PROGRAMA
PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de maio de 2020..
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo
da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços
eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: NELSON SIDNEI MASSOLA JUNIOR
Nelson
Sidnei Massola Junior nasceu a 21 de junho de 1968, em Piracicaba, filho de
Nelson Sidnei Massola natural de Piracicaba e Maria Vilma Consorte Massola
natural de Laranjal Paulista, sempre foi cabelereira. Tiveram os filhos Nelson
e Claudia. Seu pai, atualmente aposentado, trabalhava no DER – Departamento de
Estradas de Rodagem, onde ingressou em Piracicaba aos 18 anos. Transferido para
Tietê, onde casou-se e residiu até aposentar-se. Nelson Sidnei Massola Junior é
casado com Fernanda Roncato Massola, eles tem dois filhos: Gabriela e Gustavo.
Nelson fez
todos os seus estudos na Escola Estadual Plínio Rodrigues de Moraes, desde o pré-escola até o
terceiro ano colegial. Foi em uma época em que a escola pública era considerada
de excelente qualidade.
Após concluir
seus estudos básicos a sua opção foi por qual setor universitário?
Decidi fazer Engenharia Agronômica, Fiz um ano de cursinho preparatório
no Cursinho Pré Vestibular Anglo, era o início desse cursinho em Piracicaba. Os diretores eram: Eduardo Gerolamo João (Turcão)
e Dorival Sudario Bistaco. Com orçamento
familiar adequado, porém não suficiente para cobrir todas as despesas de escola
e moradia, vim para Piracicaba, onde morava minha tia, na Rua Monsenhor Rosa,
no centro. Expus minhas condições ao Turcão, comprometendo-me a ingressar na
USP desde que o cursinho oferecesse um desconto. Foi dado o desconto de 50%.
Dali você ia
até o cursinho utilizando qual forma de transporte?
Ia de ônibus, usava a então linha denominada Panorâmica. Pegava as 6:30,
era sempre o mesmo motorista. Lembro-me até hoje da sua fisionomia, expressão
de estar sempre bravo. Eu descia ali em frente a Santa Casa. O curso Anglo
permanece no mesmo local. As aulas iam até por volta das 13h00. As aulas eram
dadas em um anfiteatro enorme, com 180 alunos. Ali tive bons professores:
Dorival, Turcão, o professor de química era o Angelo, hoje é professor da minha
filha no curso Poliedro. O Ângelo ganhou o apelido de Corneto, graças a sua
semelhança com o ator que fazia propaganda desse sorvete na televisão. O Turcão
lecionava matemática. Física era o Batalha. Era muito comum ter sempre dois
professores de cada matéria, eles se revezavam. Naquela época havia uma disputa
grande entre os Cursinhos CLQ e Anglo. O professor de biologia era o Gentil.
Outro professor de biologia era “esalqueano”, ou seja foi aluno da ESALQ,
depois ele estudou biologia na Unimep. É interessante observar que em
Piracicaba os cursinhos preparatórios para vestibular iniciaram-se com os
“esalqueanos” lecionando.
Muitos professores de cursinho pré-vestibular marcaram a
educação de gerações em Piracicaba.
Alunos que se formaram pela ESALQ lecionaram para
inúmeros vestibulandos, eram excelentes professores. Foi uma época boa. Os anos
80 foram fantásticos! O país passava por uma mudança política muito grande,
Você prestou o vestibular e passou?
Não prestei nada além de FUVEST com o objetivo de entrar
na ESALQ. Passei nos exames em 1987 iniciei o primeiro ano na Escola de
Agronomia Luiz de Queiroz – USP. Passei pelo trote que é dado nos calouros, na
época era um trote “pesado”. Só que o orgulho de usar o famoso “A” encarnado
era e é até hoje, muito grande!
A ESALQ é uma instituição de projeção internacional,
sendo considerada uma entre as melhores escolas do gênero no mundo. O seu corpo
docente é formado por pesquisadores e cientistas, você teve aulas com titulares
das cadeiras?
Tive aulas com professores célebres. Zilmar
Ziller Marcos foi meu professor, deu aula de solos, fui aluno de Caetano
Ripoli, Nilson Augusto Villa Nova. Para integrar o
corpo docente da ESALQ as exigências de conhecimento científico são bem
elevadas.
Qual foi o
tempo de estudo para que você se formasse?
Na minha época já era de 5 anos. Log no segundo ano comecei a fazer
estágio, eu gostava muito da parte de
microbiologia, tive aulas dessa matéria com Eric P. S. Baumer. Hasime Tokeshi, Armando Bergamin Filho que está lá até hoje, não
aposentou-se, é colega de trabalho. Hiroshi Kimati foi um dos
grandes professores que eu tive, faleceu, juntamente com sua esposa , em
acidente de trânsito. Esses são os professores veteranos da ESALQ. Outro
professor Clelio Lima Salgado também realiza um trabalho importante.
Você chegou a
participar do prestigiado Coral da Esalq?
Não participei! Aliás isso é uma particularidade que eu tenho, tude que
se refere a arte é muito verde em mim, não consigo me despontar. Instrumento
musical, canto, desenho, atuação, não são áreas com as quais tenho
desenvoltura.
O seu campo é
“in vitro”, processos biológicos
que têm lugar no ambiente controlado?
Exato, dentro do laboratório!
Quando
estudante qual era o horário de aula?
Na ESALQ as aulas são em período integral. As aulas começavam as 8:00
horas até 12:00 horas. Na parte da tarde das 14:00horas até as 18:00 horas. A
alimentação era feita no bandejão: café da manhã, almoço e jantar, na minha
época tinha s três refeições no badejão. A linha de bonde já estava desativada,
existia e permanece até hoje, um bonde em exposição. Após o almoço era comum
irmos até lá, sentarmos nos bancos do bonde e ficávamos conversando.
Qual foi a
sua sensação no primeiro dia, ao entrar e provavelmente pensar: “Estou como
aluno na ESALQ”?
É difícil descrever! É a realização de um sonho, entrar na USP, em um
curso de agronomia. Eu não conhecia nada dentro da escola, e nem conhecia as
pessoas que estavam entrando, sempre entram 200 alunos. No primeiro dia fiquei
meio perdido, não sabia onde estava, qual aula iria ter, nos primeiros dias
existiam muitas aulas dadas como trote, na realidade o “professor” era um
veterano! O início foi um misto de encantamento com surpresa.
Quantos
alunos frequentam cada classe?
Entram 200 alunos por ano. Alguma disciplina tem classes
bem numerosas. Dividem, 100 alunos em uma classe e outros 100 em outra classe.
Além disso tem 40 alunos da Engenharia Florestal, que nos primeiros anos
assistem aulas juntos com os alunos da Agronomia. No total são 240 alunos que
nos primeiros anos tem aulas juntos, subdividindo em turmas de 140 a 150
alunos. Obviamente tem disciplinas que dividem um pouco mais, e principalmente
as aulas práticas dividem mais ainda. Algumas turmas com 25 alunos. As aulas
práticas eram em laboratórios, no campo, nas dependências da ESALQ. Todo
Departamento tem um terreno que é para aula prática. Eventualmente algumas
aulas práticas eram fora da ESALQ,
nessas ocasiões íamos utilizando aqueles famosos e tradicionais ônibus
da ESALQ, que embora antigos estão em bom estado de conservação. (Os famosos
ônibus monoblocos). Íamos para canaviais, barrancos com cortes, onde poderíamos
analisar os tipos de dolo. Isso nos primeiros anos. Há um nivelamento no ensino
até o terceiro ano, no quarto e quinto anos o aluno escolhe uma área e se
aprofunda nela.
Esse nivelamento inicial incluía aulas de cálculo
diferencial e integral I e II?
As aulas de cálculo eram as que deixavam os alunos mais
apreensivos.
Cada professor tinha sua personalidade, e as aulas
seguiam o ritmo deca um deles. Um dos mais consultados pela mídia nacional,
tinha uma personalidade despojada, a ponto de em um dia muito quente ir dar
aula de bermuda. Isso não tirava sua credibilidade e respeito. Um contraste,
com o passado quando os alunos assistiam as aulas de terno e gravata!
O aluno formado pela ESALQ é comum sair com vários
convites de empresas para trabalhar, foi o seu caso?
Tudo depende do foco do profissional. No meu caso em
particular eu estava me dedicando bastante no estágio e visualizava seguir a
carreira acadêmica, queria fazer mestrado e doutorado, não procurei emprego,
surgiram algumas oportunidades, mas nem me inscrevi, eu estava focado em acabar
a graduação e ir para o mestrado. A seguir fiz o doutorado. Um fato que me
incentivou a seguir essa carreira também. Durante a minha graduação eu estudava
durante o dia na ESALQ, morando em Piracicaba eu tinha que manter, meu pai
funcionário público, minha mãe cabeleireira, ambos em Tietê. Comecei a procurar
maneiras de obter recursos para minha manutenção. Naquela época, saia no Jornal
de Piracicaba, geralmente no final de fevereiro, início de março, atribuições
de aulas em escolas públicas. Começa o ano letivo e sempre havia falta de
professor, a Delegacia de Ensino publicava uma coluna no Jornal de Piracicaba:
Atribuições de Aulas. Eu queria lecionar Biologia, estava no meu sangue. Não
conseguia aula de biologia, conseguia aula química, peguei muitas aulas de
química, isso foi em 1989, eu estav entre o segundo a terceiro ano da
Agronomia, eu er um menino, tinha entre 19 e 20 anos. Consegui aula de química
na Escola Estadual Professor Elias de Mello Ayres, a diretora era
Sueli Di Lellis, me entrevistou, eram aulas todos os dias a noite, para o Curso
Colegial. Passei a dar aulas todos os dias a noite, era uma pilha enorme de
cadernetas de classe! Eu nunca tinha dado aula na minha vida, fui com a cara e
com a coragem. No começo foi muito difícil, mas eu fui pegando o traquejo.
Peguei o jeito para dar aula. Com isso cheguei a conclusão de que gostava de
ensinar, fazer pesquisa. Conclui que o meu futuro era trabalhar na academia. E
dali para frente, mestrado, doutorado. Antes de terminar o doutorado, apareceu
um concurso, para professor temporário na Universidade Estadual de Londrina em
junho de 1998. Fiz o concurso, passei, não tinha acabado o doutorado. Só fui
acabar em outubro de 1988, Fui contratado mesmo sem o doutorado.
Que matéria
você lecionava?
Comecei a dar aulas de Fitopatologia na Universidade Estadual de
Londrina para o curso de Agronomia. E comecei a dar aulas na pós-graduação, a
minha área de pesquisa bem focada mesmo é meu trabalho com fungos que causam doenças
em plantas. Como era temporário, eles renovavam até dois anos no máximo, abriu
o concurso, prestei e entrei como Professor Efetivo na UEL, eu já tinha
concluído ocurso e o doutorado aqui. Entrei lá como Professor Doutor, fiquei
apenas um ano. Apareceu o concurso na ESALQ. Fiz, passei, pedi a exoneração lá.
Na ESALQ qual
é a sua titulação atual?
Sou Professor Associado. Não sou Titular ainda. Ma ESALQ temos três
categorias: Doutor, Associado e Titular. Para ,ir de Doutor para Associado é
mérito do docente. Para Titular é necessário vir a vaga através do governo. Tem
que esperar ter a vaga, os que estão aptos a concorrer se inscrevem.
A sua
especialidade são fungos fitopatogênicos, como podemos definir de outra forma
essa especialidade?
Em uma analogia bem tupiniquim, o ser humano tem alguns tipos de
micoses, na pele, na unha, são doenças causadas por fungos no ser humano. A
planta também tem doenças causadas por fungos. Existe fungos que atacam
plantas. São muitos. Provocam um tipo de doença e reduzem a produção da planta.
Por exemplo uma plantação de milho atacada por fungo fitopatogênico produz
menos milho. Nós estudamos essas doenças, estudamos o agente causal e
desenvolvemos estratégias para combater esse fungo, controlar a doença. É basicamente
isso o que eu faço, porque trabalho com fungos. Não são só fungos que causam
doenças em plantas, tem doenças em plantas causadas por bactérias, por vírus,
por nematoide no solo. Enfim, essa matéria é denominada fitopatologia. Dentro
dessa matéria me especializei em doenças causadas por fungos.
As plantas
transgênicas são isentas de doenças?
Cada planta transgênica é resistente a alguma coisa. Normalmente tem
pouquíssimas plantas transgênicas resistentes a doença. Mas tem muitas plantas
transgênicas resistentes a pragas. Tem que ser feita uma separação. Doença é
causada por micro-organismo: vírus, bactérias, fungos. Pragas, geralmente são
os insetos. Que infestam a planta e comem ou sugam a planta. Para os insetos já
existem muitas plantas modificadas geneticamente, portanto plantas
transgênicas, que são resistentes a pragas. A doenças, são pouquíssimos casos
por enquanto, estão tentando com a ferrugem da soja, que é um problema sério,
não tem sucesso ainda. São plantas resistentes normalmente a pragas.
Pelas
informações mais recentes, há uma grande procura da mídia pela sua opinião em
determinados temas, qual é a razão desse interesse enorme pelas suas pesquisas?
Eu estou como Diretor Presidente da FEALQ – Fundação de Estudos
Agrários Luiz de Queiroz. Ela faz um elo com a iniciativa privada, para
desenvolvimento de pesquisas. Ela trabalha com ensino, pesquisas e extensão. A
FEALQ gerencia cursos voltados ao agronegócio. Inclusive EAD, ensino a
distância. Ela capta recursos na iniciativa privada, coisa que a ESALQ não pode
fazer. Por exemplo, um grande grupo ligado a cana-de-açúcar, tem um problema de
praga que está atacando a cana-de-açúcar, que não tem solução, Eles pedem ajuda
para a ESALQ, identificamos internamente quem poderá resolver esse problema, a
FEALQ faz um contrato com a empresa interessada, que por sua vez irá propiciar
recursos financeiros para a pesquisa e solução desse problema. A ESALQ não pode
receber esses recursos. A FEALQ sim, ela cobra uma taxa, em torno de 10% para
manutenção da própria estrutura da FEALQ, e gerencia esses recursos voltados à
própria pesquisa. Trabalhamos com projetos de pequeno porte até projetos de
grande porte. Fazemos toda parte burocrática, legal, damos amparo jurídico,
para que esses contratos comecem, se desenvolvam e terminem a contento. A FEALQ
é uma instituição pública de direito privado. Ela não pode ocupar um prédio
dentro de uma instituição pública. Portanto, ocupa área própria, fora das
dependências da ESALQ. A sede dela fica na Avenida Centenário, ao lado da
ESALQ.
O motivo da
intensa movimentação midiática gira em torno da FEALQ?
Na FEALQ estamos na campanha de credenciamento de laboratórios para
ajudar o agronegócio nessa crise do COVID-19. Já credenciamos um laboratório em
Pirassununga, na realidade a ideia foi do grupo de Pirassununga, eles trabalham
na Faculdade de Medicina, com amostras de animais, eles adaptaram o laboratório
para fazer testes da COVID-19 no ser humano. E pediram ajuda para a FEALQ
gerenciar os recursos e dar amparo jurídico. Aproveitamos essa ideia e estamos
fazendo esse mesmo procedimento no CENA – Centro de Energia Nuclear na
Agricultura.
Qual é a
relação entre a FEALQ e a COVID-19?
A FEALQ dá amparo para o ensino e pesquisas no agronegócio. Nesse
momento de isolamento vários serviços pararam. Um serviço que não pode parar de
forma alguma é abastecimento de alimentos. Estamos preocupados com esse
contingente de trabalhadores que estão produzindo e distribuindo alimentos. Se
parte dessas pessoas se infectam e nada é feito, elas continuam trabalhando,
elas vão infectando mais pessoas, entra no colapso. Podemos fechar
frigoríficos, como aconteceu nos Estados Unidos, vários frigoríficos fechando
porque os trabalhadores se contaminaram com o Coronavírus, nada era feito, eles
não eram afastados. Não eram nem detectados. Chega uma hora que não tem mais
ninguém para trabalhar. A planta daquele frigorífico é fechada. É isso que não
podemos deixar acontecer aqui! O nosso foco é testar essas pessoas que estão
trabalhando na produção e distribuição de alimentos. Estamos tentando captar
recursos da iniciativa privada para a adaptação desses laboratórios e para
fazer os testes. A FEALQ funciona como uma antena parabólica para captar isso,
para proporcionar esse credenciamento e esses testes.
Está havendo
uma colaboração estreita entre a atividade agronômica e a medicina?
Nós não temos médicos aqui. Esses testes são compostos por técnicas
moleculares onde detectamos o material genético do vírus. Isso não é novidade,
não é complicado, temos laboratórios aqui que tem todo equipamento e pessoas
treinadas para fazer isso. Não fazem na área médica, mas fazem na área animal.
O que estava faltando é adaptarmos para trabalharmos com amostras de ser
humano. Para isso é necessário credenciamento junto ao Ministério da Saúde,
nesse momento de pandemia o Ministério da Saúde deu uma flexibilidade ´para que
outros laboratórios, que não são da área médica, ajudem nesse momento. Desde
que tenham expertise. É isso que nós estamos fazendo. O laboratório que
não trabalha e não vai mais trabalhar na área médica, conseguimos adaptar, para
atender nesse momento delicado. É um laboratório que não queremos concorrer com
a área de saúde. Só estamos emprestando a força que nós já temos para ajudar
nesse momento. Para fazer isso tem que passar por todo credenciamento
necessário: Vigilância Sanitária, Ministério da Saúde e Instituto Adolfo Lutz. Se
todos eles, após as inspeções, nos derem esse alvará, começaremos a trabalhar
sem nenhum problema.
Em relação a
CONAVID-19, é difícil afirmar taxativamente quais direções seguir?
A cada hora recebemos uma informação, e ficamos sem saber aonde se
agarrar. Procuro seguir o que é mais científico, mais técnico. Temos a opinião
de Epidemiologistas famosos dizendo que nesse momento é importante o
afastamento. Mas ao mesmo tempo temos que manter a economia funcionando! É um
paradoxo! Para algumas profissões, como a minha, não tem problema nenhum, já
faz 60 dias que estou dando aulas a partir de casa, fazendo reuniões diárias
com as pessoas que me envolvo, a partir de casa, não parei, pelo contrário, até
estou trabalhando mais. Mas sabemos que existem setores que não podem fazer
isso.
A seu ver é
um divisor de águas esse período pelo qual estamos passando?
Não tenho dúvida de que é! Principalmente na questão de ensino a
distância. Fomos pegos de calça curta! Tivemos que agirmos rapidamente para não
deixar as coisas caírem. Tenho a certeza de que quando voltarmos ao convívio
presencial irmos encontrar algumas dificuldades em cumprimentar dando-nos as
mãos, abraçarmos, participamos de aglomerações, isso será um efeito
psicológico que vamos sofrer logo no início do convívio presencial. Não tenho
dúvidas de que nesse momento de crise foram desenvolvidas mitas tecnologias
para amparar a situação. Um exemplo, antes da pandemia, esta entrevista seria
presencial, hoje não é mais necessário, saíram tantas plataformas virtuais onde
conseguimos conversar e termos a imagem do interlocutor. Muitas das minhas
aulas eu não preciso ir até a ESALQ. Dou aulas da minha casa! Acordo, de
pijama, coloco uma camisa, tomo meu café e passo a dar aulas de casa mesmo. Não
preciso gastar combustível para ir até o trabalho, não correr risco no trânsito.
Daqui para frente essa questão de videoconferências, reuniões virtuais,
trabalho remoto, talvez volte um pouco, mas não vai voltar ao ponto que era
antes.
A qualidade do ensino presencial e o ensino
virtual, é a mesma?
Perde qualidade. Ainda quando se trata de um grupo pequeno, ocorre a
interação. Quando tratar-se de um grupo grande, o olho no olho é
insubstituível. Dar aula olhando para uma tela de computador não ~e fácil! Você
não vê a reação das pessoas. A parte prática é muito prejudicada. Estamos
aguardando a volta presencial para ministrar as aulas práticas.
A enorme
procura da mídia pela FEALQ e seus parceiros no tocante a CONAVID-19 como o
senhor vê?
´´E natural. Trata-se do assunto do momento. Sou muito mais de ficar
dentro de laboratório, analisar dados. Tenho acumulado outras atividades, estou
Chefe do Departamento de Fitopatologia e Nematologia.
Você tem
obras publicadas?
Tenho capítulos escritos nos dois manuais de fitopatologia. Na minha
área de pesquisa a informação mais rápida não é vi livro, é via trabalhos
publicados em periódicos internacionais científicos, tudo em inglês, nessa área
de ciências, a linguagem universal é o inglês.
Qual é sua
visão sobre a posição global do Brasil após a pandemia?
O Brasil terá a seu favor sem dúvida alguma o agronegócio! Nossa missão
é ser abastecedor de alimentos, essa é a vocação do nosso país. Somos
privilegiados, temos a melhor escola de agronomia abaixo da Linha do
Equador. A ESALQ é a quinta escola de
agronomia do mundo. Nossa vocação é produzir alimento para o mundo. O nosso
território que dava par ocupar com agronomia já está ocupado, não podemos mexer
em mata. O que pode ser feito é melhorar a produção dentro da mesma área. A
ESALQ, a EMBRAPA, estamos fazendo isso.
Possui graduação em Engenharia
Agronômica pela Universidade de São Paulo (1991), mestrado em Agronomia
(Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (1994), doutorado em Agronomia
(Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (1998) e Pós-Doutorado em
Fitopatologia pela Technische Universität München, Alemanha (2010). Foi
professor de Fitopatologia na Universidade Estadual de Londrina entre 1998 e
2002. Desde 2002 é professor na Escola Superior de Agricultura "Luiz de
Queiroz" da Universidade de São Paulo nas áreas de fitopatologia
(graduação) e fungos fitopatogênicos (pós-graduação). É assessor de
instituições de fomento (CNPq, FAPESP, FAPDF) e assessor ad hoc em diversos
periódicos científicos nacionais e internacionais. Desenvolve projetos na área
de detecção, caracterização, identificação, variabilidade e ultraestrutura de
fungos fitopatogênicos, especialmente do gênero Colletotrichum. Tem experiência
nas Microscopias Eletrônicas de Transmissão e Varredura aplicadas ao estudo de
fungos. Coordena o grupo "Biologia e patogenicidade de
Colletotrichum"