sábado, abril 17, 2010

FRANCISCO DE ASSIS PEREIRA DE CAMPOS (FREI TITO)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de abril de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.teleresponde.com.br/
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: FRANCISCO DE ASSIS PEREIRA DE CAMPOS (FREI TITO)







No princípio era a idéia: Missão.



No principio era o sonho:



apenas viver entre os pobres,



como pobre e para os pobres.



Foi assim que a idéia se fez sonho



e o sonho se fez idéia:



“Vida e Regra de Francisco”.



Não do Francisco de Assis



mas do Francisco do Glória,



que pela fé e doação,



idéia e sonho se fizeram ação.



Frei José Orlando Longarez, O.F.M. Cap.

Francisco de Assis Pereira de Campos ainda hoje é chamado de Frei Tito, nome adotado no período da sua vida dedicada exclusivamente á sua missão religiosa. Frade quer dizer irmão significa viver a fraternidade O frade capuchinho pode ser sacerdote ou irmão leigo, vivendo em fraternidade e servindo a Igreja, preferencialmente em tarefas e lugares difíceis. Realiza os serviços simples, humildes, estando entre os pobres e marginalizados. O frade capuchinho procura trabalhar pelo bem do povo com preparação e competência, sem ambições pessoais. Piracicaba tem grandes exemplos de frades capuchinhos como referência. Um nome inesquecível é o de Frei Francisco Erasmo Sigrist que exerceu o ministério sacerdotal durante quase 15 anos, somente em Piracicaba. Em janeiro de 1985 foi para a Fraternidade Nossa Senhora da Glória, no Jardim Glória, uma favela de Piracicaba, onde viveu e trabalhou até a morte, buscando realizar intensa e radicalmente a proposta fundamental do Evangelho. Frei Tito partilhou com Frei Sigrist o mesmo teto do barraco em que moravam, na favela, hoje tombado como patrimônio histórico. Frei Tito realizou a experiência de vida onde só a fé intensa desenvolve a coragem de vencer os inúmeros obstáculos encontrados. Vivenciou o mundo desconhecido pela maioria da população, o cotidiano dos marginalizados, onde o significado da vida tem referencias e valores próprios. Francisco de Assis Pereira de Campos tem formação em filosofia e teologia, especialização em filosofia política e filosofia da arte. Mestrado em educação. Hoje é Assessor Executivo do Gabinete do Prefeito de Sumaré, o piracicabano José Antonio Bacchin., foi Secretário de Obras, Diretor de Educação, Diretor de Cidadania, Gerente da Cidade, Chefe de Gabinete, na cidade de Sumaré.
Francisco de Assis Pereira de Campos, Frei Tito como ainda o chamam é piracicabano?
Nasci em 14 de junho de 1954 na Nova Suíça, bairro rural distante poucos quilômetros do centro de Piracicaba. Sou filho de Benedito Pereira de Campos conhecido como Dito Gica, meu avô paterno tinha o apelido de Seu Gica. Minha mãe é Barbara do Amaral Campos conhecida como Dona Barbica. Sempre foram agricultores, eram proprietários de um sítio com aproximadamente dez alqueires. Ao longo de muitos anos tivemos gado leiteiro, naquele tempo entregávamos o leite direto ao consumidor, em litros de vidro que eram acondicionados em um engradadinho de ferro, a entrega era feita de casa em casa. Era o tempo em que o padeiro também entregava o pão á domicilio. Éramos nove irmãos, Antonio, Maria José, Maria Alice, João Pedro, Maria de Lourdes, Francisco, José Deodato, Reinaldo, Vera. Na roça começa a se trabalhar logo que se aprende a andar. Era uma agricultura familiar, as crianças ainda muito novas já iam para roça. Na época ás três horas da manhã já se levantava para tirar leite, ás seis horas da manhã o leite deveria estar sendo entregue na rua.

O senhor sabe ordenhar?

Tirei muito leite. Usava-se aquele tradicional banquinho, com um pezinho e amarrado á cintura, para poder fazer o trabalho de forma mais rápida.

Era necessário imobilizar a vaca?

Amarrava-se a cabeça para evitar chifradas, imobilizava as patas traseiras, para não tomar coices do animal. Era um serviço que oferecia riscos para uma criança. Cheguei a levar uma chifrada em uma das mãos, que provocou um ferimento sem nenhuma seqüela, mas de certa gravidade. Na época não havia mecanização, toda a lavoura era feita com arado, tracionado por burros. Uma das coisas que mais gostava de fazer era arar a terra, gradear a terra. Gradear a terra era quase uma diversão, nós subíamos em cima para ela ficar mais pesada. Era muito gostoso passar ferramenta em roça de milho, de arroz. Trabalhávamos com uma dupla ou “pareia” de animais até a hora do almoço e em função do calor após o almoço utilizávamos outra “pareia”.

Era comum dar nome aos animais?

Sem dúvida! Tínhamos uma mula chamada Chalana, era muito estimada. É interessante observar que meu pai gostava da música Chalana, e em função disso várias gerações de mulas receberam esse nome. As vacas também recebiam nomes como Mansinha, Pintada. Chegamos a ter vinte vacas produzindo leite diariamente.

O sítio ficava bem próximo da cidade?

Lembro-me de que vinha a pé assistir a missa na catedral de Piracicaba. A distância deve girar em torno de uns seis quilômetros. O nosso sítio ficava bem em frente ao Seminário Diocesano. A entrada do Seminário e uma faixa de terra que dá acesso ao mesmo foram cedidas pelo meu pai.

Houve uma época em que o leite “in natura” não podia mais ser vendido?

Vivemos esse tempo, no início do Morro do Enxofre a fiscalização pegava os leiteiros, prendia, dava banho de água fria nos leiteiros. Ainda pequeno, eu não entendia muito bem o que estava acontecendo, que por trás disso havia uma industrialização. A obrigatoriedade de colocar o leite nos laticínios e tirar o produtor da venda direta ao consumidor. A fiscalização era rigorosa. Havia produtores que vinham de longe para trazer o leite, com caminhonete carregada de leite, e era comum eles pararem em casa, por ser o sitio que também produzia leite e ficava mais próximo da cidade.

Em nome da pasteurização, da saúde pública, beneficiou-se muito o poder econômico?

Sem dúvida. Hoje o leite tem que passar pelos laticínios por conta de uma série de preocupações com a saúde pública, mas sem duvida nenhuma os beneficiários disso foi o poder econômico.

Havia rádio na sua casa?

O rádio chegou muito tarde á minha casa, deve ter sido na década de 60. Tínhamos um rádio á bateria, com válvula. Ouvíamos muito o Zé Béttio. Meu pai ouvia muito o Alziro Zarur da LBV – Legião da Boa Vontade.

O grupo escolar o senhor cursou onde?

Fiz o Grupo no Bairro Rural Pau Queimado. Lembro-me das nossas professoras, Dona Ruth, Dona Filomena e Dona Dalva. Na época acho que era a Dona Dalva que tinha um carro DKW branco e vermelho. Quando chovia, ás vezes elas não conseguiam chegar até a escola, nós ouvíamos o ronco do carro quando ele estava vindo. Em dia de chuva a molecada torcia para não ouvir o carro, assim não haveria aula.
A energia elétrica demorou á chegar ao bairro?

Chegou bem cedo á nossa região, por conta do prefeito Francisco Salgot Castillon. Ele levou também o telefone. Na minha casa havia um aparelho e na venda do Santo (Santin) Novello havia outro aparelho, o número do nosso telefone era 94. Para fazer uma ligação tinha que solicitar á telefonista que a fizesse. O telefone tocava em casa e tocava no Santin. Eram extensões um do outro. Esse telefone acabou virando um orelhão. E era esse também o objetivo, não era visto como um privilégio pessoal.

Isso tornou a sua família popular na comunidade?

Havia um espírito de solidariedade na alegria e na tristeza. Quando ouvíamos o porco gritando lá no sítio do vizinho nós sabíamos que iria aparecer um pouco de carne para comermos. O vizinho matava o porco e trazia um pedaço de carne. Isso era recíproco. Era interessante essa relação de vizinhança, quase nunca um vizinho chegava á casa do outro de mãos vazias. Sempre trazia limão, laranja, pão caseiro.
Houve um período em que a família veio morar em Piracicaba?
Tivemos um momento de dificuldades, fomos morar na Vila Boyes, próximo a Igreja São Dimas. Meu pai adquiriu de um tio um armazém. Permanecemos por um tempo em Piracicaba, preservamos o local onde morávamos na zona rural. Meu primeiro emprego ficava embaixo da rádio PRD-6, em um laboratório de prótese de propriedade de Washington e Roberto. Faziam dentaduras, pontes. Trabalhei um tempo também como cobrador de ônibus, da Viação Marchiori, fazia a linha Piracicaba-Rio Claro, depois eles passaram a fazer também a linha Piracicaba-Pirassununga, após trabalhar por um determinado tempo nessa linha, voltamos para o sítio novamente. Com 15 para 16 anos de idade fui estudar no Colégio Agrícola de Rio das Pedras. Estudei por três anos lá, sou da primeira turma formada pelo Colégio Agrícola de Rio das Pedras. Quando iniciamos os estudos lá, o alojamento não estava ainda pronto, permanecemos morando em umas casas do CDHU na entrada de Rio das Pedras. O caminhão do colégio nos levava para lá, subíamos em cima da carroceria, era um frio danado.
Como jovem, é natural ter algumas distrações, quais eram as suas?

Eu gostava de jogar futebol, sempre fui goleiro. Jogava também na linha. Em Rio das Pedras, na Rua Prudente de Moraes, havia um cinema, era também um local de distração. As quartas-feiras eu saia do colégio e ia ás reuniões dos vicentinos. Eu era vicentino. Conheci muito Caetano Gramani, uma pessoa que sempre esteve muito presente na minha vida.

Saindo do Colégio Agrícola o senhor foi trabalhar onde?

Surgiu um concurso na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, fiz, fui aprovado e passei a trabalhar na ESALQ no departamento de solo e geologia, o responsável pelo departamento era o Prof. Dr. Guido Ranzani, sogro de João Hermann Neto. Morava no Bairro da Suíça e trabalhava na ESALQ, Pedro Hidalgo era um vizinho de sítio e que trabalhava em uma metalúrgica próxima, ele tinha um fusca novinho, eu ia e voltava com ele. Permaneci trabalhando na ESALQ por dois anos.

O que aconteceu depois?

Eu sempre tive uma vida muito ligada á igreja, em especial aos franciscanos. Meu avô, Seu Gica, foi Terceiro Franciscano, foi sepultado com habito da Ordem Terceira. Hoje eu pertenço á Ordem Terceira. São Francisco queria uma ordem de irmãos, por isso a denominação “frei”. A origem está em “fratello”. Na idade média para pregar o evangelho precisava ser diácono, não era padre, mas pertencia ao clero Ele fundou a ordem dos frades e abriu a possibilidade para que todos possam viver o evangelho na sua espiritualidade. A Ordem Terceira é para todos cristãos que querem viver o espírito franciscano. Naquele momento em que trabalhava na ESALQ eu fazia a coordenação da Pastoral Rural da Diocese de Piracicaba, foi no período em que ocorreram os movimentos como Topada, Gen, TLC. Nós criamos na Igreja dos Frades a Pastoral Rural, o capelão na época era Frei Saul Perón. Lembro-me do Frei Afonso. Frei Marcio era o frei mais jovem. Essa relação com os frades acabou criando um envolvimento, Frei Marcio era responsável pela pastoral vocacional, com isso éramos provocados em determinadas situações a ser padre. Éramos jovens empolgados com a pastoral. Gostava e gosto da Igreja até hoje, na época entendi que deveria tomar uma decisão.

Qual foi a reação da sua família?

A minha família gostou. Lembro-me que estava sentado na soleira da porta, quando disse á minha mãe que estava pensando seriamente em ir para o seminário. Ela disse-me: “-Mas você já está muito velho para isso!”. Na época quem ia ser padre ia para o seminário muito cedo. Fui para o seminário onde tive formação da filosofia antiga e da nova, sobretudo a filosofia da libertação. Tive professores como Hugo Assmann, Frei Beto, Rubem Alves, Leonardo Boff.

Há a possibilidade de ser frade sem ser padre?

Perfeitamente! O frade pode morar em um convento e exercer o trabalho como advogado, médico, veterinário, professor, temos um caso de um frade que exerce a profissão de cobrador de ônibus. Tem que estar ligado a fraternidade. Tem que ser feito os estudos e fazer a profissão de fé.

Quando foi a profissão do senhor?

Meus primeiros votos foi em 1980, aqui no Seminário Seráfico São Fidelis. Fiz meus estudos em Nova Veneza. Em 1982 fui morar na periferia de Sumaré, com Frei João, que hoje é bispo. Eu entendi que o meu papel na igreja era fundamentalmente o de contribuir para a formação da catequista, dar cursos bíblicos aos leigos e, sobretudo estar presente nos movimentos sociais.

O ser humano constrói seus próprios obstáculos?

Sem dúvida. Só que ele não procede assim por acaso. Somos frutos de uma formação. Paulo Freire diz que: “-A nossa cabeça é onde estão os nossos pés”. Somos produtos do meio.

O senhor é conhecido como Frei Tito?

Frei Tito por conta da ordem. E permaneceu. Na favela algumas crianças me chamavam de Título. Vim morar em uma fraternidade nossa no Jardim Glória. Frei Sigrist tinha acabado de voltar da Alemanha onde tinha feito teologia. Ele era uma pessoa muito especial, de grande espiritualidade, grande senso de humor. Alguns estudantes tinham construído um barraco na favela e foram morar lá. Pedi ao Provincial Frei Sermo Dorizotto para vir morar na favela.

Como é morar em uma favela?

É uma experiência muito boa. Foi o período mais interessante da minha vida. Eu já tinha convivido com uma favela, mas não havia morado em um barraco, junto com o povo, vivendo 24 horas por dia na favela. Acabei vindo morar com Frei Sigrist. Nesses anos todos que vivemos na favela tínhamos apenas um pequeno rádio, quando ia lavar roupa eu ficava ouvindo “Toninho da Engenhoca”. Não tinha televisão, não tinha muro, não tinha cerca. Criamos uma relação muito saudável com a população. O barraco não tinha fechadura. Quando chegamos á favela tínhamos problemas de todas as ordens. A primeira coisa que fizemos foi capacitar algumas mulheres de boa vontade no sentido de elas fazerem curativos, procedimentos básicos de saúde. O barraco acabou sendo um pequeno ambulatório.

Próximo existe o Pronto Socorro?

Existe. Mas não é só a questão do atendimento ser bom ou ruim. O sentimento das pessoas das favelas é de quem está á margem da sociedade. Sem auto-estima. Ás vezes o único espaço que encontram é na marginalidade. Eu participei de mutirão rebocando casa. A nossa presença ali era de extrema importância para eles. Aprendi a fazer muitas coisas com eles. Montamos uma fábrica de blocos lá dentro. Compramos um caminhão Mercedes-Bens e eu dirigindo o caminhão ia buscar areia na Codistil. Ganhamos do Colégio Dom Bosco a antiga estrutura, eu e Frei Sigrist em cima de andaimes, vigotas, com a criançada, mulherada, todos juntos derrubamos aquilo tudo. Isso os animava e mudava a vida deles. Foi um trabalho de muita integração, viver a vida deles. Desistimos de ter colchão nas duas camas, tanto na minha como na do Frei Sigrist. Um dia chegando em casa, chovendo, o Sigrist me disse: “- Tito, você me desculpe, mas chegou uma mãe com o filho deitado no chão, no barro, eu disse a ela que só tinha o meu colchão e o seu para dar á ela. Ela aceitou. Não fique bravo, Tito, amanhã eu compro outro colchão”. Eu respondi: “-Vamos ficar sem colchão! Se comprar você vai doar de novo!”. Ficamos por vários anos sem colchão. O barraco está lá, do jeito que deixamos, aberto á visitação.







domingo, abril 11, 2010

DO MESMO AUTOR, VISITE OS SEGUINTES ENDEREÇOS:

DO MESMO AUTOR, VISITE OS SEGUINTES ENDEREÇOS:


blog do nassif
http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=7257380465023456627


Piracicaba que eu adoro tanto
http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=5600688494480390127


blogdonassif
http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=8937770681851424333


VERNA FERREOMODELISMO
http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=7205130228997930430


BLOG DO NASSIF
http://blognassif.blogspot.com/



MARIA RUTH BELLANGA DE OLIVEIRA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 05 de dezembro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA:                    MARIA RUTH BELLANGA DE OLIVEIRA



No Brasil a participação política da mulher só veio ocorrer com a constituição de 1934 com a extensão do voto à mulher. A luta das mulheres pela cidadania é histórica. "A participação da mulher na política é muito pequena, e isso também revela a natureza atrasada de nossa sociedade, uma sociedade conservadora. É o ranço que permanece de uma sociedade patriarcal, patrimonialista, em que a mulher era considerada patrimônio do homem", alerta o professor Marcos Costa Lima, do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Lúcia Avelar, diretora do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), destaca que há uma série de pesquisas mostrando serem elas muito mais sensíveis a questões sociais, por exemplo, e que, por isso, o eleitor é muito simpático às candidaturas femininas, "como se tivessem se desencantado com o atual sistema". Isso ocorre em disputas políticas de expressão nacional, como também em pequenas comunidades. A cidade de Mombuca é um pequeno município, sendo que seus habitantes se consideram uma grande família, com todas as peculiaridades de uma família de porte. Nos momentos de dor e de alegria choram e festejam juntos. Todos se conhecem, se cumprimentam pelo nome. A chegada de um “forasteiro” na cidade é logo percebida, observada discretamente, sendo suas ações e trajetórias objeto de curiosidade coletiva. Para alguém que queira passar despercebido é uma péssima escolha! Em Mombuca encontramos uma mãe de família que tem uma trajetória de vida pessoal e política que retrata muito bem o perfil da atuação da mulher não só no Brasil, mas em todo o período seguinte a Revolução Francesa. Maria Ruth Bellanga de Oliveira nasceu em Mombuca em 22 de agosto de 1958, filha de Iracema Doriguello Bellanga e Rubens Bellanga. Foi vereadora, hoje é a vice-prefeita de Mombuca.
Quem nasce em Mombuca é conhecido como?
É mombucano! Eu sou mombucana. Entrei na escola aos sete anos de idade na Escola Bispo Dom Mateus. Minha primeira professora foi a Dona Cida, esposa do Sr. Avelino Lucas, era de Piracicaba e vinha dar aula aqui. Foi onde estudei o curso ginasial.
Como surgiu Mombuca?
A história do Município de Mombuca tem início em 1889, com o senhor Aristides Cavicchiolli que se fixou nas margens do Ribeirão Mombuca, iniciando assim o povoamento da região. Era um povoado. A origem do nome provém do tupi-guarani mombuka que era o nome dado a pequenas abelhas que na época da formação do povoado faziam as suas colméias no chão em volta do Ribeirão.
O trem da Sorocabana passava por Mombuca?
Passava! A noite havia uma passagem de trem por Mombuca, o povo costumava ir até a estação, ara vê-lo passar. Era uma diversão da população.
Qual foi seu primeiro emprego?
Aos onze anos de idade fui trabalhar como empregada doméstica. Na época a lei permitia o trabalho com essa idade. Aos quatorze anos de idade fiz um teste para trabalhar na máquina de costura. Fui admitida na Raqueltex, de propriedade do Sr. Álvaro Nicoletti. Lá eu fazia calça jeans. Graças a Deus eu era muito experta na máquina, eu sabia que tinha que ser rápida no trabalho, por necessidade. Eu passei em um concurso e fui trabalhar em Piracicaba.
Onde foi seu próximo trabalho?
Foi no Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes. A diretora era Dona Tereza Mastrodi. O meu cargo era de servente, mas como havia a necessidade de inspetor de aluno eu passei a exercer essa função. Isso foi em 1980.
Qual foi a sua próxima atividade?
Eu casei-me com Enio Niceas de Oliveira, meu marido preferia que eu tivesse as atividades domésticas. Ele foi o meu primeiro namorado. Nessa época ele estava concluindo o curso de direito, enquanto exercia atividades comerciais junto com a família dele.
Após concluir o curso de direito, seu marido entrou para a política?
Ele foi candidato á vereador, não foi eleito. Na próxima eleição ele candidatou-se, tendo sido o vereador mais votado e tornou-se presidente da câmara. Na época eram onze vereadores, depois foi reduzido para nove.
Nessa época que despertou seu gosto pela política?
Comecei a gostar, passei a freqüentar a casa da primeira dama do município, Dona Clarice Guari. Aprendi muito com ela.
Na eleição seguinte o seu marido foi candidato a prefeito e foi eleito?
Foi exatamente o que aconteceu. Eu passei a exercer um trabalho social muito intenso junto á população mais carente.
O jovem em Mombuca é estimulado á pratica de esportes?
Além de termos um ensino de alto padrão, com métodos pedagógicos estipulados por uma instituição muito respeitada, e que é freqüentada em outras cidades por alunos de famílias com alto padrão aquisitivo, nós estimulamos a prática dos mais variados tipos de atividades físicas. São disputados campeonatos, realizadas disputas.
Como surgiu a sua candidatura para vereadora?
O então candidato á prefeito. Marcos Antonio Poletti convidou-me, achava interessante a representação da mulher junto a Câmara Municipal. Eu não estava muito encorajada a realizar uma campanha, fiz de forma tímida. Da campanha tão curta que fiz, fui a candidata á vereador mais votada. Acho que o meu trabalho já estava feito. Cumpri meu quatro anos como vereadora e sem esperar fui convidada a ser Vice-Prefeita. Com o apoio da minha família, acabei aceitando. Já estamos no segundo mandato, o prefeito foi reeleito e eu fui reeleita como vive-prefeita.

A mulher está ocupando o seu espaço em todos os setores, os homens ficam um pouco apreensivos com essa tomada de posição feminina?
Infelizmente ainda existem alguns que ficam com o pé atrás. A mulher é mais paciente.
A sua postura é de conseguir seus objetivos sempre através do diálogo, usando o bom senso feminino?
Essa é a melhor forma. Conseguir transmitir os objetivos de forma equilibrada. Gosto das coisas muito corretas.
Qual é a principal fonte de renda da Prefeitura de Mombuca?
A maior fonte geradora de recursos é a agricultura. Um fato pitoresco ocorre com a cidade, embora existam grande áreas plantadas com cana-de-açúcar no município o processamento se dá nas duas cidades vizinhas onde há usinas: Rafard e Rio das Pedras. Os impostos decorrentes dessas atividades por conseqüência vão para esses municípios. O recolhimento de IPVA é baixo, pelo pequeno número de veículos na cidade. O ICMS em Mombuca é bastante baixo. O IPTU recolhido é o suficiente para cobrir um mês da folha de salários dos funcionários.
Mombuca tem Guarda Municipal?Temos sim.
Quais são as perspectivas de trabalho para os jovens da cidade?
O serviço público municipal era praticamente o que poderia se divisar. Recentemente, com a vinda da Santa Rosa que é uma indústria têxtil de Americana que emprega umas 50 pessoas, e trouxemos a Bramil que é uma tecelagem de Capivari e deverá gerar perto de 60 empregos.
Há migração para Mombuca?
O corte da cana atrai de localidades distantes a mão de obra para o corte de cana. Aqui eles encontram condições melhores do que a de seus locais de origem, isso incentiva a permanência das mesmas em Mombuca.

Como é a assistência médica em Mombuca?Além da assistência médica local, contamos com 8 ambulâncias para atender as pessoas carentes e conduzi-las aos centros de especialidades em centros maiores. É um problema social muito grande. Muitas dessas pessoas moram em áreas rurais, não dispõem dos recursos necessários para transporte. Sem um atendimento especializado praticamente ficariam abandonadas a própria sorte. Graças a assistência fornecida ela prefeitura o paciente recebe os cuidados que precisa.
Ocorre um fenômeno curioso na cidade movimentando as pessoas conforme o grau de instrução?Pela sua própria infra estrutura a cidade acaba atraindo as pessoas necessitadas, enquanto o moradores da cidade que teve a oportunidade de estudar, de receber uma formação qualificada, essa pessoa sai da cidade em busca de condições de trabalho.
Esse problema ocorre em alguns países da Europa, e até mesmo no Canadá, que decidiram impor condições mínimas de formação técnica para a fixação do imigrante. No Brasil, em algumas localidades, são estimuladas as migrações em massa para aumentar a clientela eleitoral?
Isso pode ocorrer, depende muito de quem está administrando a cidade. Minimizar um problema existente é uma questão de equilíbrio para a comunidade. Inchar uma cidade com objetivos eleitoreiros é uma atitude temerária e inconseqüente.
Em Mombuca existiu uma senhora que era muito respeitada pelas suas ações de caridade e orientações espirituais, a senhora a conheceu?
Conheci era a Dona Emilia Benvenuto Ortolani. Era uma pessoa muito caridosa, muito religiosa, tinha uma capela dela, onde eram feitas orações.
 Qual é a sua religião?
Sou católica, faço parte da pastoral da criança.
A igreja tem uma grande força dentro da comunidade?

Acredito que sim.
Hoje já há uma diversidade de cultos evangélicos em Mombuca?
Há sim. É um fatia representativa.
É bom morar em Mombuca?
Mombuca é uma grande família, com seus problemas, mas não deixa de ser uma família. Em um casamento praticamente toda a cidade comparece, em um velório é grande a presença dos moradores da cidade prestando suas homenagens ao falecido e suas condolências a família.
Qual é a data máxima de Mombuca?
É dia 21 de março, que foi o dia da emancipação política da cidade. Meu sogro Eugênio de Oliveira, liderando uma comissão fez com que Mombuca tornasse município em 28 de fevereiro de 1964 e a instalação político-administrativa ocorreu em 21 de março de 1965. O primeiro prefeito de Mombuca foi Álvaro João Bianchin. O segundo prefeito foi meu sogro Eugênio de Oliveira.
A sua família naturalmente milita política, isso traz uma segurança no sentido de conhecer a complexa legislação pública?

É uma grande vantagem além de o meu marido ter exercido cargos como presidente da câmara, prefeito, na própria família temos como dialogar sobre as atitudes corretas para exercer cargos políticos dentro do que a legislação exige e atendendo as solicitações e necessidades dos munícipes.
A vantagem de todos se conhecerem no município torna o político mais exposto?

Há uma exposição total do político. São avaliadas as ações não apenas durante a campanha, mas a conduta como um todo, é uma avaliação muito criteriosa por parte do eleitor.
Qual é a origem da água utilizada para o abastecimento da cidade?

A água utilizada é captada através de oco artesiano. Após utilizada ela é tratada e descartada.
A única favela da cidade foi erradicada?

Recentemente através do CDHU foram construídas 58 casas para onde foram removidos os moradores residentes sem as mínimas condições de vida
Mombuca tem esgoto em sua totalidade?

É uma das poucas cidades do Brasil que tem esgoto em sua totalidade.
Como a vice-prefeita sente-se orgulhosa ao representar o município em reuniões políticas?

O fato de ser mulher, portanto minoria acaba despertando a curiosidade dos representantes de outras localidades. Confesso que me sinto orgulhosa.
Esses congressos são importantes, trazem resultados?

Trazem idéias novas, há troca de informações. São muito importantes.
Quanto tempo demorava o trem da Sorocabana de Mombuca á Piracicaba?

Quarenta minutos a uma hora. O ponto de partida do ônibus para Mombuca era na Praça José Bonifácio, em frente a pastelaria de um japonês, a sorveteria Paris.
Qual é hoje o maior problema de Mombuca?

É a falta de emprego. Falta uma escola técnica com especialização em determinados setores.
Qual é o santo padroeiro de Mombuca?

É São Pedro.

JOSÉ LUIZ RIBEIRO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 3 de abril de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO:                                 JOSÉ LUIZ RIBEIRO
Vereador mais votado das últimas eleições municipais, líder metalúrgico, José Luiz Ribeiro têm o que se denomina carisma. Com sua simplicidade conquista uma só pessoa ou uma platéia. Sua fala simples é compreensível ao homem do povo. Tem a sabedoria natural do caboclo, que teve a natureza como professora. Da roça veio para a cidade em busca de melhores condições. Encontrou amparo em movimentos religiosos, onde deu seus primeiros passos na liderança de grupos de jovens católicos. Revelou seus atributos de forma intuitiva e cresce a passos largos ocupando um espaço cada vez mais representativo. Nascido em 10 de novembro de 1960, na Fazenda Barreiro Rico, município de Anhembi, distante 70 quilômetros de Piracicaba. Filho de José Ribeiro e Maria de Lourdes Ribeiro, ambos falecidos. Somos seis irmãos. Meu pai trabalhou como cozinheiro na fazenda, em Piracicaba trabalhou como pedreiro e depois foi metalúrgico na empresa Fazanaro.

Seu pai era bom cozinheiro?

Fazia uma macarronada, um nhoque, era um bom cozinheiro sem nunca ter tido um curso a respeito.

Essa capacidade de bom cozinheiro é uma característica hereditária?

Em parte! Em casa quem cozinha é a minha esposa, Andressa Mascaro. Sou pai de quatro filhos, dois do primeiro casamento, a Amanda e o Caio, e duas filhas do segundo casamento, que estão com quarenta dias de vida hoje, a Maria Valentina e a Maria Catarina.

Na Fazenda Barreiro Rico, com quantos anos você passou a trabalhar?

No sítio com sete anos de idade já passa a ter as tarefas de cuidar de animais, plantar grama para fazer o pasto para os animais, trabalhar em pomar, em horta. Dos sete aos quatorze anos de idade trabalhei nessa área, agrícola e pecuária. Na época não havia plantada a cana de açúcar, hoje a fazenda está toda tomada pela cana, esse foi um dos motivos que provocou a vinda da nossa família á Piracicaba. Com seis irmãos, enquanto a fazenda permitia o plantio de arroz, feijão, milho, a criação de galinhas, porcos, possibilitava a nossa sobrevivência. Depois que acabou com os quintais dos trabalhadores da fazenda, não permitindo mais o plantio para consumo próprio a situação ficou difícil.

Quem são os proprietários da Fazenda Barreiro Rico?
É da família Magalhães, são proprietários de mais de 10.000 alqueires de terra, hoje divididas em cinco fazendas, eles possuem uma das maiores reservas ecológicas do Estado de São Paulo.

Qual escola você freqüentava na época da fazenda?

Era a Escola Mista da Fazenda Barreiro Rico. Dona Brasilina foi a minha primeira professora. Dona Maria Rita também nos deu aulas. O ginásio foi feito em Anhembi. Nós íamos até a escola na carroceria de um caminhão, por cerca de 20 e poucos quilômetros. Quando chovia era colocada uma lona, um toldo. O pior eram as noites de frio.

Hoje o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece normas que não existiam na época?

Nós defendemos o Estatuto da Criança e do Adolescente. Não é fácil uma criança trabalhar na roça sem nenhuma condição de segurança, vi colegas sofrerem acidentes, até morte de tétano aconteceu com criança na época. Acho que devemos defender um pouco mais a Lei do Aprendiz. O jovem sai com formação técnica do SENAI com 16 anos de idade e não pode trabalhar, isso é um absurdo! O trabalho não mata ninguém. Os critérios para o trabalho da criança têm que obedecer a seu devido momento. A Lei do Aprendiz eu defendo, pelo fato dela ser muito bem elaborada, estabelecendo os limites, normas e obrigações. Acredito que o trabalho além de favorecer o aprendizado enobrece a pessoa. O setor metal mecânico hoje é todo informatizado, o jovem de 16 anos é apto para trabalhar nessa área, ele está bem entrosado com a informática. Nós não iremos defender que um jovem vá trabalhar em um serviço insalubre, pesado. Quando ele termina um curso no SENAI ele está apto ao trabalho.

Com quantos você veio morar em Piracicaba?

Vim com 15 anos, ia completar logo 16 anos de idade. Fui o primeiro da família a vir, morava com uma tia, na Avenida 9 de Julho, no Bairro Jaraguá. Era a tia Noemi. Veio um outro irmão junto, passei a trabalhar em uma oficina mecânica, lavava peças, fiz o SENAI, aos 18 anos de idade passei a trabalhar na Dedini.em 11 de janeiro de 1980. Com o tempo meu pai veio também, conseguimos comprar um terreno no Jaraguá. Era uma casinha de madeira, com quatro cômodos onde moravam os seis irmãos, meu pai, minha mãe, uma irmã casada. Na época as ruas eram de terra. Morávamos na Rua Pedro Morato Kraembhul. Para ir a missa na Igreja São José ou trazia um segundo sapato ou um pano para limpar os pés de barro.

Qual sua primeira atividade na Dedini?

Comecei como ajudante de produção. A minha função era ajudante de caldeireiro.

Houve uma mudança radical entre o ambiente rural e o industrial?

A zona rural não oferecia uma série de benefícios, mas nos anos 80 ainda não tinha essa discussão muito forte que existe hoje dentro do ambiente industrial. Eu tinha uma participação na pastoral da juventude, na Paróquia São José, na Diocese, foi isso que me levou ao sindicato. Posso afirmar que na Dedini não havia ainda o restaurante, os convênios médicos, apesar de já oferecer diversas vantagens, não tinha essas condições que hoje são básicas. Como funcionário da Dedini eu já começava a reivindicar convenio médico, café da manhã, sapatão de segurança para trabalhar. Com isso em 1984 eu já era diretor do sindicato.

Passou algum dia pela sua cabeça seguir a carreira eclesiástica?

Passou! Fui convidado por duas vezes nas Missões de 1979, a seguir como seminarista. Tanto que tenho até hoje uma convivência muito grande com a comunidade.

Quase José Luiz Ribeiro foi padre?

Quase! Fui conhecer o seminário, fiz visitas.

Foi influencia do Monsenhor Luiz?

Foi sim, e dos Missionários Redentoristas. Ainda continuo trabalhando pela comunidade, tenho um carinho muito grande pelo jovem. A minha história, o meu início, é fruto de um trabalho realizado com a juventude. Se dermos oportunidades para a nossa juventude ela é fantástica, não tem discriminação, gosta e precisa trabalhar. Por isso defendo o primeiro emprego, tem muito jovem que se forma e não dão oportunidade para ele. Posso afirmar que toda a minha história começou com o trabalho que desenvolvi na Pastoral da Juventude.

Você participou dos tradicionais movimentos jovens da época?

Participei da Semana Jovem, SEJOPAC - Semana Jovem para Cristo, sempre participei. Ali me despontei como líder de grupo de jovens, depois da Pastoral da Juventude. Quando fui convidado para participar do sindicato a comunidade me apoiou. Eu fiquei sócio do sindicato em 1982, em 1984 teve uma eleição, fui convidado pelo Elirio Oriani conhecido como Meninão. Eu era o último suplente da diretoria. Na próxima eleição passei a ser Primeiro Secretário, depois fui Vice-Presidente e na eleição seguinte passei a ser Presidente. Foi um aprendizado, nunca tive pressa.
Quantos associados têm o sindicato hoje?

Houve um trabalho muito forte que foi realizado pelos dirigentes anteriores. A inserção na comunidade passou a ser mais evidente com uma estrutura fantástica, contando com 5 advogados, 30 dentistas, uma parceria com escolas técnicas como SENAC, SENAI, departamento de previdência, Associação dos Aposentados, um clube forte, hoje as inscrições ultrapassam 100 times de futebol. A inserção política do sindicato também foi fortalecida. Hoje contamos com mais de 12.000 associados, abrangendo Piracicaba, Rio das Pedras e Saltinho. Estamos estendendo a base para Charqueada e São Pedro, há uma previsão de crescimento da base industrial nessas localidades.

É bastante significativa a abrangência do sindicato.

É grande e vai aumentar. Com a chegada da Hyundai, seus fornecedores, outras empresas que devem vir á região. O setor metal mecânico em 2011 deve chegar em 30.000 metalúrgicos.

Sua eleição como Presidente do Sindicato pela primeira vez foi em que ano?
Foi em 1994, no dia 12 de janeiro. A cada 4 anos tem a reeleição.

Como vereador sua primeira eleição foi em que ano?

O primeiro mandato foi em 2004 com 7.907 votos. O segundo mandato foi com 9.018 votos. Foi um trabalho, com uma história. Hoje o sindicato é muito forte dentro das fábricas. Noventa por cento dos trabalhadores tem refeição, café da manhã, convenio médico, uniforme, vale compra, participação nos resultados das empresas, cursos de qualificação profissional. A própria ascensão do nosso clube foi muito significativa. Defender o trabalhador dentro da fábrica é uma questão, mas quando ele sai da fabrica ele é um cidadão. Fizemos um projeto para defender além do metalúrgico, defender o cidadão. No bairro dele precisava de creche, de escola, de asfalto, de área de lazer. Quando ele perde o emprego ele também perde os benefícios que ele tem. O sindicato passou a visualizar essa cidadania. Entendemos que temos que defender o trabalhador dentro da fábrica e o cidadão fora da fábrica. Esse é o motivo para a candidatura para vereador.

O trabalho como vereador é complexo em decorrência da burocracia?

É muito complexo! Acostumados como lideres sindicais, afeitos a realizações, sentimos a diferença, o vereador não faz, ele fiscaliza, faz indicações. Pode fazer um projeto. A burocracia do serviço público trava. Nós temos conseguido realizar um mandato diferenciado. Quero agradecer ao Prefeito Barjas Negri que teve essa sensibilidade também. Tomei posse em primeiro de janeiro de 2005, no dia 4, o primeiro projeto de minha autoria, foi desenvolver as escolas técnicas. Fui visitar a Escola Industrial, do Centro Paula Souza, hoje Escola Febeliano da Costa. A partir dali senti a necessidade de desenvolver esse setor, Piracicaba poderia ter um crescimento, por causa do setor sucroalcooleiro. Achamos que tínhamos que preparar essa mão de obra. Começamos em 1994, como sindicato. Como vereador foi feito um trabalho mais aperfeiçoado. O Centro Paula Souza que tinha 400 alunos tem mais de 1.400 alunos. A escola foi totalmente reformada. O prefeito nos ajudou muito. O jovem, o trabalhador tem que estar constantemente qualificado. Todas as conquistas de escolas técnicas criadas em Piracicaba, foi fruto de um trabalho que participamos efetivamente. O empresário quando procura uma cidade busca estrutura já existente.

Há alguma aspiração maior por parte de José Luiz Ribeiro?

Acho que o trabalho que tenho desenvolvido deu essas credenciais. Sou Diretor da Federação Parlamentar dos Metalúrgicos, Membro da Força Sindical, da Confederação Nacional dos Metalúrgicos. Todo homem público que tem como projeto o bem comum, a qualidade de vida, ele tem que usar a política como esse instrumento. Não com o objetivo de benefício próprio, mas da coletividade. Quem saiu do Barreiro Rico e teve contato com pessoas de expressão nacional como Covas, Geraldo Alckmin, Serra, Lula deve seguir em frente.

Como é o Lula?

É tranqüilo. Nas duas vezes em que esteve em Piracicaba, nos encontros que tive com ele em Brasília, sempre ele foi muito espontâneo.

Como ele o chama?

Zé! Na última vez em que estive com ele, logo ele foi dizendo: “- Nossa! Como você engordou!”.

Visitando empresas de outros países foi possível perceber uma crescente maturidade na relação entre empregador e empregados?

Estive duas vezes na Suécia, na Holanda, na França, México, Coréia, três vezes nos Estados Unidos, China, tudo isso me credencia a procurar a ajudar no melhor entendimento entre empresas e empregados. O sindicalismo brasileiro é completamente diferente dos sindicatos de cada país, ou como no caso dos Estados Unidos, há uma variação em cada estado americano. Hoje muitos sindicatos já estão trabalhando dentro de empresas, procurando opinar na melhor produtividade de cada empresa.

No Brasil, em particular, o sindicato é visto como adversário da empresa?

Ainda tem essa cultura, hoje ainda temos algumas alas do movimento sindical que atuam de forma radicalista, uma atitude que não traz resultados positivos para ninguém. Sempre fui a favor do sindicato de resultado, de negociação. Tem que existir a empresa, para existir o trabalhador e existir o sindicato. Defendo um sindicalismo reivindicatório, que exija condição de trabalho, qualidade de vida, mas com negociação. Acho que esse foi o grande salto do Sindicato dos Metalúrgicos de Piracicaba. Uma empresa para dar lucro ela tem que ter qualidade, produtividade, ela tem que ser competitiva.

Há uma carga tributária muito pesada sobre as empresas e trabalhadores?

Ás vezes um trabalhador custa o dobro para a empresa. Além da carga tributária que é altíssima, muitas empresas tem que assumir encargos como transportes de trabalhadores. Na Europa o salário do trabalhador é altíssimo, e você não vê uma empresa oferecendo ônibus, plano de saúde, seguro. O governo é obrigado a dar. Precisamos fazer com urgência fazer uma reforma tributária em nosso país. Isso deve envolver congresso, empresário e trabalhadores. Se todo imposto que é pago revertesse ao trabalhador com certeza o salário do trabalhador dobraria.






domingo, março 28, 2010

MARIA APARECIDA PEDREIRA JOLY

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 27 de março de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: MARIA APARECIDA PEDREIRA JOLY




Um poeta no auge de sua inspiração, tomado de amor pela beleza da majestosa queda de águas do Rio Piracicaba poderia até dizer que há mulheres em Piracicaba, donas de idades já expressas em três dígitos, que mantêm uma disposição física e intelectual das mais lúcidas e dispostas. Seria um milagre das águas do Piracicaba? Exemplos não faltam. Bela Joly é mais uma dessas mulheres incríveis, espírita, encontrou muitos desafios em sua convicção religiosa. Ainda bem moça conheceu um dos grandes nomes da doutrina espírita, o piracicabano Pedro Camargo. Nascido no dia 7 de maio de 1878, na cidade de Piracicaba, faleceu no dia 11 de outubro de 1966, na cidade de São Paulo. Não se pode fazer o esboço histórico do Espiritismo no Estado de S. Paulo, sem mencionar Pedro de Camargo, mais conhecido pelo pseudônimo de Vinícius. Durante muitos anos, Pedro de Camargo presidiu a Sociedade de Cultura Artística, de Piracicaba, tendo a oportunidade de trazer para cá famosos artistas. Chegou a assumir uma cadeira de Vereador, na Câmara Municipal de Piracicaba, eleito por indicação do Partido Republicano. No ano de 1904, foi fundada em Piracicaba a primeira instituição espírita da cidade, com o nome de Igreja Espírita Fora da Caridade não há Salvação. Dentre os seus fundadores salientava- se a figura de João Leão Pitta. O funcionamento dessa tradicional instituição trouxe a esse pioneiro uma série de perseguições movidas por inspiração de outras entidades religiosas, chegando ao ponto de não conseguir nem mesmo um emprego, necessário para o amparo de sua família, a qual ficou mais de um ano na eminência de completo desamparo. Pedro de Camargo tomando conhecimento do que sucedia com Leão Pitta, prontamente o empregou em sua loja de ferragens e, como segundo passo, desfez a secção de armas de fogo que representava apreciável fonte de renda em seu estabelecimento comercial. Durante cerca de trinta anos, Pedro de Camargo desenvolveu, em sua cidade natal, profícuo e intenso trabalho de divulgação da Doutrina Espírita. No ano de 1938, transferiu seu domicílio para a cidade de S. Paulo. Ali substituiu Moreira Machado na presidência da União Federativa Espírita Paulista

Como surgiu o cognome de Bela?

Foi o apelido que papai me deu. Joly é o sobrenome do meu marido. Sou piracicabana, nasci na esquina da Praça com a Rua São José, era onde ficava o Hotel Lago, propriedade do meu pai, José Vicente Pedreira. Minha mãe é Etelvina Silveira Pedreira. Papai é piracicabano e mamãe nasceu em São Pedro. Tiveram sete filhos, eu sou a penúltima.

Seu pai sempre teve hotel?

Não. Ele trabalhava no comércio. Ele passou a ter o hotel depois que se casou. Quando se casaram mamãe tinha quinze anos de idade e ele uns dezoito anos de idade.

Onde ficava o Hotel do Lago?

Como disse-lhe, ficava na esquina da Rua São José com a Praça, tinha uma porção de quartos, na outra esquina havia o Hotel Central, que era um hotel mais fino. O nosso era o segundo melhor hotel da cidade, só que o que chamava a atenção do nosso era a qualidade da comida, quem fazia era a minha mãe! O Hotel do Lago era um prédio bonito, não era sobrado, foi derrubado e no local foi construído o Clube Paulistano, mais tarde denominado Clube Coronel Barbosa.
 
Um hospede (adulto em pé), José Vicente Pedreira (proprietario e pai de Bela Joly) e o garoto também um provável hospede.

Quantos quartos tinham no Hotel do Lago?

Eram uns quinze quartos. Era muito procurado por viajantes.

Que tipo de comida gostosa havia no hotel?

Mamãe fazia de tudo, ela era ótima cozinheira. O arroz dela era uma delicia. A canja era uma delícia. Nós não tínhamos contato com o hotel, tínhamos uma casa ao lado, na Rua São José, havia um portão muito bonito, com duas grades muito bonitas. Tanto papai como mamãe não permitiam que nós tivéssemos contato com os hospedes do hotel.

O banheiro para os hospedes como era?

Havia um banheiro e dois chuveiros. Eram chuveiros frios. Naquele tempo não tinha essas coisas de chuveiro quente.

Quantas pessoas dormiam nos quartos para hospedes?

Dormia uma única pessoa, eram quartos pequenos. Havia uma família que morava no hotel e tinha três ou quatro crianças. Na época eu tinha sete ou oito anos de idade.

Em que dia a senhora nasceu?

Nasci no dia 30 de outubro de 1908. Graças a Deus fui uma boa professora, sem falsa modéstia. Sou estimada pelos meus alunos, quando se encontram comigo na rua me carregam! Como professora eu era exigente, muito exigente, fazia questão que eles soubessem a matéria e não colassem. Eu não admitia cola.

Onde a senhora estudou?

Estudei onde atualmente é o Sud Mennucci, depois estudei em uma escola prática de odontologia que mudou para São Paulo. Eu parei os estudos nessa área.

Iria seguir a profissão de dentista?

Não! Eu gostava de estudar. Até hoje eu gosto de estudar.

Com a formação de professora onde a senhora foi lecionar?

Inicialmente fui dar aulas em Ipauçu, em uma escola rural, morava na casa dos proprietários da fazenda onde ficava a escola. Eu era estimadíssima lá. Para chegar até Ipauçu ia de trem, de lá seguia até o local onde era a escola em um dos dois automóveis que existiam na localidade naquela época. Permaneci um ano lecionando lá, em seguida prestei um concurso e fui removida para uma pequena escola no município de Piracicaba. Um fato marcante aconteceu na época. Meu irmão Luiz salvou a filha de Sud Mennucci de ser atropelada por um automóvel. Ele a agarrou retirou-a do iminente atropelamento e ambos foram ao solo, sem que acontecesse a tragédia com a criança. O Sud Mennucci foi sempre grato por esse ato que salvou a sua filha Astarté. Graças a ele eu vim á Piracicaba. Depois entrei em concurso e adquiri o direito de lecionar no Grupo Escolar Moraes Barros, em Piracicaba. Uma moça que tinha entrado no Moraes Barros foi para Charqueada onde eu estava e eu vim ara cá no lugar dela.

Conheceu Thales Castanho de Andrade?

Ele foi meu professor de história.

Teve aulas de música?

Tive com Benedito Dutra e Seu Lozano. Eram dois ótimos professores. O Seu Lozano era muito exigente.

Teve aulas de trabalhos domésticos?

Aprendi uma porção de pontos, crochê, tricô, a professora era a Dona Zinha.

A senhora teve aulas de português com quem?

Tivemos aulas com o Dr. Toninho Pinto, ele tinha muito conhecimento da matéria, muito acima da média, isso distanciava um pouco os alunos do mestre. Tivemos aulas com Benedito Dutra.

A senhora lembra-se do Teatro Santo Estevão?

Era uma belezinha de teatro. Atrás do teatro ficavam os carros de praça.

Como foi a movimentação da Revolução Constitucionalista de 1932?

Éramos entusiastas do movimento realizado por São Paulo. Fazíamos roupas, costurávamos, embaixo era o teatro, em cima era um salão de costuras, éramos em mais de vinte pessoas costurando, Dona Eugenia da Silva era a chefe, sempre foi uma pessoa de princípios filantrópicos, hoje a Rua Dona Eugenia é em sua homenagem. O folclorista João Chiarini a chamava de Santa Eugenia. Fomos muito amigas, a nossa diferença de idade era grande, mas os nossos pensamentos eram semelhantes.

Conheceu o Professor Walter Accorsi?

A Judith, sua esposa, foi minha colega!

Meu irmão Luiz Silveira Pedreira foi professor catedrático de química na ESALQ. Meu irmão Antonio formou-se na ESALQ. Meu irmão Milton embora dentista nunca exercesse a atividade.

O habito da leitura é cultivado pela senhora?

Adoro ler! Gosto de tudo, inclusive romances policiais de suspense.

Existe algum livro escrito pela senhora?

Ah não! Deveria talvez escrever a minha vida. Vou pensar nisso.

Como surgiu a Sorveteria Paris?

O avô do meu marido era francês, meu marido chamava-se Mario Joly, e ele colocou o nome de Sorveteria Paris em homenagem ao seu avô.

Como surgiu a idéia de colocar uma sorveteria em Piracicaba?

Meu marido não gostava de lecionar, para ampliar a renda familiar ele colocou a sorveteria. A sorveteria tinha um movimento! Faziam fila para tomar sorvete! Ficava na Rua Prudente de Moraes esquina com a Praça José Bonifácio.

Quem fazia a massa do sorvete?

Inicialmente era o Pink, um sorveteiro quem fazia a massa do sorvete. Ele resolveu sair e montar a sua própria sorveteria, que infelizmente não deu certo. Passei a fazer os sorvetes, usando sempre frutas, nada de pó artificial.

Aonde eram encontradas as frutas?

No mercado! Piracicaba é uma cidade que produz muitas frutas.

Qual era o sorvete mais vendido?

O segredo do sorvete está no açúcar utilizado. Todos eram feitos com frutas naturais.

Poucas pessoas sabem mais a sorveteria proporcionou uma agradável viagem?

Graças a sorveteria fomos passear na Europa! Vendíamos muitos sorvetes.

As famílias iam até lá para tomarem sorvete?

Havia um salão com mesinhas que ficava cheio de pessoas. Dr. Lula ia tomar sorvete. A família do Dr. Samuel de Castro Neves mandava buscar sorvetes com um canecão. O Arnaldo Ricciardi ia sempre conversar com meu marido.

Uma pergunta indiscreta, alguém ficou devendo sorvete para a senhora?

Muita gente! Muita gente não pagou!

O que a senhora falava?

Ia falar o que? Brigar com eles?

Por quanto tempo a senhora foi proprietária da Sorveteria Paris?

Ficamos com a sorveteria por uns quatro anos, depois meu marido resolveu vender, quem comprou foi um japonês, inclusive comprou as fórmulas dos sorvetes.

Os famosos comícios que eram feitos na praça a senhora assistia?

Veio muita gente fazer comício em Piracicaba.

O que a senhora mais gosta de Piracicaba?

Gosto de tudo!

Como é ter 101 anos de idade?

É a mesma coisa! Não há diferença nenhuma!

O que a senhora imagina que seja a morte?

Ainda hoje eu estava dizendo sobre isso, não existe morte, o corpo desaparece mas o espírito permanece. É o espírito que domina que manda no corpo. Portanto a morte não existe. A morte não é nada, Deus nos pôs aqui e nos deu a oportunidade de nós nos desenvolvermos e voltarmos no ambiente Dele, não no nosso ambiente que é bem abaixo do ambiente de Deus. Naturalmente que não iremos ficar em um ambiente com Deus, mas sim que iremos á um ambiente melhor.

Gosta de assistir televisão?

Assisto ao programa do Silvio Santos, sinceramente eu não gostava dele, o achava muito convencido, mas agora ele quase não aparece.

Aos fins de semana como são seus passeios?

Passeio pela praça, nas imediações da minha casa, periodicamente reúno meus sobrinhos em um almoço que realizo em minha casa.

Por determinado período de tempo sua residência foi em Santos?

Morei em Santos e em São Vicente. Em ambas as localizações eu tinha vista para o mar. Na época mergulhava nas águas do mar.

Em São Paulo a senhora morava em que local?

Morava na Avenida São João, que na época era um local muito bem conceituado.

Qual seu tipo de musica predileto?

Gosto de música clássica.

A senhora pertence a alguma associação beneficente de Piracicaba?

Eu e a família Salatti que fundamos o Centro Espírita. O Senhor Pedro de Camargo com pseudônimo de Vinicius era um pregador maravilhoso, gostava muito do evangelho. A União Espírita fomos nós que fundamos. Eu era muito amiga de Adélia Salatti, em frente á casa dela havia o Centro Acadêmico Luiz de Queiroz.

A senhora viajou pelo exterior?

Na Europa conheço 16 países, conheço todos os países da América. O Brasil é melhor por causa do seu povo.

Gosta de pintar?

Tenho facilidade para desenhar. Embora não toque gosto muito de violino.

Em que igreja a senhora casou-se?

Casei-me apenas no civil por professar o espiritismo.







sábado, março 20, 2010

MARIA CONÇEIÇÃO FIGUEIREDO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 20 de março de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/




ENTREVISTADA: MARIA CONÇEIÇÃO FIGUEIREDO

Com seus 101 anos de idade, sorridente e elegante, Maria Conceição Figueiredo é uma das fundadoras do Clube da Lady, entidade assistencial composta por senhoras com elevado espírito de fraternidade. Sua idade cronológica destoa completamente da sua aparência, disposição e saúde. Mantém com naturalidade a posição importante que sempre ocupou, tratando a todos com a simplicidade dos bens nascidos, sem deslumbramentos ou devaneios. Por muitos anos a rádio de sua propriedade foi a única voz da cidade, até surgirem outras rádios que se integraram á comunidade. Fundada em 12 de outubro de 1933 por João Sampaio Góes a Rádio Clube que em 1944 passou a chamar-se Rádio Difusora, foi adquirida em 1950 pelo casal Aristides e Maria Conceição Figueiredo.

Onde a senhora nasceu?

Nasci em Batatais em 8 de dezembro de 1908, sou filha de Paschoal Pipa e Michelina Ricci Pipa. Papai nasceu em Nápoles, Itália, aos 18 anos de idade veio para o Brasil onde montou uma fábrica de móveis. Isso foi na cidade de Batatais, onde ele conheceu minha mãe. Meus pais tiveram quatro filhos. Três mulheres e um homem, eu sou a caçula das mulheres. Todos já faleceram! Só eu estou viva! E graças a Deus com a cabeça muito boa! Deus sempre foi muito bom para mim, me deu sempre saúde e cabeça muito boa.

Seus estudos foram feitos em Batatais?

Estudei em Batatais, onde conheci o meu marido e casei-me com Aristides Figueiredo Quando nos casamos ele trabalhava em um banco, depois passou a ter seu próprio negócio, isso já na cidade de São Paulo. Permanecemos morando em São Paulo por vários anos, no Jardim Europa. Um nosso representante o Seu Macedo, disse ao meu marido: “- Figueiredo tem uma rádio em Piracicaba, você não quer comprá-la?” Nós já tínhamos tido uma rádio em Uberlândia e a tínhamos vendido. Meu marido veio á Piracicaba, gostou, em cinco minutos fechou o negócio. Ele adquiriu de João Sampaio Góes.
O que levou João Sampaio Góes a vender a rádio?

Ele queria morar em São Paulo, junto aos filhos, um era médico, outro advogado.

A rádio situava-se no mesmo local que é hoje?
No mesmo local. Era Rádio PRD-6. Mudamos para Piracicaba, Figueiredo gostou daqui, achou a cidade muito boa. No primeiro mês Figueiredo já multiplicou o faturamento da rádio por seis vezes. Ele pessoalmente saia na praça para vender os anúncios.

Como foi o contrato com o João Belinaso Neto o famoso Léo Batista?

Figueiredo o trouxe! (Depoimento de Leo Batista para Observatório da Imprensa em 11 de julho de 2007: “Andei por mil lugares, até que um tio me mandou procurar um amigo dele, Aristides Figueiredo, que tinha acabado de comprar a Rádio Difusora de Piracicaba. Na época, o XV de Novembro, time local, tinha subido para a primeira divisão do Paulistão e ele buscava um locutor esportivo. Passei a acompanhar e narrar os jogos do antigo campo da Rua Regente (ainda não existia o estádio Barão da Serra Negra). Depois, comecei a ir para o Pacaembu, a Vila Belmiro... Eu era atrevido. Vim até para o Rio transmitir a Copa de 50”.)

Qual era a sua atuação na rádio?

Eu gostava da parte financeira! Trabalhei por cinquenta anos na rádio.

É difícil trabalhar com artistas?

É! Mas é também um ambiente gostoso, alegre. Vinham muitos artistas de fora, conversávamos. Trazíamos muitos shows da Rádio Nacional, fazíamos shows no Teatro Santo Estevão, a rádio transmitia de lá. Luiz Gonzaga fez um grande sucesso em Piracicaba. Ângela Maria, Celso Guimarães. Eram artistas da Rádio Nacional que faziam muito sucesso e Figueiredo os trazia á Piracicaba. Emilinha Borba cobrou um valor caríssimo para vir á Piracicaba, e mesmo assim deu lucro! Foi um alvoroço tão grande, que foi necessário proibir a entrada de todos que queriam vê-la.

Os políticos freqüentavam a rádio?

Uma coisa que meu marido não gostava era de político. Mesmo assim eles freqüentavam a rádio, era um movimento muito grande de políticos. Faziam propagandas, pagavam por essas propagandas. Faziam um palanque na Praça José Bonifacio, de onde os seus comícios eram transmitidos pela rádio. A sala de visita da cidade era a Rádio Difusora, lembro-me do Juscelino Kubitschek, muito simpático.

Qual é a sua religião?

Sou Católica Apostólica Romana. Sempre tivemos uma relação muito boa com a Igreja Católica, até hoje. Sempre tivemos muita união com os párocos, bispos. Monsenhor Rosa era muito querido. Monsenhor Jorge até hoje vai á rádio.

Como era a relação da Radio Difusora com as demais rádios da cidade?

No principio não havia outra rádio. Depois é que veio a Rádio A Voz Agrícola. Nossa relação sempre foi muito boa, e continua sendo, tanto com a Professora Ana Maria Meirelles de Mattos, como com o Dr. Jairo Ribeiro de Mattos. Sempre tivemos muita amizade.

A Rádio Difusora transmitia desfiles de carnaval?

Havia corso na praça, transmitíamos de cima de um palanque.

O ponto alto da Rádio Difusora era o auditório com transmissões ao vivo?

Havia muita alegria. O infantil era domingo ás 10 horas da manhã, enchia de crianças. E havia o auditório normal que era a noite. Havia também o cururu, o Nhô Serra era uma pessoa importante para as apresentações do cururu. Muitos valores musicais foram criados pela Rádio Difusora. Tenho saudades daqueles tempos.

Ari Pedroso foi um dos grandes nomes da Rádio Difusora.

Muito querido, ele fazia um programa que todo mundo gostava. Era muito amigo nosso.

E as famosas gincanas da Rádio Difusora?

Eu participava, era aquele movimento na rádio! O José Roberto Soave, casado com a minha sobrinha Conceição Soave, gostava de fazer essas gincanas.

Da sua parte havia algum programa preferido dentro da rádio?

A Rádio Difusora é como se fosse uma pessoa amiga. Até hoje eu quero muito bem a Rádio. Sempre que há algum evento importante eu vou até a rádio. Não costumo ir todos os dias por causa das escadas que tenho que subir no prédio.

Celso Ribeiro, um dos mais experientes profissionais em sonoplastia do rádio piracicabano é muito estimado pela senhora?

Ele é antigo na rádio! São quarenta e dois anos que ele trabalha lá. Permaneci cinqüenta anos trabalhando na Difusora, eu morava na Rua Alferes José Caetano, onde hoje é a Agencia de Turismo Monte Alegre. Ás 8 horas da manhã eu já estava na rádio, ia almoçar em casa e voltava permanecendo até as 6 horas da tarde. Fazia esse caminho a pé.

Quem fazia a programação artística da rádio?

Havia um profissional responsável pela programação, quando eu queria alguma coisa especial eu então falava com essa pessoa.

A Rádio Difusora é uma força muito grande?

Ela tem expressão na historia do rádio nacional, pelo fato de ser uma das mais antigas do nosso país. São 76 anos de existência, é uma tradição da cidade.

Quando surgiu a televisão, qual foi á reação das rádios?

Não sofremos tanta repercussão, talvez pelo fato da rádio possuir seu público determinado, o povo até hoje gosta do rádio.

Qual é a sua opinião sobre a internet, a televisão?

Televisão eu gosto, assisto algumas novelas da TV Globo. É uma distração, gosto de ver o drama. A internet não me atrai.

Como é a relação da Rádio Difusora com o XV de Piracicaba?

Sempre foi muito boa. Meu marido gostava do XV de Novembro. Demos sempre muito apoio ao time. Todas as entidades de Piracicaba receberam sempre muito apoio da Rádio Difusora. A Rádio Difusora é uma entidade de portas abertas, ela sempre ajudou, sempre colaborou.

As transmissões de futebol eram verdadeiras aventuras?

Eram sim! Era uma loucura! Mas sempre transmitimos futebol, basquete.

Em que ano faleceu Aristides Figueiredo, seu marido?

Foi em 30 de maio de 1962.

Uma das maiores tragédias já ocorridas em Piracicaba foi a queda do Edifício Luiz de Queiroz (COMURBA), que ruiu praticamente na porta da Rádio Difusora?

Eu já estava viúva. Para ir até a Rádio Difusora precisava dar uma volta, não era possível passar pela praça. Demos todo apoio possível. O Caldeira era o gerente da rádio, foi quem assumiu o comando das ações desenvolvidas pela Rádio Difusora em um momento muito difícil para todos.

A prestação de serviços de uma rádio pode ás vezes se tornar quase um serviço social?

Sempre colaboramos com as instituições de caridade. Procurávamos encaminhar as pessoas para os órgãos de assistência social em casos especiais.

Até algumas décadas levavam-se horas para completar uma ligação telefônica, muitas vezes de péssima qualidade. O rádio foi muito importante nessa época?

Existia um programa chamado “Programa Ás Suas Ordens”, que consistia basicamente em mandar mensagens, recados de toda natureza, principalmente entre a cidade e a zona rural, ou entre localidades vizinhas. Mandavam-se lembranças para fulano. Avisava que beltrano estava doente. Cicrano foi operado. Eu devo dar Graças a Deus que a Rádio Difusora é uma emissora que mantém até hoje um nome bom, funcionários antigos, outros aposentados, as minhas sobrinhas gostam da rádio e tomam conta dela.

Qual sua visão do futuro do rádio como veículo de comunicação?

Acho que o progresso deve existir em todos os setores, para o rádio também. Ele não esmoreceu com o aparecimento da televisão. Ele manteve-se em seu patamar. Basta ver que a rádio funciona até hoje, com funcionários, propaganda.

Qual é o alcance da Rádio Difusora?

Ela está com uma potencia boa de 5.000 Watts. Isso significa que pode atingir até o Paraná. Tudo pertence á própria rádio, não há equipamentos alugados. O prédio onde se situa a rádio, a chácara onde fica localizado o transmissor, são aquisições que fiz após o falecimento do meu marido. Tive que ter muita determinação para poder realizar tudo isso.

A sua paixão por rádio é semelhante a que o seu marido tinha?

Ele gostava muito, era apaixonado pela rádio.

O fato de ser proprietária de uma rádio sempre implicou em receber um tratamento diferenciado?

Acho que sempre tive muito respeito. Meu nome é muito bom. A Rádio Difusora é uma emissora que tem um nome respeitado.

Já tentaram comprar a rádio da senhora?

Muitas vezes! Só que eu não vendo!

É comum uma pessoa aproximar-se de uma rádio com objetivo político?

O político quer a rádio. Nós sempre colaboramos, nunca tivemos preferência por um ou por outro. Trabalhamos com todos, mantivemos o padrão de justiça.
O radio é como uma cachaça?

Eu acho que é! É uma cachaça!

A senhora gosta de falar ao microfone?
Nunca falei! Nem eu nem meu marido!

A seleção de programas sempre foi rigorosa?

Sempre tivemos muito cuidado com as pessoas que iam apresentar um programa. Não pode ser qualquer pessoa, tem que ter muito critério.

O que a senhora acha do programa Hora do Brasil?

Acho que somos patriotas, temos que aceitar. É o Brasil!

Existe o Poder Legislativo, o Poder Executivo, o Poder Judiciário. A imprensa, e no caso em especial o rádio, é um quarto poder?

O rádio tem muito poder, muita força e se for criteriosa é melhor ainda. Não se pode fazer qualquer coisa, desmoralizar alguma pessoa, alguma entidade. É um instrumento muito perigoso.

No período de 1945 era proibida a posse de receptores de rádio aos estrangeiros, especialmente aos alemães, italianos e japoneses?

Lembro-me disso.

Como proprietária de rádio era difícil assistir a uma situação dessas?

Acho que é necessário ter muito critério. Critério é tudo para a sobrevivência de uma rádio.

A busca pela audiência pode comprometer o compromisso educativo do rádio?

Tem que se ter muito cuidado com pessoas explosivas, que empregam expedientes apelativos. O rádio tem o papel educativo. Sem prejudicar os ouvintes. Se pudermos fazer o bem, não devemos fazer o mal. Temos que ter um critério na emissora, para que ela não perca a sua utilidade.

A senhora acredita em horóscopo?

Como cristã não acredito!







Postagem em destaque

História do Brasil: Juscelino Kubitschek