domingo, setembro 09, 2018

RONDERSON BATISTA SANTOS (MINEIRO ENCANADOR


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de agosto de 2018
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: RONDERSON BATISTA SANTOS
                         (MINEIRO ENCANADOR)

 

Ronderson Batista Santos também conhecido como “Mineiro Encanador”, é um dos muitos casos em que a pessoa incorpora como seu nome popular o local da sua origem e da sua profissão. Nascido a 4 de agosto de 1975 na cidade de Novo Cruzeiro Estado de Minas Gerais, filho de José Geraldo Batista da Paixão e Zilda Chagas, que tiveram dez filhos: Hercules, Paulo, Ronderson, Neusa, Glaucia, Gleiciane, Moisés, Edson, Rosane, Erica.

Com que idade o senhor começou a trabalhar?    

O meu primeiro registro na carteira de trabalho foi com 15 anos de idade. Antes eu já trabalhava na roça com o meu pai, plantava milho, feijão, cana-de-açúcar, arroz, café, meu pai tirava leite das suas vacas e das vacas dos fazendeiros. Ele prestava serviços para os fazendeiros, roçava manga.

Você chegou a tirar leite?  
Já com uns 10 anos tirava leite, tomava chifrada, a vaca pisava no meu pé, amarrava as patas traseiras para ela não machucar. Tinha que ajudar na roça. Fazia rapadura. Cachaça.
O senhor sabe fazer cachaça? 

Tínhamos que cortar a cana, levar para o alambique, moer, deixar fermentar. Depois colocar para ferver, daí tinha a “cachaça cabecinha” e a “cachaça água fraca”. A “cabecinha” é a primeira, a boa, alguns produtores misturavam um pouco da “água fraca” na “cabecinha” só que o conhecedor de cachaça percebe logo. Nós mantínhamos as duas separadas. Cada uma com seu preço. Meu avô, João Batista, fazia açúcar batido também.

Seus estudos primários foram no sítio?      

No sítio estudei até o terceiro ano primário, minha primeira professora era Dona Sinhá! Tinha que andar em torno de duas horas para chegar na escola, a pé, não havia estradas, as vezes quando não tinha chinelo o meu pai, fazia com couro e pneu. Outras vezes usava Alpargatas, conhecida também como “enxuga-poça”, era feita de tecido jeans, e solado de sisal. Fabricávamos tijolo, amassando o barro com os pés. Com o tempo foi colocado um burro que movia um mecanismo que amassava o barro. As casas eram feitas de “enxumento”: madeira em pé e batia o barro. Para as diferentes técnicas utiliza-se uma massa básica constituída de terra com 60 a 70% de areia, 30 a 40% de argila e água em quantidade suficiente. Alguns aditivos podem ser agregados de acordo com as necessidades ou com a técnica escolhida. Os principais aditivos são: Esterco de vaca ou cavalo que são estabilizantes químicos da massa. A pintura da casa era feita de “tabatinga”, um barro branco, tirava no mato, na lavra, derretia na água e pintava a casa. Ficava branquinha. As madeiras eram colocadas inicialmente em pé, as varas no sentido horizontal eram amarradas com cipó formando quadradinhos de 10 x 10 centímetros aproximadamente, em alguns lugares fazem de 5 x 5 centímetros. E batia-se o barro. O barro duro para ali.
Precisa ficar alguém do outro lado para evitar que caia o barro?
Não precisa não! O bolo de barro vai parando! Depois você vai batendo.
A casa era coberta como?
Com telha feitas à mão mesmo, “nas coxas”, tomavam o formato das coxas de quem as fazia, moldando o barro. Tinha água de poço e água da serra que vinha até a mina da água. Isso existe até hoje, a água sai da rocha e vem para o quintal. Hoje lá tem energia elétrica. 
Até que idade foi a sua permanência nesse sítio?
Até uns 14 anos, mudamos para Novo Cruzeiro. Meu pai permaneceu na roça e nós fomos para a cidade com a minha mãe. Não tínhamos nada, nem um fogão para cozinhar, foi muito difícil o início na cidade. Minha mãe arrumou emprego na padaria, os pães que sobravam o padeiro dava para ela. Era o nosso almoço e jantar. Depois eu consegui um emprego na feira: vender por medida (a granel) feijão, arroz. Dormíamos todos em um quarto só e em uma cama só. Os colchões no chão, na terra. A casa era alugada. Começamos a ganhar fogão, geladeira, cristaleira, usados. O primeiro emprego que consegui na cidade foi em uma marcenaria, para lixar móveis. Ganhava meio salário mínimo, sem registro. O dono da marcenaria, Seu Dedé, foi visitar a minha casa, viu que eu não tinha cama, me deu um beliche: um dormia embaixo outro em cima. Um outro irmão foi trabalhar em outra marcenaria e ganhou mais um beliche. Meu pai arrumou emprego em uma fazenda chamada Fazenda Sul América que contratava mais de 1500 homens só de Novo Cruzeiro em toda temporada de colheita de café. Antigamente o pai podia assinar uma autorização para o filho menor de idade poder trabalhar. Assim meu pai, meu irmão e eu fomos trabalhar na Fazenda Sul América. Eu tinha 16 anos, meu irmão 15 anos. A nossa vida mudou. Passamos a ganhar dinheiro, os três. Ficávamos alojados de segunda-feira até sexta-feira. Minha mãe tinha a doença de Chagas, ela faleceu quando eu tinha 17 anos. Nessa época, em período de safra meu pai vinha trabalhar em Piracicaba e mandava o dinheiro que ganhava para Minas.
Como seu pai veio para Piracicaba?
O meu irmão Paulo, o mais velho, veio para Piracicaba, trabalhava na Coopersucar, quando minha mãe faleceu não deu tempo dele ir vê-la, logo depois ele foi nos visitar. Eu nesse período estava muito revoltado, não tínhamos nem condições para sepultar a minha mãe como ela merecia. Um farmacêutico que doou a urna funerária para sepultá-la. Eu não queria mais permanecer naquele lugar. Quando meu irmão voltou à Piracicaba eu vim com ele. Fiquei morando no Bairro da Paulista na casa de uma tia minha, Tia Alzira. Fiquei uns tempos na casa da Tia Maria na Rua Fernando de Souza Costa. O meu primo, já falecido, trabalhava na empresa Mirafer Produtos Siderúrgicos Ltda. Fui trabalhar ganhando 450 URV (Unidade Real de Valor) quando da implementação do Plano Real. Eu mandava um pouquinho para o meu pai e ficava com um pouquinho aqui. Meu irmão e eu alugamos uma casinha em uma vila de casas na Rua Ipiranga. Trouxemos o meu pai para cá, veio todo mundo! Meu pai arrumou emprego na Prefeitura Municipal para montar palco. Meu irmão tinha comprado um terreno, antigamente a Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional de Piracicaba – EMDHAP financiava, não dava a casa. Ela financiava o terreno para fazer a moradia, meu irmão tinha feito esse financiamento. Fica no Bairro Mário Dedini. Meu irmão dividiu o terreno ao meio e deu a metade dos fundos para o meu pai. Meu pai passou a pegar todos os ferros que eram descartados nas construções, tinha uma senhora do Bairro do Godinho que tinha umas casas antigas, já sem condições de uso, ele ganhou os tijolos, madeira, telha. Assim com sobras de construções e material usado descartado ele construiu uma casa de oito cômodos, sendo quatro quartos.
Tudo com material já utilizado anteriormente?   
Tudo com material usado!    
Ao seu ver o brasileiro desperdiça muito material?
Joga muita coisa fora! Muita coisa! Meu pai fez uma casa carregando coisas da rua! Ele só comprou o cimento e arrumou o pedreiro! As janelas foram todas doadas. Morando com o meu pai trabalhei na Tofer Engenharia Comércio Indústria, trabalhei em uma empresa tercei          rizada da Belgo Mineira, Camargo Correa, em Piracicaba, na Boyes, foi na Boyes que conheci a minha esposa Lenilda Ladislau dos Santos. Começamos a namorar em 1998. Tem uma passagem interessante, ela residia sozinha, em um pequeno quarto, na Vila Rezende, um belo dia, ela estava trabalhando e cheguei na casa dela. Abri a porta, tinha ido ao Mercado Municipal, enchi uma cestas de frutas variadas e escolhidas, fiquei esperando-a, fingindo que estava dormindo. Até hoje estamos casados, faz 20 anos! Casamos dia 26 de setembro de 1998. Temos dois filhos: Liliane e Robson.
Quando o senhor começou a trabalhar como encanador?           
Na verdade desde que eu cheguei aqui em Piracicaba eu já fazia “bico”. A caixinha que eu usava com as ferramentas estava guardada até pouco tempo. Eu trabalhava na empresa durante o dia e aos finais de semana fazia os “bicos”. Aprendi fazendo, não gostava de ficar parado. A noite por dois anos fui garçom do “Banana Chopp” ficava na Avenida Independência, próximo a Santa Casa o proprietário era o Seu Dorival. Eu trabalhava até a meia noite, as seis horas da manhã já estava trabalhando na empresa onde eu era empregado. Nos finais de semana quando não estava trabalhando na empresa ia ajudar a servir o almoço. Graças a Deus sempre lutei, de dia e de noite. Tem cliente que liga a meia-noite, coloco o carro na estada e vou atender o cliente.
Hoje qual é a sua especialidade profissional?
Na parte hidráulica. Há uma constante inovação, é necessário estar sempre atento para as mudanças, estudo o produto, reparos, qualidades, a internet é uma ferramenta muito útil para a constante atualização técnica. Fiz curso no SENAI, Desenho Mecânico 1,2,3. Fiz curso de eletricista, hidráulica, encanador, informática. Trabalho muito na parte hidráulica.
E obra civil, construção, o senhor trabalha também?
Já fui empreiteiro de obras, tinha sete a oito funcionários. Percebi que deveria trabalhar de outra forma, atualmente a minha esposa cuida da loja São José Reparos, situada a Rua Brasílio Machado, 2658, WhatsApp 9 9639 7966, voltada à parte hidráulica e elétrica, e eu presto serviços. Com isso consigo dar mais atenção aos meus clientes. É o que importa, o cliente satisfeito. Meus filhos ajudam a administrar. Todos nós estamos sempre em harmonia, e sempre aconselhamos um ao outro. Há um grande respeito mútuo, entre o casal e os filhos. Muitas vezes acato o conselho de um deles, que me fazem ver onde tenho que corrigir. Essa união nos fortalece.
A sua decisão em montar a loja e prestar serviços foi um bom caminho?
Está dando para pagar as contas, criar os filhos.
E o seu envolvimento com a política?
Por três vezes já fui candidato a vereador, a primeira vez fui candidato pelo PSB, junto com o Gustavo Hermann. Tive 109 votos. A segunda vez saí pelo PRB, fiquei primeiro suplente do vereador Paulo Henrique Paranhos Ribeiro, tive 461 votos, na terceira vez fiz 287 votos.
O que o atrai para a política?
Eu penso que um político não é um artista ou ator, ele é um funcionário eleito para prestar serviços para a comunidade. Infelizmente existe em nosso país, políticos que usam maquiagem para tirar fotografias em festas de aniversário! Eu consigo ser um vereador e um encanador simultaneamente. Um vereador tem direito a ter pessoas para trabalhar em seu gabinete, posso atende-lo em sua casa, trocar uma torneira, cobrar pelo serviço prestado, e você reivindicar alguma coisa para a sua rua, tenho como ligar no meu gabinete e fazer a minha assessoria entrar em contato com o poder público e atender as suas necessidades públicas também.
A seu ver como está o nosso povo em termos de informação política?
O povo está andando para onde o vento sopra. O povo não pensa!
A televisão influencia muito?
A televisão mente muito! Manipula demais! Hoje vemos campanha eleitoral onde alguns tem bastante tempo de exposição, outros não tem. Para mim isso está errado! O tempo deveria ser dividido de forma igual para todos. Tenho projetos para Piracicaba, estão no endereço eletrônico do Google como Propostas de Ronderson Mineiro 10010
https://issuu.com/rondersonmineiro10010/docs/propostas_de_ronderson_mineiro_10010. Penso que se caso um dia eu tiver o mérito e o povo me der a chance de ser um vereador, criar a proibiçao de dormir e morar na rua. O poder público teria que oferecer abrigo à esses moradores de rua.
Isso é um problema social sério, nem sempre o morador de rua submete-se a regras mínimas estabelecidas para a convivência em albergues.
Não quero maltratar os moradores de rua, mas tirá-los dessa situação miserável, oferecendo qualificação, emprego, dignidade. Eles merecem todo carinho, respeito e nosso zelo. Hoje tem morador de rua conversando com outro colega pelo celular! Tem que haver um trabalho conjunto com a população. Infelizmente há entidades que usam a caridade (distribuindo alimentos, roupas) como peça de propaganda. O morador de rua , a meu ver, deveria ter um lugar para ir, tomar um banho, sem que sejam impostas muitas regras. Se da maneira que estamos fazendo não está dando resultado, vamos criar outra forma de fazer. A Câmara é uma Casa de Leis. Para atender certas situaçõeshá o Serviço Social do Municipio. Já usei a tribuna da Câmara de Vereadores de Piracicaba umas três ou quatro vezes.
Você já teve algum envolvimento com alguma entidade?
Fundei a Associação dos Desempregados. Recebíamos por dia de 100 a 150 pessoas. O objetivo era captar vagas para pessoas desempregadas. Encaminhar as pessoas gratuitamente. Se a pessoa arrumasse um emprego e sentisse gratidão podia doar um pacote de folhas sulfite, para fazermos curriculos. Cada um daria aquilo que desejasse. Se algum empresário quisesse doar uma cesta básica para uma família que estivesse passando por necessidade extrema, nós não recolheríamos a cesta, jamais. Indicaríamos a família que estava passando fome alguém da empresa iria levar, poderíamos até acompanhar.
Tem gente passando fome em Piracicaba?
Vemos muitas pessoas irem buscar cestas básicas nas igrejas. Acredito que tenha pessoas que passam fome em nossa cidade. Tem os que passam fome e não pedem socorro. Se eu estiver passando fome eu grito: tenho dois filhos, quero trabalho!
E as pessoas que pedem dinheiro nos semáforos, qual seria a sua proposta?
Colocaria dois veículos, com sinalização do tipo Giroflex, escrito “Combate a miséria” com duas pessoas boas de diálogo, nada de repressão, ofender, bater. Parava no sinaleiro e abordava o pedinte: “Nós combatemos esse serviço seu de pedir dinheiro em sinaleiro”. Se a pessoa dissesse: “Ah! Mas eu estou desempregado!”. Receberia como resposta: “Vamos lutar para arrumar-lhe um emprego, nem que seja para varrer rua”. O sinaleiro iria esvaziar de pedintes.
Como é o mercado da mão de obra de encanador?
A minha empresa é a “Mineiro Encanador”, as vezes eu saio meia noite, uma hora da manhã, para atender cliente. Atendo prédio, apartamento, presto serviços para bastante empresas, desentupidora, tenho a Roto-Rooter para desentupir. Eu trabalho com reparos da válvula Hydra. Uma grande dificuldade que temos é de trabalhar em local com parquímetro. Não foi previsto um local onde possamos descarregar material, escada.
Vocês fazem serviços fora de Piracicaba?
Faço serviço em Rio das Pedras, Saltinho, já fui fazer até em Jaú. Infelizmente, tem acontecido de bons profissionais sofrerem a falta de serviço, porque muitos estão desempenhando uma atividade que antes não faziam. As vezes nem estão preparados para atender um serviço. As pequenas empresas não tem acesso a muitos órgãos públicos, mesmo tendo condições de preço mais favoráveis. Grandes empresas de fora da cidade levam vantagem em decorrência das exigências burocráticas.

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