PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 18 de maio de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
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ENTREVISTADO: RAUL HELLU
Raul Hellu é funcionário público aposentado, ingressou no Lions Clube Piracicaba-Leste em 1971 sendo seu presidente no ano Leonístico73/74, por vários anos foi diretor de comunicação do mesmo Lions. Foi diretor do Centro Cultural e Recreativo “Cristóvão Colombo” durante 23 anos. Por 10 anos foi diretor do Centro de Reabilitação de Piracicaba. Diretor da Guarda-Mirim de Piracicaba por 6 anos. Assessor do ex-prefeito Luciano Guidotti, ex-secretário municipal para assuntos extraordinários na administração José A. Borguese, Membro do Conselho Municipal do Idoso, durante anos foi redator esportivo nos jornais: “O Diário” e “Jornal de Piracicaba”, comentarista esportivo na Rádio Difusora de Piracicaba. É Presidente da Comissão de Sindicância da Sociedade Beneficente Sírio Libanesa, Diretor da Escola de Mães “Branca Motta de Toledo Sachs”, membro Emérito da loja maçônica Piracicaba. Raul Hellu nasceu a primeiro de março de 1921 em São José do Rio Preto. Filho de Elias Hellu e Bassima Hellu ambos imigrantes sírios. Elias Hellu, ainda aos 20 anos imigrou para os Estados Unidos onde permaneceu e trabalhou por cinco anos. Voltou para a Síria onde se casou.
Recém casados, Elias e Bassima, imigraram para o Brasil, desembarcaram em Santos e seguiram para São José do Rio Preto. Elias veio acompanhado de seu tio Azis e sua esposa.
Qual atividade o pai do senhor exerceu ao chegar ao Brasil?
Montou uma loja, progrediu muito, o primeiro automóvel de São José de Rio Preto foi adquirido por ele, era um Ford. No dia 24 de outubro de 1929, que ficou conhecida como Quinta-Feira Negra, ocorreu o crash (quebra) da bolsa de valores de Nova York, atingiu em cheio a economia do Brasil, muito dependente das exportações de um único produto, o café. Meu pai fornecia mercadoria para as famílias instaladas nas fazendas de café. Os volumes de mercadorias eram altos: um vagão de açúcar, um vagão de sal. Com a quebra dos fazendeiros, o comércio do meu pai também quebrou. Com o que sobrou, um restinho de loja, ele transferiu-se para Piracicaba, com ele vieram esposa e seis filhos.
Em Piracicaba ele passou a fazer o que?
Ele montou uma pequena loja na Rua Governador Pedro de Toledo, quase em frente a Casas Pernambucanas, o prédio existe até hoje. A tradução para Hellu em árabe é “doce, açucarado, ou belo”, depende de como é colocada a expressão na frase. Meu pai ao chegar ao Brasil queria mudar o nome para Elias de Mello, não deixaram. Ele queria abrasileirar o seu nome para facilitar a vida dele no Brasil.
Após instalar pequena loja na Rua Governador Pedro de Toledo como foi a vida comercial da família?
Meu pai sempre atuou como benemérito, principalmente com os imigrantes seus patrícios. Issa Antonio é um contemporâneo seu, que sempre afirmou isso. Ele dizia que meu pai tinha ajudado muitos patrícios. Meu pai era um homem generoso. Quando teve prejuízo nunca se mostrou alterado, não ofendeu ninguém. Era um homem pacífico. Era um homem com cultura, tinha instinto poético.
Qual foi a providência imediata que ele tomou para sanear as finanças?
Passamos a mascatear. Eu era um menino ainda, e ele me levava. Íamos com uma carroça cujo cavalo chamava-se “Patriota”. A rota de percurso era Formigueiro, Saltinho, Sete Barrocas. Levávamos tecidos, miudezas, trazíamos frutas, verduras, frangos, ovos. Era feita a permuta. E assim meu pai foi levando, com muita dificuldade. Cheguei a dormir em paiol, embaixo de pé de café. Comia bortoega, tomate, tudo que era planta rasteira produzida no sítio, ele levava sal e pimenta, mergulhávamos no sal e na pimenta e comíamos.
E os outros irmãos?
Ficavam em casa, naquele tempo mãe era a “maezona”, cuidava dos filhos, não terceirizava o filho como hoje. A educação está perdida porque os filhos estão terceirizados. A mãe e o pai vão trabalhar, os filhos são deixados com as babas, e creches, isso é um crime que está sendo feito, os filhos estão perdendo noção de família. Nossos filhos eram educados embaixo da saia da mãe.
A família continuou morando no mesmo local?
Mudamos para a esquina no Largo do Mercado em frente onde atualmente é a Loja Cybelar. Uma casinha, o pé direito da casa era um mourão de ferro. Um dia eu fiquei com uns trocados do meu pai, para ir ao Cine Iris, mais tarde Cine Broadway, era ainda tempo do cinema mudo. Uma orquestra tocava antes do início dos filmes. Meu pai ficou sabendo que eu tinha ficado com o dinheiro fruto da venda de um retrós de linha, para ir ao cinema. Deu-me uma surra muito bem aplicada. Nunca mais eu coloquei a mão em nada. A educação era severa. Hoje o jovem pode tudo! Sem dizer que na sua grande maioria não são educados pelo pai, pela mãe. Hoje da forma como é feita, entregar o filho para que terceiros eduquem é perigoso. Já falam que daqui a algumas décadas não haverá família. A sociedade está se esgarçando moralmente, isso é mundial.
O senhor tem alguma religião?
Sou Católico Apostólico Grego. Faço o sinal da cruz com três dedos. A missa é escrita em árabe e traduzida para o português.
Onde o senhor estudou o primário?
As primeiras letras estudei no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. O ginásio eu fiz na Escola Normal (Sud Mennucci). Tive que ajudar meu pai não prossegui os estudos. Aos 18 a 19 anos de idade entrei um pouco na política, fui integralista, fui fã de Plínio Salgado. A causa integralista tinha umas particularidades que me agradava muito. Diziam que era fascista. Não tinha nada de fascista. A palavra Anauê é um vocábulo de origem tupi, que servia como saudação entre os indígenas e de brado. É uma palavra com conteúdo afetivo que significa: "Você é meu irmão" O integralismo usava o sigma “Σ”. Os alemães usavam a suástica. Como havia alguma semelhança os americanos passaram a combater o integralismo.
O senhor chegou a ter farda?
Usava o uniforme verde que simbolizava a esperança, com o sigma. Quando os grandes matemáticos faziam cálculos avançados colocavam ao final o sigma como exatidão da operação. Lembro-me quando Plínio Salgado esteve em Piracicaba no Teatro Santo Estevão. Grandes nomes da cultura nacional pertenceram ao integralismo. Jorge Coury era integralista. Gustavo Barroso era integralista. Tínhamos uma estirpe de homens de valor que foram integralistas. Plínio Salgado queria criar o Homem Integral, por isso se chamava integralismo.
O senhor permaneceu no integralismo até quando?
Até ele ser extinto. Nós desafiamos a diplomacia americana, acabaram conosco. Enquanto existiu o integralismo eu participei, estimo uns oito ou nove anos. Nós reunimos em casas de membros do integralismo, não havia um local que funcionasse como sede. Isso foi nas décadas 30/40 período de Getulio Vargas.
Como Getúlio via o integralismo?
Atravessado! Era oposição. Considero que Getúlio só criou duas coisas boas: a Petrobrás e a CLT. Na Revolução Constitucionalista de 1932 eu era um menino ainda, mas vi a movimentação ocorrida.
O senhor entrou para o Clube Cristóvão Colombo com que idade?
Eu era menino já ajudava o Clube Cristóvão Colombo que funcionava na Rua São José esquina Com a Rua Governador Pedro de Toledo, em um prédio antigo que existe até hoje. Como estava sempre colaborando com o clube, acharam que eu deveria ser diretor, isso foi em 1956 o presidente era Telmo Otero. Comecei a pegar gosto pelo Cristóvão e fiquei, sou sócio Benemérito.
O senhor sempre foi bom orador?
Logo que entrei para o Clube Cristóvão Colombo fiz o curso de oratória com Frei Thimóteo. Em 1948 fui fazer um discurso, na Igreja Bom Jesus, eu ajudei a construir a Igreja do Bom Jesus. Quando era menino ajudava na construção do campo do Palmeiras (Piracicaba), eu era “pinante”, assim é como denominavam o menino que guiava o cavalo do carrinho. Levava os resíduos para a baixada onde hoje é o Supermercado Pão de Açúcar da Cidade Alta, ali era uma barroca. Fiz um discurso para Luiz Dias Gonzaga, foi em cima de um caminhão, não havia palanque. O Dr. Antonio Cera Sobrinho também era integralista, era uma espécie de padrinho para mim. Ele era chamado de médico dos pobres, quem não tinha dinheiro não pagava. Ele me encaminhou para essa área da política. Subi no caminhão e fiz um discurso. Eu era muito observador, vi o Cristo de braços abertos, disse no meu discurso: “-Imagine que até o Cristo está lá para receber Luiz Dias Gonzaga de braços abertos!”. A multidão ficou eufórica, aplaudiu muito. E Luiz Dias Gonzaga estava lá, foi um impulso na sua candidatura, ele foi eleito com uma boa margem. Paulo Negri, José Rodrigues Filho e eu prestamos um concurso, fomos trabalhar na prefeitura. Em 1948 começou a minha carreira.
O senhor entrou para qual função?
Fui escriturário, chefe de divisão, chefe de departamento, diretor administrativo, e acima de mim só tinha o prefeito. Na época não existia a categoria de secretário. A prefeitura funcionava na Rua São José esquina com a Rua Alferes José Caetano, onde foi o palacete do Barão de Serra Negra. Antigamente a prefeitura tinha uns livros enormes, peças altas, dorso largo, tinha que escrever tudo a mão, registrar o imóvel da pessoa. Depois entrou a mecanografia, era uma máquina já com teclado elétrico, formulário contínuo, os avisos que eram mandados aos contribuintes eram feitos e o formulário ia girando. Nós abandonamos o livrão velho. Por exemplo, chegava um homem rico como o José Guerra, antigo comerciante da cidade, ele tinha 20 a 30 prédios, dizia: “Quero pagar impostos desse, mais esse, esse. Esse aqui eu vendi, esse outro também vendi.” Tinha que somar com uma maquina de calcular Walter. Era complicado. A juventude hoje usa o computador, não tem o trabalho de pensar, não raciocina, não guarda, não imagina, não lê.
MÁQUINA DE CALCULAR WALTER
Até que ano o senhor permaneceu na prefeitura?
Até 1977, época do prefeito João Hermann Netto. Aconteceu comigo um fato inusitado. Aposentei-me, o prefeito mandou bater o decreto, desceu do seu gabinete, veio a minha mesa, no Departamento da Receita, aposentei-me como Diretor do Departamento, assinou o decreto na minha mesa, sentado na minha cadeira, eu tinha uma máquina escamoteável, virava e o fundo dela tornava-se uma mesa. Ele fechou, sobre aquela mesa assinou o decreto e me entregou. E me entregou uma carta onde me elogiava como cidadão Raul Hellu. Após ter sido aposentado, fui contratado pelo próprio João Hermann Netto. Ele fez uma revisão nos chamados valor venal dos imóveis. Fizemos uma revisão, tinha um engenheiro Francisco Cerignoni, ele tinha um automóvel Dodge, saíamos nas ruas com alguns coadjuvantes e fizemos um levantamento rua por rua, lembro-me que na Rua Curt Nimuendajú, tinha a rua, um terrreno plano e depois uma barroca. Antigamente coloríamos as ruas para determinar o valor: azul tinha um valor, verde outro e assim por diante. A área que era barroca não tinha o mesmo valor que a área plana, nós achuriávamos a àrea de menor valor. Tudo isso feito a mão, em cima do Dodge do Chico. Para fazer a revisão do valor venal era penoso, o funcionário ia de casa em casa, para ver qual era o valor pago pelo aluguel, usado como referência. Depois passamos a estimativa do valor venal.
Não era mais fácil fazer o levantamento por fotografia aérea?
Depois a VASP veio fazer esse trabalho. Contratamos a VASP para fazer fotografia aerofotogramétrica. Isso facilitou muito. Nós passamos por um período muito difícil, não havia recursos técnicos. A máquina de escrever, a mecanografia, tinha uma barra de seletores, tinha que montar a barra com seletor de acordo com o valor que você desejava no formulário contínuo.
Como contratado o senhor permaneceu na Prefeitura Municipal de Piracicaba até que ano?
Fiquei por cinco anos, até a segunda administração do ex-prefeito Adilson Benedito Maluf, em 82/83. Saimos juntos, eu e Florivaldo Coelho Prates, pessoa competente, humilde e de uma integridade moral muito rara.
O senhor entrou para a Sociedade Sírio Libanesa?
Houve uma mudança nos estatutos da entidade permitindo que naturais e descendentes também pudessem se candidatar a presidente da entidade. O Dr. Antonio Carlos Neder foi o primeiro presidente eleito após essa mudança de estatuto. Eu sempre fui orador da instituição. Eu gosto de oratória, fiz cursos de oratória.
O senhor passa a imagem de que gostaria de ter cursado Direito.
Eu me considero um advogado e um médico frustrado. Estudei muito ambas as atividades, como autodidata. Infelizmente meu pai não tinha recursos para me proporcionar o estudo em uma faculdade, naquela época era bem mais difícil do que hoje fazer uma faculdade.
Como o senhor começou a trabalhar em rádio?
Houve uma época em que a prefeitura ficou cinco meses sem pagar, quando recebia era referente a 15 dias do mês “x” anterior. Mais 15 dias do mês “y”. Nós funcionários fundamos uma associação, eu, Hélio Morato Kreaembhull, e demais companheiros. Hélio Morato Kreaembhull foi meu mestre no Departamento da Receita. Com dois filhos, na época eu morava na Rua Tiradentes, entre a Rua XV de Novembro e a Rua Moraes Barros, em uma casinha que pertencia ao Romagnoli, ele tinha muitas propriedades naquela região, nessa quadra as casas tinham um pequeno quintal, no quarteirão inteiro, a àrea restante era ocupada por ele, que tinha uma casa na Rua Tiradentes com todo esse quintal plantado. Pensei: “- Quer saber de uma coisa? Vou procurar outro serviço”. Fui para a Rádio Difusora de Piracicaba, conversei com a Dona Maria Conceição, o Hercoton era gerente na época. Expliquei a minha situação, como eu tinha boa oratória, recurss linguisticos, o Hercoton disse: “-Só se você fazer comentários, ajudar a equipe esportiva.” Assim comecei a dar os primeiros passos na equipe esportiva da Difusora, com Ulisses Michi, Ary de Camargo Pedroso, Rubens de Oliveira Bisson, Bouchardet, Atinilo José, Waldemar Billia. Ganhei até o Troféu Aristides Figueiredo como melhor comentarista na oportunidade. O primeiro presidente da Asssociação dos Cronistas Esportivos de Piracicaba foi Ludovico Silva. A sede era em cima do Cine Politeama, no local hoje é o estacionamento do Bradesco, no centro. Fui um dos fundadores junto com Ludovico. Comentei muitos jogos de Maria Helena, Heleninha, Waldemar Blatkauskas que dá seu nome ao nosso ginásio de esportes. Eu o conheci, era um gigante, ele faleceu na Via Anhanguera que na época estava sendo duplicada. Nas imediações de Campinas seu carro foi prensado por um caminhão contra um trator que trabalhava na rodovia. O Vlamir tinha ido para o Corinthians, ele foi cognominado como “Diabo Loiro” no Chile, a seleção brasileir ficou campeã do mundo, a Rússia na época se negou a participar por razões políticas.
Quantos anos o senhor permaneceu na Rádio Difusora?
Foi bastante tempo. Fiz um programa pela manhã, começava as cinco e meia da manhã, depois entrava o programa do Nhô Serra. Eu tinha um salário na rádio. E tinha no Jornal de Piracicaba no tempo de Losso Neto. Em “O Diário” trabalhei com Mauricio Cardoso no Departamento de Esportes. Trabalhei em “O Diário” tanto no período de Sebastião Ferraz como de Cecilio Elias Netto.
O senhor praticava algum esporte?
Pratiquei. Joguei futebol como centro-médio, hoje chamam de terceiro zagueiro, no Paulista Futebol Clube, ficava logo no início da Avenida São Paulo, ali havia um pasto meio brejo, nas imediações moravam membros da família Pompermayer onde tinham uma loja. Nas proximidades de onde hoje é o Posto de Combustível Irmãos Sabadin. O Pompermayer tinha um filho que era zagueiro, nós íamos treinar lá, jogaram lá Waldemar Dalpogetto, Tibério, pai do Dinival Tibério. Nosso treinador era um negro chamado Ferreira, chegou lá um japonês de chuteirinha, sentou e ficou esperando. Dali a pouco Waldemar Dalpogetto contundiu-se, não tinha outro para colocar no lugar, escalaram o japonês. Era Sato! Formou uma fila de jogadores correndo atrás dele, querendo tirar a bola dos seus pés. Ao terminar o jogo, colocamos ele no automóvel, levamos para a sede social do Paulista Futebol Clube que ficava em frente ao Teatro São José. Fizemos a inscrição do Sato no clube a noite, tinhamos o receio de que outro clube o levasse.
Quanto ele ganhava para jogar futebol?
Nada! Ele veio para estudar agronomia em Piracicaba. O time do XV de Novembro era formado por Tão, Elias, Ediarte e Aedo; Pedro Cardoso, Staruss e Adolfinho; Cardeal, Sato, De Maria, Picolino, Gatão e Rabeca. Era um timão!
Como o senhor vê o futebol hoje?
É uma enganação. Como dizia o Fiola quando ficou campeão: “-Vão lá e fazem o que sabem fazer!” Pronto! Hoje é tudo cheio de gráfico, 3-4-1; 4-2-2; 2-4-1. Hoje o Brasil não tem técnico, tem treinador. Não tem revelações, não tem mais futebol de várzea, só tem escolinha, é o que falei, terceirizam, o pai manda o filho lá porque a mãe está trabalhando. Não tem onde deixar o filho mandam terceirizar. A familia vai perdendo o vinculo.
O senhor trabalhou no XV com o Rípoli, como ele era?
Era um caboclo. De gestos caboclos. Falava meio acaipirado, meio puxado, sempre com cigarro de palha.
No futebol sempre houve superstições?
No tempo do Athie Jorge Coury no Santos Futebol Clube, havia uma mulher que benzia o time. Um dos presidentes do XV, não era o Rípoli, mandava chamar essa mulher de Santos para benzer o XV.
Funcionava?
Funcionava, os jogadores em sua maioria eram crédulos em benzimentos. Hoje quase todo jogador brasileiro faz o sinal da cruz ao entrar em campo, usam ramos de arruda. Eu até pergunto, e quando os dois times pedem a vitória ao poder divino com quem Ele fica?
Como um integralista vê o momento atual?
Há uma história interessante, uma conferência entre Hitler e o primeiro-ministro inglês Chamberlain. Hitler tirou o cinturão com sua arma e munição e depositou sobre a mesa, em uma atitude bélicosa. Chamberlain apenas tirou a sua caneta do bolso e depositou sobre a mesma mesa. Isso diz tudo.
O senhor se casou em que ano?
Casei-me no dia 9 de junho de 1951 em Franca, minha esposa é francana, sempre a chamamos de Leila, mas o correto é Laila Elias Hellu. Temos três filhos: Ivan Sérgio, Denise, engenheira agronoma, e Raul Hellu Júnior que é médico. Esse meu filho sempre me diz: “ Não brigue com duas coisas: com o tempo e nem com o travesseiro.” O tempo irá te vencer, aceite a velhice, sou um homem pacífico, estou com 93 anos, mas se eu morrer amanhã vou falecer gratificado, lúcido. Não brigar com o travesseiro é não fazer mal às pessoas, você terá dificuldade em dormir a noite, terá insonia. Isso mata.
O senhor acredita em Deus?
Li uma matéria onde o articulista diz: “ Reunam todos os melhores cientistas do mundo, todos os recursos científicos, criem um único ser humano e eu nego a existência de Deus”. Quem escreveu isso foi um ateu que se converteu ao cristianismo.
Qual é o segredo para chegar com essa saúde e disposição aos 93 anos?
Acho que fui beneficiado sem saber. Pratiquei remo no Clube de Regatas de Piracicaba, levantava as quatro horas da manhã, acordava Seu Antonio, que era o zelador, eu ia buscar a chave do clube. Lá estavam: Virgílio Lopes Fagundes, Dovílio Ometto, Franquesta. Quando enchia o Rio Piracicaba fazíamos campeonato de mergulhar e sair na mesma direção na outra margem. Franquesta fazia isso, não sei o nome completo dele, sei apenas que era funcionário da Caixa Economica Estadual. Ele mergulhava , atravessava debaixo da água e saia na mesma direção na outra margem. Antigamente eu nadava até o Porto João Alfredo (Artemis). Tetsuo Okamoto que foi campeão sul-americano nadou aqui conosco. Hercio Hoeppner era um nadador de primeira linha. Joguei basquete, Virgilio Fagundes era canhoteiro. Caminhei por 16 anos na Esalq, junto com Ermor Zambello, Dovilio Ometto.
O senhor pode falar algo sobre a Festa das Nações?
Essa não é a trigésima festa, e sim trigésima primeira. A primeira foi no campo do XV, Estádio Roberto Gomes Pedrosa, feita por nós do Lions, o presidente era Mário Sturion. A festa seguinte Adilson Maluf e sua esposa Rosa Maria fizeram a Festa das Nações no Lar Franciscano de Menores.
O senhor trabalhou com Luciano Guidotti?
Fui seu chefe de gabinete. O Luciano construiu muitas obras públicas, foi um grande empreendedor, há muitos que afirmam que Piracicaba tem como marco Antes de Luciano Guidotti e Depois de Luciano Guidotti. A Guarda Mirim foi criada por projeto de lei de Rubens Leite do Canto Braga e idealizada pelo Comandante Ciapina, formou muitos jovens, hoje adultos que ocupam altos postos nos mais variados campos de trabalho. Por muitas vezes em suas solenidades fui o orador da Guarda Mirim.