PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 31 de outubro de 2020.
Entrevista:
Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços
eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: WANDER VIANA SANTOS
O Bacharel em Direito Wander
Viana Santos é o exemplo de que para o ser humano é ele mesmo quem impõem seus
limites. Nascido na cidade de São Paulo, a 11 de janeiro de 1971, no Bairro da
Mooca. Quando tinha por volta de três anos de idade sua família mudou-se para
Piracicaba.
Isso significa que você se considera
piracicabano?
Exatamente! Meus pais são
Wanderley Viana Santos e Edy Lima Santos que tiveram ainda as filhas Karina e
Ediley.
A atividade profissional do seu pai era qual?
Na época era corretor de imóveis.
Minha mãe era do lar.
Na época vocês moravam em que bairro de
Piracicaba?
Morávamos no bairro da Paulista,
na Rua São Francisco de Assis entre a Rua Boa Morte e Rua Governador Pedro de
Toledo. Frequentava a Igreja dos Frades, na época existia a Missa das Crianças,
era uma missa elaborada para que houvesse a participação das crianças.
Geralmente após as missas encontrava os coleguinhas.
Os seus estudos, inicialmente você fez em
qual escola?
Fiz o pré-primário, o primário e
o ginásio, antiga oitava série, no Colégio Nossa Senhora da Assunção, que na
época já era uma escola mista, antes aceitava apenas meninas. Após concluir o
ginásio, fui para o Colégio Dom Bosco.
Você começou a trabalhar ainda muito jovem?
Por uma questão de necessidade
familiar, com uns 12 a 13 anos comecei a trabalhar.
Qual era a sua atividade?
Nessa época eu morava na Rua São
Francisco de Assis, próximo a Rua Governador Pedro de Toledo, minha mãe fazia
empadinhas, eu com uma cestinha de vime, eu ia pela Rua Governador Pedro de Toledo,
o comércio começava da Avenida independência em diante. Eu descia a Rua
Governador até o final, ia de loja em loja, vendendo, e tinha que voltar com a
cestinha vazia. Nem sempre esvaziava. Mas sempre levava um troquinho para
ajudar em casa.
A medida que você foi crescendo, surgiram
outros trabalhos, outros serviços.
Depois disso eu trabalhei em uma
loja de roupas para bebê, eu tinha uns 16 anos, fazia serviço de office-boy,
era uma espécie de faz-tudo. Depois disso fui trabalhar em uma papelaria a.
Artes XV, de propriedade do Sr. Ernesto. Lembro-me de que escutava o apito do
trem da Companhia Paulista. Da Artes XV fui trabalhar na Bunnys no Shopping Piracicaba. Lá fui contratado como
funcionário temporário, isso foi no Natal, quando saí de lá eu era gerente da
loja. Fui o primeiro gerente que saiu de outar cidade sem ser do polo
Campinas-São Paulo. Na Bunnys você atendia tanto o publico masculino como o feminino.
Na época era uma loja voltada ao p[publico com bom poder aquisitivo. O shopping
atraia muitos jovens. O jovem na época era um pouco mais contido, era uma
convivência saudável.
Qual era o seu horário de
trabalho?
Na época em que eu era gerente eu entrava cedo,
8:00 ou 9:00 horas da manhã, abria a
loja,, e as vezes fechava a loja 22:00 horas, 23:00 horaras, e saia do shopping mais de meia noite. A essa
hora não tinha mais ônibus, eu ia a pé para casa. Era uma puxadinha boa! Subia
a Rua do Rosário, só que os tempos eram outros. Nunca tive nenhum problema de
violência.
Da Bunnys, você já estava
cansado,foi fazer outra coisa?
Fui para uma loja de móveis no centro de
Piracicaba, só que fiquei por um tempo, isso porque eu ja tinha prestado
concurso na Prefeitura Municipal de Piracicaba. Quando eu estava na loja de
móveis me chamaram na Prefeitura. Isso fo em 1990. O prefeito era o José
Machado.
Você entrou com qual função?
Entrei como escriturário. Na época eu tinha 19
anos. Com o passar do tempo, você foi galgando cargos por méritos, até chegar
ao cargo de Chefe de Divisão de Compras.
É um cargo de muita
visibilidade?
E de muita responsabilidade! Concorrência
públicas envolvendo valores expressivos.
Muitas noites de sono
perdido?
Nem me fale! Editais complicados, tem que
acompanhar, seguir a lei ao pé da letra, nada pode passar desapercebido.
Você pegou a época da
informatização na Prefeitura?
Peguei a época da informatização. Eu comecei a trabalhar na Prefeitura na área de Recucos Humanos, depois fui para Compras, peguei a ápoca do Redator da Itautec, era uma tela em fósforo verde. O computador precisava ter Disco de Boot. (Um disco de boot é uma mídia de armazenamento digital pelo qual um computador pode carregar e executar (dar boot no jargão da área) um sistema operacional ou outro programa utilitário. O computador precisa ter um outro programa interno que carregue e execute um programa de um disco de boot que obedeça alguns padrões.Logo depois veio o computador com CPU, depois lançaram o Windows, Cheguei a usar disquete de 8 polegadas,depois veio o de 5 ¼ de polegadas. Quando entrei na Prefeitura, fui trabalhar no Departamento de Relações Humanas, a folha de pagamento rodava naqueles rolos de fitas magnéticas gigantes, o pessoal técnico chamava de “panelão”. Essas fitas eram mandadas para São Paulo para rodar a folha de pagamento! O equipamento que usávamos ocupava uma sala inteira. Era armazenamento de informações que hoje cabem em um pen drive!
Com o seu progresso na Prefeitura, você decidiu fazer uma faculdade?
Fui fazer o curso de Direito.
Por que você escolheu o curso de
Direito?
Foi em função da área em que eu
estava. Como eu trabalhava com licitações, contratos, mexia diretamente com
essa parte, gosta muito da área Legal. Fui fazer para ter mais conhecimento,
mais bagagem.
Você entrou na faculdade com que
idade?
Entrei na Faculdade de Direito na
UNIMEP Universidade Metodista de Piracicaba em 2001. Eu tinha 30 anos. Estudei
por 3 anos. Aí tive que parar.
Você trancou a matricula?
Tranquei por motivo financeiro
mesmo. Continuei trabalhando normalmente.
A Prefeitura não oferecia bolsa
de estudo na época?
Na época a Prefeitura chegou até
a oferecer bolsa de estudos. Foi um período em que além do problema financeiro,
apareceram ocorrências domésticas, minha mãe estava com problemas de saúde, eu
tinha que estar mais presente em casa. Foi uma soma de fatores.
No aspecto profissional, é de se
imaginar que as coisas estavam indo bem, você como Chefe de Departamento tinha
um salário razoável, ou seja tinha um bom salário, uma posição
profissional de destaque. Ali dentro você tinha amigos importantes, como os
prefeitos que exerceram seus cargos. Eles tinham uma relação muito próxima com
você.
De fato, tinha um excelente relacionamento
com prefeitos, secretários. Chequei até a participar de reuniões de
secretariado, juntamente com o prefeito, por conta das compras.
Você era um homem-chave dentro do
sistema administrativo da Prefeitura.
Na época sim! Estávamos
instalados no prédio novo, da Avenida Antonio Correia Barbosa.
Para a sua família sua conquista
foi motivo de muito orgulho?
Sem dúvida! Sempre é bom crescer
no trabalho, poder esforçar-se pelo que fazemos e termos o reconhecimento, isso
é bom.
Mudando o foco da nossa conversa,
você é exímio cozinheiro?
Me viro bem sim! Gosto mais de
fazer pratos doces. Se precisar também dou conta se precisar fazer salgados.
Meus bolos são muito famosos!
Hoje você tem uma limitação
visual, mesmo assim continua a fazer bolos?
Claro! Com certeza! Meus bolos
ficaram muito famosos! Aperfeiçoei minhas técnicas!
É um trabalho que você faz por
prazer, mas se alguém for comemorar um aniversário e encomendar um bolo, você
faz?
Acredito que não terei problemas
em confeccionar um bolo, particularmente de chocolate que é a preferência da
maioria! Teve uma época em que fiz esses bolos mais caseiros, acredite, cheguei
até a vender alguns! Os bolos que faço são incrementados, com calda, quem
prova, aprova! Esses dias o meu filho pediu para que eu fizesse um prato
salgado. Fiz um macarrão gelado, com ervilhas frescas, milho, presunto, queijo.
Esse ficou bom! Todos comeram à Ana Maria Braga: de joelhos!
Após esta publicação, algo me diz
que você irá receber muitas vistas!
Você é casado?
Sou casado com Carolina Carranza
Viana, temos dois filhos: Gabriel e Ana Clara. A Ana Clara é a caçulinha com 5
anos. O Gabriel é um rapaz com 21 anos, está no oitavo semestre de Direito.
Atualmente qual é a sua função na
Prefeitura Municipal?
Estou como escriturário. Na Secretaria Municipal do Trabalho e Renda.
Há uma versão de que você é um exímio
datilógrafo, ou seja, digitador. Assim como quando você era muito jovem, e
admirava uma moça que na época digitava olhando o ambiente, passarinho
cantando, ou seja, era de uma habilidade incrível.
Hoje não acredito que seja melhor do que
ela, mas sim igual. Uso o notebook, é o meu fiel companheiro.
Após algum tempo, você decidiu concluir
o curso de Direito? Só que nesse intervalo, você foi acometido de uma doença,
que o tornou totalmente sem visão. Imagino que deve ter sido um período de
grande superação, carregado de amargura, tristeza?
Sempre há um período que é natural isso
tudo acontecer, houve momentos difíceis, nesse período todo continuei
trabalhando, em 2008 apareceu um problema na vista, fui ao oftalmologista,
embora tenha feito o possível, fui perdendo a visão rapidamente. Era um herpes
ocular. Fiz algumas cirurgias, mas infelizmente não teve como reverter. Perdi a
visão de ambos os olhos. Tive um período de readaptação, a Prefeitura Municipal
de Piracicaba através dos departamentos envolvidos, me deu muito apoio. Na
verdade toda nós aprendemos um pouco juntos, isso porque fui o primeiro
deficiente visual a trabalhar na Prefeitura. Nesse período de adaptação fiquei
por dois anos afastado. Acabei perdendo o meu cargo, era inviável permanecer no
Departamento de Compras. Fui para a Secretaria da Educação. Perdi a visão com
37 a 38 anos. Eu era solteiro ainda. Na época eu namorava. Ela me largou porque
fiquei cego. ( Wander solta uma gargalhada). E continua: “- Ela largou de mim
por telefone, quando fiquei cego. (Wander não consegue conter a
gargalhada.) Acho que foi a melhor coisa
que aconteceu na minha vida!
Como a vida nos surpreende, aconteceu
algo inesperado: a grande paixão da sua vida!
Foi por acaso. Durante a minha
reabilitação, eu dizia a minha terapeuta que achava que iria morrer solteiro.
Sem amigos. Sem ninguém. Como eu iria fazer amizade com alguém? Imagine só,
como eu iria paquerar cego? Contato, amizade, tudo é visual.
Você pensou: “Como vou entrar em uma
balada desse jeito? ”
Tem uma situação muito engraçada. Até
2007, antes de ficar cego, eu estava sempre em uma balada, em um barzinho,
sempre acompanhado com muitos amigos, não faltavam amigos. Depois que fiquei
cego sumiu todo mundo! Um dia o meu sobrinho disse-me: “Oi tio! Vamos sair!
Vamos com os meus amigos, tomar uma bebida! ”
Conheci os amigos dele, insistiram, fui na balada com eles! Sempre
gostei, sair para uma balada, tomar uma cervejinha. Fomos. Estávamos juntos em
um determinado espaço, o lugar estava cheio. Foi quando eu disse: “ Se vocês
perceberem que tem alguma menina olhando para mim, puxe o meu queixo, aponte na
direção da menina, você me manda piscar para ela! ”.
Aconteceu alguma coisa?
Não aconteceu nada! Foi só palhaçada!
No fim você acabou conhecendo uma moça,
que é a sua esposa.
Isso! Quando estava definido que eu iria
para a Secretaria da Educação, eu iria começar em 10 de janeiro. Como eu era
muito conhecido, todo mundo me conhecia, na própria Secretaria da Educação
muita gente me conhecia. Ia ter a confraternização de Natal, fui convidado para
a confraternização. Lá já fui apresentado à Carol, ela sentou-se ao meu lado a
mesa. Tomamos um chope, conversamos um pouco e só isso. Comecei a trabalhar,
aí uma amiga da Secretaria da Educação, que é amiga comum, minha e dela,
convidou-nos para tomar um chope na Rua do Porto. Fomos nós três, foi aí que
tive mais contato com ela, conversamos, na época existia o sistema MSN, de
conversação por computador. Passamos a conversarmos, quase todos os dias. Dali
a uma semana e pouco combinamos de sairmos só nós dois. Aconteceu o primeiro
beijo. Começamos a namorar. Fazia duas semanas que eu estava Trabalhando na
Secretaria da Educação e já estava namorando.
Da direita para a esquerda: Wander, sua esposa Carolina, sua filha Ana Clara e seu filho Gabriel.
Rapidinho, não é?
Foi motivo de gracejos. O pessoal dizia:
“ Nossa! O ceguinho nem acabou de chegar e já está namorando! Imagine se ele
enxergasse! ”.
A sua esposa e você são pessoas
religiosas. Como você classifica a importância de Deus na vida da pessoa?
É fundamental! Acredito que o exemplo é
a melhor forma de expressar a presença de Deus em nossa vida. Desde a minha
infância Deus esteve presente na minha vida. Principalmente durante o período
em que fiquei cego, só eu sei das minhas conversas com Ele, trancado no meu
quarto, quando eu estava passando pelo que estava passando.
Você teve muitas conversas com Deus?
Muitas! Muitas! Pode até ter quem não acredite, mas eu
nunca perguntei por que? Sempre fui uma pessoa muito centrada, conheço minhas
responsabilidades e limitações. Por
muitas vezes tranquei a minha porta, deitei em minha cama. Nunca perguntei por
que? Nas minhas angustias e depressões eu dizia: “ Está bom! Eu aceito, mas me
dá a força porque está muito difícil! Só me dá a força e me mostra o caminho!
Eu não estou conseguindo superar! Mesmo porque eu não me considero uma pessoa
especial, fora do alcance de toda e qualquer doença! Há uma tendência de a
pessoa indagar: “-Por que aconteceu isso comigo? ”
É muito nítido e
admirável o seu bom humor, a sua disposição, você é muito carismático! A
mosquinha azul da política nunca passou perto de você?
Passou! Já passou! Na verdade, eu já fui candidato a
vereador em uma eleição. Só não consegui fazer a contento o que precisava fazer
porque não tive condições financeiras. Eu gostaria de fazer algo mais por
Piracicaba. Acredito que posso fazer, até mesmo pela bagagem
político-administrativa que eu tenho. Piracicaba tem 23 vereadores, sendo que
apenas um é portador de deficiência. Cada vereador tem de 3 a 4 assessores, não
tem nenhum assessor deficiente! Nós não temos a capacidade nem para ser
assessor?
No Brasil, as políticas públicas voltadas ao deficiente
são quase nulas?
Não existe praticamente nada. Existe uma ou outra inciativa,
mas sem coordenação e planejamento. O fato de estar inserido nesse meio,
estudamos e conversamos muito com a respeito, o Brasil hoje tem uma das
melhores legislações voltadas as pessoas deficientes, do mundo inteiro. Mas
infelizmente é teórica! Na pratica não funciona! A nossa Constituição Federal é
perfeita. Temos a Lei Brasileira de Inclusão, que garante todos os direitos à
pessoa com deficiência, mas infelizmente falta muito para essas políticas
públicas serem mais efetivas.
Você é Bacharel em Direito, em que ano você se formou?
Eu me formei em 2013. Após voltar a trabalhar, decidi
voltar à faculdade. No início foi um período de adaptação, superei as
limitações e conclui o curso. Chegou o dia da formatura. Foi um dia que marcou
e marcara para o resto da minha vida. Coincido de me formar junto com a turma
do meu sobrinho que também estava fazendo a faculdade. O nervosismo nessa hora
é muito natural. O teatro da UNIMEP estava lotado, a turma era bem grande,
tinha quase 80 formandos. Multiplicando pelas famílias todas. O teatro é em declive, com as poltronas
assentadas em semicírculo, e degraus de fileira em fileira. Isso passando pelo
meio do teatro, para até o palco e os formandos sentarem-se lá. Foi feita uma
fila dupla e por ordem alfabética. O meu nome por ser com “W” era o último a
ser chamadora. Aí ficou aquela coisa, ele vai sozinho, sozinho não irá
conseguir, não tinham muita intimidade pelo fato de fazer matérias em diversas
salas. A saída foi torar o meu sobrinho, que estava na letra “D” e seríamos os
últimos. Foram chamando cada dupla, até que ficamos só nós dois para entrarmos.
Cada vez que descia uma dupla o teatro aplaudia. Quando nos chamaram, o povo
levantou-se, as palmas eram muitas, o pessoal gritava e batia palmas, acho que
bateram palmas por uns três minutos! Eu tremia! Não conseguia segurar e levar a
bengala de lá para cá. Demorei para descer os degraus, me emocionei muito. A
seguir foi a entrega do diploma. Quando fui receber, o teatro novamente se
manifestou bravamente.
Uma curiosidade, você dança?
Danço! Gosto de dançar! Gosto de um forrozinho, um
sambinha, eu só fiquei meio desiquilibrado!
Nem todos, mas muitos também ficam desiquilibrados, mas
por causa do teor alcoólico! Isso é comum!
Você já fez um balanço da sua vida como era quando tinha
a visão e hoje que é totalmente sem visão?
Já fiz! Eu conquistei e aprendi muito mais nos doze anos
que estou cego do que nos meus 38 anos que tinha a visão perfeita. A gente
passa a ter um desprendimento de algumas coisas, que trazem uma sabedoria
diferente, uma visão do mundo diferente. Vou dar um exemplo bem básico. Você
entre em um recinto, onde tem meia dúzia de pessoas: uma madame, um mendigo, um
negro, um cadeirante. Você para na porta e instantaneamente terá muitas reações
passando pela sua cabeça. De cada pessoa que você está olhando. Vai entrar na
sala e naturalmente pensar: “O que eu estou fazendo no meio dessas pessoas
estranhas? ”. Hoje eu entro em uma sala e digo: “-Bom dia! ” Todo mundo
responde “Bom dia! ” Com a mesma alegria que eu falei. Vou puxar assunto com
qualquer pessoa. Pode ser a melhor ou a pior pessoa do mundo, sem eu saber. Como
não sei o visual dela, eu não estou julgando. Temos o péssimo habito de
julgarmos as pessoas antes de conhece-las.
Você tem algum prato preferido?
Tenho dois, que por sinal não são nada saudáveis: lanche
e pizza. Também gosto demais de macarrão.
O exame da Ordem dos Advogados do Brasil como está?
Estou aguardando o fim da pandemia,
Quantos livros você lê por semana?
De um a dois livros. Leio um pouco de tudo. Não gosto
muito de clássico. Assisto filmes da Netflix. (Uma nova tecnologia permite
que o texto de um livro seja digitalizado e a leitura é transmitida por voz ao
ouvido do deficiente visual).
Você tem sonhos enquanto
dorme?
Eu sonho! Colorido! Sonho
até mais do que gostaria, gostaria de sonhar menos. Tem dia que acordo mais
cansado do que quando fui dormir de tanto que sonho.
Você acredita que o ser
humano tem um campo de energia?
Acredito e muito!
Você sente a energia de uma
pessoa ao seu lado, se é positiva ou não?
Sinto, e hoje muito mais. Eu falo para a Carol, minha
esposa, quando conhecemos alguém, algum lugar. Ela comenta que achou o lugar ou
a pessoa muito bacana. Quando chegamos em casa começamos a conversar, eu já na
hora sei dizer se a pessoa é do bem. Por mais legal que pareça. É só uma
questão de tempo. Ela me diz: “ Você tinha razão! ”
O tom da voz revela a pessoa?
Revela a pessoa! Eu tenho um sentido aguçado para o tom
da voz. A pessoa conversa comigo já sei como ela é.
Você é associado a alguma
entidade voltada ao Deficiente Visual?
Já por muitos anos, desde 2014, sou associado ao Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, onde já ocupei vários cargos como Conselheiro, Coordenador e hoje novamente sou Coordenador. É constituído por 10 membros da sociedade civil e 10 membros do Poder Público, mais os suplentes, totalizando 40 pessoas. Funciona na Rua Joaquim André, na Casa dos Conselhos. As reuniões são mensais. Todas as primeiras quartas feiras do mês das 19 às 21 horas.
Rosas feitas pétala por pétala , a azul em homenagem à Gabriel e a rosa em homenagem à Ana Clara. Wander já tinha perdido completamente a visão.
Wander, embora sem sem visão, moldou duas rosas, péta por pétala em massa plástica pertencente a sua filha e que estava para ser descartada. Ali se revelou sua qualidade de artista e pai: fez uma rosa azul para o filho e outra rosa para a filha. Wander é um palestrante em potencial, guarda boas memórias, uma delas é a grande amizade com o radialista, apresentador e mestre de cerimonial Xilmar Ulisses, que faleceu deixando muita saudade, e que Wander relembra com carinho.