, o cidadão, em sua grande maioria são omissos, deveriam participarem mais da política. O que deve ser muito claro é que a política é a única forma de transformar a vida das pessoas. Por razões culturais a pessoa não participa nem mesmo da sua comunidade. Há críticas à questão da saúde, da educação, a segurança é o ponto mais crítico, Você faz uma reunião em seu bairro, convoca as pessoas diretamente interessadas nesses benefícios, aparecem meia dúzia de pessoas.

Há várias correntes, de todas as origens, que creditam essas mazelas a uma distribuição de renda perversa. Isso transforma-se em revolta quase natural?

Essa revolta não se justifica. Nasci dentro de um sítio, minha convivência, meus amigos foi no sítio. Nós só trabalhávamos e muito. Sou muito grato por isso. Nós só aprendemos a trabalhar!  Aos sete anos já trabalhava! Hoje não só os meus pais, mas todos os pais daquela época teriam represálias duríssimas em decorrência de leis instituídas posteriormente. Hoje aos 16 anos o jovem pode votar, interferir no destino do país, mas até atingir essa idade ele não pode trabalhar. Essa situação precisa ser revista.

As entidades sociais existentes na cidade recebem da prefeitura aquilo que é possível, o Estado como ente da federação faz menos e a União faz menos ainda, ou seja a prefeitura torna-se a responsável maior. Há uma pequena cidade na região onde 4.500 alunos desfrutam de regime escolar integral. Depende de quem ir atrás dessa verba junto a União?

O político é uma corrente de forças, isso é mais um trabalho do Executivo, com a participação do Legislativo. São verbas canalizadas por deputados federais, estaduais. Geralmente para o reduto onde o deputado foi eleito. O Deputado Estadual tem a sua cota de emendas para destinar para onde achar que deve destinar e o Deputado Federal também.

Há uma harmonia entre os componentes da Câmara Municipal ou as correntes partidárias buscam interesses próprios?

Infelizmente a política é um jogo de poderes. No meu entendimento teríamos que trabalhar todos juntos, fortalecendo-nos em benefício do município. Lamentavelmente no dia-a-dia vemos que não é isso que acontece. Isso acaba decepcionando a gente.

Existem políticos que prometem aquilo que sabem ser impossível cumprir?

 Se comprometer é complicado! Desde a minha primeira eleição nunca prometi nada! Prometo trabalho, trabalho e trabalho! Prometer alguma coisa que sei que não posso cumprir, não é o meu perfil.

O Poder Executivo Federal, Estadual e Municipal têm como direcionar as respectivas Câmaras?

Se ele tiver a maioria nessas Casas de Leis, aprova seu projeto.

Está havendo uma evolução na política brasileira?

Tudo na vida é um aprendizado. Esse exercício de acompanhar o trabalho dos políticos resulta em uma escolha com mais critério.

A sua trajetória demonstra muita garra, inteligência e dedicação. Sair de uma roça de café e ocupar uma cadeira no Poder Legislativo de uma cidade como Piracicaba é muito louvável.

Eu só tenho que agradecer muito a Deus. Sou muito grato à população de Piracicaba em me dar essa oportunidade, o vereador tem que estar presente junto a população.

O senhor deve receber solicitações das mais descabidas possíveis?

Com certeza! Existem diversos casos, mas por respeito aos requisitantes não cito-os.

Muitos eleitores desconhecem ou até mesmo tentam tirar proveito de situações assistenciais imediatas. Dependendo do grau de extrema necessidade o vereador pode em caráter pessoal atender?

Essa fase está em extinção. A Justiça Eleitoral proíbe e isso nos ajuda muito. Antigamente alguns eleitores solicitavam favores sem limites e descaradamente.

O senhor considera que independente de formação cultural, há muitos “Analfabetos políticos”

Concordo plenamente, há pessoas simples, sem conhecimentos maiores, mas que distinguem o joio do trigo, assim como há pessoas com alto grau de formação cultural, mas que politicamente estão equivocadas.

Será que não há uma classe que está enfastiada de ver tanta coisa errada na política?

Mas isso vai levar a que? Vai piorar a situação! A própria escola deveria ensinar o civismo: Amor à Pátria, Hino Nacional. Quando fiz o meu primário, entrávamos em fila, com a mão no ombro do colega da frente. Hoje se você ´perguntar qual data cívica está sendo comemorada o aluno do ensino médio em sua maioria nem sabe.  

A Faculdade de Medicina e o Hospital |Regional trazem mais recursos à Piracicaba, o senhor teve participação na aprovação dessas entidades?

Tive a participação na implantação do Hospital Regional, uma parceria do Governo do Estado com a Unicamp a Escola de Medicina Anhembi Morumbi já está funcionando já no segundo semestre de 2018.  

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