domingo, novembro 07, 2010

MAESTRO ERNEST MAHLE

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 06 de novembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: MAESTRO ERNEST MAHLE
Maria Aparecida R. P. Mahle, Ernest Mahle e a Escola de Música de Piracicaba são nomes tão associados que parecem constituir uma única família. Ao piracicabano é impossível ver a Escola de Música de Piracicaba sem imediatamente associar a imagem ao casal, escola da qual foram co-fundadores e grandes beneméritos, voluntários, que no Brasil é sinônimo de trabalhar pelo prazer de servir. Por 50 anos tiveram participação decisiva e efetiva na condução da Escola de Musica de Piracicaba. Hoje afastados da direção da Escola de Musica de Piracicaba continuam produzindo novas obras, compondo, regendo, ensinando, vivendo e respirando música com toda intensidade. Esbanjam energia, vitalidade e criatividade. Conforme o site da Universidade Metodista de Piracicaba (http://www.unimep.br/gdc_setores.php?fid=37): “Durante o processo de gerenciamento e ampliação, muitas foram as lutas e conquistas do casal Mahle, tanto no nível artístico como na obtenção de instalações adequadas. Em setembro de 1998, ao completar 46 anos, o casal Mahle demonstrou o desprendimento ao transferir a escola para o Instituto Educacional Piracicabano (IEP), entidade mantenedora do Colégio Piracicabano e da Unimep.” Após 50 anos ininterruptos de abnegado trabalho voluntário na direção, o casal Mahle em janeiro de 2004 deixou de conduzir a Escola de Musica de Piracicaba. O cargo passou a ser remunerado, assumindo uma nova diretoria. Maestro Ernest Mahle tem uma didática jesuítica, quer para música, para filosofia, da qual os alemães são mestres incontestes, ou ainda em um prosaico ensaio de engenharia mecânica. Em sua casa, junto a um engenhoso invento criado por ele, uma roda de água conduz um teleférico em miniatura cortando os ares debaixo de uma frondosa mangueira. Ele explica que Mahle em alemão é derivado de moinho de água, atividade exercida pelos seus ancestrais na Alemanha: “Os primeiros membros da família Mahle que se tem conhecimento, há 400 anos, era moleiros, não só moía o trigo, como também construía o próprio engenho movido a água. Por isso a família tem em seu brasão a roda d água”. Ernst afirma ser o primeiro artista de uma família com gerações compostas por engenheiros e professores. Ernest Hans Helmut Mahle é o nome completo do maestro brasileiro nascido no dia 3 de janeiro de 1929, em Stuttgart, Alemanha, filho de Else Mahle e Ernst Mahle. Seu pai é um dos responsáveis por uma das maiores evoluções havidas nas indústrias automobilísticas do mundo. De simples operário na Mercedes-Benz em Stuttgart passou a ser protagonista da história automotiva mundial, conviveu com figuras históricas como Henry Ford, Ferdinand Porsche, Robert Bosch.
A família Mahle tem fortes raízes em Stuttgart?
Meu avô paterno trabalhou como engenheiro chefe de uma fábrica de máquinas faleceu no fim da primeira guerra, sua fortuna tinha sido aplicada em papéis do governo e infelizmente perdeu-se toda nessa aplicação, deixando a minha avó com nove filhos para criar. Meu pai tinha sido tenente durante a Primeira Guerra Mundial, ele e meu tio Hermann como filhos mais velhos imediatamente tiveram que procurar um emprego, foi quando passou a trabalhar na Mercedes-Benz em Stuttgart. Gottlieb Daimler foi o fundador da fábrica Mercedes Benz, construiu um pequeno motor e adaptou em uma carruagem, cortou os varais onde eram atrelados os cavalos, era um veículo muito primitivo. Meu pai conheceu os principais inventores que trabalharam no desenvolvimento do automóvel. Quando menino ele viu Gottlieb Daimler correr com os seus carros em Stuttgart. Nos fins do século XIX a eletricidade era uma coisa nova, Robert Bosch viu que Daimler para dar partida nos veículos aquecia um arame e rapidamente tinha que colocar em uma câmara de combustão situada no motor, onde havia a mistura de gasolina com o ar produzindo um gás que aquecido dava origem a primeira explosão, mantido o calor o arame permanecia incandescente. Robert Bosch ao encontrar-se com Daimler disse-lhe que havia uma maneira mais fácil e rápida de proporcionar a explosão, uma faísca elétrica poderia provocá-la. Assim foi criado o primeiro modelo de ignição.

Quando o senhor nasceu seu pai trabalhava na indústria automobilística?

Meu pai trabalhava na Mercedes Benz, era um dos dias mais frios de janeiro, meu pai tinha um carro Daimler, como a minha mãe estava para dar a luz ele acelerava o carro sobre o gelo, conforme minha mãe pressentia o meu nascimento dizia para ele aumentar ou diminuir a velocidade em função do risco que a estrada oferecia. Eu já tinha uma irmã quatro anos mais velha, fui o segundo dos quatro filhos do casal filhos: Ilse, Ernst, Eberhard, Christoph .

Percebe-se que o senhor além de profundos conhecimentos musicais gosta muito de mecânica!

Estou ligado a essa explosão tecnológica dos últimos 100 anos! Ligado de duas maneiras, uma delas é a parte mecânica que está no sangue, consigo lidar com todo tipo de máquina, por outro lado vejo os aspectos negativos dessa evolução tecnológica, filosoficamente significa a humanidade enfiada nesse materialismo, podendo ser comparada ao ser humano de três mil anos a trás, no tempo dos faraós, quando agiam como formigas, o faraó era o único realmente inteligente, que planejava. Há mil anos começou a haver modificações. Um exemplo foi quando os espanhóis conquistaram a América perceberam que se matassem o chefe dos incas ou dos maias parava a guerra, os demais eram como formigas, não funcionavam mais sem o líder. Para os espanhóis era indiferente se o chefe morresse, outro assumia o posto, todos eles eram personalidades. Sócrates foi uma personalidade interessante, condenado por estar seduzindo os jovens com a idéia de não acreditar mais em Deus. Sócrates dizia “-Se vocês querem saber como agir, ponham para funcionar o raciocínio, vocês são capazes de determinar como a vida deve ser não precisam correr para Delphos para consultar o oráculo”. Era a moda na Grécia, antes de fazer qualquer coisa o grego consultava o oráculo, onde os conselhos eram dados possibilitando a dupla interpretação. Confúcio já dizia a 3.500 anos, que há três caminhos que podem ser tomados, o primeiro é pela imitação, é o mais fácil, uma criança imita os pais, o segundo caminho é pela experiência própria, é o mais doloroso, o terceiro é pelo raciocínio, é o mais nobre. Se as máquinas dominam as pessoas é o inferno!

O tio do senhor fez parte da Mahle?

Meu tio também teve quatro filhos, eles eram donos da fábrica Mahle de pistão, tinham a fundição sobre pressão do magnésio que é mais leve do que o alumínio, mas ele tem a propriedade de explodir quando aquecido, tinha que ser derretido em uma caldeira fechada, sob pressão com nitrogênio, essa é também uma invenção do meu pai, o pistão do motor diesel se for de alumínio fundido não tem tanta durabilidade como o pistão de alumínio forjado sob pressão, até hoje o pistão do motor diesel é de alumio forjado. Meu pai percebeu que se o pistão e o cilindro fossem de alumínio a dilatação dos materiais quando aquecidos, seria a mesma, só que o desgaste do cilindro por onde corre o pistão era muito grande, foi quando ele resolveu cromar, só que o cromo era 100% liso enquanto o alumínio tinha poros onde o óleo poderia permanecer, tinha que ser criada uma cromação que fosse tão porosa como o alumínio. Ferdinand Porsche foi o primeiro a utilizar essa invenção do meu pai.

Alguma vez o senhor viu Ferdinand Porsche?

Sim, eu o conhecia, era austríaco, fez o automóvel Volkswagen a pedido de Hitler, morava perto de Salzburg, acompanhei o meu pai até lá por diversas vezes. Ele tinha um carro totalmente feito de alumio, inclusive o motor, esse veículo com 1 litro de gasolina conseguiu chegar de Salzburg a Monique. Hoje em dia o recorde são 1.000 quilômetros com um litro de óleo diesel.

Qual era a formação escolar do seu pai Ernst Mahle?

Quando meu pai percebeu que seu salário não iria crescer muito, decidiu estudar a noite, freqüentou a Escola Politécnica de Stuttgart, formando-se como engenheiro.

Até que ano o senhor permaneceu na Europa?

Permaneci até 1951. Quando era criança, morava perto da fabrica Mercedes Benz em Stuttgart, a partir do momento que meu pai passou a ter um salário melhor ele adquiriu uma casa em um bairro mais nobre, tínhamos um vizinho que era eletricista, tinha muitas bobinas de fio elétrico, eu era ainda menino, era louco por rolo compressor a vapor, uma invenção do meu avô, ainda menino eu tive a oportunidade de ver os barcos a vapor construídos pelo meu avô que navegavam no Lago de Konstaz, ele foi engenheiro chefe de uma fabrica de maquinas a vapor, construía para as fabricas maquinas a vapor, com uma única unidade dessas maquinas movimentava muitas outras de teares havia uma porção de eixos e engrenagens fixadas no teto, meu pai foi um dos primeiros fabricantes responsáveis pela colocação de motores elétricos nesses teares com fios correndo pelo chão. A meu pedido o nosso vizinho fez um rolo compressor para que eu brincasse de tal forma que eu sentava e dirigia esse brinquedo idêntico aos rolos compressores da época.

Quando foi o seu primeiro contato com um instrumento musical?

Havia uma escola particular próximo a nossa residência, a “Schicker Schule”, fui matriculado nela, e logo o professor mandou comprar flauta doce, antigamente eram todas de madeira, hoje são de plástico. Foi o primeiro instrumento que aprendi a tocar. Permaneci nessa escola por 4 anos, no quarto ano foi feita uma competição de quem lia melhor a pauta musical, e fui o vencedor, o professor percebeu que eu tinha muito talento para a musica. Nessa época a empresa do meu pai empregava 3.000 pessoas. Dois anos após começou a guerra.

O senhor conheceu Hitler?

Quando ele esteve em Stuttgart o vi de longe passando com seu carro Mercedes. Ele fez um discurso no estádio da cidade, cinco minutos apõe ele iniciar sua explanação um funcionário da Mahle cortou com um machado o fio de transmissão do microfone, Hitler teve que falar para o estádio sem alto falantes. No dia seguinte a Gestapo esteve na empresa. Isso foi em 1938. Lembro-me de ouvi-lo pelo rádio, ele berrava e mexia com todos que o escutavam. Em 1943 as cidades alemãs começaram a ser bombardeadas, colocamos nossos principais pertences em um caminhão e fomos para a Áustria onde tínhamos um chalé, próximo ao Lago de Konstaz. Após a guerra a Áustria foi dividida em quatro partes, cada uma das quatro potências passou a administrar uma região, os franceses dominaram a localidade onde estávamos. O coronel francês responsável pela ocupação sabia que o meu pai era um importante industrial, a Mahle sempre tratou muito bem seus os operários, ela tinha uma filial na França onde fabricava pistões. É interessante dizer que os franceses todo mês traziam músicos do conservatório de Paris, eram os melhores da Europa, vinham pianistas, violinistas, flautistas, cantores, violoncelistas, pela primeira vez na vida vi o que era música, o que era tocar bem um instrumento! Fiquei louco para ser músico! Comprei os estudos de Chopin, Beethoven e comecei a tocar por minha própria conta. Eu tinha 16 anos, tocava de 7 a 8 horas de piano por dia, após um ano surgiram dores nas mãos, nos pulsos, o médico deu o diagnóstico de uma tendinite irrecuperável, eu deveria tirar da minha cabeça a idéia de tocar piano! Comprei uma flauta transversal, um saxofone, uma clarineta e estudava tudo isso sem professor. Para tirar o primeiro som da clarineta levei três horas, na loja venderam-me a palheta mais dura que existia! Ainda guardo comigo a primeira peça que escrevi ao piano em 1945. (Mahle senta-se ao piano e executa um trecho da obra).

O senhor aprofundou seus estudos de música onde?

Fui para Stuttgart após a guerra, lá havia a Escola Superior de Música, que havia sido quase completamente destruída. De três andares a escada ainda funcionava e havia sobrado umas cinco ou seis salas de aula, a diretoria funcionava em uma casa, alugada. Tive que prestar um exame para ingressar na escola, foi me dada uma partitura que eu deveria tocar ao piano e cantar. Eu tinha que decorar a partitura, olhar as mãos e tocar. Recebi uma carta dizendo que não podiam me aceitar como aluno. Isso tinha ocorrido com Giuseppe Verdi que queria estudar no Conservatório de Milão e foi reprovado! Fui conversar com o diretor, ele deu-me o tema "A Flauta Mágica" de Mozart para improvisar uma fuga. Após a minha apresentação ele disse-me: “-Você pode começar! Pode escolher o seu professor de composição!”.

Quando o senhor veio para o Brasil?

Meu pai viajava visitando os fabricantes de automóveis e indústrias que reformavam motores velhos, hoje essas empresas não existem mais, fica mais barato colocar um motor novo. Ele tinha três amigos em Berlin, que eram judeus, donos da maior retifica de motores da Alemanha. Quando Hitler chegou ao poder e começou a fazer propaganda contra os judeus esses três amigos do meu pai ficaram muito céticos quanto ao futuro. Por acaso viram no cinema uma reportagem sobre o Brasil, onde apareceram cenas de São Paulo, imagens de palmeiras tropicais. Pensaram: “-Isso parece que tem futuro!”. Ludwig Gleich que era engenheiro e Adolf Buck com formação na área financeira liquidaram seus negócios na Europa, tomaram um navio e vieram ao Brasil onde fundaram a maior retifica da América Latina a Motorit no bairro Cambuci. Em 1951 cheguei ao Brasil vindo por um navio cargueiro holandês, trouxemos nossa bagagem, o navio fez a primeira escala no Rio de Janeiro, fiquei muito impressionado com a paisagem. Descemos em Santos e subimos a serra com o meu pai dirigindo um automóvel Studebaker, cujo motor ferveu. Na Rua General Jardim, próximo a Praça da República havia uma pensão onde permanecemos hospedados os primeiros meses, até acharmos uma casa para morarmos. Todos os dias eu comprava o “Estadão”, que o meu pai e a minha mãe liam. Como eu tinha estudado latim no ginásio tive mais facilidade em aprender a língua portuguesa, no inicio foi mais difícil entender o que as pessoas falavam, meu pai arrumou uma professora de português, nascida na Alemanha. Ela ensinava principalmente a minha mãe que tinha mais dificuldades com a língua. Meu pai e seus amigos estiveram com o presidente do Banco do Brasil no Rio de Janeiro, onde foi exposta a vantagem de se produzir os pistões de alumínio no Brasil, fator que poderia atrair os fabricantes de veículos automotores para o país. Era sete sócios, sendo seis judeus, motivo que deu a origem a piada feita pela esposa de um deles: “- Em vez de Metal Leve deveria ser Metal Levy!”. Logo os fabricantes de automóveis passaram a fabricar motores feitos no Brasil. Atualmente a Metal Leve pertence a uma fundação.

O senhor no Brasil continuou a nutrir sua vocação pela música?

Durante o dia ajudava ao meu pai. Como eu gostava de música a noite ia a concertos, no Teatro Municipal, no Teatro Cultura Artística. Conheci o professor de música Hans Joachim Koellreuter, formado em composição, regencia e flauta, tinha permanecido algum tempo no Rio de Janeiro após vir da Alemanha no período da guerra, a sua esposa era judia. É um professor importante, teve como alunos um grande número de importantes músicos e maestros brasileiros. Após assisti-los em alguns concertos procureio-o e disse-lhe que gostava muito de musica e gostaria de aprender alguma coisa a mais. Eu tinha uma pasta com as composições para piano, algumas para flauta, que havia feito após conhecer os alunos do conservatório de Paris. Ele disse-me que um dos mais compositores famosos da atualidade deveria chegar na próxima semana. Esse compositor, de nome Ernest, pegou as minhas partituras e em meia hora tocou tudo. Disse-me: “-Você tem talento, deve estudar musica!”. Comecei a estudar com Koellreuter, em 1939 junto com outro alemão ele havia fundado no Rio de Janeiro uma escola de artes chamada Pró-Arte, era de artes em geral, artes plasticas, pinturas, Koellreuter criou a parte musical, que chamou de Seminários Livres de Música Pró Arte. Durante a segunda guerra funcionou no Rio de Janeiro, em 1951 surgiu a idéia de fazer uma filial em São Paulo.

Foi lá que o senhor conheceu a sua esposa e passou a residir em Piracicaba?

Hoje parece ser uma grande coincidência eu ter casado com alguém que nasceu em Piracicaba, a 10.000 quilômetros de distância de Stuttgart, foi aluna nessa escola onde nos conhecemos. Creio que isso já estava determinado e mostra que para Deus nada é impossível!







sábado, outubro 30, 2010

NÁDIA BENTO DE LIMA – Estrela do Basquete irá casar-se.

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de outubro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
                                                                                           Foto by J.U.Nassif
ENTREVISTADA: NÁDIA BENTO DE LIMA – Estrela do Basquete irá casar-se.
Nádia Bento de Lima nasceu em 30 de julho de 1965, é filha de Maria José Florêncio de Lima e Nadir Bento de Lima, são seus irmãos: Edmilson Bento de Lima e Lucéia Bento de Lima ambos militares. Nascida em Osasco, quando tinha dois anos de vida sua família mudou-se para Piracicaba. O Presidente da República Fernando Collor de Mello usou muitas ferramentas de marketing para divulgar a sua imagem de líder dinâmico, semanalmente praticava corridas estampando em suas camisetas frases de efeito como, por exemplo: “O tempo é o senhor da razão” Para valorizar essas aventuras esportivas convidava atletas e artistas que estavam em evidência na mídia nacional para juntarem-se a ele nessas maratonas. Nadia foi uma das poucas pessoas que conseguiu acompanhar todo o percurso do presidente-atleta em seu Cooper. Ela possui três passaportes quase completos com as viagens que fez por muitos países. Ainda menina dormia abraçada com a bola de basquete. Hortência disse ao entrevistador Jô Soares que a Nádia foi a única atleta que conseguiu marcá-la em campo com muito sucesso. É sobrinha do cantador de cururu Moacir Siqueira, ele é irmão do seu pai. Nádia atua no em um grupo educacional, onde transmite toda a disciplina e experiência adquirida por uma atleta que construiu parte da história do basquete feminino brasileiro. Com o casamento marcado para o próximo dia 5 de novembro com Celso Douglas Sozza estará recepcionando mais de 1.000 convidados no Salão de Festas do Lar dos Velhinhos de Piracicaba. Um evento marcante! Nádia é gerente comercial do Grupo Polibrasil, em Piracicaba.

Nádia, sua mãe busca pelas duas irmãs que nunca mais viu desde quando se separaram ainda pequenas?

Minha mãe nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo, aos 13 anos ficou órfã de pai e mãe. Ela e duas irmãs foram conduzidas pelo juizado, cada uma foi destinada a guarda de uma família diferente. Hoje minha mãe está com 71 anos, e nunca mais viu suas irmãs.

Quando você passou a interessar-se pela prática de esportes?

Iniciei a minha carreira no esporte aos 11 anos de idade, na época estudava na Escola Estadual Prof° Elias de Mello Ayres em Piracicaba, onde Maria Helena Cardoso era professora de educação física, ela que por muitos anos foi técnica da Seleção Brasileira de Basquete Feminino. Logo que assumiu a nossa classe para lecionar, explicou que nas aulas de ginástica era necessário formar diversas equipes de basquete, vôlei, handebol. Pediu que cada uma das alunas entrasse na fila correspondente ao esporte que gostaria de praticar. Vi as minhas amigas entrarem na fila que ia jogar vôlei, também entrei. No basquete havia poucas pessoas e no handebol não havia ninguém. A Maria Helena, conduzindo pela mão cada aluna ia redistribuindo de tal forma que formassem equipes para cada atividade. Ela me conduziu para a fila do basquete. A partir daquele momento me identifiquei de uma maneira muito especial com o basquete. Assim começou a minha história.

Qual é a sua altura?

Tenho apenas 1,70 metros de altura. Eu era uma das menores na época. A Branca também tem a minha altura As demais eram mais altas, as laterais tinham de 3 a 4 centímetros a mais, outras eram muito mais altas. Hoje que convivo mais fora do meio esportivo percebo que sou alta em relação a altura de muitas mulheres.

Após começar a jogar basquete no Mello Ayres como foi a sua evolução no esporte?

Comecei a me identificar com o esporte, é da minha natureza ao me dedicar em alguma atividade, não consigo realizar apenas 100%, necessito atingir valores acima do desempenho considerado comum, têm que ser de 120%, 130%, valores acima dos considerados normais. Acredito que é exatamente isso, superar os limites, é que torna o diferencial entre o desempenho de um indivíduo para outro. Há elementos que rendem 80% do seu potencial, ou até mesmo chegam aos 100%, mas que não basta para se enquadrar em, por exemplo, atletas que tenham atingido um patamar de excelência. Participei de uma época fantástica do basquete, muitos recordam esse tempo, há uma boa procura pelos jogos que foram gravados naquela época, até mesmo pessoas de outros países me procuram para saber se tenho material daquele período guardado comigo.

Como era o seu treinamento quando você estava no Mello Ayres?

Eu estudava á tarde, na época morava na Rua José Ferraz de Camargo, ia de manhã treinar na quadra da escola, o inicio das aulas era às 13 horas, às 12h30min saia do treino corria até aminha casa, tomava um banho rápido e voltava á escola para assistir as aulas. No intervalo das aulas jogava basquete, após as aulas ia até a quadra brincar com a bola de basquete, ia embora e levava a bola comigo.

O que você via no basquete?

Eu não tinha noção de que um dia poderia jogar na Seleção Brasileira, tinha um amor ao basquete, a ponto de dormir abraçada com a bola. Lembro-me que a Maria Helena no primeiro dia disse: “- Hoje vocês vão jogar basquete!”, sem nós sabermos absolutamente nada das regras do jogo, formou as equipes, colocou duas alunas no meio da quadra para pularem na bola, eu fui uma dessas meninas, quando jogou a bola para cima, ela disse que cada jogadora de posse da bola deveria batê-la para alguém. Eu peguei a bola assim que ela foi jogada para cima, não passei para ninguém, eu era muito rápida, saí “voando”, batendo a bola no solo, correndo, até as meninas chegarem perto, quando então corria no sentido contrário de posse da bola. Um dia a Maria Helena disse-me que foi naquela hora que ela descobriu a minha vocação para o basquete. Um determinado dia ela chamou a minha mãe na escola e disse-lhe que eu era uma menina com um potencial fora do comum, que ela deveria me incentivar.

Seus colegas como a viam?

Como uma pessoa apaixonada pelo basquete! Meio fanática! Nos campeonatos internos me destaquei muito, sempre o meu time era campeão.

E suas notas escolares?
Com 11 anos eu estava na sexta série, da primeira a quarta série fui uma aluna impecável, a melhor aluna da classe. Quando a professora iniciava uma ponta da classe tomando a leitura da cartilha “Caminho Suave” eu ia à outra ponta da classe tomando leitura de outros alunos, anotando quantas palavras os alunos erravam e a professora dava a nota. Da quinta série até a oitava, não deixei de ser boa aluna, mas o meu maior esforço era direcionado ao esporte.
A sua determinação em fazer as obrigações acima dos 100% já se manifestava?
Acho que já era um dom, algo especial que acredito ter dentro de mim, que se manifestava. Além da educação que tive na minha casa, aprendi com a Maria Helena Cardoso que para se tornar um atleta, ser um craque, uma pessoa diferenciada, a primeira coisa que devemos ser é gente, ter uma formação como pessoa. Ela dizia que as notas escolares tinham que estar satisfatórias, para jogar no time dela tinha que ter boas notas. Muitas vezes ela verificava os nossos boletins.

Quando você foi treinar no XV de Novembro?

Era no meu último ano de mirim, eu estudava ainda no Mello Ayres quando recebi um convite para treinar no XV de Piracicaba, era muito nova perto das moças que treinavam no time. Na época o XV não tinha ainda uma equipe de expressão, embora tivesse boas atletas. Certo dia nós fomos jogar contra o time da Hortência, guardo comigo a foto publicada em um jornal com a legenda: “Nádia não se intimidou entre as estrelas”, foi a minha primeira aparição, quando começaram a notar que eu existia.

Qual foi a sua reação inicial diante daquelas estrelas do basquete?

Eu não sabia quem elas eram, já achava a equipe do XV muito boa. Logo após o inicio do jogo a Maria Helena me chamou e disse: “Nadia! Você está vendo aquela moça? É a Hortência! Você vai marcá-la, via marcar entre ela e a camisa dela! Se ela for ao vestiário você vai atrás dela!” Nesse dia a Hortência ficou muito nervosa, porque nunca ninguém tinha a marcado daquele jeito, ela dizia: “-De onde surgiu esse carrapato que está em cima de mim?” Naquele jogo ela fez só três pontos, ela que estava acostumada a marcar em média cinqüenta pontos. A minha maior dificuldade é que até então eu não tinha marcado uma jogadora tão boa como ela, com um preparo físico perfeito, muito inteligente! O basquete é um esporte onde o contato físico é muito forte. A partir desse momento passei a ser conhecida como a única jogadora que conseguia marcar a Hortência. Recentemente ela deu uma entrevista no Jô Soares, perguntaram á ela qual foi a jogadora que conseguiu pará-la. Sua resposta foi: “Por incrível que pareça é uma jogadora brasileira e é a Nádia!”. Passou um tempo e a Paula veio jogar conosco, passou o seu ultimo ano de juvenil aqui em Piracicaba, tanto ela como a Hortência já eram da seleção.

Qual é a sua impressão sobre a Paula?

Ela é um gênio! Não há como descrever a atuação da Paula dentro de uma quadra. Dá-se a impressão de que a sua cabeça é cheia de olhos, não precisava olhar para a pessoa que ia receber o seu passe de bola, olhava para um lado e passava a bola para outro, a sua visão periférica é muito grande, é inteligentíssima, o apelido que lhe foi dado de Magic é de acordo com a sua genialidade.

Sem querer fazer uma comparação e sim uma análise de Hortência e Paula dentro da quadra, como você descreve?

A Paula era praticamente o cérebro da equipe, de uma precisão fora do comum, não tinha a necessidade de treinar muito. Há o atleta que já nasceu com o dom de jogar e irá treinar o necessário para ele, e há outro tipo de atleta, o que supera as deficiências através de treino. Para definir a Paula só mesmo a palavra gênio, com a bola na mão é de uma genialidade de tirar o chapéu. A Hortência era muito efetiva, dizíamos que de cada 10 bolas arremessadas ela acertava 11. Nas finalizações que fazia dificilmente cometia algum erro, quando errava um arremesso ou um lance livre era motivo para espanto. A Hortência treinava muitas finalizações fora do horário do treino de seis a sete horas diárias. Joguei basquete por 21 anos, sendo que na Seleção Brasileira joguei uns 17 anos, parei um pouco antes da Olimpíada de Atlanta.
 Quando você iniciou sua carreira jogando no XV havia alguma compensação financeira?Tínhamos uma ajuda de custo. No comecinho não, a minha mãe comprava meu tênis Topper na Casa Raya, para ser pago em prestações mensais, ás vezes o tênis acabava antes de terminar de pagar as prestações.
Que número você calça?
Sapato eu uso 37, tênis 38. A Hortência também calçava o número 37. Eu pesava 61 quilos.

Como despontou o basquete feminino em Piracicaba?

A Paula e a Branca vieram jogar em Piracicaba, junto com a Maria Helena foi dado o inicio a um trabalho vitorioso. Nessa época ao andar pelo Shopping eu era bem procurada para dar autógrafos. Foi montada uma equipe em Piracicaba cujos resultados começaram a aparecer. Vieram juntar-se a essa equipe Vânia Hernandez, Vânia Teixeira, dizia-se que esse time jogava por música. A Paula e eu jogávamos na posição 1 e 2, revezamos nessas duas posições. A posição 1 é armadora e aposição 2 é a lateral mais baixa. Nesse time eu era conhecida como “Baixinha”, só que era muito rápida, não havia ninguém tão rápida como eu, o meu preparo físico era excelente, diziam que eu era “O Cafu do Basquete”. (Cafu é dono de uma marca que nenhum jogador de Seleção Brasileira conseguiu atingir: chegar a três finais de Mundial. Foi também quem mais entrou em campo com a camisa da Seleção Brasileira: 142 vezes). Nós íamos ao Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia para fazer os exames realizados pela Seleção Brasileira de Basquete Feminino, algumas vezes quando eu ia fazer o exame de esteira, havia uma bancada de estudantes de medicina que ia assistir. Lembro-me que o médico dizia: “Essa é a única atleta que vence a esteira!”. Quando eu comecei, ia para o treino de bicicleta, varava Piracicaba de ponta a ponta pedalando. No período de férias enganchava uma bola no guidão da bicicleta, ia até a Escola de Agronomia, onde há o ginásio de esportes, passava a bicicleta por cima da tela, pulava e ia jogar bola na quadra. Sozinha. Uma vez o guidão da bicicleta ficou enroscado pelo lado interno da cerca de tela, a pessoa responsável pelas instalações, uma espécie de caseiro, naquele dia brigou muito comigo. Nas férias enquanto meus colegas da escola viajavam e eu permanecia treinando. Gostava muito de treinar. No Clube Regatas muitas vezes jogava com meu irmão e seus amigos, inclusive debaixo de chuva.

A equipe formada em Piracicaba nessa época era a UNIMEP?

Tivemos muitos patrocinadores, a Pirapel, a Tobler, BCN-Unimep. Lembro-me de que jogávamos Chocolates Toblerone para os torcedores. Tínhamos muitos convites para jogarmos em outras equipes, cheguei a ter em um ano sete convites para transferir-me. Eu tinha 23 anos quando recebi um convite para ir jogar em outra equipe, foi em um período em que a Paula estava em Jundiaí, a Hortência em Sorocaba, as duas Vanias em Salto, a Maria Helena me procurou e disse-me que se eu saísse possivelmente o BCN deixaria de ser o patrocinador, e essas jogadoras de categoria de base ficariam sem patrocínio. Disse-me ainda: “-É uma boa hora para você mostrar o seu valor!”. Fomos consideradas aquele ano como a quarta força do basquete feminino. Com o importante trabalho em equipe, que é necessário a todas as atividades do ser humano, fomos disputar a final do campeonato brasileiro, chegaando a final contra a equipe de Sorocaba, onde jogava a Hortência, Branca, jogadoras americanas. Faltando 4 minutos para terminar a partida estávamos perdendo por 11 pontos. A Maria Helena pediu um tempo, e disse-nos que se tivéssemos jogando tudo o que sabíamos, ela estaria contente com o vice-campeonato, completou dizendo: “-Vocês estão jogando 50% do que são capazes, e só estão perdendo por 11 pontos, a partir de agora vamos jogar aquilo que treinamos, vamos fazer o melhor!”. Voltamos á quadra, a bola veio na minha mão, arremessei, acertei, marcando 3 pontos, a diferença caiu para 8 pontos, a equipe animou, viramos o jogo e vencemos. Fomos campões brasileiros! Esse jogo marcou a minha vida, nunca mais me esqueci.

Já sonhou com bola de basquete?

Muitas vezes! Já sonhei com campeonato, olimpíada. O ser humano por mais que seja excepcional está aquém de conhecer o seu próprio limite.

Você é religiosa?

Faz 15 anos que sou da Congregação Cristã no Brasil.

domingo, outubro 24, 2010

OLGA IZABEL MARINS MARCHIORI

JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com

Sábado 23 de outubro de 2010

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

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ENTREVISTADO: OLGA IZABEL MARINS MARCHIORI
O Instituto Butantan há muito é uma referência mundial pelo seu trabalho. A jovem piracicabana Olga Isabel Marins, como muitos turistas o fazem, foi visitá-lo pela beleza do local e pela importância do trabalho ali realizado, envolvendo milhares de espécies de répteis e animais peçonhentos. O que ela nunca imaginou era encontrar e cumprimentar naquele local uma visita ilustre: Clark Gable! O mito do cinema Clark Gable nasceu em 1901 e faleceu em 1960. Chamado no auge da sua careira de "Rei de Hollywood", foi nomeado pelo Instituto Americano do Cinema a sétima maior estrela masculina do cinema de todos os tempos. Atuou em 67 filmes, entre eles "… E o Vento Levou" de 1939 Olga Isabel Marins Marchiori nasceu em Piracicaba 10 de novembro de 1912, é filha de Jerônimo Marins e Luiza Zanotti Marins. Seu pai nasceu na Italia e sua mãe na Austria. Muito bem informada de tudo que acontece, lê diariamente três jornais: A Tribuna Piracicabana, A Gazeta de Piracicaba e o Jornal de Piracicaba. Recentemente deixou de ler outros jornais que circulam em escala nacional Seus avós vieram da Europa como imigrantes e foram morar no Bairro do Recanto, mais tarde chamado de Monte Alegre. Ainda menina ela sempre avistava o escritor Thales Castanho de Andrade. Integrante das instituições Clube da Lady e Escola de Mães desde a fundação das mesmas. Casou-se com Luiz Marchiori, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do transporte coletivo em Piracicaba.

A senhora nasceu em que bairro de Piracicaba?

Nasci na Rua XV de Novembro, proximo á Escola Normal, mais tarde denominado Instituto de Educação Su Mennucci. Éramos em cinco irmãs e dois irmãos. Fiz o curso primário no Grupo Moraes Barros, via constantemente Thales Castanho de Andrade nas imediações da escola. O livro que mais tenho lembrança é o Saudade de autoria de Thales.Como eu gostava daquele livro!

Aprender a costurar era uma das atividades que as moças aprendiam na época?

Aprendi a cortar e costurar fazia roupas para uso da nossa própria família. Usavam-se vestidos bem enfeitados, com babadinhos, rendas, as “casinhas de abelhas”. Aprendi a bordar na Singer, que ficava embaixo da Escola Cristóvão Colombo, a fazer rococó, ponto cheio, ponto aberto, ponto russo. Sempre tive facilidade de bordar, gostava muito de pintar em tecidos, guardo comigo até hoje muitos pincéis que utilizei, para trabalhos feitos em benefício do Clube da Lady e da Escola de Mães. Esses dias me dei conta que já há 70 anos participo da Escola de Mães, assim como participo do Clube da Lady desde a sua fundação.

Ainda solteira a senhora participava das atividades da igreja?

Quando eu era moça não perdia uma missa, cheguei a ser Filha de Maria na Igreja Bom Jesus, usávamos a roupa branca com uma faixa azul. O religioso responsável pela igreja era Monsenhor Martinho Salgot. Freqüentávamos os cines Iris, que mais tarde veio a chamar-se Broadway, e o Politeama que ficava na Praça José Bonifácio. Íamos à matinê, lá pelas 2 horas da tarde, naquele tempo ás 9 horas da noite tínhamos que estar em casa.

Lembra-se de algum artista da época?

Aos 18 anos de idade fui á São Paulo, até a casa da minha irmã Uma amiga mais velha do que eu, a Lídia Marreto, não perdia um filme sequer que tivesse a participação de Clark Gable, juntas fomos até o Instituto Butantan, estávamos olhando as cobras, que permaneciam em suas instalações, quando de repente parou um automóvel, e saiu de dentro um moço, a minha amiga começou a gritar: “- Clark! Clark!”. Pensei: “– Puxa vida! Será que esse grande artista veio até o Brasil, e ainda no Butantan?”. Ele desceu do carro, e provavelmente ao ver o entusiasmo da minha amiga veio cumprimentá-la, assim como também me cumprimentou, permanecendo conosco por 2 ou 3 minutos, falando em inglês e acompanhado de um intérprete. Fiquei admirada do que estava acontecendo. Outras pessoas que estavam passeando pelo Butantan tiveram a sua atenção despertada pelo visitante ilustre e pelo entusiasmo da Lídia. No dia seguinte eu estava no bonde tipo “camarão”, quando um senhor ao meu lado abriu um jornal onde estava estampada a manchete: “Clark em São Paulo!” Ele pessoalmente era exatamente como parecia nos filmes.

Com que idade a senhora casou-se?

Casei-me na Igreja Bom Jesus, com Luiz Marchiori aos 25 anos, conheci o meu marido quando quadrávamos o jardim! Namoramos por três anos. Ele trabalhava na empresa de ônibus da sua família, naquela época, em Piracicaba, não havia rodoviária, os ônibus intermunicipais paravam em frente onde hoje há um supermercado, atrás da catedral.

Onde a senhora foi morar após casar-se?

Em uma casa situada á Rua Cristiano Cleophat, 449. Meu marido e seus irmãos eram sócios na empresa de ônibus. Mais tarde, com a ampliação dos números de linhas, houve uma segmentação de cada filho com participações diferentes nas diversas linhas.

A senhora e seu marido realizaram alguma viagem de lua de mel?

Não, foi tudo muito simples, não dava para deixar um dia sequer sem operar a linha de ônibus. Tivemos quatro filhos: Gregório, Fábio, Gilberto e Estela. Fiz questão que todos tivessem formação universitária.

A senhora viajava de ônibus com o seu marido?

Quando era noiva, eu e a minha amiga Helena Dutra, filha do Arquimedes Dutra, íamos e voltávamos de ônibus até Rio Claro, com o meu noivo, Luiz, dirigindo. Ele usava um guarda pó porque ficava tudo vermelho de terra, até o cabelo.


Jardineira da linha Piracicaba Rio Claro da família Marchiori
Quem fundou a empresa Marchiori?
Foi o meu sogro, Gregório Marchiori. No início ele adquiria no Krahembull as charretes de tração animal, com as quais fazia a linha Piracicaba a Rio Claro. De Piracicaba á Rio Claro a distância era percorrida em 4 horas. Quando chovia, por uns 15 dias não havia viagem. Com o tempo foi adquirida a famosa jardineira.

No período da Segunda Guerra havia falta de peças de reposição para os ônibus?
O Luiz, meu marido, ia de trem até São Paulo, carregava peças pesadas, uma dificuldade enorme para que os ônibus não deixassem de circular. Era difícil fazer a manutenção dos veículos. A estrada era de terra, muitas vezes ele chegava a nossa casa coberto de terra vermelha, em tempo de chuva vinha com lama. Ele acordava bem cedo, trabalhava dirigindo o ônibus e á noite ainda ajudava o mecânico na manutenção do veiculo. Um fato interessante é que desde quando nos casamos ele sempre fez o café. Eram realizadas três viagens até Rio Claro, uma as 7 horas da manhã, outra as 12 horas e a terceira ás 4 horas da tarde.

O ônibus era diesel?

Era a gasolina, no tempo da Segunda Guerra a gasolina vinha em barris de metal, importada dos Estados Unidos.

Nessa época de onde saiam os ônibus com destino a Rio Claro?

O ponto de partida era em frente ao Hotel Jardineira, localizado na Rua Benjamin Constant, esquina com a Rua XV de Novembro. Depois passou a funcionar no Largo São Benedito, na ocasião havia só a Igreja São Benedito e a casa que pertenceu ao Barão de Serra Negra, mais tarde Prefeitura Municipal, prédio que foi demolido para dar lugar ao estacionamento existente na Rua Alferes José Caetano esquina com Rua São José. Na esquina onde hoje há a Câmara Municipal havia o Bar do Banhara, exatamente atrás da Igreja São Benedito era a Câmara Municipal, na esquina, havia a residência do Santo Bueloni, uma bela casa, com uma fonte de água no jardim da frente. Entre a casa do Bueloni e a Câmara Municipal situava-se a garagem dos veículos da prefeitura. Em 1965 o Luiz adquiriu uma casa em frente a Igreja São Benedito com o intuito de fazer uma agência de venda das passagens de ônibus á Rio Claro. Do largo São Benedito partia ônibus para os mais diversos locais, menos os que iam para a cidade de Americana, que saiam da agencia da AVA, localizada na Rua Prudente de Moraes, em terreno hoje ocupado pelo Edifício Canadá. Onde hoje existe uma galeria, ao lado da catedral era a agencia da Viação Piracicabana. Na esquina onde está instalada a Uniodonto foi a casa de um fazendeiro de sobrenome Pretel. Lembro-me de uma loja de doces, Éden, até hoje não encontrei doces iguais aos que eram fornecidos ali, ficava na Rua Prudente de Moraes na esquina com a Rua Santo Antonio, onde mais tarde foi construído o prédio ocupado pela Nossa Caixa Nosso Banco. Na esquina da Rua Voluntários de Piracicaba com a Rua do Rosário, morava o Bento Chulé, tinha o melhor doce puxa-puxa da cidade, vinha embalado em uma palha de milho, isso por volta de 1945. Lembro-me do Pedro Rico, que morava em uma casa situada á Rua Voluntários de Piracicaba, próximo á Rua Governador Pedro de Toledo, ele era dono da área de terras que mais tarde foi loteada e transformou-se na Cidade Jardim.

O que era o “Expressinho”?

Era um veículo, uma Kombi, por exemplo, que fazia a viagem de Piracicaba á Rio Claro na metade do tempo, a passagem tinha que ser reservada com antecedência.

A senhora participou ativamente da vida social de Piracicaba?

Desde a fundação do Clube da Lady, da Escola de Mães, eu participo de ambas as entidades assistenciais. Freqüentava o Clube Coronel Barbosa, o Clube de Campo de Piracicaba. Todos os finais de tarde o Luiz pegavas as nossas crianças, que já estavam arrumadinhas, prontinhas, e saia com elas para passear pela cidade, ia até o Passarela, lá havia balas de bergamota, que nunca mais vi, eram deliciosas. Ele teve entre outros carros um Hudson 49, cor de cobre, que foi um carro muito admirado em Piracicaba. Em 1951 ele comprou um automóvel da marca Kaiser. Até 1965 tivemos uma empresa de construção de carrocerias de ônibus. Dirigi por muito tempo o Kaiser, mais tarde dirigi uma Kombi, e depois tive um Fusca.

Como surgiu a sigla da Viação Marchiori?

A empresa que fazia a linha de Piracicaba á Rio Claro chamava-se Irmãos Marchiori, a empresa que tinha a linha urbana de Piracicaba, de São Pedro e Torrinha era a Luiz Marchiori e Cia. Ninguém usava nome abreviado, até que o Luiz resolveu colocar AVM, Auto Viação Marchiori.

A senhora assistiu a festa do Quarto Centenário de São Paulo?

O Luiz estava recém operado, quando fomos para São Paulo, até o Parque Ibirapuera, para assistir os festejos dos quatrocentos anos da cidade. Foi a coisa mais linda, havia uma exposição maravilhosa, da França veio o Museu de Cera Madame Tussaud, de um realismo impressionante nos mínimos detalhes. Algo Admirável foi assistir ao cinerama. (processo cinematográfico que trabalha com imagens projetadas simultaneamente por três projetores sincronizados para uma tela de proporções gigantescas e extremamente curva, com um arco de 146°). Em Piracicaba, que me lembre, foi feita uma única apresentação. Ao ser projetada a figura de um avião, dava-se a impressão de estar voando.

A senhora gostava de ver desfiles de carnaval?

Ah! Como era lindo! Chegamos a fazer até o corso de carro! Isso em 1948, 1950. Era tudo muito enfeitado, fantasias maravilhosas, ficavamos literalmente enterrados no confete que se espalhava pela calçada. No corso cada um enfeitava da melhor forma possível o seu carro.

Qual é a receita para viver bem e por longos anos?

Estou sempre de bom humor, leio diariamente os três jornais da cidade. Gosto muito de ler . Interesso-me por saber tudo que está ocorrendo nos dias de hoje.

A senhora vê as novelas da televisão?

Eu gosto! É uma distração ver uma novelinha! Vejo também o noticiario. Ainda mocinha, uns 15 ou 16 anos, fui ao campo “Roberto Gomes Pedrosa” para assistir aos jogos do XV de Novembro. Acompanhei a minha amiga Joana, irmã do lendário jogador Rabeca. Conheci o Capitão Carlos Wingeter, figura de proa do XV de Novembro. Minha primeira professora foi Dona Wanda, irmã do Dr. Lula. Ainda menina eu fui escoteira, com uniforme cáqui, e lenço vermelho no pescoço. Como escoteira participei da inauguração da Estação da Paulista, muitos escolares estavam presentes quando da chegada do trem pela primeira vez em Piracicaba. Lembro-me da colocação da pedra fundamental da construção da Igreja Bom Jesus.

Como foi a reação da senhora como dona de casa, com relação à mudança da compra em armazém para a compra no primeiro supermercado de Piracicaba, os Supermercados Brasil?

Puxa vida! Eu era amicíssima da Bete, filha do Lélio Ferrari, proprietário dos Supermercados Brasil. Tinha muitos produtos importados, dava gosto fazer compra lá.

Foi cliente da famosa loja “A Porta Larga”?

Fui a vida inteira! Desde quando ela era na outra esquina. Era uma loja com piso de tábuas largas, que rangiam quando andávamos pelo assoalho, em um prédio de portas antigas, íamos comprar de tudo lá, desde linha, tecidos. Depois que eles compraram o prédio da Loja do Sol, da família Azevedo, que se situava no local onde a Porta Larga construiu um prédio enorme e permaneceu por muitos anos.












sábado, outubro 16, 2010

ROSA MEUCCI GARDENAL

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 16 de outubro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
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ENTREVISTADA: ROSA MEUCCI GARDENAL
Rosa Meucci Gardenal é um exemplo do devotamento dos professores que nunca mediram esforços para cumprir com a sua vocação, de levar o conhecimento tão essencial ao ser humano e ao nosso país. Uma das mais legítimas histórias da professorinha idealista, destemida, como inúmeras que foram verdadeiras bandeirantes do ensino. A jovem professora chegou a cavalgar diariamente 40 quilômetros para ir lecionar as primeiras letras a seus alunos. Desafiando as adversidades como intempéries, répteis, mosquitos, sol escaldante, lama, poeira, ela nunca se deixou abater em sua missão. Do alto dos seus 83 anos, relembra o passado, e pensa em voz alta: “Acho que hoje não teria coragem de fazer isso novamente!” Rosa deixa transparecer o seu jeito despachado, de quem não gosta de muitos rodeios e vai logo ao assunto, contrastando com a sua paciência quase infinita como professora. Acompanha de perto a movimentação da família, gosta de ver novelas, embora as rotule de muito fantasiosas. Admira-se do poder de sedução exercido pela internet. Nascida em Conchas a 29 de setembro de 1927, é filha de Julio Meucci e Julia Maraccini Meucci que tiveram ainda os filhos Luis, Amábile, Therezinha, Benito e Lourdes. Como era costume na época, as professoras de bairros rurais moravam na casa de alguma família que as hospedava, Rosa teve o privilégio de dividir o quarto com a sua primeira professora.

Em que local de Conchas a senhora morava?

Morava no bairro rural de São Roque no município de Conchas, meu pai tinha armazém, moinho de fubá, bomba de gasolina. Morei em Conchas até os 9 anos. Fiz o primário na escolinha que era ao lado da minha casa, a minha primeira professora chamava-se Ivone, morava na minha casa, dormíamos no mesmo quarto. Mudamos de Conchas para Botucatu sendo que em menos de um ano após a mudança a minha mãe veio a falecer. Meu pai se viu viúvo com seis filhos para cuidar. Decidiu vir morar em Piracicaba. Meus avós, Luiz e Amábile Meucci moravam em uma casa situava-se na praça localizada no final da Rua Boa Morte, em frente à Estação da Paulista, onde hoje há uma farmácia de manipulação. A nossa casa era ao lado, existe até hoje. Lá eu cresci, passei a minha adolescência, minha juventude, até me casar. Lembro-me de que as ruas eram todas de terra, não havia nenhum tipo de calçamento.
Rosa é a quarta da esquerda  para a direita sentada em um banco
Ao chegar de mudança á Piracicaba, qual foi a primeira impressão que a senhora teve da cidade?

Foi a grandiosidade da cidade! Chegamos á noite com o carro do meu pai, ao passarmos pela Ponte do Mirante (Irmãos Rebouças), quando vi aquelas luzes maravilhosas, encantei-me, foi a minha primeira impressão, que permanece nítida até hoje em minha lembrança. Não via a hora de levantar no dia seguinte para poder olhar melhor tudo aquilo que compunha a cidade. Limitei-me a permanecer em casa, eu era muito tímida e havia perdido a minha mãe a menos de um mês. Naquele tempo quando falecia uma pessoa da família era guardado luto de forma muito rígida, com exceção a ir a missa, atividades como passear, ir ao cinema, a um casamento, á festas, não eram realizadas no período de um ano após a morte do ente querido. Meu pai casou-se em segundas núpcias com uma moça da família Olbrich, filha do Chefe da Estação Paulista.

Era movimentada a frente da Estação da Paulista?

Na frente da nossa casa havia um terraço bem grande onde costumávamos ficar observando o movimento da rua., o ponto do bonde era bem próximo, a Estação da Paulista em frente. Quando vinha times de futebol de outras cidades para jogar contra o XV de Piracicaba chegava um trem especial trazendo os torcedores, composto por sete, oito carros, desciam como uns loucos, nós tínhamos até medo, fechávamos a porta e janelas da casa. Às vezes passava boiada na Avenida Dr. Paulo de Moraes.

Oonde a senhora prosseguiu os seus estudos?

Fui estudar no Grupo Escolar Dr. João Conceição, que funcionava ao lado da Igreja dos Frades, ali estudei até o quarto ano primário, lembro-me da professora Da. Maria Lombardi. Onde hoje é o Posto Petrobrás, foi o Posto Cantagalo, anteriormente foi um armazém na esquina, com um grande terreno vazio em volta. Poucas pessoas entravam na Chácara Nazareth, entrei uma vez pela entrada da Rua São Francisco de Assis, havia uma colega que estudou na minha classe e morava ali. Ao lado da escola Dr. João Conceição havia um prédio velho, aos domingos Frei Evaristo projetava filmes para as crianças assistirem. Após seis meses conclui o primário e fui fazer exame de admissão, tive aulas com a Dona Donália, que morava em uma casa localizada onde hoje é o Posto Piracicabano, na esquina da Rua Governador com Rua Ipiranga. Entrei no Externato São José, onde mais tarde funcionou a Faculdade de Odontologia, na Rua Alferes José Caetano esquina com D. Pedro II. Tomava o bonde na frente de casa e descia em frente ao Posto São João, na Rua Boa Morte, esquina com Rua D. Pedro II. A quarta série do ginásio eu fiz na Escola Normal, hoje Sud Mennucci, onde prossegui nos estudos, formando-me lá. Tive aulas com Jethro Vaz de Toledo, Dario Brasil, Manassés Ephrain Pereira e vários outros professores que hoje dão seus nomes a diversas escolas de Piracicaba.
Formada como professora a senhora foi lecionar onde?
O fato de ter laços familiares em Conchas propiciou a minha ida para lá, na época havia falta de professores naquela cidade. Em 16 de fevereiro de 1950 comecei a trabalhar como professora substituta, dando aulas em escolas isoladas, de sítio, e dava aulas para alfabetização de adultos, com isso acumulei em dois anos um elevado número de pontos necessários para que disputasse uma cadeira com grande vantagem na escolha do local onde iria lecionar. A primeira escola onde lecionei foi a Escola Mista do Bairro Baltazar que ficava a uns vinte quilômetros, para ir até ela eu utilizava trole. Havia um charreteiro que nos levava, era o Elias, quem pagava o charreteiro éramos nós mesmas. Quando chovia tinha que ir a cavalo, éramos três professoras que iam lecionar em três escolas diferentes. Na nova seleção de escolas, acabei escolhendo a mesma escola onde eu já era professora substituta, chamava-se Escola do Bairro Moquém, passei a ser dona daquela cadeira.

Como era a proteção contra a chuva ao ir á cavalo?

Ia a cavalo, segurando sobre a cabeça um guarda chuva, para montar usávamos uma saia calça, era uma saia especial. Logo que fui lecionar eu não sabia montar a cavalo, mas tinha vergonha de revelar á alguém, a primeira vez que fui montar foi na praça central de Conchas, em frente a igreja. O Elias perguntou-me: “A senhora sabe andar a cavalo?” ao que eu disse-lhe: “-Preciso de ajuda para montar.” Ele então colocou o animal junto a uma mureta, subi e fui embora, sem contar a ninguém que era a primeira vez que andava a cavalo! Eu tinha vinte e um anos na época. A distância percorrida até a escola era de 20 quilômetros. Na ida até que ia rápido, mas na volta eu largava o cavalo para que viesse no passo dele, quando chegava em casa eram três horas da tarde, e a noite tinha que dar aulas para os adultos.

Quanto tempo a senhora permaneceu trabalhando em Conchas?

Fiquei lá por cinco anos. Eu queria uma classe para lecionar, não me incomodava se tivesse que dormir no sítio, ou andar distâncias maiores. A escolha para o local onde a professora deveria seguir obedecia ao critério de títulos e notas obtidas pelo professor, a minha nota era melhor do que a de muita gente, isso me favoreceu. Algumas professoras não queriam locomover-se em distancias maiores, outras não aceitavam ter que ir a cavalo para lecionar. Aceitando qualquer local, eu acabei acumulando um número maior de pontos no meu prontuário, e com isso superando algumas colegas, embora tenha me custado um pouco de antipatia de algumas delas. Ao final dos cinco anos eu já estava cansada de além de lecionar ter que varrer ou lavar a escola, não havia servente, tinha que fazer de tudo. Decidi escolher um grupo escolar, nem que fosse longe. Acabei indo lecionar em Mogi das Cruzes, no Grupo Escolar de Taiaçupeba. Morei uma temporada em Taiaçupeba, mas depois passei a morar em uma pensão em Mogi das Cruzes, ia dar aulas locomovendo-me de ônibus. Um dia eu fui ao cabeleireiro, encontrei-me com a Terezinha Telles, que tinha sido minha colega em Piracicaba. Na pensão conheci também duas outras colegas piracicabanas. Permaneci lá por dois anos. Em seguida escolhi cadeira em Capivari na Escola Mista do Bairro Barnabé, situada em uma fazenda de propriedade da Societé Sucrérie Brésilienne. De lá escolhi a Escola Mista do Bairro Conceição, em Piracicaba, onde lecionei por dois anos. Após esse período vim dar aulas no Grupo Escolar José Romão, isso foi em 1960, permaneci por 20 anos trabalhando lá. Tudo isso fiz quando ainda era solteira.

Como a senhora conheceu o seu marido?

É uma história tão engraçada! Ele me viu pela primeira vez quando eu ainda dava aulas no Bairro Conceição, que ficava junto à estrada velha que ligava Piracicaba a São Paulo. Eu não o tinha visto, mais tarde ele contou-me que tinha dito ao seu companheiro: “- Vou namorar essa professora!”. Seu nome era Josué Elias Gardenal. Em um domingo vi esse moço na Praça José Bonifácio, estávamos em 16 moças. Separamo-nos em dois blocos de oito moças. Não contentes separamo-nos em blocos de quatro moças. Estávamos quadrando o jardim (dando voltas em torno do mesmo e flertando com os rapazes que caminhavam no sentido contrário), quando ele passava, olhava, e cada moça achava que era com ela, até que a minha amiga Zulmira disse: “-Vamos esperar um pouco!” Ele passou, paramos em frente ao Cine Politeama, escutei ele dizer: “- Estou querendo namorar aquela moça!” Um amigo seu disse: “-Ela é professora! ”Vi então que era comigo, pois a minha amiga não era professora. Começamos a namorar.
Ele trabalhava onde?
Trabalhava no Munhoz, na época uma dos mais importantes atacadistas e importadores da região.

Onde foi o casamento?

Foi realizado na catedral de Santo Antonio, no dia 20 de janeiro de 1960, dois anos após iniciarmos o nosso namoro, o celebrante foi monsenhor Jerônimo Gallo. Fomos morar na Avenida do Café, próximo á Rua Fernando de Souza Costa.

Da sua casa até ao Grupo José Romão qual era o meio de transporte utilizado?

Tomava o bonde em frente a Estação da Paulista, ia até o centro, onde pegava o bonde para a Vila Rezende, descia na Avenida Rui Barbosa e seguia a pé até a escola. Só a Avenida Rui Barbosa era calçada, o resto era chão de terra. O Grupo José Romão era super lotado, chegou a ter 80 professoras, 40 efetivas e 40 substitutas. Funcionava em três períodos. Lembro-me dos diretores José Paulillo, Rufino da Silva, dos professores Paulo Bonilha, Hélio Casale Padovani. Nós saiamos ás 5 horas da tarde da escola, coincidia com o horário de saída dos funcionários da Dedini, o bonde seguia lotado, ninguém cedia o lugar para outra pessoa sentar, tínhamos que nos acomodar em pé, em frente aos passageiros sentados. Quando foi criado o ginásio Mário Dedini ele funcionou lá provisoriamente.

Os professores eram respeitados pelos alunos?

Quando um professor entrava na sala de aula os alunos ficavam em pé em sinal de respeito. Todos os dias ainda no pátio os alunos entoavam uma canção cívica: Hino Nacional, Hino a Bandeira ou outro hino pátrio. Nas classes cada professora tinha uma forma de realizar uma oração. Nossos alunos vinham de diversos pontos, de Santana, Santa Olímpia, alunos das famílias Vitti, Forti estudavam no José Romão. Eram transportados das mais diversas formas, inclusive de caminhão. Da minha janela vi fazerem o alicerce do Hospital dos Plantadores de Cana, quando eu dava aulas de classes situadas no andar superior, olhando através das janelas via só cana de açúcar plantada em volta. O Jardim Monumento, a Nova Piracicaba, era tudo um imenso canavial. As filhas do Mário Áreas Vitier, conhecido como Mário da Baronesa, eram professoras no José Romão. Havia uma rivalidade entre o José Romão e o Instituto Baroneza de Rezende. Adotávamos livros clássicos como Caminho Suave, Cartilha Sodré. Usávamos flanelógrafo. Atualmente as crianças aprendem mais rapidamente, há um maior volume de informações.

Qual é a sua opinião sobre os princípios de educação praticados atualmente?

Alguns são muito irreais. O culto ao computador parece uma religião. A televisão oferece muito pouca coisa aproveitável, o adulto tem como filtrar as informações, mas elas são despejadas de qualquer forma sobre as crianças.

A senhora já assistiu alguma vez um programa de televisão denominado Big Brother?

Já! Meu pai diria assim: “É o esculacho da família!”. Eu tenho consciência do que está sendo apresentado, não irei trazer aquilo para a minha vida, assisto para ver até onde vai o limite do absurdo. É feito tudo pelo dinheiro, só que o caminho não é esse, o dinheiro não deve mandar em nossa vida. .






domingo, outubro 10, 2010

Posto Samaritano de Piracicaba - CVV Centro de Valorização da Vida

PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 09 de outubro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
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ENTREVISTADA: ELIANE SOARES
O leitor já deve ter observado que logo após a mídia, em especial a televisão, noticiar uma nova modalidade de crime, imediatamente segue-se uma sucessão de crimes com o mesmo “modus operadis”. Entre os analistas e estudiosos do assunto, há aqueles que julgam a necessidade de divulgar o delito como forma de prevenção ás possíveis vitimas futuras. Outros afirmam que a divulgação das técnicas utilizadas em uma determinada ocorrência, alimenta a especialização no mundo do crime. Uma espécie de “Tele Curso do Crime”. A unanimidade de opinião só ocorre no caso de suicídio, no Brasil não é feita nenhuma divulgação, é alegada que uma das razões é o respeito à família pela tragédia que se abateu. Outro motivo para omitir a natureza da morte é que se o suicida for algum ídolo, ele poderá ser imitado por alguns de seus admiradores. De acordo com o Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde, 9.090 pessoas chegaram ao suicídio no Brasil em 2008, o que corresponde a 25 mortes diárias. Em 97% dos casos, segundo vários estudos internacionais, o suicídio é um marcador de sofrimento psíquico ou de transtornos psiquiátricos. Neury José Botega, professor titular do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que: "Os números são apenas a ponta do iceberg, pois, para cada suicídio, estima-se que haja pelo menos 20 tentativas. E, para cada caso de tentativa que atendemos no hospital, outras cinco pessoas, na comunidade, estão planejando e 17 estão pensando seriamente em pôr fim à vida. São números que não aparecem nos dados oficiais. Basta dizer que apenas uma em cada três tentativas de suicídio recebe atendimento médico." segundo o pesquisador. A partir da Segunda Guerra Mundial, na Europa e nos Estados Unidos, formaram-se grupos de profissionais e voluntários com a finalidade de prevenir o suicídio. Uma das entidades que mais se projetou foi “Os Samaritanos”, melhor estruturada nos anos 50, mas existente desde 1936. Existem outros grupos de voluntários espalhados pelo mundo como “SOS L`Amitié” de Paris, “Il Telefono Amico” da Itália, “SPC Suicide Prevention Center” de Los Angeles. No Brasil o CVV Centro de Valorização da Vida iniciou suas atividades em 1962, em São Paulo, nos moldes de “Os Samaritanos” de Londres. Em nossa cidade o Posto Samaritano Piracicaba localiza-se na Rua Ipiranga, 806, telefone (19) 3422 4111, fundada em 16 de junho de 1982. É uma instituição filantrópica que luta com grandes dificuldades para manter-se, mesmo sendo o CVV reconhecido como Entidade de Utilidade Pública Federal pelo Decreto Lei nº 73.348 de 20 de dezembro de 1973. O caráter sigiloso do atendimento torna difícil mensurar os resultados. Não há como afirmar a quantidade de suicídios evitados em determinado período. Resta aos voluntários se desdobrarem de todas as formas possíveis para conseguirem cotizar o valor necessário para manter o serviço prestado á comunidade. Percebe-se claramente que para os voluntários, o fato de ter salvado, nem que seja apenas uma vida, já se sentem gratificados pelo esforço. Eliane Soares é a pessoa designada a representar a instituição junto á mídia, preservando o anonimato dos demais integrantes do Posto Samaritano Piracicaba.

Qual é a sua função no CVV de Piracicaba?

Sou voluntária, plantonista e ainda coordenadora da divulgação, participo da entidade já há 10 anos.

Qual é o nome correto da entidade?

É Posto Samaritano de Piracicaba, somos vinculados ao CVV Centro de Valorização da Vida. O CVV funciona por 24 horas enquanto o Posto Samaritano atende em determinados horários do dia, trata-se de um horário feito em função da disponibilidade dos voluntários. Em Piracicaba atendemos das 15 até as 23 horas.

Qual é a origem do nome Samaritano?

Ele foi inspirado em um trabalho que já existia na Inglaterra, os jovens que fundaram o Samaritano em São Paulo tomaram contato com “Os Samaritanos” de Londres e adotaram também o nome da entidade. Com o passar do tempo eles fundaram uma instituição que é o Centro de Valorização da Vida. Haviam percebido que algumas pessoas que eram conhecidas tinham tentado o suicídio, uns tinham conseguido o seu intento, outros sobreviveram, mas com seqüelas.
O foco de trabalho desse grupo passou a ser o suicídio?

Foi a prevenção do suicídio, trabalho que continuamos a realizar, o que mudou um pouco foi a forma de divulgação para a sociedade, quando falamos que é a prevenção do suicídio muitas pessoas pensam: “-Eu não vou me matar, então não irei telefonar para lá!” Só que o suicídio é um processo. A pessoa não acorda em um determinado dia e decide: “-Hoje irei tirar a minha própria vida!” É um processo que ocorre ao longo da vida de uma pessoa, pode levar meses, anos, e se ela não for ajudada, compreendida, respeitada, auxiliada, poderá vir a tentar o suicídio. Atualmente o foco da nossa divulgação não é mais a prevenção do suicídio, hoje nós denominamos nossas atividades como um trabalho voluntário de doação de amizade. Somos um amigo do outro lado da linha, você pode ligar a qualquer hora que terá uma pessoa para lhe escutar. Isso para a pessoa que está em processo de tornar-se um suicida, embora ainda para ela isso não esteja claro, em geral são indivíduos em depressão, tristes, essa pessoa irá ligar para nós e desabafar. Não irá concluir um ciclo, onde a própria vida é insuportável.

A palavra suicídio é mais comum nos dicionários do que no nosso cotidiano?

A mídia assim como a sociedade médica, diz que se alardeamos muito a respeito do suicídio, ao mencionarmos que algum artista, um cantor, se suicida por determinado motivo, as pessoas que estão vivenciando motivo semelhante podem vir a suicidarem também. Há muita influência desses ídolos sobre o comportamento da sociedade. Hoje se valoriza muito o ter, o controlar, o fazer o sucesso, e não mais a valorização de quem é a pessoa.

Quem trabalha no Samaritano, CVV, de Piracicaba?

Todos nós somos voluntários e trabalhamos em nossas atividades profissionais. Eu trabalho no departamento de logística de uma metalúrgica. O que nos traz aqui é o fato de gostar de outro ser humano. É o amor ao próximo. Atualmente somos 12 voluntários, sendo 9 mulheres e 3 homens.

Há um número de horas ideal para que o CVV funcione?

O ideal são as 24 horas do dia, como funcionou em Piracicaba até 2006, por falta de voluntários fomos obrigados a diminuir o período de atendimento.

O que uma pessoa deve fazer para tornar-se voluntário?

Nós ministramos um curso, aos sábados das 14 até as 17 horas, com duração de um mês e meio, que irá capacitá-lo como voluntário. Esse curso determina quais são as características necessárias para ser voluntário, como é o estado emocional da pessoa que nos liga, qual é nossa forma de atendê-la. O nosso trabalho é baseado no trabalho de Carl Rogers (Carl Ransom Rogers 1902-1987 foi o mais influente psicólogo na história americana.) na linha da psicologia não-diretiva, no CVV estudamos muito, muito mesmo! Temos os cursos de aperfeiçoamento, isso qualifica cada vez mais o voluntário, que também aumenta o seu autoconhecimento. Não existe limite de idade máxima para ser voluntário.
                                                                       Carl Rogers         
O nome Samaritano pode induzir que se trata de uma instituição ligada á alguma seita religiosa. Há algum vinculo com alguma igreja?

Não temos nenhuma vinculação religiosa ou política, não somos ligados a nenhuma instituição de ensino. Somos todos voluntários, não temos nenhum funcionário.

Em Piracicaba há alguma ajuda governamental?

Nenhuma. Há alguns postos no Brasil que são reconhecidos como de utilidade pública pelo município e recebem uma verba da prefeitura. Nós aqui não somos.

Como é a estrutura do CVV?

O Centro de Valorização da Vida que fica na Rua Genebra, em São Paulo, detém três tipos de trabalho, o CVV que é a prevenção do suicídio, a Clínica Francisca Julia, situada em São José dos Campos, para doentes mentais, e o CRC Caminho de Renovação Contínua. O CVV e o CRC são trabalhos voluntários. A Clínica Francisca Júlia é um hospital com mais de 200 leitos e apoio do governo. A estrutura destinada aos voluntários do CVV e Samaritano é preparada pela unidade central. Cada posto é totalmente autônomo entre si e financeiramente, tem um CNPJ, é uma instituição registrada, em Piracicaba o CVV Samaritanos tem como razão social a Sociedade de Apoio a Vida Dr. Nelson Meirelles. A mesma forma de atendimento que fazemos em Piracicaba é feita em outras localidades onde existe o CVV, há uniformidade no trabalho.

Porque o CVV de Piracicaba chama-se Sociedade de Apoio a Vida Dr. Nelson Meirelles?

Porque a casa onde estamos foi fruto de doação do Dr. Nelson Meirelles. A princípio esta casa era de propriedade do Dr. Nelson Meirelles, ele fez a doação á uma instituição de caridade tendo Luiz Antonio Copoli, o Titio Luiz, como responsável pelo imóvel.

Titio Luiz manteve por muitos anos uma farmácia, com distribuição gratuita de medicamentos aos necessitados. Ao encerrar as atividades da farmácia, Titio Luiz anunciou que a casa estava disponível para a instituição filantrópica que necessitasse. Essa era uma das cláusulas constantes no contrato de doação do Dr. Nelson Meirelles. Uma das nossas voluntárias ouviu a noticia pelo rádio e entrou em contato com o Titio Luiz, que prontamente concordou com o uso da casa pela nossa instituição. (Na sala de recepção há as fotos do Dr. Nelson Meirelles e do Titio Luiz, uma homenagem aos beneméritos).

Como foi o seu ingresso no CVV?

Sempre tive a vontade de realizar um trabalho voluntário, mas onde não fosse necessário dar alguma coisa ás pessoas, porque isso já tinha muita gente fazendo. Através da mídia tomei conhecimento do trabalho feito pelo CVV, achei muito bonito. Não é apenas uma ajuda material, trata-se de um resgate de uma pessoa. Gostei da proposta e vim fazer o curso para voluntários. Para ser voluntario em nosso trabalho é necessário ter amor em excesso, paciência e gostar do ser humano. Se não tivermos um amigo que nos ouça, que nos respeite e acolha em um momento de dificuldade fica difícil de levar a vida.

Ao atender um suicida em potencial como age o voluntário?

Nós não damos conselhos, não somos diretivos, não direcionamos a decisão que a pessoa deve tomar, podemos ajudar a refletir sobre as suas próprias decisões. É um contato absolutamente sigiloso, não perguntamos as características das pessoas, nome, endereço, onde ela trabalha a pessoa não tem a necessidade de se identificar quando liga, não temos identificador de chamadas para saber quem ligou e de onde ligou. Aceitamos a pessoa como ela é.

O voluntário identifica-se durante a ligação?

Normalmente usa-se apenas o primeiro nome, que poderá ser um nome adotado pelo voluntário, principalmente se o seu nome original for incomum, como Arquibaldo por exemplo.

Qual é o sentimento de estar atendendo uma pessoa que está no limiar de tirar a própria vida?

Quando uma pessoa quer suicidar-se e porventura liga para nós, ela desabafa, conta os seus problemas, fala porque está tendo esses tipos de pensamentos, em função da conversa que ela tem conosco, poderá desistir do seu intento naquele momento, isso não impede que ela possa tentar o suicídio daqui a alguns meses. Quando a pessoa liga, nós somos focados totalmente nela, no seu problema, no sentimento que ela nos traz.

Porque o ser humano comete o suicídio?

Isso ocorre porque a pessoa perde a razão de viver, pelos mais diversos motivos. Quando viver não importa mais. O fato de estar viva ou de morrer para ela tem o mesmo significado, ela quer sumir deste mundo, quer morrer. Se ela encontrar uma nova maneira de viver, se a vida passar a ser colorida novamente, ela ganhará força e irá à luta. Há uma comprovação cientifica que mostra quando as pessoas não estão bem, estão depressivas, elas não vêem as coisas com o mesmo colorido de uma pessoa que é feliz. A pessoa depressiva perde cada vez mais a paixão pela vida, fica cada vez mais triste, mais isolada, normalmente ela precisa de uma ajuda médica, e se não tiver ela acabará cometendo o suicídio. Nós somos apenas um amigo que ela tem para os momentos em que ela desejar estar conversando, nos momentos de crise.

Ao atender uma pessoa em momento de crise o voluntário aconselha que ela procure um médico?

Não aconselhamos, ela é que deve perceber essa necessidade.

Há como distinguir que faixa etária entra em contato com o CVV?

Normalmente quem nos liga é um adulto, porém há adolescentes que nos ligam também. O suicídio entre os adolescentes está aumentando, há uma maior competitividade entre eles, se não tiver aquele tênis de marca famosa já é motivo para entrar em crise, para fazer parte do grupo ele precisa ter o tênis, a roupa de grife famosa, a menina tem que ser magra, como dita os manequins das lojas, para um adolescente que está passando por uma fase bastante conturbada, às vezes ele acaba nos ligando para contar o que aconteceu. Pode ser algo do tipo: “Perdi meu namorado pelo fato de que sou gordinha, ele me trocou por uma moça mais magrinha”. No caso do ter uma baixa auto-estima isso é delicado.

O suicida tem baixa auto-estima?

A maioria sim. Quando para a pessoa nada mais tem graça, ele irá se desvalorizando assim como tudo que existe ao seu redor. Nada mais terá valor, inclusive a própria vida.

O voluntário anota alguma coisa durante a conversa?

Não registramos absolutamente nada.

Algumas pessoas ligam com assiduidade?

Caso ele esteja em um processo de dor ela irá ligar diversas vezes, isso pode ser até por vários meses, mas normalmente após terminar esse período de crise ela passa a ser uma pessoa como outra qualquer.

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