PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 07 de novembro de 2020
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços
eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
CRÉDITO FOTOS E FILMAGENS: HELDER PRADO, RICARDO CASSIMO
ENTREVISTADO:
LUIS FERNANDO MAGOSSI
(GORDO DO BARCO)
Luis Fernando Magossi tem uma
paixão indescritível pelo Rio Piracicaba. Uma amizade antiga entre ele e o rio,
que já os tornou irmãos. Luis não vive sem o Rio Piracicaba. O Rio Piracicaba
retribui acolhendo Luis como seu amigo e benfeitor.
ALÍVIOS JOVENS QUE SERÃO SOLTOS NAS ÁGUAS DO RIO PIRACICABA POR LUIS FERNANDO
Luis Fernando Magossi nasceu dia
20 de março de 1962, em Piracicaba.
Em que bairro você
nasceu?
Nasci na Rua
Tiradentes, próximo da Rua do Porto. Meus pais são Persão Magossi e Maria José
Jordão Magossi. Ambos eram professores.
O curso primário você
fez em qual escola?
O primário estudei uma parte na Escola Paroquial São
Norberto, no Bairro São Judas Tadeu, a outra parte fiz em São Paulo, quando a
minha mãe escolheu a cadeira de professora em Ferraz de Vasconcelos, o ginásio
estudei no Mello Ayres, em Piracicaba.
Você chegou a ser aluno do seu pai?
Fui aluno da minha mãe, do meu pai não.
Você é casado?
Sou. Com Lucimar Regina Custódio, temos uma filha, a
Juliana.
Você estudava e trabalhava, ou só estudava?
Eu estudava e trabalhava. Meu primeiro emprego foi
na Organização Fisher Contábil, situado no subsolo da Rádio Educadora de
Piracicaba, a Rua Boa Morte, era de propriedade de dois irmãos: Joaquim Celso
Fisher e Airton Fischer. Dali fui trabalhar na Ajax Baterias, de propriedade do
Arnaldo, dali fui para a Assistec Equipamentos para Laboratório. Dali segui a
vida, fui trabalhar na Júpiter Processamento de Dados, Júpiter Bolachas. A
Júpiter era de propriedade de S.L. Alves, Sérgio Leopoldino Alves. Na época
ficava na Avenida Cassio Paschoal Padovani. Entrei como auxiliar de custos,
passei a ser operador de computador e posteriormente para programador de
computador. Fiz alguns cursos de computação, mas na época os profissionais
tinham que aprender fazendo! Não havia essa profusão de escolas de formação
nessa área. Era um segmento muito novo. Trabalhava muito.
Da Júpiter você foi trabalhar em que local?
Passei a trabalhar em São Paulo, embora tenha
continuado a morar em Piracicaba. Lá eu exerci por uns seis anos a função de
Programador de Computador. Era funcionário contratado. Trabalhei na Max Factor,
produtos cosméticos, na Pró- Estética Produtos Cosméticos, fazia assessoria
para várias firmas: BDO; HOS Engenharia; Up-Date. Sem falsa modéstia, eu era
muito bom nessa área, só que prometi que nunca mais iria trabalhar com isso!
Quando comecei ao equipamento era Burroughs 6900, depois entraram os
mini-computadores, no caso foi a LABO 8034; depois passou para LABO 8043. Na Júpiter eu já trabalhava com o LABO
8043.
E
dava muitos problemas de hardware? (No jargão da informática, a “ a máquina
dava muito pau”)?
Dava trap 111, trap 147. Era comum ocorrer muitos
erros. A memória era com Disco Rígido de 33 Megabytes. Era o chamado “Panelão”
pelas suas dimensões enormes. As meninas que trabalhavam durante o dia, para
fazermos o procedimento final do dia, elas não conseguiam levantar o disco,
pelo peso dele. Um computador 8043 com 256 Mb de memória ocupava uma sala de 2
x 3 metros.
Você trabalhou com equipamentos IBM também?
Tive uma proposta para ir trabalhar em ambiente IBM,
mas não quis porque eu já estava de volta para Piracicaba.
Em 1984 a Cooperativa dos Plantadores de Cana de
Piracicaba, o Mendes me procurou, eles queriam implantar um sistema de
computador aqui, tinha um rapaz que trabalhava comigo, por sinal muito
inteligente, viemos para Piracicaba e nós implantamos o sistema no computador
na Cooperativa da Cana. A linguagem utilizada era o Basic. Eu não gostava das
linguagens Cobol, Assembler. À linguagem Assembler é bastante complexa.
Implantamos o sistema em Piracicaba, inclusive o pagamento da cana-de-açúcar
pelo seu teor de sacarose. Antigamente o pagamento era feito por tonelagem. Depois
que implantamos o sistema começou a ser levado em consideração o “brics” da cana,
que é o teor de açúcar da cana. E pagava o fornecedor de acordo com o teor de
açúcar da cana. Era a forma mais justa de se pagar a cana. O agricultor que
tratava bem a sua cana, fazia a adubação, tudo certinho, a cana revertia para
ele em açúcar.
Nessa época você tinha que idade?
Por volta de 20 e poucos anos. Foi nessa época que
começou a minha história com o barco. Eu estava pescando no Rio Piracicaba,
esperando um amigo chegar, eu estava tarrafeando no posso. (Jogando uma malha
de pesca, a tarrafa, em um local onde o Rio Piracicaba tem uma profundidade bem
maior do que os demais lugares). Naquela época era permitido tarrafear no poço.
Nisso parou um automóvel Corcel II amarelo, tipo “Pacheco”, era o Mendes da
Cooperativa, ele me chamou, eu estava com barco a remo, encostei o barco, ele
então disse-me: “ Luizinho, tem um pessoal comigo, do Paraná, eles vieram para
um casamento (De algum parente do Mendes), você não os leva para dar uma
voltinha de barco? Respondi-lhe: “-Lógico! ”.
Levei 5 ou 6 pessoas, duas voltas exatamente o mesmo percurso do passeio
de barco hoje. Impressionante! Ba segunda-feira o Mendes me chamou, na época eu
pesava 75 a 80 quilos, ele me chamava de Luizinho. Ele disse-me: “-Porque você
não faz esse passeio que você fez com eles, mas cobrando? ”. Essa ideia surgiu
com ele: Antonio Mendes de Barros Filho.
Você já tinha pensado nisso antes?
Já tinha pensado alguma coisa nesse sentido. A minha mãe dizia que do jeito que eu gostava do Rio Piracicaba ela nunca tinha visto nada igual. Eu morava no Bairro Noiva da Colina, próximo a Concessionaria de caminhões Pirasa. Tinha dias que eu sauiá de casa as quatro e meia da manhã, com a varinha nas costas, e eia a pé, eu tinha vergonha de tomar ônibus com vara de pesca e tralhas de pesca. Ia a pé pescar na Rua do Porto, ficava até a noite pescando. Por volta de 1982 minha mãe disse: “Do jeito que você gosta do Rio Piracicaba, você vai ter que viver pelo rio! ”. Isso permaneceu em minha cabeça. A dica que o Mendes deu, para que eu fizesse passeio de barco, mais as coisas que a minha mãe aconselhava, resultou na minha ligação com o Rio Piracicaba. Meu pai também gostava muito do Rio Piracicaba.
Atualmente o passeio de barco faz qual
trajeto?
O barco sai do Pier da Rua do Porto, em frente à Rua XV de Novembro, desce o Rio, passa embaixo da Ponte do Morato, anda 100 metros e volta. Cada volta leva 14 clientes. Se tiver cheio. Mas se tiver apenas uma pessoa, também faço o passeio.
Esses passeios são mais frequentados por
crianças ou por adultos?
Adultos! Bem mais adultos do que crianças.
Todos com equipamentos de segurança, coletes?
O barco segue todas as regras da Marinha do Brasil, se não obedecer, não vai! Sou extremamente chato com segurança, limpeza e cuidado.
O barco é de alumínio ou de madeira?
É um barco da Turis Bolt, próprio para turismo, quando foi feita a fabricação do barco, solicitei deles que os bancos fossem feitos em alumínio tubular, para ficar mais clean, mais despojados, com isso conseguimos fazer um espaçamento lateral entre bancos, de 90 centímetros, para que passassem cadeirantes. Tenho uma rampinha no barco, chega o cadeirante, colocamos a rampinha, embarcamos o cadeirante, tem capacidade para levar seis cadeirantes cada volta de barco. Levo-os lá para trás, de ré, travo a cadeira, todos com colete salva-vidas, eles curtem o passeio e adoram! O nosso passeio tem muitos diferenciais, levei 24 anos para conseguir emplacar esse passeio. Quem deu o sinal verde e apoiou foi Barjas Negri. Ele disse: “ O projeto é ótimo! É tudo por sua conta? Então pode fazer! ”. O Omir Lourenço era o Secretário de Turismo, também apoiou. Semana retrasada fui a uma reunião com o Barjas, para solicitar algumas coisas, porque eu cuido do Rio, como se fosse a minha casa. Na reunião o Barjas disse: “Vou falar para você algo que nunca falei: o passeio de barco, nos últimos10 anos foi uma das coisas mais positivas que já teve em Piracicaba! ”. O passeio já tem 12 anos. Para mim esse passeio é a realização de um sonho de 24 anos. Não desisti. Minha mãe dizia: “ Se você gosta, é isso que você tem que fazer! ” Deu certo, é um sucesso até com turistas estrangeiros. Desse passeio de barco surgiram todos os programas de televisão que eu fiz. Trabalhei no programa “Terra da Gente” da TV Globo, onde eu fiz comida para eles, como convidado, por sete anos. Agora fiquei um ano e um mês na Band no programa “Estação Viola Brasil” junto com Mazinho Quevedo, ontem fiquei na casa do Mazinho até a meia noite. Eu fazia um quadro chamado “Panela Velha”.
Você é um bom cozinheiro também!
Em tom de brincadeira, Luis responde: “Bom eu não
sei, mas grande eu sou! Sou o maior cozinheiro de Piracicaba: 126 quilos!
Qual é a sua especialidade?
Minha especialidade é tudo que for de comer! Faço o
que pedirem. Só que eu provo bastante antes! (risos).
Se alguém quiser fazer uma festa, você faz?
Hoje eu não faço mais. Tive bufê por 20 anos. Chamava-se “Clube do Churrasco”. Não faço mais porque o barco ocupa muito o meu tempo. Isso sem contar o Instituto Beira Rio. Todo o meu tempo dedico a essas duas atividades. No mês em que comecei com o barco, em 2008, parei co o bufê.
Quantas voltas de barco você faz por dia, aproximadamente.
É muito relativo.
Sábado passado dei seis voltas no dia. Domingo umas vinte voltas!
Chego a dar 30 voltas! Se chegar você e seu filho,
eu não vou deixar vocês esperando completar o número de passageiros! Espero uns
5 ou 10 minutos e já desço. Já conta como uma volta. Se chegar uma pessoa, ela
irá passear de barco.
Você já levou noivos no barco?
Já! Levei noivos, aniversariantes, já fiz festa de
aniversário dentro do barco, já fiz de tudo! Até programa de televisão! O
primeiro programa do Sérgio Reis, se não me engano o nome do programa era
Sertanejo Raiz Brasil. Foi dentro do meu barco! Foram: Sergio Reis, Cesar e
Paulinho, Craveiro e Cravinho. A primeira pessoa a pisar no meu barco, no dia
da inauguração, dia 1° de agosto de 2008 foi o radialista muito famoso em
Piracicaba, o Garcia, já falecido. Ele, a mulher, a filha e a Giovanna.
É rentável?
Eu vivo disso, trabalho muito, é difícil, motor é
caro, a manutenção é cara, andar no rio exige muito conhecimento. Hoje estou
andando com 29 centímetros de água. Nem os fabricantes do barco, o pessoal da
assistência técnica do motor acredita! Pedem para mandar filmagem para eles.
Está muito difícil navegar no Rio Piracicaba com esse nível baixo de agua. Eles
pedem para mandar a filmagem para eles para verem como estou conseguindo
navegar. Não acreditam o que eu faço com o barco. Por isso estou comprando as brigas
pelo meu Instituto com o Sistema Cantareira.
Como funciona o seu Instituto?
É uma ONG de nome Instituto Beira Rio, que realiza
diversas atividades: limpa o Rio Piracicaba, solta peixes, planta árvores, faz
palestras, procura conscientizar as novas gerações para a importância do eco
sistema, muitas vezes o próprio barco é a “sala de aula”. Com todos os aparatos
de segurança, vamos até o meio do Rio Piracicaba e ali, no local, conversamos,
vou em escolas realizar palestras, tudo de graça e sem burocracia. É
impressionante o interesse dos jovens por tudo que se refere ao rio.
Que motor usa o barco?
É um motor Mercury 100 HP.
Muitos estrangeiros já passearam nesse barco?
Nossa! E bastante! Desde esquimó do Alaska,
canadenses, americanos, muitos, da África do Sul, Japão, muitos coreanos.
Você tem página no facebook?
Tenho! Passeios de barco Piracicaba:
https://www.facebook.com/PasseioDeBarcoRioPiracicaba
Instagram: https://www.instagram.com/invites/contact/?i=opfjmpbxj5ht&utm_content=iwqcq28
Tem que ter amor pelo Rio!
Eu sou apaixonado! Já cheguei a sentar no barco as
nove horas da manhã e levantar para ir ao banheiro do Orlando Lovadini, depois
sentar no barco e só sair as oito horas da noite! Uns sete e meia da noite fui
levar a minha esposa, meu ajudante ficou olhando o barco, chegou uma turma, sai
da Rua do Porto as 8:20 da noite, descemos de barco daqui até o Tanquã,
chegamos lá as duas horas da manhã.
Se for o caso você vai até o Tanquã?
Às terças, quartas e quintas feiras eu faço o
passeio de barco até lá embaixo, desço o Rio. Até pouco tempo eu tinha uma
chácara lá, o passeio incluía almoço, piscina, tinha de tudo. Embora tenha
vendido a chácara, continuo oferecendo o almoço, acho o local que tenha algum
rancho, faço o almoço e tudo.
O barco tem iluminação?
Não tem iluminação! Se tiver iluminação no barco você não enxerga fora do barco a noite! O barco tem que ser bem escuro. Tem a iluminação de segurança da Marinha, que é a luz de bombordo e luz de boreste, luz vermelha e luz verde, que a Marinha exige. Se eu ligar a luz do barco você não enxerga mais para fora! O Rio Piracicaba a noite é um capítulo a parte! É lindo! Costumo falar para o pessoal que dentro das minhas veias não corre sangue, corre água do Rio Piracicaba! De tanto que gosto do rio! Gosto mesmo!
Você costuma nadar no rio?
Hoje não mais, a não ser quando vou tirar uma arvore
ou alguma coisa que atrapalha a navegação. Antigamente nós matávamos as aulas
para vir no trampolim, para ir no Salto do Rio Piracicaba. Eu estudava na Escola Estadual
'Professor Elias de Mello
Ayres, você lembra-se daqueles tubinhos de sal de frutas da ENO, em um vidrinho
colocávamos óleo de cozinha, em outro palito de fósforos e no terceiro vidrinho
sal. Levava uma frigideira velha de casa, deixava escondido isso tudo no Salto.
Pegava mandi-chorão com a mão, pegava peixe piquira com a camisa, cascudo com a
mão. Isso dava uma fritada, fritávamos lá no Salto do Rio Piracicaba, batendo
papo, sem celular, sem internet, conversa sadia, pulava de ponta-cabeça no Salto!
Que maravilha!
Tinha muito cascudo?
Tem ainda! Pelo meu Instituto, através de uma pareceria,
temos várias parceiras, nós já soltamos em nove anos e meio, 1.100.000 alevinos
juvenis.
Com o barco você trabalha todos os dias?
Trabalho sábados, domingos e feriados na Rua do
Porto. Nos outros dias se você quiser fazer um passeio eu faço, só que tem que
ter um número mínimo de 12 pessoas. Levo repórter que deseja fazer pesquisa,
matéria, corro atrás, comunico a imprensa, a CETESB.
O
pessoal da ESALQ tem interesse nesses passeios?
Não. O único que conversa comigo quase todos os dias
é o Professor Claudio Hadad da zootecnia. Ele é um amante do Rio Piracicaba!
Adora o rio! Infelizmente até hoje só quatro vereadores andaram de barco.
Você conheceu o navegador José Luiz Guidotti?
Conheci! Era meu amigo. Infelizmente ele faleceu
antes que eu inaugurasse o barco. Ele era especialista em traçar viagens.
Todo rio tem segredos?
Muitos! A navegação em rio é dificílima.
O piloto de barco tem que ter uma habilitação
especial?
É uma habilitação específica para barcos. Sou piloto, tenho uma
carteira expedida pela Marinha do Brasil. A carteira de Arraes amador não pode
trabalhar profissionalmente como eu trabalho. A minha responsabilidade é muito
grande.
Como é o nome do barco?
“Passeio Panorâmico Piracicaba I”
O pessoal da marinha, bombeiros, tem contato
com você?
Já fiz uma palestra para a marinha. E umas dicas de
pilotagem na Rua do Porto. Eu estou de prontidão e atendendo sempre que eles me
procuram. A Marinha é uma instituição seríssima. Bastante exigentes. Mas tem
que ser assim. Com relação ao Corpo de Bombeiros, sou amigo de todos eles, o
meu barco está sempre a disposição para qualquer atendimento de prestação de
serviço p[público de emergência. Sou parceiro.
Como está a mata ciliar do Rio Piracicaba?
Em alguns pontos está ótima, em outros pontos está
muito degradada. Quando foram fazer o Estudo de Impactos Ambientais, EIA/Rima
para a barragem de Barra Bonita, que ia sair ali em Santa Maria da Serra, fui
contratado por uma empresa, andamos 16 dias, 500 quilômetros de caminhonete e
uns 200 quilômetros de rio. Foi feito o levantamento por quadrante das matas
ciliares de Piracicaba. Relação das árvores. Tem muita coisa boa.
Qual é a distância da Rua
do Porto até o Tanquã pelo rio?
Até a minha chácara 75 quilômetros.
De barco quanto tempo demora?
Depende do motor. Se for devagar leva umas 5 horas.
Conforme o motor leva uma hora, se estiver correndo.
Correr em rio é muito perigoso?
Se estiver cheio sim, se o rio estiver baixo não
anda.
Acima
do salto, acima da Ponte Irmãos Rebouças, mais conhecida como Ponte do Mirante,
você já andou?
Já! Pesquei bastante ali. É muito bonito. Conheço
bem os lugares rio acima. Até Caiubi, remando levava quatro horas.
Quantos anos você tem de Rio Piracicaba?
Com 6 anos de idade, eu nasci em 1962, já ia pescar
com o meu avô o peixe piau chamburi.
Qual era o nome do seu avô?
Rosário Jordão.
Você é parente do Jairo Ribeiro de Mattos?
É meu primo, recém-falecido. Quando ele iniciou a
construção das casas, na época não havia nenhuma. Ele precisava de uma pessoa
que colocasse catalogado a lista de colaboradores, arquivos, isso logo que ele
assumiu, na época ele me contratou. O meu salário ele pagava do bolso dele! Foi
um grande homem! Na época unifiquei os arquivos, eu sabia de cor o nome de uns
90% dos colaboradores do Lar dos Velhinhos. A primeira casa construída fica
logo na entrada á direita, ajudei a dar umas cavoucadas no alicerce!
Depois disso que você foi trabalhar com
computador em Piracicaba?
Foi! Além do Labo tinha uma impressora B-600
matricial. Escrevia 600 linhas por minuto! Como citei acima, trabalhei com
informática, por muitos anos em São Paulo e depois aqui em Piracicaba. Tinha um
sócio, só que eu andava descontente, fui a uma festa com a minha namorada, a
festa estava sem graça, sentamos nas proximidades, ficamos conversando com o
pai dela e Airton Rabello. Esse Airton me perguntou se e eu conhecia alguém que
quisesse comprar um açougue perfeito. Na época eu tinha um Passat novinho.
Disse a ele: “-Vamos lá ver! ”. Fui lá ver comprei o açougue do homem.
Parece uma característica de muitos que
trabalham com computador por duas, três décadas, geralmente criam uma aversão à
área.
Pelo menos eu não aguentava mais.
As águas são tratadas nas cidades que
despejam suas águas, formando o Rio Piracicaba?
Infelizmente não. Piracicaba faz o dever de casa,
mas algumas cidades acima despejam em ribeirões uma carga de poluição.
Que tipos de peixes existem no Rio
Piracicaba?
O jaú praticamente sumiu. Pintado tem pouco. Tem
alguns tipos de lambari, piava, mandi,bagre, corimba, piapara. Piracanjuba,
esta tinha sumido nós voltamos com ela.Depois tem dourado, pacu.
Qual foi o maior peixe que você pescou?
Não peguei peixe grande não. Peguei dourado de 7
quilos, dia 31 de dezembro de 1996 peguei um pintado de 31 quilos.
Qual foi o objeto mais estranho que você
encontrou no Rio Piracicaba?
Uma caminhonete F-1000 inteirinha! Com rodas, motor.
Tem muita garrafa pet, sacolinha plástica.
A Covid-19 atrapalhou o movimento dos
passeios de barco?
Bastante! Fiquei seis meses parado! Agora como todo
mundo voltou, eu voltei, seguindo todas as recomendações, do pessoal da saúde.
As normas da Saúde. A limitação do barco é pela metade, se for você com a sua
família e totalizarem 10 pessoas, vão as 10. Mas se forem pessoas estranhas, separo
com uma fileira de bancos.
Se a pessoa estiver em São Paulo e quiser dar
um passeio de barco precisa fazer reserva com antecedência?
Não há a necessidade de marcar, assim que ela chegar
em Piracicaba ele já pode ir.
Se quiser fazer um passeio especial, com
churrasco em uma chácara, aí é bom marcar com antecedência?
Tem que marcar para um desses dias: terça, quarta,
quinta e tem que ser para doze pessoas. Geralmente eu faço um prato típico, o
que o pessoal mais pede é a galinhada. Faço paella (paeja), só que aumenta o
custo, o segundo prato é arroz com suan. Arroz com carne seca desfiada, é o
conhecido “arroz de romeiro”.
Quando tem a Festa do Divino você participa?
Participo, faço o passeio, acompanho o Barco do Divino, faço o passeio na hora em que os barquinhos estão subindo para encontrar o barco dos devotos que estão descendo. Aí eu venho atrás dos barquinhos, sem provocar ondas. É lindo! Maravilhoso! Sou apaixonado pelo Divino! So devoto, colaboro e faço parte da Irmandade do Divino. Sou um dos colaboradores do Terço dos Homens do Divino Espírito Santo. Principalmente na soltura de peixes e na limpeza do Rio Piracicaba contamos com a participação da Prefeitura Municipal de Piracicaba. A Prefeitura sempre é nosso parceiro. Em nove anos soltamos 1.100.000 alevinos. Tudo isso começou com o Josias Zane que era prefeito de Santa Maria da Serra, foi procurado pela empresa AES Tietê Energia S.A, que é concessionária das barragens, queriam fazer uma soltura de alevinos. O Zane conversou com o Moura que tomava conta do barco da Santa, e me convidaram, estou junto nessa parceria até hoje. Consegui que essa parceria fosse estendida até o Tanquã. Lá tem mais profundidade, mais vegetação para proteger os peixes, As nascentes dos rios estão sumindo, as lavouras estão soterrando as nascentes. Logo o Rio Corumbataí não irá conseguir abastecer as necessidades da população de Piracicaba. Os teóricos precisam andarem de barco, percorrerem as águas.
Você
já resgatou alguém no Rio Piracicaba?
Após eu ter iniciado o passeio de barco, já fiz 43
regates de pessoas. São pessoas que estão morrendo afogadas, corro com o barco
e pego. Tenho até um gancho no meu barco para isso. A maior parte no “Poço do
Rio Piracicaba”, lugar famigerado por sugar a pessoa para baixo.
Quantas medalhas você ganhou por salvar essas
vidas?
Medalha? Nem Moção de Aplauso! Não tenho nenhuma
medalha, reconhecimento, nada. Tenho sim, a satisfação impagável de ter salvado
tanta gente! Ajudo quem eu posso, alguns até por ética prefiro não citar, mas
sempre tem alguém buscando informações sobre o Rio Piracicaba, e são objeto de
conhecimento, de vivencia no rio. Não estão disponíveis. O rio é vivo, é
mutável. Tenho muito à agradecer minha mãe pela grande força que sempre me deu,
a minha esposa Lucimar, que sempre compreendeu e apoiou o meu trabalho. Ao
falecido grande radialista Xilmar Ulisses, amigo do meu pai desde pequeno e
Orlando Lovadini que fez o Tiro de Guerra junto com o meu pai. Esses dois
últimos também me apoiaram muito com relação ao passeio de barco.