sábado, setembro 20, 2014

FELISBINO DE ALMEIDA LEME (BINO)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 20 setembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/


ENTREVISTADO: FELISBINO DE ALMEIDA LEME (BINO) 

Felisbino de Almeida Leme, o Bino, estará lançando o seu terceiro livro que é “Canto de Paz” sendo que o valor apurado na venda dos livros será totalmente revertido para o CECAN. Será lançado no dia 27 de setembro, as 19:30 horas, no salão da Escola de Mães, situada na Rua Prudente de Moraes, 1578, esquina com a Rua Alfredo Guedes. O prefácio é de Selma Ferrato, a apresentação foi realizada por Conceição Pipa Soave. Uma das orelhas do livro foi feita por Maria Helena Corazza, presidente da Academia Piracicabana de Letras e a outra orelha do livro foi feita pelo Padre Antonio Célio Costa Francisco, o Padre Célio da Igreja Bom Jesus.
Felisbino de Almeida Leme nasceu a 27 de setembro de 1944 em Piracicaba na Rua Tiradentes, entre a Rua Voluntários de Piracicaba e Rua Treze de Maio. É filho de  Noemia Godoy Leme e Acácio de Almeida Leme que foi músico por 50 anos, tocou em bandas de Piracicaba, Capivari. Tocava saxofone e clarinete. O casal teve sete filhos: Leonidas, Dirce, Clarice, Rubens, Florivaldo (Chicoca), Antonio e Felisbino (Bino). Bino iniciou seus estudos no Grupo Escolar Moraes Barros, sua primeira professora foi Dona Mariazinha (Maria). Nas proximidades do grupo escolar havia uma venda famosa, com sua vitrine de doces, pertencia ao Bento Chulé, um doce muito apreciado era o pudim de pão popularmente chamado de “mata-fome”.

Bino você guarda muitas lembranças dessa época?

Na Rua Alferes José Caetano em frente ao Grupo Moraes Barros, existia o escritório de um dos grandes advogados que atuou em Piracicaba, Dr. Jorge Canaã, era ali que muitas vezes Jacob Diehl Neto, Noedy Krahenbuhl, Francisco Lagreca também célebres advogados,encontravam-se para confabularem. Na esquina da Rua Treze de Maio com Alfres José Caetano, onde atualmente é a Pizza do Bira, era onde funcionava a agência de correios de Piracicaba. Em frente, ficava a loja de Oscar Elias Neme. Na Rua Alferes José Caetano, esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba, havia uma casa enorme, onde por muitos anos funcionou a Biblioteca Municipal, Nas dependências anexas ao casarão morava Dona Diva, mãe da Isalina, Lucia, Rosa, que eram minhas colegas. A Dona Diva era enteada do Seu Joaquim Corre-Corre, casado com Dona Maria. Moravam todos juntos. O casarão da frente era a biblioteca. (Foi derrubado recentemente e está dando lugar a um edifício). Na esquina oposta havia uma funerária, do Longatto, com os esquifes  expostos. Ao lado, adiante um pouco, na Rua Alferes José Caetano havia a Fábrica de Bebidas Andrade, que pertencia a família de Thales Castanho de Andrade. Um fato curioso é quando o esposo da professora entrava na sala de aula nós levantávamos e cantávamos: “ –Bom dia Seu Aldino ! Como vai?”.

O curso primário você concluiu lá mesmo?

Fui transferido para o Grupo Escolar Prudente de Moraes. Ia a pé, passava pelo Córrego Itapeva. Minha mãe faleceu quando eu tinha seis anos. Minha avó Maria Erlinda Hellmeister Godoy ( Dona Cota) , e meu tio Nelson Godoy se incumbiram de cuidar de mim. Morávamos na Rua Luiz de Queiroz, entre a Rua Voluntários da Pátria e Treze de Maio. Ali crescemos juntos, Beto Pianelli, Pedro Arnould, hoje médicos conceituados.

O chão era calçado ou de terra?

Era chão de terra nua. Tinha um campinho de futebol. Mais adiante tinha um parquinho municipal, Dona Cacilda Azevedo Cavagionni era a chefe.

O ginásio você cursou onde?

Fiz no Colegio Estadual e Escola Normal Monsenhor Jeronimo Gallo, na Vila Rezende. O diretor era Helly de Campos Melges, tempo do Professor Lineu Alfredo Cardoso, Professsor Marques, Professor Waldemar. Funcionava no mesmo prédio onde era o Grupo Escolar José Romão. Nosso uniforme assemelhava-se muito a uma farda, na cor caqui. Estudava de manhã, a tarde ajudava a minha avó e meu tio. Levava almoço ao meu tio que trabalhava no Engenho Central, tinha que atravessar a ponte sobre o Rio Piracicaba. Para mim era uma diversão. Cheguei a nadar no Rio Piracicaba, pescava muito peixe cascudo.  O Rio Piracicaba ficava muito próximo de onde morávamos. Havia muito peixe, lembro-me do Tangará, Mário Pinazza, pescavam peixes enormes, jaús, dourados. Um tipo folclórico de Piracicaba que conheci foi o Espetete, seu filho Valdemar é muito meu amigo. Tudo que ele falava terminava com “ete” : cachorrete, cavalete, peixete.

Piracicaba era uma cidade relativamente tranquila, todos se conheciam.

Tinhamos habitos mais caseiros. Para ir ao ginásio ia de bonde até a Vila Rezende. Eu cantei no Coral São Luiz, como tenor, o maestro era Vicente Gimenes. Esaiavamos no prédio da Sociedade Portuguesa, na Rua do Rosário, o prédio existe até hoje.  O coral era composto por cerca de 30 elementos, viajavamos muito, cantávamos em solenidades, casamentos. Ditinho, pai do musico Janu, cantava nesse coral.

Nessa época você já estava trabalhando em alguma empresa?

Passei a trabalhar como continuo no Banco Paulista do Comércio situado bem em frente a loja A Porta Larga, na Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Moraes Barros. Ao lado era a “A Musical” do Walter Pousa. A seguir passou a se chamar Banco América. O Banco Itau assumiu. Logo em seguida eu fui fazer o Tiro de Guerra que ficava na Avenida Dr.Paulo de Moraes, eu ia de bonde, em pé no estribo. Após um ano terminei de servir o Titode Guerra.

Você foi fazer o que em seguida?

Fui para São Paulo, isso foi em 1966, fui de trem. Fui até a casa do meu tio Antonio Godoy, o sogro do meu sobrinho, Helio Pianelli trabalhava na Editora Abril, um primo do meu primo trabalhava na TV Excelsior, na Vila Guilherme, onde eram feitas as novelas, eles tinham um estúdio na Rua Nestor Pestana, centro de São Paulo. Conduzido pelo meu primo entrei na Excelsior como escriturário, fui evoluindo, me aproximando mais no núcleo de novelas, acabei dando assistência a produção e direção.

Qual foi a primeira telenovela que você deu assistência?

Foi “Redenção”. Uma novela que ficou quase dois anos no ar. Na época tinha que ter o visto da censura. Cheguei a levar uma gravação para pegar o visto em Brasília. Nessa época eu morava na Rua Augusta. Dona Gê era costureira da TV Excelsior, ela abrigava em seu apartamento alguns artistas que vinham do Rio para São Paulo. O Rony Cócegas ficou muito tempo nesse apartamento. Moravamos todos nesse apartamento, e era próximo da TV Excelsior. Da Nestor Pestana era transmitida a Luta Livre, a Hora do Bolinha, Show Riso, Os Adoráveis Trapalhões que quando começou era formado pelo Renato Aragão, Didi,  o Wanderley Cardoso, Vanusa, Ted Boy Marino, Ivon Curi. Mais tarde saiu esse quarteto e entrou Muçum e Zacharias. Com onibus ou perua da TV Excelsior íamos até os estúdios da Vila Guilherme, era um dos melhores estúdios da América do Sul.

A Luta Livre era um show?

Era um show já ensaiado. Quem assistia em casa ficava nervoso, mordia a unha. Isso em uma época em que poucos tinham televisão, e era em branco e preto. Quando terminavam a luta, saiam do estudio e dirigiam-se a um barzinho que existia em frente  ao prédio da TV Excelsior, iam tomar cerveja, bater papo. O Show Riso estorou em São Paulo, vinha o pessoal do Rio de Janeiro para fazer o programa. Ary Leite criou o “Saraiva”, personagem característico por ser neurótico.

Para um rapaz que saiu do interior o impacto foi muito grande?

Na época mergulhei no meio artistico, cheguei a ter muitos amigos. Na TV Record quando o Agnaldo Rayol fez “As Pupilas do Senhor Reitor” , com Fulvio Stefanini, Dionisio Azevedo interpretava o reitor,  o Agnaldo viajava muito, eu pegava seu texto, marcava sua fala, levava para a casa da sua mãe, Dona Rosinha, seu pai era Seu Agnelo, deixava lá. Quando ele chegava de viagem já estava tudo pronto para ele decorar o texto. Muitas vezes um ator fazia o ensaio para gravar imediatamente. O “script” era rodado em mimeografo a alcool! Era uma dificuldade! Para fazer uma cena externa ia trator, caminhão, jipe. Na Excelsior permaneci dois anos. Ela faliu e nós fomos para a TV Record. Dr. Paulo Machado de Carvalho era o comandante. Ele tinha escritório na Rua Quintino Bocaiuva, mas passava diariamente na emissora. O Vicente, que era o barbeiro, fazia sua barba. Depois ele ia ao escritório. Seus tres filhos: Paulo Machado de Carvalho Filho, o Paulinho, cuidava da parte artística, o Tuta, cuidava da parte técnia, é pai do Tutinha que comanda a Jovem Pan, o Alfredinho cuidava da parte comercial. Tive a felicidade de trabalhar com quatro diretores bons: Dionizio Azevedo, Valter Avancini, Regis Cardoso e Ivan Mesquita. O Pagano Sobrinho pediu que eu fizesse Juri Popular  no programa “É Proibido Colocar Cartaz” , programa de calouros, nesse programa que levei o Beto Surian. Consegui levar vários valores artísticos para iniciar carreira. Na Record surgiu a Joven Guarda, depois a Praça da Alegria com Manoel da Nóbrega, depois veio o Festival da Musica Popular Brasileira. Elis Regina, Jair Rodrigues, Chico Buarque de Holanda, Gilbeerto Gil.

Você permaneceu por quanto tempo em São Paulo?

Foram cinco anos. Na época a febre que contagiou a juventude era viajar como mochileiro. Conhecer novos lugares. Eu e um amigo decidimos percorrer a estrada. Chegamos até a Argentina. Eu deveria ter por volta de vinte e poucos anos. Era muito jovem. Viajei sabendo que podia contar com a ACM, Associação Cristã de Moços. O espírito do mochileiro era de percorrer a rota através de qualquer meio de transporte, a pé, de carona. Permanecemos uma semana na Argentina. Decidimos retornar.

Você voltou à Piracicaba?

Cheguei e procurei o Tiquinho como era conhecido Haldumont Nobre Ferraz. Ele era assessor do Prefeito Cássio Paschoal Padovani. O SEMAE- Serviço Municipal de Águas e Esgotos estava sendo criado. A sede era na Rua São José, entre a Praça José Bonifácio e a Rua Alferes José Caetano. Fiz a Faculdade de Serviço Social. Com essa formação desenvolvi e implantei vários projetos visando qualificar e aperfeiçoar a condição de vida dos funcionários, que na época eram em torno de 600. Alfabetização de adultos, grupos de recuperação de auto-estima, diversas iniciativas que beneficiaram e beneficiam até hoje os funcionários. 

Quando você se casou com a sua esposa Rosaly Aparecida Curiacos de Almeida Leme?

Casamos a 24 de maio de 1979 na Igreja dos Frades o celebrante foi Frei Augusto, dessa união nasceu nosso filho José Alexandre.

Bino você teve alguma ligação com o escotismo?

Logo após ingressar no SEMAE passei a participar do Grupo de Escoteiros Tamandaré, já na função de chefia. Praticamente fundamos esse grupo, junto com meu irmão, com o Shirley Prado, da Receita Federal.

Quantas obras editadas você já tem?

Meu primeiro livro foi “Encantos de Outrora”, lançado em 2008. O segundo livro foi “ O Relato de Minha Vida” lançado em 2011, que narra minha vida, minha infância, minha juventude e meu trabalho ligado a televisão. E agora estou lançando o terceiro que é “Canto de Paz” sendo que o valor apurado na venda dos livros será revertido para o CECAN. São 120 poemas, simboliza meus 70 anos de vida, mais 50 anos de comunicação, no total de 120 anos. Será lançado no dia 27 de setembro no salão da Escola de Mães, situada na Rua Prudente de Moraes, 1578, esquina com a Rua Alfredo Guedes.

Quando você pediu a mão da Rosaly em namoro foi com algum poema?

A Rosaly me conheceu quando eu estava dando uma palestra sobre o livro de Erich Fromm abordando o tema “O Amor é Vida”. Ela achou minha voz bonita, e ela precisava de uma pessoa que falasse na inauguração da escola EE Profa Maria Guilhermina Lopes Fagundes em Santa Bárbara D`Oeste. A direção da escola queria alguém que fizesse a oração de agradecimento em nome de Jesus pelo material como cimento, cal, às pessoas que trabalharam na obra como o pedreiro por exemplo. A Rosaly conversou com a Ana Maria, esposa do Ary Camolesi. O Ary é um dos fundadores do VEA, e eu fazia parte do VEA.

O que significa VEA?

Forma uma cruz  Vá de Espírito Aberto e Volte Espalhando Amor. A Rosaly me convidou, fui até a casa dela que morava com sua família, nisso chegou sua irmã Helena e disse que me convidasse para ficar para o almoço. A Rosaly disse que me conhecia muito pouco. Nisso a sua irmã Helena retrucou: “-Ele será seu namorado!”. Acabamos nos conhecendo e casando.

Você participou de muitas instituições em Piracicaba, pode citar algumas delas?

Primeiro foi o escotismo. Depois fui para o VEA, onde era um grupo formado por adultos. Funcionava no Seminário do bairro rural Nova Suiça. Ia na sexta-feira a tarde e voltava no domingo. Era no formato de um cursilho. Foi em uma época em que havia vários movimentos jovens cristãos, como Geração Nova, Topada.  Participei da Associação Piracicabana de Assistência Carcerária (APAC). Atuei no Centro Cultural e Recreativo Cristovão Colombo como Diretor de Comunicação ( Gestão José Domingos Cristofoletti) Diretor Cultural (Gestão Milton Marcos Ducatti), época em que criei o coral do Cristóvão, com o Maestro Joaquim Bonilo, o coral existe até hoje. Criei a “Nossa Mostra” que existe até hoje, eram apresentadas obras de artistas plásticos que eram associados do clube. Foram criados cursos de pintura, escultura. Fui Diretor Ouvidor ( Gestão Orlando Antonio (Tato) Pereira. Fui Vice-Presidente do Clube do Escritor do Carlos de Moraes Júnior. Fui diretor da Sociedade Beneficente Sírio Libanesa, com Alexandre Neder e com Jorge Sallum Nassin (Jorginho). Por dois anos fiquei como Diretor Social na gestão de Elia Youssef Nader e Silvana Zen Boaventura. Estamos na Academia Piracicabana de Letras ha muitos anos, onde sou o primeiro secretário e a Rosaly é a segunda secretária. Fiz parte dos Amigos do Museu da Odontologia com o Dr. Waldemar Romano. Tenho matérias publicadas em O Diário, no Jornal de Piracicaba, A Tribuna Piracicabana, Gazeta de Piracicaba, Capivariano, Laranjal Paulista, Cosmópolis Jornal de Aparecida do Norte. Nas revista Brasil Rotário ( Rio de Janeiro) e Família Cristã. Fui membro das Comissões organizadoras dos Salões InternacionaL do Humor de 1977 e 1978. Presidi a Comissão Organizadora dos Prêmios Escriba: de Contos, de Poemas e de Crônicas., com nivel nacional e internacional. A primeiro de agosto de 2008 recebi o título “Piracicabanus Praeclarus” e no dia primeiro de agosto de 2013 a “Medalha de Mérito Legislativo” e várias “Moções de Aplauso” pela Câmara Municipal dos Vereadores de Piracicaba.

Como você vê a situação cultural do nosso país?

A tecnologia veio e deu uma alavancada em tudo. A juventude de hoje é bem diferenciada da época da minha juventude.  A velocidade de informações é imediata. Acredito que os valores efêmeros podem e deve ser mudado, o que deve ficar são os valores permanentes: o amor, o respeito.

Rosaly cita uma frase de seu pai, José Curiacos, que foi pessoa de grande sabedoria.

Meu pai sempre dizia que se você tiver uma lata de tinta cor-de-rosa e se cair um pingo de tinta verde todos irão dizer que estão vendo o pingo de tinta verde. Enquanto isso acontecer, significa que a maioria não está em evidência. Pior seria se fosse ao contrário. Se o mal fosse maior do que o bem. O que está é muito difícil de manter os valores perenes com a juventude atual. A propaganda dessas outras coisas todas é muito grande. 

Bino, o livro terá uma embalagem especial?

Foram feitas 200 sacolinhas de tecido com o poema “Seja Você Mesmo” da Madre Tereza de Calcutá impresso.

Seja Você Mesmo

Dê sempre o melhor...
E o melhor virá.
Às vezes as pessoas são egocêntricas,
Ilógicas e insensatas...
Perdoe-as assim mesmo.
Se você é gentil, as pessoas podem
Acusá-lo de egoísta e interesseiro...
Seja gentil assim mesmo.
Se você é um vencedor, terá alguns
Falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros...
Vença assim mesmo.
Se você é honesto e franco,
As pessoas podem enganá-lo...
Seja honesto e franco assim mesmo.
O que você levou anos para construir,
Alguém pode destruir de uma hora para outra...
Construa assim mesmo.
Se você tem paz e é feliz,
As pessoas podem sentir inveja...
Seja feliz assim mesmo.
O bem que você faz hoje
Pode ser esquecido amanhã...
Faça o bem assim mesmo.
Dê ao mundo o melhor de você,
Mas isso pode nunca ser o bastante...
Dê o melhor assim mesmo.
E veja você que, no final das contas,
É entre você e Deus...
NUNCA SERA ENTRE VOCÊ E ELES!

JACQUELINE SANTANA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 setembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

                                        ENTREVISTADA: JACQUELINE SANTANA
 
Jacqueline Santana assumiu a Rádio Educativa FM como Diretora-Presidente no dia 02 de janeiro de 2013. A emissora conta com 13 funcionários, somando aos que prestam serviços voluntários à equipe é composta por 30 membros. Formada em Comunicação e Pós–Graduada em Administração Pública e Gerência de Cidades.

O que são voluntários de uma rádio?

São pessoas que apresentam programas ou trabalham nos departamentos, voluntariamente.  Essas pessoas assinam um termo de voluntariado que significa que elas não têm nenhum vinculo empregatício com a emissora e nos ajudam no decorrer dos trabalhos. Elas compõem a comunicação da Rádio Educativa de forma voluntária. Para trabalhar na Rádio Educativa ou é através de concurso público ou ocupa cargo de confiança. Estamos tentando mudar isso agregando grupos de voluntários, e conseguimos isso no decorrer desse tempo, desde 2013, a trazer mais voluntários.

Há alguns critérios para ser voluntário?

Existem critérios rigorosos, diretrizes. Estabeleci a minha estratégia para comunicação da rádio de 2013 a 2016. Desde que assumi fizemos um grande investimento em tecnologia. Temos todo o apoio e empenho do Prefeito Gabriel Ferrato. A Rádio Educativa é uma rádio pública mantida pela prefeitura, ela está locada na Secretaria da Educação. A ordenadora de despesas da Rádio Educativa é a Secretária de Educação, Professora Ângela Corrêa.

Qual é o foco da grade de programação da Rádio Educativa?

Quem acessar o site educativafm.com.br poderá acessar todos os programas, lá é descrito um pouco de cada programa, tem a fotografia dos comunicadores. Está tudo no site. Quando assumi a idéia era de que a Rádio Educativa era uma emissora voltada para o público acima de trinta anos, classes A e B. Meu objetivo é mudar isso, fazer com que pessoas de todas as idades e cada vez um número maior de ouvintes, optem também pela Rádio Educativa. Não somos concorrentes de ninguém. Não temos anunciantes. Desde que assumi a Rádio Educativa não tem apoio cultural de empresas particulares. Quem mantém a rádio é a prefeitura, então quando eu preciso de recursos recorro a autorização do prefeito. Tenho todo apoio e respaldo dele, não se justifica ter o chamado apoio cultural de terceiros.

Há uma afirmação que não se sabe ao certo contabilizar, de que muitos magnatas norte-americanos deixam uma sólida formação cultural aos filhos. A maior parte dos bens materiais eles doam à fundações com fins filantrópicos. Alguma vez isso ocorreu com a Rádio Educativa?

Nós nunca tivemos esse tipo de contato. Caso surja uma proposta dessas, iremos registrar essa doação, documentar de forma legal e oficial. O que nós já recebemos em doação na minha gestão, foram LPs, os discos de vinil.

Vocês aproveitaram esse material?

Digitalizamos esse material, estamos digitalizando todo nosso acervo que é composto por mais de 70.000 músicas, é uma das discotecas mais completas da região. Nós registramos com fotografias as doações de LPs. Utilizamos as músicas desde que atendam os critérios da rádio. Desde que assumi a Rádio Educativa fez um grande investimento em tecnologia, mudamos todo o sistema de informática da rádio, substituímos equipamentos por outros tecnologicamente mais avançados, aumentamos a velocidade de internet da rádio. Ampliamos a equipe de jornalismo e comunicação com a participação de voluntários. Dentro do nosso objetivo de aproximar a Rádio Educativa do público, temos levado a emissora para fora dos estúdios. Geramos o som da Sapucaia e transmitimos o evento na integra, pela primeira vez produzimos o som que ia ser levado ao ar lá, Sapucaia é um evento que antecede ao carnaval. Quem organiza a Sapucaia é a Secretaria de Turismo. O som é gerado em trios elétricos. Transmitimos o carnaval na integra, pela primeira vez na história da Educativa. Montamos um estúdio na Festa das Nações este ano, e antes desse estúdio elaboramos na rádio um programa aonde todas as barracas vieram até aqui, com antecedência contaram o que iriam oferecer no dia da festa. Divulgamos a Festa da Polenta. Organizamos junto a Secretaria de Turismo o Show de Aniversário da cidade. Fizemos a abertura ao vivo do 41º Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

O site da Educativa tem recebido muitas visitas?

O site da Educativa foi lançado em outubro do ano passado, 10 meses após o seu lançamento temos cerca de 200.000 acessos por mês. Quase 7.000 pessoas acessam a educativafm.com.br todos os dias para ouvir a programação. A Educativa alcança um raio de 80 quilômetros ao redor da sua antena de transmissão que fica no SEMAE, chegando a uma potência de 1.000 WATTS. Com isso atinge um grande número de cidades localizadas nesse limite. Divulgamos eventos de outras cidades, desde que nos procurem. Teve um show de Cezar e Paulinho em Santa Barbara D`Oeste, fomos até lá, eles concederam uma entrevista exclusiva para a Rádio Educativa. Recebemos representantes de cidades vizinhas, nesta semana estará conosco a Sra. Clarissa Chiararia ela é Secretária de Turismo da Cidade de São Pedro. A Educativa está atraindo o interesse das autoridades da região, mas o foco é a população local e regional.

Embora não seja assistencial a Educativa é uma rádio de prestação de serviços. Nós estamos aqui para atender a demanda do público. Temos uma página também no face book Rádio Educativa FM de Piracicaba 105,9.

Como é a relação da Rádio Educativa com outros veículos de comunicação?

Isso é fantástico! Eu não me recordo de algum veículo de comunicação local em que a Radio Educativa não esteve presente desde o ano passado. È muito bom poder contar com esses parceiros que tornam a rádio viva, presente. O jornal da Ordem dos Advogados do Brasil colocou na capa do jornal uma matéria sobre a Educativa. A revista Trifatto colocou uma página da rádio destacando o apoio do prefeito Gabriel Ferrato para todas as ações que foram realizadas. Criamos a Galeria de Fotos da Rádio, as pessoas que nos visitam gostam de serem incluídas nessa galeria. Em termos de programação, a pedido de ouvintes a Educativa toca MPB e musica internacional em todos os horários. Inserimos as locuções musicais, o ouvinte está acompanhado até de madrugada, ele não fica apenas ouvindo musica, sozinho. Há um locutor até nas madrugadas. O rádio é uma boa companhia.

Vocês têm pesquisa de audiência?

Não temos pesquisa de audiência, o custo é levado, trabalharmos com o dinheiro público. Com isso medimos a audiência de outras formas, como o número de acesso ao site, o número de visitantes que deixam suas imagens registradas na galeria de fotos. Há pessoas de todas as faixas etárias que desejam conhecer a rádio. Muitos acompanham a rádio pelo face book, pelo site. O número de visitante é tão grande que já pensei em estabelecer um horário de visitas. Temos recebido crianças de escolas, recentemente representantes de fanfarras. Vamos ter o Whatsapp (Um programa que colocado no celular permite escrever e mandar a mensagem imediatamente). A Rádio Educativa terá também um aplicativo no celular, é só baixar o aplicativo pelo site e ouvir no celular a Rádio Educativa. É uma rádio que está atualizada com o avanço tecnológico.

Temos pessoas que são praticamente anônimas em Piracicaba, mas de grande projeção em outras localidades, como por exemplo, um ciclista com 350 medalhas ganhas em competições. Como a Educativa pode valorizar esse atleta?

Fantástico exemplo. Essa pessoa pode nos procurar. Visitei uma academia na cidade que chamou a atenção o número de troféus. Olhei muitos deles, pelo número era difícil visualizar todos. Nenhum deles tinha o nome de Piracicaba. A minha indagação foi por que não constava o nome de Piracicaba em nenhum dos troféus. O responsável respondeu que em nenhuma das conquistas desses troféus tinha tido apoio da prefeitura da nossa cidade. Isto estava errado. Fiz uma reunião com o Secretário de Esportes e com o apoio do prefeito Gabriel Ferrato hoje essa equipe de atletas que é composta inclusive por tri-campeão mundial de levantamento de peso fará um evento aqui no Ginásio Waldemar Blatkauskas dia 14 de setembro as 13:00 horas com todo apoio da prefeitura. Após essa reunião os atletas já receberam apoio da prefeitura com transporte e alimentação para competir em diversas vezes em cidades da região. As vezes a única coisa que falta são essas pessoas virem até nós. Podem entrarem em contato comigo através dos telefones 34334430 ou 34322051 vou agendar uma reunião com a pessoa interessada e tomar as providências cabiveis.  O Espaço Seresta é um exemplo de programas solicitados pela população.

A Rádio Educativa busca trazer cursos a seus profissionais?

Recentemente trouxemos uma palestra sobre administração financeira. É uma forma de valorizar o profissional. Para exigir um trabalho de qualidade tem que oferecer ferramentas. É importante oferecer elementos de motivação. Na Rádio Educativa uma das características é que todos trabalham e bastante. O próprio voluntariado tem um comprometimento natural. A Rádio Educativa oferece projeção e eu acho que essa projeção é uma forma minima de agradecer aqueles que trabalham voluntariamente. Confiança e credibilidade significam consciência. Encerro meu expediente com a certeza de que fiz o melhor de mim.

Entre os novos programas colocados este ano você pode citar mais algum?

Colocamos o programa “Pensando Rural” voltado ao homem do campo. Tem musica, receitas de queijadinha, bolo de fubá. É uma parceria do Pira-21 com a Esalq. Outro programa que foi incluido na grade é o “Giro Educativa” apresentado pelo Kal Mattus, vem logo após o programa “Bom Dia Cidade”, o objetivo é arejar a programação, é um bate papo descontraido, muita música, risada, ele vem após um jornalismo mais denso. É apresentado das 10:00 às 11:00 de segunda a sexta feira. O “Espaço Seresta” que é apresentado aos domingos, esse ano teremos novos programas que farão parte da grade. Recebi muitos pedidos para que eu apresentasse um programa, existe a intenção de lançar “O Perfil” com Jacqueline Santana. Se esse projeto nascer será a pedido de um número considerável de ouvintes. Já fui apresentadora em mais de uma emissora, na verdade o microfone é uma ferramenta que faz a comunicação ter um acesso maior, o importante é você saber desenvolver a informação que irá colocar no microfone. Gosto muito de desafios. A Rádio Educativa procedeu ainda reparações na estrutura física da rádio, limpeza das espumas acusticas, instituiu a reciclagem de materiais como procedimento padrão.

MERCEDES VECCHINI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 06 setembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: MERCEDES VECCHINI 

A professora Mercedes Vecchini simboliza milhares de professoras que exerceram o ensino como uma missão. No anonimato da sua função, percorreram escolas transpondo obstáculos de toda natureza. Ensinaram gerações, estabeleceram bases para o desenvolvimento do nosso país através da educação. Sem nenhum recurso tecnológico tinham como objetivo fazer com que os alunos raciocinassem. Analisassem e interpretassem conceitos pré-estabelecidos. Nascida em Piracicaba, a 6 de fevereiro de 1935, filha de Eugênio Vecchini e Irene Razera Vecchini, que tiveram também o filho Tarcísio.

Em que bairro de Piracicaba você nasceu?

Segundo minha mãe dizia, nasci nas proximidades de onde atualmente é a Avenida Dona Jane Conceição, na época essa região era tomada em grande parte por plantação de algodão, pertencente à família Conceição. Andava-se mais utilizando atalhos, as ruas praticamente eram diferentes dos traçados atuais, o chão era de terra. Onde é atualmente a Rua Sud Mennucci havia uma rua sinuosa, de terra, e existia uma Santa Cruz muito reverenciada. (A construção de uma Santa Cruz é um hábito de origem cristã trazido com os colonizadores, cuja função é sinalizar o lugar onde uma pessoa faleceu, quase sempre em circunstâncias trágicas, seja por morte natural, por assassinato, um acidente qualquer ou queda de raio). Na Rua Sud Mennucci esquina com a Avenida João Conceição havia uma fundição, onde hoje funciona uma imobiliária, o prédio é o mesmo, foi reformado. Ao lado havia uma escolinha isolada, composta por uma classe apenas, o prédio era do Sindicato dos Ferroviários da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. A professora que lecionava chamava-se Diva, a casa em que ela morava na Rua Alferes José Caetano, existe até hoje.

Qual era a atividade do seu pai quando se mudaram para a Paulista?

Ele era comerciante, tinha uma venda (ou armazém) onde atualmente é a Loja do Italiano, na Rua do Rosário esquina com a Avenida do Café. A nossa venda era na frente e a nossa residência era anexa, na parte de trás do prédio. Em frente onde é a loja Paulistinha existia uma máquina de beneficiar arroz de propriedade do Grella. Vizinho a nossa venda era o Bar do Geep (José Tozzi). Na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dr. João Conceição era o armazém do Bortoletto, na época era um dos raros donos de telefone nas redondezas. Atualmente é a agência do Bradesco. Na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dona Jane Conceição era o campo do Jaraguá Futebol Clube, o campo do MAF ( Abreviatura de Manoel Ambrozio Filho) era mais adiante.

A Família Mori, que teve importante atuação no comércio de pescados em Piracicaba, estabeleceu-se no bairro após a Familia Vecchini?

Quando eles construíram a casa que pertence a Família Mori nós já estávamos aqui.
Meu pai e meu tio Pedro tinham uma máquina de beneficiar arroz e fazer fubá, situava-se no Bairro Santa Terezinha. Ao lado passava o trem da Estrada de Ferro Sorocabana.
Meu “nono” (avô) Luiz Razera,deu à nossa família uma casa muito bonita, que existe até hoje, situada um quarteirão abaixo da Santa Casa de Misericórdia. A Avenida Independência não tinha calçamento. Moramos um tempo ali. De lá fomos morar em uma região rural entre a Nova Suissa e o Pau D`Alhinho. Meu pai adquiriu um sítio que tinha pertencido a família Gozzo. Eles foram muito laboriosos, cultivaram todos os tipos de frutas. Meu pai levava frutas, beringelas, laranja, banana ao Mercado Municipal, com uma carroça tracionada pelo cavalo “Lambari”. Nessa chácara permanecemos por uns quatro anos. Íamos a Escola do Pau D`Alhinho, inclusive membros da família Totti formávamos um grupo de 7 a 8 crianças que iam juntos até a escola. Ficava a uma distância de uns cinco quilômetros que percorríamos a pé. Quando tinha usava chinelo, senão ia descalços. A minha primeira professora era Dona Araci, ela morava na Rua Boa Morte. Dona Idalina Alcantara Gil também foi minha professora naquela escola. As duas professoras iam dar aulas de charrete.

Após quatro anos a sua família mudou-se para Piracicaba?

Inicialmente meu pai adquiriu um terreno próximo ao hoje Teatro Municipal, construiu uma casa um dos nossos vizinhos era o Rapetti. Nesse período eu passei a estudar na Escola Normal, depois Sud Mennucci. Lembro-me da nascente Olho da Nhá Rita, ficava próximo a Avenida 31 de Março. Íamos pescar guaruzinho com peneira no Ribeirão Itapeva, era bonito, piscoso, chorei muito quando o cobriram. Em uma determinada época estava faltando água fizeram um poço artesiano, próximo a Rua da Glória, ficou conhecida como “Bica do Morlet”. Funciona até hoje. Meu pai comprou o terreno na esquina da Avenida do Café com a Rua do Rosário e construiu o armazém e a casa. Isso foi por volta da década de 40.

Nesse período em que estudava, também trabalhava?

Fui trabalhar no Laticínios Piracicaba, o Cabrini era o proprietário. Meus pais gostavam de jogar baralho, jogavam com o casal Cabrini, pais do famoso repórter. A seguir estudei da quinta até a oitava série no Sud Mennucci. Tive aula com o Professor Otávio, de matemática, Evaristo, que dava aulas de português, Benedito Dutra Teixeira deu aula de música.

Você fez o magistério em que escola?

Fiz na Escola Normal Rural “José de Mello Moraes”, funcionava no prédio da Zootecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Formei-me professora em 1966.  Nós deveríamos escolher escola rural após nos formarmos.

Qual foi a primeira escola em que você foi lecionar?

Fui dar aulas em Franco da Rocha, vizinho a São Paulo. Ia de trem pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Em Franco da Rocha pegava um ônibus e ia até a escola. Lembro-me de um professor de educação física, muito entusiasmado, montamos uma peça de teatro chamava-se “Os Loucos Vem de Fora”, os atores eram os professores. Durante a semana eu permanecia em Franco da Rocha, voltava na sexta feira a tarde. Eu lecionava de manhã. Nesse período morei em uma residência que tinha dependências fora do corpo principal da casa. Nessa época comecei a estudar a noite o curso de  Administração Escolar no bairro da Lapa, em São Paulo. Ia com o subúrbio. Fui removida para Várzea Paulista, junto com outra professora, a Eurides, ficamos em uma casa de uma senhora que tinha duas filhas. Na Escola Experimental de Jundiai fiz o segundo ano de Administração Escolar. Eu decidi fazer um curso de Pedagogia, em Piracicaba, viajava todos os dias. Saia às cinco e meia da manhã de Piracicaba, embarcava no Expresso Piracicabano, descia na entrada de Jundiaí, lá eu tinha em uma garagem, um automóvel Dauphine, quatro portas, preto. Naquela época a moda era carro de duas portas. A seguir removi para Campinas, inauguramos o Colégio Costa e Silva situado a caminho da Via D.Pedro I. Lá eu morei em um pensionato, perto da Igreja do Carmo. Após dois anos, removi para a Usina Furlan, na SP-304, Rodovia Luiz de Queiroz onde permaneci uns três anos.

Você chegou a ser diretora de escola?

Por 10 anos fui diretora substituta. Onde a diretora tirava licença ou férias eu ia substituir. A escola no Campestre eu que montei. É uma escola de primeira até a quarta série. A merendeira era Dona Deolinda, filha do Mellega.

E quando você se aposentou o que você foi fazer?

Uma das decisões que tomei foi ficar sócia da Friendship Force International, em bom portugues significa A Força da Amizade.  Conheci muitos países, sendo que falo apenas um pouco de espanhol.

E através dessa associação você conheceu praticamente o mundo todo?

Quem me recebe em outro país nem imagina como sou. Quando chego em visita a outro país fico hospedada na casa de uma família que faz parte da Friendship Force International. Procuro agir com muita educação, respeitando os hábitos e costumes dessa família. Sempre fui muito bem recebida em todos os paises em que estive. O tempo de permanência é de sete dias, e eles fazem questão de mostrar todos os detalhes da cidade que estamos visitando. Um país que me marcou muito foi a Hungria, em particular sua capital Budapeste (em húngaro Budapest) Localiza-se nas margens do rio Danúbio Sua região metropolitana, também chamada de Grande Budapeste. Budapeste foi fundada em 1873 com a fusão das cidades de Buda na margem direita do Danúbio, com Peste, na margem esquerda.

Você recebeu visitantes internacionais em sua casa?

Recebi, inclusive uma australiana muito simpática. Quando estive na Austrália também fiquei encantada com os país, o eucalipto cor de rosa, plantado em jardins, praças. Fui para Itália, fiquei um mês em Genebra, já por iniciativa minha. Estive na França. Na Inglaterra me perdi, lá eu fiz o sistema opcional. Funciona da seguinte forma, uma semana você permanece na casa de alguém como convidado, caso queira fazer o opcional dai é por conta própria. Como turista normal.

Estou vendo que você tem um carro em excelente estado de conservação, você dirige ainda?

Dirijo! O maior problema é sair da garagem, a rua em que moro tem um trânsito intenso e muito rápido. Infelizmente muitos motoristas não se importam com nada. Dou sinal de braço, perna (risos), ninguém respeita! A circulação urbana está muito agressiva. Para a área rural eu vou, visito familias amigas.

Você pratica alguma atividade física?

Na Estação Idoso “José Nassif”, na Estação da Paulista, existe uma academia, eu andei frequentando. Uma das atividades que gosto muito é participar do coral.

Que voz você faz?

Sou soprano no Coral da Terceira Idade na Estação. O ensaio é toda segunda feira das duas horas até as quatro horas da tarde.

Você se considera uma pessoa ativa?

Acho que estou meio limitada, talvez o fato de não estar em contato com tantas pessoas como sempre estive também ajuda a criar uma zona de conforto, a uma certa acomodação, que não é muito saudável.

Você está com uma camiseta do Projeto Rondon, qual é a razão?

É que em 1973 eu fiz parte do Projeto Rondon, sou da turma 33. O Projeto Rondon foi criado em 1967 e durante as décadas de 70 e 80, permaneceu em franca atividade, tornando-se conhecido em todo Brasil. O projeto promovia atividades de extensão universitária levando estudantes voluntários às comunidades carentes e isoladas do interior do país, onde participavam de atividades de caráter notadamente assistencial, O Projeto Rondon foi retomado pelo governo federal em 2005, mais de quinze anos depois de sua extinção.

Para qual localidade você foi?

Fui para Cruzeiro do Sul, no Acre. Tenho minha familha lá! Eles já ficaram uma semana na minha casa, eu já fui duas ou tres vezes de volta para lá. Fiz uma grande amizade com a Gisalda, que conheci lá e mora em Cruzeiro do Sul. Ela é paisagista do municipio. É mães de dois filhos padres: um marista e um espiritano. Agora se quiser ir por via rodoviária para Cruzeiro do Sul já é posssível. Ficou pronta a ponte do Rio Juruá, é muito linda!

Pelo Projeto Rondon quanto tempo você permaneceu lá?

Ficamos um mês. Fui na área da educação.

Como eram as coisas lá naquela época?

Lá existe o Campus Avançado. Fomos em doze pessoas: duas da área de educação, dois agrimensores, dois engenheiros, dois dentistas, e mais quatro pessoas de outras áreas. Fomos de avião, a Força Aerea Brasileira que nos levou. Foi a primeira vez que entrei em um avião. Tive a oportunidade de conhecer a cabine dos pilotos, os instrumentos do avião. Foi uma aula de aviação!

sexta-feira, agosto 29, 2014

IRENE SOUZA FERRAZ


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de agosto de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: IRENE SOUZA FERRAZ

 


Nascida em uma fazenda, no município de Bariri, a 21 de abril, filha de Antonio de Paula Ferraz e Julieta de Souza Ferraz, que tiveram 12 filhos, sendo que três faleceram ainda muito novos. A filha primogênita foi a Maria, a seguir: Conceição, Jandira, Nair, Marina, Irene, Luiz, Antonio e Expedito. Logo que se casaram Antonio e Julieta eram proprietários de uma fazenda no bairro rural de Recreio, próximo a Charqueada. Após alguns anos seus pais venderam essa fazenda em Recreio e adquiriram outra fazenda enorme em Avanhandava seu pai após alguns anos vendeu essa fazenda ao seu cunhado, e adquiriu outra fazenda em Bariri, local em que Irene nasceu. Alguns anos depois ele adquiriu uma propriedade muito próxima a Guaiçara, localidade próxima a Lins.

Até que ano escolar a senhora estudou em Guaiçara?

Estudei até o segundo ano primário. Quando eu tinha uns nove anos nossa família mudou-se para Piracicaba à Rua Floriano Peixoto, no centro. Matriculei-me no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Lembro-me perfeitamente da minha professora do terceiro ano: Maria José. Depois mudamos para a Rua Moraes Barros, fui estudar a quarta série primária no Grupo Escolar Moraes Barros. Bem em frente existia a Fabrica de Bebidas Andrade. A minha professora era Dulcelina Ferraz de Arruda Leite.

Na esquina havia um casarão, que mais tarde foi a Biblioteca Municipal, e recentemente foi demolido sendo que no local está sendo construído um edifício. Quem residia naquele casarão?

Quem morava ali era o Padre João. (Em 1916 assume o cargo de Capelão da igreja São Benedito, o Cônego João Batista Ferraz.) Era primo-irmão do meu pai. Ele tinha herdado uma grande fortuna, aquela casa foi construída por ele onde morou até falecer. Ele sempre auxiliou muito aos necessitados. Conclui o curso no Grupo Escolar Moraes Barros, naquele tempo davam diploma escrito com letras góticas, esse diploma está na no Grupo Escolar Moraes Barros, há uns 15 anos foi aniversário acho que de 100 anos do Grupo Moraes Barros, a diretora estava organizando uma comemoração, pediu meu diploma emprestado, infelizmente não recebi esse diploma de volta, na época fiquei meio chateada. Para entrar no ginásio tinha que fazer um exame de admissão. Naquele tempo a classe era composta só por meninas e outra classe só por meninos. Tudo que aprendi com essa professora foi muito importante, cheguei a usar até em aulas que dei em faculdade. Era um ensino de nível elevado.

Após terminar o primário qual foi a próxima atividade da senhora?

Fui trabalhar! Minha irmã mais velha já tinha arrumado um emprego para mim. Tínhamos que trabalhar. As mais velhas tinham aprendido corte e costura, Por sinal a mais velha era modista mesmo. A Nair trabalhava na Livraria Giraldes, na Rua Moraes Barros. Ela trabalhou lá muitos anos.

A senhora foi trabalhar aonde?

Fui trabalhar na Galeria dos Tecidos de propriedade de Ultimio Tardivo. Era uma loja só de tecidos, situava-se na Rua Governador Pedro de Toledo, quase esquina com a Rua Moraes Barros quase em frente a Porta Larga. Trabalhávamos mais com sedas puras, era uma loja muito chique, muito boa.

O que uma menina de quinze anos fazia em uma loja dessas?

Vendia! Cortava o tecido certinho! Ganhava quarenta mil réis por mês. Trabalhei na Galeria dos Tecidos por dois anos. Após esse período fui trabalhar em São Pedro em uma loja de tecidos de propriedade de João Coury, onde permaneci por nove anos.

Como a senhora decidiu mudar-se para São Pedro?

O Sr. João Coury gostava muito de leitura, ele era cliente da Livraria Giraldes, minha irmã que o atendia. Ele a convidou para ir trabalhar na Casa Coury. Ele precisava de uma funcionária que inclusive soubesse fazer a escrita da casa, eu sabia fazer. Sempre fui a mais atirada dos irmãos. Desde muito pequena. Minha mãe fazia trabalhos de tricô, crochê, fazia trabalhos bonitos. Fazia joguinhos de lã para recém-nascidos. Colocava em uma cestinha e dava para que eu vendesse. Eu ia de porta em porta, vendia tudo, voltava com o dinheiro e entregava para a minha mãe, feliz da vida! Eu deveria ter uns nove anos. Um dia minha irmã citou o meu nome ao Sr. João Coury, deu-lhe o endereço de onde eu estava trabalhando. Ele foi até lá, era um sírio muito distinto, fino. Ele se apresentou, e me convidou para ir trabalhar em São Pedro, disse-me que a minha irmã Nair tinha dito que talvez eu fosse. Ele disse-me que pagava oitenta mil réis, o dobro do que eu ganhava. Ele disse-me ainda que eu teria um quarto meu, comida, tudo incluso, já que não dava para ir e voltar todos os dias até São Pedro. Ele era casado, tinham perdido um filho com uma doença que hoje jamais morreria: apendicite. A loja em São Pedro chamava-se Casa Coury, ficava na Rua Veríssimo Prado. Naquela época São Pedro ainda não era considerada a terra do bordado. A cada 15 dias eu vinha visitar minha família em Piracicaba. Era estrada de terra, a condução era a famosa “jardineira”, a gente comia poeira até Piracicaba. Tinha o trem também, a “Maria Fumaça” da Estrada de Ferro Sorocabana. De trem levava quatro horas de viagem de São Pedro até Piracicaba. De ônibus levava umas duas horas, até mais um pouco, parava em todo quanto era lugar. Após um ano que eu estava trabalhando lá, foi trabalhar conosco a minha irmã Jandira que até então trabalhava na Ótica e Relojoaria Gatti, situada na Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Moraes Barros. A Casa Coury em São Pedro tinha muito movimento. O pessoal do Alto da Serra vinha, levava sacos de mercadorias. Quando o Sr. Coury veio para o Brasil era mascate, ele conhecia todo mundo do Alto da Serra de São Pedro, fazendeiros, foi assim que ele conseguiu montar essa loja. Depois ele casou-se com Dona Maria (Mariquinha), ela era brasileira.

Lá vendia de tudo?

Só não vendia calçados. Mas desde chapéu para homens, guarda chuvas, armarinhos, era uma loja quadrada, com um balcão enorme. Tinha três portas de aço enormes. Era separada da casa. Havia uma escada que ligava a loja até a casa. A casa era grande, tinha um terreno muito grande. Era um lugar muito bom para morar. A principio eu pensei em ir e ficar por um ano, até guardar algum dinheiro. Meu objetivo era estudar. No fim fiquei por nove anos. Quando sai deixei o casal chorando.

A senhora não estudou lá?

Estudei o que apareceu naquele tempo São Pedro era um décimo do que é hoje. As ruas eram de terra batida, não havia asfalto. Eu fiz SENAC lá, um ano. Apareceu, foi o prefeito Pedrinho Aguiar que trouxe esse curso. Tínhamos que estudar para valer, tinha até sociologia! Após um ano ganhamos um diploma enorme. O prefeito convidou as moças para fazer esse curso. Quem passasse em primeiro lugar, no final do ano, teria como prêmio uma viagem para São Paulo, para fazer outro curso lá, mais avançado. Eu ganhei o prêmio, fiquei em primeiro lugar. O prefeito Pedrinho foi conversar com o Sr. Coury. Sempre trabalhei muito, até hoje trabalho. Sempre gostei de trabalhar, nunca parei. No final daquele ano o curso foi encerrado com uma festa muito bonita. Isso foi por volta de 1942. Guardo esse diploma até hoje. Houve um exame, que veio lacrado de São Paulo e só foi aberto na hora em que foi aplicado às alunas. O Sr. João Coury concordou e dar-me uma semana de licença para viajar. Uma classificada em segundo lugar foi também para que eu não viajasse sozinha.

Em que local de São Paulo vocês ficaram?

Ficamos no Pacaembu. Isso foi uma iniciativa do governo. Lá estavam todos os alunos que haviam passado em primeiro lugar, de diversas cidades. Ficamos no próprio estádio,   havia quartos com três a quatro camas cada um. Visitamos pontos característicos de São Paulo. Foi o melhor passeio que fiz! Tinha outro curso que deveria ser feito e daria como prêmio uma viagem à Europa. Pensei a respeito e decidi que deveria aproveitar aquele momento, mas não me interessei em fazer uma viagem tão longa. Passeamos muito, divertimo-nos muito e depois voltamos para casa. Isso ocorreu quando eu já estava trabalhando há uns três anos na Casa Coury. Quando completou nove anos, eu já tinha guardado um pouco de dinheiro e pensei em fazer o curso de madureza (atual supletivo),  pensei: vou entrar no curso normal.

A senhora fez o curso de madureza aonde?

Fiz em dois lugares. Em Piracicaba não havia o curso de madureza. Hoje só não estuda quem não quer. Estudei o ginásio, para depois entrar no Normal. Era uma luta tremenda. Após um ano fui prestar exame em Itapetininga, no Instituto Peixoto Gomide, uma das escolas mais tradicionais do Estado de São Paulo. Eram nove exames escritos e nove exames orais, dezoito exames.

A senhora ficou hospedada aonde em Itapetininga?

Fui com uma colega que tinha uma prima que morava lá. Essa sua prima, Benedita, que nós a chamávamos de Ditinha, por coincidência era inspetora de alunos desse instituto. Era uma escola muito bonita, existe até hoje. Fiquei 21 dias em Itapetininga. Consegui passar em cinco matérias, quatro eu fiquei devendo. Voltei à Piracicaba, meu pai estava  na Santa Casa de Misericórdia onde permaneceu por três meses até vir a falecer. Naquele ano desisti de estudar. No ano seguinte voltei a trabalhar e estudar, trabalhava na Casa São Paulo, era de uns sírios, situava-se na Rua Governador Pedro de Toledo. No final do ano fui prestar exame em Jaboticabal. Fomos um grupinho, éramos três carros. Conseguimos passar e viemos com o certificado do ginásio. Matriculei-me na Escola Normal, tive que prestar exames em três matérias que faltavam. Eram matérias mais fáceis, fiz a adaptação. Tive algumas aulas com um parente muito famoso, era artista: Antonio Pacheco Ferraz que viveu até os 101 anos. Ele residia em São Paulo, como seus pais moravam em Piracicaba ele vinha sempre e dava-me algumas aulas. No Curso Normal passei em segundo lugar. Sou formada como professora na turma de 1955.

A senhora decidiu fazer o que a seguir?

Tive um convite desse mesmo primo, Antonio Pacheco Ferraz, é interessante que ele era primo por parte da minha mãe que era Pacheco e por parte do meu pai que era Ferraz. No final do ano, ia fazer os exames, fui até a casa dele, na época ele estava com sua família em uma casa próxima ao Mercado Municipal de Piracicaba, o professor que ia fazer os exames era João Dutra. Fui atrás do meu primo Antonio, em casa o seu apelido era “Nenê”. Ele me disse: “–Irene você tem dom para desenho, porque não presta concurso para desenho!”. Respondi-lhe: “-Ah Nenê! Eu gosto de matemática, gostaria de prestar concurso para matemática!”. Ele me disse: “ –Você vai se formar neste ano, vai lá para a minha casa e eu vou lhe ensinar desenho e você presta concurso para ensinar desenho para ginásio!”. Ele morava em São Paulo, na Vila Mariana, próximo a Igreja da Saúde. Ele era casado com uma prima irmã: Hermozila a mãe dela era Ferraz e o pai dela era Pacheco. Pais e mães de Antonio Pacheco Ferraz e Hermozila Ferraz Pacheco eram primos-irmãos legítimos. Eles se gostavam desde criança, ele foi estudar na Europa, ficou noivo duas vezes, ela ficou noiva aqui duas vezes, ela não tirava o Nenê da cabeça e nem ele deixava de pensar nela. Tiveram um filho, o Francisco.

Que idade a senhora tinha quando foi para São Paulo?

Em torno de 28 anos. Fui morar na casa do meu primo Antonio Pacheco Ferraz, a Hermozila foi minha colega de passeio em Piracicaba, ele me disse: “- Você se dá tão bem com a Hermozila!” De fato, fiquei lá dois anos e quatro meses. Eles moravam em um sobradão, muito bem arrumado. Ele me disse: “-Você fará companhia para a Hermozila!”. Lá na época existiam alguns sobrados, mas era um tanto quanto isolado. Ele ficava preocupado porque ela ficava sozinha com o menino na época com uns seis anos. Fiquei pensando, ser professora de desenho? Eu fazia bem feito, mas não era a minha matéria. Antonio Pacheco Ferraz era professor da banca examinadora da Escola Caetano de Campos. Ele me deu umas aulas, eu tinha facilidade para desenho, o meu irmão Antonio Souza Ferraz pintou vários quadros, meu primo Antonio Pacheco Ferraz dizia que o meu irmão era artista nato.

A senhora prestou o concurso para professora?

No dia certo do exame fui para a Escola Caetano de Campos, na Praça da República, passei em todos os exames. Nesse meio tempo apareceu um rapaz que eu conheci quando estudei em Itapetininga, Seu nome era Hélio dos Santos, era filho único, morava com a mãe viúva, em São Paulo. Era funcionário do Estado. A mãe dele era inspetora de alunos. Todo mês eles iam para um sítio que tinham em Itapetininga. As vezes iam visitar a Dona Ditinha que era prima deles. Eu estava lá e esse rapaz me conheceu. Fizemos amizade. Saíamos passear em grupo, junto com outros filhos da Dona Ditinha. Um ano em que permaneci em Itapetininga ele ia todo mês para lá. Minha irmã recomendou que eu voltasse para Piracicaba. Voltei. Um dia recebi uma carta desse rapaz. Disse que viria a Piracicaba fazer um passeio e que gostaria de encontrar-se comigo. Ele veio, na época eu estava ainda estudando. Ele voltou à São Paulo. Após me formar fui para São Paulo, eu estava na casa do Nenê, ia prestar concurso para ser professora do Estado. Um dia o Hélio apareceu na casa do Nenê. Ele foi com a mãe dele, Dona Adelaide. Foram fazer uma visita. Enquanto Dona Adelaide estava conversando com a minha prima ele se declarou, disse que desde que tinha me conhecido em Itapetininga não me esquecia. Concordamos em nos conhecer melhor, a começar a namorar até que ele me propôs casamento.

Ele era professor?

Não, era funcionário público, como o salário era restrito ele deixou doze anos de trabalho e foi trabalhar na Companhia Água Branca, uma empresa muito rica. Um grande amigo dele, o Joaquim era diretor dessa empresa, sempre dizia que ele poderia trabalhar lá e ganhar três a quatro vezes mais do que no Estado. Depois que ele firmou o namoro comigo, saiu do Estado e foi trabalhar com esse amigo. Íamos nos casar. Ele havia comprado o necessário, estava preparando tudo certinho. Ele queria fazer um casamento igual ao do Joaquim que fazia sete meses que havia se casado. Um dia ele me disse: “-Irene, falta três meses para nos casarmos, vou mostrar para você como será nosso casamento”. Deu todos os detalhes, onde seria a festa, a viagem de núpcias no Rio de Janeiro no Copacabana Palace. Fiquei muito contente, muito feliz. O meu casamento ia sair da casa do meu primo Antonio Pacheco Ferraz. O Hélio me disse: “-Irene, você vai escolher uma escola do Estado, só que para quem está começando não será aqui em São Paulo, você irá lecionar lá não sei aonde. Você vai sair de São Paulo, eu estou aclimatado aqui, não quero sair daqui. Eu gostaria que você desistisse você não precisa trabalhar.” Disse-lhe: “Imagine! Formei-me com tanto sacrifício, quero lecionar!”. Ele então me disse, você pode arrumar escola, perto de casa, aqui em São Paulo. Concordei com ele. Era um moço bom, congregado mariano, religioso. Faltava apenas três meses para nos casarmos, enxoval completo, alianças, viagem de núpcias programada. Ele viajava para essa companhia, ia pela Via Dutra. Ia para todos os lugares de carro. Em uma dessas viagens, no dia 29 de abril de 1958, ele sofreu um acidente de carro e faleceu. Eu já estava lecionando na Prefeitura de São Paulo, na Cidade Vargas, no final do metrô Jabaquara.

Quando a senhora ficou sabendo da tragédia?

Era bem cedo, eu estava indo para a escola, o Joaquim, amigo do Hélio foi para me dar a noticia, mas não teve coragem. Ele bateu na casa vizinha e deu o recado. A vizinha era um sobrado geminado com o do Nenê, da sacada ela bateu na janela do quarto do Nenê. Eram umas seis horas da manhã. O Nenê acordou assustado, quando recebeu a noticia de que o Hélio estava no necrotério. Nenê e Hemozila sentaram-se na cama, não sabiam como me dar a noticia. Ficaram os dois conversando, eu já estava de saída para a escola, quando eu estava para descer a escada passei pelo quarto deles que estava com a porta meio aberta, escutei falarem “Irene”. Logo imaginei que mamãe tinha falecido, ela andava muito doente. Bati na porta, falaram que eu entrasse. Perguntei o que estava acontecendo. Foi quando me disseram: “Seu noivo morreu, está no necrotério”. Era uma terça-feira. Eu tinha estado com ele no domingo. O Nenê foi comigo até o IML na Rua Teodoro Sampaio. Parecia que estava dormindo. Nem parecia estar morto. Ele faleceu no dia 29 de abril e foi sepultado no dia primeiro de maio. Larguei escola, larguei tudo. Voltei à Piracicaba, sem rumo. Fiquei quase um mês. Foi quando apareceu uma amiga, veio junto com o marido e me disse: “–Vamos voltar agora mesmo, ou você irá perder a sua escola!”. Eu disse-lhe: “–Aparecida, não sei se vou voltar a lecionar!”. No mês seguinte voltei a lecionar, meio sem rumo. Eu já estava lecionando na Adutora Rio Claro, antes de Santo André. Quando surgiu esse ensino, mais do que depressa fui atrás do padre Meirelles pároco da Igreja Nossa Senhora das Graças, ele arrumou uma sala fui até a prefeitura, me inscrevi, no mês seguinte estava nomeada. Wladimir de Toledo Piza como Prefeito do Município de São Paulo, tomando conhecimento da falta de vagas para crianças em idade escolar, criou as Escolas Primárias Municipais, rompendo com o Convênio Escolar que a prefeitura mantinha com o Governo estadual e implantou 2.000 escolas em um ano. Para viabilizar o orçamento as construiu em madeira, por serem de rápida execução e de baixo custo e adaptou outras, precariamente, em garagens e associações de bairro, visando atender a demanda anos depois elas ganhariam prédios definitivos. Com o passar do tempo a prefeitura construiu uma escla, a Escola Municipal Cidade Vargas. Nessa escola permaneci por 17 anos. Fui designada para dirigir uma escola em Campo Limpo, no Jardim das Rosas. Para chegar na escola tinha que tomar tres conduções, incluindo onibus e taxi. Ia de onibus até o Largo Treze. De lá em diante ia de taxi.

A senhora chegou a conhecer algum outro moço, após o falecimento do Hélio?

Depois que o Hélio faleceu tive um convite para ir para a Serra do Navio, Território do Amapá, para lecionar lá. Fui, fiquei seis meses. Uma companhia americana tinha arrendado um território por cinquenta anos, tinham feito uma cidade em Macapá. No Porto de Santana embarcavam o minério de manganês, ficava a cinco horas da Serra do Navio, onde havia uma cidade que eles fundaram  Terezina. Implantaram um sistema administrativo tipico americano. Fui para dar aulas a filhos de funcionários brasileiros. Voltando a São Paulo continuei lecionando, com o passar do tempo após morar em apartamento próprio, por conveniência pessoal, passei a morar em um pensionato. Havia uma professora aposentada cujo filho tomava refeições aos sábados no pensionato, o advogado Francisco Dantas Pinheiro. Ambos tinhamos por volta de quarenta anos. Casamos na Igreja Santa Terezinha, em uma travessa da Avenida Angélica. Permanecemos casados por 15 anos.

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