sexta-feira, maio 21, 2010

Padre Luiz de Souza Lima (Padre Luiz)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de maio de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
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ENTREVISTADO: Padre Luiz de Souza Lima (Padre Luiz)
Os paroquianos da cidade de Rio das Pedras têm em seu vigário Padre Luiz de Souza Lima o condutor da fé católica do município. Padre Luiz como é mais conhecido, tem uma conduta ecumênica, respeitando e convivendo fraternalmente com fieis de outras crenças religiosas. Voltado para a motivação e aumento da fé religiosa, está trazendo verdadeiros astros da música católica, como o Padre Fábio de Mello, estimando a recepção de um público em Rio das Pedras de aproximadamente 60 mil pessoas, mais do que o dobro da população local. Apoiado em sua iniciativa pelo prefeito Marcos Buzzeto, que é evangélico, Padre Luiz parece ter-se lembrado que os jesuítas como Padre José de Anchieta, lançaram mão da música para a conversão de novos adeptos e fortalecimento da fé dos católicos. Muito organizado, sereno, Padre Luiz discorre de forma didática sobre sua vocação, seu trabalho, seus projetos, a recente viagem á Jerusalém, na companhia de dezenas de católicos e um único fiel de outra crença, o prefeito Marcos Buzzeto.
O senhor pertence a qual ordem?
Sou do clero diocesano, pertenço a Diocese de Marília, estou na Diocese de Piracicaba desde 1988, fui designado para vir á Piracicaba para permanecer por dois anos, estou até hoje. Fui designado para a Paróquia da Igreja Santa Catarina onde fiquei por 18 anos. Em 2006 fui transferido para Rio das Pedras, onde permaneço até hoje.
Em qual cidade o senhor nasceu?
Nasci em Lavras da Mangabeira, no Estado do Ceará, em 22 de dezembro de 1951, filho de Vicente Ramos de Souza e Glória Maria de Souza, somos sete filhos, sou o filho do meio. Eu tinha sete anos de idade quando a minha família mudou-se para São Paulo, radicando-se em São Bernardo do Campo. Sou o único filho que seguiu a vocação religiosa, minha família sempre teve uma profunda fé religiosa, sempre procurou viver o evangelho, minha mãe era uma mulher muito piedosa, rezava o terço todos os dias, não faltava ás missas, naquela época havia missa a partir das cinco horas da manhã, eu ainda criança a acompanhava. Meu pai era muito devoto de São Francisco de Assis. Minha mãe eu acho que era devota de todos os santos. (A resolução Régia de 20 de maio de 1816 criou o município com a denominação de Vila de São Vicente das Lavras da Mangabeira, hoje Lavras da Mangabeira, distante 434 quilômetros de Fortaleza. A origem do nome está nas lavras de ouro ocorridas na época).
Onde foram seus estudos?
Comecei meus estudos primários em Lavras da Mangabeira e conclui em São Paulo. Aos onze anos de idade fui estudar em Juazeiro do Norte, no Seminário Seráfico São Francisco dos frades capuchinhos. Após uns dois anos de permanência lá, retornei a São Paulo.
O que o motivou a ir para o seminário?
A decisão foi baseada na minha vocação, minha mãe comentava que desde os meus seis anos de idade eu já brincava com a criançada, pegava um lençol branco e dizia que já era padre. Sempre tive esse desejo, essa vontade de ser padre, fui coroinha, ajudava nas missas, isso me motivou a ir para o seminário.
O senhor trabalhou em uma grande indústria em São Bernardo Campo?
Retornei á São Paulo, e por um período, na época eu tinha dezesseis anos, fui trabalhar como montador na Brastemp. Quis pensar, refletir, e assim permaneci trabalhando por uns dois anos. Após esse período voltei para o seminário, ai foi para valer. Fui estudar em Bragança Paulista. De lá fui morar com os Frades Dominicanos, no Jardim da Saúde, na Igreja da Sagrada Família, por sinal quem a construiu foi o Engenheiro Antonio Costa Galvão, ex-prefeito de Rio das Pedras. Em três anos fiz a faculdade de filosofia e em quatro anos fiz a faculdade de teologia cursados nas Faculdades Associadas do Ipiranga, a FAI. Em 1984 fui ordenado por Dom Antonio Pedro Misiara, Bispo de Bragança Paulista. Fui auxiliar em Mairiporã o Padre Roberto da congregação do Schoenstatt, em seguida fui para a diocese de Marília, na paróquia de São Pedro, em Tupã, auxiliei monsenhor Nivaldo Resstel por um ano. Fui transferido para Flórida Paulista onde fiquei por três anos. Em seguida vim á Piracicaba em 1988 e durante 18 anos estive na Paróquia Santa Catarina, no bairro Nova América, vim para suceder os capuchinhos, que fizeram um trabalho muito importante nessa região. Meu antecessor foi Frei Augusto Girotto. Em 31 de janeiro de 2006 tornei-me pároco de Rio das Pedras, tendo como auxiliar o Padre Miguel que veio transferido de Anápolis.
Quantas capelas existem além da Matriz de Rio das Pedras?
São as capelas rurais de Lambari do Meio, Lambari de Cima, Viegas, Santo André, Nossa Senhora Aparecida, Pombal.
Como é administrar uma paróquia em uma cidade onde quase todos se conhecem?
Eu tenho mais facilidade de cuidar da paróquia em uma cidade menor, é uma paróquia única, as pessoas se conhecem mais, tudo é mais fácil. Até o próprio relacionamento com outras instituições, como o poder público, é mais acessível. O povo é muito bom, católico, respeitoso.
Como é a relação da Igreja Católica com outras crenças?
Vejo a Igreja Católica procurando caminhar com todos e respeitando a todos. O fato de uma pessoa ser evangélica e eu ser padre, isso não é motivo para impedir o nosso relacionamento, acredito que devemos conviver com as diferenças. A igreja católica ama as pessoas, somos todos filhos do mesmo Pai que nos ama que nos quer bem. Todos querem seguir Jesus, a igreja católica é sempre aberta ao diálogo. Em Rio das Pedras me relaciono muito bem com os pastores da cidade, existem algumas crenças que ainda se fecham um pouco no relacionamento com a igreja católica. O nosso prefeito é evangélico. Alguns perguntam como pode um padre católico relacionar-se tão bem com um prefeito evangélico? Dia 6 de agosto teremos o show do Padre Fabio de Mello, a idéia inicial partiu dele. Viajamos para a Terra Santa em 34 pessoas sendo que o único evangélico era o prefeito Marcos Buzetto. Causou a admiração das pessoas o seu comportamento, o seu testemunho de fé.
O senhor visitou o Muro das Lamentações?
Fui sim, só que não fui para lamentar nada, fui para agradecer. O Santo Sepulcro é um lugar onde as pessoas se emocionam muito. É uma demonstração pública de fé.
“É mais fácil um camelo passar por um buraco, pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus”. Como o senhor interpreta essa frase?
Não podemos fazer uma leitura fundamentalista, pegar a coisa ao pé da letra, não ter uma visão ampla, aberta, deixar de refletir sobre o sentido disso. Isso não significa que todo rico vai para o inferno. Aplica-se ao avarento, ao ladrão, ao egoísta, ao ganancioso. Se você conseguiu obter o que possui de forma honesta, não pensa só em si, não é egoísta, é claro que isso não se aplica. Existe muito pobre que é pior do que rico. Pobreza não significa humildade. Muitas pessoas ricas são também pessoas humildes. A grande pobreza é a espiritual. Existem pessoas que tendo ou não tendo bens materiais vivem com seu pensamento voltado á Deus.
Existem cursos motivacionais escondidos atrás de uma denominação religiosa, que estimulam seus seguidores a ganharem cada vez mais dinheiro e melhorar a contribuição aos cofres da instituição?
São instituições constituídas por pessoas que através de mentiras, engodos, buscam alcançarem seus objetivos. Só que isso não os leva a nada. Uma pessoa esclarecida irá sempre avaliar uma situação dessas. Os mais humildes são as maiores vítimas, muitas vezes aproveitando de uma situação de desespero pela qual o individuo passa, isso é uma grande chantagem.
Como o senhor vê a violência nos dias atuais?
A violência infelizmente estabeleceu-se em todos os lugares, é fruto de uma série de fatores. O principal é a falta de Deus no coração. Mudou o mundo, em Roma não existe praticamente o assalto, existe o roubo. Os exemplos negativos provocam a violência, temos no nosso país alguns péssimos políticos que dão esse exemplo. Vemos o que está ocorrendo, julgamos as atitudes, conhecemos os fatores, mas agir contra isso tudo é o mais difícil.
Qual é o santo da sua devoção?
Tenho muita devoção á Nossa Senhora Aparecida, ela já me ajudou muito e continua me ajudando. Todo ano faço uma visita ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Nossa Senhora é uma única, ela recebe vários nomes em diversos lugares.
O senhor é confessor dos seus fiéis, após um período ouvindo confissões não sente a cabeça pesada?
Quando termino de ouvir as confissões saio cansado fisicamente pelo tempo que permaneço ali. As palavras que ouço não me cansam. Aos sábados é grande o número de pessoas que desejam falar com o padre, não se trata de confissão, mas de aconselhamento espiritual, coincide com um número maior de pessoas que procuram confessar-se. O padre não deve falar muito, e sim escutar. Outro dia chegou uma senhora na igreja eram umas três horas da tarde, foi embora cinco horas e pouco. Ao sair ela me disse: “-Muito obrigado! O senhor me ajudou muito!”. Eu não tinha falado uma palavra sequer. Ela saiu chorando, feliz, ela queria alguém que tivesse paciência para ouvi-la, não era assunto para confessionário, tratava-se de situações particulares, que não é para serem tratadas de forma corriqueira.
Na sociedade atual o psicólogo faz as vezes do padre e muitas vezes o padre é também um psicólogo?
O padre tem ser padre e psicólogo.
O senhor confessa?
Tenho meu confessor, o bispo se confessa o Papa se confessa. Todos nós confessamos.
Fazemos retiro anualmente, e há um dia especial só para as confissões.
O senhor acredita que a humildade seja uma qualidade essencial ao ser humano?
A pessoa que não é humilde sofre muito. A humildade é uma característica do bom cristão. Independente da posição social ou financeira a pessoa humilde é aceita em qualquer lugar. A pessoa arrogante se isola. Você já pensou em uma pessoa chata, sem humildade nenhuma? Ninguém gosta dela! Quantas vezes você já ouviu dizerem: “- Ah! Aquele cara é chato! Vou sentar em outro lugar!” Humildade não significa ser bobo. A humildade deve ser inteligente, a pessoa humilde tem uma grande facilidade em ser aceita em qualquer situação. É comum ouvirmos dizerem: “- Que pessoa bacana! Que pessoa humilde!” Comigo já aconteceu de ir a determinado estabelecimento comercial em Piracicaba, e ao entrar deparei com um atendente apresentando-se em situação totalmente destoante com sua função, ele estaria perfeito para a apresentação pública de um conjunto musical de musica de protesto, o seu comportamento atendendo junto ao balcão estava totalmente inadequado. Em tom de brincadeira disse-lhe: “-Você está de mal com a vida?”. Ele respondeu que não. Disse-lhe então que ele estava em lugar errado.
O senhor tem algum esporte preferido?
Gosto de caminhar, as vezes brinco jogando futebol.
Qual seu time de futebol preferido?
Corinthians! (Outro padre corintiano é Monsenhor Jorge)
Algum hobby?
Gosto de ler, e preciso estar bem informado. Recebo a Folha de São Paulo, A Tribuna, Jornal de Piracicaba. O tempo tem que ser muito bem administrado para fazer tudo, se não forem devidamente programadas as tarefas do dia torna-se praticamente impossível de serem realizadas. O padre assim como outras profissões, tem que estar sempre atualizado.
Como são os jovens atualmente?
A juventude é 10! São sempre vitimas. Critica-se muito o comportamento dos jovens, mas certas coisas são decorrentes dos meios de comunicação, da mídia, as vezes problemas em família. Mas todo jovem é bom!
A nossa televisão deseduca?
Acho que a televisão deveria fazer um trabalho melhor, não posso afirmar que tudo esteja errado na televisão, tem o seu lado bom, os jornais são interessantes. Vemos programações onde se propagam as criticas sem sentido, a desunião da família, isso é muito ruim. A pessoa despreparada passa a imitar certas coisas vistas na televisão. Eles não tiram certos programas porque representam bom faturamento. Com isso temos pessoas despreparadas, sem nenhuma referência a não ser a beleza física, influenciando hábitos e costumes. A internet pode ser uma fonte de problemas para os pais administrarem.
O senhor prega de improviso ou prepara os sermões para as missas que celebra?
Não consigo fazer uma pregação lendo, falo de improviso, me preparo lendo o trecho no evangelho por diversas vezes, medito sobre o tema e na hora da missa falo de forma natural. Minha comunicação é espontânea A espontaneidade implica em maior motivação para os fieis.

segunda-feira, maio 17, 2010

A HISTÓRIA DA PINGA

Antigamente, para se ter melado no Brasil, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse.
Porém, um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam e o melado desandou.
O que fazer agora?
A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor.
No dia seguinte, encontraram o melado azedo (fermentado). Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo.
Resultado: O "azedo" do melado antigo era álcool, que aos poucos foi evaporando e formou, no teto do engenho, umas goteiras que pingavam constantemente. Era a cachaça já formada que pingava. Daí o nome "PINGA".
Quando a pinga batia nas suas costas marcadas com as chibatadas dos feitores ardia muito, por isso, deram o nome de "ÁGUA-ARDENTE".Caindo em seus rostos e escorrendo até a boca, os escravos perceberam que, com a tal goteira, ficavam alegres e com vontade de dançar. E sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo.
Quem disse que beber também não é cultura!!!
(História contada no Museu do Homem do Nordeste)






domingo, maio 16, 2010

Geraldo Victorino de França

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com

Sábado 15 de maio de 2010

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

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Geraldo Victorino de França ao lado da  obra retratando sua filha Graziela, Miss Bicentenário de Piracicaba, do artista plástico Jairo Ribeiro de Mattos

ENTREVISTADO: Professor Dr. Geraldo Victorino de França

Muitos jovens procuram a cidade de Piracicaba para realizarem seus estudos em uma das suas faculdades e universidades. Namoram, casam-se e permanecem na cidade. Inúmeros casos se repetem ano a ano. Um exemplo típico é o de Geraldo Victorino de França também conhecido como “Voinho”, apelido carinhoso pelo qual lhe chamam os netos e bisnetas. Engenheiro agrônomo, professor aposentado da Esalq/USP – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Casado com a professora Zilda Giordano Victorino de França, 4 filhos, 11 netos e três bisnetas. Pai da Miss Bicentenário de Piracicaba, Maria Graziela, da escritora e poetisa Ivana Maria França de Negri, de Maria Fernanda e Geraldo Junior. Autor de dois livros publicados “Aprendendo Com o Voinho I e II”, e um terceiro já a caminho, mantêm o “Blog do Voinho” http://aprendendocomovoinho.blogspot.com/, na internet. Um verdadeiro exemplo de como uma pessoa após adquirir conhecimentos e experiências de uma carreira universitária pode oferecê-los de forma didática e acessível àqueles que estão em busca de novos conhecimentos. Nascido em Barra Bonita, no dia 25 de outubro de 1925.

Geraldo Victorino de França com dois de seus livros "Aprendendo com o
Voinho" I e II

Qual é a fórmula para chegar aos 84 anos de idade desfrutando excelentes condições de saúde?

Viver da maneira mais simples possível!
O senhor com toda a cultura e experiência adquirida em uma carreira acadêmica, cultiva a simplicidade?

Eu acho que sim.

Além da fazenda o pai do senhor também administrou a cidade de Barra Bonita?

Sou filho de João Victorino de França e Maria Ribeiro de Andrade Victorino de França, meu pai foi prefeito de Barra Bonita por várias vezes, ele era o proprietário da Fazenda São Domingos com a extensão de aproximadamente duzentos alqueires de terras, sendo o café a principal exploração agrícola da fazenda. Depois passou a pertencer á Usina da Barra, sendo atualmente ocupada por cana-de-açúcar. Meu avô foi o Coronel José Victorino de França, que embora tivesse o título de coronel, como era costume na época , não era militar era fazendeiro.
Em Barra Bonita a casa em que o senhor morava com seus pais era na fazenda ou na cidade?

Ficava na cidade de Barra Bonita, meus pais tiveram quatro filhos, eu e minhas três irmãs.

Como filho de fazendeiro de café um caminho lógico seria estudar agronomia?

Naquela época estudávamos quatro anos de primário, cinco de ginásio. Após concluir o curso primário em Barra Bonita, cursei o Ginásio Diocesano Nossa Senhora de Lurdes em Botucatu, no início eu era aluno interno, depois fui morar em uma pensão onde havia outros estudantes, entre eles um tio meu, que era um pouco mais velho do que eu. O curso ginasial ocupava o dia todo, de manhã e a tarde. Era uma escola muito boa.

Após concluir o ginásio em Botucatu qual foi a próxima etapa?

Em seguida vim para Piracicaba com a finalidade de estudar agronomia na ESALQ. O curso era de quatro anos, só que havia um curso preparatório feito no período de dois anos, era ministrado na própria ESALQ por professores do seu quadro.
Em Piracicaba onde o senhor foi residir?

Cheguei á Piracicaba em 1942, logo fui morar em uma republica habitada por cerca de oito a dez estudantes de agronomia, situada na Rua José Pinto de Almeida. Íamos até a ESALQ utilizando como meio de transporte o bonde, como havia muitos alunos o bonde puxava um carro-reboque. Os estudantes ás vezes faziam o chamado “balancê”, que nada mais era do que balançar o reboque, até tirar a unidade que tracionava a composição fora dos trilhos, com isso o prosseguimento da viagem não era possível. A cidade naquela época terminava antes do início da Avenida Carlos Botelho, esse trecho em direção a saída para São Paulo desenvolveu-se depois O limite da cidade com a escola não era fechado com cercas.

Lembra-se de alguns professores do curso de agronomia?

O Dr. Walter Radamés Accorsi foi meu professor, assim como Melinho, Salgadinho, Pizza, Pedreira, Breno Carneiro, Demósthenes, Salim Simão, Friedrich Gustav Brieger. Praticávamos esportes como forma de diversão, sendo que o futebol era o mais praticado. Só que eu era ruim! Jogava como lateral direito do “A” encarnado, mas eu não era um bom craque.
O cinema era uma das principais formas de diversões na época?

Nós freqüentávamos o cine Broadway ou o São José.
O senhor freqüentava a famosa “Calçadinha de Ouro”?

Freqüentava, naquela época quadrava-se o jardim. Foi ali que conheci a minha esposa, na época éramos os dois estudantes.
Lembra-se de algum filme que foi marcante na época?
Casablanca é um dos filmes que gostei muito, um clássico do cinema. (A estreia de Casablanca deu-se no Hollywood Theater de Nova Iorque, em 26 de novembro de 1942, e tornou-se rapidamente em um grande sucesso. Humphrey Bogart e Ingrid Bergman têm atuações extremamente carismáticas).

Os pais da esposa do senhor moravam onde?

O pai dela era funileiro, estabelecido a Rua Governador Pedro de Toledo, em frente onde hoje é a Casas Pernmbucanas. A funilaria funcionava nos fundos, no quintal. Não era para automóveis, mas sim para portas de aço, na época existia muitas empresas de prestação de serviços estabelecidas na Rua Governador.

Do período da Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945 o senhor tem algumas lembranças?
Lembro-me dos pracinhas de Piracicaba, alguns foram combater na Itália. (Pracinha é um termo referente aos soldados veteranos do Exército Brasileiro que foram enviados para integrar as forças aliadas contra o Eixo, Alemanha, Itália e Japão).

Após concluir o curso de agronomia na ESALQ o senhor foi trabalhar aonde?

Após prestar um concurso de seleção e ser aprovado fui trabalhar na Secretaria da Agricultura em Campinas. Logo em seguida fui convidado para lecionar na ESALQ. Formei-me como engenheiro agrônomo em 1947 e casei-me em 1950, o casamento foi realizado na Catedral de Piracicaba.

Em qual departamento o senhor passou a lecionar?

Fui convidado pelo Professor Guido Ranzani, do Departamento de Ciência do Solo, para integrar o quadro. Fazíamos pesquisas, fizemos o levantamento de solo de Piracicaba.

Como é o solo de Piracicaba?

Existe uma Carta de Solos de Piracicaba. O solo de Piracicaba é muito diversificado, não existe um tipo apenas de solo. O percentual maior talvez seja de solos podzólicos. É um solo que tem características B-textural, formado por uma camada mais arenosa em cima e mais argilosa embaixo.
E a famosa terra vermelha ou terra roxa encontrada em Piracicaba e tida como terra muito fértil?
As terras vermelhas são geralmente lactosolo, principalmente o lactosolo roxo, que antigamente chamava-se terra roxa legítima.

Qual é aproximadamente o percentual dessas terras em Piracicaba?
Como é formada por diversos tipos de solo a área ocupada deve ser em torno de 25% a 30%, inteiramente ocupados com cana-de-açúcar.

O cultivo da cana-de-açúcar pode deteriorar o solo?

É uma cultura até certo ponto benéfica, pelo fato de cobrir bem o terreno e possibilitar um controle melhor da erosão, superior a cultura de milho ou de algodão.

Quanto tempo o senhor permaneceu na ESALQ?

Entrei na ESALQ permanecendo até 1995, ano em que me aposentei pela compulsória, tinha 70 anos de idade.

A denominação do seu título na escola ao aposentar-se, qual era?
Professor Doutor, um pouco abaixo do catedrático, eu dava aulas teóricas e práticas, aulas na graduação como também na pós-graduação.

Dos seus alunos alguns tornaram nomes mais conhecidos do publico, poderia citar alguns?

São diversos alunos, dei aulas para Antonio Carlos de Mendes Thame, ex-prefeito de Piracicaba, deputado federal, para João Hermann Neto, falecido recentemente, que também foi prefeito de Piracicaba e deputado. O ex-deputado e presidente do Lar dos Velhinhos, Jairo Ribeiro de Mattos foi meu aluno de pós-graduação.
Como era o comportamento desses alunos em suas aulas?

O Thame era bem quieto. O João Hermann era mais espeloteado.

Qual foi a tese do senhor para doutoramento?

Foi a “Interpretação Fotográfica de Bacias Rios e Drenagens Aplicadas a Solos de Piracicaba”, envolvia tanto levantamentos de solos como interpretação de fotografias aéreas. Existem empresas especializadas em realizar levantamentos fotográficos aéreos, sobrevoam a região. Trabalhei muito com fotografias aéreas, uma das disciplinas que eu lecionava era fotointerpretação, outra disciplina era conservação do solo.
A conservação do solo é observada na prática?

Deveria ter uma aplicação maior, é uma matéria muito importante. Com o correr do tempo e o uso inadequado do solo, acaba-se perdendo a produtividade.

Nos dias atuais é comum ouvir do agricultor que “secou” tal nascente, esse fato é decorrente do que?

É em função da falta de preservação das florestas, são elas que preservam as nascentes. Se não cuidarmos melhor do solo as perspectivas não nada boas.

Desde o início do seu trabalho com solos até os dias atuais ocorreram muitas mudanças com o solo e o tratamento dado á ele?

As técnicas de conservação do solo foram evoluindo, a adubação, o terraceamento que é a construção de curvas de nível para reter as águas das chuvas, retendo-as para que não escorram sobre a superfície obrigando a infiltração no solo. Se escorrer sobre a superfície essas águas provocam a erosão.

Como está a Mata Atlântica?

A Mata Atlântica atual está reduzida a 7% da Mata Atlântica inicial. Ela situa-se exatamente na região mais desenvolvida do país. Abrange Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, até o norte do Paraná. Em Piracicaba a Mata Atlântica está praticamente extinta. A Mata Atlântica abrangia todo o município, inclusive a cidade. Tínhamos as madeiras como imbuia, peroba, jacarandá, tamboril.

O senhor acredita que um dia esse quadro possa retroceder?

Acho difícil. Hoje a maior parte dessas terras está ocupada com culturas, pastagens, e também áreas urbanas, suburbanas.

O senhor é pai da Miss Bicentenário de Piracicaba, eleita em 1967, a Maria Graziela. Qual é a sensação de ter uma filha eleita miss em uma ocasião tão marcante para a cidade?

Meu sentimento é de muita satisfação e muito orgulho. Minha esposa e eu freqüentamos um grande número de festividades nesse ano, o prefeito era Luciano Guidotti. A comissão que elegeu a Graziela como Miss Bicentenário era composta por cinco pessoas notáveis da cidade, entre elas Hugo de Almeida Leme, Dr. Nelson Meirelles.

Os passeios de família mais comuns eram quais?

Freqüentávamos cinemas, Clube Coronel Barbosa, Clube de Campo de Piracicaba. As viagens eram mais comuns em visitas á parentes.

O senhor tem uma filha que é poetisa, escritora, de quem foi a influencia dessa veia literária na família?

Acho que foi a minha filha Ivana Maria que me influenciou para escrever meus livros, blog, site na internet. Tornei-me escritor depois de aposentar-me, mandava pela internet mensagens aos filhos, aos netos, quase diariamente. Minha Filha Ivana resolveu reunir essas mensagens em dois livros: “Aprendendo Com O Voinho” I e II. A intenção é transmitir conhecimento em um nível médio para os filhos e para os netos. O meu blog já tem quase dez mil visitas. São abordados vários assuntos entre as matérias como português, matemática, física, química biologia.

O senhor comunica-se com seus netos pela internet?

Com todos eles! O apelido “Voinho” me foi dado pelos meus netos, filhos da Ivana Maria. Por um período de tempo eles moraram em Brasília e tiveram influencia da cultura nordestina, passaram a chamar o avô de voinho. Esse apelido pegou.

No tempo de estudante o senhor chegou a ter algum apelido?

Meus colegas me colocaram o apelido de Bicudo.

A agricultura brasileira deve muito á ESALQ?

Sem dúvida! Ela é uma referencia no campo da agricultura.

O autor do Hino da ESALQ é conhecido do senhor?

Fomos colegas de departamento, o Zilmar Ziller Marcos e eu.

Qual é uma das suas músicas preferidas?

Gosto muito da musica Fascinação.

Há uma estabilização e até mesmo um declínio na freqüência dos clubes sociais,. A que o senhor reputa isso?

Acredito que o computador seja o maior responsável por esse novo quadro. Ele interfere na vida de cada um.

Qual é o seu time do coração?

Eu torcia pelo Santos, cheguei a assistir o Santos jogando contra o XV de Novembro no campo antigo do XV, onde hoje é um supermercado. Lá eu assisti Pelé jogando, era um grande jogador, igual a Pelé não existe ninguém. Faziam parte do quadro Coutinho, Pepe, Zito, Clodoaldo. O time do Santos era uma Seleção Brasileira. Depois passei a torcer pelo São Paulo, cheguei a ver Leônidas jogando bola, ele já estava meio maduro, meio parado.

O senhor assiste sempre jogo de futebol pela televisão?

Assisto, torço, sofro vendo o jogo de futebol!







terça-feira, maio 11, 2010

Toshio Icizuca



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de maio de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO: Toshio Icizuca

O oriente e seus habitantes sempre despertaram a curiosidade dos brasileiros, o agricultor japonês pelo seu talento em obter melhor produtividade e qualidade. A eficiência do imigrante japonês e de seus descendentes inspira confiança. Isso hoje ocorre em todas as áreas: comércio, ciências, letras, artes, indústria, agricultura. Onde esse povo busca tanta inspiração para serem estrelas no campo em que atuam? Qual o verdadeiro segredo do milagre japonês? Piracicaba acolheu os imigrantes e seus descendentes, hoje figuras marcantes em nossa cidade. Toshio Icizuca é engenheiro formado pelo Mackenzie, escritor, com obras publicadas (Refrescando A Memória) e a publicar, centenas de crônicas e artigos publicados nos jornais locais, de Campinas, no jornal “O Estado de São Paulo”, sendo colaborador do Paraná Shimbun, onde escreve a Crônica Nikkey. Membro do Conselho Coordenador das Entidades Civis de Piracicaba. É diretor do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, domina a língua japonesa, foi membro do Rotary Club Cidade Alta por 12 anos. O prefeito Antonio Carlos Mendes Thame o nomeou Secretário Municipal do Transito em Piracicaba, assim como dirigiu a Secretaria do Meio Ambiente – Sedema, na gestão do prefeito Humberto de Campos. A sua trajetória é de vida é tão fascinante que o permitiu viver inúmeras experiências enriquecedoras

Como se deu a imigração dos seus pais?

Tudo começou no Japão. Meus pais se conheceram em uma escola de imigração, administrada por protestantes, era denominada Rikkokai, ficava em Tókio, ela preparava os imigrantes para a realidade que iriam encontrar no país de destino, tinham noções básicas sobre os costumes, hábitos alimentares, um pouco do idioma falado no Brasil, noções sobre as doenças incidentes naquela época, qual seria o trabalho que os aguardava no Brasil. Eles vieram para trabalhar no cafezal, receberam instruções sobre como era uma plantação de café, quais tipos de plantas, noções básicas. Eles estavam nessa escola em 1932. Admiro a minha mãe pela sua coragem, na condição de mulher, ter tomado a decisão de vir para o Brasil, a princípio sozinha, aos 21 anos de idade. Ela deveria ter prosseguidos seus estudos para tornar-se professora, mas a sua família não tinha condições para mantê-la.

Em que região seus pais moravam no Japão?

Minha mãe Sata Icizuca era da Província de Ibaraki, meu pai Ginye Icizuca era da Província de Gumma Mesu, regiões próximas, ao norte de Tókio. Com o meu pai aconteceu á mesma coisa, tinha terminado seus estudos equivalentes ao ginásio, no pequeno sítio que eles tinham em Guma não havia a mínima condição de obter algum progresso, a família era numerosa. Com 23 anos de idade ele foi para Tókio em busca de melhores perspectivas. Passou a trabalhar como motorista de entregas, com isso foi recebendo informações de que o Brasil era um lugar bom para imigrar. Através de um jornal ficou sabendo dessa escola que preparava os interessados em imigrar, não só para o Brasil, mas para outros países também.

Onde foi o casamento deles?

Foi na própria escola de imigração. Após o "Miai" (apresentação através de padrinhos) se casaram na igreja cristã. Todos os membros da escola, embora sendo japoneses, eram protestantes. Ao ingressar nessa escola meus pais se tornaram protestantes também, o ritual do casamento foi realizado nos princípios cristãos.

Quando vieram para o Brasil?
Vieram para o Brasil em janeiro de 1932, viajando pelo navio "Uruguai Maru". Chegaram a Santos depois de aproximadamente 42 dias de viagem. Um detalhe interessante é que as fazendas de café nessa época exigiam que no mínimo três pessoas de cada família imigrante trabalhassem como mão de obra. Foi assim que o meu tio Sadao, irmão mais novo do meu pai, veio também, na época ele tinha 17 anos de idade. Após passarem pela Hospedaria dos Imigrantes, eles dirigiram-se para uma fazenda de café a pouco mais de 10 quilômetros de Penápolis, região Noroeste do Estado de São Paulo.

O choque cultural foi muito forte?

Mesmo com a preparação recebida para que iam encontrar dificuldades de comunicação, de alimentação, eles sentiram muito as diferenças de hábitos e costumes entre o Japão e o Brasil. Ao chegarem a fazenda de café foram residir em uma casa destinada a colonos. Passaram a trabalhar na colheita de café, o contrato do meu pai era para permanecer no mínimo um ano na fazenda. Nesse um ano nasceu a minha irmã Juliana Keiko. Meu pai sempre gostou de ler jornais, como de habito ele ia a cada quinze dias, ou uma vez por mês, até Penapolis, a pé, só para buscar jornal. Um pouco antes de terminar o contrato com a fazenda foi até Penápolis, e na volta, uma caminhada de quase duas horas, ele deparou com a notícia de que havia um corretor vendendo terras em Londrina. Imediatamente retornou a cidade e foi procurar o corretor que se chamava Hikoma Udihara, era funcionário da Companhia de Terras do Norte do Paraná, de propriedade de ingleses, que fundaram Londrina, desbravaram o Norte Novo do Paraná desde o Rio Tibagi para frente, onde hoje existem localidades como Jataizinho, Ibiporã, Londrina, Cambé, Rolandia, Arapongas, Apucarana, Jandaia, Marialva, Maringá. O Norte do Paraná foi constituído pelo Norte Velho, Norte Novo e Norte Novíssimo. Meu pai comprou cinco alqueires de terra em Londrina, era mata virgem. Londrina foi fundada em 1934, e foi nesse ano que meus pais foram para lá.

O que a sua mãe achou disso tudo?

Minha mãe sofreu muito, foi ela quem sentiu mais a diferença cultural, de costumes.

O que seus pais encontraram em Londrina?

Ao chegar à área adquirida pelo meu pai, o que ele encontrou era a mata virgem, sem condições para morar. Havia um pequeno rio que delimitava a propriedade, do outro lado do rio havia uma fazenda começando a plantar café. O fazendeiro, penalizado com a situação disse que enquanto estivesse construindo o barraco perto do Rio Quati, tinha que ser próximo ao rio para utilizar á água necessária a sobrevivência, eles podiam permanecer em umas casinhas vagas que havia na fazenda. Os japoneses constituíram uma colônia denominada Tyuo constituída por mais ou menos 50 famílias de imigrantes, sendo que cada família havia comprado seu quinhão de terra.

Como foi desbravada essa mata virgem?

Foi feito em três etapas. A primeira foi o desmatamento próximo ao Rio Quati, eles faziam o sistema de mutirão. Derrubaram no machado e no traçador de madeira, que é um serrote grande tendo em cada ponta um homem movimentando-o para cortar árvores maiores. Tinha traçador com mais de dois metros de comprimento. Algumas madeiras eram utilizadas na construção das casas, basicamente a peroba rosa, cedro, cajarana que é parecida com cedro, e era utilizada para fazer taboinhas, utilizadas como telhado, não havia telhas de barro. As casas eram cobertas com sapé ou taboinhas de cajarana, tudo feito de forma quase artesanal. Nessa primeira etapa da derrubada foi construído o barraco, e feita plantação de alimentos básicos, como arroz, feijão, milho, verduras. Mais para o alto foi plantado café, que para começar a produzir levava cinco anos. Até a primeira safra de café nasceram os filhos. Nasci em 19 de abril de 1936 na cidade de Londrina. Somos cinco filhos: Juliana Keiko (1933); Luiz Tutomu (1935) Toshio (1936); Iwao (1938, falecido em 2002), e Emilia (1939) A única que nasceu na fazenda de Penápolis foi a Juliana, todos os outros nasceram em Londrina. Após a terceira etapa, em 1942, meu pai adquiriu mais uma mata virgem de doze alqueires, em Ibiporã, distante uns dezoito quilômetros de Londrina. Ele se deslocava da nossa casa até a área adquirida para fazer a derrubada da mata e o plantio do café. Era época da Segunda Guerra Mundial, para poder ir de ônibus de uma propriedade para outra ele precisava tirar o que se chamava salvo-conduto, um documento emitido pelas autoridades para o deslocamento de imigrantes italianos, japoneses e alemães. Foi um período em que os imigrantes e seus descendentes foram bem hostilizados. Na época de guerra não podíamos ouvir rádio, falar em japonês, nem ouvir música japonesa, agrupamentos com mais de três pessoas era proibido.

Nessa época você já estudava?

Eu freqüentava o Grupo Escolar Hugo G. Simas em Londrina. Da minha casa até o grupo escolar tinha uma distancia de cinco quilômetros, eu ia e voltava a pé, na época havia três períodos de estudo. Estudei no período que entrava ás onze horas da manhã e saia ás duas horas da tarde, hora de maior incidência de sol. Já trabalhava na fazenda, fazia de tudo, puxava enxada, batia feijão, batia arroz, colhia café. Depois de concluir o grupo, no ano de 1948 não podíamos ir para o ginásio, a nossa mão de obra era necessária no sitio. Para não perder um ano só trabalhando no sítio, a dois quilômetros havia uma escola japonesa chamada Seiryo Gakuen, onde passamos um ano estudando japonês. Em 1949 prestei exame de admissão e entrei para o ginásio no Colégio Estadual de Londrina onde estudei até 1952. Eu tinha minha atenção voltada para a construção, via os prédios começando a ser construídos em Londrina. Meu pai ficou sabendo por intermédio de um amigo que morava em São Paulo, que havia uma escola técnica de construção civil, ficava no Mackenzie. Eu tinha de 15 para 16 anos, decidi que iria fazer o curso. Em janeiro de 1953, meu pai e eu pegamos o trem Maria Fumaça em Londrina e viemos até São Paulo. Fomos até a Escola Técnica do Mackenzie, o diretor informou que o curso tinha sido extinto, o curso mais próximo era de eletrotécnica. Fiz o vestibulinho e entrei. Passei a morar em uma pensão de um japonês na Rua dos Estudantes, no bairro da Liberdade. Terminei o curso em 1955, arrumei emprego em uma empresa de projetos de instalações elétricas, a Hemel, que mais tarde passou a chamar-se Hemel-Cel, na Rua Conselheiro Crispiniano, ao lado do Mappin. Depois de oito ou nove meses sabia fazer todo tipo de projetos. Fui convidado a ir trabalhar em outra empresa, no primeiro dia de serviço o proprietário estava visitando uma obra, sofreu um acidente, uma queda, e faleceu. Arrumei um novo emprego na empresa General Electric, G.E., eu fazia projetos de instalações para vender aparelhos. Trabalhavam naquele departamento três engenheiros de vendas, outro projetista que trabalhava comigo era Engel D`Onofrio. Com o passar do tempo percebi que deveria fazer o curso de engenharia. Fiz um cursinho a noite, chamava-se Cursinho Balan, o dono era arquiteto e seu irmão era médico. Não fui aprovado no vestibular. No ano seguinte mudei de emprego, fui para uma empresa pequena, de instalações elétricas, na Rua XV de Novembro bem no centro de São Paulo, nessa empresa consegui trabalhar na parte da tarde e fazer o cursinho de manhã no Cursinho Di Tullio, na Rua Conde de Sarzedas. O próprio Di Tullio no final do ano analisava os alunos e previa quem iria passar no vestibular. O vestibular era feito por escrito e com provas eliminatórias. Cursei engenharia civil-eletricista, no terceiro ano já estava fazendo estágio remunerado na Alcan, situada em Utinga. Com isso fiz a opção de me formar como engenheiro eletricista. Permaneci na Alcan por cinco anos. Já tinha mudado para uma república de estudantes, na Rua Barão de Limeira com Largo General Osório. Durante o período da faculdade eu participava dos jogos universitários, na categoria de atletismo e basebol, os famosos Mac-Med, Mac-Poli., guardo ainda os troféus que ganhei nessa época. Quatro troféus são de salto com vara, naquela época, quem saltava um pouco mais de três metros era bom, eu saltava três metros e dez centímetros, três metros e vinte centímetros. A vara para saltar era de bambu. A queda se dava em uma caixa de areia. A técnica de salto é totalmente diferente da que é praticada hoje. Entrei no curso de engenharia em 1958 e me formei em 1962.

Você trabalhou na RCA Victor?

Assumi o cargo de Superintendente de Engenharia, foi em 1969. Conheci vários artistas, como Nelson Gonçalves, Martinho da Vila, Originais do Samba, Waldick Soriano, Sérgio Reis. Cheguei a montar um estúdio de gravação na Rua Barata Ribeiro, no Rio de Janeiro. Passei a ser gerente de fábrica da RCA, toda a parte de produção de discos passou a ser por minha conta. Levei meu pai para conhecer onde eu trabalhava, vi o orgulho que meu pai sentiu pelo meu sucesso. Eram cerca de 300 funcionários que trabalhavam sob a minha responsabilidade. Sai da RCA e fui trabalhar na empresa Aços Villares onde permaneci por quatro anos.

Como você veio para Piracicaba?

Fui selecionado entre 75 candidatos para preencher uma vaga na Itelpa em Piracicaba, onde permaneci por sete anos. Assim que cheguei fui recepcionado pelo Francis Bueloni, que com excepcional gentileza me apresentou a cidade, locais para me hospedar e outras informações necessárias para quem chega a uma cidade que não conhece. Sou muito grato ao Francis Bueloni. Da Itelpa fui trabalhar na Dedini, onde me aposentei e fui ocupar cargos públicos, como Secretário Municipal.

Quantos ideogramas têm o idioma japonês?

A escrita japonesa é composta de três tipos de letras: Katakana (a mais simples, usada para escrever nomes estrangeiros); Hiragana (escrita usada normalmente); Kanji (composta por ideogramas, existem cerca de 10.000, porém se usa cerca de 5000 a 6000 em publicações de livros e jornais).

Você já foi ao Japão?
Fui três vezes, sempre a trabalho. Hoje o Japão é bom para turistas, os japoneses têm uma competição acirrada entre eles. Isso passou a existir depois que o país tornou-se potencia mundial. O fato de eu dominar perfeitamente o idioma japonês permitiu-me que realizasse um teste, ora passando como natural da terra, ora passando por turista. A diferença de tratamento é da água para o vinho.

No Japão as ruas têm nome? As casas têm número?

Não têm! Não existe nome de rua nem número de casas. Não existe isso. O endereço não é por rua, mas por blocos ou região, se for residência é identificada pelo nome do proprietário.
No Brasil temos sobrenomes muito populares, como Silva por exemplo. No Japão quais são os mais populares?

Existem muitos nomes populares, como Sato, Tanaka, Nakano, Yamaguchi. Icizuca já é mais raro.








domingo, maio 09, 2010

XV DE NOVEMBRO DE PIRACICABA

Para uma leitura mais confortável, aconselhamos clicar sobre as informações aqui citadas, para obter-se uma ampliação, ficando assim mais favorável para sua leitura


sábado, maio 08, 2010

Quem Não se Lembra Disto.


Lembranças que não esqueci, Saudades que eu guardei.
Quem não se lembra, é porque ainda não tem cabelos brancos.

quinta-feira, maio 06, 2010

Rádio Camanducaia - Está de volta


Rádio Camanducária está de volta.
Click sobre a imagem acima para baixar.
Quando abrir o link, click no "aqui" em vermelho.
Escolha a pasta para arquivar no seu PC.
E ouça e recorde os bons tempos de rádio e do Estevan Victor Bourroul Sangirardi; o Esteva Sangirardi

segunda-feira, maio 03, 2010

03 de Maio - Dia do Sertanejo





Assim sendo, hoje é o dia do Caipira, do Violeiro, do Caipiracicabano (gente que nasceu em Piracicaba)

Roberto Mahn - Seresteiro Piracicabano


Roberto Mahn, seresteiro Piracicabano, declamando Santa Terezinha. Confira.
O link para ver e ouvir e saber mais é este => http://www.youtube.com/watch?v=a5oEGSeUPGg. Se não quiser digitar tudo isto no seu PC, click sobre a fotografia do Roberto Mahn e você irá direto ao link.

domingo, maio 02, 2010

O QUE É UM PALÍNDROMO

Um Palíndromo e Uma Palavra OU UM NÚMERO Que se lê Da mesma maneira Nos dois sentidos, Normalmente, n º da Esquerda e Direita um ao contrário.Exemplos: OVO, OSSO, RADAR.

O Mesmo se Aplica frases que, embora uma coincidência Seja Tanto Mais Difícil de conseguir uma frase Quanto Maior;

É O caso do conhecido: SOCORRAM-ME, SUBI NO ÔNIBUS EM MARROCOS.

Diante do Interesse Pelo Assunto (confesse, ja leu uma frase ao contrário), tomei a Liberdade de seleccionar ALGUNS dos Melhores palíndromos da Língua de Camões ... Se souber de Algum Acrescente, e passe adiante.

ANOTARAM A maratona DA DATA

ASSIM A AIA IA A MISSA

A DIVA EM ARGEL Alegra-ME A VIDA

A GORDA DA DROGA

A MALA NADA NA LAMA

A Derrota DA TORRE

ROCELINA LUZA, A namorada DO MANUEL, LEU NA MODA DA ROMANA:

ANIL É COR AZUL

O CÉU SUECO

O GALO AMA O LAGO

O LOBO AMA O BOLO

O ACATA ROMANO AMORES A DAMAS E ROMA Amadas Ataca O NAMORO

RIR, O BREVE Verbo RIR

A CARA DA Rajada jararaca

SAIRAM O TIO E Oito MARIAS

ZÉ DE LIMA RUA LAURA MIL E DEZ
por Jayme

Sabem o que é tautologia?

É o termo Definição da UM USADO parágrafo dos vícios de linguagem.

Consiste nd repetição de Uma ideia, de MANEIRA Viciada, com Diferentes palavras, Mas com o mesmo sentido.

O exemplo Clássico É o Famoso "Subir parágrafo Cima" o UO «N Baixo descer.

Outros Mas há, Como PoDE ver nd Lista a seguir:
- Elo de LigAção
- Acabamento final
- Certeza absoluta
- Exata quantia
- Nos dias 8, 9 e 10, inclusive
- JUNTAMENTE COM
- Expressamente proibido
Duas - em metades iguais
- Sintomas indicativos
- Atrás anos HÁ
- Vereador da Cidade
- Outra alternativa
- Detalhes minuciosos
- Uma PORQUE e razão
- ANEXO Junto a Carta
- De livre SUA ESCOLHA
- Superávit positivo
- Todos Foram unânimes
- Junto Conviver
- Fato real
- Encarar de frente
- Multidão de Pessoas
- O dia amanhecer
- Criação Nova
- Retornar de novo
- Empréstimo Temporário
- Surpresa inesperada
- Opcional ESCOLHA
- Planejar antecipadamente
- Abertura inaugural
- Continua um permanecer
- A ÚLTIMA Versão definitiva
- Possivelmente podera ocorrer
- Comparecer em Pessoa
- Bem gritar alto
- Característica Propriedade
- Demasiadamente excessivo
- Um Critério Seu Pessoal
- Muito em exceder
Note Que Todas essas repetições São dispensáveis.
Por exemplo, "surpresa inesperada".
Fique atento As expressões Que não utili Seu dia-a-dia.
por Jayme

Francisco de Assis Ferraz de Mello

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com

Sábado 01 de maio de 2010

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/


 ENTREVISTADO: Francisco de Assis Ferraz de Mello

Francisco de Assis Ferraz de Mello conserva a alma de um menino. Nascido em Piracicaba em 31 de maio de 1928, estará completando 82 anos de idade no próximo dia 31. Com seu jeito simples, sem o deslumbre dos que conquistam seu lugar ao sol, Chico Mello como é carinhosamente chamado pela maioria de seus amigos, ilustra muito bem o poder da vontade e determinação do ser humano. É a testemunha viva da evolução de Piracicaba, desde os tempos em que a Avenida Carlos Botelho era apenas uma via em terra nua, cortando as chácaras existentes onde hoje é uma área nobre de Piracicaba. A ESALQ ficava “afastada” da cidade. O calouro Chico Mello, para fugir dos trotes dados pelos veteranos, muitas vezes “cortou caminho” pelas chácaras existentes até chegar á sua casa próxima ao Rio Piracicaba. Duas presenças constantes em sua vida é o Rio Piracicaba e a ESALQ. Em sua casa hospedou por muitos anos Felix do Amaral Mello Bonilha o folclórico Nhô Lica. Chico Mello é professor titular aposentado pela ESALQ, escritor, poeta, diretor do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, membro da Academia Piracicabana de Letras cujo patrono é Nelson Camponês do Brasil, do Clube dos Escritores. Uma característica muito própria de Chico Mello é ver sempre o lado positivo do ser humano, ele não se deixa levar pelos rótulos dados a determinada pessoa, o alcance da sua visão vai além, prefere ver as boas qualidades do indivíduo, de uma forma extremamente natural, equilibrada.

Quantos filhos seus pais tiveram?

Meus pais Alcindo Almeida Mello e Zoraide Ferraz de Mello tiveram seis filhos, eu sou o segundo filho. O mais velho é o Dirceu, eu, Oroty, Ibraim conhecido na cidade como Susso, Zenaide e Alfredo José. Meu pai era funcionário público estadual, trabalhava como Fiscal de Algodão visitava as áreas de cultivo de algodão, fiscalizava as fabricas que descaroçavam, desfibravam o algodão, na época havia diversas em Piracicaba. Ele era muito brincalhão, tinha um bom coração.

Você tem apelido?

Sou normalmente chamado por Chico. Quando criança tinha o apelido de Nacho.

Seus estudos foram feitos onde?

Estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, fiz parte do ginásio no Externato São José, que funcionava no prédio onde mais tarde funcionou a Faculdade de Odontologia, outra parte do ginásio eu estudei no Colégio Piracicabano. Na Escola Normal Oficial, hoje Sud Mennucci, estudei o colegial.

Você foi aluno do Frei Paulo de Sorocaba?

Fui aluno de desenho, não cheguei a pintar. Isso foi em 1940. Nós íamos ao Seminário Seráfico São Fidélis.

Qual era a sua forma de lazer?

Era o lazer da criançada pobre. Nunca viajei, jogava bolinha de vidro, virava pião, jogava futebol, tinha nosso timinho, era o Infantil Brasil. Não tínhamos uniforme, nem chuteiras. Apenas a bola! Jogávamos perto da cadeia, hoje Primeiro Distrito Policial. Em frente á cadeia moravam os soldados, os carcereiros. Eu morava ali, na esquina da Rua Vergueiro com a Rua São José. Apesar de reformada, a casa existe até hoje. Meu pai gostava de pescar, a minha infância passei junto ao Rio Piracicaba. Pescava no Vai-E-Vem, trecho do Rio Piracicaba entre a Rua São José e a Treze de Maio, uma extensão de uns duzentos metros, lá havia um bosque, que deu lugar a avenida.

Você nadava no Rio Piracicaba?

Não, meu pai nunca deixou. Duas coisas que nunca fiz na minha infância: andar de bicicleta e nadar. Já adulto, comprei bicicleta para meus filhos, foi quando aprendi a andar de bicicleta!

Vocês observavam a chegada de presos pela polícia?

O soldado descia a pé com a pessoa que estava sendo presa, e eu não me recordo de ter visto algum preso chegando algemado, eles acompanhavam a autoridade sem rebeldia.

Aos 22 anos de idade, estudante da ESALQ, você passou a ser arrimo de família?

Minha mãe teve que assumir sozinha a responsabilidade de criar os filhos, só que por motivos de saúde ela tinha muitas limitações. Eu não tinha nem trajes apresentáveis para ir á escola. Não tinha o material necessário para estudar, nem mesmo o básico exigido. Um professor de matemática vinha de São Paulo para lecionar na ESALQ, exigia que os alunos usassem paletó e gravata, além de possuírem instrumentos como régua, esquadro, compasso, compatíveis com seu nível de ensino. Eu possuía esquadro, compasso, iguais aos utilizados nas escolas primárias, de pouca precisão. Fui proibido por ele de freqüentar as suas aulas, quer pela minha vestimenta, quer pela falta de material adequado para acompanhar as suas aulas. Na época não havia a obrigatoriedade de freqüentar as aulas. Eu realizei as provas desse professor, passei conquistando as notas necessárias, a nota média como dizíamos, sem ter que prestar os exames finais.

Algumas pessoas da ESALQ perceberam suas dificuldades e o ajudaram?

Um dia eu estava descendo do bonde na ESALQ, um dos diretores do Centro Acadêmico, conhecido como Maia, disse-me: “- Chico, o Centro Acadêmico vai dar uma bolsa de quinhentos cruzeiros por mês, se inscreva, mande uma cartinha que você ganha a bolsa”. Acho que eles já tinham conversado a respeito, meus colegas sabiam das minhas dificuldades. Ganhei a bolsa! É o que eu falo de vez em quando, o pessoal participa de concurso de beleza, concurso disso, daquilo. Eu entrei em concurso de pobreza e ganhei! Mais tarde Louis Clement Diretor Presidente da Fabrica Arethuzina BOYES me deu uma bolsa, já de mil cruzeiros. Fui até o Centro Acadêmico e comuniquei que havia ganhado outra bolsa, passando a que eu recebia para alguém mais necessitado. Com a bolsa de estudo vivíamos eu e a minha família, na época meu irmão Susso já trabalhava. Em períodos de exames eu reunia a minha roupa e praticamente morava por 15 a 20 dias em um dos dois apartamentos situados no fundo da garagem, onde era a casa do diretor da ESALQ. José de Mello Moraes, o Melinho, que foi diretor da ESALQ por 25 anos. Eu era muito amigo do seu filho, José de Mello Moraes Filho.
Em que ano você formou-se?
Foi em 1953. O próprio Melinho, através do seu filho, me convidou para trabalhar com ele. Fui trabalhar no departamento de Química Agrícola, que funcionava no prédio existente até hoje. Isso foi em 1954. Ali fiz doutorado, livre docência. A Universidade se reestruturou, havia muitas cadeiras afins, que foram agrupadas, formando os departamentos existentes atualmente. Passamos a integrar o Departamento de Solos e Geologia, o primeiro chefe foi Eduardo Salgado, depois foi Guido Ranzanni. Em seguida Moacir Camponês foi o chefe do departamento, em seguida eu assumi a chefia, em seguida veio André Martin Louis Neptune, nascido no Haiti.

Você é religioso?

Não sigo nenhuma religião. Minha mãe era católica, meu pai era espírita.

Qual é o seu sentimento com relação a ESALQ?

Tenho uma profunda gratidão, foi onde tive a possibilidade de estudar, e eu sempre gostei de estudar.

Quais são os seus títulos na escola?

Todos da carreira universitária: doutorado, livre docência, que é o concurso mais difícil da universidade, são três a quatro dias de provas. Enquanto você é doutor não pode dar aulas teóricas, apenas aulas práticas. O professor livre docente pode dar aulas teóricas. Não é todo mundo que gosta de dar aulas teóricas. O professor que é livre docente adquire a independência para pesquisa, sem tutela. Fui catedrático substituto Cheguei á posição de professor titular. Os cargos de diretor de escola, reitor, envolvem fatores diversos, que vão além da carreira de professor. Tem que ter vocação especial para ocupar essas posições.

Você gosta de poesias?

Gosto muito. Tenho três livros de poesias publicados. Depois que me aposentei publiquei sete livros.

Quem era Nhô Lica?

Sei que ele era parente do meu pai, não sei precisar em que grau de parentesco. Minha mãe contava que três meses após ela e meu pai casarem-se, Nhô Lica apareceu em casa. Sentou, começou a bater um papo, como ele não ia embora arrumaram um lugarzinho para ele ficar, nunca mais ele saiu de casa!

Como era a convivência com o Nhô Lica?

Ele conversava bem, só que os assuntos dele giravam em torno de pedras preciosas, diamantes, ás vezes ele falava trechos em francês.

Esse comportamento dele é fruto de alguma desilusão?

Eu acho que ele nasceu assim. Tem algumas teorias. Recentemente me contaram uma delas, que ele tinha algum dinheiro, um viajante chegou a cidade, fez amizade com ele, e disse-lhe: “- Você me dá esse seu dinheiro, vou para Minas Gerais e vou comprar pedras preciosas trago, vendemos e ficaremos ricos”. Nhô Lica teria cedido o dinheiro para ele que nunca mais voltou. Isso não está escrito no meu livro sobre Nhô Lica.

Na construção da Catedral de Piracicaba foram colocadas pedras arrecadadas por Nhô Lica?

Eu acho que ninguém sabe se foi. Quem poderia dizer alguma coisa a respeito seria o Padre Rosa, que já é falecido. Nhô Lica levava muitas pedras ao Padre Rosa, que talvez para não jogar fora ia colocando em algum canto. E deveria existir um funcionário que foi amontoando aquelas pedras. Durante a construção da Catedral falaram para pegar as pedras que o Nhô Lica trouxera e colocar junto ao concreto. Isso eu não sei se é verdade.

Você chegou a freqüentar o Teatro Santo Estevão?

Freqüentei sim. Era simples, mas bonito. As cadeiras não eram almofadadas. Eugênio Nardim dizia que a acústica era espetacular, ele tocava violino

Para você todas as pessoas são boas?

Eu nunca briguei na minha vida! Por que vou brigar? Nunca ninguém me ofendeu, sempre respeitei a todos. Todo mundo me quer bem, na escola sempre fui muito bem quisto. Um professor, já falecido, referia-se ao ambiente acadêmico como “aquele serpentário”.

Você acessa a internet?

Estou aguardando um dos meus dois filhos me ensinarem.

Você lê bastante?

Leio jornais, revistas.

E livros clássicos?

Já li muito.

Qual o gênero de música que você prefere?

Gosto muito de música popular. As músicas compostas pelo pessoal dos morros cariocas são filosóficas. Veja a música de Cartola, “As Rosas Não Falam”:

“Bate outra vez/Com esperanças o meu coração/Pois já vai terminando o verão, enfim/Volto ao jardim/Com a certeza que devo chorar/Pois bem sei que não queres voltar para mim/Queixo-me às rosas, mas que bobagem/As rosas não falam/Simplesmente as rosas exalam/O perfume que roubam de ti, ai/Devias vir/Para ver os meus olhos tristonhosE, quem sabe, sonhava meus sonhos
Por fim”
Você vê muita poesia nessa simplicidade?
Na letra da música Cartola diz: “Que bobagem falar com as rosas, elas não falam”.
De cururu você gosta?

Gosto, eu assisti muito cururu no Teatro Santo Estevão mesmo. Meu pai gostava de cururu e me levava junto, ficávamos ates as três, quatro horas da manhã.

Comício político em praça pública era um programa comum naquela época.

Assisti muito e gostava. Cheguei a ver comício de Adhemar de Barros. Lembro-me que durante o comício havia um enorme balão de ar com propaganda dele, e alguém, provavelmente com uma espingarda Winchester atirou, esvaziando-a. Na sua próxima vinda a Piracicaba, Adhemar se lamentava: “-Furaram meu balão!”. Adhemar de Barros dizia: “Sou barranqueiro do Rio Piracicaba”.

Você ainda criança freqüentava as margens do Piracicaba?

Íamos para a Rua do Porto, havia muitas chácaras, onde apanhávamos frutas e comíamos. Havia as olarias. Era tudo chão de terra, não havia asfalto.

A ESALQ na época era afastada da cidade?

Não existia Jardim Europa, Cidade Jardim, nenhum dos outros bairros que existem hoje próximos á escola. Havia até uma olaria, por sinal de uma prima, da família Fessel. Meu tio Luiz Dias Ferraz tinha uma chácara onde hoje só existem residências. Na época em que eu fui calouro, fugia do trote dos veteranos pulava as cercas das chácaras e ia sair na Vila Boyes. O trote era bravo, uma das tarefas era levar o calouro para fazer faxina nas repúblicas. Eu tomei pouco trote, corria muito bem! Ninguém me pegava. A Avenida Carlos Botelho era toda de terra. A noite não havia iluminação nenhuma. A Avenida Torquato Leitão era um caminho de terra entre as chácaras.

Viajou de trem pela Companhia Paulista?

Fui com meu pai, quando ele viajava a negócios. São Paulo não era a loucura que é hoje. Foi lá que pela primeira vez vi camarão. Eu tinha uns quinze anos de idade.

Qual foi o seu primeiro carro?

Em toda a minha vida eu só tive três carros. O primeiro foi um Fusca, que mais tarde vendi e permanece em bom estado até hoje.

Comentários:



Seu Chico, muito bom conhecer mais sobre sua história.
abraços
Ivana
# postado por Ivana Maria França de Negri : 5:24 PM





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