domingo, setembro 09, 2018

MARIA APARECIDA CORREIA DE SOUZA (CIDA DO CARTÓRIO)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 07 de julho de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.teleresponde.com.br/
 
 

ENTREVISTADA: MARIA APARECIDA CORREIA DE SOUZA
                                                   (CIDA DO CARTÓRIO)
Maria Aparecida Correia de Souza, nasceu na cidade de Marília, a 16 de setembro de 1947. É filha de Joaquim Correia de Souza e Izaura Pereira de Souza. Seu pai era viúvo com quatro filhos Maria (Mariquita), José, Mercedes e Marina. Sua mãe era viúva com três filhos: Áurea, Eduardo e Jandira, eles casaram-se em segundas núpcias tendo dessa segunda união quatro filhos: as gêmeas Noêmia e Madalena, Maria Aparecida e Neide, reunindo assim onze filhos do primeiro e segundo casamento de ambos. Seu pai era pedreiro em Marília, foi lá que ele faleceu. Sua mãe ficou viúva com todas as crianças, na época Aparecida tinha quatro anos. Os filhos do seu pai com sua primeira esposa casaram, foram morar em São Paulo, Paraná, todos que estão vivos mantem contato até hoje.
A sua mãe ficou viúva pela segunda vez, com onze filhos, qual foi a primeira providência dela?
Quando meu pai faleceu minha mãe veio para Piracicaba com os quatro filhos do segundo casamento e dois do segundo casamento, um ficou em Marília. Os filhos mais velhos já tinham casado ou mudado para São Paulo.
Sua mãe decidiu vir para Piracicaba por alguma razão especial?
Minha avó Georgina já morava aqui com minha tia Hilda, irmã do meu pai. Naquela época tinham a fábrica de Doces Andrelina. Aqui tinha condições da minha mãe trabalhar, vender doces, para sustentar os quatro filhos. Ela vendia doces também da Padaria Vosso Pão, a proprietária era Dona Augusta, essa padaria ficava onde hoje é o Edificio Canadá, construído por Virgilio Lopes Fagundes. Existia na Rua Governador Pedro de Toledo , entre a Rua São José e Moraes Barros a Padaria Inca. A PANSA foi outra padaria que marcou história na cidade.
Quais eram os doces mais conhecidos?
Eram doces caseiros, marmelada, goiabada, nós ficávamos limpando as goiabas, éramos todos pequenininhos. Minha mãe saia vender doces pelas ruas de Piracicaba. O curso primário eu estudei no então Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes. Depois segui meus estudos já na juventude. Freqüentei a Escola Modelo, tempo do Alcides. Hoje o ensino está com o acesso muito fácil do que antes.
Vocês moravam em que local?
Morávamos entre a Rua São João e a Rua Santa Cruz. Era um corredor de uma rua para outra. Ela assim nos sustentou, vendendo doce. Além da venda d doce ela passou a lavar roupas para outras famílias. Fomos crescendo. Aos sete anos eu já trabalhava de babá, fui ajudar a uma doméstica que trabalhava na casa da Profa. Dra. Marly Therezinha Germano Perecin, seu marido Noedy Perecin. Eu olhava a criança, a Conceição, filha da empregada da Dra. Marly. Em determinado horário eu saia, ia até a casa da Dona Lazinha que ficava na Rua São João, ia pegar e entregar marmitas para funcionários que trabalhavam ali por perto.  Passei a trabalhar como doméstica nas casas de família. Dos sete aos dezessete anos eu trabalhava como empregada doméstica. O ultimo emprego em que trabalhei como doméstica foi na casa do João Ferraz de Arruda do 3º Cartório de Notas, isso no tempo em que não existia enceradeira, o piso de madeira era limpo com palha de aço, encerado e dado brilho com escovão (uma escova grande assentada em um pesado suporte de ferro fundido que era movido pelos movimentos  dos braços de quem estava trabalhando). Eu trabalhava também na copa. A Dulce, cunhada da minha irmã, trabalhava como cozinheira. Na época o Cartório do 3º Ofício ficava na Praça José Bonifácio, próximo a Rádio Difusora. A casa em que eu trabalhava ficava na parte posterior do cartório. Nessa época já morávamos na Rua Voluntários de Piracicaba, 1405, casa 5, na Vila Mercedes, no fundo de onde morava aquela família de portugueses, Milanes, que tinha banca no Mercado Municipal. Ali se casaram minhas irmãs, a Jandira casou-se com José Maria, são pais do Dr. José Silvestre da Silva. Em casa ficaram minha irmã mais nova do que eu, a Neide, uma irmã que veio morar conosco com suas duas filhas pequenas: Fátima e Soninha, minha mãe e eu.
Você casou-se?
Casei-me com Dalvi Rodrigues Ele trabalhou muito tempo na UNIMEp. Minha irmã Neide casou-se com o irmão dele. Tivemos uma filha Rossana. Namoramos por três anos e meio, casamos e permanecemos casados por três anos e meio.
Como você foi trabalhar no Cartório?
Eu trabalhava como empregada doméstica na casa anexa ao Cartório do 3º Ofício, minha mãe vendia doces. Um dia estava indo para casa, um senhor perguntou-me se era filha da Inês. Disse-lhe que não. Naquele tempo não podia nem conversar com homem; Disse-lhe que a minha mãe chamava-se Izaura. Ele disse-me: “É que conheço a sua mãe, compro doce dela, ela pediu para que se pudesse arrumasse um serviço para você, você já tem datilografia)” (Na equivalia a alguém que atualmente sabe utilizar programas básicos de computador).   Ele prosseguiu: “Tenho uma amigo, Tácito Morato Kräenbühl (Oficial Maior do Registro de Imóveis da 2ª Circunscrição de Piracicaba). Eu disse-lhe: “-Converse com a minha mãe”. Falei com a minha mãe, ela confirmou que tinha conversado com esse senhor,  O Seu Vinicius trabalhava no Cartório, ligou no meu trabalho, ele disse-me que dia primeiro de abril eu deveria ir até o 1º Cartório, isso faz 53 anos, foi em 1964.
Era um período de mudanças sociais no mundo todo?
Aquela época era uma época de muito  preconceito, inclusive muito forte com relação a cor da pele. E o fato de ser afro-descendente a pessoa era física e verbalmente discriminada. Antes de casar passeávamos no centro de Piracicaba. Os negros tinham espaço segregado: Rua Morais Barros, Rua Governador Pedro de Toledo e Rua São José, a calçada que passava pela Praça José Bonifácio em frente os restaurantes Alvorada, Brasserie, Banco do Brasil. A Praça em si era exclusiva para brancos. Quando comecei a trabalhar no Cartório, só duas mulheres negras tinham postos normalmente ocupados por brancas e até mesmo o ambiente predominante era masculino. A Genoveva era a outra mulher negra que trabalhava no Banco do Brasil. Mesmo o bonde sendo barato, para nós era difícil pagar. O bonde que ia para a agronomia passava pela Rua José Pinto de Almeida.
Era chão de terra ainda?  
Era terra! Essa Rua Regente Feijó quando chovia o pessoal chamava de “Rua Escorrega, lá vai um!”.Era  só barro! Na Rua Voluntários de Piracicaba, na Rua Bom Jesus, depois é que veio o calçamento em paralelepípedo.
Você chegou a ver os enterros subindo a Rua Moraes Barros, o caixão sendo carregado pela Rua Moraes Barros, íngreme, por homens de terno preto sob um sol causticante?
Lógico! Eu acompanhei o enterro da minha mãe. Iam segurando o caixão na mão. Não tinha carro. Bem depois disso montavam barracas de melancia, abacaxi, éramos menininhas, não víamos as épocas desses eventos para fazer roupas, só se fazia roupas para finados, Festas do Divino.  Como trabalhávamos de empregada, no Natal ganhavamos muita roupa de patroa. Comida quando tinha muita a patroa nos dava para levar para casa. Hoje muitos que passaram por isso pelo nível de conforto que possuem são milionários. Conto para minha filha, minhas netas, que a minha mãe nos criou vendendo doce pelas ruas.
Lembra-se do COMURBA?
Nessa época em que caiu o COMURBA eu trabalhava de doméstica na casa situada na Rua São João esquina com a Rua Cristiano Cleopath de propriedade de Luiz Ferreira Grosso. O pai dele, Manoel Ferreira Grosso. faleceu sob a queda do COMURBA. Ele era engenheiro, o carro do bombeiro passou com o corpo.
Paramos no período em que você foi admitida no Cartório de Registro de Imóveis e Anexos ( Protestos, Títulos e Documentos, Pessoa Jurídica) do Tácito Morato Kräenbühl.
Depois separou tudo. Fomos fazer a entrevista: Eu, Antonia Tabai Alves e Rita Quadro, vimos o Milton Ramos escrevendo a máquina ficamos encantadas. No final do dia ele disse para voltarmos no dia seguinte para trabalhar, nós três voltamos, a Rita saiu, eu e a Antonia ficamos, a Antonia aposentou-se faz pouco tempo, resolveu parar. Ela ficou no Kräenbühl até o final. Depois o Tácito faleceu ela ficou com a Maria Luiza.
O Cartório é hereditário?
Antigamente era.
Você trabalhou em outro cartório?
Fui ao Cartório do Primeiro Oficio, na Rua XV de Novembro para ver se precisava de serviço fora do horário, eu trabalhava no Kräenbühl e precisava trabalhar mais para sustentar a minha filha. Comecei  fazendo fichário, saia do Kräenbühl, depois comecei a trabalhar também em “O Diário” de propriedade de Cecílio Elias Netto, na Rua São José, ficava a noite para pegar os pequenos anúncios. Ia e voltava a pé até a minha casa no Bairro Verde. Em “O Diário” fiquei uns dois ou três anos. Tinha três empregos. Até que fui trabalhar no Cartório do Primeiro Oficio O Seu Olavo Leitão que era o Tabelião se aposentou, ficou o Ben-Hur Galvão do Amaral ele passou a Tabelião e tinha o Galdino Antonio Grisotto que era o Oficial Maior. Atualmente Cartório não é mais hereditário, desde que entrei para trabalhar em Cartório havia a previsão de que o Cartório passasse a ser do governo, teve o concurso, o Tabelião que nós temos hoje, Oficial Cartorário: Júlio César Bezerra Rizzi veio de Ibitinga, por concurso. Tabelião substituto; Paulo José Cardoso. Substituto: Émerson Akira Gaban. Eu fazia escrituras, mini compras, depois que me aposentei passei a atender mais o público em balcão. Como tenho bastante conhecimento é mais vantajoso para o patrão ter alguém assim na frente. Cartório é um serviço de muita responsabilidade.
Você deve ter presenciado muitas situações curiosas ou diferentes.
Antigamente havia sim, principalmente quando algum herdeiro discordava da partilha e se negava a assinar, antigamente era terrível, ali no Cartório da Rua Boa Morte, às vezes saia cadeirada, um dos herdeiros achava que estava demorando muito saia para beber, quando voltava já arrumava encrenca, agora melhorou muito. Herdeiros nunca vistos pela família apareciam. São fatos que acabam sendo conhecidos das pessoas presentes. Temos que agir dentro da máxima ética. Hoje temos uma boa equipe de funcionários. O Nome Oficial é: 1º Tabelião de Notas de Piracicaba, popularmente conhecido como 1º Cartório de Notas. Data de Instalação do Cartório: dia16 de agosto de 1822.
Todo atendimento ao público traz grandes satisfações e amizades, mas às vezes vem alguém de mau humor, como você lida com isso?
Hoje já aprendi! A minha vida é levantar às seis horas da manhã. Faço o café. Faço o almoço, minha filha é psicóloga com diversos cursos na área, trabalha em uma escola pública no Bairro Bosque do Lenheiro. Trabalha com as crianças, tem uma boa relação com elas e com os pais. Ela presta serviço no Grupo São Francisco que adquiriu carteiras das operadoras Amhpla e HFC. Trabalha como psicóloga para contratar funcionários. Por nove anos ela trabalhou na Polibrasil. Só que como tem duas filhas, a noite ela precisa estar com as crianças. Meu genro é engenheiro na Delphi que é uma empresa de autopeças norte-americana e uma das maiores do setor no mundo, contando com cerca de 169.500 empregados. E dá aulas também. Saio do cartório ao meio dia, passo em casa engulo a comida, pego as crianças e levo na Vila Rezende. Às 13:00 horas estou no Cartório! À noite assisto uma novelinha suave, com as crianças, minha filha dá um reforço nos estudos delas. Com isso tudo encaro as situações sem me estressar! Atendo as pessoas da melhor forma possível.
Como você vê a educação que é dada as crianças atualmente?
A meu ver a criançada é muito folgada hoje! Antigamente não era assim. Hoje o celular é uma febre.
Você é uma pessoa muito conhecida em Piracicaba?
Mais do que tostão!
Você nunca teve a tentação de entrar para a política?
Já falaram muito para que eu entrasse, mas nunca quis.
Qual seu hobby?
Gosto de periodicamente viajar, amanhã mesmo vou com uma amiga assistir a um show de Tiago Abravanel, em São Paulo. Geralmente durmo a meia noite, às seis horas estou em pé!
Você se considera uma pessoa abençoada por Deus?
Eu digo que tenho Deus 24 horas por dia na minha vida! Às vezes algo parece que vai dar problema eu confio em Deus. “Sou do tipo que não deixa o almoço para a janta” sou muito sincera. “Deixei de ser branca para ser franca”.
O testamento é público?
Antes era qualquer pessoa tinha acesso, hoje não. O testamento só é entregue se a pessoa tiver falecido e o advogado apresentar a certidão de óbito. Quando era aberto antes do falecimento da pessoa trazia muitos inconvenientes, inclusive risco de vida para o doador.
Hoje o seu cargo qual é?
Sou escrevente. Comecei a trabalhar com 17 anos,aposentei-me pelo IPESP após completar 30 anos de serviço. O Ben-Hur quis que eu permanecesse no Cartório, recolhi mais 16 anos e aposentei-me pelo INSS.
Cartório é uma prestação de serviço que nunca irá terminar?
Acredito que não irá acabar, pois se trata de uma garantia ao cidadão. Além das constantes mudanças de leis, que visam atender as necessidades do público. A internet facilitou muito o acesso rápido às alterações. Seguir as alterações legais é o que dá validade a um documento.
Você gosta de música?
Gosto! Já fui ao Rio de Janeiro assistir aos desfiles das Escolas de Samba. Tenho vontade de ir novamente! Aqui em Piracicaba eu saí desfilando na Escola de Samba “Qual é o Pó?” Eu nem cheguei bem a sair quando vi tinham arrumado um carro alegórico, eu acompanhava na rua! Minha mãe era viva, sentávamos na guia da rua para assistir os desfiles na Avenida Armando Salles de Oliveira. Eu gostava de carnaval, ia no Clube Treze de Maio, depois que casei não fui mais.
Você conheceu o auditório que existia na Rádio Difusora com shows ao vivo?
Quando eu tinha uns 10 resolvi ir cantar na Rádio Difusora. Aos domingos ia cantar e ganhava um pacote de pó de café Morro Grande! Lembro-me do trem da Estrada de Ferro Sorocabana, do córrego do Itapeva, o trem passava ali na Avenida Armando Salles. De tarde com a minha mãe íamos pegar cambuquira para fazer sopa, éramos muito pobres. Minha mãe lavava roupa para um açougueiro, ele dava aqueles ossos, vinha com carne, fazia aquela sopa! Coisas que dá saudade! Sopa de fubá com cambuquira!
A corrupção existe pela oportunidade ou pelo caráter da pessoa?
Pelo caráter!
Você gosta de futebol?
Gosto! Sou corintiana! Não sou fanática, sento em uma roda de amigos e vamos vibrar! Estamos assistindo a Copa do Mundo! A gente quer que o Brasil ganhe, o Neymar estava movimentando-se menos do que a gente esperava em alguns jogos. Fica uma torcida!

Vítor Pires Vencovsky


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 23 de junho de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
 

ENTREVISTADO: Vítor Pires Vencovsky
 Vítor Pires Vencovsky nasceu na Santa Casa de Misericórdia, em Piracicaba a 19 de junho de 1965. Filho do Professor Roland Vencovsky, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo e Maria Olavia Pires Vencovsky, professora que trabalhou nos anos anteriores a sua aposentadoria nas escolas “José de Mello Moraes” e “Escola Estadual Sud Mennucci’. Tiveram cinco filhos: Claudia, Vitor, Norberto,Cecília e Ronaldo.
Você fez seus primeiros estudos em qual escola?
Comecei no Dom Bosco no jardim de infância, pré-primário, depois fui passando por várias outras escolas, estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, APAF-Escola Estadual Dr. Antonio Pinto de Almeida Ferraz, depois fui para os Estados Unidos, meu pai foi estudar lá, estudei um ano lá, eu tinha nove anos. É o lugar mais ao norte do centro da América, um dos lugares mais frios daquele país.
Como foi a sua adaptação lá?
Criança com nove anos adapta-se fácil em tudo. Claro que um caipira chegando a um lugar grande sente a diferença, Saint Paul é a capital do estado. Não é a maior cidade, a maior é Minnesota, uma cidade ao lado. Morávamos em uma casa. Só tenho lembranças boas de lá. Principalmente da escola, é muto diferente, há um desenvolvimento humano  mais completo do que aqui. Essa é a minha opinião, hoje, analisando a educação no mundo. Focam em muita arte, esporte, música, laboratórios, além da sala de aula como a nossa, existem essas atividades. Isso em escola pública, a Edgerton Public School. O aluno permanecia na escola até as três horas da tarde. Em 1974 eles já praticavam isso. 
E a alimentação?
Não havia a preocupação que existe hoje, se a comida iria engordar. O que lembro-me muito é do leite, nos Estados Unidos o leite é outra coisa. Não é o que temos aqui.  Os Estados Unidos estavam saindo do Vietnã, me lembro, não sei porque, que eu desenhava muito tanque de guerra, se eu fizer hoje um desenho de tanque de guerrá será aquele tanque da época do Vietnã, acho que foi influência da televisão.
Você fez amizades lá?
Não posso afirmar que fiz amizades, 9 anos é uma criança, atualmente se viajarmos para outro país quando retornamos, mantém-se o contato com a pessoa pela internet,naquela época não existia nada disso. O que marcou muito foi a neve, é um lugar onde a temperatura chega a 40 ou 50 graus negativos. Você tem que colocar um fluído especifico no radiador para não congelar todos os líquidos que tem dentro do carro. Fizemos muitos bonecos de neve. Fomos ao supermercado deslizando um trenó pela neve, não dava para ir de carro. Era utilizado como um carrinho de supermercado que deslizava pelo gelo. Tinhamos uma boa relação com os vizinhos.
Praticava esportes?
Joguei futebol ! Em 1974 os americanos já estavam investindo em futebol, os meninos e as meninas jogavam juntos. Recentemente vimos que o futebol feminino americano é muito forte. O futebol lá pegou mesmo, para as meninas. As opções de estudo e educação eram inúmeras. Por exemplo, perguntavam : “Qual instrumento de música você quer tocar?” Você escolhe, tem todo tipo de instrumento. Eu escolhi flauta. Pergutavam: “Qual esporte vcê quer praticar?” A arte também, “Pintura, desenho, o  que você quer fazer?”. Isso já faz 50 anos! Um olhar  para o desenvolvimento humano bem maior. A preocupação não é só com o objetivo de passar em vestibular. Não bastava ser bom em matemática e inglês, o ensino está voltado para o desenvolvimento completo do ser humano. O ser humano é muito mais complexo e eles trabalham todas as facetas do indivíduo. Dediquei a minha vida inteira para a àrea de ciencias exatas, até inicir um contato maior com as artes, agora estou no Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, na Academia Piracicabana de Letras, estou adorando essa parte de arte. As vezes o mundo nos conduz para a profissão, ser engenheiro. e a arte como é que fica?
Em 1975 voces voltaram para o Brasil?
Exato, e naquela época quando chegava de outro país virava o centro das atenções. Isso aconteceu comigo, assim como com outros amigos cujos pais também trabalhavam na ESALQ e viajaram como  nós. Nossos brinquedos, roupas, eram diferentes. O mercado consumista americano é desenvolvido há muitos anos. Minha mãe cita que nas decadas de 70,80, quando a pessoa viajava para o exterior iam amigos, familiares, até o aeroporto para despedirem-se. Era um acontecimento! Atualmente tornou-se um fato comum. Naquela época era um contecimento excepcional, motivo de festa! Tanto na ida como na volta! Em 1975 fui estudar no Honorato Faustino, onde estudei três anos e meio, a oitava série fui estudar no Dom Bosco. Logo em seguida meu pai foi trabalhar em Sete Lagoas, Minas Gerais, foi chefiar uma unidade da EMBRAPA,  então de setembro de 1979 até o final de 1983 morei em Sete Lagoas. Cheguei, fui apresentado à classe inteira da escola, perguntaram de onde eu era. Respondi: Piracicaba! A sala inteira ficou um bom tempo rindo muito! Não entendi nada. Passados alguns anos conclui que devo ter me expressado no legítimo caipiracicabano, o sotaque forte. O mineiro tem um sotaque muito diferente. Mas foi lá que passei a juventude. Tive duas fases em Sete Lagoas, uma em que moramos dentro da EMBRAPA, para ir para a escola o onibus da EMBRAPA nos levava e trazia. Lá a EMBRAPA tinha uns 500 metros de rua só com plantações de pés de goiaba nas laterais. Outra de amora, tamarindo, e outras frutas. Vivíamos em cima de àrvores comendo uma variedade grande de frutas. Convivemos muito com a natureza. No último ano é fomos morar na cidade. Foi uma libertação! Morava no centro da cidade. Vivemos a vida comum a um jovem da cidade: bailes em clubes. Sempre joguei basquete, na escola, lá eu jogava no time da cidade.
Você é um bom atleta de basquete?
Meia boca! (risos). Quando eu estava no mini do Clube de Campo de Piracicaba, tinha começado a jogar basquete, com treinamento do Marquinhos. No primeiro jogo, fomos jogar em São Paulo, a primeira bola que veio na minha mão fiz a cesta de “chuá” (É a cesta que é arremeçada e não toca no aro vai direto , é muito bonita de ser feita.). Também parou por ai!
De Sete Lagoas a família voltou à Piracicaba?
Tínhamos as opções de permanecer  em Sete Lagoas ou voltar à Piracicaba. Decidimos voltar. Fui fazer engenharia mecânica na Escola de Engenharia de Piracicaba, entrei em 1984.
Você teve um destaque na Escola de Engenharia?
Quando entrei, alguém falou: “Quem for o melhor aluno vai fazer estágio na Petrobrás no Rio de Janeiro!”. Parece que em uma das turmas anteriores alguém conseguiu isso. Resolvi estudar bastante, gosto até hoje de engenharia, estudei muito! Fui considerado o melhor aluno da turma.
E o prêmio?
O prêmio foi um diploma. A época em que fiz engenharia talvez tenha sido no final de um tempo em que havia um Brasil que tinha projetos nacionais. A engenharia no Brasil acabou no final da década de 70. A década de 80 é o que chamam de “década perdida”. Não teve projeto, inflação alta, foi um caos. A engenharia que existia até aqui em Piracicaba, São Paulo, Rio de Janeiro, de grandes obras do Brasil, hidroelétricas, tudo aquilo que os militares fizeram, usou-se muito a mão de obra dos engenheiros. Eu e vários amigos da Escola de Engenharia fomos trabalhar em outras áreas. Como vendedor técnico. Antes de me formar consegui um estágio na Philips, no Departamento de Projetos da Unidade de Piracicaba. Gostei muito disso. Projeto é arte. Vejo na nossa história um fenômeno a separação e o rótulo: você é apto para a área de humanas, ou só de exatas, como se fosse possível concentrar o indivíduo dentro de uma condição absoluta.  A meu ver isso é inexistente, o individuo pode desenvolver várias atividades.
Como foi o desenvolvimento do seu trabalho na Philips?
Após toda a tramitação de seleção, no primeiro dia de trabalho meu chefe me disse: “ Tenho duas notícias para lhe dar, a partir de agora a Philips não vai projetar nada.” Aqui entra  um fato interessante, tinham técnicos, que não eram engenheiros não, fui contratado na Philips sem ter o diploma. Fora do Brasil diploma não funciona, não é o importante. Nós valorizamos muito o diploma, no exterior valoriza-se o conhecimento. Ele então explicou que os projetos viriam de Singapura, da Holanda. Recebíamos muitos desenhos, era o inicio da informática, quando eu estava lá ela tinha uma sala enorme com dois ou três computadores gigantescos. Era de desenho de CAD. Hoje faço o mesmo desenho em um notebook. Meu trabalho era receber desenhos, em papel vegetal, eu tinha que adaptar aquele desenho para o Brasil. Tinha que conferir tudo, alguns números não estavam muito bom, raspava com gilete e desenhava em cima de novo. Trocava a legenda e colocar o selinho da Zona Franca de Manaus. Os produtos eram produzidos lá. Piracicaba era a Unidade Som a Unidade Vídeo era em Guarulhos. A segunda notícia que ele falou foi: “-A Philips vai sair de Piracicaba”. Fui morar em Guarulhos. Aqui entra um detalhe importante, eu tinha dois meses de Philips, surgiu a oportunidade de ir para o Japão, o japonês responsável tinha trabalhado na Usina de Itaipu, queria manter o português dele. Fiquei dois meses no Japão. Isso foi no período em que eu estava estagiando na Philips, parei o estágio e fui.
Em que cidade você ficou?
Fiquei em Tóquio. Isso foi há 30 anos. No Japão as lojas de departamentos. Cada andar é um equipamento. A parte inferior é de fotografia e filmadora. A de cima com eletrodomésticos. Outro andar só de aparelho de som. Era outro mundo! Naquela época fui visitar a Televisão NHK, televisão pública, o pessoal confunde estatal com público. Público significa que os japoneses pagam uma mensalidade para fazer uma televisão de qualidade. Conheci os estúdios onde fazem as novelas dos samurais, de 2000, 3000 anos atrás. Entrei em uma sala e conheci a televisão de alta definição que eles estavam começando a fazer. Naquela época. Depois de 30 anos essa televisão chegou ao Brasil! Piracicaba começou agora! Lá já tinha CD, DVD aqui ainda era o disco de vinil! O Japão de que se fala aqui eu vi lá. Vai asfaltar a rua, em um dia está pronto. O trem lá é maravilhoso. Onde morei, no bairro de Shinjuku é como a Avenida Paulista de São Paulo. A sede das grandes corporações japonesas estão geralmente nesse bairro. Normalmente no Japão você não tem prédio alto, por causa de terremoto. Nesse lugar tem vários prédios. Existe um sistema que conheci na época, é como se fosse uma sapata grande sendo composta por uma camada em aço e outra de borracha, e assim são feitas várias camadas. Hoje deve ter coisas mais avançadas.
E o trânsito? Você dirigiu lá?
Dirigi, é diferente por ser o sistema inglês, o motorista senta-se do lado direito do veículo. Dirigi muito pouco, não há a necessidade de carro lá. Não sei se existe isso escrito, mas saí de lá com a seguinte impressão, se você olhar todos os tipos de transportes que existem, prioridades: o trem; bicicleta que anda na calçada, não anda na rua, tem prioridade sobre o pedestre inclusive. Depois vem o pedestre. Carros e motocicletas não são prioridades. Se você comprar um carro, azar seu. Não tem onde estacionar carro, tudo é muito apertado. Se comprar um carro tem que ter garagem.
Você morava em apartamento?
Eu morava em uma das salas do prédio onde ficava a empresa. Eles alugavam meia dúzia de salas pequenas, em uma dessas salas era onde eu dormia, junto com as caixas, era um depósito na verdade. Tinha épocas em que ficavam caixas até o teto onde eu dormia. O pessoal que trabalha com urbanismo diz que aqui no Brasil é tudo muito compacto, no Japão você tem avenidas largas, parques maravilhosos, há espaço. Na área residencial as ruas são mais estreitas. Mas há grandes áreas abertas, bonitas.
E as cerejeiras?
Existem muitas, na primavera fazem festas com milhares de pessoas no parque, fazendo piquenique embaixo da cerejeira. Os templos são maravilhosos.
E a alimentação?
Pode-se dizer que o ocidental passa um pouco de fome. Não é aquele prato de arroz e feijão que a nossa mãe faz. Não existem coisas que enchem o estômago. Quando somos jovens, o pensamento é “Vou comer isso aí?”. Quando mais velho, o pensamento é: “Que comida saudável!”. Comem peixes, legumes, isso é muito saudável. Senti muita falta de doce. Quando podia comprar um chocolate era uma coisa excepcional, o japonês não tem doce como os nossos. Na família que cuidou de mim ninguém comia doce. Há os doces japoneses, que é bem diferente. Após o tempo em que permaneci no Japão, voltei, continuei estudando. No comecinho de 1989 me formei, fui morar em Guarulhos.
De Tóquio para Guarulhos!
Fui trabalhar na Philips, só que essa empresa japonesa tinha aberto um escritório aqui em São Paulo a Branico-Brasil Nippon Company. Fiquei menos de um ano na Philips de Guarulhos. O pessoal dessa empresa japonesa me chamou para trabalhar na empresa que haviam montado no Brasil. Em 1989 trabalhei nessa empresa em São Paulo. Em 1990 voltei pra o Japão onde permaneci por um ano. Vendíamos um aparelho chamado Video Printer ( impressora de vídeo), ele substituiu o revelador de filme de Raio X, dos aparelhos de ultrassom. Antigamente a pessoa ia fazer ultrassom, com a bexiga cheia, a imagem era enviada para uma reveladora de filme, tinha que ver se o resultado do filme era com boa qualidade, isso levava um tempo enorme, esse aparelhinho de vídeo captava ao imagem do ultrassom e imprimia na hora. Eliminou o processo da pessoa ficar esperando com a bexiga cheia! Foi uma revolução para a área médica. Passei esse tempo que fiquei nessa empresa, participando de congressos da área médica na área de imagem. Vendendo essa idéia para os médicos, vamos trocar essa reveladora gigantesca que consome filmes, produtos químicos que tem que revelar, ter câmara escura, seu consultório não precisa mais de uma sala de revelação. Você tem um aparelhinho embaixo do ultrassom, aperta um botão a imagem sai na hora. As primeiras máquinas eram da Sony. Pegávamos da Sony, no sistema Original Equipment Manufacturer (OEM), trazia esses equipamentos já com a marca trocada lá. Uma prática comum nas indústrias hoje. Já não se usa mais essa tecnologia, joga tudo para o computador. Pode imprimir ou não, sem ter a necessidade de usar papel térmico. Uma coisa que me marcou muito, eu estava em um parque com a família desse japonês, sua mãe, sua esposa, os dois filhos, ele apontou para uma criança junto com seu pai, ambos com uniforme de beisebol. Ele disse-me: “-Está vendo aquele pai? Ele aproveita a vida, eu trabalhei a minha vida inteira”. Hoje fico pensando, o Japão é uma ilha, onde não existe nenhum recurso natural, como construíram aquele país? Com trabalho! Aprendi naquele momento que para construir um país tem que trabalhar! Vinte e quatro horas por dia! Fico admirado, estamos passando este momento da Copa quando tudo para! Esses países que são líderes é porque a maioria das pessoas trabalham. No Japão chegam a extremos. Para o japonês assistir jogos é luxo. Hoje esse japonês tem uma empresa de alta tecnologia, com patentes. E 300 funcionários. O Japão ocupa a posição em que está porque tem muita gente trabalhando muito e sério, organizado. Fiquei alguns anos nessa empresa no Brasil. Foi um período complicado, havia a reserva de mercado, tinha muitos pedidos, mas havia a cota de importação. Os médicos querendo adquirir os equipamentos, mas não tinha como entregar. A empresa mudou para Ribeirão Preto, eu fui para lá, conheci uma moça. E em uma dessas viagens para esses congressos médicos. Fui para o Rio de Janeiro. Em um congresso no Hotel Nacional. Falei para essa amiga de Ribeirão Preto: “Estou indo para o Rio de Janeiro, vou ficar sozinho lá.”. Ela disse-me: “Tenho uma amiga que mora lá. Liga para a Catarina!”. Quando cheguei no Rio liguei para a Catarina, hoje a Catarina é a minha esposa! Neiva Catarina Giacomel. Ela é de Caxias do Sul, os seus pais moravam em São José do Rio Preto.
Você chegou telefonou para ela e qual foi a reação dela?
Ela trabalhava no Hospital da Marinha, é militar. Imagine só, eu ligando para militar! Ela atendeu, disse que não conhecia a moça que era a minha amiga, ai disse-lhe: “-É a Marta de Ribeirão Preto, estudou enfermagem com você, na USP!”. Daí ela lembrou. Como as coisas aqui estavam meio incertas, fui trabalhar no Rio de Janeiro. Lá nos casamos no civil. O casamento religioso foi em São José do Rio Preto.
Um detalhe pessoal, como marido de uma mulher militar, quem manda e quem obedece?
(Risos) Isso independe da condição civil ou militar, a mulher manda no homem há muito tempo! Como ela trabalhava no hospital o ambiente é muito diferente das bases, dos navios. Claro que a hierarquia ajuda, ela comandava a CTI e a Emergência. No ambiente militar, se tiver problema o subordinado pode ser preso. A indisciplina em ambiente militar dá cadeia. Ela trabalhava no maior hospital da marinha brasileira. Por motivo de saúde ela entrou para a reserva.  Nossos dois filhos Leonardo e Eduardo nasceram no Rio de Janeiro.
Isso nos bons tempos do Rio?
Já não eram os bons tempos não. No último bairro em que morei, Tijuca, quase toda noite tinha tiroteio. Os problemas de lá existem há muito tempo. Apesar de tudo, adoro o Rio, fui várias vezes para lá depois de mudarmos para Piracicaba.
Você trabalhou em que área quando foi para o Rio?
 No Rio de Janeiro trabalhei uns tempos em uma empresa de Raio-X, depois mudei para a informática, que é a área que trabalho até hoje. Em 1995 passei a trabalhar com software para engenharia. Em 2000 montei a empresa que tenho até hoje. Trabalho com mapas. São mapas que alguns clientes pedem, mapas de ferrovias no Brasil. Eu produzo desde 2005 para uma editora de São Paulo. Os mapas da Revista Ferroviária eu que faço. Infelizmente não temos grandes mudanças nas linhas ferroviárias. Já fiz mapas para a Raízen, usam em salas de reuniões para planejamento. São mapas de logísticas. Vê toda infra-estrutura de transportes, portos. Tudo no mapa. Tem uma chapa de aço atrás e um vidro na frente, dá para por imã ou escrever.
Você leciona também?
Leciono na FATEP- Faculdade de Tecnologia de Piracicaba. Esse ano comecei a dar aulas na Faculdade Anhanguera em Limeira. Quando voltamos do Rio para Piracicaba, Resolvi voltar a estudar. Eu tinha feito engenharia mecânica e pós-graduação em marketing na ESPM, eu era vendedor. Procurei uma universidade, um dos casos era a UNICAMP. Estudei o projeto que um professor fazia e mandei um projeto para ele. Mais ligado a área de mapeamento. Essa área chama-se Sistemas de Informações Geográficas – SIG.  Fiz um processo de seleção e entrei para fazer mestrado. Fiz doutorado. Acabei indo para ferrovia. Ele estudava redes técnicas. Um dos autores que eu estava estudando era o Dr. José Vicente Caixeta Filho da  ESALQ. Logo que cheguei em Piracicaba Renato Ferrante me ligou, perguntou-me se eu fazia mapas, disse-lhe que fazia, ele então perguntou-me se queria conversar com uma pessoa do Instituto Histórico. Fui lá, conversar com o presidente, o Tiquinho, disse-me que estava precisando de mapas. Fiz  a proposta de mapas para ele. Só que a minha relação com ele foi tão boa, que não fiz mapa nenhum, mas comecei a ajudar o Instituto. Isso foi em 2005. O IHGP fazia parte da vida do Tiquinho, como era conhecido Haldumont Nobre Ferraz. Ele que iniciou o processo de informatização do Instituto. Quando cheguei ele já estava digitalizando jornais. Ele e outros presidentes do Instituto conseguiram formar um acervo tão valioso, que estamos sempre trabalhando em cima desse acervo para colocar na internet.  Uma pessoa que para mim foi muito importante é o Pedro Caldari. Ele deu uma direção administrativa para o Instituto. Como Diretor da Dedini, conhece tudo de administração. As instituições necessitam de gestores. Aprendi muito com ele. Fiquei quatro anos como tesoureiro dele, quando virei presidente estava tranqüilo. Se o Tiquinho abriu as portas o Pedro Caldari deu a direção. Hoje fico muito a vontade para assumir a presidência da Academia Piracicabana de Letras por causa disso. A Academia sempre foi anexa ao IHGP, então a conheço desde quando entrei no Instituto. Faz três anos que escrevo para o Jornal de Piracicaba, meu foco é falar da sociedade brasileira, ou mundial também. O lado social da tecnologia. Fui presidente do Rotary Club Piracicaba-Vila Rezende. No ano passado procurei Evaldo Vicente, disse-lhe da minha especialização em ferrovias, fiz um plano de um ano de artigos, então nas quintas-feiras tenho um espaço que se chama “Ferrovia e Sociedade” na Tribuna Piracicabana.
Sua posse na Academia Piracicabana de Letras foi quando?
Na sexta-feira, dia 23 de junho de 2018.

DEMARISSE MACHADO GOLDMAN


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 16 de maio de 2018
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: DEMARISSE MACHADO GOLDMAN

 

Demarisse Machado Goldman e Frank Perry Goldman se conheceram, casaram, são dois cientistas sendo que ele trouxe para o Brasil a cultura da pesquisa científica social, dedicou sua vida à pesquisa. Ela ainda na ativa, ela faz o que está ao seu alcance. Como todos os pioneiros, despertam os mais diversos sentimentos, reservados, avessos a publicidade,  contribuíram e contribuem muito com suas obras para o desenvolvimento sócio-cultural deste continente chamado Brasil. Com inúmeras obras publicadas, disseminaram idéias e conceitos inovadores.
A Congregação das Irmãs de São José surgiu na França, no século XVII, na cidade de Le Puy , com as seis primeiras Irmãs: Francisca Eyraud, Claudia Chatel, Margarida Burdier, Ana Chalayer, Ana Vey e Ana  Brun sob a orientação do Pe. João Pedro Médaille e do Bispo Dom Henrique de Maupas. Foi fundada no dia 15 de outubro de 1.650,e espalhou-se pelo mundo com a missão do “exercício da obras de salvação  e perfeição da misericórdia espiritual e corporal” por intermédio dos trabalhos em hospitais, direção da casa de órfãs, visita aos pobres e aos doentes e mesmo na instrução de moças, em plena Revolução Francesa. Um pequeno grupo da Congregação de São José de Lyon foi enviado em missão à cidade de Chambéry. Tempos depois cresceu, e tornou-se independente, dando início à Congregação Internacional das Irmãs de São José de Chambéry. Dessa cidade, outro grupo foi enviado ao Brasil, em 1858, para a cidade de Itu (SP), com a finalidade de promover a educação feminina. Posteriormente expandiu suas ações em outras cidades do estado de São Paulo, nas áreas social, da saúde e da educação. Eram 7 Irmãs, mas uma veio a falecer sendo sepultada no mar. Na segunda viagem, em 1859, chega Irmã Madre Maria Teodora Voiron, que com apenas 24 anos de idade fica responsável pela missão das Irmãs no Brasil, exercendo seu cargo por 60 anos. Muito humana, Madre Maria Teodora enfrentou barreiras e preconceitos da sociedade, numa época em que reinava a escravidão negra no Brasil. Junto ao Colégio Nossa Senhora do Patrocínio, ela ousou abrir a primeira escola para meninas negras, filhas de escravas. O Colégio Santana teve seu início em 18/12/1892, na Av. Angélica, com cinqüenta pensionistas e nove órfãs. Sua diretora era a Irmã Maria Virgínia Faraldi, da Congregação das Irmãs de São José de Chambéry. Em 2009 foi comemorado o sesquicentenário da chegada de Madre Maria Teodora Voiron no Brasil, a 1ª Provincial das Irmãs de São José de Chambéry. Em 1894, o Colégio, cujo nome era Sagrado Coração de Maria, foi transferido para o bairro de Santana, no alto da colina, passando a chamar-se “COLÉGIO SANTANA” para se diferenciar da Congregação Sagrado Coração de Maria, que abrira um colégio com este nome na cidade de São Paulo. Por muito tempo, a Capela Santa Cruz e o Colégio Santana foram pontos de referência em documentos oficiais da cidade. Este Colégio, junto com o Observatório Astronômico de Santana, são considerados marcos culturais do bairro. A partir de 1893, o Padre Roberto Landell de Moura fazia várias experiências, testando seu aparelho que denominou Telefone Sem Fio (pois já existia o telefone com fio). Nesta época contava com a colaboração de uma Irmã da Congregação de São José de Chambéry, que havia chegado da França e tinha conhecimentos das pesquisas relacionadas. Assim o Colégio Santana entra para a história das telecomunicações do Brasil e do mundo, pois no solo desta escola foram feitas as “primeiras experiências de transmissão de voz humana, sem auxílio de fios, que se tem notícia na história mundial das telecomunicações.”(Em Piracicaba há uma herma com um busto do Padre Landell de Moura, na rotatória da Avenida Independência com a Avenida 31 de Março. (Segundo historiadores, Landell de Moura é o inventor do rádio, sendo que o italiano Marconi recebeu o mérito). As Irmãs do Colégio Santana mobilizaram-se para a instalação da 1ª linha telefônica no bairro, conseguindo que, em 16/03/1912, que a Companhia Telefônica instalasse o 1º aparelho da região, com ligação direta para a cidade em seu prédio.  Demarisse Machado Goldman nasceu a primeiro de outubro, na cidade de Santa Cruz das Palmeiras, filha de João Aranha Machado e Ana Eufrosina Aranha Machado, tiveram quatro filhos: Luis, Laura, José e Demarisse. Seu pai era proprietário de fazenda, falecendo quando Demarisse ainda era criança. Sua mãe casou-se em segundas núpcias com José Marolo.
De Santa Cruz das Palmeiras a família mudou-se para que cidade?
 Moramos por algum tempo em Duartina, depois mudamos para São Paulo. Eu passei um tempo residindo com meus tios Graciliano Leme e Laura Leme.
Em qual escola a senhora fez os seus estudos?  
Fiz os meus estudos no Colégio Santana, na Rua Voluntários da Pátria, em São Paulo. Cheguei lá pela primeira vez em um domingo, subi as escadarias de mármore branquinho. Quando entrava em férias viajava pela Estrada de Ferro Companhia Paulista e pela Estrada de Ferro Sorocabana também. Eu não viajava muito, estava quase sempre interna. O uniforme era composto por sai azul marinho, pregueada, blusa branca todos os dias, havia a blusa para dia festivo, ou de saída. Era um uniforme todo bordado, muito bonito. Usavam-se meias brancas, com sapatos pretos. Por muito tempo estudei e toquei piano.
A que horas da manhã levantavam?
Assistia a missa todos os dias, as 5:45. Tomava café, as 10:00 horas saia para o pátio interno para dar uma voltinha e já voltava para estudar. Naquela época a região era formada por chácaras. Estudei todo o período escolar no Colégio Santana, depois fiz a Escola Normal na atual Escola Estadual “Padre Anchieta”, antiga Escola Normal “Padre Anchieta”, localizada na capital paulista, no bairro do Brás. Ia para a escola de bonde.
Era um colégio comandado por freiras?
A convite do governo brasileiro, com o apoio dos grandes proprietários de terras, as Irmãs de São José para estabelecerem-se no Brasil.
A senhora chegou a tomar chá no Salão de Chá do Mappin Stores da Praça Ramos?
Quando estudante no Colégio Santana, cantei no Teatro Municipal de São Paulo. Comecei a namorar o meu marido Frank Perry Goldman no Mappin! Meu marido deu a vida dele pelo Brasil! Ele queria conhecer o Brasil, começou a estudar na Universidade da Virginia (EUA), o diretor dele na universidade não queria que ele saísse de lá, ele começou a escrever para o Brasil, em português, enfim, ele veio para o Brasil, a principio para São Paulo. Veio para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Ele já veio falando português, a primeira vez conversamos no Mappin Stores, ele tinha chegado ao Brasil fazia pouco tempo, perguntei-lhe: E já fala português?” Ele respondeu-me: “Eu me defendo!” Achei interessante. Casamos a 8 de dezembro de 1954. Em 1945 não existia a USP, não existia nada disso. Ele queria trabalhar com esse pessoal, principalmente ensinar pesquisa. A pesquisa desde aquele tempo era com Perry Goldman. Não existiu uma pessoa que dedicou tanto a vida à pesquisa. É um fato reconhecido em muitas localidades onde esteve presente. O livro “Big Metrópole, América Do Sul” é um estudo de uma metrópole que consta entre as maiores da América do Sul. O processo de desenvolvimento rápido da urbanização, industrialização e comunicação moderna originou o estudo feito por Frank Perry Goldman sobre a cidade de São Paulo. Dr. Frank Perry Goldman utilizou em sua tese de doutorado “A imigração norte-americana para o Brasil após a Guerra Civil” defendida em 12/05/1961teve como orientador Sérgio Buarque de Holanda. Anualmente é realizado o Ciclo de Palestras de Gerontologia “Professor Dr. Frank Perry Goldman”, na Unesp em Rio Claro.
A senhora lecionou no Colégio Santana?
Ainda muito jovem fui convidada pelas irmãs para lecionar lá. Muitos anos depois, representei o Brasil na Assembléia Mundial do Envelhecimento, Frank representou a Europa nesse evento, em 1982.
A senhora mudou-se de São Paulo para o interior?
Sempre morei um pouco em São Paulo e um pouco no interior.
Em que ano a  senhora aposentou-se?
Tenho a impressão de que não me aposentei até agora! Continuo trabalhando! Gosto de escrever, de participar. Não gosto de publicar.
Quantos livros a senhora já escreveu?
Não sei quantos, nunca parei de escrever, tenho um bom número deles. (Nesse momento vejo um dos seus últimos lançamentos, com capa de muito bom gosto cujo nome é: “Um tributo à amizade”, bilíngüe (português/inglês). Para minha surpresa, sobre a mesa o famoso livro de Frank Perry Goldman “BIG METRÓPOLE, América do Sul”, também com uma capa de excelente expressão). 
A senhora tem fluência em português e inglês?
Tenho! Lecionei inglês. Fiz pedagogia aqui em Piracicaba, na ESALQ. Ia fazer o mestrado, cheguei a fazer oito matérias, só que nessa época meu marido adoeceu, nós sempre escrevemos juntos. Gosto de lecionar, na UNESP mesmo vamos fazer o lançamento de um livro, gosto muito de ler em inglês.
A senhora dirigia veículos?
Dirigia, meu marido tinha o carro dele e o meu primeiro carro foi um Fusca , ano 1960, azul. Tenho carteira de motorista americana também. Morei dois anos em Santa Bárbara, Califórnia.
Como foi a sua vida nos Estados Unidos?
Maravilhosa! Escrevi um livro sobre a minha sogra. Ela e o marido tiveram uma participação ativa durante a Segunda Guerra Mundial. Tive a oportunidade de estudar em Miami, Califórnia. Nos Estados Unidos tive uma vida tranqüila, dirigia carro normalmente. Nem eu nem o meu marido temos dupla cidadania. A UNESCO convidou-nos para ir até a França.
Qual é a diferença que a senhora sente dos dias atuais e do passado?
Eu aceito o que me é oferecido. Assim como enfrentei a Assembléia Mundial do Envelhecimento posso participar de qualquer lugar. Visitei o Papa, visitei o Oriente, visitei onde pude.
Como a senhora vê o futuro do Brasil?
Acho que o Brasil está um pouco confuso. A Itália decide e sabe o que quer. Os Estados Unidos decide e sabe o que quer. E nós?
Falta educação?
Também falta emprego. As Universidades do interior é que estão segurando a situação.
Qual é a mensagem que a senhora dá aos jovens?
Acho que eles devem obter as melhores informações, sem informação, sem sabedoria ninguém faz nada. Só fica copiando tudo.
A senhora assiste televisão?
Assisto, mas prefiro ler, na televisão temos muitos extremos, alguns difíceis de aceitar.
A seu ver, há a necessidade do povo brasileiro refletir mais sobre si mesmo?
As pessoas com quem tenho contato estão estudando, procuram melhorar, achei que a UNESP de Rio Claro, por influência do meu marido é muito importante. Frank foi muito bem, principalmente porque ele começou a lecionar pesquisa. Aqui o que precisava, segundo ele, é pesquisa. E foi isso que foi feito.
Com a espiritualidade e experiência de vida, além do grande conhecimento científico, a senhora chegou a conclusão sobre a nossa existência?
Isso não é muito fácil de responder! Podemos ver  que nós todos temos a mesma base, e dessa base podemos melhorar ou piorar. Do começo ao fim. Gosto de sentir o que vem de bom de dentro de outras pessoas.

 

JOSÉ FRANCISCO CARRARO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 09 de junho de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADO:JOSÉ FRANCISCO CARRARO
José Francisco Carraro é Engenheiro Civil, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Técnico em Química, tem Licenciatura em Física, Ciências e Matemática e é Consultor em Ergonomia. Didático, expressivo, acumula inúmeros aparelhos básicos, de baixo custo, onde os princípios da física, química, matemática são apresentados de forma concreta. Suas aulas parecem apresentações de um mágico! Os fenômenos descritos em livros de ensino básico, que parecem tão distantes, em suas mãos mostram como estão presentes no cotidiano. Em seu pequeno laboratório abarrotado de experimentos, seu entusiasmo transborda, contagia. Amor ao que faz, esse é o seu segredo. José Francisco Carraro nasceu em Piracicaba, no Bairro Alto a 14 de julho de 1956, filho de Mário Carraro Filho e Ivone Maria Furlan Carraro que tiveram os filhos: Mário, Luiz, José, Ivone, João Marcos e Paulo Sérgio. Seu avô era alfaiate, o famoso Ângelo Carraro, tinha a Alfaiataria Carraro na Rua Moraes Barros. Tempos em que um bom alfaiate era muito considerado. O seu pai era representante comercial.
Seus primeiros estudos foram aonde?
O primeiro ano eu estudei no Colégio Salesiano Dom Bosco. No ano seguinte estudei no Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. Voltei a estudar no Dom Bosco até completar a quarta série do ginásio. O meu modelo foi o Padre Doutor João Modesti. Inclusive em sua homenagem, ainda em vida, foi dado o seu nome a Praça Pública de Araras. Era um cientista, a aula de ciências dele era fantástica, hoje sou professor motivado por ele. Terminei a quarta série do ginásio e fui fazer o Curso Técnico em Química que era no Colégio Industrial Dom Bosco, funcionava dentro do Colégio Dom Bosco.
Naquela época estava em moda o curso de química.
A área de química é uma área muito boa. Até hoje. Em 1974 me formei na Primeira Turma do Colégio Técnico Dom Bosco. Isso foi em 1974. Ai eu fui fazer o cursinho CLQ para prestar o vestibular, funcionava onde foi o antigo Jardim da Cerveja, na esquina da Avenida Independência com Carlos Martins Sodero. Lá eu fiz o MAPOFEI, quem prestava engenharia fazia para entrar nas escolas Mauá, Politécnica e FEI, exame escrito apenas. Prestei vestibular na EEP – Escola de Engenharia de Piracicaba, naquela época só tinha engenharia civil. Ali tive aula com os professores Justino Castilho, Oswaldo, Furlan, Otávio, Sadi Previtale, entre tantos outros mestres.
Você só estudava?
Nesse período comecei a dar aula em paralelo, no curso noturno de química do qual eu tinha saído. Tive uma grande ajuda do Professor Cícero de Moura, professor da ESALQ, ele me auxiliou muito no começo com relação a didática. Fiz o teste no próprio colégio técnico de onde tinha saído e comecei a lecionar Física em 1979. A noite. Durante o dia fazia engenharia. Formei-me engenheiro civil em 1980.
Formado em engenharia, seu objetivo era entrar na área?
Exatamente! Montei um escritório na Rua Moraes Barros, foi quando vi que as dificuldades de mercado eram grandes, principalmente pelo fato de não ser proprietário de uma construtora. Fiz um teste no CLQ para lecionar de manhã.
O profissional liberal para começar sozinho, sem estrutura, é difícil?
É muito difícil. Foi um período de inflação alta. Os investimentos financeiros eram mais atraentes do que imobilizar o capital. O número de construtoras em Piracicaba era reduzido.
Foi um período em que profissionais de engenharia atuavam em outras atividades.
Para formar um engenheiro leva-se 17 anos, joga-se fora do mercado de trabalho um profissional que estudou 17 anos. Ficamos com uma lacuna muito grande nessa área.
Você chegou a usar régua de calculo? 
Usei! Tenho ainda uma! Falo para os alunos que usei régua de cálculo ninguém sabe o que é isso! Na época quem tinha posses comprava a calculadora HP, quem tinha orçamento mais apertado comprava a Texas. Eu comprei a Texas, em 18 prestações!
A engenharia é uma área apaixonante, você sente a materialidade do que está fazendo?
Houve uma evolução muito grande, melhorou bastante. O mercado está procurando engenheiro civil por ter mais obras. Eu aconselho meus alunos a fazer engenharia, pelo menos tem um leque de opções. A engenharia é uma área que renova, tem um raciocínio, você consegue colocar em prática e funcionar.
Você casou-se?
Casei na época em que me formei, com Maria Helena Sabbag Esteves Carraro, fisioterapeuta, trabalhou muito tempo na área, hoje está na Administração Hospitalar. Trabalha no Hospital dos Fornecedores de Cana. Nesse intervalo já tinha feito teste no CLQ e consegui também aulas de manhã. Tivemos o Ricardo, engenheiro de Computação e a Tatiana professora de ginástica acrobática. Temos duas netas: Valentina e Isadora. Meu genro e minha nora foram meus alunos no Colégio Koelle  de Rio Claro
No CLQ quem fez o teste com você?
Naquela época era o auge! Quem assistiu às minhas aulas foram: Torigoi, Gonçalves, Turcão, Newman, todos os professores da elite. Eu, recém formado, fazendo teste! E graças a Deus tive sucesso. Primeira dávamos aulas para o primeiro e segundo colegial. Após dois anos se tivesse capacidade entrava como professor no cursinho. No CLÇ cheguei a dar aulas para a turma de revisão.
E fazia aquelas “gracinhas” de professor de cursinho?
Com certeza! Umas musiquinhas de física que cantamos para a memorização. Quando fazia aulas de ótica, com meu laboratório que sempre tenho em mãos, fazia uma experiência tinha que ter conhecimento: um raio de luz que viesse paralelo refletia no espelho e passava pelo foco. Então se eu gritasse: “Paralelo” o pessoal respondia: “Pelo foco”! Até hoje quando encontro um ex-aluno pelas ruas ele me diz: “O senhor me fez uma lavagem cerebral eu olho para o senhor penso “Paralelo” e respondo “Pelo Foco”! As formas de memorização faziam parte do cursinho. Eu consegui gravar uma Tabela Periódica. Eu fazia isso brincando com eles. O que fazemos é com eles estimulem o cérebro.
Você pratica esporte?
Pratico futebol, fui da equipe do Oratório do  Pe. Luiz Ignácio Bordignon Fernandes, seleção “A” fazíamos a preliminar do jogo do XV de Novembro. Esse padre era um santo, o que ele fazia por aquele Oratório que na época tinha mais de 300 crianças era impressionante. O que me deixava impressionado era quando íamos jogar a camisa estava perfeita, impecável. Passados muitos anos fui até Araras, onde estava o Pe.  Bordignon junto com o Pe. Modesti. Um dia perguntei ao Pe. Bordignon como ele conseguia aqueles uniformes bonitos. Ele disse-me: “Tinha alguém que gostava do colégio e sempre dava de presente”.  A partir daquele ano passei a levar todo ano um jogo de uniforme ao Pe. Bordignon. Na área de matemática era o Pe. Julio Bersano ele me deu uma prova, na época fui o único que acerteu uma questão, errei a outra, ele considerou a questão inteira e a outra dizendo:me “Você foi o único que acertou essa questão, por isso vou te dar 9,5. Guardei essa prova, encontrei um dia esse padre em Campos do Jordão, disse-lhe que tinha a prova guardada, e ele tinha sido a causa de eu estudar matemática!
Você jogou futebol profissionalmente?
 Quase cheguei ao profissional do XV de Novembro, na época o treinador me disse : “Ou joga futebol ou estuda!” Olhei para ele, devolvi a camisa e disse-lhe: “Vou estudar!”. Comecei a dar aula no CLQ e no cursinho. Em 1984 montamos o Anglo, o Dorival Sudário Bistaco passou o Colégio Industrial Dom Bosco para Anglo. A Rosangela Camolesi dava aulas também. O Colégio é exatamente aonde começou, foi ampliando. Permaneci por quase 30 anos lá.
Você tem um cálculo aproximado de quantos estudantes foram seus alunos?
Chegamos a ter na época 5 classes de primeiro colegial, 250 alunos, mais 4 segundo colegial são mais 200, três terceiros colegiais.150, cursinho 300 alunos cada sala, depois eu dava aulas em Santa Barbara D`Oeste no curso de Engenharia de Segurança da UNIMEP e dava aula no Colégio Koelle  de Rio Claro também. Cheguei a ter a média de 1200 a 1500 alunos por ano. Multiplicando por 30 anos de 36.000 a 45.000 alunos. Os médicos com quem faço exames foram todos meus alunos.
A seu ver, o ensino melhorou ou piorou?
Tivemos uma época, no auge no colégio, tínhamos o livro, material didático e tínhamos laboratório. O professor conseguia mostrar na prática, desenvolver o raciocínio. Havia a reprovação,  o aluno sabia que tinha que estudar.
Isso no ensino estadual?
Isso de forma geral. Após alguns anos surgiu essa aprovação automática. Isso estimula o aluno a não estudar. Os alunos usam a regra do jogo, não estudo e vou passar.
Que tipo de individuo estamos formando?
Eu falo para os meus alunos que temos que nos transformamos em um ser pensante, e isso não estamos formando.  Aquele cubo, chamado internet, fiz uma estatística, fiquei assustado, eles ficam de 6 a 7 horas por dia, na internet!
E televisão?
A televisão não atrai os jovens. Ela atrai mais a classe D, E. Estamos diminuindo o número de pessoas que pensam e isso a televisão fez muito bem.
Uma questão intrigante é que os livros passavam de geração em geração, sempre o mesmo, atualmente material em pacotes lacrados são descartados.
Uma das coisas que nos deixam preocupados são os livros-textos, feitos só para completar. Isso gera no aluno uma instabilidade, se ele falta uns dias na semana, não vai a aula, o seu livro texto fica incompleto. Esse livro-texto não é guardado, é descartável. Fora a didática, o livro-texto é muito grosso, espiral, você não consegue escrever nele por ergonomia. O braço da criança fica muito torto. A régua não corre. Eles não sabem mais usar a geometria, não se usa mais régua. Como é que você quer que um jovem pense se ele está com tudo para completar? Existe uma proposta, o aluno completa, a mãe vê e a escola fiscaliza você. O que salvaria um pouco as escolas seria material de laboratório, o ensino prático. Hoje em uma feira de ciências faz-se caixas de isopor ou papelão, fica artisticamente bonito, mas não para a área de ciências. Com uma caixinha de isopor uma criança pode fazer uma hidroelétrica, usando um dínamo. Faço minha aula prática sobre sistema solar dessa forma. Faço a água ferver com a energia solar. Lembro-me muito bem, de que estacionei o carro, fazendo um percurso mais longo, obedecendo a sinalização interna da faculdade. Outro carro fez o percurso mais curto, na contramão. Um aluno disse-me: “ Professor, o senhor é agente modificador de idéias! Só assisti a aula do senhor porque o senhor entrou de forma correta no estacionamento!”. Quando comecei a dar aulas de Segurança do Trabalho levava profissionais de cada área, levei o Sargento Penedo, Dr. Cassio Negri, Dr.Orlando Meneghini, a aula era dinâmica, real. Vinham alunos de outras classes, lotavam a sala, Treinamento de Brigada de Incêndio, fazíamos simulações de incêndio na Universidade. Foram anos dourados que tive na Universidade.
Tem que ter amor ao que faz?
Tem que ter amor ao trabalho, digo sempre aos alunos, quem inventou a válvula do coração? Foi um engenheiro. Quem inventou a válvula para dizimar com gás os condenados do holocausto na Segunda Guerra? Foi um engenheiro. É uma questão de ética. Quais são seus modelos? Assistiram ao programa “ZZZ” na televisão, ótimo, muito bom. Vão lembrar o nome de todos os artistas. Só que você esqueceu-se do nome de Zilda Arns, médica sanitarista, trabalhando voluntariamente morreu no Haiti. Esqueceu de Piracicaba, nosso querido Walter Radamés Accorsi, esses são nossos modelos. Infelizmente os jovens não selecionam seus modelos de vida. Eu tenho uma resenha do Dr. Isaias Raw, professor emérito da Faculdade de Medicina da USP, foi presidente do Instituto Butantan. Ele tem uma análise muito importante, quando os EUA perderam a iniciativa espacial para a Russia, a resposta foi: “Temos que inovar o ensino nas ciências”. Foram chamados os cientistas da época para analisarem como poderiam mudar as atividades das escolas. Foi quando introduziram os laboratórios. No Brasil, nos anos 70, tivemos através da FUNBEC, do Cescem, formando equipes para os laboratórios, preparar os professores para introduzir nas escolas. Infelizmente isso se perdeu no tempo. As escolas perderam um grande trunfo, poderiam continuar com os laboratórios, voltou-se ao sistema apostilado, que é incompleto, o Brasil esta retrocedendo aos anos 50, temos que voltar para a tecnologia, devemos estimular, hoje vemos um garoto de 14 anos, que conhece profundamente tecnologia da informática e vem com um material didático que não consegue introduzir a motivação para ele.
Qual é o papel da internet hoje?
Hoje eles buscam na internet somente a informação. Tem ferramentas fantásticas na internet, temos que adaptá-la sem perder o livro texto, sem perder o professor que é o modificador de idéias.  Tenho o meu laboratório próprio, adaptei muitas aulas de segurança do trabalho dentro da área de física. Como se combate incêndio. Como se propaga o calor. Mostro o cinto de segurança na parte de física qual é a quantidade de impacto. Consegui nesses 15 anos de Universidade pegar minhas 200 fitas sobre cinto de segurança e transportar isso para a sala de aula. Fazia aula de queda livre no Colégio Koelle  de Rio Claro. Saltava do trampolim de 10 metros de altura para calcular o tempo de queda. Quando o aluno vinha na minha aula ele tinha depois o que discutir. Eu comentava qual é o tempo de reflexo de uma pessoa dentro de um carro. Mandava segurar uma régua entre os dedos, mandava soltar e segurar a régua em 20 centímetros com as pontas dos dedos polegar e indicador, a pessoa segura e solta a régua em 20 centímetros.  É o mesmo tempo reflexo de segurar uma tecla do telefone celular. Ponho a fórmula, explico o que está fazendo e calculo 0,2 segundos cada tecla do celular que ele usar. Você digita no mínimo 10 teclas, são 2 segundos, se você estiver a 10 metros por segundo são 36 quilômetros por hora, se for 30 metros por segundo são 108 quilômetros por hora. Se ligar o celular nessas condições você gastou 60 metros! Sem ver nada! Fora o tempo de percepção! Se estiver desatento o seu tempo varia de 0,4 a 2 segundos para frear o veículo. Dessa forma começo a mostrar ao aluno o que é o tempo. Se gastar mais 1 segundo para parar o veiculo, são 3 segundos, ou 90 metros. A cada aula que dou, procuro tirar exemplos práticos, o aluno transporta para a realidade. Quando o aluno vê para que serve o ensino da física, eles ficam motivados. Esse é o maior prazer da minha vida!
Se um adulto quiser ter aulas particulares de física com você é possível?
Sim, claro, já tive casos assim. Assim como alunos que necessitam de um curso mais avançado para prestar exames específicos.
Você leciona em um cursinho voltado à comunidade?
É um cursinho voltado à rede pública, são 150 vagas, no ano passado tivemos 1.150 alunos inscritos. Funciona na Escola Estadual Professor Elias de Mello Ayres é um cursinho pré-vestibular. É um trabalho muito bonito da Prefeitura Municipal de Piracicaba, instituído no mandato anterior do Prefeito Barjas Negri. Para o aluno o curso, o material são gratuitos. Funciona das 19:00 às 22:30 horas. A duração é de um ano, a inscrição é feita no inicio de janeiro, presta o exame, sendo selecionado já tem a vaga garantida. Os professores são renomados, lecionam em outros locais, ali são voluntários. Se você gosta de alguém, estimule. Meu primeiro projeto de engenharia foi para o Seu Francisco. Ele perguntou-me: “Seu Doutor, o senhor faz um projeto para mim?”. Era a primeira vez que me chamavam de doutor na minha vida. Fui ver o local, era em um bairro modesto, terreno caído. Perguntei o que ele fazia, disse-me que era aposentado, tinha problema de coração. Fiz o projeto, aprovei, paguei as despesas. Ele perguntou-me: “-Quanto é doutor?”. Disse-lhe: “Vai ficar caro!”. Ele retrucou: “ Mas o senhor não falou quanto vai ficar!”. Disse-lhe: “ Cada vez que o senhor entrar nesta casa faça uma oração para a minha família!” Tinha um aluno na sala de aula que disse-me: “O primeiro trabalho que fiz como advogado, fiz igual ao senhor!”. Acho que isso é a semente que o professor planta. Essa semana teve uma aluna aprovada em um curso de medicina, através do cursinho dado pela prefeitura. Disse-lhe que a primeira consulta que ela fizesse não deveria cobrar nada. Ela recebeu um ano de aula sem pagar nada. A meu ver, ser professor é a profissão mais nobre do ser humano. Cada vez que dou aula me renovo!
Você acredita que a nossa geração causou danos que os jovens irão consertar no futuro?
A nossa geração estragou algumas coisas, sendo a principal delas a noção de valores, principalmente de ter uma família. Atualmente a família está delegando poderes, não assume mais a responsabilidade.
Diversas vezes já ouvi mães dizendo: “Graças a Deus que as aulas começaram”. Não em tom de brincadeira, mas sim de alivio.
Exatamente! Eu digo brincando que existe mãe-torista e pai-trocínio! Eu tive caso em que o pai perguntou como estava indo o filho dele. Eu perguntei em que sala ele estava, o pai disse: “Bom, ele tem 14 anos, deve estar fazendo o primeiro ou segundo colegial!”Isso é muito triste. Você percebe que a família deixou o poder para a escola, como se falasse: “Estou pagando...então se vire com o meu filho!” Em contrapartida, quando você vê um pai que participa, está junto, o aluno rende mais.

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