sexta-feira, outubro 30, 2020

WANDER VIANA SANTOS

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com
Sábado 31 de outubro de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO:                    WANDER VIANA SANTOS




O Bacharel em Direito Wander Viana Santos é o exemplo de que para o ser humano é ele mesmo quem impõem seus limites. Nascido na cidade de São Paulo, a 11 de janeiro de 1971, no Bairro da Mooca. Quando tinha por volta de três anos de idade sua família mudou-se para Piracicaba.

Isso significa que você se considera piracicabano?

Exatamente! Meus pais são Wanderley Viana Santos e Edy Lima Santos que tiveram ainda as filhas Karina e Ediley.

A atividade profissional do seu pai era qual?

Na época era corretor de imóveis. Minha mãe era do lar.

Na época vocês moravam em que bairro de Piracicaba?

Morávamos no bairro da Paulista, na Rua São Francisco de Assis entre a Rua Boa Morte e Rua Governador Pedro de Toledo. Frequentava a Igreja dos Frades, na época existia a Missa das Crianças, era uma missa elaborada para que houvesse a participação das crianças. Geralmente após as missas encontrava os coleguinhas.

Os seus estudos, inicialmente você fez em qual escola?

Fiz o pré-primário, o primário e o ginásio, antiga oitava série, no Colégio Nossa Senhora da Assunção, que na época já era uma escola mista, antes aceitava apenas meninas. Após concluir o ginásio, fui para o Colégio Dom Bosco.

Você começou a trabalhar ainda muito jovem?

Por uma questão de necessidade familiar, com uns 12 a 13 anos comecei a trabalhar.

Qual era a sua atividade?

Nessa época eu morava na Rua São Francisco de Assis, próximo a Rua Governador Pedro de Toledo, minha mãe fazia empadinhas, eu com uma cestinha de vime, eu ia pela Rua Governador Pedro de Toledo, o comércio começava da Avenida independência em diante. Eu descia a Rua Governador até o final, ia de loja em loja, vendendo, e tinha que voltar com a cestinha vazia. Nem sempre esvaziava. Mas sempre levava um troquinho para ajudar em casa.

A medida que você foi crescendo, surgiram outros trabalhos, outros serviços.

Depois disso eu trabalhei em uma loja de roupas para bebê, eu tinha uns 16 anos, fazia serviço de office-boy, era uma espécie de faz-tudo. Depois disso fui trabalhar em uma papelaria a. Artes XV, de propriedade do Sr. Ernesto. Lembro-me de que escutava o apito do trem da Companhia Paulista. Da Artes XV fui trabalhar na Bunnys no Shopping Piracicaba. Lá fui contratado como funcionário temporário, isso foi no Natal, quando saí de lá eu era gerente da loja. Fui o primeiro gerente que saiu de outar cidade sem ser do polo Campinas-São Paulo. Na Bunnys você atendia tanto o publico masculino como o feminino. Na época era uma loja voltada ao p[publico com bom poder aquisitivo. O shopping atraia muitos jovens. O jovem na época era um pouco mais contido, era uma convivência saudável.

Qual era o seu horário de trabalho?

Na época em que eu era gerente eu entrava cedo, 8:00 ou 9:00  horas da manhã, abria a loja,, e as vezes fechava a loja 22:00 horas, 23:00 horaras, e  saia do shopping mais de meia noite. A essa hora não tinha mais ônibus, eu ia a pé para casa. Era uma puxadinha boa! Subia a Rua do Rosário, só que os tempos eram outros. Nunca tive nenhum problema de violência.

Da Bunnys, você já estava cansado,foi fazer outra coisa?

Fui para uma loja de móveis no centro de Piracicaba, só que fiquei por  um tempo, isso porque eu ja tinha prestado concurso na Prefeitura Municipal de Piracicaba. Quando eu estava na loja de móveis me chamaram na Prefeitura. Isso fo em 1990. O prefeito era o José Machado.

Você  entrou com qual função?

Entrei como escriturário. Na época eu tinha 19 anos. Com o passar do tempo, você foi galgando cargos por méritos, até chegar ao cargo de Chefe de Divisão de Compras.

É um cargo de muita visibilidade?

E de muita responsabilidade! Concorrência públicas envolvendo valores expressivos.

Muitas noites de sono perdido?

Nem me fale! Editais complicados, tem que acompanhar, seguir a lei ao pé da letra, nada pode passar desapercebido.

Você pegou a época da informatização na Prefeitura?

Peguei a época da informatização. Eu comecei a trabalhar na Prefeitura na área de Recucos Humanos, depois fui para Compras, peguei a ápoca do Redator da Itautec, era uma tela em fósforo verde. O computador precisava ter Disco de Boot. (Um disco de boot é uma mídia de armazenamento digital pelo qual um computador pode carregar e executar (dar boot no jargão da área) um sistema operacional ou outro programa utilitário. O computador precisa ter um outro programa interno que carregue e execute um programa de um disco de boot que obedeça alguns padrões.Logo depois veio o computador com CPU, depois lançaram o Windows, Cheguei a usar disquete de 8 polegadas,depois veio o de 5 ¼ de polegadas. Quando entrei na Prefeitura, fui trabalhar no Departamento de Relações Humanas, a folha de pagamento rodava naqueles rolos de fitas magnéticas gigantes, o pessoal técnico chamava de “panelão”. Essas fitas eram mandadas para São Paulo para rodar a folha de pagamento! O equipamento que usávamos ocupava uma sala inteira. Era armazenamento de informações que hoje cabem em um pen drive!

Com o seu progresso na Prefeitura, você decidiu fazer uma faculdade?

Fui fazer o curso de Direito.

Por que você escolheu o curso de Direito?

Foi em função da área em que eu estava. Como eu trabalhava com licitações, contratos, mexia diretamente com essa parte, gosta muito da área Legal. Fui fazer para ter mais conhecimento, mais bagagem.

Você entrou na faculdade com que idade?

Entrei na Faculdade de Direito na UNIMEP Universidade Metodista de Piracicaba em 2001. Eu tinha 30 anos. Estudei por 3 anos. Aí tive que parar.

Você trancou a matricula?

Tranquei por motivo financeiro mesmo. Continuei trabalhando normalmente.

A Prefeitura não oferecia bolsa de estudo na época?

Na época a Prefeitura chegou até a oferecer bolsa de estudos. Foi um período em que além do problema financeiro, apareceram ocorrências domésticas, minha mãe estava com problemas de saúde, eu tinha que estar mais presente em casa. Foi uma soma de fatores.

No aspecto profissional, é de se imaginar que as coisas estavam indo bem, você como Chefe de Departamento tinha um salário razoável, ou seja tinha um bom salário, uma posição profissional de destaque. Ali dentro você tinha amigos importantes, como os prefeitos que exerceram seus cargos. Eles tinham uma relação muito próxima com você.

De fato, tinha um excelente relacionamento com prefeitos, secretários. Chequei até a participar de reuniões de secretariado, juntamente com o prefeito, por conta das compras.

Você era um homem-chave dentro do sistema administrativo da Prefeitura.

Na época sim! Estávamos instalados no prédio novo, da Avenida Antonio Correia Barbosa.

Para a sua família sua conquista foi motivo de muito orgulho?

Sem dúvida! Sempre é bom crescer no trabalho, poder esforçar-se pelo que fazemos e termos o reconhecimento, isso é bom.

Mudando o foco da nossa conversa, você é exímio cozinheiro?

Me viro bem sim! Gosto mais de fazer pratos doces. Se precisar também dou conta se precisar fazer salgados. Meus bolos são muito famosos!

Hoje você tem uma limitação visual, mesmo assim continua a fazer bolos?

Claro! Com certeza! Meus bolos ficaram muito famosos! Aperfeiçoei minhas técnicas!

É um trabalho que você faz por prazer, mas se alguém for comemorar um aniversário e encomendar um bolo, você faz?

Acredito que não terei problemas em confeccionar um bolo, particularmente de chocolate que é a preferência da maioria! Teve uma época em que fiz esses bolos mais caseiros, acredite, cheguei até a vender alguns! Os bolos que faço são incrementados, com calda, quem prova, aprova! Esses dias o meu filho pediu para que eu fizesse um prato salgado. Fiz um macarrão gelado, com ervilhas frescas, milho, presunto, queijo. Esse ficou bom! Todos comeram à Ana Maria Braga: de joelhos!

Após esta publicação, algo me diz que você irá receber muitas vistas!

Você é casado?

Sou casado com Carolina Carranza Viana, temos dois filhos: Gabriel e Ana Clara. A Ana Clara é a caçulinha com 5 anos. O Gabriel é um rapaz com 21 anos, está no oitavo semestre de Direito.

Atualmente qual é a sua função na Prefeitura Municipal?

Estou como escriturário. Na Secretaria Municipal do Trabalho e Renda.

Há uma versão de que você é um exímio datilógrafo, ou seja, digitador. Assim como quando você era muito jovem, e admirava uma moça que na época digitava olhando o ambiente, passarinho cantando, ou seja, era de uma habilidade incrível.

Hoje não acredito que seja melhor do que ela, mas sim igual. Uso o notebook, é o meu fiel companheiro.

Após algum tempo, você decidiu concluir o curso de Direito? Só que nesse intervalo, você foi acometido de uma doença, que o tornou totalmente sem visão. Imagino que deve ter sido um período de grande superação, carregado de amargura, tristeza?

Sempre há um período que é natural isso tudo acontecer, houve momentos difíceis, nesse período todo continuei trabalhando, em 2008 apareceu um problema na vista, fui ao oftalmologista, embora tenha feito o possível, fui perdendo a visão rapidamente. Era um herpes ocular. Fiz algumas cirurgias, mas infelizmente não teve como reverter. Perdi a visão de ambos os olhos. Tive um período de readaptação, a Prefeitura Municipal de Piracicaba através dos departamentos envolvidos, me deu muito apoio. Na verdade toda nós aprendemos um pouco juntos, isso porque fui o primeiro deficiente visual a trabalhar na Prefeitura. Nesse período de adaptação fiquei por dois anos afastado. Acabei perdendo o meu cargo, era inviável permanecer no Departamento de Compras. Fui para a Secretaria da Educação. Perdi a visão com 37 a 38 anos. Eu era solteiro ainda. Na época eu namorava. Ela me largou porque fiquei cego. ( Wander solta uma gargalhada). E continua: “- Ela largou de mim por telefone, quando fiquei cego. (Wander não consegue conter a gargalhada.)  Acho que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida!

Como a vida nos surpreende, aconteceu algo inesperado: a grande paixão da sua vida!

Foi por acaso. Durante a minha reabilitação, eu dizia a minha terapeuta que achava que iria morrer solteiro. Sem amigos. Sem ninguém. Como eu iria fazer amizade com alguém? Imagine só, como eu iria paquerar cego? Contato, amizade, tudo é visual.

Você pensou: “Como vou entrar em uma balada desse jeito? ”

Tem uma situação muito engraçada. Até 2007, antes de ficar cego, eu estava sempre em uma balada, em um barzinho, sempre acompanhado com muitos amigos, não faltavam amigos. Depois que fiquei cego sumiu todo mundo! Um dia o meu sobrinho disse-me: “Oi tio! Vamos sair! Vamos com os meus amigos, tomar uma bebida! ”   Conheci os amigos dele, insistiram, fui na balada com eles! Sempre gostei, sair para uma balada, tomar uma cervejinha. Fomos. Estávamos juntos em um determinado espaço, o lugar estava cheio. Foi quando eu disse: “ Se vocês perceberem que tem alguma menina olhando para mim, puxe o meu queixo, aponte na direção da menina, você me manda piscar para ela! ”.

Aconteceu alguma coisa?  

Não aconteceu nada! Foi só palhaçada!

No fim você acabou conhecendo uma moça, que é a sua esposa. 

Isso! Quando estava definido que eu iria para a Secretaria da Educação, eu iria começar em 10 de janeiro. Como eu era muito conhecido, todo mundo me conhecia, na própria Secretaria da Educação muita gente me conhecia. Ia ter a confraternização de Natal, fui convidado para a confraternização. Lá já fui apresentado à Carol, ela sentou-se ao meu lado a mesa. Tomamos um chope, conversamos um pouco e só isso. Comecei a trabalhar, aí uma amiga da Secretaria da Educação, que é amiga comum, minha e dela, convidou-nos para tomar um chope na Rua do Porto. Fomos nós três, foi aí que tive mais contato com ela, conversamos, na época existia o sistema MSN, de conversação por computador. Passamos a conversarmos, quase todos os dias. Dali a uma semana e pouco combinamos de sairmos só nós dois. Aconteceu o primeiro beijo. Começamos a namorar. Fazia duas semanas que eu estava Trabalhando na Secretaria da Educação e já estava namorando.







Da direita para a esquerda: Wander, sua esposa Carolina, sua filha Ana Clara e seu filho Gabriel. 




Rapidinho, não é?   

Foi motivo de gracejos. O pessoal dizia: “ Nossa! O ceguinho nem acabou de chegar e já está namorando! Imagine se ele enxergasse! ”.

A sua esposa e você são pessoas religiosas. Como você classifica a importância de Deus na vida da pessoa?

É fundamental! Acredito que o exemplo é a melhor forma de expressar a presença de Deus em nossa vida. Desde a minha infância Deus esteve presente na minha vida. Principalmente durante o período em que fiquei cego, só eu sei das minhas conversas com Ele, trancado no meu quarto, quando eu estava passando pelo que estava passando.

Você teve muitas conversas com Deus?                                  

Muitas! Muitas! Pode até ter quem não acredite, mas eu nunca perguntei por que? Sempre fui uma pessoa muito centrada, conheço minhas responsabilidades e limitações.  Por muitas vezes tranquei a minha porta, deitei em minha cama. Nunca perguntei por que? Nas minhas angustias e depressões eu dizia: “ Está bom! Eu aceito, mas me dá a força porque está muito difícil! Só me dá a força e me mostra o caminho! Eu não estou conseguindo superar! Mesmo porque eu não me considero uma pessoa especial, fora do alcance de toda e qualquer doença! Há uma tendência de a pessoa indagar: “-Por que aconteceu isso comigo? ” 

É muito nítido e admirável o seu bom humor, a sua disposição, você é muito carismático! A mosquinha azul da política nunca passou perto de você?

Passou! Já passou! Na verdade, eu já fui candidato a vereador em uma eleição. Só não consegui fazer a contento o que precisava fazer porque não tive condições financeiras. Eu gostaria de fazer algo mais por Piracicaba. Acredito que posso fazer, até mesmo pela bagagem político-administrativa que eu tenho. Piracicaba tem 23 vereadores, sendo que apenas um é portador de deficiência. Cada vereador tem de 3 a 4 assessores, não tem nenhum assessor deficiente! Nós não temos a capacidade nem para ser assessor?

No Brasil, as políticas públicas voltadas ao deficiente são quase nulas?

Não existe praticamente nada. Existe uma ou outra inciativa, mas sem coordenação e planejamento. O fato de estar inserido nesse meio, estudamos e conversamos muito com a respeito, o Brasil hoje tem uma das melhores legislações voltadas as pessoas deficientes, do mundo inteiro. Mas infelizmente é teórica! Na pratica não funciona! A nossa Constituição Federal é perfeita. Temos a Lei Brasileira de Inclusão, que garante todos os direitos à pessoa com deficiência, mas infelizmente falta muito para essas políticas públicas serem mais efetivas.

Você é Bacharel em Direito, em que ano você se formou?

Eu me formei em 2013. Após voltar a trabalhar, decidi voltar à faculdade. No início foi um período de adaptação, superei as limitações e conclui o curso. Chegou o dia da formatura. Foi um dia que marcou e marcara para o resto da minha vida. Coincido de me formar junto com a turma do meu sobrinho que também estava fazendo a faculdade. O nervosismo nessa hora é muito natural. O teatro da UNIMEP estava lotado, a turma era bem grande, tinha quase 80 formandos. Multiplicando pelas famílias todas.   O teatro é em declive, com as poltronas assentadas em semicírculo, e degraus de fileira em fileira. Isso passando pelo meio do teatro, para até o palco e os formandos sentarem-se lá. Foi feita uma fila dupla e por ordem alfabética. O meu nome por ser com “W” era o último a ser chamadora. Aí ficou aquela coisa, ele vai sozinho, sozinho não irá conseguir, não tinham muita intimidade pelo fato de fazer matérias em diversas salas. A saída foi torar o meu sobrinho, que estava na letra “D” e seríamos os últimos. Foram chamando cada dupla, até que ficamos só nós dois para entrarmos. Cada vez que descia uma dupla o teatro aplaudia. Quando nos chamaram, o povo levantou-se, as palmas eram muitas, o pessoal gritava e batia palmas, acho que bateram palmas por uns três minutos! Eu tremia! Não conseguia segurar e levar a bengala de lá para cá. Demorei para descer os degraus, me emocionei muito. A seguir foi a entrega do diploma. Quando fui receber, o teatro novamente se manifestou bravamente.

Uma curiosidade, você dança?

Danço! Gosto de dançar! Gosto de um forrozinho, um sambinha, eu só fiquei meio desiquilibrado!

Nem todos, mas muitos também ficam desiquilibrados, mas por causa do teor alcoólico! Isso é comum!

Você já fez um balanço da sua vida como era quando tinha a visão e hoje que é totalmente sem visão?

Já fiz! Eu conquistei e aprendi muito mais nos doze anos que estou cego do que nos meus 38 anos que tinha a visão perfeita. A gente passa a ter um desprendimento de algumas coisas, que trazem uma sabedoria diferente, uma visão do mundo diferente. Vou dar um exemplo bem básico. Você entre em um recinto, onde tem meia dúzia de pessoas: uma madame, um mendigo, um negro, um cadeirante. Você para na porta e instantaneamente terá muitas reações passando pela sua cabeça. De cada pessoa que você está olhando. Vai entrar na sala e naturalmente pensar: “O que eu estou fazendo no meio dessas pessoas estranhas? ”. Hoje eu entro em uma sala e digo: “-Bom dia! ” Todo mundo responde “Bom dia! ” Com a mesma alegria que eu falei. Vou puxar assunto com qualquer pessoa. Pode ser a melhor ou a pior pessoa do mundo, sem eu saber. Como não sei o visual dela, eu não estou julgando. Temos o péssimo habito de julgarmos as pessoas antes de conhece-las.

Você tem algum prato preferido?

Tenho dois, que por sinal não são nada saudáveis: lanche e pizza. Também gosto demais de macarrão.

O exame da Ordem dos Advogados do Brasil como está?

Estou aguardando o fim da pandemia,

Quantos livros você lê por semana?

De um a dois livros. Leio um pouco de tudo. Não gosto muito de clássico. Assisto filmes da Netflix. (Uma nova tecnologia permite que o texto de um livro seja digitalizado e a leitura é transmitida por voz ao ouvido do deficiente visual).

Você tem sonhos enquanto dorme?

Eu sonho! Colorido! Sonho até mais do que gostaria, gostaria de sonhar menos. Tem dia que acordo mais cansado do que quando fui dormir de tanto que sonho.

Você acredita que o ser humano tem um campo de energia?

Acredito e muito!

Você sente a energia de uma pessoa ao seu lado, se é positiva ou não?

Sinto, e hoje muito mais. Eu falo para a Carol, minha esposa, quando conhecemos alguém, algum lugar. Ela comenta que achou o lugar ou a pessoa muito bacana. Quando chegamos em casa começamos a conversar, eu já na hora sei dizer se a pessoa é do bem. Por mais legal que pareça. É só uma questão de tempo. Ela me diz: “ Você tinha razão! ”

O tom da voz revela a pessoa?

Revela a pessoa! Eu tenho um sentido aguçado para o tom da voz. A pessoa conversa comigo já sei como ela é.

                                            

Você é associado a alguma entidade voltada ao Deficiente Visual?

Já por muitos anos, desde 2014, sou associado ao Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, onde já ocupei vários cargos como Conselheiro, Coordenador e hoje novamente sou Coordenador. É constituído por 10 membros da sociedade civil e 10 membros do Poder Público, mais os suplentes, totalizando 40 pessoas. Funciona na Rua Joaquim André, na Casa dos Conselhos. As reuniões são mensais. Todas as primeiras quartas feiras do mês das 19 às 21 horas. 



Rosas  feitas pétala por pétala , a azul em homenagem à Gabriel e a rosa em homenagem à Ana Clara. Wander já tinha perdido completamente a visão. 


Wander, embora sem sem visão, moldou duas rosas, péta por pétala em massa plástica pertencente a sua filha e que estava para ser descartada. Ali se revelou sua qualidade de artista e pai: fez uma rosa azul para o filho e outra rosa para a filha. Wander é um palestrante em potencial, guarda boas memórias, uma delas é a grande amizade com o radialista, apresentador e mestre de cerimonial Xilmar Ulisses, que faleceu deixando muita saudade, e que Wander relembra com carinho.

domingo, outubro 25, 2020

EZIQUIEL RUBERTI

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 de outubro de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/ 


ENTREVISTADO; EZIQUIEL RUBERTI











Eziquiel Ruberti nasceu a 4 de agosto de 1936, filho de Orlando Luiz Ruberti e Assumpta Gardenal Ruberti que tiveram sete filhos: Eziquiel, Eunice, Vitória, Priscila, Joel e Excelso e uma irmã adotiva, também com o nome de Eunice. Eziquiel nasceu no bairro rural do Bicame, na cidade de Laranjal Paulista. Eziquiel casou-se com Eny Moreira Ruberti no dia 17 de novembro de 1962, vamos fazer 58 anos de casados! Tivemos três filhas: Eny, Eloiza e Erika. Tenho um genro de nome Jethro e duas netas: Marília e Lívia. Minha esposa, deu aulas por 32 anos no Estado e no Município. Aposentou-se no início de 1996 e ela abriu uma unidade do método Kumon em Laranjal Paulista onde ela trabalha até hoje.

O pai do senhor exercia atividade rural?

Meu pai era sitiante, tinha também a atividade industrial. Nessa área sua última atividade foi uma fábrica de vassouras de crina vegetal, muito em uso na época. Em paralelo ele tinha no sítio 3.000 pés de café. Meu pai que desenvolvia essas atividades, sendo que no sítio tinha meeiro.

O senhor frequentava a escola?

Quando conclui o segundo ano primário, o terceiro e quarto ano estudei na cidade de Laranjal Paulista no Grupo Escolar Quinzinho do Amaral. Na ocasião tinha o Curso Ginasial administrado pelas freiras e voltado ao ensino só das meninas. Os meninos para cursar o ginásio tinham que irem para as cidades de Tietê ou Conchas. Quando terminei o primário, fiquei trabalhando um pouco no sítio, um pouco na fábrica, com o meu pai. Procurava atender as necessidades exigidas a cada dia, vinha para a cidade, se fosse necessário, ou permanecia trabalhando no sítio ou na fábrica. No início de 1951 mudamos para Laranjal Paulista, eu fui trabalhar como aprendiz de Torneiro Mecânico.

Na ocasião o senhor trabalhou como menor aprendiz em que local?

Fui trabalhar em uma oficina particular que prestava serviços para terceiros. Por três anos fui aprendiz. Decorrido esse tempo, instalou-se um ginásio em Laranjal Paulista. Tive a convicção de que deveria fazer o curso de Teologia da Igreja Presbiteriana. Esses estudos me levariam a ser pastor. Em 1954 fui para o Instituto José Manoel da Conceição, em Jandira, nas proximidades da cidade de São Paulo. Era um colégio, um tipo Seminário Menor, lá eu fiz o ginásio. Após concluir o ginásio fiz um ano de clássico, após ter estudado lá por seis anos, fui acometido por um problema de saúde, voltei para casa. Fiquei por um ano fazendo tratamento de saúde. Fui direcionando o rumo da minha vida para outro campo. Entrei no Curso Técnico de Contabilidade na Escola Técnica de Comércio do Município de Laranjal Paulista a noite, em 1960 e parte de 1961, fiquei ajudando o meu pai na fábrica de vassouras.

Na época a população de Laranjal Paulista era de quantos habitantes aproximadamente?

Era de 15.000 a 16.000 habitantes. Era uma cidade muito tranquila. Em setembro de 1961, eu estava trabalhando na fábrica e apareceu um amigo da família, que falou: “- Olha vagou o cargo de Secretaria da Câmara, conversa com o presidente, veja os procedimentos necessários, antes de ir embora de Laranjal. Se você conseguir já fica aqui”. Em setembro de 1961 entrei como Secretário da Câmara Municipal de Laranjal Paulista. Dei continuidade aos estudos, e trabalhando na Câmara. Em 1964 eu me formei como Técnico em Contabilidade, era o único curso médio na cidade.  Em 1965 passei a trabalhar na Secretaria da Escola. Logo ela passou a ser denominada Escola Municipal de Contabilidade João Salto. Ele foi prefeito e fundador da escola. Eu estava trabalhando naquilo que eu almejava: a Área da Educação. Fiz o curso de Administração Escolar e em 1972 passei a exercer a Direção da Escola. Em 1980 recebi um telefonema para que eu comparecesse no Mackenzie que o Reverendo Boanerges Ribeiro queria falar comigo. Fui até lá e ele me convidou para trabalhar.

O senhor já conhecia o Reverendo Boanerges? 

Eu o conhecia de concílios. Tenho um cunhado que é construtor e fez alguns serviços para o Reverendo Boanerges. As vezes o Revendo vinha procura-lo. Como a casa do meu cunhado as vezes estava fechada, ele passava na Escola de Contabilidade, onde eu trabalhava, para ter informações do meu cunhado. Tomava um cafezinho comigo e batia um papo rápido. Estivemos juntos em reuniões do Supremo Concílio em 1974 em Belo Horizonte, em Recife em 1978. Esse era o conhecimento que eu tinha com ele. Era muito pouco. Naturalmente ele deve ter tido algumas informações a meu respeito. Tinha um coordenador de grau que ia sair no final de 1980. Coordenador de grau, na rede pública é vice-diretor. Ele me chamou lá e me convidou para trabalhar. Como eu tinha vínculo com a prefeitura, minha esposa era professora efetiva do Estado. A prefeitura me liberou com licença sem vencimentos.  Em janeiro de 1981 eu fui para o Mackenzie como Coordenador do Primeiro Grau da Escola Americana e Colégio Mackenzie. O Instituto Mackenzie é a entidade mantenedora, depois vem a escola, naquela época Primeiro e Segundo Graus, e depois a Universidade. Em junho o diretor saiu. O presidente me chamou e mandou assumir a direção dos Primeiro e Segundo Graus. Na ocasião tinha 3.700 alunos,

Na faixa etária de quantos anos?

O Pré-1 com quatro anos, e depois a faixa do colegial com 15, 16 a 17 anos.

Funcionava só na Rua Maria Antonia?

Tinha o prédio da Rua Piauí, Rua Itambé e Rua Maria Antonia.

O senhor não chegou a ter algum rescaldo da Rua Maria Antonia, nos tempos em que abrigaram a antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP – FFCL?

Não! Os fatos acontecidos ali ocorreram na década de 60. Quando eu fui para lá, funcionavam vários departamentos do Estado, além da Associação Comercial do Estado de São Paulo, uma seção do Diário Oficial. (Batalha da Maria Antônia foi um confronto entre estudantes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL-USP), Universidade Presbiteriana Mackenzie, e integrantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) ocorrido em 2 de outubro de 1968. Na época, as duas instituições, localizadas na rua Maria Antônia,  eram vizinhas).



     Prédio da FFCL após princípio de incêndio. É possível ver menções ao CCC nas paredes do edifício.

Na Rua Maria Antonia quanto tempo o senhor permaneceu?

Assumi a direção em julho de 1981 e fui até o início de fevereiro de 1987. Aí fui para a Unidade do Tamboré, onde permaneci por 7 anos e 3 messes.

O senhor residia em que bairro em São Paulo?

Sempre fiquei em Pinheiros, na Rua Deputado Lacerda Franco.

O senhor dirige regularmente?

Ainda estou firme no volante! São Paulo para mim é um pulinho! Uma vez por semana, ou a cada duas semanas, eu estou em São Paulo. Em decorrência da pandemia tenho restringido um pouco minhas idas. Tenho laços familiares em São Paulo: filha, sobrinha, uma irmã que alterna suas estadas ora no Rio de Janeiro, ora em São Paulo. Outro fator é o meu convenio médico, que atende em São Paulo. Constantemente faço a “revisão” na máquina rodada!

Pelo visto a “maquina” está bem conservada, o fato do senhor dirigir até São Paulo, rodar pela cidade, voltar dirigindo, já é um privilégio!

Para mim, dirigir em São Paulo é muito fácil, quando comecei a dirigir foi com uma Kombi! No início da década de 60.

Dentro da Igreja Presbiteriana o senhor tem algum cargo?

Logo no início da década de 60 fui eleito Diácono, função que exerci por uns 10 anos. Como presbítero estou há 46 a 47 anos.

Sem a intenção de ser invasivo, mas para conhecer melhor, qual é a função do presbítero?

É um cargo administrativo. O pastor é o presbítero docente. Faz-se, comumente, distinção entre presbíteros docentes e presbíteros regentes. O presbítero docente é o pastor, aquele que é responsável pelo ensino da Igreja. O pastor é o presidente do Conselho. A igreja é administrada por esse Conselho. Existe uma região em que os pastores formam o presbitério e mais um representante de cada igreja. O presbitério é que administra a região. Temos o Sínodo que são regiões de vários presbitérios, e temos a Assembleia Geral Nacional, denominado Supremo Conselho da Igreja. Esse Supremo Conselho determina tudo a luz da bíblia, da Palavra de Deus. Qualquer assunto que contrarie a bíblia, não é aprovado.

Hoje a sede fica em qual cidade?

A sede mesmo está em Brasília. Só que o Presidente da Igreja não mora lá. Ele viaja muito pelas igrejas, ele é eleito por assembleia de quatro em quatro anos. A sede no Distrito Federal existe por questões legais e fiscais. Com relação ao Mackenzie durante os 13 anos e quatro meses que eu trabalhei lá, senti que existe muita seriedade, nunca tive um dia de atraso de pagamento, chegava no dia o dinheiro estava lá, na conta bancária!

O Presbiteriano e o Metodista seguem linhas diferentes?

São entidades diferentes. Há uma discordância em alguns pontos. O Calvinismo recebeu este nome por causa de John Calvin (João Calvino), teólogo francês que viveu de 1509 a 1564. O Arminianismo recebeu este nome por causa de Jacobus Arminius, teólogo holandês que viveu de 1560 a 1609. Para nós, Calvinistas, a salvação vem direta de Deus. Para os Armênianos o indivíduo contribui para a salvação dele.

Qual é a importância da religião para o ser humano?

Para mim é o sustentáculo da vida do indivíduo, para ter uma vida equilibrada, de caráter, de honestidade e sobretudo de fidelidade a Deus. A religião é uma questão de consciência individual.

O senhor pratica ou praticou algum esporte?

Quando estive no colégio gostava de um futebolzinho, mas sempre fui ruim de bola.

São Paulo mudou muito nesses anos desde que o senhor iniciou seu trabalho até os dias atuais.

As diferenças são brutais! Eu fui para São Paulo no início de janeiro de 1981. Quando casei estava sem carro, tinha construído aminha casa. Eu tomava o ônibus Circular, lá pelas sete horas. Foi chegando a um ponto, que se eu tomasse o ônibus no mesmo horário, para descer a Avenida da Consolação, eu não iria chegar as sete e meia, que era o horário do período escolar. Embora eu tivesse liberdade quanto ao horário, sempre procurei estar no horário e sair depois do horário. Já em 1986 eu tinha que tomar o ônibus 6:45 na Rua Teodoro Sampaio! Depois eu vim para Alphaville, no Tamboré. Tinha o ponto de encontro do ônibus do Mackenzie no viaduto Cidade Universitária e ia para lá.  Por volta de 1990 ou 1991 eu estava com o carro, saía 6:45 chegava lá com tempo. Quando saí, em abril de 1994, eu tinha que sair 6:10 a 6:15 a Rodovia Castello Branco já estava lotada. E quando eu voltava, se eu saísse as 17:00 do Mackenzie, até chegar a Rodovia Castello Branco, eu já pegava tudo congestionado. Era uma coisa que eu quase estava entrando em depressão. Era uma vida muito dura, lidar com problemas da escola e depois enfrentar um trânsito extremamente pesado, Gosto de São Paulo assim: vou de manhã e volto a tarde, ou fico um ou dois dias. Moro em Laranjal Paulista, na mesma casa há 38 anos, aqui é um reduto de paz.

O Mackenzie é tido como uma escola de elite. É uma realidade ou não é bem assim?

As escolas particulares de São Paulo, essas antigas, tradicionais, elas são seletivas. O Mackenzie nem tanto, tem uma classe média da prateleira um pouco de cima, porque o Mackenzie não é o que cobra uma mensalidade maior. Nem acompanha aqueles picos altos que outras escolas estabelecem. O Mackenzie cobra uma mensalidade que a família tem condições de pagar, já naquela época manter um filho na escola não era fácil não. O Mackenzie para os professores e funcionários ele estava no meio dessas escolas grandes.

Grandes nomes fizeram parte do corpo docente do Mackenzie!

Quando eu fui para o Mackenzie, quando assumi a direção, passei a fazer parte da Comissão de Vestibular e durante o período até 1986 eu fiz parte da comissão que dirigia os vestibulares do Mackenzie. Tempo do MAPOFEI - Mackenzie, Politécnica e FEI, eles tinham um intercâmbio fabuloso.

Ao lado do Mackenzie há um dos mais importantes e famosos cemitérios, que é o Cemitério da Consolação. O senhor chegou a conhece-lo?

Por duas ou três vezes eu entrei na parte geral do cemitério. No canto de baixo, junto a Rua Sergipe, que é o Cemitério dos Protestantes, ele é isolado do Cemitério da Consolação, ali eu nunca entrei. Faz tempo que eu quero fazer uma visita, inclusive o Reverendo Boanerges está sepultado lá.

A própria Avenida da Consolação mudou muito.

Quando conheci a Consolação era uma rua depois virou uma avenida. Passei muitas vezes de bonde pela Consolação! Tomava o bonde na Rua Teodoro Sampaio, descia a Consolação. Quando vinha de ônibus, do interior para São Paulo, descia no antigo terminal rodoviário intermunicipal que ficava na Praça Júlio Prestes.






 O senhor chegou a frequentar o Mappin?

Nossa! Quantos presentes de casamentos eu comprei lá! Quando fui de Laranjal Paulista para São Paulo, eu tinha trabalhado muito com alunos já adultos. Tinham mais de 20 anos, só que voltavam para a escola. Esses alunos quando casavam, mandavam convites. Para mim, para a minha esposa. Nós tínhamos todos os meses uma média de três a quatro casamentos. As nossas finanças foram sempre um tanto quanto medidas. Eu ia ao Mappin e comprava 8 a 10 peças de inox, trazia para casa, e depois íamos distribuindo à medida que vinham os convites.

O senhor atuou em uma área de pessoas com alto poder aquisitivo, mas nem todos os pais tinham estrutura para educar os filhos. Para o senhor uma função extremamente delicada, principalmente quando a relação escola-aluno beira o impossível. Como o senhor trabalhava com isso?

Passei por momentos difíceis, envolvendo pessoas poderosas, medalhões das mais diversas áreas, pessoas acostumadas a serem reverenciadas em todos os lugares que frequentam, mas que não constituíram uma família com amor, as barbaridades cometidas pelos filhos eles nunca admitiram, até que o final de muitas histórias foi da pior forma possível: pais sepultando filhos e convivendo com a culpa de não os orientar, repreende-los, terem dado péssimos exemplos. Estou falando de pessoas com muita fama e dinheiro. Recebi pais agressivos, mães enfurecidas, tratei-os sempre com suavidade e amor. Fama e dinheiro nunca fizeram de uma casa um lar. É muito amargo ver o destino de um filho ou filha mal orientados pelos pais. A Instituição sempre fez o que pode, até o seu limite máximo. Nas reuniões com os pais sempre salientei que temos dois tipos de pais: os que acompanham a educação dos filhos, passo a passo, esses não têm problemas com os filhos, só escutam elogios. Outros pais são meros reprodutores, põem o filho no mundo e o mundo que os eduque! Nunca tive medo de falar a verdade, nem me preocupei em manter alunos com comportamento abaixo de qualquer crítica, só porque estavam pagando a escola.

Essa educação foi dada pelos seus pais?

Minha mãe soletrava, nunca frequentou a escola. Meu pai aprendeu a ler e escrever com um particular, à noite, com um lampião de querosene. Como filho de italiano, ele sabia escrever alguma coisa, só que misturava português e italiano: colocava dois “éles”, dois “tês”, um “érre” onde deveria ter dois “érres”, mas era um homem muito firme, dizia: “-Não admito reclamação de escola em casa! Vocês vão para a escola para aprende e a respeitar o professor”. Eu tive três filhas, nunca tive problema com nenhuma delas. No nosso caso é diferente, dizíamos: “Seus pais são professores, nós não gostamos de alunos mal-educados”.

Hoje os pais acham que a escola tem que dar educação e ensinar as matérias curriculares?

A educação vem de berço. Vem de exemplos em casa. A escola é uma parceira da família, ela vai contribuir com essa educação. E vai passar aquilo que o aluno tem que aprender. As coisas básicas para a vida.

O senhor aposentou-se com qual cargo?

Eu me aposentei como diretor de escola. Retornei em abril de1994. Estava com um probleminha de saúde, fiquei um tempo fora, com licença sem vencimentos. Voltei a trabalhar em janeiro de 1998, fui até julho de 2001, como diretor da Escola Municipal. Daí fui para a Secretaria da Educação trabalhar com a Secretária. Permaneci até julho de 2004. O prefeito foi reeleito, ele me convidou para ser Secretário e assumi a Secretaria. Encerrei a minha carreira como Secretário da Educação. Por ser cargo de confiança é cargo comissionado. Retornei ao cargo de Diretor e me aposentei em 2008. Quando completei 70 anos entrei na compulsória, aí que me aposentei. Permaneci mais dois anos na Secretaria Municipal em cargo de confiança. Eu estava com 73 anos quando parei de vez! Aprendi uma coisa na vida, a gente nunca deve trabalhar pelo dinheiro, o dinheiro é necessário, ele faz parte, mas a gente deve trabalhar pelo gosto do trabalho. O Mackenzie é uma associação civil filantrópica, Confessional e sem fins lucrativos e econômicos, com finalidade educacional, social, assistencial e de saúde. Tem como associada vitalícia a Igreja Presbiteriana do Brasil. Como instituição educacional privada, aberta a todos, independentemente de crença e características individuais e sociais, ao longo de seus 148 anos de existência, o Mackenzie contribuiu significativamente para o desenvolvimento científico e acadêmico nacional, com várias inovações pedagógicas. Esse pioneirismo levou ao reconhecimento da Instituição como uma das mais renomadas em ensino e pesquisa no Brasil. Com vistas à formação integral de seus estudantes, o Mackenzie prepara o aluno da pré-escola, na Educação Básica, passando pela graduação com cursos em todas as áreas do saber, até a pós-graduação, em níveis de especialização, mestrado e doutorado, além de cursos de Educação a Distância (EaD).Desde 2017, como parte de seu processo de expansão e em sintonia com sua vocação, o Mackenzie tem ampliado suas atividades na área de saúde, associando-se a instituições que são referência em suas áreas de atuação. A Instituição passou a contar com dois hospitais, uma faculdade de medicina e uma escola técnica de enfermagem. Nos dez* campi presenciais, o Mackenzie abriga 846 salas de aula, 319 laboratórios e 17 auditórios, compreendidos em 912.986 m2 de terreno e 209.052 m2 de área construída. Os dois hospitais, Curitiba e Dourados, têm 544 leitos ativos, em 34.931 m2 de área construída. Considera Educação Básica e Superior: campi Higienópolis, Rev.Boanerges Ribeiro/Alphaville, Campinas, Rio de Janeiro, Brasília (dois), Palmas, Dourados, Castro e Curitiba.

 

sábado, outubro 17, 2020

FRANCISCO CONSTANTINO CROCOMO

 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de outubro de 2020.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO: FRANCISCO CONSTANTINO CROCOMO



NA FOTO O QUADRO DE FUNDO É UMA PINTURA  DE MINHA ESPOSA !  

GOSTO MUITO DOS QUADROS DELA ! 

A ELA, FARIDI, DEVO MUITO EM MINHA VIDA! 

 

bacia hidrográfica do rio Piracicaba estende-se por uma área de 12.531 km². Foi utilizado como rota fluvial de acesso ao Mato Grosso e Paraná no século XVIII. Ao longo dos séculos XIX e XX, o rio foi utilizado como rota de navegação de pequenos vapores e como fonte de abastecimento para engenhos e fazendas de cana-de-açúcar e café. Por volta de 1960, o governo paulista decide reforçar o abastecimento de água da Região Metropolitana de São Paulo e constrói diversas represas nas nascentes da bacia hidrográfica do Piracicaba, formando assim o Sistema Cantareira, maior responsável pelo abastecimento de água de São Paulo que capta e desvia águas dos formadores do rio Piracicaba, reduzindo assim o nível de água do rio e de seus afluentes. Muitas famílias tiravam o seu sustento do Rio Piracicaba, com a pesca abundante de peixes de grande porte como o pintado, o dourado, o cascudo. mandi e outros.

 

Francisco Constantino Crocomo nasceu em Piracicaba no dia 01 de setembro de 1954, em Piracicaba. Filho de Francisco Crocomo e Immaculada De Jayme (Immaculada com dois “emmes) e seria Di Giaimo o seu nome original. Eles tiveram 10 filhos: Celso, Celia, Magali, Eny (falecida), Francisco, João, Geraldo, Tarcísio, Paulo e Fernando. Todos nascidos em Piracicaba.

Qual era a profissão do seu pai?

Ele tinha uma funilaria, sua especialidade eram calhas, encanamentos e parte hidráulica. Depois de um bom tempo ele trabalhou com cobre e aço, fazendo tachos, cuscuzeiros, os cuscuzeiros da Rua do Porto foram feitos por ele. Meu irmão agora está fazendo também. O meu pai passou a trabalhar com cobre depois que se aposentou. Esse trabalho em cobre ele já tinha feito anteriormente com o pai dele, Giovanni Crocomo, aqui nos sítios da região. Na época havia muitos alambiques de pinga espalhados pela região.

Seus avós são originários de qual país?

Todos vieram da Itália Meridional e do Sul da Itália. Os avós paternos: Giovanni Crocomo veio de Rivello (Região de Basilicata) casado com Teresa Vidili que veio de Santa Domenica de Talao, região da Calábria. Os avós maternos são: Costabile Di Giaimo veio de Castelabatte na região de Campania, casado com Carmela Di Sapia a Di Giaimo sua origem é de Corigliano Calabro, região da Calábria.

Eles vieram do porto em Santos para Piracicaba?

Acredito que sim. Meu avô paterno foi um dos fundadores quando a colônia italiana de Piracicaba fundou o Clube Cristóvão Colombo em 1917, quando foi denominado como “Circolo Italiano Cristoforo Colombo”. Foi sócio da Societá Italiana di Mutuo Socorros di Piracicaba – Sociedade Italiana de Ajuda Mútua de Piracicaba. O Costabile era pescador na Itália, ele estava sozinho no Brasil, meu bisavô disse: “Vou mandar a minha filha vira para o Brasil! ”. Depois que eles se casaram ela perguntou o nome dele! Ela só sabia falar italiano, eles tiveram 16 filhos, que ele criou pescando no Rio Piracicaba. O Largo do Pescador, onde é a Igreja do Divino Espirito Santo, até a Rua Antonio Corrêa Barbosa antigamente chamada Rua do Sabão, aquela esquina até o Largo dos Pescadores era o casarão deles. Aí ele vendeu, o local onde estão o Largo e a Igreja, ficou com aquela parte em frente ao Clube de Regatas de Piracicaba. Minha mãe dizia que naquela época as terras eram baratas. Foi gravado um depoimento em uma entrevista feita por Haldumont Nobre Ferraz (Tiquinho) e filmada por Thimoteo Jardim, com duas filhas de Costabile, isso ocorreu há uns 20 anos. Na época a filha mais velha tinha 92 anos, presume-se que estamos mencionando fatos de 120 anos atrás. A minha mãe contava que as terras onde mais tarde foi construído o Clube de Regatas de Piracicaba chegaram a pertencer ao meu avô, que as vendeu baratinho. Há de se lembrar que o Rio Piracicaba era caudaloso e as enchentes eram de maiores proporções.

Além de pescar o seu avô exercia outra atividade?

Havia a extração de areia do Rio Piracicaba, utilizava nas construções. Ele subia a Rua Moraes Barros com a carroça puxada por mulas ou burros, carregada de areia. Eram destinadas a construção civil. Os peixes eram vendidos no Mercado Municipal, havia uma senhora que tinha banca de peixes, na época era muito conhecida, ela atendia pelo nome de Colaca. A minha avó costurava, ajudava na casa. A Irmã mais velha da minha mãe era chamada de madrinha, foi quem pediu para que o Tiquinho e o Thimoteo fizessem a gravação do seu depoimento, isso porque o meu avô foi pintar um casarão que funcionava em parte como escola, acima do Largo dos Pescadores, e ao raspar a pintura que estava se soltando apareceu embaixo, uma pintura anterior onde dizia: “Escritório de Navegação”.

O seu avô paterno, Giovanni Crocomo trabalhou em que setor?

A história dele é bonita! Ele fazia os alambiques de pinga, tachos para rapadura, nos sítios da região! Era uma atividade disseminada na região rural de Piracicaba. O meu pai e o meu tio Dudu que tinha a oficina e loja Caldeirão de Ouro, na Rua do Rosário, na Paulista aprenderam o oficio com o meu avô. Depois eles vieram a trabalhar também com inox.

Segundo a Professora e artista premiada, Clemencia Pizzigatti, já falecida, em depoimento ela disse que considerava seu avô um verdadeiro artista!

Foi um artista! E o meu pai também! Antes do meu tio montar a sua loja o “Caldeirão de Ouro” era na Rua Rangel Pestana, no centro. Tinha uma loja lá, “O Caldeirão de Ouro” era lá. Depois meu pai montou uma loja na Rua Benjamin Constant esquina com a Avenida do Café, depois ele montou na Avenida Armando Salles de Oliveira, na verdade quando eu nasci ele tinha a oficina na Rua Floriano Peixoto, eu nasci naquela casa. Nos fundos tinha a oficina do meu pai, ele tinha uma bicicleta. Veículos era para poucos. Os renomados professores da ESALQ utilizavam o bonde. Automóveis só existiam os importados.

Você iniciou o curso primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco?

Todos em casa iniciaram no Barãp. Ficava a duas quadras e meia de casa, íamos a pé. Minha primeira professora foi Dona Maria, depois acho que foi Dona Neusa Corazza, o Diretor era o Nizar.

De lá você foi estudar o ginásio no Colégio Estadual Dr. Jorge Coury?

Fui. Lá fiz o ginásio e o colégio. Inicialmente era na Rua Aferes José Caetano e depois foi construído o prédio novo. Os professores que lecionaram ali marcaram a nossa história. O nível de ensino na esnoba publica era extremamente rigoroso. Os alunos sa8iam com conhecimento, concorriam nas universidades de primeira linha. E entravam. Usávamos uniformes impecáveis: camisa branca, com o brasão da escola bordado no bolso da camisa, do lado esquerdo do peito, calça cinza-chumbo, meias cinza-chumbo, sapatos pretos, engraxados, das marcas Passo Doble ou Vulcabrás. Cabelos aparados. As meninas eram inspecionadas uma a uma pela Dona Margarida Ritter, uma senhora de estatura miúda, dedos pequenos e finos, as saias não podiam estar mais do que dois dedos acima do joelho. Os meninos passavam um a um pela inspeção rigorosa de Miguel Salles.  O professor era respeitadíssimo. Na entrada do professor na sala de aula os alunos levantavam-se até que o professor mandasse sentarem. As datas cívicas eram comemoradas com solenidades. Tudo isso nos uniu e deixou uma saudade maravilhosa.

Sua mãe como fazia?

Imagine, com 10 filhos! Ela tinha que se desdobrar para manter isso tudo na linha. Já tinha filho fazendo o Tiro de Guerra, onde o nível de exigência é maior ainda. A farda tinha que estar impecável, passada, o coturno reluzente, ela dava conta de tudo sozinha! Uma vez ou outra que teve alguém que ajudou! Hoje com um ou dois filhos as vezes reclamamos, imagine ela com 10! Tudo bem que os mais velhos ajudavam a olhar os menores, mas não é fácil!

Outro fator que passa desapercebido, mas que é real, é a questão da alimentação, as diferentes faixas etárias, horários, também exigem alguns diferenciais, além do fator financeiro, que nessa escala pesa muito.

Meu pai sempre foi extremamente zeloso nesse aspecto. Ele literalmente trabalhava para a família. A gente se ajudava. Tinha que ajudar em casa. Tínhamos um bom quintal, haviam galinhas, ovos, frutas.

Na época não tínhamos televisão!

Quando começou a transmissão de televisão eu ia na Rua Moraes Barros, eu tinha minhas tias que moravam lá. Uma delas tinha adquirido uma televisão. Sentávamos em frente a televisão. Lembro-me de que a gente se aprontava, penteava o cabelo para ir até lá. Ficávamos sentados no chão, e tinha que nos aprontai porque o homem do outro lado da tela estava vendo-nos! Tinha que ter uma disciplina! Minha tia falava e acreditávamos: “ Olha lá o homem está vendo! ”. E nós acreditávamos. Tinha que se portar em frente a televisão.

Houve em sua família um fato muito importante tendo como referência a queda do COMURBA?

Morávamos na Rua Floriano Peixoto, três dos meus irmãos saíram para ver o Museu de Cera, o mais velho foi tomando conta dos dois mais novos. Eu fiquei estudando com a minha irmã. Ficava nas proximidades do Edifício Luiz de Queiros, em construção. O Edifício Luiz de Queiroz, conhecido popularmente como COMURBA, foi um prédio que começou a ser construído em 1950 e em 1964, estava em fase de acabamento, época em que desabou parcialmente. Minha tia Luzia (Seu nome correto na Itália é Lucia), casada com o meu tio Augusto, morava ali na Rua Moraes Barros, ela fazia um bolo, um café que era uma delícia. Eu estava escutando o rádio com a minha mãe, deram a notícia de que tinha caído o COMURBA. Lembro-me daquela poeira. Minha mãe, minha irmã e eu ficamos desesperados. Não deu um minuto e eles ligaram da casa da madrinha, irmã da minha mãe e disseram: “Avisa a mãe que viemos comer um bolo aqui! Depois nós vamos no museu”. Esse museu ficava na Rua Moraes Barros, perto da Pinacoteca. Costumo falar que o bolo da madrinha salvou os três!

Teve um período em que você foi coroinha?

Teve sim! Fui coroinha na Igreja dos Frades. Eu tinha por volta de 10 anos. Fui Presidente dos Coroinhas, Cordigero. As dependências da igreja englobavam uma área grande, tinha até um cafezal, um campo de futebol onde jogávamos. E também por conta do meu irmão mais velho ter estudado no Seminário Seráfico São Fidélis, éramos muito próximos, íamos jogar futebol no Seminário.

Lembra-se dos dias de casamento?

Muito! Havia uma passadeira enorme em uma espécie de carretel, o tapete ia da entrada da igreja até o altar, desenrolar e enrolar dava um bom trabalho. Mas tinha também as peraltices próprias da idade, após a cerimônia, os noivos iam ao salão de festas, que ficava em frente a igreja. O normal eram dois coroinhas auxiliarem o celebrante. Era relativamente comum ir quase uma dezena de coroinhas na festa, entravam como se tivessem ajudado na cerimônia. Havia uma tolerância por se tratar de crianças e eram integrados aos festejos e comilanças. As famosas quermesses realizadas em um amplo espaço ao lado da Igreja dos frades, as festas juninas. Com o passar do tempo, já, adolescentes havia a paquera, nas festas havia o tradicional “Correio Elegante”, mas aos domingos após a missa de vez em quando ia tomar um sorvete na Padaria INCA ou de vez em quando ia ao cinema.

Quem fazia as hóstias eram a irmãs do Lar Escola Coração de Maria Nossa Mãe. Você chegou a ir buscar?

Fui! Elas sempre davam retalhos que adorávamos. Essas pequenas coisas tinham um significado muito importante em nossas vidas.

Os apitos de trem!

Eu morei na Avenida Independência, ao lado passava a linha do trem da Estrada de Ferro Sorocabana, teve muitos acidentes ali, chegamos a socorrer pessoas acidentadas. Na Avenida 31 de Março. Onde hoje tem um hipermercado sempre tinha circos, parques. Ali havia uma bica, chamada Olho da Nhá Rita.

 

Francisco Constantino Crocomo após o concluir o curso colegial na Escola Estadual Dr. Jorge Coury. Você prosseguiu seus estudos em que área?

Entrei na UNIMEP, entrei em 1973 na ECA – Economia, Contabilidade e Administração. Logo passei a dar aulas na UNIMEO, foi quando fiz o Mestrado em Economia e Sociologia Rural da ESALQ. Me formei Mestre em Economia Rural. A seguir lá mesmo fiz o Doutorado em Economia Aplicada.

Você tem uma veia artística voltada para a escultura em madeira?

Tenho muita facilidade em trabalhar com madeira. Faço isso como lazer. Tive a agradável surpresa em ser premiado no Salão Internacional de Humor com uma escultura em madeira que provocava a reflexão.

 

 

 

 

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