sexta-feira, julho 25, 2014

AMÉLIA DAL PICCOLO COLETI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de junho de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: AMÉLIA DAL PICCOLO COLETI

 

Da. Amélia em sua poltrona, de sorriso espontâneo, muito bom humor, relembra fatos que remontam décadas. Aos poucos vai se soltando, um café é servido. Lê sem usar óculos. Na escola era sempre escolhida para declamar. A sala repleta de móveis e fotografias nos remete a um passado recente. Sua filha, professora e escritora Leda Coletti acompanha todos os seus movimentos e vontades. Há um clima de festividade no ar, dia 5 de julho de 2014 Amélia Dal Piccollo Coleti estará celebrando 100 anos de vida! Muitos dos seus familiares preparam-se para a grande comemoração. Amélia nasceu em Piracicaba, no Sítio da Santa Fé, a cerca de oito quilômetros de Piracicaba. Seus pais Martinho e Marieta Dal Piccolo tiveram onze filhos: Guerino (1897), Thereza (1898), Rita (1900), João (1902), José (1904), Josefina (1907), Maria (1909), Elvira (1911), Amélia (1914), Corina (1917), Dionísio (1918), sendo que os oito primeiros nasceram em Batatais os demais no Sítio da Santa Fé, município de Piracicaba. Martinho e Marieta adquiriram o Sítio da Santa Fé de Joaquim Maria de Souza que tinha recém-construido um casarão com oito cômodos. A propriedade compreendia 24 alqueires paulistas de terra.  Entre outros bens possuía engenho de pinga, capela, 3 casas geminadas para os colonos, chiqueiro com porcos, rancho dos arreios, cocheira, vacas, burros, arados, riscadores, trole, carroças, pomar já formado e outras benfeitorias. Tendo como ponto de referência o ribeirão Guamium, tinham como vizinhos, do lado esquerdo, partindo do Bairro Via Nova, os seguintes sitiantes: Viviani, Freschinette, Coletti, Penteado, Marchini, Galvão até o tanquinho de água da família Furlan, local próximo onde hoje está a Indústria Codistil, na Cruz Caiada. Do lado direito havia os vizinhos: Panciera, Zocca, Perón e Furlan. A estrada de terra com destino a Piracicaba e Rio Claro ficava distante da sede pouco mais de um quilômetro. O abastecimento de água era feito pelo poço movido a corda com carretilha, iam também buscar água na nascente (olho d`água) na divisa com o sítio da família Galvão. Não havia luz elétrica, usavam-se lampiões e lamparinas. Com o passar do tempo o casarão foi aumentado com mais dois cômodos. Havia também um quarto para o frade, era no casarão que ele se hospedava quando vinha celebrar missa mensalmente e nos dias de festas. Da. Amélia casou-se com Antonio Coleti, agricultor, empresário agro-industrial, que foi suplente de vereador em Piracicaba, ao assumir a vaga deixada pela ausência de um dos vereadores, participou da proposta da construção da rodoviária interurbana de Piracicaba, localizada onde está a atual, hoje reformada. Até então cada empresa de ônibus tinha um local de onde partia. Por muito tempo a AVA Auto Viação Americana que ligava Piracicaba a Campinas, passando por Santa Barbara D`Oeste e Americana, saia da sua “agencia” situada a Rua Prudente de Moraes, próxima a Rua Santo Antonio. Isso foi no tempo em que vereador não recebia nenhum salário para trabalhar, ele vinha da Vila Nova para as sessões na Câmara Municipal de charrete, percorrendo quase vinte quilômetros a noite entre vinda e volta. Sua filha Leda Coletti é professora, escritora e poetisa, ela preserva a história da família, um dos seus livros é  “A Saga dos Dal Piccolo”. 

Com que idade a senhora começou a trabalhar?

Aos doze anos já trabalhava com a enxada, plantávamos tudo que consumíamos. Ajudava a tratar dos animais, cuidava da horta. A alimentação era bem variada, mas não podia faltar polenta todos os dias. Meu pai adquiria do seu cunhado de São Roque uma cartola de vinho por ano. Até hoje às vezes tomo um pouco de vinho. Aos domingos  todos tomavam vinho.

Além de trabalhar na roça, a senhora freqüentou a escola?

Estudei até o terceiro ano a professora era Dona Risoleta Dias Ferraz. Para ir à escola andava quatro quilômetros a pé para chegar à Escola da Vila Nova. Passava pela propriedade da família de Antonio Coleti, seu pai Luiz Coleti foi uma pessoa muito conhecida por ter construído os primeiros engenhos de pinga da região, construía inclusive chaminés. Ele faleceu com 79 anos, alguns anos antes construiu o engenho do sítio da família Dal Piccolo Coleti. Luiz Coleti era muito amigo de Mário Dedini.

Como se chamava o sítio da família Dal Piccolo?

Era o Sítio da Santa Fé. A família sempre foi católica praticante. A vida girava em torno da capela, a qual possuía um quadro que representava a Santa Fé (Daí o nome do bairro). Antonio Coleti, que se casou comigo era neto do proprietário de um sítio vizinho, que ficava a uns dois quilômetros da Vila Nova.

A senhora caminhava a pé até a escola, e quando chovia?

Caminhava pelo barro, naquela época era comum as crianças andarem descalças. Eu era boa aluna, tinha as melhores notas, gostava muito de estudar.

Com quantos anos a senhora se casou?

Começamos a namorar eu tinha dezoito anos, aos dezenove anos nos casamos, em 9 de novembro de 1933 na Igreja Imaculada Conceição, na Vila Rezende, o Monsenhor Rosa foi o celebrante. A viagem de núpcias foi para Bom Jesus de Pirapora, Luiz Coleti, pai do meu marido, foi dirigindo um automóvel de propriedade da família. Era estrada de terra na época. Fomos em um dia e voltamos no dia seguinte.

Após se casar em que local a senhora e seu marido Antonio Coleti foram morar?

Como era muito comum na época, fomos morar na casa do meu sogro, com as minhas cunhadas, sogra. Em 1941 meu marido construiu uma casa muito bonita, que inclusive foi escolhida para receber o bispo quando o mesmo esteve em visita na localidade. Em 1936 nasceu a primeira filha Gemma Guiomar, em 1941 nasceu a filha Leda e em 1946 nasceu José Tadeu. Sempre gostei muito de cultivar flores. Meu marido cultivava cana de açúcar e tinha um engenho de aguardente movido a vapor. Os engarrafadores iam buscar a aguardente com caminhão, um deles era o Del Nero, que tinha depósito no alto da Rua Boa Morte.

A senhora e seu marido adquiriram uma casa em Piracicaba?

Isso foi em 1948, além do sítio, adquirimos uma casa na Rua Governador Pedro de Toledo, entre a Rua São Francisco e Joaquim André, onde bem mais tarde foi ocupada pela Fundação Jaime Pereira. Permanecemos lá por uns dois anos. Meu marido vendeu essa casa e com seu tio Pedro adquiriram uma propriedade próxima a Rio Claro. Decidiram montar uma usina de açucar junto com a família Ometto, em Iracemapolis. Após algum tempo meu marido vendeu a sua parte aos Ometto e adquiriu a propriedade de Ipeuna. Por volta de 1965 a 1966 ele decidiu montar um engenho de aguardente nessa fazenda. Com o tempo ele arrendou o engenho e passou a ser fornecedor de cana de açucar.

Naqueles tempos havia muitas festas no sítio?

Meu marido tinha um conjunto musical que animava todas as festas da região era conhecido como “Conjunto do Toninho Coleti”. Ele tocava clarinete, banjo, violão.

A senhora lembra-se de alguma música da época?

Da. Amélia animada põe-se a cantarolar: “O jardineira por que estas tão triste/
Mas o que foi que te aconteceu/ Foi a Camélia que caiu do galho/ Deu dois suspiros e depois morreu”.

Como se deu o inicio do namoro entre a senhora e seu futuro marido?

Ele mandou-me um recado que queria namorar comigo. Mandei dizer-lhe que não recebia recado, se quisesse que viesse falar comigo. Ele veio falar comigo. Ai começamos a namorar.

A senhora é muito religiosa?

Sou devota de Santo Antonio e São Judas Tadeu. A propriedade recebe o nome de São Judas Tadeu e a Capela é Comunidade São Judas Tadeu.

Como a senhora se sente em estar completando 100 anos de vida?

Nem faço idéia! ( Da. Amélia provoca gargalhadas nas pessoas presentes).

A senhora viajou, passeou muito quando casada?

Meu marido não gostava de sair, ele dizia: “- Vou para o meu canavial! Isso que é lindo!”. Era muito trabalhador. Caseiro. Sempre tinha gente em casa que ia tocar sanfona junto com ele que tocava violão. Todo ano tinha festa junina.

Para locomover-se nas vizinhanças qual era o meio de transporte utilizado?

Usava charretinha, ia as fazendas da Corina, Elvira. Eu conduzia a charrete. Vinha à Piracicaba, que era chão de terra e ficava a uma distância de uns dez quilômetros. Era a estrada que liga Piracicaba a Rio Claro. Logo que meu marido adquiriu o sítio ele levava as duas meninas para a escola até Rio Claro, distante cerca de dois quilômetros, em um automóvel Cadillac. Elas voltavam de jardineira da empresa Marchiori. Enquanto a casa não ficava pronta na fazenda, eu ficava com meu filho em nossa casa de Piracicaba, muitas vezes quando chovia a estrada que liga Piracicaba a Rio Claro ficava intransitável, tinha que dar a volta por São Pedro, que também era de terra. 

Naquela época muita coisa era feita em casa mesmo?

Fazíamos de tudo. A lingüiça era feita em casa. Sabão era feito em casa, comprávamos a soda, misturava com cinza, gordura, e fervia essa mistura toda até chegar ao ponto certo. As panelas eram areadas. A água era de poço, o poço ficava a uns 100 metros da nossa casa. A água era difícil em Rio Claro. Meu marido faleceu aos 83 anos em 1996.

A senhora além da casa na fazenda tinha outra residência em Piracicaba?

Em 1966 adquirimos uma casa na Rua do Rosário, entre a Rua Gomes Carneiro e a Rua Floriano Peixoto. Em 1970 decidi permanecer o tempo integral no sítio até 1977. Nós tínhamos adquirido uma casa na Rua Ipiranga, onde havia morado Jethro Vaz de Toledo, a casa existe até hoje, está sendo usada para fins comerciais. O quintal dessa nossa casa fazia divisa com o quintal da casa onde residiu ainda menino o Governador Adhemar de Barros.

Atualmente a senhora reside em um apartamento, como foi a reação do marido da senhora quando entrou em um apartamento, uma vez que ele gostava do horizonte sem limites da fazenda?

Ele vinha durante a semana e aos finais de semana, o resto do tempo permanecia no lugar que gostava muito, que era a fazenda. Em Piracicaba ele ia à Cooperativa dos Plantadores de Cana, ia à missa, ele era muito popular,bastante comunicativo.

A senhora gosta de animais?

Sempre gostei muito, tenho predileção por gatos. Lembro-me com saudades da Naná, uma gata lá do sítio. Lembro-me do Rio Guamium.

Quantos netos a senhora tem?

Tenho cinco netos e seis bisnetos.

A senhora gosta de compor versos?

Gosto muito.  ( No livro de Leda Coletti, “ A Saga dos Dal Piccolo” tem as trovas redigidas pela “mama” Amélia nos seus 89 anos)

 

Gosto de fazer versinhos

que valorizam o bem

e, embora sejam curtinhos

muitas verdades contém.

 

Tenho oitenta e nove anos

com cabeça de mocinha,

filha de pais italianos

sempre gostei de trovinha.

 

Todos nós necessitamos

de proteção e respeito

mas, para isso é preciso

comportar-nos desse jeito

 

Fraternidade cristã

dá sentido à existência

e doar-se a alma irmã,

aceitá-la na vivência.

 

Jesus nos deu o exemplo

morreu pregado na cruz,

fez de sua vida um templo

fez a treva virar Luz!

 

JOÃO JOSÉ SOARES


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de junho de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 

ENTREVISTADO:  JOÃO JOSÉ SOARES

SINDICATO DOS TRABALHADORES EM TRANSPORTE URBANO DE PIRACICABA E REGIÃO

 

O senhor é natural de qual cidade?

Sou meridianense, nascia 25 de setembro de 1951 em Meridiano, um município do Estado de  São Paulo fundado em 1960 e pertence à Microrregião de Fernandópolis.Sou filho de Deocleciano José Soares e Felicidade da Costa Soares. Eles trabalhavam na agricultura. Tiveram os filhos: Maria, Manoel e  eu João José.

Até que idade o senhor permaneceu em Merediano?

Até meus 16 a 17 anos. Lá estudei até o quarto ano primário, mais tarde complementei meus estudos, já em São Paulo.

Em Meriadiano o senhor já trabalhava?

Trabalhava na roça com algodão, arroz, todo tipo de cultura que fosse plantada tinha que trabalhar. Comecei a trabalhar aos sete anos.

Quem decidiu mudar para São Paulo?

Foram os meus pais, fomos morar na Vila Guarany, mais tarde conseguimos adquirir um terreno em São Mateus onde construimos uma casa. A mudança nossa foi feita com um caminhão, um Chevrolet Brasil. Nós tinhamos um primo que trabalhava como empreiteiro nas Indústrias JB Duarte S/A, que produzia óleos vegetais para fins industriais e alimentícios. Esse meu primo contratava o pessoal que descarregava os caminhões que chegavam carregados de amendoim, soja, girassol, grãos, para fabricar óleo entre eles os de marca “VIDA”, “ÓLEO MARIA”, “GILDA”, “CERES”, e “JB”. Fui trabalhar com o meu primo isso foi em 24 de julho de 1968. Em 1970 ou 1971 acabei sendo admitido pela JB Duarte.

O senhor continuou fazendo o mesmo trabalho?

Aí peguei um serviço mais leve, encaixotar as latas de óleo nas caixas. Na época éramos cerca de 300 funcionários. Nesse tempo levávamos as marmitas de casa. Eu era o último que almoçava.

Por quê?

Isso foi no período em que eu trabalhava limpando os tanques dos caminhões. Internamente a cada metro e pouco havia compartimentos, para que o óleo não entornasse o caminhão, com um rodinho eu entrava nos tanques, tirava a borra de óleo que sobrava, era uma pasta que sobrava da moagem do amendoim da soja, utilizada para fazer sabão, havia outros subprodutos como o óleo, a prensagem dos grãos era feita na unidade de Santo Anastácio, o macacão que eu usava ficava todo sujo, eu almoçava por último por causa do cheiro que exalava em função do trabalho que exercia. Dependendo do dia eu limpava três a quatro caminhões no dia. Um caminhão de 30.000 quilos deve ter 6 repartições. Existe um buraco de uma repartição para outra, como eu era magrinho passava por elas. Era um serviço gostoso, melhor do que trabalhar na roça.

Quanto tempo foi  a sua permanência na JB Duarte?

Foi por volta de um ano e meio, em 1972 fui trabalhar como cobrador de ônibus, a Vila Ema Transportes Coletivos Ltda.

Qual foi a sensação que o senhor teve no primeiro dia de trabalho como cobrador de ônibus?

Foi a pior possível. Aquele mundo de gente em pé, nem sempre tinha o troco certinho para voltar, isso no tempo em que o cobrador dava dois puxões na cordinha de sinal para fechar a porta traseira. Naquela época não existia a carteirinha de idoso, todo mundo pagava a sua passagem. No ponto final fazia a leitura dos números da catraca, entregava a féria ( dinheiro das passagens recebidas) na última viagem. Em cada ponto final fazia uma leitura, se fossem quatro viagens seriam quatro leituras.

Quanto tempo durava uma viagem de ônibus na linha que o senhor fazia em São Paulo?

Cheguei a ficar três horas em uma única viagem. Da Vila Ema ao Parque D.Pedro.

Pessoas muito obesas às vezes não passavam pela catraca?

Isso sempre existiu, assim como gestantes, cadeirantes, são pessoas que pagam a passagem, mas não passam pela catraca, que é girada pelo cobrador para registrar a passagem.  Após oito meses tirei a carteira de motorista. Saí da empresa e por oito anos trabalhei como motorista de caminhão. O primeiro caminhão que fui dirigir foi um Mercedes-Benz, modelo 1519. Trabalhei com Scania, com o Mercedes 1520, Alfa-Romeu. Atualmente a tecnologia evoluiu muito, o próprio computador trava o veículo se ele não estiver em condições de sair rodando. Antigamente o painel mostrava óleo e água, isso quando acendia.

O uso do freio do caminhão exige muita técnica por parte do motorista?

Todo transporte, inclusive o urbano, tem o freio motor, é um sistema de freio que ajuda a reter o veículo. Se eu pegar uma serra, e descer o tempo todo pisando no freio, a lona de freio sofre um desgaste anormal, o ar que aciona o freio se estiver carregando direitinho não tem nada a ver. Imagine 40.000 toneladas descendo a Serra de Petrópolis, que considero uma das mais acentuadas do país, o motorista tem que ser muito hábil, descer em baixinha velocidade, o freio motor e o freio a ar é conjugado, portanto a velocidade tem quer muito lenta na descida. Vemos caminhões de alto custo sendo conduzidos por motoristas que apesar da elevada responsabilidade que assumem, recebem uma remuneração totalmente inadequada. Muitos acidentes que ocorrem hoje poderiam ser evitados se não submetessem os motoristas a uma carga horária de trabalho acima da capacidade suportável.

Mas recentemente foi decretada uma lei que regulamenta o tempo de trabalho e o tempo de descanso a cada jornada do motorista.

Infelizmente é uma lei ainda impraticável por falta de infra-estrutura nas estradas. Se um motorista para em um acostamento para descansar ele está sujeito a acidentes. Se você for de Piracicaba à Brasília, quantos pontos de parada você encontrará para jantar e descansar? Não existem em números suficientes! Outro fator é que os motoristas ganham por produtividade, quando deveriam ter um salário fixo digno, que não os submetessem a correr e oferecer riscos nas estradas. Um caminhoneiro ganha R$ 1.460,00 reais na carteira, você acha que ele pode parar de rodar às 18 horas para seguir viagem no dia seguinte? Ele tem que seguir para ganhar comissão sobre a produtividade. Existe de fato uma fiscalização que abrange a todos? A lei foi feita para o caminhão não rodar, mas não pensaram enquanto o motorista irá ganhar.

O sindicato do qual o senhor é presidente, o SINTTRANSP, abrange só o transporte de pessoas?

Só transporte urbano, de passageiros.

Qual é a carga horária média de um motorista que dirige ônibus urbano?

Alguns dirigem cerca de 8, 9 a 10 horas diariamente. Só que existe um problema sério, existe ônibus que passam nas casas dos motoristas, transportando-os para a garagem a fim de que possa iniciar o trabalho, cada um dirigindo o seu ônibus. O primeiro motorista que toma o ônibus que o conduzirá até a garagem, tem que levantar às duas horas e quarenta minutos da manhã. Esse ônibus que os apanha é chamado pelos motoristas como “negreiro”, um tema pejorativo que abomino e usado há muitos anos. Tem oito motoristas que moram em Artemis. Às três horas da manhã passa o carro (ônibus) que os apanha lá. Em seguida o carro vai até a Balbo, no Sonia, no Parque Orlanda, no IAA, ele chega na garagem as quatro horas e dez minutos da manhã. Com isso o primeiro motorista que entrou nesse ônibus, foi transportado por uma hora e vinte minutos ou uma hora e meia. A noite se dá o mesmo processo, ou seja, em média para ir trabalhar ele andou quase três horas como passageiro de ônibus dirigindo-se ao seu trabalho. A carga horária do motorista entre sair e voltar para casa é de no mínimo doze horas por dia. Infelizmente não é todo mundo que tem um carro, uma moto, e vai deixar parado seu veículo onde?

O senhor considera que o motorista de ônibus urbano sofre restrições?

Considero que ele acaba sendo discriminado, se for a uma festa de aniversário, ou a uma reunião familiar, se for dormir a meia noite às três horas da manhã tem que estar pronto para ir trabalhar. Ele não tem muito lazer junto a família. Na Copa do Mundo muitos funcionários param, alguns até horas antes de iniciar o jogo. O motorista não pode parar. Isso acontece também no natal, ano novo. Só aqueles cuja folga coincida com esses eventos é que podem usufruir junto a família.

O senhor é o primeiro presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Urbano de Piracicaba e Região?

De transportes urbanos sou. Anteriormente era ligado ao Sindicato dos Condutores Rodoviários de Piracicaba.

O senhor veio para Piracicaba em que ano?

Eu vim para Piracicaba no dia 29 de outubro de 1988. Tinha uns conhecidos aqui, vim, gostei da cidade e aqui fiquei. Sou casado em segundas núpcias com Valdenia Muniz Soares. Sou pai de cinco filhos, sendo dois do segundo casamento e três do primeiro.

Chegando a Piracicaba em que bairro o senhor foi morar?

Morei na Balbo, no inicio demorei um ano para conseguir emprego como motorista. Nesse período fiz um pouco de tudo, trabalhei como servente de pedreiro, em demolição de casas antigas, no dia 16 de outubro de 1989 fui trabalhar como motorista na Auto Ônibus Paulicéia. Fiz muitas linhas, a linha do Bairro Verde eu adorava fazer.

Em São Paulo o senhor trabalhou em várias empresas de ônibus?

Trabalhei também na CMTC Companhia Municipal de Transportes Coletivos. Em São Paulo dirigi inclusive onibus elétrico, fazia a linha de São Mateus até a Praça João Mendes. Quando chovia, as vezes ao passar pela chave que existe na fiação aérea, o contato desengatava, com um varão, debaixo de chuva tinha que encaixar o contato na rede aérea. Geralmente o cobrador não tinha como deixar a roleta, o motorista é quem tinha que fazer aquele serviço. Eu não gostava muito de dirigir onibus elétrico.

O onibus elétrico é mais rápido do que o onibus a diesel?

Aquilo é um vagão de metrô. Pisou vai embora! O sistema de freio deles é inimaginável. Para instantaneamente. Tem o freio elétrico e o freio mecânico.

O senhor fez algum curso especial para dirigir onibus elétrico?

Tem que ter um treinamento específico. Para mim a CMTC foi uma das maiores e melhores empresas que existiu no Estado de São Paulo. Permaneci na CMTC de 1981 a 1988. Era uma empresa com cerca de 25.000 funcionários.

O senhor conheceu Jânio Quadros?

Todo prefeito era presidente da CMTC. Jânio foi o melhor presidente dessa empresa. Ele sempre negociava com o sindicato, dizia que não queria o sindicato na sua porta. Fazia visitas de surpresa na CMTC. Foi muito bom. Lembro-me também do Mário Covas.

Quando o senhor passou a ser motorista de ônibus em Piracicaba, estranhou muito?

Os modelos de ônibus eu já conhecia de São Paulo. O que me chamou a atenção era o tempo para almoçar: de sete a dez minutos. O órgão municipal responsável pelo trânsito na época não dimensionou junto ao trabalhador a forma de idealizar o horário. Quando eu já estava como presidente do sindicato, conseguimos em comum acordo com os empresários e junto aos órgãos responsáveis, estabelecer um horário de refeição para o motorista.

Quando foi criado o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Urbano de Piracicaba e Região?

O inicio foi como Associação dos Motoristas de Transportes Urbanos em 17 de agosto de 1998. Após um longo período de negociações, em 2004 a documentação foi oficializada, A Carta Sindical data de 12 de julho de 2007.

Porque houve essa separação do Sindicado dos Condutores Rodoviários de Piracicaba?

Na realidade eu comecei a associação no dia 21 de setembro de 1996. Quando eu trabalhei na CMTC tinha um cobrador que trabalhava comigo e era diretor do sindicato. Eu via sua luta. Ao pensar em montar a Associação, recebi o apoio de vários companheiros de outras localidades. O Sr. Laerte Valvassori no meu entender foi um dos maiores sindicalistas patronais. Houve um desentendimento sobre o pagamento de horas extras. Nós prosseguimos trabalhando normalmente por sete horas e vinte minutos diariamente. Não deixamos a população sem transporte até as sete horas e meia da noite. Dali em diante não havia mais ônibus circulando pela cidade. Isso durou uma semana.

Quantos motoristas integram o sindicato?

O transporte de Piracicaba atualmente tem de 650 a 700 trabalhadores. Abrange Piracicaba, Rio das Pedras, Charqueada, Águas de São Pedro e São Pedro.

O senhor tem algum salário pago pelo sindicato?

Não. Sou funcionário registrado na Empresa Beira Rio. Somos dezesseis diretores. Afastados, que se dedicam ao sindicato são cinco. Somos filiados a CUT. Quando iniciei o sindicato os associados não tinham tíquete de refeição, a cesta básica era bem fraquinha. Temos dois cabeleireiros, dentistas, convênio médico com a Amhpla, Santa Casa Saúde, inclusive para os motoristas aposentados que representam de 10 a 15 por cento dos trabalhadores no transporte.

Com que idade o motorista se aposenta?

Em muitas cidades só pode ser contratatados motoristas com no máximo 45 anos de idade. Nós temos em Piracicaba motoristas com 65,66, anos, tinha um que aos 72 anos trabalhava ainda. E era muito competente, mais até do que alguns bem mais jovens. Piracicaba é a unica cidade que não impoem limite de idade para trabalhar.

O motorista de onibus sofre a tensão natural do trânsito e a presão interna dos passageiros.

Eu gostaria muito de ter a oportunidade de ter um reporter acompanhando um dia de um motorista de onibus, desde o momento em que ele sai da casa dele até quando retorna. Tenho sérias dúvidas se o reporter consiguirá completar o dia ao lado do motorista. A tensão é muito grande.

Em Piracicaba os onibus tem cobradores?

Não tem cobradores. É feita a venda a bordo. Antigamente não havia esse sistema, uma pessoa residente em outra cidade ao chegar a Piracicaba não tinha como se locomover a não ser que fosse até o terminal adquirir cartão de transporte. Dinheiro não era aceito para pagar a passagem no próprio onibus. Isso gerou muito conflito entre motoristas e passageiros. Em 2007 criei a sugestão do cartão, o motorista passou a vender o cartão no onibus. A passagem de onibus em Piracicaba custa R$ 2,95.

Quantos carros (onibus) correm por dia em Piracicaba?

São 218 carros em 103 linhas. Atigamente havia várias empreseas, com a ultima licitação existe apenas uma empresa responsável por todas elas. Os veículos estarão em uma única garagem, em Santa Terezinha. Tudo indica que deverá ficar melhor a forma de dialogar, inclusive acertar horários de linhas.

O Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Urbano de Piracicaba e Região recentemente realizou algumas conquistas inéditas aos seus associados?

É importante salientar que o nosso sindicato de Piracicaba foi o único que sobresaiu em conquistas realizadas, ultrapassando seus congeneres. Realizamos uma grande campanha, resultando no maior reajuste da categoria, 10% sobre o salário. Reajuste de 13,30% no vale refeição, reajuste de 18,5% na cesta básica, reajuste de 23,5 % no Plano de Lucros e Resultados. O vale refeição será fornecido inclusive quando o trabalhador estiver em férias.

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