sábado, novembro 19, 2016

ANTONIO CARLOS FUSATTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de novembro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 



ENTREVISTADO: ANTONIO CARLOS FUSATTO

Antonio Carlos Fusatto nasceu em Piracicaba a 26 de outubro de 1946. Filho de Armando Fusatto e Cenira Cenicatto Fusatto. Seu pai era pintor de manutenção do Engenho Central e a sua mãe era do lar. Tiveram cinco filhos, Antonio Carlos que é o mais velho, José Eduardo, Carmem Eunice, Terezinha Aparecida e Maria Ângela. Seu pai começou trabalhando na fábrica Boyes, no mesmo serviço, pintura de manutenção, depois ele transferiu-se para o Engenho Central onde permaneceu até aposentar-se.
Você chegou a conhecer o Engenho Central funcionando?
Cheguei! Eu era criança quando ia levar o almoço para ele lá. Nós morávamos no hoje denominado Bairro São Dimas, naquela época era chamado de Vila Boyes e Vila Progresso. A Vila Boyes era apenas o setor onde as casas da fábrica Boyes tinha sido construídas para seus funcionários, eram todas do mesmo estilo. As demais casas formavam a Vila Progresso,  margeando um ribeirãozinho onde hoje é a Avenida Centenário. Um pouco mais além existia a cerca que delimitava a propriedade da ESALQ. Ali havia a família Souza, era uma família muito grande, por esse motivo conhecida como Vila Souza. Eles trabalhavam fabricando o melado de cana-de-açúcar, era uma engenhoca, movida por um burrinho, ele quem girava moendo a cana-de-açúcar. Faziam o melado e vendiam. Lembro-me bem, o líder da turma toda era o Seu Amaral. Ele saia com a carroça, vendendo melado, engarrafado, ele trabalhava a palha do milho e fazia uma espécie de rolha. Com essas rolhas fechava todas as garrafas de melado e vendia pelo bairro.
Como era consumido esse melado?
Era consumido como sobremesa. Uma festa para as crianças, naquela época havia  poucos bares no bairro, e mesmo assim a variedade de doces era bem restrita.  Quem fornecia a maior parte dos doces era a Indústria de Doces Martini. Havia um doce, muito comum na época, denominado de mata-fome. Que doce delicioso! O bendito melado de cana-de-açúcar nós comíamos com pão. A cana era plantada ali, e por uma família de italianos, a família Taglietta, que morava um pouco mais acima. Na divisa desse ribeirãozinho com a ESALQ. Ali era uma região composta por chácaras. Onde eu morava era propriedade da família Fusatto, abrangia uma área equivalente a um quarteirão. Era uma chacrinha também!
A origem da família Fusatto é a Itália?
Meu bisavô, Virgilio Fusatto veio da Itália e se fixou no bairro rural do Godinho. Era casado com Maria Lúcia Fusatto. Lembro-me dela, eu era muito pequeno, na época ela morava na Rua Moraes Barros, nas imediações da Igreja Bom Jesus, e o meu tio Eugenio Fusato,tinha uma carvoaria. Ela morava lá, ficava o tempo todo tricotando, estava bem velhinha, não falava quase nada em português, era tudo “italianado”. 
Ela que me ensinou a comer cocada! Tanto que até hoje sou doido por cocada!  Ela mandava o meu tio comprar uma cocada em uma padaria que existia nas imediações da Igreja Bom Jesus, enquanto eu não rezasse em italiano, tinha que ir repetindo o que ela falava, ao terminar ela dava-me a cocada. Eu era pequenino, minha avó que me levava lá.

Que oração era?
Era mais ou menos assim:
Gesù, Giuseppe e Maria, vi dono il cuore e l`anima mia.
Gesù, Giuseppe e Maria siate la salvezza dell`anima mia.
Gesù, Giuseppe e Maria, assistetemi, nell` ultima mia agonia.
Gesù, Giuseppe e Maria fate che l`ultimo mio pane sia l`eucaristia.
(Observação: pelo depoimento de Antonio Carlos Fusatto a oração aparenta ser a acima.)
Eu tinha que rezar com ela para ganhar a cocada.
Quem morava nessa chácara?
Meus tios moravam no bairro do Godinho. Quem morava aqui era o meu avô, Antonio Fusatto, pai do meu pai, ele morava nessa chácara e trabalhava com carrinho de tração animal, pela cidade, vendendo verduras. Minha “nona” continuou morando ali, a propriedade era de todos os irmãos Fusatto. Com o passar do tempo foram feitas as partilhas, foi sendo loteado, dividido. Naquela época, eu me lembro,quando eu entrei no grupo escolar, ainda não havia luz elétrica lá, eu fazendo lições do grupo escolar a luz de lamparina. Estudei no Grupo Escolar Honorato Faustino, que era na Rua José Ferraz de Camargo, onde hoje é o Colégio COC. Era mantido pela Fábrica Boyes, o Comendador Louis Clement era quem mantinha, foi um grande incentivador, quando chegava os finais de ano ele fazia as festas de formatura do quarto ano escolar. Aos melhores alunos de todas as classes ele dava um valor em dinheiro, já depositado na caderneta de poupança, lembro-me que era uma nota esverdeada,grande. A pobreza do povo era tanta que logo sacava o dinheiro.
Para ir à escola ia a pé?
Ia, era tudo pertinho! Assim como para ir ao centro da cidade, normalmente ia a pé também. Não conheciamos as conduções coletivas como onibus, eram conhecidas como jardineiras. Tinha um morador de uma das casas da Vila Boyes, cujo apelido era “Zé Cavalo”, era motorista dessa jardineira, a partida era dada com manivela. 

                                                DANDO PARTIDA A MANIVELA

Ela descia a Rua Dona Egênia, toda apedregulhada, chegava até onde hoje é o Clube de Campo, era a Chacara do Lara, era tudo apedregulhado também, atravessava o Ribeirão Itapeva que tinha uma pontezinha de madeira, ia para o centro. Da nossa família pouco se usava a jardineira, estávamos acostumados a andar e gostávamos. Descíamos onde depois foi construida a Igreja das Carmelitas. Era tudo mato e cana-de-açúcar e era apedregulhada também desciamos ali em um instantinho.



Após concluir o curso primário qual foi a sua próxima etapa escolar? 
Naquela época havia o “vestibulinho” para entrar no ginásio, fiz o quinto ano primário no Grupo Escolar José Romão, na Vila Rezende. Ia a pé até a escola. Estudava de manhã e trabalhava a tarde.
Como as crianças andavam calçadas naquele tempo?
Andavam descalças alguns que podiam usavam alpargatas. Tinha um par de sapatos para ir às missas de domingo. Quando chovia era um lodo danado. A Vila Rezende era quase uma zona rural.
Qual era o seu trabalho após voltar da escola?
Nós tínhamos horta, eu chegava da escola e ia cuidar da horta, eu tinha uns onze anos. Depois comecei a trabalhar com um tio muito conhecido no meio artístico: Pedro Senicato. Ele era escultor, entalhador, tenor da Igreja dos Frades, eu aprendi a entalhar com ele. Ele tinha uma banca de carpinteiro no quintal da casa do meu avô, aos finais de semana ele fazia os “bicos” dele lá e ficava me ensinando. Ele fazia esses frontões dos móveis. Ele trabalhava na Grande Fábrica de Urnas Mortuárias Irmãos Sbrissa localizada na Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba, onde atualmente funciona uma loja de eletrodomésticos, a Casa Cem.  Naquela época as urnas eram feitas com madeira de lei e eram todas entalhadas. Tinha duas cabeças de leões, que o meu tio fez um molde, foi para a fundição, eram feitas em alumínio, e nas urnas de luxo eram parafusadas essas cabeças de leão com a boca aberta e a alça passava pela boca. Eu mandei fazer em bronze e tenho no corrimão da minha escada duas daquelas cabeças de leões. Salvei uma recordação da época, depois a fábrica Sbrissa fechou, não sei aonde foram parar o molde das cabeças de leões que o meu tio tinha feito. Os proprietários da Sbrissa eram os irmãos: Mário, Nilo, Armando e Osvaldo. A princípio eu aprendi com o meu tio a entalhar o chamado “pé de leão”, eram umas garras que pareciam o pé do leão com unhas e tudo. Eram parafusadas e tornavam-se os pés das urnas de luxo. Essas urnas eram caríssimas. Nessa época a Escola Estadual Monsenhor Jeronymo Gallo funcionava no prédio do Grupo Escolar José Romão. Fiz a primeira e segunda série lá. Quando foi inaugurado o prédio novo da Escola Estadual Monsenhor Jeronymo Gallo a minha turma foi a primeira a utilizar. Lá estudei até o segundo ano do curso científico. Interrompi o curso científico e fui fazer a Escola Normal Sud Mennucci onde conclui o curso. Lá tive aulas com professores de renome como Benedito de Andrade, Zelinda, Evaristo, com quem fui ter aula posteriormente na UNIMEP também. Arquimedes Dutra era um fenômeno para lecionar, tinha uma didática fantástica, o aluno fixava a matéria. Eu trabalhava com o meu tio, como entalhador.
Qual madeira vocês utilizavam?
A mais gostosa era o cedro, mas as urnas de aspecto mais bonitas eram as de imbuia. Mais difícil de trabalhar porque ela lascava, tinha que trabalhar com o formão muito afiado, com cuidado, era de fato um trabalho artístico. As pequenas diferenças eram retiradas com o uso da lixa. Usávamos também o pinho. Dependendo das regiões em que eles compravam, de vez em quando vinha mogno. Eles adquiriam carretas de madeira, tinha um depósito onde deixavam a madeira secando, elas vinham “verde” ainda. Usava-se o “tabique”. Era uma fileira de tábuas, um sarrafo em cima para ter passagem de ar por baixo e elas não “empenarem”. Tinham as tábuas de 4 a 6 metros, de 4 metros iam de 3 a 4 tabiques, as tábuas de 6 metros chegava a ir 6 tabiques. Com isso ficava uma pilha enorme de tábuas em um galpão coberto, a frente toda dele era aberta, para ventilar. A madeira chegava a ficar até meses secando. Tinha um segundo depósito próximo a Carpintaria Passini, que existe até hoje. O Seu Sebastião Passini era famoso também por criar a ave araponga.  

                                                Araponga cantando
A araponga é uma ave existente no Brasil e também no Paraguai e Argentina, produz som parecido ao de um martelo numa bigorna. As arapongas pertencem à família Cotingidae, género Procnias


                                                     Pássaros com cantos estranhos         
Após o Curso Normal, você foi para a faculdade?
Entrei na UNIMEP para fazer jornalismo, naquela época fazia relações públicas e fazia opção para jornalismo no último ano, quando chegou no último semestre, surgiu a Faculdade de Tecnologia, havia interesse da CESP- Companhia Energética de São Paulo , da CPFL- Companhia Paulista de Força e Luz, que com falta de mão de obra técnica, eles estavam trazendo eletrotécnicos da Itália para trabalhar. Quando vislumbrei essa oportunidade, eu já trabalhava na CPFL, mas na área comercial. Em dezembro de 1967 eu passei no concurso e já fui admitido na CPFL. O concurso era para auxiliar de escritório, fui sendo promovido, o prédio funcionava ao lado da Catedral de Santo Antonio, é um prédio tombado pelo patrimônio histórico. O gerente-geral naquela época era o Sr. Carlos Sachs, o Vice-Gerente era Antonio Coelho Barbosa, o Seu Toninho, era um ambiente muito bom, era gostoso trabalhar na CPFL. Tinha muita gente boa, o Osórinho Pantojo, o Caneto.
A garagem dos bondes era ainda junto a CPFL?
A estrutura era a mesma, só que os bondes já tinham ido para a garagem da Avenida Dr. Paulo de Moraes. Nós usávamos para guardar as caminhonetes da CPFL.
Na CPFL você entrou como auxiliar de escritório e foi sendo promovido?
Eu fui galgando os postos, tinha uma ânsia de saber e de vencer. Sempre achei que através do livro venceria na vida, tínhamos uma vida difícil. Meus pais lutando muito, como filho mais velho sempre trabalhei, ajudando-os. Sempre eu tive sede de saber. Tanto que eu era até certo ponto um “chato” na escola, porque eu queria saber mais e cobrava demais. Cheguei a ser professor também e sei o que é um cidadão cobrando demais do professor. Na CPFL cheguei até ser Gerente Comercial. Eu me formei em Tecnologia em Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica. Fiz especialização em equipamentos de 15.000 Volts, na Ilha Solteira. Fiz especialização em construção de Rede Elétrica de Alumínio, até então era utilizado o cobre. Com o advento do alumínio, que é bem mais barato do que o cobre, além de que o cobre era importado e o alumínio era brasileiro. As redes são bem mais baratas, mas o tipo de construções é diferente. Atualmente não se usa mais cobre em fios de transmissão de linhas de voltagem maiores. Atualmente o cobre é usado somente para enrolamentos de transformadores, enrolamentos de motores.
Algumas vezes vemos noticias de indivíduos que causam enormes prejuízos retirando fios de cobre de locais públicos, como se explica isso?
O melhor condutor é o ouro, o cobre foi por muito tempo utilizado como condutor, a rede telefônica utiliza um fio muito fino, de cobre, para o individuo obter uns poucos quilos de cobre terá que tirar um caminhão de fios. Não compensa comercialmente.
Atualmente qual é a voltagem utilizada nas cidades?
Na realidade são 11.950 volts, e os transformadores têm vários “TAPs”.
O que é um transformador?
É uma Mini Subestação, tem uns enrolamentos dentro dele em que a energia entra em alta tensão 11.950 volts e dependendo dos TAPs, que são as tomadas que eles têm e podem ser regulados. Vou retroceder um pouco na história, quando entrei na CPFL, tínhamos uma usina, atrás da Fábrica Boyes, construída por Luiz de Queiroz. A princípio ela produzia energia que supria a área central toda. Ficava atrás da Fábrica Boyes, onde depois surgiu uma fábrica de gelo e também surgiu uma fundição de metais. Ali tem a Usina Luiz de Queiroz que quando entrei na CPFL em 1967, sua produção de energia supria os bondes e a iluminação pública. Para a indústria e o comércio vinha uma linha de 69.000 volts de Gavião Peixoto e chegava em uma subestação grande atrás da Fábrica Boyes. Quando faltava energia vinda Gavião Peixoto, a energia vinha de Urubupungá. Entrava 69.000 volts, os abaixadores, era o processo inverso, isso porque na usina é gerada baixa, há os transformadores e elevadores, eleva para alta tensão para poder fazer as longas caminhadas aonde será feita a distribuição. Quando chega ao ponto de distribuição há as estações abaixadoras. Hoje chega a 440.000 volts, 590.000 volts depende de onde vem, entra na subestação, e tem aqueles transformadores abaixadores, que reduzem para 11.950 volts. Ai sai a linha denominada de alta tensão, mas que na realidade é de média tensão, na classe de 15.000 volts, alta tensão é a que chegou. Ela é distribuída em torno de 11.950 volts. O transformador nada mais é do que uma micro usina.Entra 11.950 e sai no TAP, no borne de saída com 220 volts de fase a fase ou 127 volts de fase a neutro. Ai sai para a distribuição nas casas, comércio. A eletricidade é bonita
Tanto para a época como para Piracicaba isso tudo era novidade?
Era bastante. Inclusive existe um fato muito interessante, atrás da Fabrica Boyes, essa usina de força foi recuperada, é de propriedade particular, ele gera energia e vende, há um medidor, ele repassa para a CPFL o pouco de energia que ele gera ali. Na realidade naquele local havia três usinas, de importância maior era a Usina Luiz de Queiroz. Foi reformada outra usina que está dentro da Fábrica Boyes, está funcionando, gerando em torno de 1,2 megawatts. Eles repassam para a rede da CPFL e quando for inaugurado o Shopping que estão construindo vão usar essa energia. A CPFL retorna para eles toda essa energia que eles cederam. É uma espécie de poupança de energia. Essa usina já foi reformada, está funcionando E no Museu da Água existe uma micro usina cuja energia que ela gerava era para os motores do SEMAE- Serviço Municipal de Água e Esgotos. Na realidade tínhamos três micro usinas que o cidadão passava ali e nem imaginava.que ali era um ponto de geração de energia, como nosso bendito rio produzindo energia limpa e nós sujando e degradando o rio.
A seu ver Piracicaba teria condições de ser auto-suficiente em termos de energia?
Não! A quantidade de água diminuiu bastante depois do Projeto Cantareira implantado pelo Governador Roberto de Abreu Sodré tendo como um dos seus secretários, Eduardo Yassuda a frente da obra. Para gerar energia teria que haver um represamento onde acabaria com o Salto do Rio Piracicaba, cartão postal da cidade. O que pode ser feito é aumentar o número de micro-usinas para o uso de indústrias que se instalarem ao longo do nosso rio. Isso caso exista, uma vez que os pólos industriais estão distantes do Rio Piracicaba.
Naquela época já existia o famoso “gato”, que nada mais é do que captação de energia de forma clandestina?
Tinha! Havia muito na periferia, embora na área central também existissem algumas ocorrências dessa natureza. Havia uma equipe da CPFL especializada em detectar ligações clandestinas, eles vinham de Campinas e periodicamente faziam uma varredura. Esse tipo de ligação clandestina é considerada como crime. Para os técnicos da CPFL salta aos olhos quando isso ocorre e gera um boletim de ocorrência policial.
A nossa energia elétrica poderia ser mais barata se não tivesse uma pesada carga tributária?
A água é de graça, o que fica caro é construir a infra-estrutura. Se a manutenção for preventiva é barata. Infelizmente, ao que parece, para fazer economia, a manutenção atualmente é mais corretiva. Na CPFL ocupei vários cargos, aposentei-me como Gerente de Projetos e Obras. Nós fazíamos manutenções preventivas, dificilmente havia reclamações com relação a falta de energia. Fazíamos a manutenção preventiva, por exemplo onde havia árvores em contato com os fios, íamos lá e podávamos, não era uma poda radical, procurávamos preservar o meio ambiente. Uma grande preocupação que a CPFL tinha era com a preservação ambiental. Subordinadas à Piracicaba tínhamos: Charqueada, com suas imediações, como o Córrego da Onça. Águas de São Pedro, São Pedro, Saltinho, Rio das Pedras, Mombuca, Capivari e Rafard, essas localidades dependiam de Piracicaba. Tenho um fato interessante que ocorreu comigo quando ainda era técnico. Houve um pedido de extensão de energia em Águas de São Pedro, bem na frente da casa do solicitante tinha um pé de jaca, carregado de jacas pequenininhas, teria que cortar o pé de jaca para poder entrar com a rede até a casa. Era uma árvore de médio porte. Pensei: “-Não vou mexer aqui!”. O que eu fiz? Pulei a rua, atravessando-a com a linha, ficou sem estética, a rede vinha pela calçada, dei uma guinada e joguei do outro lado o poste, para depois trazer a derivação para a casa do cidadão. Iria passar pelo meio da jaqueira, tudo isso para não interferir na árvore. Águas de São Pedro é uma cidade turística, um jornalista esteve com o dono da propriedade, que deu-lhe uma jaca e contou-lhe a história: “O funcionário da CPFL para não mexer nessa árvore, colocou o poste do outro lado da rua”. O jornalista era correspondente do jornal “O Estado de São Paulo”, publicou a história que tinha sido relatada. A diretoria da CPFL queria saber o que estava acontecendo em Águas de São Pedro. Éramos subordinados à gerencia de Campinas, tive que justificar o procedimento. A justificativa foi encaminhada ao diretor que ficava em São Paulo. Apesar da falta de estética não encareceu em nada. Preservei uma jaqueira. O jornalista enalteceu o trabalho da CPFL. Isso mostra a preocupação da empresa em saber o que estava acontecendo com árvores na rua.
A CPFL é propriedade particular?
Quando eu entrei para a empresa tinha sido recém transferida de um grupo canadense para a Eletrobrás. Até na época a Eletrobrás cobrava um subsídio, infelizmente a maior parte dos consumidores não tinha conhecimento disso, por diversos motivos, entre eles o baixo índice de alfabetização na época. Com aqueles recibos de luz pagos, você guardava e trocava com ações da Eletrobrás. Isso porque ao pagar a conta também pagou o subsídio. Alguns elementos que sabiam, iam de casa em casa pedindo os recibos, depois vendiam para corretores de São Paulo. Havia corretoras especializadas em trabalhar com essas ações. Com o passar do tempo a Eletrobrás pegou o equivalente em ações na CESP e deu a CPFL para a CESP. A CPFL passou a ser subsidiária da CESP. A Eletrobrás pegou o equivalente em ações da CESP que estava crescente em produção de energia surgiram os grandes reservatórios: Avanhandava,  Águas Vermelhas, Ilha Solteira, estava uma potência na época. O presidente da CESP era o Professor Lucas Nogueira Garcez.
Quantos anos você permaneceu na CPFL?
Quase trinta anos, aposentei-me lá. Eu me formei como tecnólogo, fiz especialização, fiz um curso de Extensão Universitária pela Faculdade de Bauru. Em 1977 comecei a lecionar onde na época era o Colégio Técnico Industrial. Atualmente é a Fundação Paula Souza. Eu dava aulas de eletrotécnica. Na época o governo tentou implantar no nível colegial alguns conceitos de profissionalização. Na cadeira de física eu dava aulas de eletricidade básica e instalações elétricas no Colégio José de Mello Moraes. Lá eu dei aulas três anos, não deu resultado essa tentativa de introduzir essa metodologia. Dava aulas concomitantemente com o Colégio Industrial, onde dei aulas por quinze anos, de 1977 a 1992, no período noturno.
Você é casado?
Sou casado com Heloisa Maria Marretto Fusatto, temos dois filhos: Giovanna, cirurgiã dentista e André Luiz, engenheiro agrônomo. Tenho três netos.
Ainda na CPFL você deve ter vivido fatos interessantes.

Têm muitos. Houve uma época em que a periferia nossa era bem deficitária em rede de iluminação pública, nas ruas. Então surgiu uma idéia do governo, financiada pelo BNDS, a sigla era “LPP” – Luz Para a Periferia. Fazíamos uma varredura em toda periferia aonde havia aglomerado de casas, sem luz na rua, fazíamos o levantamento, o projeto, ia para a aprovação da diretoria, e fazíamos a extensão de luz na rua. Começamos a perceber que poucas casas pediam a ligação de luz. O poder aquisitivo era baixo. Então surgiu outro programa o “PPM” – Padrão Popular Mínimo, também financiado pelo BNDS. A CPFL fornecia o postinho, a caixa com medidor de consumo de energia, toda fiação e prontinha a entrada. O cidadão fazia só a fiação dentro da casa dele e a CPFL interligava para ele. Sempre gostei de vencer obstáculos, houve um caso em que o cidadão me procurou, o nosso gerente na época era Benedito Vasconcellos. Essas campanhas ele pedia que eu coordenasse. Veio um cidadão falar comigo. Disse-me: “- Moro na Vila Industrial, o terreninho é meu, está quase pago, eu ganhei um baú de um caminhão das Balas Nechar”. Já estava bem amarelado pelo tempo de uso, ele continuou dizendo: “- Eu moro com a minha família, dentro do furgão, fiz um puxadinho onde a minha mulher cozinha do lado de fora. Durmo dentro do furgão e por ter criança pequena a lamparina fica acesa a noite toda e está fazendo mal a saúde, não tem janelas no furgão. Será que é possível ligar a luz para mim?”. Disse-lhe que ia até lá para ver. E fui. Ele tinha vindo à Piracicaba já há algum tempo, trabalhava na aciaria do Dedini, um serviço pesado, puxar ferro quente do forno. Durante o dia ele descansava para trabalhar a noite. Vi que o terreninho estava bem limpinho, demarcado. Ele disse-me: “-Aqui na frente vou fazer a minha casinha ainda”. Tinha uma criançada, todos seus filhos. Eu disse-lhe: “- É a sua casa! Dá para ligar a energia elétrica sim!”. Fiz a medição de um trecho da rua para poder encontrar o número equivalente a casa dele. Escrevi o número, e disse-lhe que arrumasse alguma tinta e escrevesse o número da sua casa, aquele que eu tinha anotado após medir. Marquei o local aonde iria o postinho e disse-lhe para abrir o buraco aonde iríamos colocar o postinho. Assim foi feito, a energia foi ligada. Naquela época fazíamos inspeção a noite onde havia foco de luz. Havia muita malandragem da molecada, quebrar lâmpada da rua com estilingue. O pessoal da inspeção passou e viram o furgão aceso, fizeram uma série de comentários em tom de brincadeira. Chegou ao ouvido do meu chefe, Dr. Benedito, ele disse-me: “Isso que você fez é louvável!”. 

Em 1931, o espírito empreendedor do jovem Agostinho Martini Netto fez com que a produção de doces caseiros, que aprendera com sua mãe, se tornasse um sucesso comercial na cidade de Piracicaba - SP.
Com apenas 16 anos, Agostinho mobilizou sua família em torno da produção caseira de doces. Em sua casa "Seu Neguinho", como era conhecido, e sua mãe faziam confeitos de abóbora, batata e a famosa cocada, que eram vendidas por ele, a pé, em cestos de palha. Era o início de uma tradição que começava a fazer parte da vida da cidade.
Em 1935 "Seu Neguinho" casou-se com Joana Rocha, a qual passou a confeccionar doces e bolos para casamento. Companheira de todos os momentos teve parte importante nessa longa caminhada. Em pouco tempo, com a aquisição de uma charrete os doces passaram a estar presente em muitas comemorações locais. Casamentos e festas eram saborosamente enriquecidos com os doces e bolos da família Martini, que trabalhava diariamente para adocicar a vida das pessoas e atender com prontidão as inúmeras encomendas.
Em 1938 foi adquirido o primeiro veículo, um Chevrolet 1928 e em 19 de Abril de 1940 foi criada a  Doces e Conservas Martini Ltda.
A preocupação em manter a qualidade dos produtos e a rapidez na distribuição, dava a Doces Martini uma posição de destaque nacional.
Na Segunda Guerra Mundial e durante parte do regime militar Brasileiro, a Doces Martini enfrentou momentos amargos de racionamento, mas com dedicação e perseverança foram transpostas todas as dificuldades. Já passado o período de racionamento, em 1970, a linha de produtos foi modificada. A fabricação de bolos e doces para casamento foi acrescida por uma vasta linha de doces cremosos e em conserva, totalizando mais de 100 produtos diferentes entre confeitos, compotas e doces cremosos.
Manter a produção de doces e compotas, com sabor de feito em casa, é orgulho e tradição dos Martini.
Hoje a empresa, que está na quarta geração, tem seus produtos distribuídos para pizzarias, hotéis, restaurantes industriais, supermercados, padarias e diretamente ao público em âmbito nacional e internacional.
O segredo desse sucesso está na seguinte fórmula: 
- Mais de 80 anos de dedicação e trabalho;
- Frutas frescas e açúcar misturados com muito amor;
É por isso que a  história desta indústria é considerada UMA DOCE TRADIÇÃO!


Fábrica de tecidos “Boyes”

A fábrica de tecidos “Boyes”, fundada como Fábrica de Tecidos Santa Francisca, teve a sua origem a partir do empreendedorismo de Luiz de Queiroz. A fábrica se tornou a primeira grande indústria originalmente piracicabana, recebeu a primeira linha de telefone da cidade e, ainda, obteve o seu processo de produção por meio da força hidráulica do Rio Piracicaba. Por falta de tecnologia para subsidiar a produção demandada pela fábrica, todos os maquinários eram importados da Inglaterra.
O Jornal de Piracicaba, datado em 27 de dezembro de 1900, apresenta o discurso pronunciado pela aluna da Escola Luiz de Queiroz, Adelaide Peregrina, em ato de encerramento dos trabalhos daquele ano, onde destaca a importância da fábrica para os trabalhadores locais:Não é um edifício sumptuoso, não prende a atenção o seu trabalho artístico, não tem arquitetura custosa, nem colunatas, nem ogivas, não tem frontispícios a trabalhosos labores ou delicados rendilhados mas ante ele o passeante deve descobrir-se com respeito, porque é uma Sinagoga do trabalho, que a sua sombra angusta e sagrada abriga dos rigores do infortúnio famílias e famílias, a quem distribui o trabalho do qual a recompensa e o bem estar, o sossego e a paz de muitos lares”.
A fábrica de tecidos, após ser adquirida por Rodolpho Miranda em 1902, altera o nome e passa a ser identificada como “Arethusina”. No Jornal de Piracicaba, de 1903, uma nova matéria detalha as atividades e estrutura da fábrica, inclusive da Vila, conjunto residencial que servia de moradia para os seus operários:
Em uma quadra, fazendo faces para a rua Luiz de Queiroz, Prudente de Moraes, Vergueiro e 13 de maio, tem a fábrica 14 confortáveis casas para operários, na primeira das ruas descriminadas, e nas segundas excelentes habitações em que reside o guarda-livros”.
Também próximo a fábrica se encontra o palacete de Rodolpho Miranda, que ainda naquela edição do Jornal, é ilustrado como um espaço:
Situado num dos pontos mais pitorescos da cidade encontra-se elegantíssimo palacete ao centro de deslumbrante parque onde, a par esmerado capricho na escolha e conservação de frondosos e raros arvoredos, assim como de belíssima flores o seu proprietário faz coleção de aves nacionais e estrangeiras”.
Em 1927, definitivamente, a fábrica foi adquirida pela Cia Industria e Agrícola Boyes, o qual leva o nome da empresa e da Vila até o fim de suas atividades.

                                       Empreendedor Luiz de Queiroz. Acervo da USP/ESALQ

Fábrica de Tecidos Santa Francisca. Acervo do IPPLAP (Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba)

                                     Louis Clement
Século 20. N. Bélgica, f. São Paulo, SP, 1990-95? Engenheiro têxtil, administrador de empresa. C.c. Eloá Clement. Ff.: Achilles, Astrid, Therezinha. Durante muitos anos, foi diretor da Companhia Industrial e Agrícola Boyes em Piracicaba, originada da fábrica de tecidos D. Francisca (mais tarde Arethuzina) que Luiz Vicente de Souza Queiroz (v.) criou em 1877. Nomes de destaque na sociedade piracicabana de meados do século 20, o casal Clement esteve ligado a numerosas entidades e iniciativas relevantes. Por ocasião da criação da Associação Atlética Vila Boyes, Louis Clement foi eleito presidente de honra. Deve-se a ele a doação de terreno da Companhia Boyes no qual foi construído e instalado o novo mosteiro das Carmelitas Descalças de Piracicaba, cuja pedra fundamental foi lançada e benzida a 15.8.1954. Grande benemérito, destacou-se em numerosas obras de benfeitoria, como a construção da segunda torre da catedral piracicabana. Foi quinzista devotado e conselheiro do E. C. XV de Novembro em seus áureos tempos 
Pfromm Netto, Samuel, 1932-2012. Dicionário de Piracicabanos / Samuel Pfromm Netto. — 1. ed. — São Paulo : PNA, 2013  

terça-feira, novembro 15, 2016

MARIA DO CARMO BROCHINI ALVES MARINO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de NOVEMBRO de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 



ENTREVISTADA: MARIA DO CARMO BROCHINI ALVES MARINO


Maria do Carmo Brochini Alves Marino nasceu na cidade de Rio Claro a 17 de julho de 1934. Seus pais são Pascoal Hercules Brochini e Guiomar Baumgartner Brochini, tiveram nove filhos: Maria do Carmo, Mário Jesuino, Maria Helena, José Sérgio, Pascoal Roberto, Maria Isabel, Antonio Fernando, Luiz Nicolau Virgilio, Paulo Henrique.
Qual era a atividade do pai da senhora?
O meu avô Virgilio Brochini casado com a minha avó Irma Barbogian Brochini, vieram da Itália em viagem de núpcias para o Brasil. Ele e o meu pai que construíram toda a indústria da Caracu. Meu pai fazia desenho técnico, fazia as plantas e meu avô também. Quando chegaram da Itália, desembarcaram no porto de Santos, meus avôs foram para São Carlos e de lá vieram para Rio Claro. Construíram uma casa na Avenida 7 entre a Rua 9 e Rua 10. A casa que eles construíram existe até hoje. Eu nasci nessa casa. Ali meus avós criaram todos os filhos, meu pai comprou uma casa na Rua 9 entre a Avenida 7 e Avenida 9. Depois meu pai adquiriu uma casa e reformou, existe até hoje. É um sobrado com duas casas no fundo.
Com quantos anos a senhora começou a estudar?
Naquele tempo não existia pré-primário. Eu tinha seis anos, queria estudar, chorava porque queria ir para a escola. Até que minha mãe decidiu ir comigo falar com o Professor Marciano Toledo Pizza que era o diretor da Escola Estadual Coronel Joaquim Salles. Hoje há uma escola com o nome desse diretor na entrada do antigo Horto de Rio Claro. Minha mãe foi ver com o diretor se eu poderia ser aluna assistente do primeiro ano. O Professor Marciano Toledo Pizza afirmou que não podia me matricular, a lei do ensino não permitia, por causa da minha idade, eu era muito nova. Sentei-me na escada que havia para ir à diretoria e fiquei chorando. Meu pensamento era não ir embora, iria ficar ali naquele dia. O Professor Marciano ficou com dó e me colocou como aluna assistente. As aulas já tinham começado há seis meses, eu tinha que ser educada! Em um instante fiquei alfabetizada, ele me matriculou, com sete anos fiz o segundo ano primário. Guardo até hoje o boletim escolar, do quarto ano primário. Minhas notas são 90, 95, 100 ( a nota máxima era 100). Guardo esse boletim porque amei a escola.



A seguir a senhora continuou seus estudos?
Fui estudar piano com a Professora Francisca Lemenhe, era compositora, com dez anos comecei a tocar na igreja, lembro-me que foi no dia 10 de maio, eu não fazia o ginásio, entrei na Escola Técnica de Contabilidade. Meu pai tinha muitos filhos, não podia pagar a escola de piano e a escola técnica. Ele disse-me: “- Você deixe de estudar piano!” Dona Francisca Lemenhe, se eu tocasse uma notinha errada, da cozinha ela falava “-Preste atenção Maria do Carmo!”. Quando eu disse-lhe que teria que parar de estudar piano, ela se pôs-se a chorar e disse-me “-Dou-lhe aulas de graça, mas você não irá sair do piano!”. Eu sai da Escola Técnica e passei a freqüentar a escola do Estado, saiu uma lei que sem o ginásio eu não me formaria em piano. Deixei a Escola de Contabilidade e fui estudar na Escola Joaquim Ribeiro, de Rio Claro, naquele tempo tinha o “vestibulinho” para entrarmos. Fiz seis meses de curso para prestar esse exame, entrei para o ginásio, com a finalidade de fazer o conservatório, continuar estudando com a Dona Francisca Lemenhe, carinhosamente chamada de Dona Chiquinha. Ela me incentivou muito. Meu pai passou a tomar conta de uma igreja, a parede era de barro, tinha quase um metro de largura de parede! Ele fundou a Congregação Mariana dessa igreja, fez funcionar a igrejinha! E essa igrejinha ele reformou e ela está lá até hoje. Só trabalhando a noite após o trabalho dele na Taracom. Chamava-se Igreja da Venerável Irmandade da Nossa Senhora da Boa Morte e Assunção. O Padre, hoje Monsenhor, Jamil Nassif Abib gostava muito do meu pai, confiava nele, todas as reformas ele chamava o meu pai para fazer. O meu pai reformou os vitrais que tinham sido colocados em determinada altura, e o Padre Jamil os colocou mais abaixo. Eu tinha até a pouco tempo, um recibo dos tijolos que o meu pai adquiriu para reformar a igreja. O Padre Jamil pediu os documentos que eu tinha, eu estava preparando e não entreguei a tempo para ele, quando saiu o histórico da igreja, não entrou o trabalho do meu pai, por falha minha, eu não entreguei com antecedência os programas e os santinhos que ele pedia. Toquei desde os 10 anos naquela igreja, formei um coral de 40 vozes masculinas. Fui fazer a primeira Faculdade de Canto Orfeônico na PUC em Campinas. Para poder reger o coral direito e fazer arranjos nas músicas.
A senhora morava em Campinas nessa época em que fazia a faculdade lá?
Eu trabalhava na Caracu durante o dia, no escritório em Rio Claro e a noite ia e voltava de trem para Campinas.


Quem eram os proprietários da Caracu?
Eram o Seu Francisco e o Seu Nicolau Scarpa. O Scarpa foi meu padrinho de casamento.


Então a senhora conheceu o Chiquinho Scarpa?
Conheci bastante, eu tomava conta do arquivo das plantas, das fábricas, quando ele vinha ia direto comigo para pegar as plantas. Com dois meses de serviço na Caracu, na época eu tinha 16 anos, fui promovida a auxiliar da Procuradora da Caracu, Wanda Brunini. Ela trabalhava na empresa já há 25 anos, nunca tirava férias, ele disse às irmãs da Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, que ela nunca tirava férias, mas na minha mão ela deixava o escritório. Ela tirou férias e a Irmã Elvira veio e me contou esse fato. Francisco Scarpa é pai de Chiquinho Scarpa e Nicolau Scarpa é pai de Nicolauzinho Scarpa. Dona Alicia Mosso Scarpa era esposa de Nicolau Scarpa. Um dia a Dona Alicia telefonou-me perguntando se eu poderia levar a sua filha Analicia na Casa das Novidades, e deixá-la escolher uma agulha de crochê e de linha, ela deveria aprender para saber mandar. Isso para ver como ela tomava cuidado com a educação da filha.
A Caracu era um produto muito comercializado?
Eu era conferente do caixa, conferia as cargas. Naquela época não havia latinhas, eram apenas garrafas eu fazia o controle das garrafas que entravam e saiam. O João Tróia era o correspondente, ele fazia o boletim onde colocava todas as ocorrências do dia. Ia para o escritório em São Paulo, onde trabalhava o Nicolauzinho. Eles tinham uma chácara denominada Chácara Scarpa, hoje foi dividida, em uma parte foi construída a Igreja Bom Jesus. Venderam outra parte da chácara, mas existe ainda essa chácara em Rio Claro.
A senhora conheceu a mansão deles em São Paulo?
Conheci muito a avó do Chiquinho Scarpa, a Dona Joaquina, um dia fui até a casa dos meus tios em São Paulo, junto com duas primas minhas, fomos visitá-la. Fomos de taxi. Ela não deixou que nos voltássemos de taxi, deu dinheiro para nós três, fez o motorista dela nos levar até a casa do meu tio, no Cambuci. Ela durante a nossa visita fez questão de mostrar até o guarda-roupa dela. Era uma mansão, que existe até hoje, assim como existe ainda a Chácara Scarpa. Eles eram proprietários da Fazenda São Bento também, que fica entre Rio Claro e Santa Gertrudes, o pai deles foi muito amigo do meu avô Virgílio. Essa amizade continuou com o meu pai e os filhos dele. A Dona Joaquina chamava o meu pai de “Fióide”, fique quer dizer “Filhinho”. Quando o Seu Francisco foi candidato a prefeito de Rio Claro, ela chamou o meu pai e disse-lhe: “-Por favor, aconselha o Francisco a não entrar para a política”. Ele à custa da Caracu canalizou um riacho que servia de esgoto a céu aberto. Disso eu sou testemunha, era eu quem recebia as notas e pagava. Ele tinha sido eleito com um bom número de votos, e foi um bom prefeito, a cidade de Rio Claro não esquece o nome de Francisco Scarpa.






Nessa época a senhora já estava em uma posição elevada dentro da empresa?
Estava!
A senhora tinha uma idéia aproximada de quantos caminhões saiam por dia, carregados de cerveja Caracu?
Não sei dizer. Só sei que vinham caminhões do Brasil inteiro.: Mato Grosso, Paraná. Vinha de todos os lugares. A Caracu tinha um nome muito forte, era proprietária também da cerveja Pilsen que foi vendida para a Antártica. Era feita por um mestre cervejeiro alemão muito bom. Tínhamos amizade com esse pessoal pelo fato de o meu pai ser chefe das construções, nós conhecíamos todos os chefes. Cada funcionário do escritório que fazia aniversário, fazíamos o que era chamado de “Cerração”. A Caracu dava um barril de chopp. (Na verdade schopp é apenas o nome de uma medida de volume, em alemão, com o tempo em nosso país essa medida acabou passando a ser o nome desse tipo de bebida).  Nós comprávamos salgadinhos, o aniversariante comprava salaminho, azeitonas, e parávamos uma hora antes de terminar o expediente dos chefes e do escritório, reuniamos todos em uma sala que era utilizada para reuniões com o presidente da empresa quando ele fazia reuniões conosco. Essa “Cerração” era uma  grande amizade que tínhamos.
A senhora se lembra quantos funcionários tinha a Caracu?
Não me lembro! O Seu Ernani Fittipaldi era o chefe do Departamento Pessoal. Todo natal eles davam presentes à todos os funcionários, eles eram proprietários de uma tecelagem em Sorocaba, quando havia missa lá eu ia representar a Caracu em Sorocaba. Eles davam três ou quatro cortes de tecidos para todos os empregados, o processo começava em julho, eu tinha que pegar uma programação, colocar nome de cada funcionário, quantos filhos cada um tinha, a dona Wanda mandava fazer roupas para os meninos e para as meninas, era uma costureira que fazia, começava a fazer em julho para distribuir em dezembro. Era distribuído o 13º salário, as roupas, e para cada funcionário quatro ou cinco corte de tecido. Naquele tempo era muito utilizado o tecido de algodão.
Quem trabalhava lá tomava Caracu à vontade?
Tomava! Meu pai era chefe, ganhava toda a semana Caracu e refrigerante.




Na fábrica o funcionário podia beber?
Tomavam também., quando havia a cerração. Quem estava trabalhando não podia beber. Só após o horário de trabalho. A empresa deixava tomarem, mas havia um controle. Sós os chefes que tomavam, os funcionários não bebiam dentro da empresa. Essas bebidas que eram consumidas dentro fábrica, ficavam em geladeiras.
Quem criou a Caracu?
Foi Nicolau Scarpa, pai de Nicolau Scarpa Filho e avô de Nicolau Scarpa Junior. O outro dono da cervejaria era Francisco Scarpa, casado com Dona Patsy, pais de Chiquinho, Fátima e Renata.  
Quantos anos a senhora trabalhou na Caracu?
Quando fiz dez anos de serviço, pedi a minha demissão sem ganhar um tostão. Por razões profissionais divergentes das de um funcionário graduado da empresa e seu procedimento que causava prejuízo à mesma. Não quis ser conivente com o que tinha a convicção de estar sendo feito de forma a lesar a empresa. Preferi perder os anos de casa a agir de forma incorreta. A empresa tinha filais no Rio de Janeiro e em Santos.
                                                       Vista da Fazenda Scarpa
A senhora saiu da Caracu e foi trabalhar com o que?
Eu não queria mais trabalhar! Na Unesp tinha uns professores que faziam tese de doutoramento, eu era a mais rápida datilografa no tempo em que trabalhei na Caracu. Um deles que me conhecia da Caracu perguntou-me se eu poderia datilografar uma tese. Era para fazer na minha casa, acabei pegando, mas sem cobrar nada. Batia as teses e não cobrava nada, era apenas pelo prazer em fazer. O diretor da Unesp João Dias da Silveira, queria que eu fosse trabalhar lá, o professor Heitor de Souza era chefe do departamento da Física. Eu trabalhava com matemática e física. O professor da área de matemática, Humberto D`Ambrozio, disse-me: “-Você vem aqui até a uma hora! Vai bater ponto hoje!”. Meu irmão trabalhava na Unesp aconselhou-me a ir. Em pouco tempo eu coordenava os dois cursos: de física e de matemática. O Dr. João Dias da Silveira saiu, veio o novo diretor, Aparecido, vinha muitos pedidos para empregar pessoas que eram formadas pela Unesp. Eu encaminhava os pedidos para os chefes, assim muitos dos que saíram formados, já saíram com emprego. O novo diretor aumentou o número de alunos por classe, para 50 alunos. Os professores saíram e foram para Goiânia, queriam me levar para lá. Eu já era casada.
Em que ano a senhora se casou?
Casei-me com Edmundo Alves Marinho no dia 22 de abril de 1967, em Rio Claro, na Igreja Boa Morte Assunção. Tivemos um filho: Rodrigo. Eu tinha conhecido um rapaz quando eu tinha 17 anos, namoramos oito anos, seu nome era Lourenço Francisco Lamonato, ele teve um acidente. Era filho de italiano, o Seu João, que trabalhava como gerente na Fiação de Seda Matarazzo, onde hoje funciona o Shopping de Rio Claro. O meu noivo, Lourenço era professor, dava aulas em São Paulo, ele vinha de trem para Rio Claro, em uma dessas viagens aconteceu um acidente que foi motivo do seu falecimento. Meu pai queria muito bem ele, sentiu muito a sua morte.
No magistério a senhora formou-se em que época?
Eu trabalhava ainda na Caracu quando me formei como professora primária. Depois passei a fazer faculdade, primeiro de Canto Orfeônico, depois fiz Arte Musical a seguir fiz Educação Artística. Fiz extensão Universitária de Antropologia Humana e Extensão Universitária de Higiene Mental. Também fiz Pedagogia em Amparo. Quando completei 18 anos de Unesp pedi a minha demissão. Eu trabalhava diretamente com o Professor Landim. Eu comecei a dar aulas em escolas particulares, trabalhava meio dia na Unesp, até que decidi sair da Unesp e dar carga integral no Estado e ficar com o Objetivo, o Integrado e o Puríssimo Coração de Maria.
A senhora deu aula no Colégio Objetivo?
Dei aulas no Objetivo de Rio Claro. Quando abriu o Objetivo fui convidada para dar aulas lá, de Educação Artística para alunos do segundo grau. Atuei 25 anos no magistério. Aposentei-me em 2002.
Qual era a atividade do marido da senhora?
Ele era industrial, proprietário da Indústria Metalúrgica e Fábrica de Móveis EM (E de Edmundo e M de Maria) foi acometido de uma doença grave, teve que fechar a indústria. Ele faleceu dia 23 de fevereiro de 1998.
A senhora continua tocando órgão até hoje?
Eu tocava na Igreja da Boa Morte em Rio Claro, tempo em que o Padre Jamil Nassif Abib era pároco em Rio Claro. Minha mãe tinha-o como a um filho. Continuo tocando durante as missas.
A senhora aderiu a informática?
Tenho meu e-mail, uso o facebook. Não gosto de ficar parada, meu pai era assim.
A senhora é descendente de imigrantes europeus?
A minha avó materna Joana Lundin Baumgartner era sueca e meu avô materno era Guilherme Baumgartner. Vieram da Suíça. 
Além da música a senhora gosta de alguma outra área da arte?
Gosto de pintura, eu pintava muito. Eu dava aulas na Escola Industrial nas matérias de mecânica e eletricidade. Ensinava as letras técnicas, que são letras mais elaboradas, fazia apostila, distribuía.
A senhora é uma pessoa muito feliz.
Eu me realizei em tudo que fiz, porque eu punha a minha alma no que estava fazendo. As minhas apostilas sempre foram muito didáticas, os livros adotados tinham um alcance desnecessário, longo. Meu marido me deu um mimeografo a álcool, tinha noites que eu não dormia, ficava datilografando a aula e passando no mimeografo.
A senhora acredita na recuperação do individuo?

Acredito sim. Eu vivi uma experiência dessa natureza em uma das escolas em que lecionei. Um aluno rebelde, quando tratado com carinho e firmeza pode tornar-se um excelente aluno. 


CARACU
Fundada em 1899, pelo major Carlos Pinho, ela representou o início do processo de industrialização de uma cidade que até então baseava sua economia na agricultura, com destaque para a produção de café, e nos empregos oferecidos pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro.
Em 1902, o major Carlos Pinho arrendou a fábrica para o alemão Julio Stern. O arrendamento transformou-se, no ano de 1910, em sociedade anônima, sob a denominação de Cervejaria Rio Claro – Companhia Industrial. Mais tarde, voltou a ser uma companhia limitada, tendo como diretor o Sr. Oscar Batista da Costa.
Na época, além da Caracu, produzia-se as cervejas Pilsen, Rio Claro e Extrato de Malte, os refrigerantes Maçã, Guarani, Café e Limonada, e a água mineral Artezia. O negócio registrou períodos de crescimento e dificuldades até 1929, quando os efeitos da crise econômica mundial eclodida a partir da quebra da bolsa de valores norte-americana foram devastadores para a empresa.
Por sorte, no ano seguinte, o empresário italiano naturalizado brasileiro, Nicolau Scarpa, adquiriu a indústria e deu início a um processo de modernização e consolidação da marca Caracu no mercado.
O comendador Nicolau Scarpa investiu em  máquinas capazes de produção em larga escala e construiu prédios para a gerência, diretoria, refeitório, conferência, setor de vasilhames e adegas, bem como um galpão para as caldeiras. Quando faleceu, em 1942, deixou um sólido patrimônio para os filhos Francisco Scarpa e Nicolau Scarpa Júnior, que foram para a Alemanha fazer cursos de engenharia e química especializadas no setor cervejeiro.
A eles deve-se o aumento da produção da Caracu, cerveja escura que substituiu no Brasil e britânica Guiness. Paralelamente ao aprimoramento tecnológico, os irmãos Scarpa deram sequência aos projetos de ampliação física iniciados pelo patriarca da família. Eles construíram o prédio da Avenida 4 com rua 8, que abrigava a fábrica de gelo e a ferramentaria, e o anexo de três pavimentos, onde ficavam a casa de máquinas e os resfriadores de água.
Na sequência, avançaram para o interior da quadra com 8 mil metros quadrados de área e ergueram outro prédio, todo de cimento armado, com três andares e arguido para comportar máquinas compradas no exterior. No local, instalaram ainda a nova carpintaria, o engarrafamento e o armazém.
Cada vez mais ousados, Francisco Scarpa e Nicolau Scarpa Júnior construíram um edifício de oito andares, o mais alto de todas as indústrias paulistas da época. No último andar, ficava o moinho da cevada e, logo abaixo, os tanques para produção de cerveja. Na parte de baixo, os demais setores, entre eles o de envasamento. Uma das características marcantes da construção – que existe até hoje – era a chaminé de 40 metros de altura, que durante décadas exalou o aroma de cevada por toda a cidade.
Ao completar 50 anos de fundação, em 1949, a fábrica possuía 307 funcionários e uma posição consolidada no segmento cervejeito. Um dos segredos do sucesso de seus produtos sempre foi a excelente qualidade da água ultilizada, originária de três profundos poços artesianos.
Por ocasião do cinquentenário, o jornalista José dos Santos Ferro escreveu um texto que demosntrava a importância da empresa para o município. “Dezenas de dezenas de milhar de garrafas de produtos da Cervejaria Rio Claro, principalmente de Caracu, que é soberana e ninguém ousa destronar, saem todos os dias do quadrilátero fabril, rumando por aí além, até onde haja um paladar que os eleja para constante uso.”
No ano de 1967, a Cervejaria Rio Claro patenteou no Brasil a Skol, sob licença da fábrica dinamarquesa Carlsberg, que três anos lançara a marca na Europa. Em 1971, a cervejaria lançou a primeira cerveja em lata do Brasil, a Skol-Caracu, com embalagem produzida a partir de folha de flandres. Na época, a família Scarpa detinha 46% do controle acionário do grupo, 26% eram capital estrangeiro e os 28% pertenciam a acionistas diversos. Houve uma fase de grande crescimento, com fábricas em Rio Claro, Londrina, Rio de Janeiro e Santos.
A lata de alumínio, em 1989, e a garrafa “long neck” com tampa de rosca, logo em seguida, são outros exemplos do pioneirismo e dinamismo da empresa, que manteve suas atividades em Rio Claro até 1992, quando a Brahma – hoje integrante da Ambev – transferiu toda a linha de produção para Agudos.

Morre aos 103 anos o industrial sorocabano Francisco Scarpa
20/06/13 | Equipe Online - online@jcruzeiro.com.br
José Antônio Rosa

O industrial sorocabano Francisco Scarpa morreu ontem aos 103 anos em São Paulo, onde morava. A família pediu para que a causa da morte não fosse revelada. Scarpa sofreu um AVC depois que sua esposa, Patsy faleceu, no ano passado e, desde então, não se recuperou. Francisco Scarpa nasceu em Sorocaba a 6 de março de 1910, comandou um dos maiores conglomerados empresariais do país e atuava em inúmeros setores produtivos. De cerveja a óleo e sabão, passando por tecidos e criação de gado, Scarpa trabalhou praticamente com tudo, como costumavam dizer os que o conheceram. 

Uma dessas pessoas é o jornalista Walter Rinaldi Leite, que atuou como assessor de seu filho, Chiquinho Scarpa, na fábrica Nossa Senhora do Carmo. E ele relaciona algumas das atividades empresarias que o industrial comandou. "Foi diretor da Sociedade Brasileira de Máquinas, 1938; presidente da Companhia Cimento Brasil, no Rio Grande do Sul, 1943; sócio da Companhia Imobiliária Morumbi, da Companhia Agrícola Contendasi, da Fiatex, da Exportal, da Companhia Interestadual de Seguros e da Companhia de Seguro Auxiliadores; diretor-presidente do Banco República, da Empresa de Eletricidade Avaré, do Banco Continental São Paulo e da Rádio Cosmos; diretor das Cervejarias Skol Caracu (em 1972 tornou-se primeiro-vice-presidente da mesma cervejaria); diretor da Cervejaria Skol Paranaense, da Sistemas - Engenharia e Consultoria de Sistemas e da Companhia Eletrolux, entre outros". 
Scarpa também foi prefeito de Rio Claro e deputado federal na década de 60. Sempre que perguntado como conciliava tantas responsabilidades, costuma dizer que "um dos segredos da vida é saber controlar o tempo". O tino e a vocação foram herdados do pai e do avô que, junto com o comendador Pereira Ignácio, fundaram o grupo Votorantim. Scarpa administrou a fábrica de tecidos Nossa Senhora do Carmo, também conhecida como "Fonseca", em referência ao português Manoel José da Fonseca que a instalou em 1881. 
Benemérito, adquiriu o terreno onde foi construída a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, na avenida General Osório, bairro Trujillo. Antes disso, criou a Fundação Scarpa. Também contribuiu para a construção da Faculdade de Medicina. Nos anos 50, durante a gestão do prefeito Artidoro Mascarenhas, o "doutor Pitico", Scarpa emprestou dinheiro ao governo do município que, diante do aperto financeiro, não tinha como pagar o salário dos servidores. 
Consta que os juros da dívida foram doados a entidades assistenciais. Scarpa formou-se, na Alemanha, como mestre cervejeiro. Com esse know-how otimizou a produção da marca Caracu, uma das mais conhecidas do mercado que, mais tarde, se associaria à Skol. Francisco Scarpa deixa os filhos "Chiquinho", Fátima e Renata. O local e o horário do sepultamento também não foram informados. 



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