sexta-feira, abril 03, 2015

JURANDYR (JUCA) CHAVES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de fevereiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: JURANDYR (JUCA) CHAVES

O Teatro Juca Chaves fica no bairro Itaim Bibi em São Paulo dentro do enorme prédio onde anteriormente funcionou o Mappin Itaim e hoje funciona nos moldes de um shopping, sendo a rede Extra a loja ancora. Após alguns acertos de agenda o Menestrel Juca Chaves assentiu em conceder uma entrevista. O artista que nos palcos sempre teve um brilho intenso, com seu humor refinado, entra caminhando de forma simples, quase despercebida, cumprimenta de forma afável, pede licença por uns minutos e vai tomar algumas providências muito rapidamente. Sua história e trajetória são vibrantes. Conheceu todos os políticos de alto escalão. Inserido no meio artístico sempre foi uma das grandes estrelas de uma imensa constelação de artistas. O que impressiona positivamente são a simplicidade e humildade de Juca Chaves. Extremamente preocupado com seus compromissos, obedece rigidamente sua agenda, respeitando com rigor o horário pré-determinado. Uma qualidade rara entre o meio artístico. Uma conversa com Juca Chaves pode levar horas de momentos agradáveis. Além da grande experiência de vida, ele nunca perde a oportunidade de inserir em seus comentários uma frase sutil, de extrema inteligência, que às vezes requer do interlocutor um raciocínio rápido para acompanhá-lo. Teve sólida formação musical. Estudou com Guerra-Peixe (harmonia, contraponto e fuga), Oswaldo Lacerda (teoria musical e solfejo), Lurdinha Amaral (violão e canto), Scupinari (violão clássico), Bernardo Federowsky (regência), Fausto Antão Fernandes (canto orfeônico), Nair Medeiros (piano) e Maynard Araújo (curso de folclore). Fundou o movimento Juventude Musical Brasileira, com o Maestro Eleazar de Carvalho, de quem foi também aluno. Dos 16 aos 19 anos de idade, teve intensa produção poética. Nessa época, sua composição "Nas águas de Saquarema" chegou a ser interpretada por Leny Eversong na Rádio Nacional. Foi um dos organizadores, em 1955, da revista "Rua Augusta Chic", onde publicava suas poesias e crônicas
Juca Chaves em tom de humor diz lembrar-se do dia em que nasceu: “-Lembro-me de 1938, no dia 22 de outubro, às cinco horas da manhã, quando eu nasci, no Rio de Janeiro”. Minha mãe deu-me o nome de Jurandyr porque ela estava lendo o livro Iracema de José de Alencar, e na quinta página, se não me engano está escrito: “-E ai surgiu na floresta o índio Jurandyr, o que veio trazido pela luz do sol, alto, moreno, forte, bonito.” Este cara sou eu! Minha mãe surtou! Ela não tem culpa! E ai nasceu o Jurandir!.

Qual é o seu nome completo?
É Jurandyr Czaczkes Chaves, como o nome Czaczkes é austríaco, quando meu pai naturalizou-se brasileiro, estava fugindo da guerra, ele não queria saber de nada da Europa, do Leste Europeu. Naquele tempo era obrigado ao naturalizado ter um nome simples, eles escolheram o sobrenome Chaves. Czaczkes é o nome do Premio Nobel da Literatura em 1966, Shmuel Yosef Halevi Czaczkes. O nome do meu pai é Josef Czaczkes, aqui  no Brasil passou a ser José C. Chaves. Ele montou a primeira fábrica de plasticos do Brasil a Industria de Baquelite Artepast, no Brás, ele foi um precursor desse produto no Brasil. Fechou em 1945, após a guerra. Tinha 400 operários. Situava-se na Rua Maria Marcolina, outro dia passei por lá, já mudou todo o Brás. Para ir até a fábrica eu passava por duas porteiras de trem, indo daqui do Jardim Europa. Meu pai, como todo europeu, morava no Jardim Europa, na Rua França, ele queria morar na Rua Austria mas já estava toda ocupada. Eu era menino, vi asfaltar oJardim Europa. Sentava no portão de casa e ficava olhando aquelas máquinas trabalhando. Vi nascer o Jardim Europa.

Qual é o nome da sua mãe?
Clarita Wainstein. Sou descendente judaico. Minha esposa Yara diz que sou judeu do Paraguai. Só fui à sinagoga para ver casamento dos outros. Eu casei sem sigagoga sem nada, casei-me em casa, só com registro, completamos agora 40 anos, casamos-nos no dia 2 de fevereiro de 1975, dia de Iemanjá na Bahia. Casei-me no Rio de Janeiro, mas no dia2 de fevereiro em homenagem a Bahia. Conheci Yara em 1974, no dia 15 de julho. Eu sou um heroi e ela também é uma heroina.

Juca você estudou em qual escola?
O primeiro ano foi na Escola Britânica de São Paulo (British School), situada no Jardim Paulistano. Sai por causa do horário que não se ajustava com o da minha irmã , Dra. Marly Chaves.
Você lembra-se do nome da sua primeira professora?
Claro! Dona Nicota! O jardim de infância estudei no Jardim Escola São Paulo, era um jardim de infância pequeno que havia no Jardim Europa. Ai fui estudar no Mackenzie, fiz a Escola Americana no Mackenzie, fiz o ginásio, e um ano e meio de científico, no meio decidi que como não iria ser engenheiro deveria estudar o clássico. Consegui recuperar um ano e meio e formei-me no clássico. Fui fazer faculdade de direito. Fiz o curso do Castelões, aprendi português com ele. Ai estorou a minha carreira. O meu disco começou a ser tocado no Brasil todo.

Quando você descobriu sua veia artística?
Desde garoto! Fazia pidas, cantava modinha no Clube Pinheiros, fazia judo, natação, futebol.
Pessoas do seu circulo mais próximo de amizades conhecem uma história onde você se defendeu de um assalto.
Isso foi ha dois anos, foi no Itaim Bibi, naquele tempo o bandido não matava. Quando vi que o assaltante pegou no meu relógio, como eu faço aikido também, foi fácil eu sair.
Você pratica esportes ainda?
As vezes. Quero voltar a treinar judo. Sou mais judoca.
Sua esposa Yara pratica alguma arte marcial?
Fazia Jiu-Jitsu comigo! Mais ai eu teuma aula a mais do que ela sempre! Escondido! Estou inteligente ou não? Se voce deixar a mulher chegar primeiro meu filho....
Como  é a sua relação com a colonia judaica no Brasil?
Eu adoro a colonia! Gosto de Israel, sou um fã de Israel. Mas não sou fã das religiões, nenhuma,  eu acho que religião é bom para segurar uma parte de uma população que precisa. Sou um livre pensador, não diria nem agnóstico. Um ateu ecumenico. Minha esposa é “criston”. Conheço todas aigrejas de todo lugar do mundo por causa dela. Conheço mais igrejas do que sinagoga. Sinagogas frequento em função dos amigos. Tenho uma mágoa com a colônia, tenho 60 anos de carreira e nunca tive um patrocinador judeu! Sou o único artista brasileiro que fala que é judeu! O Silvio Santos fala hoje. Mas nunca falava antes. A colonia cobra. Eu digo-lhes: “-Por quê vocês não me patrocinam?” Para fazer show na Sociedade Hebraica de São Paulo eu pago! Pago a taxa de teatro. E lota, lota, lota! Eles sempre medando uma driblada, são mais inteligentes do que eu! Eles são judeus praticantes! Eu não, sou um judeu do Paraguai!

Você já foi à Israel?
Já estive em Israel em 1970. Fui para ver uma namorada carioca que morava em Israel. Eu queria conhecer um kibutz. Achava que eram cabaninhas, no meio da floresta. Sabe aquelas idéias? Em 1970 já eram prédios com departamentos de altíssima segurança. Sabendo o que é evolução. Hoje é a quarta potência do mundo! Eles e os japoneses são os maiores cientistas do mundo.Eu vejo um povo que conseguiu tirar água de pedra e areia. Lá não tinha nada, foi um erro de Moshe ou Moisés, era gago, está na bíblia que “era balbuciante”, ele disse: “ Vamos para Ca...Ca...” Todo o mundo entendeu Canaan, não, era Califórnia! São erro que não podem acontecer na religião!
A sua carreira como artista estourou em que ano?
Comecei em 1956, com Juscelino Kubitschek quando fiz a música “Presidente Bossa Nova”. 



 Não havia Bossa Nova ainda. Eu já estava cantando Bossa Nova por ter ouvido essa palavra de Stanislaw Ponte Preta: “Isso que é bossa, é bossa nova!”. A música estourou no Brasil, eu fiquei sendo “Presidente da Bossa Nova”. Eu afirmava: “- Não sou Bossa Nova, odeio Bossa Nova, parece música de impotente, é tudo pequenininho: carrinho, patinho, renatinho, antoninho”. Eu gostava de modinha que é a mais importante música brasileira, ela veio com a corte portuguesa em 1745, como música erudita. A modinha era musica erudita portuguesa. Agora mesmo, graças a cultura do PT, que luta muito pela cultura nacional, acabaram com a Lei Rouanet. Destruíram a Lei Rouanet que ajudei a criar para ajudar artistas. Porque todos são intelectuais do PC, acham que sabem tudo. Então veio um idiota e disse: “–Modinha não é erudita, é popular porque já termina em “inha”, se fosse erudita terminava em “ao”.” Perguntei: “-E ópera? Como fica nessa história? É popular também?”. Modinha é do período clássico, erudita é a forma, a cultura da música, da arte. Isso é difícil de fazer entender. Tenho mais de quarenta livros, sobre a história da musica brasileira, que eu conheço, não é dicionário da Editora Abril. Você pega a internet procura Wikipedia, aquilo é feito por garotos de 18 anos. Se procurar o meu nome irá parecer que é outra pessoa. Eles não sabem nada, são garotos que ouviram dizer, puxam o Google, e é cultura feita de pesquisa imediata. Se você quiser saber quem descobriu o Brasil está lá: “Pedro Álvares Cabral”. “O nome correto dele é Pedro Álvares de Gouvêa Cabral”. Gouvêa porque ele era o décimo terceiro filho não podia ter o nome da família Cabral. Mas quando ele descobriu, ou melhor, foi descoberto pelos índios, o Brasil foi dos índios, os grandes protetores da terra, o índio diz que a terra não tem dono, a terra é nossa dona. Eles têm uma cultura maior do que a do povo religioso em qualquer lugar do mundo.



O índio tem mais cultura do que o branco?
Muito mais, que é a cultura da natureza. Eles vivem com o que a natureza tem e respeitam a natureza. O índio só mata para comer. O animal também só mata para comer. O branco não, mata para roubar, é o posseiro, é o sem-terra, estes não gostam da terra. O índio respeita. Onde encostam os sem-terras, ligas desses movimentos, primeiro eles não gostam de terra, pouquíssimos conseguiram tocar uma fazenda que já é dada. Deveriam fazer um exame ante: “-Você gosta de terra? Você sabe trabalhar na terra?”. O Brasil não gosta de estudar, o governo não investe no estudo, não interessa, porque se o povo tiver cultura, souber ler e escrever, já irá ter problemas menores na saúde e na educação e cultura. O Brasil não tem educação nem cultura. E cada vez está piorando, nunca piorou tanto como nos últimos 18 a 20 anos. Eles sabem disso. O Brasil de Juscelino Kubitschek  era bom porque tudo foi promovido para 50 milhões de habitantes. Que já é muito! Hoje tem 210 milhões de débeis mentais e analfabetos. Como salvar o Brasil? O cientista Dr. Elsimar Metzker Coutinho procurou fazer o que foi negado pela igreja: controlar a natalidade! Como fez a China, a India e todos os países da Europa. O Papa que tem dogmas, como toda religião, a judaica, protestante, católica, muçulmana, ele, o Papa, sabe que a biblia católica diz que você deve ter filhos. Ele afirmou que apesar de sermos feitos para termos muitos filhos não precisamos faze-los como coelhos: dois filhos está bom! Ele é muito inteligente. Eu falo que ele é da linha judeu-comunista-argentina. Porém é onde ele está salvando a igreja católica.
Como foi a reação da população com relação a sua musica “Presidente Bossa Nova”?
Foi total! Primeira sátira-política-musical. O disco foi gravado em 78 rotações. Fui na cidade, na Rua Boa Vista, e tinha uma lojinha com os dizeres: “Fazemos Discos”. Você dava vinte cruzeiros e ele fazia o disco. Com aquele disquinho fui até as rádios para mostrar. Ninguém deu bola. Ai eu fiz um programa com Aracy de Almeida, que depois ficou muito minha amiga. A Aracy começou a me apresentar a todo mundo na Rádio Bandeirantes, minha carreira estourou, fui o maior vendedor de discos na época.  Conheço tudo de Noel Rosa, Caymi, Luiz Gonzaga, Lamartine Babo, desses eu conheço a obra toda. Para mim são os máximos da musica brasileira. Os que faziam modinha como Catulo, Pixinguinha, Donga. Tenho uma foto de 1960 onde estão: eu sentado no chão, toda a verdadeira MPB: Pixinguinha, Donga, Bide, é uma turma da verdadeira Musica Popular Brasileira. A modinha brasileira começou antes, quando Carlos Gomes fez modinha, as óperas dele são trechos de modinhas, ai vem um idiota e diz que modinha não é erudita! Eles não sabem nada, vão ser criticosa porque não conhecem música. Pergunte se tocam algum instrumento? A arte é subjetiva. O que eu sei de pintura? Não, porque o pintor quiz dizer, ele não quiz dizer coisa nenhuma, as vezes ele pintou alguma figura feminina que o atraiu. Um dia eu estava vendo um programa de dois pintores famosos, atuais, dois homens cultos da pintura, criticos de pintura, eles criticando um quadro dubio, se seria uma falsificação ou não. Um deles disse: “-Aqui eu acho que o pintor quiz dizer isso!” O outro critico disse: “Não! É um quadro cristão, em que Cristo carregava uma mulher nas costas!”. O brasileiro é um preconceituoso nato. Um dia alguém disse-me que eu era homofóbico, ela tinha ouvido dizer e nem sabia o que significava. Disse-lhe: “É difícil! Tenho duas filhas negras! Na minha família tem dois gays morando comigo!”
Quantas filhas você tem?
Quando estavamos na Bahia adotamos duas: Maria Clara que está com 16 anos e Maria Morena, porque ela é mais clara do que Maria Clara. Elas moram conosco. Para onde vamos elas estão sempre conosco. Elas foram adotadas como filhas. Aliás é uma história bonita, quem fez a Lei da Adoção foi Juscelino Kubitschek  em 1950. A primeira menina adotada no Brasil chamava-se Maria Estela Kubitschek . Até então dizia-se “-Peguei para criar”. Ou então diziam, “aquelas moreninhas”, não são morenas, são negras! Uma é negra outra é mulata, que são as glórias das raças brasileiras. Acho que o branco( entre os quais me incluo) veio para estragar o mundo. Você que o negro na Africa, tudo que ele faz é puro. E foi jogado para baixo. Ele sofre um preconceito maior do que o judeu sofre até hoje. O judeu se defendeu porque tinha um raciocínio mais lógico, não era europeu. Mas o negro foi escravizado sempre. Os melhores musicos do mundo são negros. Sem negros não haveria futebol. Ai vem um idiota e diz : “Negro não pode entra no trem!”. Já estão sendo pegos na Inglaterra. Aqui não acontece nada, mas lá quem afirma isso vai para forca. O maior jornalista sobre esportes do mundo, deu uma entrevista, se não me engano no programa “Roda Viva”. Quando o tema foi corrupção no esporte ele jogou o Brasil no fundo do poço. O Brasil é o país mais corrupto no mundo do esporte, comprou cinco copas! A custa do João Havelange, eu gostava do João Havelange, achei que ele ajudou o futebol brasileiro. Sem ele a Inglaterra ficaria com todos os juizes ingleses. Perguntaram: “Na Inglaterra não tem essa corrupção?”. Ele respondeu: “ –Corrupção não, tem estupidez!”. Segundo ele, o inglês é estupido, mas não é corrupto. Se for corrupto, politicamente ele é crucificado, ele vai para a forca! Não tem brincadeira, aliás isso acontece em qualquer país civilizado do mundo. Nos Estados Unidos se um individuo der um tiroem um policial ele já é preso. Sem direito a defesa. Fica oito anos preso. Após oito anos irá ser julgado por ter atirado em um policial, se matou o guarda já é cadeira elétrica. Igual aqui, o individuo mata a mãe, duas crianças, se apresenta a autoridade policial como réu confesso, e sai pela porta da frente.O delegado com a maior cara de pau afirma que não houve um motivo para o crime! No Japão que é um país mais digno eles pegam a espada e se matam sozinhos, não precisa pedir para ele se matar. Eles tem vergonha da palavra “roubar”. Um dia um jornalista brasileiro estava no Japão e perguntou: “ Voces tem tudo limpinho aqui, vocês tem leis?” A japonesa respondeu-lhe: “Não. Aprendemos com nossos pais!”. Eu pergunto, como um pai, semi analfabeto, que mal ganha para o sustento, mora na favela mixa, não é a boa favela que existia quando eu nasci, tinha uma baba que morava na favela, tinha um pessoal que tocava violão. Hoje a favela é o reduto final, a única alegria deles é o carnaval, que é bonito, muito criativo. A única festa bonita do Brasil é o carnaval.

Juca você iniciou no mundo musical muito jovem?
Quando fiz a música tinha dezesseis anos, eu tenho um programa na Rádio Gazeta, que deixei gravado, foi a primeira vez em que apareci em rádio e televisão. A Regina de Moraes, que lia, disse: “-Vamos apresentar pela primeira vez no rádio, o mais moço e promissor talento da música popular brasileira, trata-se de Jurandyr Chaves, um jovem de 16 anos e muitos sonhos pela frente. Canção de Jurandyr Chaves  "Nas águas de Saquarema" canta Leny Eversong acompanhada da Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional, maestro Guerra-Pexe que era meu professor. Eu comecei na rádio, quando fui ao Rio de Janeiro, fui para ser criticado, queria me mostrar, aí recebi um apoio muito bom de Lamartine Babo, Vinicius de Moraes e Jobim. Eu era garoto, achei formidável aquilo tudo.
Outra música sua que marcou época foi “Por Quem Sonha Ana Maria”
Aquilo  marcou porque houve uma musa verdadeira. Perguntavam-me se ela existia, eu respondia que sim, era do Colégio Des Oiseaux. Todo mundo do colégio a conhecia. Eu ia a porta do colégio a freira vinha, a madre superiora vinha. Ana Maria era uma moça linda que nunca deu bola para mim não. Eu era muito pequenininho para ela, ela era mais alta, bonita, Ela dançava comigo, eu punha um tamanco e ela tirava o sapato. Ela era gentil. Fiz umas seisa oito modinhas para ela, muito importantes. Mas fiz mais modinhas para Yara, umas doze ou quatorze modinhas. Para mim as melhores.
A Yara é a mulher da sua vida?
Foi e continua sendo! Até então todas passavam rapidamente. Eu gostava de namorar. Sem maldade, gostava de namorar. Falavam que eu só namorava modelos e mulheres altas. Namorava modelos porque era mais fácil de entrar e de sair e altas porque todas eram mais altas do que eu. E namorava meninas bonitas porque de feio chega eu. Se eu tenho charme , como Jorginho Guinle, mais baixinho do que eu! Nunca tive complexo. Juca poe-se a cantarolar: Eu sou baixinho, feio e narigudo/dizem que eu sirvo só pra dar recado/mas na verdade eu sirvo para tudo/até chifrudo eu sou sem ser casado!/eu tenho chifre mas não tenho queixa/ se bem que a testa fique bem maior/até que é bom quando a mulher nos deixa, agente sempre arruma outra melhor. Essa é a vida que eu sempre quiz,/ eu sou cornudo mais eu sou feliz,/ essa é a vida que eu sempre quiz,/ eu sou cornudo mas eu sou feliz. Peguei essa música e gravei na Itália, como a do Nazo: Nariz, ai, meu nariz,/Como falam mal deste nasal que é tão normal,/Ouço diariamente muita gente infeliz
Você em seus shows, contando piadas ou cantando, faz seu público raciocinar?
Faço sim. Humor não é para gargalhar, gargalhar é uma forma de rir grosseira. Como a mulher que grita durante a relação sexual, grita tanto que o vizinho processa. Como fiz uma vez que processei uma vizinha quando minha filha disse-me: “-Pai estão matando um gato!”. Ainda fui processado por ela! E o juiz deu ganho de causa para ela! O grande problema do Brasil é que o poder mais corrupto do Brasil é a justiça. A justiça é injusta, imbecil. Essa mulher morava no andar acima do meu. Por isso hoje só moro em cobertura, quando subo a escada eu respeito. Se o meu cachorro está fazendo barulho, põe um chinelinho de tecido no cachorro.
Como se  chama o seu cachorro?
João! Outros que tive antes tinham nomes judaicos: Josef, Salomão. Tive dois jegues na Bahia, comprei por R$50,00 cada um. Um colecionador de cavalos raros, disse-me: “-Eu soube que você tem um haras Juca!”. Disse-lhe: “Tenho duas crias! Paguei cinqüenta!”. Ele disse-me: “- Cinqüenta mil! Eu também comprei um árabe agora, cinqüenta mil o cavalo!” Um dia a Tônia Carreiro foi jantar em casa, o jegue encosta nela, na mesa, ela olhou o jegue ao lado. Deu um grito. Disse-lhe: “-É o garçom!”. Muita gente me telefonava dizendo: “quero ver suas crias!”. Coloquei escrito assim: “Haras Duas Marias. Lentas, velhas e sem dentes, aqui estão as nossas crias, independentes. Abaixo assino humilde Mimosa Van Rothschild”. Quando nasceu o filho dela dei o nome judaico: Davids Jacob Salomon Van Rothschild II. Quando eu chegava de viagem eles gritavam durante meia hora. O jegue é um animal muito fiel, é um animal puro. Ele não tem mistura. Não é como a raça brasileira. Só se faz jegue com outros jegues. Usou-se o jegue em todo o Oriente, como meio de transporte. Cristo andava de jegue, é o que tinha na época. A humildade não é virtude, a virtude é você ser bom. Você não é bom pelo que se faz notar, você é bom quando falta e sentem a sua falta. Ninguém morre quando deixa uma saudade. Se você deixa saudade você não morreu! Quando penso em Mozart em Tchaikovsky, penso em amigos meus!
Você é conhecido como “Menestrel”, como surgiu esse cognome?
Quem me deu esse nome foi Flávio Alcaraz Gomes, era o maior repórter do Brasil, da Rádio Guaíba, que fez a revolução de Jango Goulart. Eu ganhei um revólver do Brizola. Ajudei a acabar com o parlamentarismo. Juca canta a música; Constituição ,constituição/acabou-se que tormento/já temos o parlamento falta o rei que papelão./Que papelão, que papelão/o canhão foi superado, pois Brizola, com Machado foi fazer revolução./Revolução, revolução/foi as armas, o gaúcho/o Lacerda deu o repuxo e o Dennis ficou na mão/Ficou na mão, ficou na mão/pois prendia todo mundo/o regime foi pro fundo,/marechal foi pra prisão./Foi pra prisão, foi pra prisão/e o Brizola nem deu bola,/o Jango botou cartola/e acabou a revolução.
Você era amigo do Jango?
Eu gostava do Jango, ele era o Vice-Presidente, igual aos outros vives, igual ao Itamar Franco.
Há uma composição sua dedicada à Primeira Dama, esposa do Jango?
Juca Canta a modinha:
Dona Maria Tereza,/diga a seu Jango Goulart,/que a vida está uma tristeza, que a fome está de amargar,/E o povo necessitado, /precisa um salário novo,/mais baixo pro deputado, /mais alto pro nosso povo./Dona Maria Tereza,/assim o Brasil vai pra trás,
quem deve falar, fala pouco,/Lacerda já fala demais./Enquanto feijão dá sumiço,
e o dólar se perde de vista,/o Globo diz que tudo isso,/é culpa de comunista./Dona Maria Tereza,/diga a seu Jango porque,/o povo vê quase tudo,/só o parlamento não vê,/Dona Maria Tereza,/diga a seu Jango Goulart,/lugar de feijão é na mesa,/Lacerda é noutro lugar háháhá!




Aos dezessete anos comecei a trabalhar como jornalista e fui entrevistar o Carlos Lacerda, cheguei à redação do jornal Última Hora, de Samuel Wainer, ela dizia de mim: “ O Juca é uma quadrilha sozinho”. Ele mandou entrevistar o Lacerda. Perguntei-lhe: “- Quem é esse burguês?”. Samuel então me disse: “-Aprenda garoto, antes de falar burguês, como esse pessoalzinho que começou na UNE, um autêntico burguês que falsifica carteira de estudante, Lacerda é um cara importante, já derrubou cinco governos! Fui falar com Carlos Lacerda. Apresentei-me: “Dr. Carlos, sou jornalista, foca, estou começando, eu queria que o senhor me ajudasse porque estou começando agora. Ele respondeu-me: “-Vou te ajudar na entrevista!” Deu-me uma tremenda entrevista. O jornalista tem que ser humilde, hoje a nova geração é mais simpática, mas houve um tempo que era terrível. O jornalista vinha, o fotografo vinha por traz sem educação nenhuma tirava sua fotografia. E achava que devia atrapalhar tudo, que ele tem o direito da Lei de Imprensa. Não é assim. Todos têm o seu limite, para isso que existe a Lei de Imprensa. É o que falo sempre: “Imprensa é coisa séria, por dinheiro são capazes de publicar até a verdade.”. Isso ocorre no mundo todo.
A imprensa é o quarto poder?       
É o quarto. Mas tem um poder maior que o da imprensa que é o terceiro, que é o gay. Hoje metade dos gays já estão na imprensa, então já uniu, ficou uma força maior. Porém é um poder instantâneo, eles deixam-se sentirem-se poderosos. É um comunicador, assim como nós somos artistas. Qual é o dever da imprensa? É falar a verdade! A verdade doa a quem “doar”.
Você generaliza que a imprensa é constituída por um grande numero de gays?
A maioria! No Brasil gay evoluiu. É uma escolha sexual que é justíssima, até entre os animais existem os gays, eu, por exemplo, seria um caracol, tem os dois sexos. Mas não tenho, nem um! Eu gosto de um sexo só porque sou preguiçoso, já lutei com a minha mulher por quarenta anos seguidos, está ótimo! E ter satisfação! Já é maravilhoso! Eu quero ver pela frente, mas é um gosto. Gay faz o que ele quer. Só que tem uma coisa, o gay é sofisticado, alegre. Geralmente cineastas, intelectuais. Geralmente! O viado é histérico! Faz aqueles gestos, aquelas coisas, desnecessárias. Eu não entendo porque. Por que um homem, que nasceu homem, tem que fazer assim com a mão? Ele se acha chique fazendo assim? Pelo contrário! Parece uma mulher vulgar da sociedade. Uma imitação vulgar das coisas.  Assim como uma menina que quer ser lésbica porque ela gosta, não precisa ficar coçando embaixo. Não precisa ser macho! As lésbicas não gostam de macho. Elas gostam de mulheres. Assim como homem gosta de homem. São direitos e deveres que eles têm. Eu acho uma coisa tão simples, e tem gente publicando e matando. Você sabe que as religiões mataram gays no mundo todo. Tchaikovsky foi um. Está provado hoje que ele morreu não porque tinha cólera, ele morreu porque o Czar mandou matar. Era uma vergonha ter um gay como o maior músico do país! Do mundo! Acho Tchaikovsky acima de todos.
Quantos Presidentes da República do Brasil você conheceu?
Sobre Getulio Vargas eu ouvia falar. Na época eu era menino. Eu era garoto de colégio, quando ele morreu deu aquela alegria: “Hoje não tem aula porque Getúlio morreu!”. Getúlio era o Pai da Pátria e a Mãe do Rico. Após Getulio veio Dutra, fui preso por causa disso. Eu tinha uma coruja a quem dei o nome de Maria Gaspar Dutra. Fui chamado no DOPS, o capitão muito simpático, me recebeu, perguntou-me; “Ô Seu Menestrel, você sabe por que tem o nome de Maria Gaspar Dutra no seu animal?” Disse-lhe, que não era um animal, mas sim uma ave e assim se chamava porque era a cara do Dutra. A coruja tem a cara do Dutra! O capitão perguntou-me: “Só por isso?”. Respondi-lhe: “ O que mais teria?”. O capitão retrucou: “–O senhor sabe quem é a Maria Gaspar Dutra?”.  Respondi-lhe: “– Claro! Minha coruja!”. O coronel perguntou e quem eu me inspirei para dar esse nome. Respondi-lhe que foi no Dutra. Ele perguntou-me: “-Tem certeza?”. Respondi-lhe: “-Absoluta!” Ao que ele me disse: “- Então o senhor está livre!”. Foi a minha vez de perguntar do que era acusado. Ele disse-me então: “ –Maria Gaspar Dutra é a mãe do Marechal Dutra!”. Anos depois encontrei-me com esse capitão, já promovido a uma patente mais alta, ele me perguntou em tom de brincadeira: “-Como está a Maria?”.



Juca você fez uma música de grande sucesso sobre a compra de um porta aviões feita pelo Brasil.
 Juca, poe-se a cantar:

Brasil já vai a guerra, comprou um porta-avioes/Um viva pra inglaterra de oitenta e dois bilhões/Ahhhh! Mas que ladrões/Comenta o zé povinho,/Governo varonil,/Coitado coitadinho,/Do Banco do Brasil/Há há, quase faliu/A classe proletária/Na certa comeria
Com a verba gasta diaria/Em tal quinquilharia/Sem serventia./Alguns bons idiotas,/Aplaudem a medida,/E o povo sem comida,/Escuta as tais lorotas/Dos patriotas.
Porém há uma peninha/De quem é o porta avião/É meu diz a marinha,/É meu diz a aviação/Ahhhh! Revolução!/Brasil, terra adorada/Comprou um porta aviões/Oitenta e dois bilhões/Brasil, oh pátria amada,/Que palhaçada.

Juca Chaves prosegue: A música deu um escândalo, proibiram, a censura de época proibiu, era uma censura religiosa acima de tudo. Eu ganhei o precesso, atraves de um juiz do Rio de Janeiro, a acusação dizia que esse garoto de dezoito anos quer desmoralizar, afundar o porta-aviões! O juiz disse que se um garoto de dezesseis anos pode afundar um vaso de guerra que vocês compraram, então não precisa do vaso de guerra!  No tempo da Revolução de 1964, que poderia ter dado certo, não fosse pelas piguices religiosas, a censura era religiosa, uma mulher definia a censura do Brasil, era a censura do artista. Sou o artista que tem o maior numero de músicas proibidas: 68 músicas. A primeira vez que usou-se a palavra tesão na música brasileira fui eu: Tesão odara/ um beijo santo, se amar é tanto/ Eu te amo Yara/ ... Era uma modinha, a censura proibiu naquela época. Isso foi em 1976 ou 1977. Porém, a censura dizia que a mulher brasileira não estava preparada socialmente e sexualmente para ouvir a palavra “tesão”.  Eu não entendi o que ele quiz dizer com isso, e o irmõa dela que era um intelecual e fez o julgamento, era o sub-chefe da censura, concordou. Nós brasileiros vivemos em função de pieguices, de caipirismos. Tipico de D.Pedro I, que não era o bom, bom era D.Pedri II, mais habil, mais inteligente. D.Pedro I passou sifilis para muitas negras brasileiras, deu um ponta pé no ventre da sua mulher grávida, que causoua morte da criança. D.Pedro II era bom, queria saber o que estava acontecendo no mundo, da Exposição de Paris em 1890 ele trouxe tudo que havia de bom no mundo: cineminha, balão, avião, o próprio telefone ele trouxe dos Estados Unidos. D.Pedri II era Uma pessoa exclarecida. Durou pouco, tudo que é bom dura pouco, veio o Marechal Deodoro e quebrou a Monarquia. Não era para quebrar naquela hora, durasse mais seis anos. O primeiro grande governante brasileiro foi Mauricio de Nassau, que todos diziam ser judeu-holandês, era na verdade judeu-alemão. Fugindo da Inquisição. Ele expos o nome de Nassau por que se escondeu em Nassau, seu pai era um milionário holandês. Tempo das tulipas. Como se sabe que ele era judeu? Porque quando foram redescobrir uma igrejinha em Recife, cavaram, acabaram descobrindo uma sinagoga. Viram que a sinagoga estava embaixode uma igreja. Com isso soube-se que quem chegou primeiro era judeu. Mauricio de Nassau foi o maior governate da História do Brasil. Em seis anos ele fez de Recife a capital das Américas. Ele e mais alguns brasileiros compraram a Ilha de Manhattan (Estados Unidos) dos indios Algonquin. Manhattan (Em 1610, o nome da ilha era Manahat designando em homenagem ao Rio Maurício e ao Rio Hudson) foi adquirida por Mauricio de Nassau e um grupo de brasileiros e holandeses. Essa história está escrita no Blue Bar do The Algonquin Hotel, onde o Lula ( Luis Inácio Lula da Silva) se hospeda, portanto é bom. Ele sabe o que é bom. Ele não é um sem-champagne, ele tem bom gosto! Sabe o que é caviar! Pergunte ao Lula que ele sabe bem, muito bem. Existe uma música que eu respondi ao maior sambista brasileiro hoje, o Zeca Pagodinho,, ele é ótimo, ele fez a música do caviar: Você sabe o que é caviar?/Nunca vi, nem comi/Eu só ouço falar/Você sabe o que é caviar?/Nunca vi, nem comi/Eu só ouço falar...Ele fez para mim essa música, soe eu falava em caviar nesse país! Ele fez por brincadeira. Eu sempre dei aquela idéia de querer vender a ilusão. Mulheres, caviar, champanhe. Eu nem bebo...
Juca, você veiculou pela mídia uma propaganda onde mencionava caviar e o automóvel Jaguar?
As propagandas diziam: “Ajude o Juquinha a comer caviar” e “Ajude o Juquinha a comprar seu Jaguar”. Isso é uma ação de publicidade, que, aliás, deu certo. Foi muito divertido ver como o Zeca Pagodinho fez a música, e eu fiz uma resposta, pena que ainda não conseguimos cantar juntos. Eu tenho a resposta: “ Você que nunca viu, nem ouviu, ô meu/ nem comeu o tal de caviar/ caviar não é coisa só para rico, eu explico/ basta ser pobre e ter bom paladar e aproveitar/ caviar são ovas de esturjão então/ vá para o Mar Cáspio/ Lá esse peixe tem/ Se não souber onde fica eu explico, dou uma dica/ Pergunte ao Lula que ele sabe bem/ e muito bem! ( Essa modinha foi cantada apenas duas ou três vezes em shows, é semi-inédita!).
Você é um ícone nacional, qual é a reação dos seus fãs?
Tem gente que diz: “Juquinha! Eu te adoro quando te vejo na TV!” Mas não paga né? Na TV não é fã, é admirador! Fã é o que vai ao teatro e paga! E não meia! Estudante paga meia entrada no Brasil por culpa do governo. O governo que impõe essa lei. Ensina o estudante a lesar uma profissão que é o artista. Se ele paga meia, vale meia pessoa. Se a culpa é do governo, porque não fica valendo meio voto? Deveria ter uma lei, estudante paga meia, às nossas custas, que o voto dele tenha metade do valor. Eles fazem isso para comprar o estudante. O governo brasileiro compra o estudante brasileiro, e acredita que está dando cultura. Querem formar 4800 em não sei o que, só que são apenas 200 vagas. Por quê? O governo não quer gastar dinheiro nem em cultura, nem em prisão. Preso custa muito caro. O preso só irá dar valor à sua prisão quando ele pagar pelo estrago que cometeu, se ele quebra seu carro, arrebenta você, ele deveria pegar quatro penas, sendo que a mais importante é: pagar o prejuízo. Só sai da prisão se pagar o prejuízo! Pagar como? Ai meu filho, tem várias maneiras na prisão que você pode conseguir dinheiro. Um delas é a mais comum, como existe na s cadeias muita gente, e o governo não tem inteligência para pegar esse pessoal toda e colocar para trabalhar na lavoura, quem trabalha na terra fica com a cabeça boa.  Por que o governo não resolve? Não interessa resolver! Deixa todo mundo junto, fazendo assim, quando saírem de lá, vão entrar inclusive nas grandes manifestações. Para quebrar as boas manifestações. Sou contra essas manifestações em que o povo sai calado na rua e vem a outra para quebrar.
Você conheceu Jânio Quadros?
Muito! O Jânio era muito inteligente e muito culto. Tinha as respostas maravilhosas, sabia tudo. Só que ele era ligado por um problema, a mulher dele era muito religiosa, ela mandava, por exemplo, proibir o biquíni, ela que mandou proibir biquíni, não foi o Jânio! Ela disse: “É uma imoralidade o biquíni!”. Ela não dizia por maldade, é que ela achava imoral. Era aquela geração que não evolui. Como hoje vejo minha filha se shortinho de u palmo, eu morro, mas ela é de uma geração que todas as suas amigas usam isso. Quero dar uma bronca na minha filha, mas como posso fazer isso se aparecem oito meninas amigas dela, adoro receber pessoas amigas, e vejo que que todas as amigas da s minhas filhas pensam da mesma forma. Todas falam através de um aparelhinho odioso chamado celular! Até o garoto que vai tentar conquistar a menina não a toca, ele escreve no Whatsapp . Ai como é bom! Ai fica rápido! Tudo errado! É uma lingua diferente. São estudantes que se orgulham da carteirinha para pagar meia. E ai um milhão foram reprovados, todos, 100% de reprovação na prova do ENEM! Ninguém sabe escrever no Brasil! Uma vez coloquei um anuncio: “Quero uma secretária que saiba ler, escrever e falar português”.
Quantos livros você já lançou?
O primeiro livri foi “Eu - Baixo Retrato”, o segundo livro nasceu depois, “O Incrível Juca Chaves”, saiu junto com um disco. Um terceiro livro pequenininho feito pela Editora Maltese, chamado: “A Culpa é do Governo”, é a história do Brasil liberado pelo Vice-Presidente da Republica do Brasil, como livro didático com humor contando a história de todos os presidentes, ficou entre os cinco primeiros livros mais vendidos nas duas primeiras semanas após seu lançamento. Eu quero editar o final, fui a uma editora, eles querem me dar oito por cento e ficar com noventa e dois por cento. Eu disse-lhes: “Que tal inverter?” “-Vamos brincar, eu sou o judeu e vocês são os palestinos. Eu fico com noventa e dois por cento e vocês ficam com oito por cento.” Jorge Amado era muito amigo meu lá na Bahia, tinha um grupo maravilhoso, nós tivemos grandes momentos na Bahia nós tínhamos reuniões todas as semanas, um dia estava Fernando Sabino, Calazans Neto, o artista plástico Carybé, e outros, quando chegou lá o editor e disse entusiasmado: “Jorge! Tenho uma novidade ótima para você! Não precisa mais numerar o livro! Eu disse: “-Ótima para quem?” Ficou um silêncio na mesa! É ótimo para o editor! Não numerando ele pode dizer o numero de livros que vendeu. Como gravações, eu vendia um milhão de fitas cassetes e recebeia só sobre cem mil. Não havia numeração. Quando protestei todo mundo riu, o primeiro disco numerado no Brasil foi o meu, o garoto que fez a edição numerada, a noite, eu paguei, ele foi mandado embora da Polygram. O presidente da gravadora, inclusive em um programada Hebe Camargo disse: “-Não existe máquina para numerar disco”. Eu disse: “-Existe! Ela se chama honestidade!”.
Qual é a importância da memória para o ser humano?
A memória é mais importante que o coração! O coração eu já antei em uma das musicas”...o coração é um músculo apenas...” A verdade é o que você aprendeu quando era criança: se aprendeu que dois mais dois são quatro e meio, irá repetir isso a sua vida inteira. Como repete os dogmas da sua vida. Você repete o que você aprendeu.
Quantas músicas você tem gravadas?
Trezentas e pucas. Todas compostas por mim. Umas 10 ou 20 também entram outros compositores. Tenho parceria com Olavo Bilac, Guilherme de Almeida, Castro Alves, só de gente bacaninha! Não tenho parceria com mais ninguém, tudo que fiz é meu, eu erro sozinho! Gosto de fazer errando, gosto de compor. Atualmente o Brasil não tem música, são meninos que tocam teclado com duas notas,: sol e dó. Eram três notas antes. Com isso nãoexiste melodia nem harmonia, somente o dedilhar. E tem que dançar com a perna de um lado e a perna de um lado e perna de outro lado. Mais ou menos como indio! Eu danço como indio, aprendi com o índio a dança da chuva, essas chuvas que estão caindo nestes dias é porque eu rezo toda manhã! (risos). Danço a dança do ídio, bato um pé para um lado, outro pé para outro. Estou tentando ajudar a Cantareira! Aliás o desperdício de água é muito maior em função dos erros do homem. Israel já esteve aqui no Brasil para com seus técnicos para ensinar como se faz, não adianta, eles não aprendem que é com gotejamento. Israel tira água do deserto. No Brasil, o nosso lençol freático na beira do mar vai de Fortaleza a Espírito Santo. É o maior lençol freático do mundo! Senão não teria coqueiros! O brasileiro só precisa cavar um metro! Nem precisa pedir autorização. Não pode pedir autorização no Brasil senão o departamaneto de água como da Bahia te rouba. Roubam! A eletricidade te rouba. Passou a se particular, era melhor quando era do governo. Olha que ponto chegamos! É o único país do mundo que quando tem algo privatizado piora. O Brasil diminuiu a sua potencia de honestidade, crriatividade. Faltam tres idades no Brasil: Honestidade, Pontualidade e como dizem os portugueses: Capacidade! Se nós tivermos esssas três coisas, é diferente. O pessoal não bebe cerveja no Brasil, entorna. O brasileiro não diz: tomei uma e sim tomei umas! É ua questão de educação! Pessoas dirigindo bebados e não é preso! Nos Estados Unidos se o individuo estiver bebado e causar um acidente ele está perdido, não tem defesa. Se não causar acidente mas estiver bebado ele já é preso. Vai até o juiz, que bate o martelinho e estipula a fiança em 5.000 dólares. Se o individuo não tiver fica preso. É tão simples!
Juca, qual é sua opinião sobre o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco?
Ele foi o primeiro idealista da parte deles. Ele cometeu um erro, muito crasso, ele era muito sério, era um militar pensando como pensavam os militares antigamente. Ele era duro. Sua morte , ao meu ver não foi casual. Um jatozinho vai e bate logo no avião do presidente! Não se chegapróximo ao avião do presidente, se chega é para matar. Foi de uma super honestidade. Conheci o Castelo. Depois conheci o Presidente Costa e Silva que era um bonachão, simpático, mas fez uma lei muitodura que foi o AI-5 Ato Institucional número 5, o AI -5 foi feito em um momento em que o Brasil estava quase igual a hoje, não tão ruim! O Brasil naquele tempo por muito menos fez uma revolução.
Porque o país tornou-se mais passivo?
O problema mais grave é a justiça. O maior poder corrupto brasileiro é a justiça. Por erros judiciarios passei por maus momentos, quem me salvou foi um dos raros honestos chamado Peluso. Este homem chegou para me salvar, na hora em que eu já estava devendo ua casa que eu vendi, não recebi, e fiquei devendo 10 anos depois três vezes o valor da casa. Dentro da casa tinha toda a minha coleção de quadros: Portinari, 11 Di Cavalcanti, tantos Volpis e outras obras do mesmo nível. Eu era colecionador. No entanto, a pessoa com quem eu estava demandando ganhava sempre, tinha três juízes do lado, dois eu consegui colocar na cadeia. Eles esatavam envolvidos em grandes coisas, o meu caso chocou, a própria revista Veja transportou o individuo que armou isso tudo, me vendeu a casa, ele se diz arquiteto mas é um decorador muito bom, ele construiu a casa com alvará de demolição. Quando fui vender, o comprador que sabia disso, sem que eu tivesse conhecimento dessa situaçção toda, entrou.  A revista Veja deu toda a força que ele se transformou noEmpresário do Ano de 1976. Com isso ele conseguiu ser preso muito tempo depois no Rio Grande do Sul, quando ele comprou a Rio Guaiba, usando a mesma tática que usou comigo. Na época ele deu um golpe de 30 milhões. O golpe que ele deu em mim foi pequeno, mas era tudo que eu tinha. Ha dois anos ele foi assassinado no Paraguai, pelas costas. Se entrase no Brasil seria morto. E era apoiado por revistas, jormais. Essa é a diferença entre Brasil e Estados Unidos, lá tem poucas leis e boas, aqui tem muitas leis e más. Aqui cada lei tem outras cinquenta leis para defender o bandido dessa lei.Claro que um individuo que é bandido hoje e tem um partido que aprova é claro que ele vai querer leis que o proteja.
Você foi candidato a deputado?
Fui uma vez na Bahia, fui o terceiro candidato, só entravam dois senadores, eu tinha só 20 dias para fazer a campanha. Só falei quatro vezes, nunca fui andar na rua. Mas eu falei: quero três coisas para o Brasil: Controle de natalidade, planificação familiar para diminuir a população, obrigatoriedade de aulas de musica nos colégios, o brasileiro nãosabe cantar, não sabe música também não sabe matemática, a música é ligada a matemática. Isso pouca gente sabe, mas deveria saber! O terceiro ponto é a saúde, sem saúde não adianta nem ter educação.Para que tudo isso aconteça, temos que ter um governo culto, e não irá ter isso com os líderes que nós temos. Ai vem a diferença, quando você tem um governo um pouco melhor, Fernando Henrique era um homem cultíssimo, no entanto ele virou as costas para o Brasil na sua segunda gestão. Quando encontrocom ele falo isso! É um homem cultíssimo mas não usou acultura, no final ele já estava bonitão!
Você disse isso à ele?
Falei! Falei e cantei no Programa  do Jô que ficava por trás acenando negativamente! E o público aplaudindo! O Jô é uma pessoa muito inteligente, sabe fazer as coisas.
O que você achava do presidente  Emílio Garrastazu Médici ?
No final ele já estava calmo! Foi o melhor momento do Brasil economicamente, politicamente. Foi o grande momento brasileiro da Copa do Mundo em 1970.
E as frases como “Ame-o ou deixe-o”
Isso é aquele famoso exagero, nacionalismo falso. Nacionalismo é você saber cantar o Hino Nacional, não gritando, mas cantando. Não precisa colocar a mão no coração, isso é besteira! Você vê que os americanos não ficam clocando a mão no coração, eles ficam duros, parados, não falam, não gritam, não comentam. E cantam afinado. Acho um desrespeito a música desafinar. Quando vejo brasileiros cantando “Parabéns a Você” eu fico nervoso! Nas festinhas de família todos cantam: “Parabéns à você, nesta data querida” (Juca canta propositadamente desafinado). Não sabem cantar Parabéns! O brasileiro não canta nada, é um povo sem música! Hoje qual é a música nacional? É o Funk, são dois acordes.
E a grande musicalidade brasileira tão falada?
Já foi! O Brasil teve coisas maravilhosas. Tinha letras maravilhosas, não esse negocinho de “inho”, “ai”,”ão”. Eu procuro fazer rias ricas. Tanto queu dia uma jornalista gaúcha perguntou-me: “Juca, tchê, Menestrel, porque tu fazes rimas ricas?” Respondi-lhe: “-Porque as musas são pobres!” Aprendi com Guilherme de Almeida, cujas rimas foramas mais bonitas e complexas do Brasil, ele rimava monsilaboscom ditongos, sabia usar a poesia e o sneto. Que é uma arte. Poesia para mim, tem que ser rimada e metrificada. Soneto. Porque senão não é poesia! Mulher que fala: “Sou poeta!” já me irrita. Poetisa! A Dilma diz que é presidenta. Isso criou um problema nacional. O próximo presidente tem que ser ou um homosexual ou mulher, Não pode ser homem, teria que ser “presidento”. Ela estraçalhou a sintaxe brasileira! Simplesmente isso! Não pode ser presidenta! Isso é ua vaidade pessoal, eu achei que lógico, ela com aquela cara de inteligente, ela estava gozando todo mundo! Eu sou cantanta! Não cantante! Ela dá enfase para presidenta! Antes de ser operado fui jogar na loteria, para ganhar 240 milhões, estava precisando realmente. Eu devia 240 mil reais. Mas eu queria 240 milhões porque acho que resolveria meu problema “ ad eternum” (para sempre). A Yara quando casei foi Miss Campinas, primeira bailarinha clássica, foi professora da Claudia Raya.
Você foi comunista?
Picasso e toda uma turma eram todos do “partidão”. Quando fui comunista tinha um grande prestígio. Eu tinha uns 20anos, não tinha nada para dividir com os outros. Quando comprei meu primeiro Jaguar, vieram buscar, eu disse: “-Não! Esse eu não dou!”.
Mas você não era comunista?
Claro, mas ai eu não queria mais dividir com ninguém! Era um Jaguar, não era um livro! Em Portugal logo após a revolução do cravo vermelho, tirando Portugal da maior ditadura que já vi na minha vida, de Salazar, 80 anos, vinha a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) e jogava os estudantes no Rio Tejo, o estudante amanhecia morto. Naquele tempo era terrível, eu morei um tempinho em Coimbra, os estudantes eram maravilhosos, jogaram as capas pretas para eu passar por cima! Foi a mior homenagem que recebi na minha vida!
Quantos automóveis Jaguar você teve?
Dezoito! Tenho um amigo jaguarista, que perguntou-me: “-Como você vê o óleo do carro?”. Respondi-lhe: “ Vejo em um dos aparelhos que tem, são aparelhos ingleses, que marcam o óleo.”. Ele disse-me: “ –Eu olho para o chão!”. O carroé baixinho e bate nas belas ruas de São Paulo! Não são rua, são córregos! O bairro mais caro de São Paulo, que é hoje o Itaim Bibi,  o pessoal é louco! Até veio uma mulher em casa para comprar meu apartamento, achei interessante ela perguntar: “-Aqui é o Itaim nobre?”. Respondi-lhe: “- Não senhora, é o Itaim pobre! Nobreza não há no Brasil minha senhora! Aqui não é um pais de nobreza, era um pais de imperadores, não tinha reis!” Disse-lhe: “-Posso recomendar um lugar onde tem nobreza!”. Ela disse: “-Aonde? Aonde?”. “- Em Versailles ! A senhora vai a França no Palácio de Versalhes a senhora procura o Luis, no caso ele é o XIV, a senhora o procura, ele é nobre, fala em meu nome, o Juca me mandou, o Menestrel mandou um abraço Luis! Aí lá tem nobreza que não acaba mais! Tenho até sátiras a nobreza em Portugal, todo mundo era nobre em Portugal! Nobreza não tem valor algum, é o chamado sangue azul, mais importante é o meu sangue! Que é o roxo! Menestrel tem sangue roxo!
Por quê?
Não sei, dizem! Os reis se vão e os menestréis ficam! Aqui já foram muitos! Todos os presidentes que já rodaram já foram! Eu continuo! Já vieram para mim para ceder o orgão. Respondi: “- O orgão eu não doou! Eu doou o piano!”.
Com relação a Piracicaba, voce tem algo a dizer?
Eu me lembro de muita coisa de Piracicaba. A famosa música da pamonha. Piracicaba tem seu rio famoso. Acho aquilo uma delicia. Gosto de fazer teatro lá. É um público maravilhoso. O grande problema do teatro atualmente é o preço do teatro, se eu cobrar R$ 30,00, com a história de pagar meio ingresso, vira R$15,00, não dá! Você paga teatro, paga despesas, paga hotel, sobra quanto?
Quantos patrocinadores você precisa para realizar um show?
As vezes um só!  Uma vez tive uma reunião com uma gerenta de marketing do Banco do Brasil. Disse-lhe: “-Estou com vontade de ir fazer shows no Japão!”. Ela perguntou-me: “-Quanto vai custar para o Banco do Brasil?”. Repondi-lhe: “-Nada!” O Banco Itaú está com mais clientes brasileiros no Japão do que o Banco do Brasil. São 240.000 Dekassegui no Japão (Descendentes de Japonêses). Tive uma idéia. Uma boa idéia. Que é vocês não cobrarem para assistir o show do Juca Chaves que vai para lá, a colonia japonesa gosta de mim, para assistir o show de graça, basta ter o cartão do Banco do Brasil. O Banco do Brasil paga o valor do meu ingresso. Vocês não estão pagando meu ingresso, estão ganhando um cliente que paga por 100 ingressos vendidos.
Você fez curso de publicidade?
Não, eu gostava de fazer publicidade dos meus shows. Criei muita coisa que hoje é marca. A começar do meu boneco, o Juquinha, quem desenhou foi Ciro Del Nero, que foi o maior decor de teatros do Brasil. Era a pessoa que mais sabia sobre Grécia no Brasil. Sou o único artista no Brasil que tem uma marca registrada.
Quando sairá sua biografia autorizada?
Será minha biografia autorizada que eu desautorizei e agora liberei. Assim que eu tiver um tempinho de sentar em cinco dias escrevo isso.
Você vai lançar aqui na terra ou de avião?
Quando eu lanço, faço grandes lançamentos. Por exemplo, quando lancei o meu primeiro disco de ouro lancei do Corcovado, falei: “- É o lançamento mais elevado da história brasileira!”. Quando fiz meu lançamento de carreira fiz no quinto degrau do lado esquerdo de quem sobe no Viadutodo Chá. Por causa da música: “Ultimamente o meu viver tem sido escuro/O vil metal fez de meu bolso um inimigo/O meu sapato é uma manchete, só tem furo/E ando mais duro que o filé que mal mastigo/Tal um foguete americano eu sou um fracasso/Tento subir, porém, só desço neste mundo/Estou mais pobre que cultura de ricaço/Já nem no banco onde adormeço tenho fundo//
Minha família deserdou-me, fim do amor/Me abandonou a interesseira namorada/Até foi bom, só que fiquei "na fina flor"/Bem mais de fora do que quarto de empregada/Hoje o meu lar é o viaduto Dona Sônia,/Aonde insone um boêmio fez-me ser por hobby/E alí vegeto sem ter luxo ou cerimônia/Quinto degrau do lado esquerdo
de quem sobe/Como se vê, não sou esnobe”. Fiz o lançamento lá, dando água com açucar para os jornalistas. Perguntaram-me: “Mas àgua com açúcar Juca?” Respondi: Tá bom! Para quem não ganha nada está ótimo!”. Lotou de jornalistas, que acharam original. Isso que o publicitário brasileiro não tem. Ele não é original. Poucas publicidades você vê com originalidade. Tem sempre exceções, algumas até bonitas,
escrevo, cumprimento. Emílio de Menezes fazia coisas maravilhosas por volta de 1920.
Juca lembra-se do famoso jingle: “Veja ilustre passageiro,/ o belo tipo faceiro/ que o senhor tem a seu lado/E no entanto, acredite,/ quase morreu de bronquite/ salvou-o Rhum Creosotado.” Essa publicidade marcou o Brasil, foi feita em versos. Emílio de Menezes foi poeta, sonetista maravilhoso, só fazia trocadilhos maravilhosos. Ele era amigo de Olavo Bilac, um dia, na Confeitaria Colombo, perguntaram-lhe como estava o Olavo, que tinha ficado doente. Emilio respondeu: “Em casa fazendo um tratado de versificação” (Olavo estava se tratando para ver se ficava são). Emílio era genial! Essa genialidade acabou no Brasil! Uma ou outra pessoa surge com uma frase genial, como a do Joãozinho Trinta: “ Pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual”. Intelectual adora miséria. Filmes brasileiros agora estão imitando filmes americanos, de morte, crime, ganhamuma fortuna  esses cineastas, para não falar nada! Não fazer nada! Ganham valores absurdos para produzirem aqueles cineminhas baratos, onde você ove a voz diferente do moimento da boca.  Contrate um bom artista! Tanto assim quejá aparece um ou outro já melhor. Mesmo assim o texto é fraco. O cinema brasileiro tem que melhorar muito. Querem fazer cinema porque acham chique! A televisão é bem feita.  A Globo faz uma boa novela, só que acho um absurdo o brasileiro ficar 50 capitulos assistimdo bobagem. Não aprendendo nada.  Poderiam colocar um teatro de vanguarda. Você liga a televisão italiana, que é quadradinha, mas lá tem Cyrano de Bergerac, Victor Hugo,  você vê grandes obras do mundo inteiro. Mas em seriados. Aqui tem muita coisa clássica, José de Alencar, poderia ter tanta coisa bonita no Brasil. Os clássicos brasileiros. Mas não, ficam fazendo 50 capítulos para a mulher chegar e falar: sabe! Falando italianado, como o paulista fala, roubando o nosso “s”, o italianoveio roubar nosso “s” no Brasil. Eles não têm plural, é difícil para eles falarem nós fomos. É muito divertido ver cada colônia falar, com sotaque, nós brasileiros dizemos que os portugueses têm sotaque, nós é que temos sotaques.  A língua portuguesa é de Portugal. Que é a correta. Nós não falamos “vou ir”. “Vou ir” é um pecado para a língua brasileira! O pessoal aqui põe dois verbos juntos, usam de “tu” para “você”. A língua acabou no Brasil. Com o advento da internet parece que você esta escrevendo em hieróglifos. Quando alguém manda uma mensagem para mim, muitas vezes fico pensando: “O que quer dizer isso?”. Como vou saber que “td” é tarde? Antes que o show acaba, vamos para Piracicaba! Tinha uma música que eu gostava de cantar: “ Vamos Marica vamos, vamos para Jundiaí/ com tudo você vai, só comigo não quer ir”. Essa é uma modinha tradicional que a minha mãe cantava para mim.
Nesses anos todos, tivemos grandes programas de humor, pode citar alguns?
A “Escolinha do Professor Raimundo” foi uma das melhore coisas da televisão brasileira, de humor simples, fino, puro, igual ao mexicano Chaves. Acho que podiamos ter humor bom, como tinhamos naqueles programas de rádio: PRK-30, no Rio de Janeiro tinha o “Balança Mas Não Cai”. Eu acompanhava tudo isso. Meu pai trazia o jornal “O Governador”. Como jornalista entrevistei o Barão de Itararé, Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, também conhecido por Apporelly ( E pelo falso título de nobreza de Barão de Itararé). Fiz a entrevista em um apartamento pequenininho, próximo a Avenida São João, cheio de jornais empilhados, e um formigueiro do tamanho do apartamento, ele montou o formigueiro para ele ver como as formigas vivem. Ele ficava estudando o trabalho das formigas. Ele tinha piadas maravilhosas. Quando a polícia entrou batendo nele, gritou: “Viva a Revolução”, quando a polícia entrou dando cacetada ele gritou “De 30, de 30 !”. Outra grande dele foi que a polícia entrou batendo nele, ele colocou um cartaz escrito na porta: “ Entre sem bater”. Quando estive na última vez com Millor Fernandes, estava a Fafá de Belem, havia um grupo bom de caricaturistas, Millor disse: “Estamos acabando, Juca!”. Nunca mais me esqueci disso.
Você esteve com Nelson Rodrigues?
O vi uma vez, não gostava da maneira como ele se expressava na redação. Mas ele tinha coisas ótimas. Inteligentíssimas. Tinha umas coisas machistas como: “ Nem toda mulher gosta de apanhar, só a normal!”. Não é bem assim! Pelo contrário, acho que a mulher não gosta de apanhar! Mulher gosta de apanhar a carteira do homem!
Como solucionar a situação política, economica e cultural do Brasil?
Fácil. Pintar 120 milhões de brasileiros e jogar na floresta! Uma segunda porssibilidade é mandar cem milhões de brasileiros para o Japão, e eles mandam cem japoneses com alta tecnologia de construção para cá. Ai mandamos outros cem milhões de brasileiros para lá e eles mandam mais japoneses com alta tecnologia para cá. Com isso vamos encher o Japão de brasileiros, vai afundar a ilha! Para alegria dos chineses! Ai vamos para a China e fazemos um negócio da China! Com alta tecnologia japonesa, que é a melhor do mundo!
Há a possibilidade de lançar a chapa Juca Chaves para Presidente do Brasil?
Quero ser Vive-Presidente! Muito melhor! Vice-Presidente faz o que quiser e ninguém está sabendo o que o nosso está faendo. Já percebeu? Já o Presidente todo mundo cai de pau. Essa culpa toda não é da Dilma. É de toda uma equipe de maus administradores, maus economistas, que raciocinaram como pobre, ai vem aquela frase: “Conversa de sapateiro se fala de sola!”, uma frase judaica, pobreza vem do pobre, pobre julgando como pode ficar rico, só pode dar pobreza. Quando Karl Marx e Friedrich Engels previram economia livre, foi para um povo culto, para a Inglaterra ou para a Alemanha, nunca para a União Soviética ou para a China. A China na época era um bando de imbecis em que estudante batia em professor na rua.A União Soviética eram aqueles camponeses todos coitados, e uma elite, que tudo que tem de bom ainda na Rússia, é como o que tem de bom no Brasil do período de Mauricio de Nassau. É o passado, tempo dos czares. Você vai à França, a França de hoje não é a França de Luis XIV, Luis XV, Luis XVI.   Georges-Eugène Haussmann, o Barão Haussmann, entre 1853 e 1870. foi responsável pela reforma urbana de Paris. Ele fez a arquitetura da única cidade do mundo que é toda de quatro andares. Igual a São Paulo, quatro andares acima do possível e imaginável! São Paulo é toda ilegal, completamente. Esse prefeitinho, que já se esperava que não ia fazer nada, fez uma coisa boa, apesar de ser do “partidão”. Ele proibiu novos apartamentos, só agora, mas saiu a lei. No Itaim já iam construir um prédio de 30 andares, colado ao meu prédio que tenho uma vista para a Avenida Paulista. Eu ia morrer. Não deixaram, ele falou, só quatro andares, reposição.Acho já muito. Quando Oscar Niemeyer e Lucio Costa fizeram a Barra da Tijuca era permitido quatro andares no inicio. É o único lugar civilizado do Rio!  A Bahia estava ótima, ai entrou esse petezão e colocou prédio em todo quanto é lugar. Na orla! Todos com aquela cara de prédio de pobre. Pior do que a favela, porque a favela tem mato! Tem verde!Os prédios são favelas sem verde! Eles colocam no anuncio: “Você de frente para o verde”, colocam um coqueiro.
Você gosta de futebol?
Sou torcedor do São Paulo. Fiz até uma música afirmando isso:
 Miau, boa pedida,eu sou um gato,/gato miando nos telhados lá da Augusta./Gato que assusta, gatas que tem,um bom telhado, pois enfim sou um gato bem,/um gato bem, um gato bem, um gato bem./A exemplo do Ricardo Amaral,/sou um gato social,/um bichano disputado/No telhado, porémsendo um gato bem lançado/à velha Novacap/já ouviram o meu miado//Meu nome sai aí a três por dois,/até a rua Augusta, esporte, sociedade pois,/bom São Paulino, fino felino,/não há gata que resista a esse meu miar de artista,/muito em vista,/Na órbita, nos telhados onde eu vou,/fazer a serenata para minha gata do dezoazor,/embora, a plus ultra muito grossa/não entenda a minha bossa/vou miar em teto quente na tangente do conveniente./Miau, miau,/miau miau/sou um gato/social,/miau, miau/miau, miau,/sou um gato social. Sou do tempo de Leônidas, que para mim foi maior do que Pelé. Eu não tenho duvidas, perguntei a vários europeus que conheceram. Ele é para nós é um gênio, um Deus, em 1954 a Hungria teve o melhor futebol do mundo. Ganhava de 7, 8. Perdeu o último jogo para a Alemanha porque a Alemanha conhecia o doping. Um dos aspectos é para quem entra mais dinheiro, futebol tem esse negócio. Futebol sem dinheiro não é futebol. Perde o encanto daquilo tudo. Mas não precisava exagerar fazer um estádio daquele jeito! O Estádio do Corinthians foi uma vergonha! Foi uma doação minha, que sou são-paulino, não temos nada da simpatia do presidente que elege a ele. Um presidente tem que ser neutro. Ele deu três trilhões, ele jogou fora, quantos hospitais se fariam com três trilhões? O que é mais importante?  Política quando entra no esporte acontece o que aconteceu. Sabe lá o jornalista inglês, aquele profissional é bom.
Quais são as novidades que você estará apresentando em breve?
Eu estou aguardando os acontecimentos brasileiros. Vou viajar. Pretendo voltar para a Europa, não quero voltar à América, lá já estive por bastante tempo. América é boa para quem quer consumir. Eu quero ver arte. Itamar Franco foi mandado para Itália. Foi adido cultural. Algo que eu gostaria de ser, para ajudar a levantar mais ainda o nome do Brasil. Perguntaram ao Itamar que ele achou de Roma, morando na praça mais bonita do mundo, que é a Piazza Navona, dentro da Embaixada do Brasil, que é a embaixada mais bonita do mundo. Itamar deu seu parecer sobre Roma: Tem muita estátua!
Qual é a sua visão sobre o grande número de partidos políticos existentes no Brasil?
Sou a favor de dois partidos apenas. Na Suécia existe isso, todo candidato tem que fazer um concurso para entrar. Você quer ser vereador em Piracicaba, tem que prestar um exame. Quantos ônibus, ambulâncias, hospitais, delegacias, a cidade tem. Você tem que saber para ser vereador. Mandar um Tiririca pare ser deputado federal! Não sabia nem escrever, aprendeu no dia! Não que ele seja mau, talvez ele tenha o principio democrático melhor do que muitos. Mas não pode ter, ele nunca leu nada. Ele era divertido. Mais um palhaço no Brasil! Quando fiz a musica “Fim do Mundo Vem Aí” eu canto:“ O mês de dezembro, 21 esse é o seu dia, já em outubro se me lembro, a eleição virá, sorria! Candidato Tiririca, filósofo tão profundo, declarou pior não fica, e ficou, é o fim do mundo! Nem Àfrica, nem Europa, nem tão quente, nem tão frio, teremos a nossa copa, para o Galvão gritar Brasil nos estádios sem escolas, quem paga as obras em agosto, nunca o governo, ora bolas, somos nós pagando imposto. Agredimos um suiço, boa coisa ele não é, Dona Dilma ouvindo isso, revidou o pontapé, seu atraso é que aborrece, presidenta não confunda, politico é que merece um solene pé na bunda.”
Juca você canta descalço, qual é o motivo?
Virou habito. Quiano comecei a cantar, no Clube Pinheiros eu cantava descalço, em um caramanchão, ai comecei a fazer televisão, ficava descalço. Cantei para o Juscelino Kubitschek fiquei descalço, ele tirou o sapato, ficou de meia, posso ficar descalço, agora é um problema quandoé inverno, peguei quase pneumonia, ponho um aquecedorzinho no pé. Mas eu quero ficar descalço. Ai tenho que colocar bota. Ai eu digo: “-Um homem inteligente calça as botas e bota as calças. Muita gente diz: “Vejo você na rua calçado!”. Claro. Eu durmo descalço, na minha intimidade estou descalço, canto descalço, mas não ando descalço na rua!
Isso é só divertido?
Só divertido, mais nada. O Brasil é um país divertido hoje, é carnaval! É o que disse aquele jorrnalista inglês, enquanto vocês ficam “samba, samba”, o Brasil está sendo espoliado, roubado e ninguém pode fazer nada. Porque o próprio governo está roubando. Em uma casa, se o pai roubar, a mãe roubar, o filho irá roubar! É uma questão de educação! Um dia perguntaram-me, qual era o livro qeu eu teria o orgulho de ter a assinatura do autor. Falei: a Bíblia!
Juca Chaves, gostaria de deixaruma mensagem aos leitores e ouvintes?

Tenho uma teoria muito importante que gostaria de torná-la publica: “ Depois da tempestade vem o tsunami” (muitos risos). 

JURANDIR BEZERRA MACHADO (DIDI)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 07 de fevereiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: JURANDIR BEZERRA MACHADO
O relato de Jurandir Bezerrra Machado, o Didi, filho de humilde família brasileira do Estado da Bahia. Sua trajetória bem marcada no campo profissional sua dedicação e lealdade para com a empresa onde galgou seu sucesso profissional. Um dos primeiros funcionários contratados quando a empresa ainda apenas trazia algumas peças do exterior até tornar-se diretor de uma das maiores indústrias do Brasil, instalada em Piracicaba. Um relato vibrante de uma vida de fé, honestidade e muito trabalho.
Jurandir Bezerra Machado nasceu a 28 de agosto de 1935, nasceu em Formosa do Rio Preto, próxima a Barreiras, na região oeste da Bahia. Jurandir após 75 anos de ter deixado Formosa do Rio Preto esteve em visita a sua terra natal. Filho de Eurípedes Rogério Machado e Clotildes Bezerra Machado, que tiveram nove filhos: Eulina, Eunice, Evani, Antonio, Ivo, Jurandir (Didi), Vidal, Maria e Noêmia.
Com que idade o senhor veio da Bahia para o Estado de São Paulo?
O meu avô e seus cinco filhos fugindo da seca, estavam sempre a procura de um local menos árido.
O pai do senhor decidiu deixar a atividade rural e arriscar uma vida nova?
Tínhamos alguns parentes em Andradina, cortavam cana, apanhavam algodão, convenceram meu pai a vir para cá. Nessa época eu tinha uns quatro anos. Quando chegamos nosso destino era Andradina, mas como a maioria dos migrantes do Norte fomos recebidos na Casa da Migração, que ficava na Rua Dr. Almeida Lima, mantida, ao que consta, pelo Governo do Estado de São Paulo. Na Rua Visconde de Parnaíba ficava a Casa do Imigrante, para os que vinham da Europa. Permanecemos lá uns três dias , com cama e mesa por conta do governo. Pela primeira vez na vida comemos batatinha. Passamos por exames médicos , sendo muito bem tratados.Os fazendeiros da região, querendo mão de obra, iam para a Estação da Luz, na Casa da Migração, era uma espécie de salão onde as pessoas ficavam hospedadas, Naquela época mão de obra era muito procurada. Isso foi por volta de 1940.
Essa viagem da Bahia até São Paulo foi uma verdadeira aventura?
A uns 25 quilômetros adiante de Formosa de Rio Preto, meu avô conseguiu encontrar umas terras onde se desenvolveu. Para chegar até lá usávamos cavalo, jegue. Andando no mato, não havia estradas. Meu pai e os filhos se organizaram, quando ele decidiu sair de lá ele não tinha dinheiro para viajar para São Paulo, o filho mais velho tinha 13 anos e a filha mais nova dois meses. Só muitos anos depois é que pudemos avaliar como meu pai foi organizado. Ele não tinha a intenção de deixar a família e vir sozinho para São Paulo. Ele conversou com meu avô, pai dele, plantou milho, mandioca, cana, tudo que pudesse plantar colher e estocar. Fez rapadura, colheu arroz, feijão, usando carro de boi ele transportou por esses 25 quilômetros até a cidadezinha. Foi deixando na beira do Rio Preto, na casa de um amigo. Quando acabou a colheita, e ele tinha toda a mercadoria, com meu irmão ele foi aos buritizais, cortar buriti. Cortaram mais de mil peças de buriti, é uma espécie de coqueiro. Com esses buritis ele foram montando uma balsa. Para descer o Rio Preto. O caminho normalmente feito pelos baianos era ir a cidade da Barra, embarcar em um vapor do Rio São Francisco, ir até Minas Gerais e depois chegar em São Paulo. Com mais dois ajudantes, meu pai construiu a balsa, colocou toda a mercadoria que tinha produzido e estocado, fez uma na balsa uma pequena casinha para a minha mãe e para a criança mais nova, carregou com saco de arroz, saco de alimentos, e deixaram a balsa descer o rio, foram uns 10 dias de viagem, percorrendo uns 400 quilômetros aproximadamente. Desceu o Rio Preto, que deságua no Rio Grande, até chegar no Rio São Francisco. Quando chegamos no Rio São Francisco estávamos Próximos a cidade da Barra. Portanto viajamos de carro de boi, na balsa fabricada pelo meu pai, na Barra meu pai vendeu o resto da mercadoria, até a balsa, gostaram tanto que compraram também. Meu guardou um pouco de mantimento para se sustentar na viagem. Com esse dinheiro ele pagou a passagem do vapor, indo até Minas Gerais. Em Minas conhecemos algo estranho: o trem de ferro! Dormíamos no próprio pátio das estações, para passar a noite e pegar outro trem pela manhã. Meu pai colocava as esteiras no chão e dormíamos sobre elas. Assim chegamos a São Paulo.
Após permanecer em São Paulo por alguns dias qual foi o destino que a família seguiu?
No terceiro ou quarto dia , fomos até a Estação do Brás, tomamos o trem de subúrbio da SPR ( São Paulo Railway) desembarcamos na Estação da Luz, saímos pela Rua Mauá e chegamos a estação Sorocabana, atual Julio Prestes, um fazendeiro inglês, Seu Lex, que tinha uma fazenda em Assis,  ele viu meu pai, que era um baiano forte, sacudido, ele gostou do jeito do meu pai, convidou para ir trabalhar em sua fazenda. Quando meu pai apresentou a nossa família, o inglês pos a mão na cabeça, disse: “-Tudo isso?”. Assim fomos para Assis. Quando chegamos lá, deram ao meu pai uma área plantada com café, que ficaria sob sua responsabilidade, e deram u pedaço de terra para meu plantar para seu próprio consumo. Meu pai querendo sempre o melhor para nós, embora soubesse apenas fazer as quatro operações somar, subtrair, diminuir e multiplicar. Ele sempre dizia que tinha ido para São atrás de: trabalho, saúde e educação. Após permanecer dois anos em Assis nossa família mudou-se para Andradina, onde tinha dois primos que residiam lá. Em Andradina ele trabalhou na lavoura de algodão. O sonho de meu pai era vir para a capital, São Paulo.
Ele acabou vindo para a cidade de São Paulo?
Quando eu tinha uns seis para sete anos mudamos para São Paulo. Desembarcamos na estação Sorocabana, na Vila Anastácio, Rua Alvarenga Peixoto. Eu com seis anos, meus irmãos com 7, 9 e 13 anos, para ajudar, havia uma fundição grande, a Sofunge, junto aos detritos, areia, vinha uma borra de ferro, aquilo tinha valor, nós estávamos no período da Segunda Guerra Mundial. Naquela época havia muito estrangeiro. Encontramos um grupo de hungareses naquela região. Estavam na escola conosco.
O senhor estudava em que escola?
Grupo Escolar Dr. Reinaldo Ribeiro da
Silva, minha primeira professora foi Dona Gioconda. Estudava a tarde e na parte da manhã ia procurar de sucatas. Quando morávamos na Bahia meu pai fazia de tudo, consertava, fazia sapatos, ele que fazia os sapatos que usávamos. Era uma pessoa muito habilidosa. Em São Paulo começou a trabalhar como ajudante de caminhão em uma grande serraria que existia nas proximidades da estação Sorocabana. Meu avô materno, chamado Miguel Bezerra, ( O avô paterno era o Rogério Machado), veio nos visitar em São Paulo, e viu no que o meu pai estava trabalhando. Ele então disse: “- Eurípedes, você não pessoa para trabalhar como empregado dos outros, lá você fazia de tudo! Aqui você está em uma capital tão grande, porque você não compra e revende mercadorias?” Naquela época a Rua 25 de Março já era muito famosa. Isso por volta de 1943.  Compraram umas coisinhas, pronto, meu pai virou mascate. A maior parte da vida dele trabalhou como mascate. Ele comprava roupas na Rua 25 de Março, na Rua José Paulino, saia vendendo de casa em casa. A pé ele ia pela Vila Anastácio, Presidente Altino, Osasco, Toda aquela região. Com isso as coisas foram melhorando. Minhas irmãs todas trabalharam como empregadas doméstica. Meu pai e eu pegamos o bonde na Lapa, fomos até o Mercadão (Mercado Municipal de São Paulo), lembro-me que era o bonde aberto. Eu ia, por exemplo, em uma banca de bananas, pegava em consignação umas bananas colocava em uma cesta e ia de casa em casa vendendo banana. Nessa época devia ter sete a oito anos. Vendi caixinhas de uva passa. Meu pai comprava, eu vendia, ficava com o lucro e devolvia o capital que ele havia investido.  Uma noite eu estava dormindo, morávamos todos em um quarto só, meu pai havia dividido com panos, era um cortiço onde havia sete famílias, morávamos bem mal mesmo. Estava chovendo, olhei quem estava mexendo em nossa porta, era um jornaleiro que passava a noite entregando jornal nas casas.  Estava tomando chuva. Pediu para ficar ali encostado. Comecei a conversar com ele, quanto ganhava, quanto entregava, logo perguntei se não tinha vaga para mim. Ele então me propôs, tinha que fazer a rua inteirinha, eu deixo os jornais aqui, você entrega para mim e ganha tanto para fazer isso. Avisei minha mãe, meu pai, todo dia ele chegava com os jornais, batia, eu ia e entregava. Eu não via nenhum dos leitores dos jornais, eles ainda estavam dormindo. A única pessoa que via era o padre, ele acordava cedo, quando eu chegava lá ele já me chamava: “Oi baianinho! Boas notícias?”. Era o úco que me dava uma gorjeta, ele me dava um passe de ônibus. Era o Padre Arnaldo. Ele me dava café. Até que um dia ele me chamou e perguntou-me em que local eu morava. Disse-lhe que morava na Rua Alvarenga Peixoto,166. Ele então me disse: “Menino, nunca vi você na missa!”. Respondi-lhe: “É seu padre, eu sou protestante!”. Vi que ele não gostou. Em conseqüência da minha confissão, perdi o único dinheirinho que ganhava como gorjeta. O padre não abriu mais a porta, não me deu café e nem o dinheiro! Essa foi a primeira discriminação que passei! Tive outras mais tarde: por ser baiano, pela minha baixa estatura, por ser briguento.
Fazia muito frio nas madrugadas paulistanas?
Tinha madrugadas muito frias, minha mãe adquiriu um casacão, cumprido, usado, lá pelos lados da José Paulino ou 25 de Março. Quando eu usava diziam que era o Duque de Caxias, davam muita risada.  Quando eu chegava o pessoal já dizia: “-Olha o Didi com o Duque de Caxias!”. Com isso meu casacão ganhou o apelido de Duque de Caxias. Um dia tomei uma chuva danada, pendurei o “Duque de Caxias” para secar, lá fora. Eram sete famílias que moravam naquele cortiço, roubaram meu “Duque de Caxias”. Minha mãe era muito caridosa, tinha um deficiente físico que usava uma cadeira de rodas, não tinha ninguém que o empurrasse para pedir esmolas nas casas. Um dia ela me chamou e disse-me: “-Didi, você vai fazer um favor para aquela pessoa. Umas duas vezes por semana você ajuda-o empurrando a cadeira de rodas”. Passei a empurrar esse homem, era uma rua de terra, ia a uma casa, pedia uma esmola para fulano de tal, davam. Atravessava a rua, a mesma coisa. Ele não deixava passar uma casa. Quando eu o deixava na sua casa ele só me dizia: “Obrigado! Deus te pague!”. Eu ficava esperando alguma coisa, mas nunca peguei um tostão dele. Os meus colegas da escola achavam que eu estava ganhando para fazer aquilo. Tinha um que me dizia: ”- Não precisa de ajudante?”. Até que um dia eu não quis mais, falei com o deficiente, ele ficou triste, pediu que eu indicasse alguém. Indiquei aquele colega de escola que tinha se oferecido. Percebi que ele começou a gastar, ter dinheiro, um mês depois o deficiente queria que eu voltasse a ajudá-lo o outro que eu tinha indicado só tinha lhe dado prejuízo. Na minha vida sempre eu dei. Não recebia nada.Chegou um ponto em que chorei com a minha mãe, eu faço as coisa para todo mundo e eles me falam: “Deus lhe pague!”. “-Mãe só Deus é que tem que me pagar?”  Minha mãe dizia-me: “ Meu filho, na vida espere somente de Deus! As lute e continue sendo honesto! Deus estará ao seu lado!”. Meu pai era ateu, minha mãe era presbiteriana. Ma minha vida nunca consegui as coisas de forma fácil.
O senhor foi fazer o ginásio?
Eu tirei o diploma do curso primário, meus irmãos eram muito bem considerados na escola, nota máxima em tudo, eu só passava raspando. Nunca repeti na escola. Minha mãe para me compensar um pouco, mandou-me para passar uns meses com meu tio Napoleão, que era tropeiro em Andradina, Ao chegar ele perguntou-me: “-Já andou a cavalo?” Disse-lhe que não. No primeiro dia ele me deu uma égua brava, chamada Grã-Fina. Na primeira montada que eu dei já fui para o chão, machuquei o joelho.Meus outros tios acharam aquilo errado, ele então disse que eu tinha que aprender com as coisas difíceis, não com a coisas fáceis, era a filosofia dele. Se eu der um cavalo molenga, vai andar AM passo manso, o menino vai acostumar assim, por isso dei um cavalo bravo para ele, ele vai lutar com esse cavalo, vai dominar, vai ser bom.Meu tio detestava o medo, foi com ele que aprendi a não ter medo.   Eu tinha 11 anos. Ele disse-me: “-Você vai ser tropeiro comigo!” Comprou-me roupas apropriadas. Como tropeiro, fiquei seis meses com ele, viajava para Andradina, Mato Grosso, Três Lagoas. Dormindo no mato.
Após seis meses o senhor voltou para a casa dos seus pais, mas já não era mais um menino como antes?
Voltei bem mais maduro, muito corajoso. Um amigo do meu pai arrumou um emprego na empresa Western‎, minha função era entregar telegramas, ela ficava bem no centro de São Paulo, no Largo do Café. Usava uniforme, amarelinho com bonezinho, falavam eu o salário era baixo mas ganhava-se muita gorjeta. O prédio Martinelli eu subia inúmeras vezes ao dia. Nunca ganhei uma gorjeta, eu dizia, “-Pai, deve ter alguma coisa errada comigo!”. Meu cunhado trabalhava em uma fábrica, e me levou para trabalhar lá. Fui trabalhar como office-boy em um escritório de engenharia. Era a fábrica Codiq. Um dos diretores da companhia era Dr. Purm, de aproximadamente 60 anos. Ele tinha certas manias, uma era  que diariamente limpava os bolsos e jogava moedas sobre a sua mesa. Eu arrumava sua mesa todos os dias eu arrumei uma caixinha na qual punha as moedas e coloquei-a no fundo da última gaveta da mesa dele. Todo dia era assim, uma moeda hoje duas ou três amanhã e eu ia guardando. O pessoal gostava muito de mim, porque eu era esperto, ajudava todos e trabalhava em algumas copiadoras, tirando cópias de desenhos. Um dia ouvimos os Dr. Purm falar bem alto:
“-Estou rico! Estou rico!”. Fui até a mesa dele onde já estava o vice-diretor,. Alguns projetistas, todos curiosos em saber o que tinha acontecido. O alemão mostrou a caixa cheia de dinheiro e disse: “- Puxa! Estou rico! Encontrei na minha gaveta. Como é que esse dinheiro veio parar aqui?.A responsabilidade da mesa e das coisas dele era minha. Eu disse-lhe: “-Esse dinheiro é do senhor!. Todos os dias quando vou limpar a sua escrivaninha encontro algumas moedas. Então fui pondo na caixinha!”Uma hora depois ele me chamou: “-Menino, venha aqui!” Olha gostei muito, você é um menino honesto, trabalhador, você precisa estudar”.  Respondi-lhe que pelo fato de ser de família pobre não tinha dinheiro. Ao que ele me disse: “-Por que não entra no Senai? Eu já tinha ouvido falar nessa escola. Naquela época o regime de estudo era o de dias alternados, ou seja um dia , aprendendo no Senai e outro dia , trabalhando na fábrica. O Dr. Purm insistiu: “-Vá procurar a seção de pessoal e fale que eu quero que você vá estudar!”.. Orientado pelo Dr. Purm fui estudar mecânica., iria ser torneiro mecânico. Ele perguntou-me o que dia da semana era aquele. Respondi-lhe que era sexta-feira. Perguntou-me se não ia ao cinema? Disse-lhe que não. Foi quando ele disse-me que já sabia, eu não tinha dinheiro. Ele enfiava a mão na caixinha e dizia: Isso dá para o cinema e comprar sorvetes e doces. O Dr. Purm foi fazendo isso toda as sexta-feira. Você está com o cabelo muito grande, precisa cortar, e dava dinheiro da caixinha. Fui então estudar no Senai, até que chegou o momento em que tive que ir para a fábrica. Esse homem me fez justiça. Tinha sido a primeira vez que meu trabalho tinha sido reconhecido. Certa vez ao perguntar sobre a minha família ele me propôs: “-Menino, você quer morar comigo? Eu não tenho filhos. Você vai ser meu herdeiro. Somos apenas eu e minha mulher e já estamos velhos. Não temos ninguém aqui nem na Alemanha. “- Quero conversar com seus pais”. Chegando a minha casa falei com meus pais sobre a proposta do Dr. Purm. O alemão iria me colocar em faculdade de primeira linha, além de estudar estaria rico, seria seu herdeiro entre outras coisas de um palacete da City Lapa. Minha mãe não concordou. Disse-me “ –Meu filho não! Quero meus oito filhos comigo! Somos pobres mas felizes, trabalhadores. Então por mim não! A não ser que você queira... Porque é o seu futuro...sua vida...” Respondi-lhe:  “-Não mamãe, . prefiro estar coma a senhora, papai e meus irmãos. Quando dei a resposta ao Dr. Purm , vi bem que saíram lágrimas dos seus olhos. Isso marcou muito a minha vida. Tive a oportunidade de ser rico e não a aceitei. Porém minha satisfação foi, pela primeira vez , até aquela idade de 13 anos , ter sido reconhecido. Era a primeira vez que havia recebido em troca o que tinha feito de bom para as pessoas.  
Após o senhor ter recebido a proposta de ser adotado por um casal de alemães, sem filhos ou herdeiros, que queriam ajudá-lo como filho, com recursos financeiros e possibilidades de estudos, qual foi a próxima etapa na vida do senhor?
A proposta era tentadora, não só pelo aspecto material, mas por sentir que Dr, Purm e sua esposa tinham um carinho sincero por mim. Eu os estimava muito. Logo em seguida meu avô paterno vendeu seus bens e mudou-se para Goiânia, convidando meu pai para ajud´-lo nos negócios em Goiânia. Meu pai foi com parte da família e eu fui junto. Com isso perdi o contato com Dr. Purm e sua esposa. Quando fui para Goiânia faltava seis meses para receber o diploma do SENAI. Na minha vida só tive quatro anos de escola e dois anos e meio de SENAI. Em Goiânia permaneci algum tempo, até que voltei para São Paulo e fui trabalhar como torneiro mecânico. Em u ano passei por diversas empresas. Até que cai na Caterpillar.
Como senhor ingressou na Caterpillar?
Foi através de um amigo de infância, o João.  Um dia o encontrei na rua, ele tinha feito o curso de desenho mecânico, ele disse-me: Está abrindo uma firma americana, eles vão construir uma grande fábrica, vão construir tratores. Já começaram a contratar pessoal, os primeiros que estão contratando são os projetistas, logo terá a fábrica, eles irão contratar funcionários.
Em que ano foi isso?
Foi em novembro de 1957. Na época ela situava-se na Vila Leopoldina. Era mais um depósito, as peças de reposição eram importadas. Não fabricava nada. Compraram um torno,uma frezadora e outras cinco máquinas, para começara fabricar alguma coisa. Fui o primeiro torneiro mecânico a ser contratado pela Caterpillar no Brasil, foram contratados no mesmo dia cinco funcionários: Um na fresa, outro na furadeira,  cada um em uma função.
A fábrica situada em Santo Amaro já estava em projeto?
Já estava no término a construção da fábrica de Santo Amaro, antes de terminar a construção nos mandaram para ajudar, a montar, desmontar.
A primeira máquina fabricada no Brasil pela Caterpillar o senhor lembra-se qual foi?
A primeira máquina foi a D12-E. Era uma moto niveladora.Eram fabricadas dez máquinas dessas por mês. Era u grupo pequeno de funcionários, uns quarenta a cinqüenta
O índice de nacionalização era pequeno?.
Era mais a parte de peso, não de tecnologia. Na época a política de estímulo do governo era sobre o peso da máquina. Eu fazia de tudo, e comecei a aprender. Comecei a divergir de alguns procedimentos que eram mandados que fossem feitos. Eu achava a minha maneira de fazer e eles iam mudando. Até que eles começaram a depositar cada vez mais credibilidade em mim, eu fui crescendo. Se olhar na minha carteira profissional está clara a minha ascensão na empresa.  Tive um problema de saúde, fiquei um ano afastado, a empresa sempre me apoiou muito.
O senhor chegou a que cargo máximo na Caterpillar do Brasil?
Entrei como ajudante, fui encarregado, supervisor, supervisor geral, a fábrica aumentando, após a minha doença, retornei e fui trabalhar no departamento de engenharia de fábrica, com os engenheiros. Eu tinha uma grande vantagem: a pratica.Após seis meses me deram  cargo de supervisor na engenharia. Um ano depois passei a ser supervisor geral na engenharia. Era chefe dos engenheiros. Depois passei a superintendente. Fiquei mais seis meses afastado por motivo de saúde. Fu trabalhar de muletas. Meu chefe dizia para que eu ficasse em casa, eu queria trabalhar. A recomendação foi de permanecer apenas no escritório. Nessa época começo a construção da fábrica da Caterpillar em Piracicaba. Um alto executivo da empresa,me chamou, disse-me: “-Estou fazendo uma alteração no topo tenho uma posição que é gerente de estudos de viabilidade técnico econômica da empresa, é o planejamento avançado. É um departamento no mesmo nível de diretor só que reporta-se ao vice-presidente. Quero que você ocupe esse cargo. A principio disse-lhe que não achava muito interessante, eu era forte onde tinha atuado até o momento, agora fazer plano para o futuro, plano para dez anos! Ele argumentou que eu teria uma equipe muito boa. Você pode montar a sua equipe. O projeto envolvia unir as duas fábricas, mudar toda a fábrica de São Paulo, esse era o meu plano principal. Sem perder um trator, sem perder um tostão. Com toda logística.
Em que ano o senhor deixou de trabalhar na Caterpillar?
Eu procurei meu superior e disse-lhe:”- Vocês não precisam mais de mim, o planejamento avançado que eu fazia hoje é realizado nos Estados Unidos.  Simplesmente me deram toda a engenharia de fábrica! Sai do planejamento avançado e fui para a engenharia de fábrica. Tudo que estava relacionado a engenharia estava sob a minha responsabilidade. Inclusive construções. Eu tinha que construir aqui, fazer a mudança e fazer o planejamento futuro de outras ações. Disse ao meu chefe que achava que eu estava na hora de deixar a empresa. Ele respondeu que no dia em que eu lhe entregasse a chave da fábrica de Santo Amaro ele me mandaria embora. Quando fechei a fábrica de Santo Amaro, disse-lhe: pronto, pode me dispensar! Sua resposta foi de que eu iria, mas antes ia trabalhar com ele ainda. Terceirizei toda a engenharia da Caterpillar, com isso fiquei mais 12 anos trabalhando lá. Tinha mais de uma centena de funcionários só da parte de engenharia. Todo suporte de fabricação. Construção, reformas. Em 2003 já estava cansado. No total fiquei uns 46 anos trabalhando na Caterpillar.
O senhor fala inglês?
Falo fluentemente. Aprendi estudando muito, sozinho e em escola. O inglês me ajudou muito.  Fui aos Estados Unidos várias vezes. Estive nas diversas fábricas da Caterpillar nos Estados Unidos.
Hoje o senhor realiza palestras?
Como ombudsman (ouvidor) empresarial, tenho como função estar dentro das empresas, é o ouvido e os olhos do presidente da empresa. Quando eu comecei a trabalhar nessa atividade, lembrei-me do passado, quando queria as respostas e não as tinha.
O senhor tem vários livros escritos, quais são os temas e objetivos?
Não são livros de auto-ajuda, mas cujo objetivo é encaminhar as pessoas e suas vidas. Narro um fato acontecido comigo e depois digo o porquê de contar aquela história. Mostro mundos diferentes. Quando você é um estudante é um estudante, está aprendendo. Quando estiver com o diploma e for para o mercado, você estará indo para a guerra. O livro, um amigou leu e fiz-lhe um comentário: Você notou uma coisa? Não falei nenhuma vez sobre ética. Foi quando ele respondeu-me: “-Tudo que você escreveu aqui é uma lição de ética!”. Quando via coisas erradas ou sem sentido deixava evidente minha opinião.
O senhor é casado?
Sou casado com Dirce Rodrigues Machado, temos três filhos: Robson, Raquel e Regina.
Quantos livros o senhor já escreveu?

O primeiro foi “Desbravando Fronteiras”. Foi traduzido para o inglês. Fiz mais dois volumes, alternando a narrativa. A Dra. Antonietta da Cunha Losso Pedroso, foi uma grande incentivadora. Eu e minha esposa nos tornamos amigos de Antonietta e ela sempre dizia: “- Didi, você precisa publicar um livro com suas histórias! É uma melhor do que a outra! Você pode ajudar muitas pessoas e, principalmente, os jovens estudantes e empresários”. 

PAULO DE TARSO PORRELLI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 janeiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: PAULO DE TARSO PORRELLI

Paulo de Tarso Porrelli nasceu a 7 de maço de 1961 em Piracicaba, na Santa Casa de Misericórdia. Filho de Arcanjo Porrelli e Maria José Moroni Porrelli, que tiveram os filhos: Vera Lúcia, Maria de Fátima, Marcos Paulo Vinicius e Paulo de Tarso. Seu pai foi Assistente Social, Professor de Latim e Português do Senai. Ele faleceu no dia 2 de março de 1969, aos 48 anos. Paulo de Tarso Porrelli é casado em segundas núpcias com a advogada Maria Esperança Marianno.
Em que bairro a família residia?
Morávamos a Rua Prudente de Moraes, em um daqueles sobradinhos entre a Rua Bom Jesus e Rua São João. Depois moramos um bom tempo na Rua Bom Jesus. Em 1969, quando meu pai faleceu mudamos para a Rua Ipiranga onde permanecemos até 1975, quando mudamos para o Edifício Prudente de Moraes esquina com a Avenida Armando de Sales Oliveira. Eu fui trabalhar em São Paulo e a minha mãe permaneceu nesse local até oito anos atrás, quando passou a morar com a minha irmã Vera Lúcia.
Você freqüentava igreja?
Freqüentei a Igreja Bom Jesus, depois a Catedral de Santo Antonio onde fiz a minha primeira comunhão. Participei do Movimento Jovem no Colégio Dom Bosco. A Rua Ipiranga marcou muito a minha adolescência, foi um grande carrossel, uma escola. Morávamos no número 360. Não existia nem o SESC ainda. Era amigo de infância da família Negri, do grande fotógrafo Davi, do seu pai Paulo, das famílias Guerrini,  Bortoletto.
Quais escolas você freqüentou?
O primeiro ano estudei no Instituto Marta Watts. Eu ia e voltava com a minha professora Márcia, já falecida. Foi a minha primeira professora.  A Unimep Centro estava sendo construída. Após o falecimento do meu pai fui para a Escola Prudente de Moraes onde estudei por seis meses. Era no tempo ainda em que as carteiras eram ocupadas por dois alunos, lembro-me que a filha do Dr. Odair Bortolazzo dividia assento comigo. Não peguei o tempo da caneta tinteiro, mas tinha na carteira o buraco onde era encaixado o vidro de tinta. De lá fui estudar no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, estudei com o Francisco Roberto Cabrini com quem eu trabalhei mais tarde, ele me ensinou a fazer televisão, trabalhei com ele 5 anos na TV Bandeirantes. Quando conclui o curso primário no Barão do Rio Branco fui para o Sud Mennucci e terminei o colegial no Colégio Dom Bosco. Tanto no Sud como no Dom Bosco toquei nafanfarra, sempre gostei. Participei de competições de fanfarras. O meu instrutor de fanfarras no Sud Mennucci era o Helinho, hoje é colega da Ana Boatafogo Nascido em Piracicaba, Hélio Bejani mora no Rio de Janeiro há 26 anos. Atualmente é o diretor do corpo de balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde já foi primeiro bailarino. O Hélio foi Guarda-Mirim, era trompetista. Ele é um exemplo de sucesso do trabalho da Guarda-Mirim de Piracicaba, que está sendo resgatada agora. O Maestro Isaac Karabtchevsky em uma de suas palestras falava da importância da preservação de coretos, de bandas marciais, de fanfarras, de bandas como é a União Operária aqui em Piracicaba, são preciosidades que as cidades do interior têm. Eu costumo dizer que vivemos em um universo multimídia que atropelou a humanidade, as pessoas não estão sabendo o que fazer com tanta informação, com tantas opções de escolha. Como diz muito bem Washington Olivetto as redes sociais já existiam nas cadeiras nas calçadas com as nossas tias e vovós tricotando, conversando. Só que olhos nos olhos.
Piracicaba é privelegiada em muitos aspectos com relação a cultura.
A Secretária Rosangela Camolesi está criando o Museu da Imagem e do Som, para guardar acervos preciosos, Piracicaba tem grandes talentos, grandes cabeças. Salão Internacional do Humor. Salão de Belas Artes. A Rádio Educativa é um tesouro.
Voltando a nossa linha do tempo, quando jovem, em Piracicaba, você trabalhava?
Sempre trabalhei! O primeiro emprego com registro em carteira foi no Hospital Cesário Mota, como auxiliar de pratice terapia, uma terapia de práticas manuais. Nessa época eu tinha de 16 para 17 anos. Eu tinha de cinco a seis chaves na mão para chegar ao setor, era perigoso, havia ferramentas, alguns pacientes gostavam de ficar ali. Era um barril de pólvora. Funcionava na Rua do Trabalho. Para a minha idade era uma experiência muito pesada. Até hoje tenho recordações de coisas inaceitáveis. Era uma unidade exclusivamente masculina. De lá fui trabalhar com o Chico na Libral. Uma grande pessoa. A Libral situava-se em frente a Rádio Educadora. Após uns seis ou sete meses fui trabalhar no Banco Nacional, situado na Rua Prudente de Moraes esquina com a Praça José Bonifácio.  Até que aparece o radio em minha vida, eu vivia na loja Som-6 situada na Galeria Lucia Cristina, a Silvana, esposa do Christiano Diehl era a gerente. Como eu não tinha dinheiro para adquirir discos, mas como sempre fui apaixonado por musica, estudei na Escola de Musica uma época, fui bolsista lá, sempre gostei de percurssão. Eu ia na Som-6, colocava um disco e ficava escutando, a Silvana sabia que eu gostava, deixava. O Marcos Turolla da Rádio Difusora sempre ia lá. Começamos a trocar idéias musicais até que ele me perguntou: “-Você já entrou em uma rádio?” Ele então disse que quando quizesse poderia ir até a Difusora para conhecê-la. Era tudo que eu precisava! Apareceu a oportunidade, virei 'disc-jockey'!  (Profissional que seleciona e "toca" as mais diferentes composições, previamente gravadas ou produzidas). O primeiro programa de FM ao vivo em Piracicaba foi o Lair Braga e eu que fizemos quando o Lair saiu da Joven Pan, chamava-se “Roller Skating Music”. Roberto de Moraes já era reporter. Isso foi nos finais dos anos 70. Já escrevia algumas coisas para a Tribuna, tinha um link com o Evaldo Vicente, o Mestre. Esse é o Mestre mesmo! Eu tinha uns 18 a 19 anos. Dentro da Difusora estava conversando sobre a minha indignação de uma conta de luz que eu considerava injusta. O nosso querido Jaime Luiz da Silva disse-me: “-Vamos lá no ar! Vamos falar!”. Foi quando me disse: “Você tem que ser repórter menino! Tem eloquencia! Fluência!”. Comecei a pegar o gosto, fui reporter de jornalismo,  era o “Jornal da Difusora”, levado ao ar na hora do almoço e a tarde também. Trabalhei com Edirley Rodrigues. Meu nome é Paulo de Tarso, meu apelido é Lo. O pai de um amigo, Seu Lastória começou a brincar comigo e a me chamar de Lo. Acabei usando o nome “Lo Porrelli”, como nome artístico. Na Difusora fiquei de 79 até 84, uns cinco anos mais ou menos, conheci Dona Maria Conceição Figueiredo, José Soave, Waldemar Bília, Atinilo José, Garcia Neto, Orlando Murillo, Ary Pedroso, Benedito Hilário, Tarcisio Chiarinelli. Até que a vida andou, o Jamil Netto fundou a Rádio Educativa,  trabalhei com o Benedito Hilário na Rádio Educativa quando o Jamil montou a Rádio Educativa, que na época funcionava junto ao SEMAE. Lembro-me que o Jamil disse-me que “Lo Porrelli” não era um bom nome, parecia mais nome de boutique. “-Seu nome é Paulo de Tarso Porrelli!”.
Que instrumento você tocava na Escola de Musica?
Estudei um ano e meio, fagote, com o Paulo Giusti.
Você foi para São Paulo em que ano?
Fui para São Paulo no final de 1989. Fui trabalhar na Jovem Pan, na Avenida Paulista, 807, 24 andar, Edifício Winston Churchill. Lembro-me que tinha um sapato e uma calça. No primeiro momento fiquei na casa de amigos, aluguei um quarto, fui me virando, conheci o Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o “Tuta”, seu filho, o “Tutinha”. Eu escrevi para o Fernando Vieira de Mello que introduziu no Brasil o estiloAll news”de rádio termo usado para designar uma emissora, seja de rádio, seja de televisão, cuja programação é composta apenas de notícias ou reportagens, ou seja, de cunho apenas jornalístico. Nessa carta que escrevi disse-lhe que estava insatisfeito no interior, queria aprender, trabalhar em uma grande rádio, a Jovem Pan é a minha paixão, eu tinha TRANSGLOBE, um receptor de rádio multibanda fabricado pela Philco Brasileira. Ouvia na Rádio Mundial do Rio de Janeiro “Big Boy Show” e “Ritmos de Boite”.Trabalhei com produções teatrais, trabalhei com o Roberto Diehl no Teatro Municipal, fiz contra-regragem, cenotécnica, fiz backstage que em um show vai desde a preparação e montagem de palco até a execução do mesmo, do som e iluminação. Fazia a  divulgação. Apresentação. Fazia de tudo, tocava percussão em uma banda chamada “Casa Nova”
Financeiramente compensava?
Teve uma época em que vivemos de música. Tinha bailes todos os finais de semana, domingueiras. Fiz divulgação de discos. Toquei em festivais. Inclusive toquei no Festival da Musica Independente, em São Paulo, na Fundação Padre Anchieta, no Teatro Sesc Anchieta da Rua Doutor Vila Nova, 245 - Vila Buarque. Fiz teatro com a Berenice Danelon, participei de produções da Caterpillar, junto com o Studio 415. Sempre estive envolvido com arte, poesia. Sempre escrevi poesia.
Você tem quantos livros publicados?
Tenho um: “Nós de Nada. Uma Belezura de Figura e Palavreado”, ilustrado pelo Palmiro Romani. O segundo livro está saindo agora: “O Som da Pétala Ágata”. Ele é ilustrado pela Carla Durante uma artista gráfica, editora de arte, com quem eu trabalhei na Rede Globo. O prefácio é do Dr. Ivan Amaral Guerrini que é físico quântico pela Unesp e a apresentação do Pasquale Cipro Neto, professor de lingua portuguesa. A Editora é a Palavra Impressa, situada em São Paulo, de propriedade do Julio, um grande parceiro.
Você recebeu alguma resposta da Jovem Pan quando mandou a carta à Fernando Vieira de Mello?
Um dia cheguei no SEMAE na Rádio Educativa, que era FM Municipal, recebi uma ligação do Fernando Vieira de Mello dizendo para que eu fosse até a Jovem Pan em São Paulo. Cheguei lá, ele me disse”-Gostei de você! Vamos para a reunião de pauta!” Fui, estavam lá Maria Elisa Porchat, que escreveu o livro “Radio e Jornalismo na Jovem Pan”, Drauzio Varella, Helvio Borelli, Valmir Salaro, Pedro Bassan, pessoas com condições mais privilegiadas do que a minha que estava começando.  Nos primeiros seis meses viajei de São Paulo à Piracicaba quase todos os dias. Se eu fosse fazer o trânsito já tinha um carro esperando, passava as informações sobre o trânsito, depois ia para a redação, fazia a reunião de pauta, e da-lhe telefone, checagem, reportagem. Marcelo Parada foi meu chefe de redação na Jovem Pan e hoje é diretor nacional de jornalismo no SBT.
Quanto tempo você ficou na Jovem Pan?
Fiquei uns sete anos. Conheci o Seu Brim (Alberto Brim D´ Araújo Filho), era natural da Bahia, locutor, trabalhava no comercial da Pan, era uma pessoa sempre de bom humor, com seu vozeirão ele sempre me dizia: “-Oi Piracicaba! Tudo Manteiga!”. Para ele a vida era tudo manteiga. A Jovem Pan foi uma grande escola, fiz bons amigos. Ai fui fazer assessoria de imprensa, dentro de agências de assessoria de imprensa, escritórios de comunicação, que tem seus clientes, são empresas que contratam essas assessorias de imprensa. Trabalhei com a Câmara de Comércio Suiço-Brasileira, Redes de Hotéis de Santa Catarina, várias editorias na área de alimentos, turismo, política, economia, negócios, finanças, atendia a Zurich Financial que é uma seguradora suiça muito famosa.
Para o profissional de comunicação financeiramente a asssessoria de imprensa é interessante?
Financeiramente é o melhor caminho. Se tiver bons clientes, os resultados são interessantes. Ocorre que assessoria de imprensa é uma cultura pouco difundida. Quem contrata imagina que o assessor de imprensa é aquele que irá dar visibilidade para você desde a hora em que você acorda até a hora em que você irá dormir. A atividade do assesssor de imprensa é administrar fluxos de informação. Tornar a relação entre a fonte e as redações a mais expontânea e produtiva possível para que isso se traduza em algo de interesse público. O que o assessor de imprensa tem que fazer? Detectar no status da empresa e nos seus produtos aquilo que é realmente jornalístico para que se transforme em notas, matérias, entrevistas, artigos, crônicas. Para se ter o melhor aproveitamento de comunicação jornalística.
Paulo, você demonstra ter um conhecimento prático muito expressivo.
Sou autodidata, intuitivo, do batente mesmo. Aprendi conforme a água ia subindo eu saia nadando. Na Bandeirantes trabalhei com Fernando Mitre, José Ochiuso Júnior, piracicabano, Carlos Colonnese um dos maiores produtores de TV, piracicabano, eu era da equipe do Cabrini, produtor e editor. O Cabrini que me levou para a Bandeirantes e me ensinou na prática a trabalhar na televisão. Eu já fazia produção independente para ele, fizemos aquele Globo Repórter com a Jorgina Maria de Freitas (Jorgina Maria de Freitas Fernandes é uma ex-advogada brasileira e ex-procuradora previdenciária. Organizou um esquema de desvio de verbas de aposentadoria).
Como reporter investigativo o Cabrini é um exemplo a ser seguido?
Sob o meu ponto de vista o Cabrini é um dos maiores reporteres da televisão brasileira. Ele é intrépido, não  sossega, é essenciamente investigativo. É um Sherlock Holmes, um 007 do jornalismo. Ele não desiste enquanto não esgota todas possibilidades de uma checagem de uma fonte, de uma pesquisa, um levantamento, uma apuração, ele vai fundo. Nem precisava, ele tem um nome muito respeitado, não precisa provar mais nada para ninguém. Cobriu como jornalista correspondente  sete guerras, muitas olimpíadas, Formula 1, Copas do Mundo, ele iniciou na televisão com 17 anos. Não tem o que ele não faça na televisão.
Depois de sair da Jovem Pan você foi fazer assessoria de imprensa, foi em um único local ou em várias empresas?
Ai eu rodei bastante. Sempre com a base em São Paulo, mas rodando bastante.
Você trabalhou com Washington Olivetto?
Atualmente estou em contato com ele por algumas questões profissionais. Ele está recebendo um prêmio em Nova Iorque. Não tive a felicidade de trabalhar com ele. Conheci o Washington na época da Democracia Corinthiana, com o Magrão (Dr. Sócrates) que me chamava de Geninho. O Casagrande me chamava de Ruminigh.
Você morou fora do Brasil?
Morei um período em Portugal, em 1992, permanecilá por uns seis meses. Foi uma oportunidade de fazer rádio em Portugal.
Qual é a reação dos portugueses ao ouvir um locutor brasileiro, com sotaque brasileiro?
Eles são apaixonados pela nossa eloquencia, pelo nosso ritmo, pela nossa fala. Naquela época estava uma efeverscência em Portugal, por um lado os dentistas, por outro lado os radialistas. Fiquei em Faro, colonizada pelos mouros, depois subi para Lisboa e em seguida fui para Figueira da Foz. Era contrato com prazo determinado. Na época eu não tinha a cidadnia italiana, só tornei-me um cidadão italiano em 1994. Hoje tenho dupla cidania, brasileira e italiana. Na Inglaterra tenho o National Insurance Number. Equivale a receita e ao seguro social brasileiro.
De Portugal para qual pais você dirigiu-se?
Voltei ao Brasil, continuei com meus trabalhos de Jovem Pan, cobrindo estâncias, fazia projetos de inverno e verão com eles,.
Você é um agitador cultural?
Já fui! Até a Rua do Porto, em Piracicaba, em parte tem pouco do meu suor ali. Lembro-me que o Aldano Benneton era da COOTUR enquanto o Alceu Marozzi Righetto era da Ação Cultural. Eu dizia: “- Aldano, me dá um palanque , um som, eu vou lá fazer uns happiness (alegrar). Fazer um varal literário. Artes plásticas. Chamo umas bandas para tocar. Lembro-me que o Faganello ia. A Rua do Porrto era muito diferente do que é hoje, além do Arapuca tinha um ou outro barzinho. Eu fazia uma movimentação enorme já preconizando a idéia do calçadão, aquela movimentação toda, deslumbrando um complexo turístico. Sonho com a volta do bonde em Piracicaba, eu andei de bonde! Em 2004 fui para a TV Bandeirantes com o Cabrini, fiquei no Jornal da Band, só tenho a agradecer a família Saad, a Band é uma excelente empresa. Trabalhei com a Eleonora Paschoal no Jornal da Band, uma profissional fantástica. Aprendi muito, fui muito bem tratado. O Cabrini é um profissional excepcional. Grande companheiro, homem de uma generosidade muito grande. Só tenho boas lembranças da Rede Bandeirantes de Televisão. Permaneci lá por cinco anos. Dai o Cabrini foi para a Record, e eu fui para a Globo, ela já estava instalada na Avenida Doutor Chucri Zaidan, cubri as férias de uma colega que trabalhava no Jornal Hoje, com a Tereza Garcia. O Mariano Boni de Mathis hoje diretor executivo de jornalismo da Rede Globo de Televisão é para mim é um dos mais competentes homens da televisão brasileira. Está lá ha quase 30 anos já ocupou inumeros cargos.
Qual era a sua função na Globo?
Era editor de texto, Primeiro no Bom Dia São Paulo, depois fiz um pouco de Bom Dia Brasil, SPTV1, SPTV2, trabalhei com Sandra  Annenberg, Evaristo Costa, Cesar Tralli, Carlos Tramontina. Ai fiquei locado no Jornal da Noite com William Waack e Christiane Pelajo. Permaneci por 3 anos na Globo. O meu contrato era um contrato de prazo determinado, eu pleiteava uma vaga, é muito dificil porque quem está não quer sair. A Rede Globo é indiscutivelmente uma das melhores empresas do mundo para se trabalhar. Não é o salário. É o conjunto da obra. É o trato humano, como o RH cuida de você, são os benefícios que você tem, é uma grande empresa. O Dr. Roberto Marinho ensinou uma coisa muito importante, e que fique esse legado, as empresas precisam de gente que sabe lidar com gente.
Após deixar a Globo qual foi seu próximo destino?
Fui para a Inglaterrra onde permaneci por dois anos. Aluguei um quarto, em uma casa de uma inglesa, fazia meus trabalhos como free-lancer (profissional autônomo) mandei uns artigos para a Tribuna. Foi um período de calma e reflexão. A essa altura da vida posso dizer que de rádio eu entendo, de TV eu entendo, de jornalismo eu entendo, de assessoria de imprensa eu entendo. Permeiei por campos que me deram condições de saber onde hoje eu ponho ordem na casa. Ergo o telhado, sei onde está a bagunça e rapidamente eu ponho ordem na casa. Sei lidar com as pessoas, gosto do ser humano, porque eu gosto de mim. Tive bons mestres, aqui o Evaldo Vicente, o Fernando Vieira de Mello na Jovem Pan, Augusto Mario Ferreira, já falecido, me ensinou tudo sobre assessoria de comunicação, um dos maiores reporteres que o Globo já teve, o glorioso JB Jornal do Brasil já teve, foi asessor de imprensa do Banco de Tokio, da COSIPA, um dos maiores textos que já vi. Trabalhei com Aureliano Biancarelli da Folha de São Paulo. Eu me sinto contemplado por Deus, agradeço muito, e isso não é um ato político, falo o que meu coração sente, o Ferrato é um homem sensivel, viu em mim um potencial, sabe que desde o dia 5 de janeiro de 2015 eu estou aqui das sete horas da manhã até as sete horas da noite. As coisas foram acontecendo naturalmente, sem atropelo sem ninguém forçar a natureza dos acontecimentos. Entendo muito bem como é a malha social piracicabana. A nossa área é muito dificil. O mercado é restrito. Eu sempre peço a Deus, não quero ocupar o lugar de ninguém, quero apenas o meu lugar. Acho que Deus me ouviu, o Ferrato foi sensível a isso, o Miromar também. Tenho o Evaldo como um irmão mais velho, nem sei dizer como ele me conduziu em muita coisa. Sou um piracicabano que voltei para casa literalmente. O Evaldo fala que foi por amor e pelo amor. Estou perto da minha mãe que está com 94 anos e muito feliz por eu estar aqui. O que peço à Deus? Que me dê saude para ter a maior aplicabilidade do conhecimento que trago lá de fora, técnico, humanístico, profissional à Piracicaba.
Ha quanto tempo você assumiu a direção da Rádio Educativa?
Estou aqui ha duas semanas, acho que já produzi sensíveis mudanças. Tenho o proposito de suprapartidariamente, apartidariamente de prestar o melhor serviço à comunidade piracicabana, aos piracicabanos, a cidade e região, para deixar esta rádio melhor ainda em todos os sentido: técnicamente, jornalisticamente, musicalmente, artisticamente, educacionalmente, a função dela é educativa, deixar essa rádio com uma grade de programação estratificada, junto ao publico de forma equanime, sutil, elegante, gostosa, contemplando as músicas de todas as nações, uma rádio além fronteiras. É uma rádio que vai respeitar muito produções locais, musicos locais, a Pá Moreno já está no ar, vamos tentar radiografar as necessidades com a equipe que temos, e em um curto espaço de tempo promover e despertar os profissionais que estão aqui dentro. É uma equipe maravilhosa, dedicada, temos aqui, Xilmar Ulisses que é um dos radialistas mais experientes que nós temos na cidade, com um programa estratificado que é o “Bom Dia Cidade”, das 7:30 as 9:30. Já estamos fazendo das 9:30 às 12:00 horas só MPB. “Educativa MPB – Os Clássicos da Música Popular Brasileira” Na hora do almoço, herança do Jamil , inteligenmtemente, o  programa “A La Carte” vamos engordá-lo com musicas instrumentais que vão além de Ray Connif, com outros grandes maestros, musicos, Big Bands, anos 30,40. Buscar equilibrio entre música, informação, entretenimento, prestação de serviços. Tudo isso 24 horas no ar. Em breve vou conversar com a tecnologia de informática da prefeitura, logo estarei conversando com a secretária Angela que está voltando de férias, tenho estado diariamente com o Miromar, ele tem um dominio muito grande da comunicação como um todo, ele é o diretor do Centro de Comunicação Social da Prefeitura, um profissional muito experiente, sensível, está me dando toda retaguarda. Tiramos a programação do ar até o inicio de fevereiro, justamente para repaginar, revigorar, voltar com força, alguns programas realocados. Deixar uma grade equilibrada, desengessar. A Rádio Educativa não pode ser oficialesca. Por isso quero pegar o site dela e transformar em um portal com Podcast (nome dado ao arquivo de áudio digital). João Umberto Nassif deu uma entrevista boa para a rádio, pego uma foto sua, aspas, e ponho lá: “-Ouça a reportagem!”. Pego um depoimento seu, isso desdobra no facebook, nas outras mídias, videos com depoimentos, eu quero que o piracicabano se veja e se ouça através da Educativa.
O profissional de comunicação tem que estar sempre atento as minúcias?
Samuel Pfromm Netto dizia: “Infeliz é o jornalista que não sabe da importância de um telefone que está tocando!” Isso na época em que existia “furo”, hoje com o advento da internet muitas coisas mudaram.
Posso afirmar que estou diante de um “monstro sagrado da comunicação”.
De forma alguma! Apenas passei por inúmeras dificuldades e situações onde fui lapidando minhas dificuldades. Eu estava na Inglaterrra e por insistência de uma pessoa muito próxima decidi voltar para Piracicaba, minha terra natal. É a celebre frase de Leon Tolstoi : “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. É um aspecto curioso, algumas pessoas que conhecem a minha trajetória por veículos de expressão nacional, ficam intrigadas ao me verem aqui em Piracicaba, o que para alguns pode a principio aparentar um retrocesso, na verdade é uma opção de vida pessoal, de foro intimo, que eu escolhi, foi uma decisão minha.
Você tem uma passagem muito interessante logo no início da sua carreira.
No vigésimo quarto andar do prédio onde fica a Jovem Pan, você vê toda a zona sul de São Paulo. Estavamos em uma reunião de pauta, com o time de jornalistas completo. A Saldiva Associados Propaganda Ltda. Tinha feito uma campanha para descobrir a cara de São Paulo. A Folha de São Paulo ia noticiar na segunda feira. O Fernando Vieira de Mello ficou sabendo. Estavamos eu e o grande roteirista Valmir Salaro, que hoje é do programa Fantástico, de plantão naquele fim de semana. Seu Fernando ligou agitado na rádio Jovem Pan, pedindo que achasse o telefone da Rose Saldiva. O caipirão aqui foi como um cão perdigueiro procurando. Até que consegui convencer uma telefonista da Telesp a dar o número de telefone de algum Saldiva. A Rose Saldiva era “blindada”. Consegui o telefone de uma pessoa próxima a Rose Saldiva, após muito conversar, e sob a condição de não revelar a ninguém que tinha sido ela que tinha fornecido o número, consegui o número do telefone da Rose Saldiva. As duas e meia da tarde, olhei para o Claudio Mauricio, chefe de reportagem que estava logo atrás de mim. Liguei para a Rose Saldiva, identifiquei-me e a convenci a falar com o Fernando Vieira de Mello. Quando disse que a Rose  Saldiva estava na linha, ninguém na redação acreditou. Era no tempo da máquina de escrever ainda, todos se levantaram, vieram próximos ao telefone. Gravamos com ela, “furamos” a Folha de São Paulo. Na segunda feira eu estava viajando de onibus de Piracicaba à São Paulo, a rádio pagava minha passagem. Fui tirar carteira de motorista aos 27 anos. Durante uma semana a Jovem Pan divulgou o trabalho da Saldiva , mostrando a cara de São Paulo.  O Fernando Vieira de Mello um dia me chamou, no meio da reunião de pauta, tinha umas 20 pessoas mais ou menos, e disse: “Isso é lição para todos nós, moramos aqui, temos empregada, carro, vida estável, e esse menino está dando tanto quanto nós, conta do recado. Ele viaja de onibus todo dia daqui para lá e de lá para cá. São 170 quilometros de vinda e 170 quilômetros de volta, mais as estações de metrô. Esse menino é um exemplo de ética”. Na Rede Globo eu cobri as férias no Jornal Hoje, e a Teresa Garcia me ensinou um termo que eu nem conhecia.  Quando cumpri aquelas férias e voltei para a Bandeirantes, antes de voltar a ser contratado pela Rede Globo, ela disse-me: “ Paulo, muito obrigado, sobretudo pelo seu trato humano com a minha equipe”. Eu estava trabalhando com pessoas traquejadas: Sandra Annenberg, editores de noticias internacionais, de alto nível, repórteres com muito tempo de vídeo, Ernesto Paglia, gente que passa noventa por cento da vida dele dentro da televisão.  Posso afirmar que Pedro Bassan é um dos integrantes mais brilhantes da televisão brasileira. Trabalhei com ele na Jovem Pan, estive com ele em Lisboa quando ele foi correspondente lá.
A exigência de uma formação acadêmica para a profissão de jornalista está sempre criando polemica. Com toda sua experiência, qual é o seu ponto de vista a respeito?
Clovis Rossi faz uma reflexão magnifica: “Jornalismo é um exercício basicamente simples, que depende da boa execução de apenas quatro verbos: saber ler, ouvir, ver e contar. Se alguém acha que ao menos um desses verbos (o ideal seria que fossem todos) pode ser ensinado em uma faculdade de jornalismo, deve mesmo ser a favor do diploma específico. Quem, como eu, duvida dessa possibilidade só pode ser contra. Eu sou. Pegue-se o verbo ler, em ambos os sentidos, o mais primário, de alfabetização para compreender palavras escritas, e o mais nobre, o de gosto pela leitura. No primeiro caso, ou se aprende a ler na escola primária ou nunca mais, salvo raros casos de autodidatas. No segundo, tampouco a faculdade pode ensinar o gosto pela leitura. Ou vem do berço ou se adquire nos primeiros tempos pós-alfabetização. Como não creio que se possa escrever bem sem ler bastante, depender da faculdade de jornalismo para desenvolver esse gosto só fará o profissional chegar ao mercado de trabalho com um deficit talvez irreparável. Alguma faculdade pode ensinar a ver? Ou a ouvir? Duvido. Pode, sim, desenvolver o talento, de todo modo natural, para contar histórias. Mas qualquer faculdade pode fazê-lo, acho. Pulemos da teoria para os fatos concretos. Ricardo Kotscho não fez faculdade de jornalismo. Nem qualquer outra, a não ser depois que já estava solidamente instalado na profissão. Nada disso o impediu de se tornar um dos melhores repórteres de todos os tempos no jornalismo brasileiro. Se, quando eu lhe dei o primeiro emprego na chamada grande imprensa (no "Estadão"), já vigorasse a exigência do diploma, o jornalismo brasileiro teria perdido um imenso talento. Se a obrigatoriedade do diploma valesse nos anos 1960, o jornalismo brasileiro teria ficado sem o gênio de Cláudio Abramo (1923-1987), que foi co-responsável pelas reformas que tornaram o "Estadão", primeiro, e a Folha, depois, os grandes jornais que são. Abramo não tinha diploma algum. Não obstante, foi convidado pela USP para ministrar curso de aperfeiçoamento para estudantes de pós-graduação. Irônico, não? Desconfio que boa parte das equipes com as quais Cláudio trabalhou tampouco tinha diploma de jornalista, o que não impediu que fizessem grandes jornais. Esclareço, antes que alguém suspeite que estou advogando em causa própria, que eu, ao contrário de Kotscho e Abramo, tenho, sim, diploma específico, aliás o único. Mas garanto que aprendi mais, na prática, com gente como Kotscho, Abramo e tantos outros sem diploma do que na faculdade. Um segundo ponto que me leva a ser contra o diploma específico é a evidência de que nem a mais perfeita faculdade de jornalismo do mundo pode ter um currículo que ensine a seus alunos todos os temas que, um dia ou outro, podem lhes cair sobre a cabeça. Não dá para ensinar agricultura e transportes, tênis e política, legislação e teatro e por aí vai. Não dá. Quem pensa em entrar para o jornalismo com um objetivo definido (jornalismo econômico, digamos) deve fazer economia e não jornalismo. Se tiver desenvolvido os quatro verbos-pilares (ver, ouvir, ler e contar), estará mais pronto para a profissão, na área específica, do que se fizer jornalismo. Último ponto: não entro na discussão sobre a diferença entre profissões (medicina, engenharia, por exemplo) que, mal exercidas, podem matar, e aquelas (jornalismo) que não podem e, portanto, não precisam de diploma específico. Jornalismo pode matar, sim, mesmo que seja moralmente. Mas é de uma presunção absurda supor que só faculdades de jornalismo ensinam ética.”
Em Assessoria de Imprensa cada detalhe passa a ter uma importância que pode fazer a diferença?
Em Assessoria de Imprensa eu atendi a um Cluster (concentração de empresas) de pousadas em uma praia catarinense. Lá tem a APA Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, são 130 quilômetros de Florianópoilis para baixo, onde de julho a novembro elas vão procriar e amamentar filhotes ali. Fiz muita coisa lá, cadernos de turismo, Estadão, Folha. Levei um grande número de jornalistas para lá, inclusive jornalistas de outros países. Fiz o Globo Ecologia lá. 
Quantos idiomas você fala?
O inglês, o italiano mais em função da origem da minha família, como sou filho temporão meu bisavo Arcanjo Porrelli e minha bisavó Maria Lucafó, se radicaram e ajudaram a fundar Mombuca. Meu pai é natural de Mombuca. Minha mãe nasceu em Capivari. Minha avó materna, Angelina Perini e o pai da minha mãe Paschoal Moroni, falavam italiano. A minha mãe acabou falando o italiano abrasileirado. Meu pai sempre dizia: “- Uma única palavra pode custar vidas”. Mal sabia ele que eu iria fazer da palavra a minha ferramenta principal.  







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